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PT do Tocantins, pálida estrela distante Nada pessoal. Também e muito menos não é da estrela da boina do Che, nem da estrela solitária do Botafogo de Mané Garrincha, nem alusão ao vigoroso romance de Roberto Bolaño, Estrela Distante. Não é do PT das ruas, das praças, das manifestações em defesa das causas comuns do povo brasileiro. Falo aqui do PT do Tocantins – sob minha ótica e creio que de tantos outros militantes, enfastiados de sucessivos vexames por que tem passado essa estrela encardida – que ao longo dos últimos oito anos mais parece uma instância privada sob o comando de eternas lideranças de umbigo dilatado, narcisos de plantão, com hora extra e assento garantido no panteão do egocentrismo. Por aqui, anos atrás havia fortes sintomas de democracia nas relações internas do Partido dos Trabalhadores. Depois os militantes tradicionais e outros tantos comprometidos com o perfil histórico do Partido foram preteridos por novas lideranças oriundas de partidos de direita. Daí tudo vem sendo feito no sentido de o PT conquistar o poder pelo poder. Pode se dizer que a direção do Partido é alternada só entre quatro mãos. Presenciamos um prefeito que nas eleições passadas não apoiou o candidato a senador da própria sigla; que está levando a cidade de Palmas ao caos urbano. Agora o presidente do Partido faz articulações explícitas em prol dos candidatos governistas à eleição da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa. As pessoas perguntam: quem pode explicar o PT do Tocantins? Como explicar essa inclinação do presidente do PT de querer plantar girassol na estrela cambaleante? É claro, o PT do Tocantins não mais pertence aos seus militantes de carteira na mão e bandeira no coração. Pertence, isso sim, a um restrito grupo que se acha no direito e dever de tomar as decisões mais estapafúrdias em nome do Partido, longe dos princípios que sempre nortearam sua história de lutas democráticas. Não é necessário um cientista político para se constatar que essa agremiação partidária, entre nós, encontra-se distante de seus ideais de luta, de sua bandeira de causas populares. Dizem que o pátio de todo palácio seduz e engaveta convicções, talvez seja essa a máxima que apadrinha as últimas façanhas do PT tocantinense. Aquela estrela vermelha que sempre buscou luz própria pela voz da multidão, agora está distante dos olhos do povo, distante das mãos estendidas de seus militantes de toda hora. É provável que alguns dirigentes do PT tenham mais fascínio pelo canto do tucano que pela voz das ruas. Bom seria se esses líderes se confrontassem, em público, com aqueles versos que Pedro Casaldáliga, o poeta e profeta do Araguaia, escreveu num poema dedicado ao Che: “Não escondo o coração nem a bandeira.” Ocorre que a transparência e a sinceridade de espírito são matérias, por ora, banidas do ambiente político-partidário. E eis que presenciamos a agonia pública dessa estrela fosca de polpa azul-amarelo irônico. Estrela distante de suas origens, nada pessoal! Paulo Aires Marinho é escritor. E-mail: [email protected]

Pt do tocantins pálida estrela distante

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Texto do escritor e poeta Paulo Aires, disponível para publicação com sua autorização.

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PT do Tocantins, pálida estrela distante

Nada pessoal. Também e muito menos não é da estrela da boina do Che, nem da estrela solitária do Botafogo de Mané Garrincha, nem alusão ao vigoroso romance de Roberto Bolaño, Estrela Distante. Não é do PT das ruas, das praças, das manifestações em defesa das causas comuns do povo brasileiro. Falo aqui do PT do Tocantins – sob minha ótica e creio que de tantos outros militantes, enfastiados de sucessivos vexames por que tem passado essa estrela encardida – que ao longo dos últimos oito anos mais parece uma instância privada sob o comando de eternas lideranças de umbigo dilatado, narcisos de plantão, com hora extra e assento garantido no panteão do egocentrismo.

Por aqui, anos atrás havia fortes sintomas de democracia nas relações internas do Partido dos Trabalhadores. Depois os militantes tradicionais e outros tantos comprometidos com o perfil histórico do Partido foram preteridos por novas lideranças oriundas de partidos de direita. Daí tudo vem sendo feito no sentido de o PT conquistar o poder pelo poder. Pode se dizer que a direção do Partido é alternada só entre quatro mãos. Presenciamos um prefeito que nas eleições passadas não apoiou o candidato a senador da própria sigla; que está levando a cidade de Palmas ao caos urbano. Agora o presidente do Partido faz articulações explícitas em prol dos candidatos governistas à eleição da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa. As pessoas perguntam: quem pode explicar o PT do Tocantins? Como explicar essa inclinação do presidente do PT de querer plantar girassol na estrela cambaleante?

É claro, o PT do Tocantins não mais pertence aos seus militantes de carteira na mão e bandeira no coração. Pertence, isso sim, a um restrito grupo que se acha no direito e dever de tomar as decisões mais estapafúrdias em nome do Partido, longe dos princípios que sempre nortearam sua história de lutas democráticas. Não é necessário um cientista político para se constatar que essa agremiação partidária, entre nós, encontra-se distante de seus ideais de luta, de sua bandeira de causas populares. Dizem que o pátio de todo palácio seduz e engaveta convicções, talvez seja essa a máxima que apadrinha as últimas façanhas do PT tocantinense.

Aquela estrela vermelha que sempre buscou luz própria pela voz da multidão, agora está distante dos olhos do povo, distante das mãos estendidas de seus militantes de toda hora. É provável que alguns dirigentes do PT tenham mais fascínio pelo canto do tucano que pela voz das ruas. Bom seria se esses líderes se confrontassem, em público, com aqueles versos que Pedro Casaldáliga, o poeta e profeta do Araguaia, escreveu num poema dedicado ao Che: “Não escondo o coração nem a bandeira.” Ocorre que a transparência e a sinceridade de espírito são matérias, por ora, banidas do ambiente político-partidário. E eis que presenciamos a agonia pública dessa estrela fosca de polpa azul-amarelo irônico. Estrela distante de suas origens, nada pessoal!

Paulo Aires Marinho é escritor. E-mail: [email protected]