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Princípios da Filosofia Agostiniana por Virna Salgado Barra

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Page 1: Princípios da Filosofia Agostiniana por Virna Salgado Barra

FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM

VIRNA SALGADO BARRA

RESUMO EXPANDIDO SOBRE OS PRINCÍPIOS DA

FILOSOFIA AGOSTINIANA

(SÍNTESE I)

Belém

2017

Page 2: Princípios da Filosofia Agostiniana por Virna Salgado Barra

VIRNA SALGADO BARRA

RESUMO EXPANDIDO SOBRE OS PRINCÍPIOS DA

FILOSOFIA AGOSTINIANA

(SÍNTESE I)

Trabalho apresentado à Faculdade

Católica de Belém (FCB-PA), como

parte das exigências para a disciplina de

Seminário II em Agostinho de Hipona,

ministrada pelo Prof. Pe. André Luiz

Maia Teles.

Belém, 17 de outubro de 2017.

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1. INTRODUÇÃO

Santo Agostinho, antes de sua conversão ao Cristianismo, era um professor de

retórica e gramática, africano de origem bérbere, que vivia em Milão com sua mulher e

seu filho. Sua vida até então fora de acordo com os costumes romanos, pois nasceu no

ano de 354 na cidade de Tagaste, hoje Souk-Ahras, na província romana da Numídia, no

norte da África (atual Argélia). Enquanto criança e adolescente viveu o conflito

religioso existente no seio de sua família porque o pai, Patrício, mantinha-se na religião

oficial romana, e era um dos curiales da cidade – representantes do povo com assento

na Cúria ou Conselho de governo da província –, e sua mãe, Mônica, considerada

depois um exemplo de mãe cristã, rezava e exortava pai e filho à conversão. A mãe

obteve a satisfação desses dois desejos ainda em vida, e veio a ser depois venerada

como Santa Mônica pelos católicos.

Exposto a esse dilema, a primeira solução tentada por Agostinho foi a crença

maniqueísta, que supõe duas entidades, a do bem e a do mal, dividindo os homens

igualmente entre predestinados ao bem e predestinados ao mal.

Depois dessa breve fase em que aderiu à filosofia dualista do maniqueísmo, ele

mergulhou na filosofia neoplatônica de Plotino, o filósofo egípcio radicado em Roma

que tentou, c. 265, criar uma república nos moldes da República de Platão na região de

Campânia, a nordeste de Nápoles, mas teve seu projeto proibido pelo imperador romano

Gallienus.

Mais tarde, inserido na elite intelectual em Milão, além das palavras e exemplos

da mãe, Agostinho teve a força da argumentação do grande bispo Santo Ambrósio –

além de suas próprias profundas reflexões – a impulsioná-lo para a conversão ao

Cristianismo. De volta à África, depois de convertido, Santo Agostinho foi bispo de

Hipo, que é a atual Bona, ou Bone, na Argélia, norte da África, a poucas léguas de sua

cidade natal, conhecida, em seu tempo, por Hippo-Regius, porque foi residência dos reis

da Numídia1.

Não seria demais notar que ele nasceu em plena decadência do Império Romano.

Nash2 (2008) faz uma breve mas pertinente elucidação histórico-cultural:

1 Eugène Portalié, em http://www.newadvent.org/cathen/02084a.htm

2 NASH, Ronald H. Questões Últimas da vida: uma introdução à filosofia. Tradução de Wadislau

Martins Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. 448 p.

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Séculos antes, a terra natal de Agostinho tinha sido parte do

grande império cartaginês que quase conquistou Roma. Depois que

Roma derrotou o exército cartaginês e seu general, Anível, Cartago foi

romanizada cultural e linguisticamente, ainda que a linguagem do

povo comum no dia-a-dia continuasse sendo o idioma púnico

(NASH, p. 152).

Fonte: http://panaceiateoreferente.blogspot.com.br

2. PENSAMENTO

Agostinho foi um inquiridor incansável, porém é tido por um filósofo pouco

sistemático. Toda a sua vida pode se dizer que dedicou a uma luta intelectual e moral

com o problema do mal, tema que orientou sua filosofia, talvez enraizado na dicotomia

de pólos antagônicos de seu lar

Agostinho acreditava que todos os seres eram bons, porque eles tendiam a voltar

para seu Criador. Deus era o Ser Supremo ao qual todos os outros seres, estavam

subordinados. Os seres humanos, no entanto, possuíam o livre arbítrio, e só poderão

tender para Deus por escolha, por um ato da própria vontade. A recusa do homem em

voltar-se para Deus é, segundo seu pensamento, o mal. Assim, apesar de toda a criação

ser boa, o mal vem ao mundo através da rejeição do homem ao bem, ao verdadeiro e ao

belo, isto é, a Deus.

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Os escritos de Santo Agostinho estabeleceram as bases teológicas do

cristianismo no Ocidente. . Em sua filosofia procura sintetizar as idéias de Platão com o

cristianismo. Em sua pedagogia ele é fiel aos ensinamentos da Bíblia, mas introduz a

tolerância e a liberalidade que o clima intelectual e político de sua época exigia para que

fosse ouvido.

4. O PROBLEMA DO MAL

cf. Capítulo I: É Deus o autor do mal?

Muitas foram as contribuições de Santo Agostinho para a esta Humanidade, o

que é impossível de ser descrito por esta simples escrevente. Para o momento, esse texto

pretende focar apenas no chamado "problema filosófico do mal" ou a origem do mal

terreno deste magnífico ser chamado Santo Agostinho. Seus brilhantes questionamentos

iniciais foram os seguintes:

"Se Deus é só amor, e tudo no mundo foi criado por Ele, da onde surgiu o mal?”

"Será que ele (o mal) realmente existe?”

Com base nesses argumentos, Santo Agostinho estabeleceu as seguintes

premissas e sua conclusão inicial:

Premissa 1 - Deus criou todas as coisas;

Premissa 2 - O mal é uma coisa;

Conclusão - Logo, Deus criou o mal.

Surgira, portanto, um grave problema para o espirito filosófico cristão de Santo

Agostinho. A suposta conclusão de que Deus criou o mal simplesmente não fazia

sentido. Ora, se Deus é só amor, ele certamente não criou o mal. Isso é ilógico, mas faz

o menor sentido. Foi-se, então, estabelecido outras premissas e outras conclusões:

Premissa 1 - Todas as coisas que Deus criou são boas;

Premissa 2 - O mal não é bom;

Conclusão - Logo, o mal não foi criado por Deus.

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Premissa 1 - Deus criou todas as coisas;

Premissa 2 - Deus não criou o mal;

Conclusão - Portanto, o mal não é uma coisa.

Com base nessas ideias, Santo Agostinho, há milênio atrás, já decifrou que o mal

não é uma coisa, ele sequer existe.

Assim foi sua resposta sobre o que é o mal:

“O mal não possui uma natureza negativa, mas a perda do bem que recebeu o

nome de 'mal'.”

"Tudo que é corrompido é privado do bem"

Em outras palavras, o mal é a relativização do bem. Isso, a coisa, o bem, sim é

criação de Deus. A relativização de uma das suas criações (nesse caso, o bem) não é

fruto da vontade do criador desse Universo, mas do próprio ser que eventualmente

assim o desejar. Santo Agostinho vai além, e questiona o seguinte:

Mas "Quando e por onde entrou o mal”?

Resposta: "o mal é o próprio ato de escolher um bem menor".

O mal, assim, surge exatamente no momento em que o sujeito escolhe algo

diverso do bem. Mas, afinal, por onde entrou o mal para Agostinho?

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5. A ORIGEM DO MAL É O LIVRE ARBÍTRIO

cf. Capítulo 2: Por qual motivo agimos mal?

O livre arbítrio concedido a todos os seres do cosmos garante a cada um fazer o

que bem desejar seguindo suas convicções sobre a sua realidade. A criação dessa dádiva

pela Deidade deve, no entanto, ser utilizada por todos os seres para fazer o bem. Como

dito, na sua mitigação, é que surge justamente o mal. O livre arbítrio deve ser utilizado

por todos seres num vida reta para com as demais leis cósmicas.

Mas porque, então, Deus criou o livre arbítrio? Não seria melhor nunca ter

existido essa dádiva? Disse Evódio3, o interlocutor de Agostinho no livro do "Livre

Arbítrio de Santo Agostinho". Assim o mal nunca não teria existido no homem através

do livre arbítrio.

Santo Agostinho contra argumenta dizendo que, ainda que o livre arbítrio seja

utilizado para o mal, o próprio livre arbítrio é um bem Maior do que qualquer outro

criado pela Deidade. Nessa linha de raciocínio, chega-se a simples conclusão de que não

existe o inferno e muito menos diabo, satanás etc. Deus não poderia criar essas coisas.

Lúcifer e seus companheiros são apenas seres, nossos irmãos, que optaram por

utilizar o seu bem Maior (livre arbítrio) da maneira que bem desejaram, desvirtuando-se

do bem, o que desencadeou a aquilo que todos nós conhecemos aqui na Terra como a

rebelião luciferiana. Esses peculiares seres não são monstros e não vivem no inferno.

Repita-se, são apenas irmãos que se desvirtuaram, utilizando-se do livre arbítrio para

fazerem o mal.

Exmo. Professor, nesse particular, sugiro não fazermos qualquer tipo de juízo de

valor sobre a atitude rebelde de Lúcifer e de seus companheiros eis que, pelo que tem

sido dito pelos amigos espirituais a essa humanidade principalmente nesses

últimos/recentes anos, todos os seres que atualmente habitam o orbe terrestre, de alguma

ou outra forma em algum ou outro momento, já realizaram atitudes não tão dignas de

louvor. Por isso, continuamos vivendo aqui no caos orquestrado na Terra.

3 Santo Evódio foi um bispo de Antioquia e um dos primeiros santos identificáveis da Igreja Católica.

Segundo Eusébio de Cesareia, ele foi o primeiro bispo da cidade escolhido por Pedro. Ele reinou de 53

até 68 d.C. (cf. “Primates of the Apostolic See of Antioch” (em inglês). St. John of Damascus Faculty of

Theology, University of Balamand. Consultado em 12 de novembro de 2017.)

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6. CONCLUSÃO

Agostinho se propôs como modelo de moral para os homens, não por sua

perfeição, mas por sua busca filosófica. Desde a infância até a senilidade mostrou-se

uma pessoas aberta ao diálogo, e por isso, sempre polêmico. Conseguiu como poucos

tocar as várias pontas dos extremos, ambicionando resolver racionalmente as demandas

do cérebro e da alma, sem, no entanto, conseguir tamanho empreendimento.

Legou, a bem da verdade, material bélico suficiente para que os guerreiros da

razão bombardeassem seus contrários, e munição não faltou para que agostinianos de

vários tipos se armassem até os dentes. Mas nem tudo saiu como Agostinho idealizou.

Pensemos naquele cristão que tenha superado a concepção mundana da existência.

Chegou ele ao zênite do conhecimento perfeito e descobriu que esta vida é mera ilusão,

por que a relatividade das coisas não permite a absolutização da verdade.

Queria Agostinho conduzir os homens ao mundo das ideias, mas isto se mostrou

impossível, por que a Cidade dos Homens é o contexto relativizado da existência dos

mortais. Resta a Platão reduzir seu discurso filosófico a um comodismo existencial,

vivendo o senso comum com os demais, embora viva consigo e pera si no mundo das

ideias.