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Resenha de Sustentabilidade: O projeto de PPP de RSU de São José dos Campos Brener Seixas 2013

Resenha de Sustentabilidade - O Projeto de PPP de RSU de São José dos Campos

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Essa resenha visa abordar os pontos principais discutidos no evento "Seminário Internacional de Parcerias Público-Privadas", que ocorreu em dezembro de 2012 na sede da FDC.

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Resenha de Sustentabilidade: O projeto de PPP de RSU de São José

dos Campos

Brener Seixas 2013

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Introdução

Esta resenha é uma produção do Centro de Desenvolvimento da Sustentabilidade na Construção (CDSC), parte do Núcleo Petrobras de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral. O CDSC visa construir de indicadores, ferramentas e abordagens que auxiliam as organizações a entenderem e aplicarem os pressupostos da sustentabilidade. Nesse sentido, esta resenha visa abordar os pontos principais discutidos no evento “Seminário Internacional de Parcerias Público-Privadas – A experiência do Estado de Minas Gerais, do Estado de São Paulo e do Governo do Reino Unido em Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos”, promovido dia 07 de dezembro de 2012 pela Secretaria Extraordinária de Gestão Metropolitana e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais.

O evento foi realizado em parceria com o Governo do Reino Unido, na sede da Fundação Dom Cabral, como parte da Temporada UKBrasil, em que o governo britânico apresenta aos brasileiros os melhores projetos e práticas daquele país.

O seminário contou com a presença de gestores e líderes nacionais e internacionais na elaboração e execução de Projetos em Parcerias Público-Privadas (PPP), principalmente no que se refere à gestão e tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos. Dessa forma, apresentamos aqui a palestra de Fernando Pieroni, Diretor de Projetos da EBP – Estruturadora Brasileira de Projetos -, que nos relatou sobre o projeto de PPP de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) de São José dos Campos.

O principal objetivo da fala de Fernando Pieroni foi apresentar o atual momento da gestão de RSU em São José dos Campos. Em seu discurso foram destacadas as principais características da cidade, o contexto em que se deu a efetivação da PPP, e os resultados da parceria. Segue abaixo um resumo dos principais pontos apresentados na palestra.

A experiência de São José dos Campos no tratamento de RSU

São José dos Campos (SJC) é a sexta maior cidade do Estado de São Paulo, e possui atualmente cerca de 630 mil habitantes. Com sua economia concentrada na produção industrial, SJC se posiciona como detentora do 21º maior Produto Interno Bruto (PIB) nacional, e produz 650 toneladas de lixo por dia. Apesar da cidade já ser referência nacional em coleta e destinação de lixo, as dificuldades enfrentadas para a amplificação de seu aterro sanitário e a meta estabelecida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), de que toda a disposição de resíduos sólidos em lixões seja eliminada até 2014, estabeleceu um prazo para a vida útil do aterro sanitário municipal, e com isso, a Prefeitura da cidade iniciou a busca de alternativas para lidar com a situação.

Nesse contexto, a Prefeitura de São José dos Campos contratou a EBP (Estruturadora Brasileira de Projetos) para realizar um estudo técnico que avaliasse a viabilidade econômica e ambiental de um projeto para lidar com RSU, onde foram considerados casos benchmark apresentados por Canadá, Bélgica e Holanda. Também levou-se em consideração a

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resolução 316/02 do Conama que dispõe sobre procedimentos e critérios para o funcionamento de sistemas de tratamento térmico de resíduos.

As tecnologias estudadas para a análise da melhor opção foram as seguintes:

Alternativas tecnológicas Descrição

Mass burn

Queima do resíduo com geração de vapor que é normalmente usado para geração de energia.

Digestão anaeróbica

Processamento da fração orgânica dos resíduos pré- processada com geração de biogás que pode ser usado para geração de energia.

CDR (Combustível derivado dos resíduos)

Pré-processamento, com separação de produtos (metais, orgânicos, etc.) e aproveitamento da fração seca (plástico e papeis) como combustível.

Gaseificação

Queima de resíduos em ambiente controlado de oxigênio, visando produção de gás sintético para produção de energia.

Arco de plasma

Queima de resíduos em alta temperatura (sem oxigênio) com geração de gás combustível para geração de energia.

Pirólise

Queima de resíduos em ambiente livre de oxigênio e recuperação de calor para geração de energia.

Hidrólise química

Processamento dos resíduos em reatores com solução ácida. Recuperação de celulignina para uso como combustível limpo (biomassa).

Mistura –Compostagem

Processamento aeróbico dos resíduos orgânicos para aproveitamento como fertilizantes.

Fonte: Apresentação de slides da autoria de Fernando Pieroni. Disponível em: http://www.metropolitana.mg.gov.br/noticias/seminario-internacional-discute-parcerias-publico-privadas-em-gestao-de-residuos-solidos-urbanos

Resultado dessa análise, a solução proposta englobou o uso de um mix tecnológico composto por 3 processos: 1) separação mecânica dos resíduos (lixo úmido, seco e materiais recicláveis), 2) um biodigestor para processamento do lixo úmido, e 3) um incinerador para queima do lixo seco. A construção de uma Usina de Recuperação Energética de Resíduos Sólidos será necessária para garantir a consecução desses processos e complementar os processos já existentes, tais quais a otimização da coleta seletiva. Segundo a Prefeitura do município, o objetivo desse mix tecnológico é que ambos sejam fontes de geração de energia elétrica, haja visto que a energia a ser gerada poderá atender a um bairro com até 25 mil pessoas.

Esse processo irá complementar iniciativas já existentes:

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A coleta comum, destinada ao aterro sanitário; e

A coleta seletiva, que após passar pelo centro de triagem (onde os rejeitos são direcionados ao aterro sanitário), é reciclada.

Dessa forma, a implantação do sistema de aproveitamento energético irá possibilitar a transformação dos rejeitos em energia e potencializar o processo de reciclagem. Segundo as informações obtidas pela Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de São José dos Campos, as etapas pelas quais passará o lixo serão as seguintes:

Coleta seletiva:

O material advindo da coleta dos resíduos já separados para a reciclagem, feito pela URBAM - que atua em parceria com a Cooperativa de Catadores Futura – é levado para o Centro de Triagem. Lá ele é separado para comercialização, e parte do lixo que não pode ser reciclado é encaminhado para a central que recebe o lixo da coleta comum.

Coleta comum:

Os resíduos não advindos da coleta seletiva são encaminhados para o Separador de Lixo, local onde são divididos em três partes: lixo úmido, lixo seco e lixo reciclável.

A parte seca do lixo será tratada por meio da queima do resíduo sólido, que reduzirá o seu volume em até 90%. Este processo é operado em temperaturas acima de 1.370 °C, produzindo vapor que será aproveitado para a geração de energia elétrica. As cinzas, subprodutos da combustão, são divididas em dois tipos: a cinza de fundo, material inerte que poderá ser tanto encaminhado ao aterro como armazenado para posterior utilização como material para fundações civis ou como base para construção de rodovias; e cinza leve: retirada no processo de tratamento dos gases da combustão, e que representam uma parcela muito pequena das cinzas geradas. Por conter materiais impróprios para deposição ela será encaminhada a um aterro especialmente preparado para a receber.

A parte úmida do lixo é decomposta por um processo de fermentação bacteriana, processo que resultará na produção de biogás, que será utilizado para a geração elétrica por permitir a queima em motores de combustão interna, e também na produção de um composto que pode ser descartado normalmente no aterro, e em alguns casos, comercializado como fertilizante. O lixo reciclável é encaminhado para a comercialização.

Ressalta-se que o modelo proposto respeita os limites de emissão e qualidade do ar e o aproveitamento energético reduzirá as emissões de poluentes.

O projeto PPP

A Concessão Administrativa para realização da obra e gestão do sistema de recuperação energética a partir do tratamento dos resíduos sólidos urbanos em SJC, incluindo a destinação final ambientalmente adequada, levou em consideração as seguintes variáveis econômico-financeiras:

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Principais variáveis da avaliação econômico-financeira

Receita

Taxas de resíduos entregues para tratamento;

Metais ferrosos;

Metais não ferrosos;

Energia elétrica.

Custos

Operação e Manutenção:

Pré-processamento;

Biodigestão + geração biogás;

Incinerador + geração vapor. Despesa com descarte:

Cinza leve;

Cinza pesada;

Composto biodigestível.

Investimentos Investimento total;

Município responsável pelos custos com desapropriação.

Financiamento Baseado na linha Saneamento Ambiental e Recursos Hídricos do BNDES, a partir das diretrizes do produto BNDES Finem.

Fonte: Apresentação de slides da autoria de Fernando Pieroni. Disponível em: http://www.metropolitana.mg.gov.br/noticias/seminario-internacional-discute-parcerias-publico-privadas-em-gestao-de-residuos-solidos-urbanos

Já a remuneração da concessionária dependerá de seu desempenho, e terá a seguinte

relação:

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Apresentação de slides da autoria de Fernando Pieroni. Disponível em:

http://www.metropolitana.mg.gov.br/noticias/seminario-internacional-discute-parcerias-publico-privadas-em-gestao-de-

residuos-solidos-urbanos

A mensuração de desempenho da PPP e o fluxo de informações do processo de implantação

será auditado por um verificador independente da Prefeitura e da concessionária, que fará a

validação e verificação dos relatórios da Parceria. Nesse processo, a concessionária apura os

seus resultados conforme critérios e frequências estabelecidos no edital, e esse resultado é

enviado ao verificador independente, contratado pela Prefeitura, que auditará as

informações. Após a auditoria, o resultado é enviado à Prefeitura para que seja feito o

cálculo do Índice de Desempenho da Concessionária.

A iniciativa está totalmente alinhada com a PNRS, sendo que seu Artigo 9º justifica a

importância da criação de uma Usina de Recuperação Energética de Resíduos Sólidos. Tal

artigo dispõe que “Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a

seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento

dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.” Dependendo

da escala de produção da usina, sua implantação ficará condicionada à aprovação legislativa.

Desafios

Segundo Fernando Pieroni, os maiores desafios à implementação da PPP são:

1. A financiabilidade – como compatibilizar o prazo de financiamento com as regras de

contratação no mercado de energia elétrica;

2. A escolha da tecnologia – como dar flexibilidade tecnológica ao projeto sem aceitar a

incorporação de tecnologias ainda não consolidadas; e

3. A comunicação – como promover o debate público sem comprometer o andamento do

projeto.

Nesse processo, o que deve ser controlado é o nível do serviço prestado. Um contrato que

permita a flexibilidade de decisão será crucial nesse processo.

Considerações finais A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal Nº 12.305/2010) faz com que a gestão

dos resíduos deixe de ser voluntária e se torne obrigatória. Isso traz a necessidade de se

repensar o planejamento urbano no que diz respeito aos RSU e efetivar medidas para

viabilizar a coleta seletiva e os sistemas de logística reversa. O modelo de Parcerias Público

Privadas, é uma forma que se mostra viável e efetiva para a elaboração do projeto. No

entanto, os gestores municipais devem estar atentos, pois o estabelecimento de planos

municipais devem ser correspondentes ao potencial do munícipio em executar o projeto. Em

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alguns casos, municípios menores devem ser consorciados para levar adiante um projeto

para lidar com RSU.

O projeto da Usina de Recuperação Energética está disponível para consulta pública no site

http://servicos.sjc.sp.gov.br/servicos/hotsitesemea/edital.aspx.

Ficha Técnica TÍTULO: “O projeto de PPP de RSU em São José dos Campos” AUTOR: Brener Fidélis de Seixas SUPERVISÃO: Rafael Tello FDC – Núcleo Petrobras de Sustentabilidade – CDSC Belo Horizonte – Janeiro, 2013 7 Páginas