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Revista Mundo dos Animais nº 25

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“Sou a favor dos direitos dos animais e dos direitos humanos. Essa é a proposta de um ser humano íntegro.”

Abraham Lincoln

Alexander Gardner / Wikimedia Commons

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4 MUNDO DOS ANIMAIS

18Belezas Selvagens que nos Passam ao LadoFoto-reportagem que desafia a conhecer alguns dos mais

belos animais portugueses, em especial da avifauna na-

cional.

Produção / Edição / DesignCarlos Gandra

Autores nesta ediçãoCarlos Gandra, Sara Bastos e Tânia Araújo

Contactar o Mundo dos [email protected]

© 2015 Mundo dos Animais

34Guardiões dos Animais em FukushimaOs dois homens que recusaram ser evacuados após o

acidente nuclear de Fukushima e, arriscando a própria

vida, ficaram para cuidar dos animais.

50Abandono de AnimaisDiversas questões relacionadas com o flagelo da socie-

dade que é o abandono de animais, em especial durante

as férias, bem como as formas de o prevenir.

NOTA EDITORIAL

Após um longo hiatus, a Revista Mundo dos Animais voltou. Quem acompanha o projeto pode constatar que dedicamos a quase totalidade do tempo ao nosso site. Fizemos um redesign, alteramos a estrutura dos artigos de cima a baixo e apostamos forte em redor de uma missão única: inspirar pessoas a cuidar melhor dos animais.

O papel da Revista no meio dessa restruturação foi... esperar. Esperar e perceber se realmente tinha um papel, se as pessoas sentiam falta dela, se o Mundo dos Animais sentia falta dela. A resposta foi positiva em ambos os casos.

Este tempo de paragem também nos permitiu refletir sobre o que fizemos de melhor e de pior nas edições an-teriores e com isso, efetuar algumas alterações na publicação que se re-fletem já neste número: edições mais pequenas e leves do ponto de vista do número de artigos, letra maior, periodicidade menor (passa a ser mensal, pela primeira vez na histó-ria desta revista) e uma aposta ainda maior na área visual. O formato, esse continuará a ser PDF. Simplesmente existem coisas que não precisam ser alteradas.

A Revista Mundo dos Animais voltou. Desfrute desta edição!

Carlos Gandra

Fotografia de capa: “Street Cat” por Nick Papakyriazis

A Revista Mundo dos Animais é uma publicação digital gratuita. Sinta-se livre para a distribuir esta edição por email, twitter, blog ou qualquer outro meio online, desde que nenhum dos conteúdos seja de alguma forma alterado. Todas as edições podem ser acedidas gratuitamente em http://www.mundodosanimais.pt/revista/

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Duas gaivotas-tridáctila (Rissa tridactyla) numa escarpa acima do Mar do Norte perto de Craster em Northumberland, Inglaterra. A gaivota-tridáctila é uma ave que pode ser observada em Portugal.

Anita Nicholson / Alamy

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8 MUNDO DOS ANIMAIS 9EDIÇÃO Nº 25 - MAIO 2015

Uma fêmea de lutung-prateado (Trachypithecus cristatus) com o seu filhote, nascido há menos de um mês.

Os bebés destes primatas nascem laranjinhas e só adquirem o padrão escuro dos adultos entre os 3 e os 5 meses de idade. As mães tomam conta dos filhotes até aos 18 meses, mas deixam de mamar por volta dos 12.

NPL / REX Shutterstock

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Veterinários e voluntários da International Bird Rescue tentam limpar um pelicano atingido pelo derrame de petróleo da passada Terça-feira, 19 de Maio, no Estado norte-americano da Califórnia. Pelo menos oitenta mil litros de petróleo foram derramados ao longo da costa do Pacífico.

Chris Carlson / Associated Press

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Um dos quatro bebés de leopardo-nebuloso nascidos no Point Defiance Zoo and Aquarium, no Estado de Washington, EUA.

Point Defiance Zoo and Aquarium

Um bebé gorila de uma subespécie (Gorilla gorilla gorilla) do gorila-do-ocidente (Gorilla gorilla), nascido no Taronga Zoo.

Mark Kolbe / Getty Images

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Uma nova espécie de lesma-do-mar (Phyllodesmium acanthorhinum), selecionada pelo comité internacional de taxonomistas da ESF para o top 10 das novas espécies de 2015.

Esta lesma de cor e padrão excecionalmente belo pode ser um “elo perdido” entre as lesmas-do-mar que se alimentam de hidroides e as que se especializaram em corais. A espécie mede entre 17 e 28 milímetros e vive nas ilhas japonesas.

Robert Bolland

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Patos a caminhar num dos corredores criados especialmente para eles, à semelhança das ciclovias para as bicicletas. Será que podemos chamar-lhes patovias?

A iniciativa está a ser realizada nas cidades de Londres, Manchester e Birmingham e pretende encorajar as pessoas a tomar atenção aos animais que também utilizam os caminhos. Estes corredores têm silhuetas de patos pintados no chão para incentivar a partilha do espaço com os animais.

Getty Images

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BELEZAS SELVAGENS

que nos passam ao ladopor Tânia Araújo

Chapim-real (Parus major)É um dos maiores chapim que habitam as nossas florestas e jardins.

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20 MUNDO DOS ANIMAIS 21BELEZAS SELVAGENS

Bico-de-lacre (Estrilda astrild)É uma ave exótica originária da África subsariana, introduzida em Portugal na década de 1970, tendo estabelecido uma significativa população selvagem no país.

Sempre tive uma enorme paixão por animais, sejam domésticos ou selvagens. Mas até há alguns anos atrás, acreditava que os magníficos e belíssimos animais que via nos documentá-rios de vida selvagem existiam apenas em países longínquos.

Foi graças à fotografia que acabei por explorar a vida selvagem que me rodeia e descobrir que também em terras lusitanas (e em alguns casos bem perto de minha casa) vivem animais selvagens belíssimos e que não imaginava ter por perto.

O mesmo se passa certamente com a maioria das pessoas, que con-vive diariamente com animais de rara beleza e que, pelos hábitos dis-cretos destes animais ou por distração, mal se apercebe desta ex-traordinária fauna.

Desafio todos a conhecerem alguns dos mais belos animais que vivem no nosso país ou que nos visitam sazonalmente e a estarem mais atentos da próxima vez que passarem por um jardim, às margens de um rio ou uma floresta perto das vossas casas, porque ficarão agrada-velmente surpreendidos com as descobertas que poderão fazer!

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Borboleta-azul (Polyommatus icarus)A borboleta-azul comum é uma pequena borboleta que voa de Maio a Setembro e cuja parte superior das asas do macho apresenta um belo azul brilhante.

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Doninha (Mustela nivalis)A doninha é o mais pequeno dos carnívoros da nossa fauna que, embora difícil de ver, habita em todo o nosso país.

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26 MUNDO DOS ANIMAIS 27BELEZAS SELVAGENS

Pica-pau-malhado-grande (Dendrocopos major)É uma espécie típica de zonas florestais que pousa nos troncos das árvores, onde se alimenta.

Escrevedeira-de-garganta-preta (Emberiza cirlus)É uma ave residente em Portugal facilmente identificável pelas riscas pretas e amarelas na cabeça.

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Abelharuco-comum (Merops apiaster)O abelharuco-comum é uma ave estival em Portugal, conferindo um toque exótico ao nosso Verão com sua plumagem colorida.

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Guarda-rios (Alcedo atthis)Muitas vezes observado como um raio azul a sobrevoar cursos de água, o guarda-rios é uma das aves mais coloridas da avifauna portuguesa.

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32 MUNDO DOS ANIMAIS 33EDIÇÃO Nº 25 - MAIO 2015

Chapim-azul (Parus caeruleus)Podemos encontrar facilmente este pequeno e colorido chapim em locais onde existam árvores, inclusivamente em jardins urbanos.

Dom-fafe (Pyrrhula pyrrhula)O dom fafe é uma ave discreta e difícil de observar, embora o macho tenha uma plumagem colorida e vistosa, predominante de um laranja vivo.

Acompanhe os trabalhos fotográficos da Tânia:

- Website (http://www.taniaaraujo.com/) - Blog (http://ondeomeuolharseperde.blogspot.pt/) - Flickr (http://www.flickr.com/photos/taniaraujo11_pj/)

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34 MUNDO DOS ANIMAIS 35EDIÇÃO Nº 25 - MAIO 2015

OS GUARDIÕES DOS ANIMAIS EM FUKUSHIMApor Sara Bastos

Naoto Matsumura e Kei-go Sakamoto provavel-mente não se conhe-cem, mas têm muito em

comum: são os guardiões dos animais de Fukushima, a pro-víncia japonesa vítima do maior acidente nuclear desde Cher-nobil e onde ninguém quer – ou pode – viver.

De onde os animais não tiveram como fugir. Muitos foram dei-xados para trás acorrentados e morreram de fome.

Com a missão de salvar o má-ximo número de animais possí-vel, Naoto Matsumura, agricul-tor, recusou ser evacuado da cidade de Tomioka (situada a

menos de 20 quilómetros da central nuclear de Fukushima) e é agora o único habitante des-sa cidade fantasma, juntamente com dezenas de vacas, porcos, gatos, cães e até um pónei e duas avestruzes.

Keigo Sakamoto, que trabalha-va em instituições de apoio a

deficientes mentais, também re-cusou ser evacuado após o aci-dente nuclear e permaneceu na cidade de Naraha, a sul de Fu-kushima, onde cuida e alimenta mais de 500 animais abandona-dos, incluindo os seus 21 cães.

Naoto Matsumura

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36 MUNDO DOS ANIMAIS 37EDIÇÃO Nº 25 - MAIO 2015

Para além do risco de vida que ambos enfrentam, ao habitar zonas altamente radioativas, não têm electricidade ou água potável e tiveram de improvisar com painéis solares e geradores para conseguirem iluminação, refrigeração dos alimentos, cozinhar e acesso à In-ternet.

Naoto tem uma página no Facebook e Keigo conseguiu um pequeno subsídio estatal para o ajudar na tarefa de cui-dar dos animais: todas as segundas e sextas viaja até à cidade de Iwaki onde se abastece. Para conseguir alimentar todos os animais necessita de cerca de uma tonelada de comida por mês.

A maioria dos cães que Keigo alimen-ta afastaram-se do contacto humano e ficaram pouco sociáveis. Mas há um “especial”, a quem Keigo chamou de Atom (“Átomo” em português), por ter nascido pouco tempo antes do desas-tre nuclear.

Quando Naoto recusou ser evacuado e ficou para trás, fê-lo principalmente pelos seus animais. Mas cedo se aper-cebeu que existiam muitos mais ani-mais a precisar de ajuda, vários deles fechados e sem acesso a comida ou água. Centenas de vacas morreram desta forma.

Keigo Sakamoto fotografado por David Guttenfelder / AP / National Geographic

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38 MUNDO DOS ANIMAIS 39GUARDIÕES DOS ANIMAIS EM FUKUSHIMA

Naoto conta que uma das cenas mais tristes que presenciou foi de uma vaca, que estava pele e osso, a afastar o seu bezerro que queria desesperadamente amamentar-se. Atordoado pela fome, o bezerro afastou-se a chorar e agarrou-se a um pedaço de palha, como se fosse uma teta da mãe. Morreram os dois.

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40 MUNDO DOS ANIMAIS 41

Naoto chegou a salvar um cão que se en-contrava preso dentro de um celeiro há qua-se ano e meio. Durante todo esse tempo alimentou-se da carne apodrecida do gado que tinha morrido à fome. Sobreviveu, sabe Deus como, até Naoto o encontrar no Ve-rão de 2012, como se imagina num estado lastimoso. Naoto resgatou-o e assim que o cachorro começou a recuperar, chamou--lhe Kiseki (“Milagre” em português).

“Quando fui alimentar os meus cães, os cães da vizinhança ficaram doidos. Fui ve-rificar e encontrei-os acorrentados. Toda a gente foi embora a pensar que iriam voltar em poucos dias, penso eu. A partir desse momento comecei a alimentar todos os cães e gatos. Não podiam esperar, come-çavam logo a latir quando ouviam a minha carrinha. Para todo o lado que eu fui havia algum cão a latir. Como se dissessem ‘te-nho sede’ ou ‘não temos comida’. Comecei então as minhas rotinas diárias.”

Japan Times

GUARDIÕES DOS ANIMAIS EM FUKUSHIMA

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42 MUNDO DOS ANIMAIS 43EDIÇÃO Nº 25 - MAIO 2015

“Não há vizinhos. Sou o único aqui e estou para ficar.”

Keigo Sakamoto

Damir Sakoji / Reuters

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44 MUNDO DOS ANIMAIS 45EDIÇÃO Nº 25 - MAIO 2015

“Disseram-me que não devo ficar doente nos próximos 30 ou 40 anos. Provavelmente já estarei morto nessa altura de qualquer das formas, então não me podia importar menos com isso.”

Naoto Matsumura

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46 MUNDO DOS ANIMAIS 47EDIÇÃO Nº 25 - MAIO 2015

O governo japonês começou a eva-cuação de todos os residentes próximos da Central Nuclear de Fukushima dia 11 de Março de

2011, expandindo a área nos dias seguintes até 45 quilómetros de distância.

Para acalmar a população, o governo pas-sou a mensagem de que seria uma evacua-ção temporária e dentro de dias estariam de volta. Muitos animais ficaram assim para trás, com reservas de comida e água que os donos acreditaram ser suficientes.

Aqueles que se recusaram a deixar os ani-mais para trás, enfrentaram diversos proble-mas. As autoridades recusaram-se a alojar animais até cerca de 3 meses depois, quan-do criaram um abrigo para o efeito. Muitos dos refugiados tiveram de esconder os seus animais dentro de carros e até mesmo ficar com eles nas viaturas, pois não podiam en-trar nos abrigos.

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48 MUNDO DOS ANIMAIS 49

Grupos de proteção animal começaram inicialmente a tentar alimentar os animais que foram deixados para trás, até serem impedidos de voltarem a aceder aos locais afetados pela radiação. Ainda assim, con-seguiram salvar cerca de 1.500 cães e ga-tos enquanto tiveram acesso.

Após algumas filmagens perturbadoras te-rem escapado para os media, o governo japonês proibiu definitivamente qualquer acesso por partes dos grupos de defesa animal e chegou mesmo a prender dois voluntários, Hiroshi e Leo Hoshi, a 28 de Janeiro de 2012. A família Hoshi, ás suas custas, já tinha salvo cerca de 200 animais.

Keigo Sakamoto e Naoto Matsumura são os “desordeiros” que ficaram e os salva--vidas de todos os animais que não tiveram como sair das cidades. São os guardiões dos animais de Fukushima.

Veja mais fotografias no Mundo dos Animais:http://www.mundodosanimais.pt/ajuda-animal/guardioes-animais-fukushima/

GUARDIÕES DOS ANIMAIS EM FUKUSHIMA

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50 MUNDO DOS ANIMAIS

ABANDONOANIMAIS

DE

COMO AS FÉRIAS E A FALTA DE PLANEAMENTO DESPOLETAM O

por Carlos Gandra

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52 MUNDO DOS ANIMAIS 53EDIÇÃO Nº 25 - MAIO 2015

Neha Viswanathan / Flickr

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54 MUNDO DOS ANIMAIS 55EDIÇÃO Nº 25 - MAIO 2015

Ding Yuin Shan / Flickr

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56 MUNDO DOS ANIMAIS 57ABANDONO DE ANIMAIS

Os animais não são mobília. Não são brinquedos, objetos descartáveis ou de-

coração velha. Os animais não se podem deitar fora quando já não precisamos deles, quan-do nos estão a incomodar ou quando se tornam um peso que não previmos.

Todo o ambiente que rodeia um animal o afeta emocionalmen-te (e fisicamente), pelo que é preciso ter um grande cuida-do, respeito e consideração por eles. Pela vida deles.

No entanto acabam abandona-dos, todos os dias aparecem novos casos. Em Portugal, fo-ram abandonados 30 mil ani-mais só em 2013, um número que duplicou em cinco anos (fonte). O Brasil tem mais de 30 milhões de animais abandona-dos (fonte), com um aumento de abandonos que chega aos 70% durante as férias (fonte).

Os números são explícitos e falam por si próprios, mas a pergunta que fica é… como é possível abandonar assim os animais?

No Mundo dos Animais procu-ramos sempre abordar de uma forma moderada o conceito de amigo dos animais. Não faze-mos comparações, por exem-plo, o valor de uma vida humana ao valor da vida de um animal (e muito menos entramos pela misantropia).

Mas a ciência tem comprovado o que o bom senso há muitos nos dizia através das palavras de Jeremy Bentham – “Não im-porta se os animais são inca-pazes ou não de pensar. O que importa é que são capazes de sofrer”.

Neste artigo vamos abordar vá-rias questões relacionadas com o abandono, em especial du-rante as férias que é o período em que os números disparam por completo, bem como as for-mas de o prevenir.

Já ouviu certamente dizer que a prevenção é o melhor remédio e neste caso, não é diferente.

O abandono combate-se não abandonando. Demasiado ób-vio e mais fácil escrever do que concretizar, seguramente.

Contudo, o planeamento (an-tes) e a mentalidade correta na relação com os animais (du-rante) podem ser a chave que tanto desejamos encontrar para resolver este flagelo da nossa sociedade (depois). Um flagelo que nos deveria deixar enver-gonhados enquanto animais racionais e espécie civilizada. Temos as armas para o fazer.

NÃO DESCUIDE O PLANEAMENTO

Os animais sentem e sofrem em medidas muito iguais a nós próprios: o que lhe

dói a si, também dói a eles e isso aplica-se tanto a um ponta-pé (físico), como ao sentimento da solidão (emocional), como à agonia da não ter o que comer (sobrevivência).

Os animais são todos os anos vistos como um problema quan-do as famílias planeiam as suas férias. Os canis ficam sobrelo-tados e a grande maioria dos animais que neles são recolhi-dos acabam eutanasiados em poucos dias. Morrem.

Embora nem só as férias sirvam de pretexto para abandonar um animal, uma larga percentagem dos abandonos poderia ser evi-tada com um pouco de cons-ciencialização e planeamento.

Antes de adotar ou comprar um animal, pense duas ve-zes. Ou três.

Antes de decidir adotar ou com-prar um animal, deve colocar em cima da mesa, com a sua família (ou quem mais viva na mesma casa), todos os cená-rios possíveis.

Para começar, as questões fi-nanceiras. Sobretudo nos dias que correm, com a crises eco-nómica a preencher as primei-ras páginas dos jornais, esta tem de ser uma questão da má-xima prioridade na hora de de-cidir avançar para a adoção de um animal.

Cães e gatos necessitam de ali-mentação diária e cuidados ve-terinários imprescindíveis como a vacinação e desparasitação, já para não falar de proble-mas de saúde e acidentes, que

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58 MUNDO DOS ANIMAIS 59ABANDONO DE ANIMAIS

Louis Abate / Flickr

surjem sem avisar e cujos trata-mentos são dispendiosos.

É importante avaliar a estabili-dade financeira e o impacto no orçamento que um animal pode causar. Aquele pensamento co-mum de onde comem três tam-bém comem quatro pode reve-lar-se perigoso.

As férias, como já se viu, devem merecer uma atenção muito es-pecial. Não deve deixar esse assunto para um depois vê-se, pois é meio caminho andado para não se ver nada de bom.

Se o seu animal vai ser um fardo quando quiser fazer as férias, a atitude mais sensata é não o comprar nem o adotar. Se quer mesmo ter um animal, então pense antecipadamente num plano para deixar o animal em boas mãos, ou então escolher destinos de férias que aceitem animais e assim levá-lo junto.

Não menos importante, o espa-ço. Se está a adotar ou comprar um cachorrinho bebé, tenha a noção de que ele vai crescer. Em alguns casos, vai crescer muito e tornar-se num animal grande e imponente, incompatí-vel com a vida um apartamento por exemplo.

Se adquirir um cão de raça pura, pode precaver-se esco-lhendo um cão de raça peque-na. Se estiver a adotar um cão sem raça definida e que ainda não seja adulto, pode crescer mais do que está à espera. A verdade é que muitas vezes os animais são abandonados por terem ficado grandes demais. Contacte um responsável ou voluntário em qualquer asso-ciação e protetora de animais e certamente terão casos destes para lhe contar.

Ter um animal não é um direito, mas sim um luxo, que exige dis-ponibilidade financeira, tempo livre, trabalho, preocupações e muita, muita responsabilidade.

É um ser vivo que tem direitos constituídos, que tem sentimen-tos, que se afeiçoa aos seus donos. Mas é também um ser irracional, que não compreende o porquê de ser feliz durante al-guns meses e depois ser des-pejado na rua, sem condições, sozinhos e praticamente con-denado.

Ninguém deve comprar ou ado-tar um animal sem condições para ficar com ele e dar-lhe os cuidados básicos, até ao fim da sua longevidade natural.

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60 MUNDO DOS ANIMAIS 61ABANDONO DE ANIMAIS

E se gosta mesmo de animais ou pretende ajudar os animais abandonados, mas não tem condições para ficar com eles definitivamente, torne-se volun-tário numa associação ou ofe-reça-se como FAT (Família de Acolhimento Temporário).

A responsabilidade e a noção do que se pode ter ou não ter, é muito importante em toda a nossa vida.

NÃO ABANDONE OS SEUS ANIMAIS

NAS FÉRIAS

E não abandone nunca, evidentemente. O seu animal não merece fi-car sozinho à mercê da

(pouca) sorte.

Tendo em conta as diversas opções disponíveis, a nível de serviços ou mesmo alguma criatividade pessoal, não exis-te qualquer justificação para abandonar os animais durante as férias, seja qual for a situa-ção.

Se prefere deixar o seu animal ao cuidado de outrem enquanto vai de férias, existem hotéis e

serviços de pet-sitting que to-mam conta do seu animal e lhe proporcionam todos os cuida-dos necessários. Vamos abor-dar agora sucintamente estas soluções.

Pet-sitting: Os pet-sitters são profissionais que se deslocam a sua casa para prestar todos os cuidados que o seu animal necessitar.

Alimentam os animais, tratam da higiene, acompanham-nos

ao veterinário em caso de ne-cessidade e, em particular os cães, podem levá-los aos seus passeios diários, não quebran-do assim a rotina que já têm.

Hotéis para animais: Uma so-lução alternativa aos pet-sitters. A diferença aqui é que o animal, em vez de ficar em casa, fica no hotel, recebendo igualmente to-dos os cuidados necessários.

Visite os hotéis dedicados a animais próximos da sua área

de residência e informe-se so-bre os serviços e condições dos mesmos: se incluem equipa ve-terinária, se o espaço tem boas condições para o animal, entre outros pormenores que certa-mente quererá ver assegura-dos ao seu amigo peludinho.

Familiares, vizinhos e ami-gos: Esta pode ser a solução mais económica e não menos eficaz (dependendo, claro, das pessoas em causa).

Bhavishya Goel / Flickr

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63ABANDONO DE ANIMAIS

Imagine uma situação em que tanto você como o seu vizinho têm animais de estimação, e fazem férias em diferentes da-tas. O seu vizinho poderia to-mar conta dos seus animais en-quanto você e a sua família vão de férias, retribuindo depois ao cuidar dos animais dos seu vi-zinho quando for ele de férias.

leeno / Flickr

Caso o seu vizinho não tenha animais, pode sempre combi-nar outro tipo de retribuição.

As vantagens neste caso, para além de poupança económica, passam por já conhecer a pes-soa a quem vai confiar a vida dos seus animais.

NÃO SE ESQUEÇA QUE ELES PODEM IR CONSIGO

Já existem diversos par-ques de campismo e ho-téis que permitem aos donos levar consigo os

seus animais de estimação du-rante as férias.

Isto abre mais um leque de op-ções e, as suas férias, não têm de significar uma separação do seu melhor amigo, nem sequer temporária.

No entanto e como sempre, recomenda-se que a situação seja bem analisada, de prefe-rência junto do veterinário dos

seus animais, que saberá me-lhor que ninguém que ambien-tes e que condições são as mais adequadas para cada caso.

A viagem: Se for de viagem sem sair do país, o médico ve-terinário irá informá-lo acerca do melhor acondicionamento e recomendações para que o ani-mal não sofra na deslocação.

É importante que se informe pois diferentes animais têm di-ferentes necessidades e dife-rentes meios de transporte exi-gem diferentes cuidados.

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64 MUNDO DOS ANIMAIS

Caso viaje para outro país, deve ter sempre em atenção as leis desse mesmo país, que em alguns casos podem ser drasti-camente diferentes no que diz respeito à documentação exigi-da, vacinação obrigatória e ou-tros documentos.

Ambiente estranho: É perfei-tamente natural que o seu ani-mal, de início, estranhe o novo ambiente, pois não conhece o local.

Faça alguns passeios com ele (no caso de ser um cão), isso vai ajudar o animal a ambien-tar-se e ganhar confiança, pois está junto do dono, a pessoa neste mundo em quem mais confia.

Evite deixar o seu animal sozi-nho num quarto ou numa tenda, em especial se ele ainda não se sentir seguro nesse novo am-biente.

Cristopher Soto López / Flickr

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Ulf Bodin / Flickr

NÃO FECHE OS OLHOS AO

PROBLEMA

É falsa a ideia de que um animal, se for abandonado, conse-gue desenrascar-se. Também é falsa a ideia de que alguém

vai pegar no animal e levá-lo para sua casa. Não conte com isso.

Não se pode socorrer da ideia do ins-tinto selvagem pois se temos cães e gatos em casa, é precisamente porque estes foram domesticados. Serem fi-sicamente parecidos com os seus pa-rentes selvagens não faz deles animais selvagens.

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68 MUNDO DOS ANIMAIS

A escassez de alimento, de água, de abrigo e de seguran-ça, deixa os animais com pou-cas hipóteses de sucesso. Já para não falar das doenças que podem contrair nas ruas e da reprodução, que leva ao nas-cimento de inúmeros animais sem teto.

No caso do alimento, é neces-sário compreender que os ins-tintos de caça praticamente não existem nos animais de estima-ção, sobretudo nos cães, pois foram habituados a receber a sua ração pronta e a horas sem necessidade de a procurar e lu-tar por ela.

Os inúmeros animais recolhi-dos nas ruas em estado gra-ve de subnutrição comprovam esta ideia. Alguns chegam a impressionar pelo seu aspeto físico debilitado, agonizados de fome, ficando difícil até salvar a vida do animal. A vida do ani-mal.

O cruzamento entre os animais abandonados nas ruas leva tam-bém ao nascimento de muitos bebés sem condições mínimas,

que são mais animais sem dono e sem qualquer tipo de cuida-dos básicos. Contribuem para o aumento descontrolado do nú-mero de animais errantes e o problema só se agrava.

A própria saúde pública fica em risco, uma vez que os animais abandonados não estão (nor-malmente) vacinados nem des-parasitados, além de se cru-zarem e transmitirem doenças entre si.

E necessário deixar de criar soluções pontuais para este ou aquele caso, uma vez que o problema deve ser resolvido de raiz: na casa de cada um de nós.

A partir do momento em que as pessoas deixam de abandonar, tudo o que se segue é diferen-te. É melhor.

Não compre, não adote e não tenha animais em casa, se não tiver as condições para cuidar deles até ao fim da sua longevidade natural.

Você é a vida dos seus animais.

Elroy Serrao / Flickr

Leia mais no Mundo dos Animais: - Guia de Ajuda Animal - A Dimensão do Abandono de Animais

Page 36: Revista Mundo dos Animais nº 25

Inspirar pessoas a cuidar melhor dos animais

www.mundodosanimais.pt