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Relações existentes entre o poema “Estudos para uma Bailadora Andaluza” de João Cabral de Melo Neto e a dança flamenca Departamento de Ciências Humanas Letras Orientação de Estágio Professora Dr. Rodrigo Garcia Barbosa Aleques Mateus Ana Carolina de Abreu Cila Tâmara da Silva Keila Aparecida Pereira Yele Mesquita Lavras 2014/1

Relações existentes entre o poema Estudos para uma Bailadora Andaluza de João Cabral de Melo Neto e a Dança Flamenca

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Trabalho dentro da Literatura e suas linguagens.

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Page 1: Relações existentes entre o poema Estudos para uma Bailadora Andaluza de João Cabral de Melo Neto e a Dança Flamenca

Relações existentes entre o poema

“Estudos para uma Bailadora Andaluza” de João Cabral de Melo Neto

e a dança flamenca

Departamento de Ciências Humanas Letras

Orientação de EstágioProfessora Dr. Rodrigo Garcia Barbosa

Aleques MateusAna Carolina de Abreu

Cila Tâmara da SilvaKeila Aparecida Pereira

Yele MesquitaLavras 2014/1

Page 2: Relações existentes entre o poema Estudos para uma Bailadora Andaluza de João Cabral de Melo Neto e a Dança Flamenca

Um dos poemas do poeta que retrata a dança flamenca, e as bailarinas é o poema “Estudos para uma Bailadora Andaluza”. O título do poema já é uma referencia que o poeta faz a bailarina da região onde surgiu o Flamenco, ou seja, a Andaluza.

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Dir-se-ia, quando aparecedançando por siguiriyas,que com a imagem do fogointeira se identifica.

Todos os gestos do fogoque então possui dir-se-ia:gestos das folhas do fogo,de seu cabelo, sua língua;

gestos do corpo do fogo,de sua carne em agonia,carne de fogo, só nervos,carne toda em carne viva.

Então, o caráter do fogonela também se adivinha:mesmo gosto dos extremos,de natureza faminta,

gosto de chegar ao fim do que dele se aproxima,gosto de chegar-se ao fim,de atingir a própria cinza.

Porém a imagem do fogoé num ponto desmentida:que o fogo não é capazcomo ela é, nas siguiriyas,

de arrancar-se de si mesmonuma primeira faísca,nessa que, quando ela quer,vem e acende-a fibra a fibra,

que somente ela é capaz de acender-se estando fria, de incendiar-se com nada, de incendiar-se sozinha.

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Subida ao dorso da dança(vai carregada ou a carrega?)é impossível se dizerse é a cavaleira ou a égua.

Ela tem na sua dançatoda a energia retesae todo o nervo de quandoalgum cavalo se encrespa.

Isto é: tanto a tensãode quem vai montado em sela,de quem monta um animale só a custo o debela,

como a tensão do animaldominado sob a rédea,que ressente ser mandadoe obedecendo protesta.

Então, como declararse ela é égua ou cavaleira:há uma tal conformidadeentre o que é animal e é ela,

entre a parte que dominae a parte que se rebela,entre o que nela cavalgae o que é cavalgado nela,

que o melhor será dizerde ambas, cavaleira e égua,que são de uma mesma coisae que um só nervo as inerva,

 

e que é impossível traçarnenhuma linha fronteiraentre ela e a montaria:ela é a égua e a cavaleira.

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Quando está taconeando,a cabeça, atenta, inclina,como se buscasse ouviralguma voz indistinta.

Há nessa atenção curvadamuito de telegrafista,atento para não perdera mensagem transmitida.

Mas o que faz duvidarpossa ser telegrafiaaquelas respostas quesuas pernas pronunciam

é que a mensagem de quemlá do outro lado da linhaela responde tão sérianos passa despercebida.

Mas depois já não há dúvida:é mesmo telegrafia:mesmo que não se percebaa mensagem recebida,

se vem de um ponto no fundodo tablado ou de sua vida,se a linguagem do diálogoé em código ou ostensiva,

já não cabe duvidar:deve ser telegrafia:basta escutar a dicçãotão morse e tão desflorida,

linear, numa só corda,em ponto e traço, concisa,a dicção em preto e branco

de sua perna polida

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Ela não pisa na terracomo quem a propiciapara que lhe seja levequando se enterre, num dia.

Ela a trata com a durae muscular energiado camponês que cavandosabe que a terra amacia.

Do camponês de quem temsotaque andaluz caipirae o tornozelo robustoque mais se planta que pisa.

Assim, em vez dessa aveassexuada e mofina,coisa a que parece sempreaspirar a bailarina,

esta se quer uma árvorefirme na terra, nativa,que não quer negar a terranem, como ave, fugi-la.

Árvore que estima a terrade que se sabe famíliae por isso trata a terracom tanta dureza íntima.

Mais: que ao se saber da terranão só na terra se afincapelos troncos dessas pernasfortes, terrenas, maciças,

mas se orgulha de ser terrae dela se reafirma,batendo-a enquanto dança,para vencer quem duvida.

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Sua dança sempre acabaigual como começa,tal esses livros de iguaiscoberta e contra-coberta:

com a mesma posiçãocomo que talhada em pedra:um momento está estátua,desafiante, à espera.

Mas se essas duas estátuasmesma atitude observam,aquilo que desafiamparece coisas diversas.

A primeira das estátuasque ela é, quando começa,parece desafiaralguma presença interna

que no fundo dela própria,fluindo, informe e sem regra,por sua vez a desafiaa ver quem é que a modela.

Enquanto a estátua final,por igual que ela pareça,que ela é, quando um estilojá impôs à íntima presa,

 

parece mais desafioa quem está na assistência,como para indagar quema mesma façanha tenta.

O livro de sua dançacapas iguais o encerram:com a figura desafiantede suas estátuas acesas.

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Na sua dança se assistecomo ao processo da espiga:verde, envolvida de palha;madura, quase despida.

Parece que sua dançaao ser dançada, à medidaque avança, a vai despojandoda folhagem que a vestia.

Não só da vegetaçãode que ela dança vestida(saias folhudas e crespasdo que no Brasil é chita),

mas também dessa outra floraa que seus braços dão vida,densa floresta de gestosa que dão vida a agonia.

Na verdade, embora tudoaquilo que ela leva em cima,embora, de fato, sempre,continue nela a vesti-la,

parece que vai perdendoa opacidade que tinhae, como a palha que seca,vai aos poucos entreabrindo-a.

Ou então é que essa folhagemvai ficando impercebida:porque terminada a dançaembora a roupa persista,

 

a imagem que a memóriaconservará em sua vistaé a espiga, nua e espigada,rompente e esbelta, em espiga.

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https://www.youtube.com/watch?v=AQ--gvIGmQA&feature=youtu.be

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