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Fórum Internacional sobre Bibliotecas Escolares e IV Seminário Bibliotecas Escolares: espaço de ação pedagógica Das relações entre políticas e práticas promovido por Conselho Regional de Biblioteconomia-8ª Região (CRB-8) e International Association of School Librarianship (IASL) São Paulo, Faculdade Sumaré, 21 e 22 de Outubro de 2008 Marília, UNESP, 24 de Outubro de 2008 Agora toda a gente vai à Escola.... Bibliotecas e Escolas, Lugares de Construção de Sujeitos Leitores (Portugal, 1986-2008) Presently, everyone goes to school... Libraries & Schools, for Reading Building Subjects (Portugal, 1986-2008) Maria José Vitorino [email protected] Resumo / Abstract Mediar a leitura, promover as leituras, desenvolver competências, construir ambientes onde os leitores cresçam e se formem, para toda a vida o serem, com todos os suportes, em papel ou na web. Esta missão, partilhada por bibliotecas e escolas de todos os tipos e para todos os públicos, anima quem nelas trabalha a vencer as dificuldades. Em Portugal, a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (1986- ), a Rede de Bibliotecas Escolares (1996- ), o THEKA projecto Gulbenkian de Formação de Professores para o Desenvolvimento de Bibliotecas Escolares (2004- ) e o Plano Nacional de Leitura (2006- ) já contam com histórias reais suficientes para alimentar a reflexão sobre estes temas. As parcerias entre instituições, a autonomia e a formação contínua dos profissionais, a consistência das políticas públicas, necessariamente sustentadas com financiamentos públicos, e não só, acompanham uma necessidade crescente de produção, edição e acessibilidade a conteúdos e investigação nestes domínios e valorizam estratégias que envolvam cada vez mais actores sociais e comunitários em redes leitoras e promotoras de leitura. Em cada nó axial destas redes, em cada laço que lhes garante a fluência, encontramos sempre a escola e a biblioteca. O THEKA, Projecto Gulbenkian de Formação de Professores para o Desenvolvimento de Bibliotecas Escolares (2004-2008) é uma proposta que pretende contribuir para a sustentabilidade deste trabalho em Rede e para a valorização do papel cultural, social e educativo das bibliotecas escolares em todos os níveis de ensino, com maior relevo para os primeiros anos de escolaridade de todas as crianças e todos os jovens. Schools and libraries, working for everyone, share a mission: reading promotion, skills development, friendly environments building, where readers could grow and learn, turning into readers all life long, using all kind of documents, paper or web, becoming active subjects of their

RBE 10 anos Impacto Social De Politcas Nas Bibliotecas Escolares

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Texto base de comunicação apresentada na Faculdade Sumaré, na cidade de São Paulo, Estado de S. Paulo, Brasil (durante um Painel) e em Conferência desenvolvida em Marília (Estado de S. Paulo, Brasil), Outubro de 2008, por ocasião do Fórum Internacional sobre Bibliotecas Escolares e IV Seminário Bibliotecas Escolares: espaço de acção pedagógica, organizados pelo Conselho Regional de Biblioteconomia-8ª Região (CRB-8) e pela Secção Regional da IASL para América Latina e Caribe Das relações entre políticas e práticas

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Fórum Internacional sobre Bibliotecas Escolares e IV Seminário Bibliotecas Escolares: espaço de

ação pedagógica

Das relações entre políticas e práticas

promovido por

Conselho Regional de Biblioteconomia-8ª Região (CRB-8) e International Association of School Librarianship

(IASL)

São Paulo, Faculdade Sumaré, 21 e 22 de Outubro de 2008

Marília, UNESP, 24 de Outubro de 2008

Agora toda a gente vai à Escola....Bibliotecas e Escolas, Lugares de Construção de Sujeitos Leitores(Portugal, 1986-2008)

Presently, everyone goes to school...Libraries & Schools, for Reading Building Subjects(Portugal, 1986-2008)

Maria José [email protected]

Resumo / Abstract

Mediar a leitura, promover as leituras, desenvolver competências, construir ambientes onde os leitorescresçam e se formem, para toda a vida o serem, com todos os suportes, em papel ou na web. Estamissão, partilhada por bibliotecas e escolas de todos os tipos e para todos os públicos, anima quemnelas trabalha a vencer as dificuldades. Em Portugal, a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (1986-), a Rede de Bibliotecas Escolares (1996- ), o THEKA projecto Gulbenkian de Formação deProfessores para o Desenvolvimento de Bibliotecas Escolares (2004- ) e o Plano Nacional de Leitura(2006- ) já contam com histórias reais suficientes para alimentar a reflexão sobre estes temas. Asparcerias entre instituições, a autonomia e a formação contínua dos profissionais, a consistência daspolíticas públicas, necessariamente sustentadas com financiamentos públicos, e não só, acompanhamuma necessidade crescente de produção, edição e acessibilidade a conteúdos e investigação nestesdomínios e valorizam estratégias que envolvam cada vez mais actores sociais e comunitários em redesleitoras e promotoras de leitura. Em cada nó axial destas redes, em cada laço que lhes garante afluência, encontramos sempre a escola e a biblioteca. O THEKA, Projecto Gulbenkian de Formação deProfessores para o Desenvolvimento de Bibliotecas Escolares (2004-2008) é uma proposta quepretende contribuir para a sustentabilidade deste trabalho em Rede e para a valorização do papelcultural, social e educativo das bibliotecas escolares em todos os níveis de ensino, com maior relevopara os primeiros anos de escolaridade de todas as crianças e todos os jovens.

Schools and libraries, working for everyone, share a mission: reading promotion, skillsdevelopment, friendly environments building, where readers could grow and learn, turning intoreaders all life long, using all kind of documents, paper or web, becoming active subjects of their

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own readings. In Portugal, Rede Nacional de Bibliotecas Públicas/National Public LibrariesNetwork (1986- ), Rede de Bibliotecas Escolares/National School Libraries NetworkProgram (1996- ), THEKA Projecto Gulbenkian de Formação de Professores para oDesenvolvimento de Bibliotecas Escolares/THEKA Teacher's Training for SL Development GubenkianProject (2004- ) and Plano Nacional de Leitura/National Reading Plan (2006- ) have now enoughreal stories to tell, feeding our critical thinking on this matter. Partnerships between severalentities, professional's autonomy and continuous training, public policies effectiveness (budgetingincluded), are some factors we recognize as crutial. At the same time, it's sensible the need forcontents and research results on SL issues, which should be produced, becoming available to all,providing resources for stronger strategies, envolving more and more several social andcommunity actors into readers and reading promotion networking. Within each networkprocessing, whenever and wherever it flows, we'll find, always, school and library.THEKA, Teacher's Training for SL Development Gulbenkian Project (2004-2008) purpose is tocontribute to this Networking further sustentability, as well as to value SL cultural, social andeducational role all over the school system, mainly during the early school years of every childrenand all young people who attend schools.

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1. AgradecimentosAos organizadores deste Forum, e, em especial, a Maria Helena Barros, do Conselho, eKatharina Berg, do IASL, amiga de anos de batalhas pelas bibliotecas escolares, e, ainda, aBernardette Campelo e Elizabeth Carvalho. Todas me ajudaram a sentir e entender asencruzilhadas das bibliotecas e do desenvolvimento de políticas de informação no Brasil e naAmérica Latina e Caribe.À Rede de Bibliotecas Escolares e ao Ministéio da Educação de Portgal, que custearam aminha viagem até São Paulo.A quem participa neste evento.

2. ApresentaçãoPortuguesa, 53 anos, de Vila Franca de Xira, Portugal.Professora de Língua e História desde 1976 , formadora de profissionais de ensino e debibliotecas desde 1985, bibliotecária desde 1990. Trabalho há dez anos na Rede deBibliotecas Escolares portuguesa, e faço parte de Associações relacionadas com o sector, taiscomo a BAD a Associação THEKA.As bibliotecas escolares estão no meu caminho desde que comecei a ensinar, há 32 anos,sobretudo desde que aderi a ideais pedagógicos da Escola Moderna (inspiração: CelestinFreinet, Paulo Freire) e mais tarde de correntes próximas dos Radical Teachers e daPedagogia Multicultural (USA, Canada e América do Sul). A leitura e o livro estão desdeantes disso, desde sempre, por tradição familiar, primeiro, e, depois, pelo percurso escolar,profissional e de vida.Nasci num meio popular, numa pequena comunidade perto de Lisboa

1, hoje engolida pelo

Grande Metrópole mas ainda com identidade cultural própria, por entre o crescimento daslógicas do subúrbio e as contingências trazidas pela modernidade. Fui aluna de escolaspúblicas, por razões económicas e de convicções familiares. Cresci numa família alargada,com muitas convicções políticas e religiosas diferentes, onde conviviam um ramo letrado (asmulheres da família do meu pai sabem ler desde o séc. XVIII, pelo menos, e o negócio defamília era de há muitas gerações a farmácia tradicional) e um ramo de chegada recente àescrita e à leitura, mas de ricas tradições literárias orais ( a mãe de minha mãe não sabia ler,as histórias contadas de geração em geração eram saborosas e gestuais, muito característicasdas comunidades marinheiras da Europa do Sul). Não é preciso ter pais de cores s para sesaber que se nasceu de um casamento misto.Assim, a leitura, para mim, ficou sempre não apenas entre a escola e a biblioteca, como tãobem diz o título deste seminário, mas também entre as casas da família – dos pais, mastambém dos avós, tios, primos... - a rua e os campos onde brincávamos, com as histórias embanda desenhada e os contos da tradição oral, e o mundo sério dos adultos: as igrejas queliam (não católicas, e católica do Concílio Vaticano II), a cultura operária de militânciapolítica que em Portugal lia jornais censurados nas entrelinhas e corria a rir e a chorar comromances neo-realistas e a ver os filmes, mesmo com cortes, que atravessavam as fronteirasde um país fechado, ou, como dizia o Ditador, “orgulhosamente só”.As profissões que escolhi e fui aprendendo a dominar – professora, bibliotecária – e ostrabalhos com que fui ganhando experiência confirmaram a convicção do valor social ehumano do livro e da leitura, seja em folhas de papel seja em frames, em leitura silenciosa esolitária ou em voz alta e a par, com maior ou menor interactividade. Porque sem eles opensamento fica mais pobre, a imaginação mais difícil, o futuro mais triste.Nos últimos dez anos, cada vez mais trabalho em rede com outros, e já nem sei fazer de outromodo. Isto tem consequências alegres e dolorosas. Alegres, porque nos obriga a aprender a

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confiar, ao mesmo tempo que nos exige maior rigor e humildade, e cada vez maiorescapacidades de comunicação activa (perguntar, apresentar, argumentar, resumir, negociar) epassiva (escutar, reagir, compreender), e, num sentido lato, cada vez mais competênciasleitoras. Dolorosas, porque nos força a esquecer as velhas formas de gestão do tempo, bem derepente cada vez mais escasso, e invadido pela lógica das máquinas que nunca se cansam, dosfusos horários que trocam noites e dias, desafiado pela necessária transmutação de todos nósem multitaskers, seres de mil braços, mil olhos, cada vez mais velozes, mas que nem sempresabem para onde se corre tanto, e porque se corre naquela direcção.Como o coelho da Alice, estamos sempre atrasados, e corremos, corremos. De vez emquando, felizmente há uns gatos, como o Gato do mesmo livro, que nos desconcertam.Decerto se lembram do gato que, quando a Alice lhe pergunta qual é o caminho, respondeperguntando por sua vez para onde ela quer ir. Como a menina não sabia que destino queria,ele rematou, antes de desaparecer: “ ´É indiferente. Qualquer um serve.”

2

3. Rede Nacional de Bibliotecas Públicas3

Antes de 1986, eram raras as bibliotecas públicas em Portugal. A partir dos anos 50, aFundação Calouste Gulbenkian

4assegurava um Serviço de Bibliotecas Itinerantes

5, pioneiro,

nacional e gratuito, que constituía quase sempre o único recurso que a maioria da populaçãotinha para aceder ao livro e à leitura. Num país pobre, que nos anos 60 viu aumentarvertiginosamente o número de emigrantes que buscavam melhor vida em África, França,Alemanha, Holanda, EUA; Canadá, Brasil e Venezuela, este factor deve ser mencionado.Seria preciso esperar 12 anos depois da Revolução de 1974 para que o Estado desse um passoneste campo.

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Em 1983, alguns anos depois do Manifesto da IFLA/Unesco, a BAD6

produz um Manifestopela Leitura Pública em Portugal.

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Em 1986 o Governo cria Grupo de Trabalho para definir as bases de uma política nacional deleitura pública, a qual assentaria "fundamentalmente na implantação e funcionamento regulare eficaz de uma rede de bibliotecas municipais, assim como no desenvolvimento deestruturas" que, a nível central e local, mais directamente as pudessem apoiar (Despacho nº3/86, 11 de Março).No seu 1º Relatório, sugeriram-se medidas imediatas de intervenção, bem como orientaçõesconceptuais e programáticas sobre as bibliotecas a criar que mereceram aprovação superior.Assim, o Instituto Português do Livro e da Leitura desenvolveu e aplicou desde 1987 umplano de leitura pública, através do apoio à criação de bibliotecas públicas municipais. Esteplano prosseguiu após a sua fusão com a Biblioteca Nacional, em 1992 - de que resultou oIBL (Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro) - e depois, em 1997, com a criação doInstituto Português do Livro e das Bibliotecas (IPLB).Trata-se de um projecto de criação de uma rede nacional de bibliotecas públicas, tendo porbase o Concelho, que integra uma Biblioteca Municipal - localizada na respectiva sede, emzona central ou muito frequentada - e Anexos ou Pólos em diferentes locais do município, deacordo com o número e a distribuição dos seus habitantes.Em 1996, um Grupo de Trabalho nomeado para o efeito apresentava um Relatório sobre asBibliotecas Públicas em Portugal, no qual se procedia a uma reflexão sobre o contexto -nacional e internacional - e se propunham novas linhas de acção, atendendo sobretudo àsrecentes inovações tecnológicas, para o desenvolvimento futuro da Rede Nacional deBibliotecas Públicas, a promover pelo IPLB, cuja lei orgânica aguardava publicação.Considerando as recentes tendências para o registo e disponibilização da informação emsuporte digital, para a informação multimédia e para o aumento da utilização de facilidadesde rede para acesso e distribuição de produtos e serviços de informação - de que o exemplomais conhecido é a Internet - o referido Relatório concluía que, continuando a serfundamentais as funções básicas de promoção da leitura e do acesso à informação, para que abiblioteca pública as possa desempenhar cabalmente é necessário que os respectivos serviçosutilizem, como refere o , as tecnologias modernas apropriadas.Em 2008, o Estado, através de um organismo central (DGLB) concede apoio técnico efinanceiro, num montante até 50% do respectivo valor, à criação de bibliotecas públicas emtodos os concelhos do país.Dos 308 concelhos existentes, em Portugal, 261 integram a Rede Nacional de BibliotecasPúblicas. Destes, 160 abriram já ao público. As restantes 101 bibliotecas estão em diferentesfases de instalação. O Programa Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (RNBP) baseia-se nacriação de parcerias — entre a DGLB e os Municípios — que possibilitem a instalação emodernização das bibliotecas públicas enquanto equipamentos considerados como infra-estruturas de natureza sociocultural. Propriedade dos municípios, cada Biblioteca integrasecções diferenciadas para adultos e crianças e também espaços polivalentes para actividadesde animação, colóquios, exposições, etc.; Para além de colecções de livros e de periódicos, asBibliotecas reúnem documentos áudio, vídeo e multimédia, de modo a acompanhar ascorrentes actuais da literatura, da ciência, das artes, etc. Assume ainda nos seus objectivosserviços de apoio às Bibliotecas Escolares das escolas do território do Município (SABE).Em 2003 iniciaram-se os processos de candidatura de Municípios das Regiões Autónomas(Açores e Madeira).

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4. Rede de Bibliotecas Escolares8

Em 1996, a BAD organizou na Fundação Calouste Gulbenkian um Encontro Nacional sobreBibliotecas Escolares que reuniu centenas de professores e bibliotecários.Na mesma data, o Ministério da Educação e o Ministério da Cultura decidem lançar oPrograma Rede de Bibliotecas Escolares, que se propões dotar todas as escolas do país debiblioteca escolares, de acordo com a conepção RBE, desenvolvida no Relatório quefundamentou o Programa, articulado com o Manifesto da IFLA/UNEsco para MediatecasEscolares (1978, posteriormente actualizado em 1999).

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A biblioteca escolar, entendida como centro multimédia onde a informação com finseducativos é tratada, integrada, disponibilizada e produzida em diferentes suportes(livros, jornais, vídeo, filmes, diapositivos, programas informáticos, informação on-line, etc.), constitui, por isso mesmo, um dos principais recursos para o

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desenvolvimento curricular. Constitui igualmente um recurso privilegiado napromoção da leitura lúdica, nomeadamente de obras literárias e de ficção ajustadas àidade dos alunos.

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Assenta em candidaturas voluntárias das escolas, em parcerias com as Câmaras Municipais,que tutelam as Bibliotecas Públicas. Todo o programa se desenvolveu com financiamentospúblicos, valorizando a cooperação, as redes locais, a formação e o projecto.

Em 2008, são cerca de 2000 bibliotecas escolares integradas na RBE (não se incluem asRegiões dos Açores e da Madeira, que têm programas próprios).A RBE faz parte da IASL e acompanha de perto o desenvolvimento de redes informais comoo ENSIL. Articula-se de muito perto como Plano Nacional de Leitura, criado em 2006.Ainda há muito por fazer.

5. Plano Nacional de Leitura10

Com o lema LER+, é criado em 2006 por 3 Ministérios: Educação, Cultura e AssuntosParlamentares, para estimular iniciativas que abranjam a população, desde o nascimento àidade adulta.

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Constitui uma resposta institucional à preocupação pelos níveis de literacia da população emgeral e, em particular, dos jovens, significativamente inferiores à média europeia.

Concretiza-se num conjunto de estratégias destinadas a promover o desenvolvimento decompetências nos domínios da leitura e da escrita, bem como o alargamento eaprofundamento dos hábitos de leitura, designadamente entre a população escolar..

Sendo necessário adoptar uma estratégia faseada, elegem-se como público-alvo prioritáriopara uma primeira fase, a decorrer durante cinco anos, as crianças que frequentam aEducação Pré-escolar e as crianças que frequentam o Ensino Básico, em particular osprimeiros seis anos de escolaridade.

No pressuposto de que, para atingir as crianças e os jovens, é indispensável mobilizar osprincipais responsáveis pela sua educação, consideram-se igualmente como segmentos dopúblico-alvo privilegiado educadores, professores, pais, encarregados de educação,bibliotecários, animadores e mediadores de leitura.

As principais acções previstas são as seguintes:• Promoção da leitura diária em Jardins-de-infância e Escolas de 1.º e 2.º Ciclos nas

salas de aula• Promoção da leitura em contexto familiar• Promoção da leitura em bibliotecas públicas• Promoção da leitura noutros contextos sociais• Recurso aos órgãos de comunicação social e a campanhas para sensibilização da

opinião pública• Produção de programas (ou rubricas de programas) centrados no livro e na leitura, a

emitir pela rádio e pela televisão• Criação de blogs e chat-rooms sobre livros e leitura para crianças, jovens e adultos

Plano Nacional de Leitura será tecnicamente fundamentado por um conjunto de estudos queirão permitir: operacionalizar metas a atingir, em cada fase, prevendo-se, desde já, duas fasesde cinco anos cada; criar instrumentos de avaliação para verificar a respectiva consecução;avaliar a eficácia das diferentes acções a lançar.

Para assegurar a comunicação dos programas e a interacção com as escolas e com todas asentidades envolvidas, será construído um site, em permanente actualização, com orientaçõesde leitura para cada idade e com instrumentos metodológicos destinados a educadores,professores, pais, bibliotecários, mediadores, animadores e eventuais voluntários.

Serão também disponibilizadas acções de formação presenciais e on-line dirigidas aeducadores, professores, mediadores, voluntários. As escolas e os jardins-de-infância deverãotrabalhar com conjuntos diversificados de livros, adequados a cada nível de escolaridade,para leitura na aula, para leitura autónoma e para leitura em família.

Os Ministérios co-responsáveis pelo Plano definirão os recursos técnicos e financeiros para aexecução dos respectivos programas.

Na primeira fase, deverão envolver-se parceiros, mecenas e patrocinadores, cujo contributo

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permitirá criar um ambiente social favorável ao alargamento de hábitos culturais na área dolivro e da leitura.

6. THEKA11

O THEKA, Projecto Gulbenkian de Formação de Professores para o Desenvolvimento deBibliotecas Escolares (2004-2008) foi uma iniciativa da Fundação para a formação deprofessores responsáveis pela criação, organização e animação de bibliotecas escolares /centros de recursos. É totalmente financiado pela Fundação Gulbenkian, que desenvolveainda, posteriormente, mais dois projectos no domínio da Leitura:

12serviço de referência, e a

Casa da Leitura13

Pretende-se que os formandos desenvolvam competências para a promoção de aprendizagens,nomeadamente de leitura e literacias, em articulação com a gestão local do currículo e osprojectos educativos das escolas, bem como para a intervenção em processoscontextualizados de formação de agentes educativos. Trata-se de contribuir para asustentabilidade deste trabalho em Rede e para a valorização do papel cultural, social eeducativo das bibliotecas escolares em todos os níveis de ensino, com maior relevo para osprimeiros anos de escolaridade de todas as crianças e todos os jovens.Em 2008/2009, o THEKA termina, e será objecto de avaliação externa, tal como todos osProjectos de iniciativa da Fundação.

Objectivos THEKA 2004-2008• Formar docentes dos primeiros níveis do sistema educativo (educação pré-escolar e ensino básico –

1º e 2º ciclos), de diferentes regiões do país, para serem promotores de leitura e responsáveis porbibliotecas escolares, capazes de as desenvolver e gerir, trabalhando com todos os elementos dacomunidade educativa (15 docentes, por turma, num mínimo de 4 turmas e um máximo de 7, isto é, 60a 105 formandos, em 4 anos de cursos de formação)

• Intervir em escolas, pela criação, transformação e dinamização de bibliotecas escolares, através dosprojectos desenvolvidos de acordo com a missão da Biblioteca Escolar preconizada pela RBE(Portugal) e pelos padrões internacionais (Unesco, IFLA, IASL)

- Aplicar estratégias activas de formação contínua de agentes educativos, envolvidos no projecto, comrelevo para a modalidade de projecto autónomo

• Produzir recursos para a auto-formação, a investigação, e o desenvolvimento (I&D),através da recolha, organização e produção de informação (fontes relacionadas comos temas a tratar).

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A Rede de Bibliotecas Escolares (1996- ), o THEKA projecto Gulbenkian de Formação deProfessores para o Desenvolvimento de Bibliotecas Escolares (2004- ) , o Plano Nacionalde Leitura (2006- ) já contam com histórias reais suficientes para alimentar a reflexão sobreestes temas.

As parcerias entre instituições, a autonomia e a formação contínua dos profissionais, aconsistência das políticas públicas, necessariamente sustentadas com financiamentospúblicos, e não só, acompanham uma necessidade crescente de produção, edição eacessibilidade a conteúdos e investigação nestes domínios e valorizam estratégias que

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envolvam cada vez mais actores sociais e comunitários em redes leitoras e promotoras deleitura. Em cada nó axial destas redes, em cada laço que lhes garante a fluência, encontramossempre a escola e a biblioteca.

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7. Próximos FuturosPara que servem as escolas e as bibliotecas, em particular as bibliotecas escolares? Para quedeveriam servir? Para que queremos que sirvam?

Para muitos de nós, e sobretudo depois da difusão dos Manifestos da Unesco, existe umaMissão partilhada, e que se destina a todos os cidadãos. No coração deste compromisso,nunca deixa de estar o livro, e a leitura, que é uma dimensão central nas bibliotecas, em 4objectivos complementares :

• mediar a leitura• promover as leituras, diversificadas e seleccionadas• desenvolver competências• construir ambientes onde os leitores cresçam e se formem, para toda a vida o serem,

com todos os suportes, em papel ou na web.

Que queremos nós das bibliotecas e da escola, e, em particular, das bibliotecasescolares?Vivemos em sociedades que se pretendem democráticas e plurais. Quantos desejosdiferentes, quantas visões e interesses diferentes coexistem nas nossas sociedadessobre a leitura e sobre o papel da escola e da biblioteca? São convergentes ouimpossíveis de articular numa estratégia comum? Quais é que predominam? Com queconsequências?

Antigas questões, todas estas. Poderíamos encontrá-las em documentos com milhares deanos. A Sociedade de Informação, a Brecha Digital, a Crise Energética, as Tecnologias,trazem-nos outros desafios, ou serão os mesmos em roupa nova?Primeiro, vamos ver como se está transformando a escola, ou como se terá de transformar, sequiser ser um lugar de aprendizagem para o futuro da gente. Os desafios que enfrentamos nãotêm a ver apenas com a mobilidade social, mas também com os novos paradigmas culturais edo conhecimento que cada dia nos colocam não apenas outras perguntas, como, também,formas completamente diferentes de as pensar.

A Vision of Students Today (Welsch, USA, 2007)http://www.youtube.com/watch?v=dGCJ46vyR9o

I did not create the problems, but they are my problems

Ser leitor desenvolve-se com o crescimento, e por isso escola e biblioteca, nas sociedades emque a primeira é cada vez mais universal – toda gente vai a escola, ou pelo menos tendemos aisso, e cada vez passa mais tempo na escola – e a segunda corresponde a uma conquista dassociedades que valorizam a solidariedade, o conhecimento e o direito universal a este

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conhecimento – princípio básico da própria noção de biblioteca, recurso partilhado de umacomunidade.Nada é verdadeiramente grátis, li um destes dias, e mesmo os maiores consensos aparentesencontram sempre quem neles veja perigos e riscos. A História da Leitura está cheia deatribulações, e mesmo de mortes, guerras, perseguições. Ler é perigoso?

Deixem-me partilhar convosco um texto cheio de humor sobre isto, e, depois, a forma de oler que alguns jovens estudantes universitários encontraram, escrevendo, não um discurso,mas um produto audiovisual.

LER DEVIA SER PROIBIDO16

Guiomar de Grammon

A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.

Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-osincapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homemdo humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote eMadame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelomundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante.Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobrebailes e amores cortesãos.

Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com osproblemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolveum poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dosgrilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria aotrabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: oconhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se oque deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem,necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o serhumano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nosfazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que umpunhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelaspor trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nosimpede de aceitar nossas realidades cruas.

Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver essegosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passearde quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição,violência. Professores, não contem histórias, pode estimular um curiosidade indesejável em seres que a vidadestinou para a repetição e para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em ummundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossívelcontrolar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a

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articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos deconquista de sua liberdade.

O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreenderformulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancrosda civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados paraoutras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Parao homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégioconcedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, emmetrôs, ou no silêncio da alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.

Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.

Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavraé inútil.

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura éobscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça osindivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitaro mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

Ler devia ser proibido (Brasil, 2003)http://www.youtube.com/watch?v=iRDoRN8wJ_w&NR=1

Em Setembro de 2007, a Fundação Calouste Gulbenkian organizou em Lisboa um Semináriocom centenas de profissionais sobre as Bibliotecas Escolares, onde Alberto Manguel nosencantou num texto inspirado precisamente em dois autores europeus muito diferentes:Goethe

17, e Collodi e o seu Pinóquio.

Gostaria de terminar precisamente com umas palavras de Alberto Manguel, que dispensaapresentações.

Quase tudo o que nos rodeia nos anima a não pensar, a nos contentarmos com lugares comuns, com umalinguagem dogmática que divide o mundo claramente em preto e branco, bom e mau, nós e os outros. É alinguagem do extremismo, que por estes dias aparece em toda a parte, para nos lembrar que não desapareceu.Às dificuldades de reflectir sobre os paradoxos e as perguntas sem resposta, sobre as contradições e a ordemcaótica, respondemos com o antiquíssimo grito de Catão o Censor no Senado romano: “Cartago delenda est!”,“É preciso destruir Cartago!”; não se deve tolerar a outra civilização, o diálogo deve ser evitado, a liderançadeve ser imposta através da exclusão ou da aniquilação. Este é o grito de dezenas de políticos contemporâneos.É uma linguagem que finge comunicar mas que, com vários disfarces, não faz mais que intimidar; não esperaqualquer resposta, excepto um silêncio obediente.

“Sê sensato e bom – diz a Fada Azul a Pinóquio no fim do livro – e serás feliz.” Muitos slogans políticospoderiam ser reduzidos a este conselho falaz e perigoso. Sair do estreito vocabulário daquilo que a sociedadeconsidera “sensato e bom”para entrar num outro mais amplo, mais abundante e, sobretudo, mais ambíguo, éaterrador, porque esse outro reino de palavras não tem limites e é um equivalente perfeito do pensamento, da

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emoção e da intuição. Esse vocabulário infinito está aberto para nós se lhe dedicarmos tempo e fizermos umesforço para o explorar, e durante os nossos muitos séculos forjou palavras com a experiência para nosdevolver o reflexo dessa experiência, para nos permitir entender o nosso universo. É maior e mais duradouroque a biblioteca sonhada de Pinóquio, cheia de doces, porque metaforicamente a inclui e concretamente podelevar-nos a ela deixando-nos imaginar as maneiras como podemos mudar uma sociedade em que Pinóquiopassa fome, sofre golpes, é explorado, e se lhe recusa a infância, se lhe pede que seja obediente e feliz na suaobediência.

Imaginar é dissolver as barreiras, não fazer caso dos limites, subverter a visão do mundoque nos impuseram. Apesar de Collodi ter sido incapaz de conceder ao seu boneco esseestado final de autodescoberta, intuía, creio, as possibilidades das suas faculdadesimaginativas. E mesmo no momento em que afirmava a importância do pão acima daspalavras, sabia muito bem que cada crise da sociedade é,afinal, uma crise da imaginação.

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Muito obrigada.

Materiais acompanhantes:

• Impacto social de políticas [apresentação em powerpoint]. 2008• Pequenas Alexandrias [registo vídeo] / Manuela Malho. 2008

1Inserir imagens VFX2Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas3Mais informação http://www.iplb.pt/pls/diplb/!main_page?levelid=204FCG www.gulbenkian.pt5Imagem das Carrinhas Gulbenkian. Mais informação em6BAD Associação Portuguesa de Bibliotecários Arquivistas e Documentalistaswww.apbad.pt7Ver http://www.apbad.pt/Downloads/Comemoracao20anosRNBP.pdf8RBE www.rbe.min-edu.pt9Lançar a Rede de Biblioetcas Escolares (1996) http://www.rbe.min-edu.pt/np4/?newsId=74&fileName=lan_ar_a_rede.pdf10PNL http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/11THEKA www.theka.org12Leitur@Gulbenkian http://www.leitura.gulbenkian.pt13Casa da Leitura www.casadaleitura.org/14Apresentação Vitorino (2008) School libraries staff competencies: cooperation andresearchcentered tools15Apresentação de Martins (2008) Inspiring connections: learning, libraries & literacy16 In: PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999.pp.71-3.17“As pessoas não sabem o tempo e o esforço que são necessários para aprender a ler. Euvenho tentando há oitenta anos, e ainda não posso afirmar que o consegui.” Goethe,Conversas com Eckerman18Ter ou Não Ter Bibliotecário Escolar : valor e impacto dos recursos humanos nasbibliotecas escolares (2007) Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, p. 33-34

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