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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM VIRNA SALGADO BARRA RESUMO EXPANDIDO SOBRE EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL AMORIS LÆTITIA DO SANTO PADRE FRANCISCO Belém 2017

Resumo Expandido sobre a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amores Laetitia do Santo Padre Francisco

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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM

VIRNA SALGADO BARRA

RESUMO EXPANDIDO SOBRE EXORTAÇÃO

APOSTÓLICA PÓS-SINODAL AMORIS LÆTITIA DO SANTO PADRE FRANCISCO

Belém 2017

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VIRNA SALGADO BARRA

RESUMO EXPANDIDO SOBRE EXORTAÇÃO

APOSTÓLICA PÓS-SINODAL AMORIS LÆTITIA DO SANTO PADRE FRANCISCO

Trabalho apresentado à Faculdade Católica de Belém (FCB-PA), como parte das exigências para a disciplina de

Moral Fundamental, ministrada pelo Prof. Pe. Glaucon Oliveira Feitosa

Belém, 10 de outubro de 2017.

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INTRODUÇÃO

No último 19 de março, completou-se um ano da publicação da Exortação

Apostólica Amoris Laetitia do Papa Francisco. Os seus 325 pontos são uma profunda

homenagem ao amor humano, em perfeita sintonia com o Amor de Deus. Todo o texto

magisterial é uma joia que revitaliza o amor sincero e verdadeiro que serve para refletir

sobre a virtude mais importante: a caridade.

Amoris Laetitia (“A Alegria do Amor”), a Exortação Apostólica Pós-Sinodal

“Sobre o Amor na Família”, com data não casual de 19 de março - Solenidade de São

José - recolhe os resultados de dois Sínodos sobre a Família convocados pelo Papa

Francisco em 2014 e 2015, cujas relações conclusivas são longamente citadas, junto aos

documentos e ensinamentos de seus predecessores e às numerosas catequeses sobre a

Família do mesmo Papa Francisco. Como já aconteceu em outros documentos, o Papa

faz uso também de contribuições de diversas Conferências Episcopais do mundo

(Argentina, Austrália, Quênia e outros.) e de citações de personalidades significativas

como Martin Luther King ou Eric Fromm. De acordo com Bezerra (2013), é particular

uma citação do filme “A Festa de Babette”1, que o Papa lembra para explicar o conceito

de gratuidade.

Conforme o Departamento Nacional da Pastoral Familiar (DNPF)2 infere, a

Exortação Apostólica “A Alegria do Amor’ resume de forma sublime o pontificado do

Papa Francisco, na sua relação com as pessoas, as famílias e a sociedade. Trata-se de

um documento profundamente maternal. Percorre, desveladamente todas as

circunstâncias da vida das famílias e, para todas elas e em todas elas, há uma palavra de

acolhimento, de compreensão, de esperança, realça este importante organismo da Santa

Igreja.

A Exortação Apostólica impressiona por sua amplitude e articulação. Esta se

subdivide em nove capítulos. Abre-se com sete parágrafos introdutórios que colocam

1 Babette’s Feast, é um filme dinamarquês de 1987, do gênero drama, dirigido por Gabriel Axel, e com

roteiro baseado em conto de Karen Blixen. Sem dúvidas esse é um filme bom para os católicos e está na

lista dos filmes recomendados pelo Vaticano. (BEZERRA, 2013) 2 Edição do Semanário ECCLESIA, centrado no 1.º aniversário daquele documento, Manuel Marques, um

dos coordenadores do DNPF, destaca o modo como a reflexão do Papa tem reforçado nas dioceses o

debate acerca da realidade e do futuro das famílias. (ECCLESIA, 2017)

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sobre a plena luz a consciência da complexidade do tema e o aprofundamento que

requer.

CAPÍTULO I - À LUZ DA PALAVRA

Retomada da família como Igreja Doméstica! Papa Francisco traça um perfil da

família ao longo da Sagrada Escritura, evidentemente sintetizado na Sagrada Família, e

propõe este como modelo definitivo a ser seguido, deixando claro o papel do núcleo

familiar na salvação de cada um de nós.

"a fecundidade do casal humano é « imagem » viva e eficaz, sinal visível do acto

criador. (10)"

"a capacidade que o casal humano tem de gerar é o caminho por onde se

desenrola a história da salvação. (11)"

CAPÍTULO II - A REALIDADE E OS DESAFIOS DAS FAMÍLIAS

Diagnóstico preciso da situação atual das famílias e dos motivos que levaram à

ruptura do modelo tradicional. Destaque para a questão do individualismo que, segundo

Francisco, cria uma cultura prejudicial ao surgimento das famílias, privilegia o amor

superficial e as sensações.

De quebra, dá uma paulada no relativismo reinante, em que julgar é proibido e

tudo é considerado certo. Francisco os pingos nos "ís" e deixa claro: não há espaço para

mimimi politicamente correto quando o assunto é família.

Se estes riscos se transpõem para o modo de compreender a família, esta pode

transformar-se num lugar de passagem, aonde uma pessoa vai quando lhe parecer

conveniente para si mesma ou para reclamar direitos, enquanto os vínculos são deixados

à precariedade volúvel dos desejos e das circunstâncias. No fundo, hoje é fácil

confundir a liberdade genuína com a ideia de que cada um julga como lhe parece, como

se, para além dos indivíduos, não houvesse verdades, valores, princípios que nos guiam,

como se tudo fosse igual e tudo se devesse permitir. (34)

Além disso, coloca de forma muito clara a questão da educação da família como

um dos grandes desafios vividos atualmente. Esse tema está espalhado por toda a

exortação apostólica. Fica claro que Francisco quer menos grupos familiares no

whatsapp e mais almoços em família.

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"Além das situações já indicadas, muitos referiram-se à função educativa, que

acaba dificultada porque, entre outras causas, os pais chegam a casa cansados e sem

vontade de conversar; em muitas famílias, já não há sequer o hábito de comerem juntos,

e cresce uma grande variedade de ofertas de distracção, para além da dependência da

televisão. Isto torna difícil a transmissão da fé de pais para filhos. " (50)

CAPÍTULO III - O OLHAR FIXO EM JESUS: A VOCAÇÃO DA

FAMÍLIA

O Papa fala do conceito doutrinal de família, em que mostra de forma clara e

inequívoca que não há uma nova Doutrina da Igreja sobre a família, mas um novo

exercício pastoral para atingir a todas as situações às quais a família está atualmente

submetida.

De quebra, elucida a questão da "Paternidade responsável" que tanto mimimi

gerou na imprensa:

"O exercício responsável da paternidade implica, portanto, que os cônjuges

reconheçam plenamente os próprios deveres para com Deus, para consigo próprios, para

com a família e para com a sociedade, numa justa hierarquia de valores” (68)

Em outras palavras, a paternidade responsável tem a ver com responder com

seriedade ao chamado de Cristo! E não à recusa de ter filhos por motivos econômicos.

Sobre isso, Francisco apresenta uma "novidade" aos católicos medrosos de hoje:

CREIAM NA PROVIDÊNCIA!

"Os esposos nunca estarão sós, com as suas próprias forças, a enfrentar os

desafios que surgem. São chamados a responder ao dom de Deus com o seu esforço, a

sua criatividade, a sua perseverança e a sua luta diária, mas sempre poderão invocar o

Espírito Santo que consagrou a sua união, para que a graça recebida se manifeste sem

cessar em cada nova situação." (74)

E olha aí, de novo, a função educativa da família... desta vez, chama atenção

para a tendência atual de "terceirizar" toda a educação dos filhos com o Estado. Fica a

dica pros sociais-democratas de plantão...

"O Estado oferece um serviço educativo de maneira subsidiária, acompanhando

a função não-delegável dos pais, que têm direito de poder escolher livremente o tipo de

educação – acessível e de qualidade – que querem dar aos seus filhos, de acordo com as

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suas convicções. A escola não substitui os pais; serve-lhes de complemento. (...)

Infelizmente, « abriu-se uma fenda entre família e sociedade, entre família e escola;

hoje, o pacto educativo quebrou-se; e, assim, a aliança educativa da sociedade com a

família entrou em crise ». "(84)

CAPÍTULO IV - AMOR NO MATRIMÔNIO

É um tratado sobre o verdadeiro amor entre os esposos, seguindo o hino de São

Paulo (1 Cor 13, 4-7) como itinerário. Merece ser lido no mínimo três vezes e ser

trabalhando exaustivamente em todas as pastorais familiares.

E adverte: aqueles que mais conhecem a beleza da família católica devem ter

paciência e exercer o acolhimento. Não podemos simplesmente afastar aqueles que

vivem em situação familiares diferentes. A Doutrina é importante e não pode ser

deixada de lado, mas devemos acolher estas famílias com misericórdia acima de tudo.

"É importante que os cristãos vivam isto no seu modo de tratar os familiares

pouco formados na fé, frágeis ou menos firmes nas suas convicções. Às vezes, dá-se o

contrário: as pessoas que, no seio da família, se consideram mais desenvolvidas,

tornam-se arrogantes insuportáveis." (98)

CAPÍTULO V - O AMOR QUE SE TORNA FECUNDO

É, sem dúvida o capítulo mais contundente do documento. Além de abordar

Pede que as famílias não se encerrem em si mesmas, mas como Igreja Doméstica,

também sejam Igreja em saída.

Logo de cara, Francisco deixa absolutamente clara a defesa intransigente da

vida, contra o aborto e qualquer forma de violência, desde a concepção!

"Alguns ousam dizer, como que para se justificar, que foi um erro tê-las feito vir

ao mundo. Isto é vergonhoso!" (166)

"Cada criança está no coração de Deus desde sempre e, no momento em que é

concebida, realiza-se o sonho eterno do Criador. Pensemos quanto vale o embrião,

desde que é concebido! É preciso contemplá-lo com este olhar amoroso do Pai, que vê

para além de toda a aparência." (167)

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Depois, esclarece de uma vez a posição da Igreja, colocando claramente a mãe e

o pai como indispensáveis para o crescimento de qualquer criança. Dizendo algo que

deveria ser óbvio... mãe tem que ser mãe e pai tem que ser pai.

O enfraquecimento da presença materna, com as suas qualidades femininas, é

um risco grave para a nossa terra. Aprecio o feminismo, quando não pretende a

uniformidade nem a negação da maternidade. Com efeito, a grandeza das mulheres

implica todos os direitos decorrentes da sua dignidade humana inalienável, mas também

do seu gênio feminino, indispensável para a sociedade. (173)

Por sua vez, a figura do pai ajuda a perceber os limites da realidade,

caracterizando-se mais pela orientação, pela saída para o mundo mais amplo e rico de

desafios, pelo convite a esforçar-se e lutar. Um pai com uma clara e feliz identidade

masculina, que por sua vez combine no seu trato com a esposa o carinho e o

acolhimento, é tão necessário como os cuidados maternos. (177)

CAPÍTULO VI - ALGUMAS PERSPECTIVAS PASTORAIS

Esse capítulo é o que vai nortear justamente todo o trabalho pastoral. Contém

recomendações essenciais para toda a Igreja. O cuidado aqui é claro: apresentar a

novidade do Evangelho e da Doutrina da Igreja, acolhendo as diversas dificuldades

enfrentadas pela família.

"Por isso exige-se a toda a Igreja uma conversão missionária: é preciso não se

contentar com um anúncio puramente teórico e desligado dos problemas reais das

pessoas »" (201)

E incentiva os leigos a entrarem de cabeça na construção da sociedade,

justamente para que os valores familiares não sejam corrompidos pelas ideologias.

"De igual modo « sublinhou-se a necessidade duma evangelização que denuncie,

com desassombro, os condicionalismos culturais, sociais, políticos e económicos, bem

como o espaço excessivo dado à lógica do mercado, que impedem uma vida familiar

autêntica, gerando discriminação, pobreza, exclusão e violência." (201)

"Para isso, temos de entrar em diálogo e cooperação com as estruturas sociais,

bem como encorajar e apoiar os leigos que se comprometem, como cristãos, no âmbito

cultural e sociopolítico »" (201)

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Propõe o acompanhamento mais detido dos noivos. O acompanhamento de

namorados e recém-casados durante os primeiros anos e puxa a orelha de quem se

preocupa mais com a festa do que com a vida conjugal:

"Queridos noivos, tende a coragem de ser diferentes, não vos deixeis devorar

pela sociedade do consumo e da aparência. O que importa é o amor que vos une,

fortalecido e santificado pela graça. Vós sois capazes de optar por uma festa austera e

simples, para colocar o amor acima de tudo. Os agentes pastorais e toda a comunidade

podem ajudar para que esta prioridade se torne a norma e não a excepção." (212)

E finalmente a esperada declaração aos recasados: o Papa dá claros

direcionamentos para que sejam acolhidos em todas as suas necessidades mas sem as

concessões doutrinais que a mídia tanto queria...

"Quanto às pessoas divorciadas que vivem numa nova união, é importante fazer-

lhes sentir que fazem parte da Igreja, que « não estão excomungadas » nem são tratadas

como tais, porque sempre integram a comunhão eclesial." (243)

Sobre pessoas com atração pelo mesmo sexo, o Papa fala de acolhimento e

acompanhamento familiar.

"Com os Padres sinodais, examinei a situação das famílias que vivem a

experiência de ter no seu seio pessoas com tendência homossexual, experiência não

fácil nem para os pais nem para os filhos. Por isso desejo, antes de mais nada, reafirmar

que cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada

na sua dignidade e acolhida com respeito (...) Às famílias, por sua vez, deve-se

assegurar um respeitoso acompanhamento, para que quantos manifestam a tendência

homossexual possam dispor dos auxílios necessários para compreender e realizar

plenamente a vontade de Deus na sua vida." (250)

Mas é claro e duro com as pressões para que as uniões homoafetivas sejam

equiparadas ao casamento.

"No decurso dos debates sobre a dignidade e a missão da família, os Padres

sinodais anotaram, quanto aos projetos de equiparação ao matrimónio das uniões entre

pessoas homossexuais, que não existe fundamento algum para assimilar ou estabelecer

analogias, nem sequer remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus

sobre o matrimónio e a família. É « inaceitável que as Igrejas locais sofram pressões

nesta matéria e que os organismos internacionais condicionem a ajuda financeira aos

países pobres à introdução de leis que instituam o “matrimónio”entre pessoas do mesmo

sexo ».278" (251)

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Finalizando o capítulo, convida todas as famílias a aprofundarem sua

espiritualidade como "Igreja Doméstica".

"Mas há que convidar também a criar espaços semanais de oração familiar,

porque « a família que reza unida permanece unida »." (227)

CAPÍTULO VII - REFORÇAR A EDUCAÇÃO DOS FILHOS

Agora um capítulo dedicado somente ao tema educação, que como já dissemos,

acaba permeando todo o documento. Francisco reforça o que já havia dito sobre o papel

inalienável dos pais para com os filhos, estabelecendo esta função como um dos grandes

deveres do casal. Critica a frouxidão na correção e diz que filhos devem ser filhos.

Reforça novamente a presença das figuras masculina e feminina na criação dos filhos e

deixa claro que exercem papeis diferentes e indispensáveis.

"A família não pode renunciar a ser lugar de apoio, acompanhamento, guia,

embora tenha de reinventar os seus métodos e encontrar novos recursos. Precisa de

considerar a que realidade quer expor os seus filhos. Para isso não deve deixar de se

interrogar sobre quem se ocupa de lhes oferecer diversão e entretenimento, quem entra

nas suas casas através das telas, a quem os entrega para que os guie nos seus tempos

livres." (260)

"Os pais necessitam também da escola para assegurar uma instrução de base aos

seus filhos, mas a formação moral deles nunca a podem delegar totalmente." (263)

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CAPÍTULO VIII - ACOMPANHAR, DISCERNIR E INTEGRAR A

FRAGILIDADE

É um convite a um olhar misericordioso sobre as diversas dificuldades

enfrentadas pelas famílias, com foco em trazê-las para um caminho de santidade.

"Convido os fiéis, que vivem situações complexas, a aproximar-se com

confiança para falar com os seus pastores ou com leigos que vivem entregues ao

Senhor. Nem sempre encontrarão neles uma confirmação das próprias ideias ou desejos,

mas seguramente receberão uma luz que lhes permita compreender melhor o que está a

acontecer e poderão descobrir um caminho de amadurecimento pessoal." (312)

CAPÍTULO IX - ESPIRITUALIDADE CONJUGAL E FAMILIAR

O capítulo sublinha a vida familiar como caminho privilegiado para a

experiência da espiritualidade Cristã e novamente oferece a Sagrada Família como

grande modelo a ser seguido.

"A comunhão familiar bem vivida é um verdadeiro caminho de santificação na

vida ordinária e de crescimento místico, um meio para a união íntima com Deus." (316)

"Toda a vida da família é um « pastoreio » misericordioso." (322)

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CONCLUSÃO

Sem dúvida a exortação papal traz uma enorme novidade. Certamente não

quanto à doutrina de sempre, pois nesse aspecto, qualquer tendência ideológica que

queira instrumentalizar a palavra de Francisco, vai ter que catar com lupa e pinça e ver

se acha alguma coisa, e mesmo assim tendo que distorcê-la muito à sua agenda

politicóide. Mas isso é uma coisa que merece um destaque secundário, pois a exortação

prima muito mais pelo “sim” que pelo “não” - o não aparece como necessidade

incontornável e consequência inevitável de um “Grande Sim”. E está é sem dúvida a

enorme e belíssima novidade da exortação.

Francisco seguiu à risca e exaustivamente o alerta de Bento XVI: apresentar o

Evangelho como atração irresistível para uma vida mil vezes mais plena de alegria e

sentido, do que as alternativas a Ele. E isso de modo autêntico, não por marketing,

teatro ou estratégia de recuperação de ovelhas. É assim, porque assim é Francisco, assim

são o Evangelho e a Igreja! Todo o documento transpira de frescor evangélico,

especialmente o Capítulo 4 que, pessoalmente, acredito ser é o centro vital da exortação.

Ali se vê de modo Belo, mas ao mesmo tempo prático e realista (com grande

feeling psicológico, inclusive), o dom e o desafio da Vida Nova em Cristo. São palavras

que correm o risco de nos encontrar com ouvidos "acostumados" e, portanto, insensíveis

à sua radical novidade: Jesus muda tudo, toda a nossa relação com o mundo, com as

coisas e sobretudo, com as pessoas. E o Santo Padre comunica isso, como um tranquilo

Pai de Família sentado à mesa com os seus.

Grande catequista este Papa! Muitas vezes usa uma linguagem caseira,

descontraída, e principalmente, torna tudo muito prático, desafiante mas viável, gradual

e progressivo se for o caso, mas possível. E o mais importante, mostra a vida cristã

como ela é: trabalho da Graça do Senhor agindo em nós, Cristo vivendo em nós, mas

não sem nós, sem nossa esforçada abertura. Este é um dos documentos mais belos da

história da igreja.

Há momentos em que a Igreja precisa acentuar a linguagem negativa para

colocar os pingos nos “is” e Ela o fez muitíssimo - também Francisco o faz neste

documento. Mas a exortação enfatiza aquilo que a Igreja diz “Sim”! Ou seja: comunica

a Boa Nova da Salvação. Ali, claramente, bem mais que na belíssima Familiaris

Consorcio (de São João Paulo II) transparece o que é e o que não é, o que pode e o que

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não pode, mas “O Como Acontece” concretamente o agir de Deus na vida da gente,

sobretudo das Famílias.

Francisco chega a saborear cada palavra, percorre com demorada atenção cada

aspecto da Vida Nova em Cristo, esquadrinha todas as implicações de um Casamento

no Senhor - ao mesmo tempo como Dom precioso e imerecido, e como Abertura nossa

a esse Dom. E nisso também, Ele dá uma grande, evangélica e realmente Misericordiosa

resposta às falácias (no fundo ideológicas) sobre a comunhão aos ditos "recasados":

para que falar de remendos e gambiarras se o tecido é velho e roto? Não fosse o tecido

velho e roto, sequer haveria esse assunto da comunhão aos "recasados", sequer

falaríamos nessas gambiarras, remendos e arranjos (burocráticos em grande medida)

para tapear uma situação já paganizada, já distante das raízes da experiência cristã.

O que faz Francisco? Nos mostra e nos propõe O Tecido Novo que não precisa

de remendos, pois como diz a canção: "em um tecido antigo, não vai se costurar,

nenhum remendo novo, pois com certeza vai se rasgar!" E percorre conosco, toda a

beleza da Roupa Nova que Jesus nos tem dado, detalhe por detalhe. Ele não quer, como

o Cardeal Kasper o queria, dar uma aparência de cristianismo a uma situação já há

muito paganizada e corrompida, não quer fazer gambiarras e remendos fajutos e

aparentemente cristãos num tecido podre, mas sim repropor em toda a sua beleza,

atração e desafio, a veste nova da vida em Cristo. Essa é a Grande Novidade Da

Exortação.

Isso merece uma tradução prática, missionária e pastoral. Dioceses, paróquias,

comunidades, movimentos e, sobretudo Famílias precisam se debruçar sobre esse

verdadeiro Programa De Vida que é a exortação Amoris Laetitia. Quem não vestiu

ainda (e é imensa maioria de nós, cristãos) é convidado a vestir a Roupa Nova da

Salvação, da vida nova em Cristo e quem já vestiu, é convidado a renovar a sua fé, com

especial destaque, para a dimensão do testemunho missionário, que não se traduz numa

postura de cobrança e julgamento (que faz de nós os chatos da vizinhança, os que se

julgam melhores), mas de real presença de uma novidade que intriga os outros, pois eles

notam que algo de Sobrenatural e Bonito se move entre nós, nos faz pessoas muito

diferentes de tudo o que já viram nessa vida.

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REFERÊNCIAS

BEZERRA, Felipe (Ed.). A Festa de Babette: Um dos filmes preferidos do Papa

Francisco. 2013. Disponível em: <https://pt.zenit.org/articles/a-festa-de-babette/>. Acesso em: 10 out. 2017.

CATEQUISTA, O. Amoris Laetitia: Acolher não é flexibilizar doutrina. 2016. Disponível em: <http://ocatequista.com.br/blog/item/16934-amoris-laetitia-acolher-nao-

e-flexibilizar-doutrina>. Acesso em: 10 out. 2017.

CIC: Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000. ECCLESIA, Agência. Amoris Laetitia: Pastoral Familiar realça resumo «sublime» do

pontificado do Papa Francisco. 2017. Disponível em: <http://www.agencia.ecclesia.pt/noticias/nacional/amoris-laetitia-pastoral-familiar-

destaca-resumo-sublime-do-pontificado-do-papa-francisco/>. Acesso em: 10 out. 2017. FRANCISCO. Encontro do santo padre com os jornalistas durante o voo de

regresso do Brasil. 28 jun. 2013. Disponível em: http://www.vatican.va. Acesso em: 12 mai. 2016.

_____. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia. São Paulo: Paulinas, 2016 (Documentos da Igreja, 202).

SÍNODO DOS BISPOS. Os desafios pastorais sobre a família no contexto da

evangelização: documento de preparação. Vaticano, 2013. Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20131105_iiiassemblea-sinodo-vescovi_po.html. Acesso em: 10 out.2017