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cristina-couto-varela
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EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE E EDUCAÇÃO SEXUAL
ANTES DA PUBERDADE
Referencial teórico
Objectivos
Compreender o desenvolvimento biopsicossexual até à puberdade.
Desenvolver uma atitude de aceitação positiva e confortável do corpo
sexuado, do prazer e da afectividade.
Conhecer os objectivos da Educação Sexual antes da puberdade.
Como se manifesta a sexualidade durante os primeiros anos de vida?
A sucção táctil mostra que a mucosa da boca, como toda a pele, é sensível ao
contacto suave e quente. É possível que as crianças durante os primeiros
meses de vida tenham capacidade fisiológica e psicológica para sentir prazer
em contacto com a pele da mãe ou das pessoas que lhes dão carinho e tratam
dela. Por volta do primeiro ano de idade, do ponto de vista fisiológico os tecidos
do pénis e clítoris estão suficientemente formados e com fibras nervosas
suficientes, para que sejam possíveis as erecções espontâneas e as erecções
como resposta à estimulação táctil. As brincadeiras da criança com os órgãos
genitais são muitas vezes observadas quando ela é despida ou quando lhe é
dado banho. A criança responde quase naturalmente a uma variedade de
sensações físicas com sinais do despertar sexual. Uma fase importante da
sexualidade infantil surge da proximidade entre os pais e a criança, quando
pegam nela ao colo, a abraçam com força e a acariciam. Estes vínculos
afectivos começam no nascimento e continuam quando a criança está a ser
alimentada, lavada ou vestida.
De acordo com a teoria de aprendizagem social, uma criança recém-nascida
necessita dos adultos para sobreviver, mas já está, desde o nascimento, pré-
orientada socialmente e tem grandes capacidades de aprendizagem. Por um
lado, a criança manifesta preferências pelos estímulos sociais como o rosto, a
voz e o tacto humano e, por outro lado, tem uma necessidade primária (não
aprendida) de estabelecer vínculos afectivos estreitos e duradouros com os
adultos. Por isso, a criança procura activamente os estímulos sociais desde o
seu nascimento, e ao longo do primeiro ano de vida vincula-se afectivamente a
quem cuida dela.
Por volta dos dois anos começa a haver uma grande curiosidade sobre as
partes do corpo e a criança descobre, se ainda não o fez, que a estimulação
genital provoca sensações agradáveis. Além de friccionarem o pénis ou o
clítoris manualmente, algumas crianças estimulam-se friccionando os seus
órgãos genitais nas almofadas ou noutro objecto qualquer. Nesta altura, a
criança também começa a tomar consciência sobre as atitudes de
desaprovação dos pais sobre as suas brincadeiras com os órgãos genitais, e
podem ficar confusas porque os pais as encorajam a tornar-se mais
conscientes e conhecedoras sobre o seu corpo, mas excluem os órgãos
genitais dessa consciencialização.
Embora seja importante para os pais educar sobre os comportamentos
socialmente adequados, alguns pais tentam parar todas as formas de
experimentação sexual da criança reprimindo com mensagens negativas,
através do tom de voz ou com expressões faciais. É melhor os pais reagirem
calmamente pois trata-se apenas de curiosidade sobre o corpo. Por volta dos
dois anos, os vínculos afectivos com os progenitores, ou com quem faz as suas
vezes, têm uma importância central na vida sexual e afectiva da criança. A
maior parte das crianças já começou a andar e a identificar-se como rapaz ou
rapariga.
O vínculo afectivo entre a criança e os que cuidam dela, origina sentimentos de
segurança e bem-estar quando estão juntos e de angústia perante a
separação, comportamentos de procura de proximidade e contacto sensorial,
como abraços, e um conjunto de expectativas, que se formaram durante o
primeiro ano de vida, sobre os comportamentos que esperam dos outros. Este
vínculo, tem grande importância ao longo de toda a vida e forma-se e mantém-
se graças às interacções da criança com quem a trata, o que supõe um
contacto íntimo, frequente e não formalizado, sempre com as mesmas
pessoas. Estas interacções são muito absorventes para o adulto, que lhes deve
dedicar grande quantidade de tempo, e permissivas para com a criança, dado
que não se considerada que a criança desta idade pode obedecer.
Posteriormente, quando as crianças são mais velhas, não há praticamente
contacto corporal com as pessoas, a comunicação é muito mais formalizada e
as relações são mais independentes e esporádicas. Estes vínculos afectivos
mediatizam a sexualidade durante toda a vida. As figuras de afecto são a base
da segurança a partir da qual as crianças exploram o mundo físico e
estabelecem contactos de confiança com as outras pessoas. Esta é a base
emocional necessária para que possam ter relações sociais adequadas.
Como se manifesta a sexualidade nas criança em idade pré-escolar?
Por volta dos quatro anos a maior parte das crianças começa a fazer perguntas
sobre como se fazem e nascem os bebés. Nesta idade, geralmente as crianças
têm uma ideia mágica sobre o sexo, por exemplo, acreditam que “é a cegonha
que traz o bebé”. Aos cinco anos, a maior parte das crianças encontra-se no
último ano do Jardim de Infância onde convivem com colegas de ambos os
sexos.
Este ambiente de aprendizagem estruturada leva ao desenvolvimento de um
comportamento afectivo-sexual socialmente correcto. As crianças desta idade
gostam de aprender palavras novas sobre os órgãos sexuais e as anedotas
sobre as funções sexuais e genitais começam a circular, muitas vezes porque
ouvem aos irmãos mais velhos, mesmo que não as compreendam. Nesta
idade, a criança também começa a formar ideias sobre o sexo, baseadas na
sua observação das interacções físicas entre os pais, tais como vê-los
beijarem-se e abraçarem-se mostrando nisso satisfação.
Como se manifesta a sexualidade nas criança no 1º ciclo do Ensino
Básico?
Por volta dos seis e sete anos, as crianças geralmente já adquiriram uma
compreensão clara sobre as diferenças anatómicas básicas entre os sexos e
geralmente começam a não querer mostrar o corpo. A interiorização que foram
fazendo da moral sexual dos adultos, através dos comentários e gestos que
foram acompanhando as suas condutas sexuais e dos exemplos que
receberam dos adultos, faz com que mostrem uma forte modéstia na exposição
do corpo. As atitudes e práticas dos pais influenciam a auto-consciência das
crianças mas, ao mesmo tempo, a curiosidade da criança tem probabilidade de
fazer emergir jogos, como “brincar aos médicos”, que podem simplesmente
incluir brincadeiras para inspeccionar os genitais um do outro ou, por vezes,
tocar, beijar ou friccionar esses órgãos. Esta exploração sexual inclui
actividades com crianças do mesmo sexo e do sexo oposto, pois o objectivo é
a procura de conhecimento e testar o proibido para ver o que acontece. A
masturbação ocorre em privado ou em grupo, com elementos do mesmo sexo
ou do sexo oposto. As reacções negativas dos pais face a estas experiências
sexuais, que geralmente são pouco frequentes e menos importantes que os
outros acontecimentos das suas vidas, podem ser difíceis de compreender por
elas.
Por volta dos oito e nove anos, geralmente as crianças ainda não têm
consciência do elemento erótico das actividades sexuais e apenas as vêem
como brincadeiras. A excitação sexual é mais um subproduto dessas
actividades deliberadas. As crianças a partir dos cinco ou seis anos vão
ganhando, pouco a pouco, consciência da sua identidade de género,
consolidando este processo por volta dos oito ou nove anos.
Retirado de:
Promoção e educação para a saúde sexual e reprodutiva na escola e na comunidade:
Desenvolvimento biopsicosexual antes da puberdade. Teresa Vilaça, 2010.
Pretende-se que no decurso do 1º Ciclo do Ensino Básico, os
alunos tenham:
1) Aumentado e consolidado os conhecimentos acerca:
Das diferentes componentes anatómicas do corpo humano, da sua
originalidade em cada sexo e da sua evolução com a idade;
Dos fenómenos de discriminação social baseada nos papéis de género;
Dos mecanismos básicos da reprodução humana, compreendendo os
elementos essenciais acerca da concepção, da gravidez e do parto;
Dos cuidados necessários ao recém-nascido e à criança;
Do significado afectivo e social da família, das diferentes relações de
parentesco e da existência de vários modelos familiares;
Da adequação das várias formas de contacto físico nos diferentes
contextos de sociabilidade;
Dos abusos sexuais e de outros tipos de agressão.
2) Desenvolvido atitudes de:
Aceitação das diferentes partes do corpo e da imagem corporal;
Aceitação positiva da sua identidade sexual e da dos outros;
Reflexão face aos papéis de género;
Reconhecimento da importância das relações afectivas na família;
Valorização das relações de cooperação e de interajuda;
Aceitação do direito de cada pessoa decidir sobre o seu próprio corpo.
3) Desenvolvido competências para:
Expressar opiniões e sentimentos pessoais;
Comunicar acerca de temas relacionados com a sexualidade;
Cuidar, de modo autónomo, da higiene do seu corpo;
Envolver-se nas actividades escolares e na sua criação e dinamização;
Actuar de modo assertivo nas diversas interacções sociais (com
familiares, amigos, colegas e desconhecidos);
Adequar as várias formas de contacto físico aos diferentes contextos de
sociabilidade;
Identificar e saber aplicar respostas adequadas em situações de
injustiça, abuso ou perigo e saber procurar apoio, quando necessário.
Retirado de:
Educação Sexual e Reprodutiva: principais linhas orientadoras da educação sexual na
escola. Ministério da Saúde – Portal da Saúde, 2005.
http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/informacoes+uteis/saude+escolar/educac
aosexual.htm