838

Tratado de direito penal vol 1 2012 - cezar-roberto-bitencourt

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Tratado de Direito Penal - Cesar Bittencout

Citation preview

  • 1. Rua Henrique Schaumann, 270, Cerqueira Csar So Paulo SP CEP 05413-909 PABX: (11) 3613 3000 SACJUR: 0800 055 7688 De 2 a 6, das 8:30 s 19:30 E-mail [email protected] Acesse www.saraivajur.com.br FILIAIS AMAZONAS/RONDNIA/RORAIMA/ACRE Rua Costa Azevedo, 56 Centro Fone: (92) 3633-4227 Fax: (92) 3633-4782 Manaus BAHIA/SERGIPE Rua Agripino Drea, 23 Brotas Fone: (71) 3381-5854 / 3381-5895 Fax: (71) 3381-0959 Salvador BAURU (SO PAULO) Rua Monsenhor Claro, 2-55/2-57 Centro Fone: (14) 3234-5643 Fax: (14) 3234-7401 Bauru CEAR/PIAU/MARANHO Av. Filomeno Gomes, 670 Jacarecanga Fone: (85) 3238-2323 / 3238-1384 Fax: (85) 3238-1331 Fortaleza DISTRITO FEDERAL SIA/SUL Trecho 2 Lote 850 Setor de Indstria e Abastecimento Fone: (61) 3344-2920 / 3344-2951 Fax: (61) 3344-1709 Braslia GOIS/TOCANTINS Av. Independncia, 5330 Setor Aeroporto Fone: (62) 3225-2882 / 3212-2806 Fax: (62) 3224-3016 Goinia MATO GROSSO DO SUL/MATO GROSSO Rua 14 de Julho, 3148 Centro Fone: (67) 3382-3682 Fax: (67) 3382-0112 Campo Grande MINAS GERAIS Rua Alm Paraba, 449 Lagoinha Fone: (31) 3429-8300 Fax: (31) 3429-8310 Belo Horizonte PAR/AMAP Travessa Apinags, 186 Batista Campos Fone: (91) 3222-9034 / 3224-9038 Fax: (91) 3241-0499 Belm PARAN/SANTACATARINA Rua Conselheiro Laurindo, 2895 Prado Velho Fone/Fax: (41) 3332-4894 Curitiba PERNAMBUCO/PARABA/R. G. DO NORTE/ALAGOAS Rua Corredor do Bispo, 185 Boa Vista Fone: (81) 3421-4246 Fax: (81) 3421-4510 Recife RIBEIRO PRETO (SO PAULO) Av. Francisco Junqueira, 1255 Centro Fone: (16) 3610-5843 Fax: (16) 3610-8284 Ribeiro Preto RIO DE JANEIRO/ESPRITO SANTO Rua Visconde de Santa Isabel, 113 a 119 Vila Isabel Fone: (21) 2577-9494 Fax: (21) 2577-8867 / 2577-9565 Rio

2. de Janeiro RIO GRANDE DO SUL Av. A. J. Renner, 231 Farrapos Fone/Fax: (51) 3371-4001 / 3371-1467 / 3371-1567 Porto Alegre SO PAULO Av. Antrtica, 92 Barra Funda Fone: PABX (11) 3616-3666 So Paulo ISBN 978-85-02-14909-0 Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Bitencourt, Cezar Roberto Tratado de direito penal : parte geral, 1 / Cezar Roberto Bitencourt. 17. ed. rev., ampl. e atual. de acordo com a Lei n. 12.550, de 2011. So Paulo : Saraiva, 2012. 1. Direito penal 2. Direito penal - Brasil I. Ttulo. CDU-343(81) ndice para catlogo sistemtico: 1. Brasil : Direito Penal 343 (81) Diretor editorial Luiz Roberto Curia Diretor de produo editorial Lgia Alves Editora Thas de Camargo Rodrigues Assistente editorial Aline Darcy Flr de Souza Produtora editorial Clarissa Boraschi Maria Preparao de originais Ana Cristina Garcia / Maria Izabel Barreiros Bitencourt Bressan / Camilla Bazzoni de Medeiros Arte e diagramao Cristina Aparecida Agudo de Freitas / Isabel Gomes Cruz Reviso de provas Rita de Cssia Queiroz Gorgati / Paula Brito Arajo / Willians Calazans Servios editoriais Camila Artioli Loureiro / Maria Ceclia Coutinho Martins Capa Ricardo Gomes Barbosa Produo grfica Marli Rampim 3. Produo eletrnica Ro Comunicao Data de fechamento da edio: 12-1-2012 Dvidas? Acesse www.saraivajur.com.br Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prvia autorizao da Editora Saraiva. A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Cdigo Penal. 4. PUBLICAES DO AUTOR 1. Tratado de direito penal parte geral, 17 ed., So Paulo, Saraiva, 2012, v. 1. 2. Tratado de direito penal parte especial, 12 ed., So Paulo, Saraiva, 2012, v. 2. 3. Tratado de direito penal parte especial, 8 ed., So Paulo, Saraiva, 2012, v. 3. 4. Tratado de direito penal parte especial, 6 ed., So Paulo, Saraiva, 2012, v. 4. 5. Tratado de direito penal parte especial, 6 ed., So Paulo, Saraiva, 2012, v. 5. 6. Cdigo Penal comentado, 7 ed., So Paulo, Saraiva, 2012. 7. Falncia da pena de priso causas e alternativas, 4 ed., So Paulo, Saraiva, 2011. 8. Crimes contra o sistema financeiro nacional e contra o mercado de capitais (em coautoria com Juliano Breda), 2 ed., Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2011. 9. Reforma penal material de 2009 crimes sexuais, sequestro relmpago, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2010. 10. Erro de tipo e erro de proibio, 5 ed., So Paulo, Saraiva, 2010. 11. Crimes contra as finanas pblicas e crimes de responsabilidade de prefeitos, 2 ed., So Paulo, Saraiva, 2010. 12. Teoria geral do delito: uma viso panormica da dogmtica penal brasileira, Coimbra, Almedina Editora, 2007. 13. Novas penas alternativas, 3 ed., So Paulo, Saraiva, 2006. 14. Juizados Especiais Criminais Federais anlise comparativa das Leis 9.099/95 e 10.259/2001, 2 ed., So Paulo, Saraiva, 2005. 15. Direito penal econmico aplicado (em coautoria com Andrei Z. Schmidt), Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2004. 16. Teoria geral do delito (bilngue), em coautoria com Francisco Muoz Conde, 2 ed., So Paulo, Saraiva, 2004. 17. Cdigo Penal anotado (em coautoria com Luiz R. Prado), So Paulo, Revista dos Tribunais.* 18. Elementos de direito penal parte especial (em coautoria com Luiz R. Prado), So Paulo, Revista dos Tribunais.* 19. Elementos de direito penal parte geral (em coautoria com Luiz R. Prado), So Paulo, Revista dos Tribunais.* 20. Juizados Especiais Criminais e alternativas pena de priso, Porto Alegre, Livraria do Advogado Ed.* 21. Lies de direito penal, Porto Alegre, Livraria do Advogado Ed.* 22. Teoria geral do delito, So Paulo, Revista dos Tribunais.* * Ttulos esgotados. 5. Aos meus pais, Getlio e Albertina, pelo esforo na minha formao. 6. ABREVIATURAS ADPCP Anuario de Derecho Penal y Ciencias Penales (Espanha) AICPC Anuario del Instituto de Ciencias Penales y Criminolgicas (Venezuela) CF Constituio Federal do Brasil CLT Consolidao das Leis do Trabalho CNT Cdigo Nacional de Trnsito, hoje Cdigo de Trnsito Brasileiro (CTB) COC Centro de Observao Criminolgica CP Cdigo Penal brasileiro CPC Cuadernos de Poltica Criminal (Espanha) CPP Cdigo de Processo Penal brasileiro CTN Cdigo Tributrio Nacional DP Doctrina Penal Argentina IBCCrim Instituto Brasileiro de Cincias Criminais ILANUD Instituto Latinoamericano para la Prevencin del Delito y Tratamiento del Delincuente (ONU, Costa Rica) LCP Lei das Contravenes Penais LEP Lei de Execuo Penal NPP Nuevo Pensamiento Penal (Argentina) PPU Promociones y Publicaciones Universitarias REEP Revista de la Escuela de Estudios Penitenciarios (Espanha) REP Revista de Estudios Penitenciarios (Espanha) RIDP Revue International de Droit Pnal (Paris) RIPC Revista Internacional de Poltica Criminal (ONU) 7. NDICE Abreviaturas Nota do Autor 17 edio PRIMEIRA PARTE FUNDAMENTOS E HISTRIA DO DIREITO PENAL CAPTULO I | CONCEITO DE DIREITO PENAL 1. Consideraes introdutrias 2. Conceito de Direito Penal 3. Caracteres do Direito Penal 4. Direito Penal objetivo e Direito Penal subjetivo 5. Direito Penal comum e Direito Penal especial 6. Direito Penal substantivo e Direito Penal adjetivo 7. Direito Penal num Estado Democrtico de Direito CAPTULO II | PRINCPIOS LIMITADORES DO PODER PUNITIVO ESTATAL 1. Consideraes introdutrias 2. Princpio da legalidade e princpio da reserva legal 2.1. Princpio da legalidade e as leis vagas, indeterminadas ou imprecisas 3. Princpio da interveno mnima 3.1. Princpio da fragmentariedade 4. Princpio da irretroatividade da lei penal 5. Princpio da adequao social 6. Princpio da insignificncia 7. Princpio da ofensividade 8. Princpio de culpabilidade 9. Princpio da proporcionalidade 10. Princpio de humanidade CAPTULO III | HISTRIA DO DIREITO PENAL 1. Consideraes introdutrias 2. Direito Penal Romano 3. Direito Penal Germnico 4. Direito Penal Cannico 5. Direito Penal comum 6. Perodo humanitrio. Os reformadores 8. 6.1. Cesare de Beccaria 6.2. John Howard 6.3. Jeremias Bentham 7. Histria do Direito Penal brasileiro 7.1. Perodo colonial 7.2. Cdigo Criminal do Imprio 7.3. Perodo republicano 7.4. Reformas contemporneas 7.5. Perspectivas para o futuro CAPTULO IV | A EVOLUO EPISTEMOLGICA DO DIREITO PENAL: PRIMEIRA FASE 1. Consideraes introdutrias 2. As correntes do pensamento positivista e sua repercusso na Cincia do Direito Penal 3. Escola Clssica 4. Escola Positiva 4.1. Cesare Lombroso (1835-1909) 4.2. Rafael Garofalo (1851-1934) 4.3. Enrico Ferri (1856-1929) 5. Terza scuola italiana 6. Escola moderna alem 7. Escola Tcnico-Jurdica 8. Escola correcionalista 9. Defesa social 10. Crise do pensamento positivista CAPTULO V | A EVOLUO EPISTEMOLGICA DO DIREITO PENAL: REFINAMENTO DA ELABORAO JURDICO-DOGMTICA 1. O modelo neokantista 2. O ontologismo do finalismo de Welzel 3. Ps-finalismo: o normativismo funcionalista 3.1. O sistema teleolgico-funcional de direito penal formulado por Roxin 3.2. A radicalizao da sistemtica funcional na proposta de Jakobs 3.3. Consideraes crticas CAPTULO VI | TEORIAS SOBRE FUNES, FINS E JUSTIFICAES DA PENA 1. Generalidades 2. Teorias sobre a pena 3. Teorias absolutas ou retributivas da pena 3.1. Teoria de Kant 3.2. Teoria de Hegel 9. 3.3. Outras teses retribucionistas da pena 3.4. Consideraes crticas 4. Teorias relativas ou preventivas da pena 4.1. A preveno geral 4.1.1. A preveno geral negativa 4.1.2. A preveno geral positiva 4.1.3. A preveno geral positiva fundamentadora 4.2. A preveno especial 5. A teoria mista ou unificadora da pena 5.1. A teoria unificadora dialtica de Roxin 6. Modernas teorias de justificao da pena 6.1. A preveno geral positiva limitadora CAPTULO VII | SISTEMAS PENITENCIRIOS 1. Sistema pensilvnico ou celular 1.1. Origens histricas 1.2. Caractersticas e objetivos do sistema 2. Sistema auburniano 2.1. Origens histricas 2.2. Caractersticas e objetivos do sistema 2.3. Sistemas pensilvnico e auburniano: semelhanas e diferenas 3. Sistemas progressivos 3.1. Sistema progressivo ingls ou mark system 3.2. Sistema progressivo irlands 3.3. Sistema de Montesinos 4. Algumas causas da crise do sistema progressivo CAPTULO VIII | A NORMA PENAL 1. Consideraes preliminares 2. Tcnica legislativa do Direito Penal: normas incriminadoras e no incriminadoras 3. Fontes do Direito Penal 4. Da interpretao das leis penais 4.1. As diversas modalidades de interpretao em matria penal 4.1.1. Interpretao quanto s fontes: autntica, jurisprudencial e doutrinria 4.1.2. Interpretao quanto aos meios: gramatical, histrica, lgica e sistemtica 4.1.3. Interpretao quanto aos resultados: declarativa, extensiva e restritiva 5. A analogia e sua aplicao in bonam partem 5.1. Analogia e interpretao analgica: processo integrativo versus processo interpretativo 10. 5.2. Analogia in bonam partem 6. Leis penais em branco 7. Funes e contedo da norma penal CAPTULO IX | LEI PENAL NO TEMPO 1. Consideraes introdutrias 2. Princpios da lei penal no tempo 2.1. Irretroatividade da lei penal 2.2. Retroatividade e ultratividade da lei mais benigna 3. Hipteses de conflitos de leis penais no tempo 4. Lei intermediria e conjugao de leis 5. Leis excepcionais e temporrias 6. Retroatividade das leis penais em branco 7. Retroatividade e lei processual 8. Tempo do crime 8.1. Retroatividade da lei penal mais grave em crimes continuado ou permanente: Smula 711 do STF CAPTULO X | LEI PENAL NO ESPAO 1. Princpios dominantes 2. Conceito de territrio nacional 3. Lugar do crime 4. Extraterritorialidade 5. Lei penal em relao s pessoas 5.1. Imunidade diplomtica 5.2. Imunidade parlamentar 5.3. Da imunidade parlamentar a partir da Emenda Constitucional n. 35/2001 5.4. A imunidade processual e prisional 6. Extradio 6.1. Conceito e espcies de extradio 6.2. Princpios e condies da extradio 6.3. Requisitos para a concesso de extradio 6.4. Procedimento do processo de extradio 6.5. Limitaes extradio 7. Deportao e expulso 8. O Tribunal Penal Internacional 8.1. Tribunal Penal Internacional, priso perptua e princpio de humanidade CAPTULO XI | CONFLITO APARENTE DE NORMAS 1. Consideraes gerais 2. Princpios regentes do conflito aparente de normas 11. 2.1. Princpio da especialidade 2.2. Princpio da subsidiariedade 2.3. Princpio da consuno 3. Antefato e ps-fato impunveis SEGUNDA PARTE TEORIA GERAL DO DELITO CAPTULO XII | A EVOLUO DA TEORIA GERAL DO DELITO 1. Consideraes preliminares 2. O modelo positivista do sculo XIX 3. O modelo neokantista 4. O ontologismo do finalismo de Welzel 5. Ps-finalismo: os modelos funcionalistas CAPTULO XIII | CONCEITO DE CRIME 1. Antecedentes da moderna teoria do delito 2. O conceito clssico de delito 3. O conceito neoclssico de delito 4. O conceito de delito no finalismo 5. O conceito analtico de crime 6. A definio legal de crime no Brasil 7. Classificao das infraes penais 7.1. Classificao tripartida e bipartida 7.2. Crimes doloso, culposo e preterdoloso 7.3. Crimes comissivo, omissivo e comissivo-omissivo 7.4. Crimes instantneo e permanente 7.5. Crimes material, formal e de mera conduta 7.6. Crimes de dano e de perigo 7.7. Crimes unissubjetivo e plurissubjetivo 7.8. Crimes unissubsistente e plurissubsistente 7.9. Crimes comum, prprio e de mo prpria 7.10. Crimes de ao nica, de ao mltipla e de dupla subjetividade CAPTULO XIV | A CONDUTA PUNVEL 1. Consideraes gerais 2. Teorias da ao 2.1. Teoria causal-naturalista da ao 2.2. Teoria final da ao 2.3. Teoria social da ao 12. 2.3.1. Inconsistncia das controvrsias entre as teorias final e social do conceito de ao 2.4. Teoria da ao significativa 3. Ausncia de ao e de omisso 4. Os sujeitos da ao 4.1. Os sujeitos ativo e passivo da ao 4.2. A pessoa jurdica como sujeito ativo do crime 4.2.1. Responsabilidade penal nos crimes contra o sistema financeiro CAPTULO XV | A OMISSO E SUAS FORMAS 1. Consideraes gerais 2. Crimes omissivos prprios 3. Crimes omissivos imprprios ou comissivos por omisso 3.1. Pressupostos fundamentais do crime omissivo imprprio 4. Fontes originadoras da posio de garantidor 4.1. Obrigao legal de cuidado, proteo ou vigilncia 4.2. De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o resultado 4.3. Com o comportamento anterior, cria o risco da ocorrncia do resultado CAPTULO XVI | RELAO DE CAUSALIDADE 1. Consideraes gerais 2. Teoria da equivalncia das condies ou conditio sine qua non 3. Limitaes do alcance da teoria da conditio sine qua non 3.1. Localizao do dolo e da culpa no tipo penal 3.2. Causas (concausas) absolutamente independentes 3.2.1. Causas relativamente independentes 3.3. Supervenincia de causa relativamente independente que, por si s, produz o resultado 4. Outras teorias da causalidade 5. A relevncia causal da omisso 6. A teoria da imputao objetiva e mbito de aplicao 6.1. Consideraes crticas CAPTULO XVII | TIPO E TIPICIDADE 1. Fases da evoluo da teoria do tipo 2. Tipo e tipicidade 2.1. Noo de tipo 2.2. Juzo de tipicidade 2.3. Tipicidade 2.4. Funes do tipo penal 3. Bem jurdico e contedo do injusto 13. 4. Elementos estruturais do tipo CAPTULO XVIII | TIPO DE INJUSTO DOLOSO 1. Tipo objetivo 1.1. O autor da ao 1.2. Ao ou omisso 1.3. Resultado 1.4. Nexo causal e imputao objetiva 2. Tipo subjetivo 2.1. Elemento subjetivo geral: dolo 2.1.1. Definio de dolo 2.1.2. Teorias do dolo 2.1.3. Elementos do dolo 2.1.4. Espcies de dolo: direto e eventual 2.2. Elemento subjetivo especial do tipo ou elemento subjetivo especial do injusto 2.2.1. Delitos de inteno 2.2.2. Delitos de tendncia 2.2.3. Momentos especiais de nimo 2.2.4. Especiais motivos de agir 3. Erro de tipo 4. Princpios da adequao social e da insignificncia 4.1. Princpio da adequao social 4.2. Princpio da insignificncia CAPTULO XIX | TIPO DE INJUSTO CULPOSO 1. Definio do tipo de injusto culposo 2. Elementos do tipo de injusto culposo 2.1. Inobservncia do cuidado objetivo devido e princpio da confiana 2.2. Produo de um resultado e nexo causal 2.3. Previsibilidade objetiva do resultado 2.4. Conexo interna entre desvalor da ao e desvalor do resultado 3. Modalidades de culpa 4. Espcies de culpa 4.1. Culpa consciente ou com representao 4.2. Culpa inconsciente ou sem representao 4.3. Culpa imprpria ou culpa por assimilao 5. Distino entre dolo eventual e culpa consciente 6. Concorrncia e compensao de culpas 7. Crime preterdoloso e crime qualificado pelo resultado CAPTULO XX | A ANTIJURIDICIDADE 14. 1. Consideraes gerais. Antecedentes da antijuridicidade 2. Terminologia: antijuridicidade e injusto. Antinormatividade e antijuridicidade. Ilicitude e antijuridicidade 3. Antijuridicidade formal e antijuridicidade material 3.1. Concepo unitria de antijuridicidade 4. Antijuridicidade genrica e antijuridicidade especfica 4.1. Antijuridicidade penal e antijuridicidade extrapenal: ilicitude nica e independncia de instncias 5. Desvalor da ao e desvalor do resultado CAPTULO XXI | CAUSAS DE JUSTIFICAO 1. Excludentes de antijuridicidade ou causas de justificao 2. Elementos objetivos e subjetivos das causas de justificao 3. Consentimento do ofendido como causa supralegal de justificao 4. Excesso nas causas de justificao 5. Estado de necessidade 5.1. Estado de necessidade justificante e estado de necessidade exculpante 5.1.1. Estado de necessidade e coliso de deveres 5.2. Requisitos do estado de necessidade 5.2.1. Existncia de perigo atual e inevitvel 5.2.2. Direito (bem jurdico) prprio ou alheio 5.2.3. No provocao voluntria do perigo 5.2.4. Inevitabilidade do perigo por outro meio 5.2.5. Inexigibilidade de sacrifcio do bem ameaado 5.2.6. Elemento subjetivo: finalidade de salvar o bem do perigo 5.2.7. Ausncia de dever legal de enfrentar o perigo 5.3. Causa de diminuio de pena (minorante) 6. Legtima defesa 6.1. Consideraes gerais 6.2. Fundamento e natureza jurdica 6.3. Conceito e requisitos 6.3.1. Agresso injusta, atual ou iminente 6.3.2. Direito (bem jurdico) prprio ou alheio 6.3.3. Meios necessrios, usados moderadamente (proporcionalidade) 6.3.4. Elemento subjetivo: animus defendendi 6.4. Legtima defesa sucessiva e recproca 6.5. Legtima defesa e estado de necessidade 7. Outras excludentes de criminalidade 7.1. Estrito cumprimento de dever legal 7.2. Exerccio regular de direito 15. 7.3. Offendiculas 7.4. O excesso nas causas de justificao luz da Reforma Penal de 1984 CAPTULO XXII | A CULPABILIDADE 1. Consideraes introdutrias 2. Culpabilidade como predicado do crime 3. Antecedentes das modernas teorias da culpabilidade 4. Teoria psicolgica da culpabilidade 4.1. Crtica teoria psicolgica 5. Precursores da teoria psicolgico-normativa da culpabilidade 6. Teoria psicolgico-normativa da culpabilidade 6.1. Crtica teoria psicolgico-normativa CAPTULO XXIII | TEORIA NORMATIVA PURA DA CULPABILIDADE: SIGNIFICADO, CRISE E EVOLUO 1. Consideraes genricas 2. Definio e fundamento da culpabilidade normativa pura 3. Elementos da culpabilidade normativa pura 3.1. Imputabilidade 3.2. Possibilidade de conhecimento da ilicitude do fato 3.3. Exigibilidade de obedincia ao Direito 4. A importncia da teoria finalista da ao para a teoria normativa pura da culpabilidade 5. Os problemas do livre-arbtrio na fundamentao da reprovao de culpabilidade 6. Crise da teoria normativa pura da culpabilidade 7. O conceito funcional de culpabilidade 7.1. Culpabilidade e preveno na viso de Roxin 7.2. Culpabilidade e preveno na viso de Jakobs 8. A teoria da motivabilidade pelas normas CAPTULO XXIV | EXCLUDENTES DE CULPABILIDADE 1. Inimputabilidade e culpabilidade diminuda 1.1. Imputabilidade e sistemas adotados 1.2. Inimputabilidade 1.2.1. Menoridade 1.2.2. Doena mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado 1.3. Culpabilidade diminuda 1.4. Consequncias jurdico-penais 2. Coao moral irresistvel e obedincia hierrquica 2.1. Coao moral irresistvel 2.2. Obedincia hierrquica 2.2.1. Tratamento da obedincia hierrquica no Cdigo Penal Militar 16. 3. A emoo e a paixo 4. A embriaguez e substncias de efeitos anlogos 4.1. Generalidades e actio libera in causa 4.2. Formas ou modalidades de embriaguez 4.2.1. Embriaguez no acidental: intencional ou culposa 4.2.2. Embriaguez acidental: caso fortuito ou fora maior 4.2.3. Embriaguez preordenada 4.2.4. Embriaguez habitual e patolgica 5. Erro de proibio 6. Caso fortuito e fora maior CAPTULO XXV | ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIO 1. Consideraes introdutrias 2. Ausncia de conhecimento da ilicitude e ignorncia da lei 3. Teorias do dolo e da culpabilidade 4. Teoria dos elementos negativos do tipo 5. Erro de tipo e erro de proibio 5.1. Erro sobre elementos normativos especiais da ilicitude 6. Erro sobre pressuposto objetivo da causa de justificao 6.1. Um erro sui generis: consideraes crticas 6.2. Erro culposo no se confunde com crime culposo 7. Modalidades de erro sobre a ilicitude 7.1. Erro de proibio direto 7.2. Erro mandamental 7.3. Erro de proibio indireto 8. A discutvel escusabilidade de determinados erros CAPTULO XXVI | CRIME CONSUMADO E CRIME TENTADO 1. Crime consumado 2. Tentativa 3. Iter criminis 4. Distino entre atos preparatrios e atos executrios 5. Natureza e tipicidade da tentativa 6. Elementos da tentativa 7. Espcies ou formas de tentativas 8. Punibilidade da tentativa 9. Infraes que no admitem tentativa 10. Desistncia voluntria 11. Arrependimento eficaz 12. Natureza jurdica da desistncia voluntria e do arrependimento eficaz 13. Crime impossvel ou tentativa inidnea 17. 13.1. Punibilidade do crime impossvel 14. Crime putativo 15. Flagrante provocado CAPTULO XXVII | CONCURSO DE PESSOAS 1. Introduo 2. Teorias sobre o concurso de pessoas 3. Causalidade fsica e psquica 4. Requisitos do concurso de pessoas 5. Autoria 5.1. Conceito extensivo de autor 5.2. Conceito restritivo de autor 5.2.1. Teoria do domnio do fato 6. Autoria mediata 7. Coautoria 8. Participao em sentido estrito 8.1. Espcies de participao 8.2. Fundamento da punibilidade da participao 8.3. Princpio da acessoriedade da participao 9. Concurso em crime culposo 10. Concurso em crimes omissivos 11. Autoria colateral 12. Multido delinquente 13. Participao impunvel 14. Punibilidade do concurso de pessoas 14.1. Participao de menor importncia 14.2. Cooperao dolosamente distinta 15. Comunicabilidade das circunstncias, condies e elementares TERCEIRA PARTE CONSEQUNCIAS JURDICAS DO DELITO CAPTULO XXVIII | HISTRIA E EVOLUO DA PENA DE PRISO 1. Consideraes introdutrias 2. A Antiguidade 3. A Idade Mdia 4. A Idade Moderna 5. Causas que levaram transformao da priso-custdia em priso-pena 6. Incio e fim de um mito 7. Anlise poltico-criminal da reincidncia 8. O objetivo ressocializador na viso da criminologia crtica 18. 8.1. Algumas sugestes de Alessandro Baratta para combater a delinquncia 9. O objetivo ressocializador mnimo CAPTULO XXIX | PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE 1. Consideraes gerais 2. Recluso e deteno 3. Regimes penais 3.1. Regras do regime fechado 3.2. Regras do regime semiaberto 3.3. Regras do regime aberto 3.4. Regras do regime disciplinar diferenciado 4. Regime inicial 5. Priso domiciliar 6. Progresso e regresso 6.1. Progresso 6.1.1. A progresso nos crimes hediondos 6.1.2. A progresso nos crimes hediondos a partir da Lei n. 9.455/97 6.1.3. Progresso de regime antes do trnsito em julgado de deciso condenatria (Smula 716) 6.2. Regresso 6.3. Requisitos da progresso 7. Exame criminolgico 7.1. Exame criminolgico e exame de personalidade 7.2. Obrigatoriedade do exame criminolgico 8. Detrao penal 9. Trabalho prisional 10. Remio pelo trabalho e pelo estudo 10.1. Prtica de falta grave pode revogar a remio de at 1/3 (um tero) da pena remida 11. Regime disciplinar diferenciado 11.1. Consideraes preliminares 11.2. A previso legal do regime disciplinar diferenciado CAPTULO XXX | PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS 1. Consideraes gerais 2. Antecedentes das penas alternativas 3. Cominao e aplicao das penas alternativas 4. Requisitos ou pressupostos necessrios substituio 4.1. Novos aspectos nos critrios orientadores da substituio 4.1.1. Substituio nos crimes culposos 4.1.2. Substituio nas penas de at um ano de priso 19. 4.1.3. Substituio nas penas de at seis meses de priso 5. Espcies de penas restritivas 5.1. Prestao pecuniria 5.1.1. Definio e destinatrios da prestao pecuniria 5.1.2. Injustificada limitao da compensao: condenao em ao reparatria 5.1.3. Possibilidade de estender a compensao s conciliaes cveis 5.1.4. Sano penal fixada em salrios mnimos: duvidosa constitucionalidade 5.2. Perda de bens e valores 5.2.1. Distino entre confisco-pena e confisco-efeito da condenao 5.2.2. Limites do confisco 5.3. Prestao de outra natureza (inominada) 5.3.1. Natureza consensual dessa converso 5.3.2. Converso somente da prestao pecuniria: seu fundamento 5.4. Limitao de fim de semana 5.5. Prestao de servios comunidade ou a entidades pblicas 5.6. Interdio temporria de direitos 6. Penas restritivas como incidente de execuo 7. Converso das penas restritivas de direitos 7.1. Novos aspectos relativos converso 7.1.1. Coercibilidade da converso 7.1.2. Limite temporal da converso e detrao penal 7.1.3. Ressalva: quantum mnimo de converso 7.1.4. Excluso das penas pecunirias da conversibilidade pena de priso 7.2. Causas gerais de converso 7.3. Causas especiais de converso 8. Consentimento do condenado 9. Crimes hediondos e a Lei n. 9.714/98 10. Conflito poltico-criminal entre as Leis n. 9.714/98 e 9.099/95 10.1. Leso corporal leve dolosa, ameaa e constrangimento ilegal 11. Limites das novas penas alternativas e a suspenso condicional do processo 11.1. Divergncia quanto aos requisitos de admissibilidade 12. Novas penas alternativas e priso processual: incompatibilidade CAPTULO XXXI | APLICAO SUBSTITUTIVA DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS NAS LEIS N. 9.503/97 E 9.605/98 1. Consideraes gerais 2. Aplicao substitutiva ou alternativa das penas restritivas de direitos no Cdigo de Trnsito Brasileiro (Lei n. 9.503/97) 20. 2.1. Aplicao dos postulados da Lei n. 9.099/95 nas infraes penais definidas no Cdigo de Trnsito Brasileiro (Lei n. 9.503/97) 2.1.1. Crimes relacionados no pargrafo nico do art. 291 do CTB 2.1.2. Natureza da ao penal dos crimes relacionados no pargrafo nico do art. 291 do CTB 3. Aplicao substitutiva ou alternativa das penas restritivas de direitos nas infraes definidas na Lei Ambiental (Lei n. 9.605/98) 3.1. Aplicao dos postulados da Lei n. 9.099/95 nas infraes penais definidas na Lei Ambiental (Lei n. 9.605/98) 3.1.1. A transao penal na nova Lei Ambiental 3.1.2. Prvia composio ou prvia reparao do dano 3.1.3. Comprovada impossibilidade de composio do dano 3.1.4. A suspenso condicional do processo 3.1.5. Limites constitucionais da transao penal CAPTULO XXXII | OUTRAS PENAS ALTERNATIVAS 1. Sntese dos fundamentos da Exposio de Motivos relativos aos aspectos vetados 2. Razes dos vetos presidenciais 3. Recolhimento domiciliar 3.1. Priso domiciliar disciplinada na Lei de Execuo Penal 4. Advertncia, frequncia a curso e submisso a tratamento 4.1. A pena de advertncia 4.2. Pena de frequncia a curso 4.3. Pena de submisso a tratamento 5. Advertncia e comparecimento a programa ou curso educativo (Lei n. 11.343/2006) 5.1. Natureza jurdica das sanes cominadas infrao cometida pelo usurio de drogas 5.2. Contedo da advertncia sobre os efeitos das drogas e da medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo CAPTULO XXXIII | PENAS PECUNIRIAS 1. Consideraes gerais 2. Origens das penas pecunirias 3. Conceito e tipos de penas pecunirias 4. Origem do sistema dias-multa 5. O Direito Penal positivo brasileiro 5.1. Cominao e aplicao da pena de multa 5.2. O sistema dias-multa 5.3. Limites da pena de multa 5.4. Dosimetria da pena de multa 5.5. Multa substitutiva 21. 6. Aplicao na legislao extravagante 7. Fase executria da pena pecuniria 7.1. Pagamento da multa 7.2. Formas de pagamento da multa 7.3. Converso da multa na verso da Reforma Penal de 1984 8. A competncia para a execuo da pena de multa luz da Lei n. 9.268/96 9. A inevitvel prescrio durante a execuo CAPTULO XXXIV | APLICAO DA PENA 1. Individualizao da pena 2. Circunstncias e elementares do crime 3. Circunstncias judiciais 3.1. Circunstncias judiciais nos denominados crimes societrios 4. Circunstncias legais: atenuantes e agravantes genricas 4.1. Circunstncias preponderantes no concurso de agravantes e atenuantes 5. Causas de aumento e de diminuio da pena 6. Dosimetria da pena 6.1. Pena-base: circunstncias judiciais 6.2. Pena provisria: agravantes e atenuantes 6.2.1. Pena aqum do mnimo: uma garantia constitucional 6.3. Pena definitiva CAPTULO XXXV | CONCURSO DE CRIMES 1. Introduo 2. Sistemas de aplicao da pena 3. Espcies de concurso de crimes 3.1. Concurso material 3.2. Concurso formal 3.3. Crime continuado 3.3.1. Origem histrica 3.3.2. Definio do crime continuado 3.3.3. Natureza jurdica do crime continuado 3.3.4. Teorias do crime continuado 3.3.5. Requisitos do crime continuado 3.3.6. Crime continuado especfico 4. Dosimetria da pena no concurso de crimes 5. Erro na execuo aberratio ictus 5.1. Qualidades da vtima 6. Resultado diverso do pretendido 7. Limite de cumprimento da pena de priso 22. CAPTULO XXXVI | SUSPENSO CONDICIONAL DA PENA 1. Origem e desenvolvimento do instituto 2. Conceito e denominao do instituto 3. Natureza jurdica 4. A suspenso condicional no Direito positivo brasileiro 4.1. Requisitos ou pressupostos necessrios 4.2. Espcies de suspenso condicional 4.2.1. Condies do sursis 4.3. O perodo de prova 4.3.1. Causas de revogao obrigatria 4.3.2. Causas de revogao facultativa 4.4. Prorrogao do perodo de prova 5. Extino da pena privativa de liberdade CAPTULO XXXVII | LIVRAMENTO CONDICIONAL 1. Origem e desenvolvimento do livramento condicional 2. Conceito e caracteres da liberdade condicional 3. Natureza jurdica da liberdade condicional 4. A liberdade condicional no Direito brasileiro 5. Requisitos ou pressupostos necessrios 5.1. Requisitos ou pressupostos objetivos 5.2. Requisitos ou pressupostos subjetivos 5.3. Requisito especfico 6. Condies do livramento condicional 6.1. Condies de imposio obrigatria 6.2. Condies de imposio facultativa 7. Causas de revogao do livramento condicional 7.1. Causas de revogao obrigatria 7.2. Causas de revogao facultativa 8. Suspenso do livramento condicional 9. Efeitos de nova condenao 10. Prorrogao do livramento e extino da pena CAPTULO XXXVIII | EFEITOS DA CONDENAO E REABILITAO 1. Efeitos gerais 2. Efeitos extrapenais 2.1. Efeitos genricos 2.2. Efeitos especficos 2.3. Perda de cargo ou funo pblica, por condenao criminal a pena inferior a um ano 3. Reabilitao 23. 3.1. Pressupostos e requisitos necessrios 3.2. Efeitos da reabilitao 3.3. Revogao da reabilitao 3.4. Competncia e recurso CAPTULO XXXIX | MEDIDAS DE SEGURANA 1. Consideraes introdutrias 2. Diferenas entre pena e medida de segurana 3. Princpio da legalidade 4. Pressupostos ou requisitos para aplicao da medida de segurana 5. Espcies de medidas de segurana 6. Tipos de estabelecimentos 7. Prescrio e extino da punibilidade 8. Prazo de durao da medida de segurana: limites mnimo e mximo 9. Execuo, suspenso e extino da medida de segurana 10. Substituio da pena por medida de segurana 11. Verificao da cessao de periculosidade CAPTULO XL | A AO PENAL 1. Consideraes introdutrias 2. Espcies de ao penal 2.1. Ao penal pblica 2.2. Ao penal privada 3. Representao criminal e requisio do Ministro da Justia 3.1. Irretratabilidade da representao 4. Decadncia do direito de queixa e de representao 4.1. Renncia ao direito de queixa 4.2. A renncia nos Juizados Especiais Criminais 5. Perdo do ofendido 5.1. Diviso, extenso e aceitao do perdo 5.2. Limites temporais do perdo e da renncia CAPTULO XLI | DA EXTINO DA PUNIBILIDADE 1. Consideraes gerais 2. Causas extintivas da punibilidade 2.1. Morte do agente 2.2. Anistia, graa e indulto 2.3. Abolitio criminis 2.4. Prescrio, decadncia e perempo 2.5. Renncia e perdo 2.6. Retratao do agente 24. 2.7. Casamento do agente com a vtima 2.8. Casamento da vtima com terceiro 2.9. Perdo judicial CAPTULO XLII | PRESCRIO 1. Consideraes introdutrias 2. Fundamentos polticos da prescrio 3. Espcies de prescrio 3.1. Prescrio da pretenso punitiva 3.1.1. Prescrio da pretenso punitiva abstrata 3.1.2. Prescrio da pretenso punitiva retroativa 3.1.3. Supresso de parcela da prescrio retroativa: inconstitucionalidade manifesta 3.1.3.1. Supresso de parcela do lapso prescricional e violao do princpio da proporcionalidade 3.1.3.2. Violao da garantia constitucional da durao razovel do processo 3.1.4. Prescrio da pretenso punitiva intercorrente ou subsequente 3.2. Prescrio da pretenso executria 4. Termo inicial da prescrio 5. Causas modificadoras do curso prescricional 5.1. Suspenso do prazo prescricional 5.1.1. Novas causas suspensivas da prescrio 5.1.2. Suspenso da prescrio nos termos do art. 366 do CPP: correo da Smula 415 do STJ 5.2. Interrupo do prazo prescricional 5.2.1. Recebimento da denncia: causas de rejeio e absolvio sumria 5.2.2. Recebimento da denncia: contraditrio antecipado e reflexos na prescrio 5.3. Causas redutoras do prazo prescricional 6. Prescrio da pena de multa Bibliografia 25. NOTA DO AUTOR 17 EDIO Alcanamos com esta publicao a 17 edio do 1 volume do nosso Tratado de Direito Penal, o qual iniciamos, despretensiosamente, procurando somente oferecer uma alternativa bibliogrfica aos nossos alunos de graduao. A preparao desta nova edio foi feita com o propsito de renovao, visando melhor compreenso do estgio atual da evoluo da Cincia do Direito Penal, sem perder de vista a necessria anlise crtica de como os avanos da dogmtica jurdico-penal repercutem na aplicao prtica das normas contidas no Cdigo Penal brasileiro. Sempre nos preocupamos em manter a atualidade desta obra, registrando, ao longo dos ltimos 16 anos, as mais importantes transformaes produzidas tanto no mbito do Direito Penal brasileiro como no mbito do Direito Penal Europeu continental. Tudo isso com o objetivo de transmitir a todos os nossos leitores a importncia de pensar e estruturar o Direito Penal a partir de uma lgica racional, argumentativa e sistemtica, cuja origem remonta ao idealismo alemo de finais do sculo XVIII, mas que ainda perdura nos pases ocidentais cultivadores da dogmtica jurdico-penal, sob a gide legitimadora e limitadora dos valores e postulados do Estado Democrtico de Direito. Com essa perspectiva, apresentamos, nesta edio, no s a atualizao de importantes reformas legislativas, mas uma ampla reviso de temas fundamentais para a compreenso do Direito Penal, como, por exemplo: a evoluo epistemolgica do Direito Penal e o desenvolvimento da dogmtica, as modernas teorias legitimadoras da pena, o alcance e aplicao prtica da teoria da imputao objetiva, os avanos no estudo da culpabilidade e no tratamento do erro, entre tantos outros aspectos de especial transcendncia para o estudioso da Cincia Penal. Os resultados alcanados so fruto de um longo perodo de debates mantidos com uma de minhas mais talentosas discpulas, a Professora Luciana de Oliveira Monteiro, Doutora em Direito Penal pela Universidade Pablo de Olavide de Sevilha, a quem agradeo a inestimvel colaborao na reviso dos novos contedos includos nesta edio. A professora Luciana defendeu, no final do ano passado, sua Tese de Doutorado nessa universidade espanhola, obtendo a nota mxima, com distino, de cuja banca examinadora tivemos a honra de participar. Todo esse trabalho no teria sido feito sem o constante apoio e estmulo de nossos leitores, professores, juristas e alunos deste imenso Brasil, que nos estimulam a continuar ampliando e aprofundando nossos estudos, e de quem seremos eternos devedores! Braslia, escaldante vero de 2012. 26. Primeira Parte - FUNDAMENTOS E HISTRIA DO DIREITO PENAL CAPTULO I - CONCEITO DE DIREITO PENAL Sumrio: 1. Consideraes introdutrias. 2. Conceito de Direito Penal. 3. Caracteres do Direito Penal. 4. Direito Penal objetivo e Direito Penal subjetivo. 5. Direito Penal comum e Direito Penal especial. 6. Direito Penal substantivo e Direito Penal adjetivo. 7. Direito Penal num Estado Democrtico de Direito. 1. Consideraes introdutrias Falar de Direito Penal falar, de alguma forma, de violncia. No entanto, modernamente, sustenta-se que a criminalidade um fenmeno social normal. Durkheim1 afirma que o delito no ocorre somente na maioria das sociedades de uma ou outra espcie, mas sim em todas as sociedades constitudas pelo ser humano. Assim, para Durkheim, o delito no s um fenmeno social normal, como tambm cumpre outra funo importante, qual seja, a de manter aberto o canal de transformaes de que a sociedade precisa. Sob um outro prisma, pode-se concordar, pelo menos em parte, com Durkheim: as relaes humanas so contaminadas pela violncia, necessitando de normas que as regulem. E o fato social que contrariar o ordenamento jurdico constitui ilcito jurdico, cuja modalidade mais grave o ilcito penal, que lesa os bens mais importantes dos membros da sociedade. Quando as infraes aos direitos e interesses do indivduo assumem determinadas propores, e os demais meios de controle social mostram-se insuficientes ou ineficazes para harmonizar o convvio social, surge o Direito Penal com sua natureza peculiar de meio de controle social formalizado, procurando resolver conflitos e suturando eventuais rupturas produzidas pela desinteligncia dos homens. A denominao Direito Penal mais tradicional no Direito contemporneo, com larga utilizao, especialmente nos pases ocidentais. Direito Criminal tambm foi uma terminologia de grande aplicao, especialmente no sculo passado; hoje se encontra em desuso, com exceo dos anglo-saxes, que preferem a expresso criminal law. Durante sua evoluo foram sugeridas outras denominaes que, contudo, no obtiveram a preferncia doutrinria nem foram adotadas pelos ordenamentos positivos das naes desenvolvidas2. 2. Conceito de Direito Penal O Direito Penal apresenta-se, por um lado, como um conjunto de normas jurdicas que tem por objeto a determinao de infraes de natureza penal e suas sanes correspondentes penas e medidas de segurana. Por outro lado, apresenta-se como um conjunto de valoraes e princpios que orientam a prpria aplicao e interpretao das 27. normas penais3. Esse conjunto de normas, valoraes e princpios, devidamente sistematizados, tem a finalidade de tornar possvel a convivncia humana, ganhando aplicao prtica nos casos ocorrentes, observando rigorosos princpios de justia. Com esse sentido, recebe tambm a denominao de Cincia Penal, desempenhando igualmente uma funo criadora, liberando-se das amarras do texto legal ou da dita vontade esttica do legislador, assumindo seu verdadeiro papel, reconhecidamente valorativo e essencialmente crtico, no contexto da modernidade jurdica. Pois, como esclarece Zaffaroni4, com a expresso Direito Penal designam-se conjunta ou separadamente duas coisas distintas: 1) o conjunto de leis penais, isto , a legislao penal; e 2) o sistema de interpretao dessa legislao, ou seja, o saber do Direito Penal. Direito Penal como ensinava Welzel5 aquela parte do ordenamento jurdico que fixa as caractersticas da ao criminosa, vinculando-lhe penas ou medidas de segurana. Ou, no magistrio de Mezger6, Direito Penal o conjunto de normas jurdicas que regulam o exerccio do poder punitivo do Estado, associando ao delito, como pressuposto, a pena como consequncia. As definies de Direito Penal se sucedem, mantendo, de modo geral, a mesma essncia. Elencaremos, somente para consultas, outras definies semelhantes: Maggiore7, Direito Penal o sistema de normas jurdicas, por fora das quais o autor de um delito (ru) submetido a uma perda ou diminuio de direitos pessoais; Cuello Caln8, Direito Penal o conjunto de normas estabelecidas pelo Estado que definem os delitos, as penas e as medidas de correo e de segurana com as quais so sancionados. Na mesma direo seguem as definies dos principais penalistas ptrios: Magalhes Noronha9 definia o Direito Penal como o conjunto de normas jurdicas que regulam o poder punitivo do Estado, tendo em vista os fatos de natureza criminal e as medidas aplicveis a quem os pratica. Para Frederico Marques10, Direito Penal o conjunto de normas que ligam ao crime, como fato, a pena como consequncia, e disciplinam tambm as relaes jurdicas da derivadas, para estabelecer a aplicabilidade de medidas de segurana e a tutela do direito de liberdade em face do poder de punir do Estado. E, acrescentava Frederico Marques, para dar uma noo precisa do Direito Penal, indispensvel que nele se compreendam todas as relaes jurdicas que as normas penais disciplinam, inclusive as que derivam dessa sistematizao ordenadora do delito e da pena. 3. Caracteres do Direito Penal O Direito Penal regula as relaes dos indivduos em sociedade e as relaes destes com a mesma sociedade. Como meio de controle social altamente formalizado, exercido sob o monoplio do Estado, a persecutio criminis somente pode ser legitimamente desempenhada de acordo com normas preestabelecidas, legisladas de acordo com as regras de um sistema democrtico. Por esse motivo os bens protegidos pelo Direito Penal no interessam ao indivduo, exclusivamente, mas coletividade como um todo. A relao existente entre o autor de um crime e a vtima de natureza secundria, uma vez que esta no tem o direito de punir. Mesmo quando dispe da persecutio criminis no detm o ius puniendi, mas to 28. somente o ius accusationis, cujo exerccio exaure-se com a sentena penal condenatria. Consequentemente, o Estado, mesmo nas chamadas aes de exclusiva iniciativa privada, o titular do ius puniendi, que tem, evidentemente, carter pblico. Mas, afinal, especificamente, o que deve distinguir o Direito Penal dos demais ramos do Direito? Qual deve ser o seu critrio diferencial? Uma das principais caractersticas do moderno Direito Penal o seu carter fragmentrio, no sentido de que representa a ultima ratio do sistema para a proteo daqueles bens e interesses de maior importncia para o indivduo e a sociedade qual pertence. Alm disso, o Direito Penal se caracteriza pela forma e finalidade com que exercita dita proteo. Quanto forma, o Direito Penal se caracteriza pela imposio de sanes especficas penas e medidas de segurana como resposta aos conflitos que chamado a resolver. Quanto finalidade, existe hoje um amplo reconhecimento por parte da doutrina, como veremos com maior detalhe no Captulo V, de que por meio do Direito Penal o Estado tem o objetivo de produzir efeitos tanto sobre aquele que delinque como sobre a sociedade que representa. Pode-se, nesse sentido, afirmar que o Direito Penal caracteriza-se pela sua finalidade preventiva: antes de punir o infrator da ordem jurdico-penal, procura motiv-lo para que dela no se afaste, estabelecendo normas proibitivas e cominando as sanes respectivas, visando evitar a prtica do crime. Tambm o Direito Penal, a exemplo dos demais ramos do Direito, traz em seu bojo a avaliao e medio da escala de valores da vida em comum do indivduo, a par de estabelecer ordens e proibies a serem cumpridas. Falhando a funo motivadora da norma penal11, transforma-se a sano abstratamente cominada, atravs do devido processo legal, em sano efetiva, tornando aquela preveno genrica, destinada a todos, numa realidade concreta, atuando sobre o indivduo infrator, o que vem a ser caracterizado como a finalidade de preveno especial, constituindo a manifestao mais autntica do seu carter coercitivo. Mas, como dizia Magalhes Noronha12, o Direito Penal cincia cultural normativa, valorativa e finalista. Na clssica diviso entre cincias naturais e culturais, o Direito Penal pertence a esta classe, qual seja, das cincias do dever ser e no do ser, isto , das cincias naturais. cincia normativa porque tem como objeto o estudo da norma, do Direito positivo e a sistematizao de critrios de valorao jurdica. Isto , a Cincia do Direito Penal tem como objeto o estudo do conjunto dos preceitos legais e dos critrios de ponderao jurdica que estruturam o dever-ser, bem como as consequncias jurdicas do no cumprimento dos preceitos normativos, enquanto as cincias causais-explicativas, como a Criminologia e a Sociologia Criminal, preocupam-se com a anlise da gnese do crime, das causas da criminalidade, numa interao entre crime, homem e sociedade. Porm, a cincia penal, como dizia Welzel13, uma cincia prtica est dirigida prxis no s porque serve administrao da Justia, mas tambm porque, num sentido mais profundo, constitui uma teoria do atuar humano, justo e injusto, de forma que as suas razes atingem os conceitos fundamentais da filosofia prtica. Assim, embora no se trate de uma cincia experimental, o Direito Penal no deixa, modernamente, de preocupar-se com a 29. gnese e com as consequncias do crime, assumindo tambm uma funo criadora, preocupando-se no s com o campo puramente normativo, mas tambm com as causas do fenmeno criminal e o seu impacto sobre a sociedade. O Direito Penal tambm valorativo. Sua atuao est pautada no em regras aritmticas sobre o que certo ou errado, mas, sim, a partir de uma escala de valores consolidados pelo ordenamento jurdico que integra, os quais, por sua vez, so levados prtica por meio de critrios e princpios jurdicos que so prprios do Direito Penal. Nesse sentido, o Direito Penal estabelece as suas prprias normas, que dispe em escala hierrquica, de tal forma que no resultem incompatveis com as normas de natureza constitucional e supranacional. O Direito Penal tem igualmente carter finalista, na medida em que visa proteo dos bens jurdicos fundamentais. Essa caracterstica pode ser tambm interpretada a partir da perspectiva funcional, incorporando ao mbito das pretenses do Direito Penal a garantia de sobrevivncia da ordem jurdica. E, finalmente, o Direito Penal sancionador, uma vez que protege a ordem jurdica cominando sanes. O Direito Penal, segundo Zaffaroni14, predominantemente sancionador e excepcionalmente constitutivo. Sancionador no sentido de que no cria bens jurdicos, mas acrescenta a sua tutela penal aos bens jurdicos regulados por outras reas do Direito. E ser, ainda que excepcionalmente, constitutivo, quando protege bens ou interesses no regulados em outras reas do Direito, como, por exemplo, a omisso de socorro, os maus-tratos de animais, as tentativas brancas, isto , que no produzem qualquer leso etc. Na verdade, preciso reconhecer a natureza constitutiva e autnoma do Direito Penal e no simplesmente acessria , pois mesmo quando tutela bens j cobertos pela proteo de outras reas do ordenamento jurdico, ainda assim, o faz de forma peculiar, dando-lhes nova feio e com distinta valorao15. Bettiol16, depois de analisar detidamente o carter constitutivo, original e autnomo do Direito Penal, conclui, afirmando: mister proclamar antes de tudo a plena e absoluta autonomia do Direito Penal por razes lgicas, ontolgicas e funcionais. Qualquer outra considerao peca por formalismo ou encontra justificaes histricas apenas aparentes. 4. Direito Penal objetivo e Direito Penal subjetivo Tem-se definido o ordenamento jurdico-positivo como o conjunto de normas criadas ou reconhecidas por uma comunidade politicamente organizada que garanta sua efetividade mediante a fora pblica17. O poder de criar ou de reconhecer eficcia a tais normas um atributo da soberania, e sua positividade depende de um ato valorativo da vontade soberana, que garanta seu cumprimento coercitivamente. O Direito positivo recebe esse nome exatamente pelo fato de que posto pelo poder poltico. Nesses termos, evidentemente que o Direito Penal Direito positivo, na medida em que a sua obrigatoriedade no depende da anuncia individualizada dos seus destinatrios, mas da vontade estatal soberana que o impe, e o seu 30. cumprimento est garantido pela coero, alis, com a sua forma mais eloquente, que a pena. E a noo de Direito Penal objetivo coincide, justamente, com a ideia de conjunto de normas penais positivadas, isto , constitui-se do conjunto de preceitos legais que regulam o exerccio de ius puniendi pelo Estado, definindo crimes e cominando as respectivas sanes penais. Uma definio precisa a respeito a oferecida por Roxin, de acordo com o qual O Direito Penal se compe da soma de todos os preceitos que regulam os pressupostos ou consequncias de uma conduta cominada com uma pena ou com uma medida de segurana18. O contedo especfico das normas penais e sua interpretao sero analisados no Captulo VI, entretanto, j aqui podemos adiantar que o Direito Penal objetivo est formado por dois grandes grupos de normas: por um lado, por normas penais no incriminadoras que esto, em regra, localizadas na Parte Geral do Cdigo Penal, estabelecendo pautas para o exerccio do jus puniendi, que sero estudadas neste volume 1 do nosso Tratado de Direito Penal, dedicado Parte Geral do Direito Penal material; por outro lado, o Direito Penal objetivo est formado por normas penais incriminadoras, dispostas na Parte Especial do Cdigo Penal, definindo as infraes penais e estabelecendo as correspondentes sanes, que sero estudadas nos demais volumes do nosso Tratado de Direito Penal. Por sua vez, o Direito Penal subjetivo19 emerge do bojo do prprio Direito Penal objetivo, constituindo-se no direito a castigar ou ius puniendi, cuja titularidade exclusiva pertence ao Estado, soberanamente, como manifestao do seu poder de imprio. O Direito Penal subjetivo, isto , o direito de punir, limitado pelo prprio Direito Penal objetivo, que, atravs das normas penais positivadas, estabelece os lindes da atuao estatal na preveno e persecuo de delitos. Alm disso, o exerccio do ius puniendi est limitado por uma srie de princpios e garantias assegurados constitucionalmente, como veremos com maior detalhe no Captulo II. 5. Direito Penal comum e Direito Penal especial Roberto Lyra20 definiu Direito Penal especial como uma especificao, um complemento do direito comum, com um corpo autnomo de princpios, com esprito e diretrizes prprias. O melhor critrio para distinguir Direito Penal comum e Direito Penal especial, a nosso juzo, a considerao dos rgos que devem aplic-los jurisdicionalmente21: se a norma penal objetiva pode ser aplicada atravs da justia comum, sua qualificao ser de Direito Penal comum; se, no entanto, somente for aplicvel por rgos especiais, constitucionalmente previstos, trata-se de norma penal especial. Atendendo a esse critrio teremos, no Brasil, Direito Penal comum, Direito Penal Militar e Direito Penal Eleitoral. Frederico Marques e Damsio de Jesus22 no aceitam a classificao do Direito Penal Eleitoral como Direito Penal especial; o primeiro, porque a competncia da Justia Eleitoral para julgar crimes eleitorais complementar e acessria; o segundo, porque a 31. quase totalidade dos juzes eleitorais pertence justia comum. A nosso juzo, contudo, tanto a Justia Militar quanto a Eleitoral so rgos especiais, com estruturas prprias e jurisdies especializadas; logo, ambas caracterizam a especialidade do Direito Penal. Cumpre destacar que a distino entre Direito Penal comum e Direito Penal especial no deve ser confundida com legislao penal comum Cdigo Penal e com legislao penal especial, tambm conhecida como legislao extravagante, que constituda pelos demais diplomas legais que no se encontram no Cdigo Penal. 6. Direito Penal substantivo e Direito Penal adjetivo Esta uma distino j superada, mas que merece ser lembrada. Direito Penal substantivo, tambm conhecido como Direito material, o Direito Penal propriamente dito, constitudo tanto pelas normas que regulam os institutos jurdico-penais, definem as condutas criminosas e cominam as sanes correspondentes (Cdigo Penal), como pelo conjunto de valoraes e princpios jurdicos que orientam a aplicao e interpretao das normas penais. Direito Penal adjetivo, ou formal, por sua vez, o Direito Processual, que tem a finalidade de determinar a forma como deve ser aplicado o Direito Penal, constituindo-se em verdadeiro instrumento de aplicao do Direito Penal substantivo. bom salientar, como lembrava Asa23, que o Direito Penal Processual possui autonomia e contedo prprios, no devendo ser considerado como integrante do Direito Penal stricto sensu, e somente a utilizao, por algumas Universidades, como disciplinas de uma mesma ctedra tem motivado essa conceituao unitria. 7. Direito Penal num Estado Democrtico de Direito O Direito Penal pode ser concebido sob diferentes perspectivas, dependendo do sistema poltico por meio do qual um Estado soberano organiza as relaes entre os indivduos pertencentes a uma determinada sociedade, e da forma como exerce o seu poder sobre eles. Nesse sentido, o Direito Penal pode ser estruturado a partir de uma concepo autoritria ou totalitria de Estado, como instrumento de persecuo aos inimigos do sistema jurdico imposto, ou a partir de uma concepo Democrtica de Estado, como instrumento de controle social limitado e legitimado por meio do consenso alcanado entre os cidados de uma determinada sociedade. Tomando como referente o sistema poltico institudo pela Constituio Federal de 1988, podemos afirmar, sem sombra de dvidas, que o Direito Penal no Brasil deve ser concebido e estruturado a partir de uma concepo democrtica do Estado de Direito, respeitando os princpios e garantias reconhecidos na nossa Carta Magna. Significa, em poucas palavras, submeter o exerccio do ius puniendi ao imprio da lei ditada de acordo com as regras do consenso democrtico, colocando o Direito Penal a servio dos interesses da sociedade, particularmente da proteo de bens jurdicos fundamentais, para o alcance de uma justia 32. equitativa. Nesse sentido, na exposio dos temas que compem a Parte Geral do Direito Penal desde os Fundamentos, passando pela Teoria Geral do Delito, at o estudo das Consequncias Jurdicas do Delito , levaremos sempre em considerao esse desiderato; ou seja, o propsito de defender um Direito Penal humano, legitimvel por meio do respeito aos direitos e garantias individuais, mesmo quando nos vejamos frustrados, na prtica, com a falta de recursos ou a m gesto na administrao da Justia. Esse ponto de partida indicativo do nosso repdio quelas concepes sociais comunitaristas, predominantemente imperialistas e autoritrias, reguladoras de vontades e atitudes internas, como ocorreu, por exemplo, com o nacional-socialismo alemo. Esse tipo de proposta apoia-se na compreenso do delito como infrao do dever, desobedincia ou rebeldia da vontade individual contra a vontade coletiva personificada na vontade do Estado. Entendimento que consideramos inadmissvel, inclusive quando a ideia de infrao de dever apresenta-se renovada pelo arsenal terico da vertente mais radical do pensamento funcionalista. Essa postura revela o nosso posicionamento acerca da funo do Direito Penal num Estado Democrtico de Direito, qual seja, a proteo subsidiria de bens jurdicos fundamentais. Felizmente, esse entendimento vem sendo predominante na doutrina brasileira24. Essa viso do Direito Penal nos permitir deduzir, como veremos no prximo Captulo, os limites do poder punitivo estatal. Contudo, para uma exata compreenso do significado e alcance dos princpios limitadores do ius puniendi em um Estado Democrtico de Direito, necessrio explicar, ainda que de maneira sucinta, o conceito de bem jurdico para o Direito Penal. O bem jurdico no pode identificar-se simplesmente com a ratio legis, mas deve possuir um sentido social prprio, anterior norma penal e em si mesmo preciso, caso contrrio, no seria capaz de servir a sua funo sistemtica, de parmetro e limite do preceito penal, e de contrapartida das causas de justificao na hiptese de conflito de valoraes25. Vejamos as etapas iniciais da construo desse entendimento. O conceito de bem jurdico somente aparece na histria dogmtica em princpios do sculo XIX. Diante da concepo dos iluministas, que definiam o fato punvel como leso de direitos subjetivos, Feuerbach sentiu a necessidade de demonstrar que em todo preceito penal existe um direito subjetivo, do particular ou do Estado, como objeto de proteo26. Binding, por sua vez, apresentou a primeira depurao do conceito de bem jurdico, concebendo-o como estado valorado pelo legislador. Von Liszt, concluindo o trabalho iniciado por Binding, transportou o centro de gravidade do conceito de bem jurdico do Direito subjetivo para o interesse juridicamente protegido, com uma diferena: enquanto Binding ocupou-se, superficialmente, do bem jurdico, Von Liszt viu nele um conceito central da estrutura do delito. Como afirmou Mezger, existem numerosos delitos nos quais no possvel demonstrar a leso de um direito subjetivo e, no entanto, se lesiona ou se pe em perigo um bem jurdico27. Atualmente, o conceito de bem jurdico desempenha uma funo essencial de crtica do 33. Direito Penal: por um lado, funciona como fio condutor para a fundamentao e limitao da criao e formulao dos tipos penais; por outro lado, auxilia na aplicao dos tipos penais descritos na Parte Especial, orientand o a sua interpretao e o limite do mbito da punibilidade28. Ocorre que, diante do atual momento de expanso do Direito Penal, resulta, como mnimo, uma tarefa complexa deduzir o conceito e contedo de bem jurdico, como objeto de proteo do Direito Penal. Com efeito, atravessamos um perodo de transio entre a tradicional concepo pessoal de bem jurdico e posturas que prescindem do dogma do bem jurdico para a legitimao do exerccio do ius puniendi estatal. De acordo com a teoria pessoal de bem jurdico, herdeira dos ideais liberais do Iluminismo, desenvolvida notadamente por Hassemer, o bem jurdico deve ser concebido como um interesse humano concreto, necessitado de proteo pelo Direito Penal. Isto , como bens do homem, imprescindveis para a sua sobrevivncia em sociedade, como a vida, a sade, a liberdade ou a propriedade. Sob essa perspectiva, os bens jurdicos coletivos (por exemplo, a paz pblica ou a sade pblica) somente sero admitidos como objeto de proteo pelo Direito Penal, na medida em que possam ser funcionais ao indivduo29. Dessa forma, o Direito Penal abarcaria essencialmente delitos de resultado e delitos de perigo que representassem uma grave ameaa para a incolumidade de bens jurdicos individuais, operando como um limite claro e preciso do mbito de incidncia do poder punitivo do Estado30. Com o fortalecimento do funcionalismo, passa-se a questionar o entendimento restritivo sobre o conceito de bem jurdico; sustenta-se que o Direito Penal no estaria legitimado para atuar preventivamente frente a problemas que afetassem as condies de convivncia em sociedade, tais como os ataques e as ameaas ao meio ambiente, os atos terroristas, os abusos da atividade empresarial contra a fiabilidade e segurana das transaes financeiras, ou das relaes de consumo, entre outros. Com efeito, uma compreenso classificatria do conceito de bem jurdico, delimitadora a priori do que pode ou no ser conceituado como bem jurdico penal, vem fracassando na doutrina, porque se revela incapaz de abarcar a compreenso do fenmeno delitivo que se vem impondo ultimamente por meio das linhas do pensamento funcionalista. No significa, contudo, sentenciar de morte o conceito de bem jurdico, nem o abandono de sua funo crtica, pelo contrrio, ainda hoje possvel sustentar que o conceito de bem jurdico desempenha um papel produtivo importante j no nvel primrio de averiguao da estrutura do delito, e, num segundo plano (no segundo nvel), na determinao do marco de aes compreendidas no tipo como de menosprezo do bem jurdico31. Em outros termos, o conceito de bem jurdico continua sendo determinante no processo exegtico de determinao da matria proibida e da prpria estrutura do delito. Qual seria, ento, a formulao mais adequada do conceito de bem jurdico-penal, compatvel tanto com a sua funo crtica e limitadora do exerccio do ius puniendi estatal como com a perspectiva funcional, hoje predominante na concepo de sistema de Direito Penal? Uma proposta interessante a formulada por Schnemann, para quem o bem jurdico penal deve ser conceituado e compreendido como uma diretriz normativa que pode ser 34. deduzida com apoio no raciocnio desenvolvido pela moderna filosofia da linguagem32. Com efeito, para esse autor, se partirmos do conceito de contrato social e da ideia de que o Estado deve assegurar a possibilidade de livre desenvolvimento dos indivduos, possvel deduzir, por meio do mtodo analtico da filosofia da linguagem, as coordenadas do que o Estado pode proteger por meio do Direito Penal, e do que no est legitimado a proteger33. Em uma linha similar, mas sem recorrer expressamente ao mtodo analtico da filosofia da linguagem, Roxin defende que: em um Estado democrtico de Direito, que o modelo de Estado que tenho como base, as normas penais somente podem perseguir a finalidade de assegurar aos cidados uma coexistncia livre e pacfica garantindo ao mesmo tempo o respeito de todos os direitos humanos. Assim, e na medida em que isso no possa ser alcanado de forma mais grata, o Estado deve garantir penalmente no s as condies individuais necessrias para tal coexistncia (como a proteo da vida e da integridade fsica, da liberdade de atuao, da propriedade etc.), mas tambm das instituies estatais que sejam imprescindveis a tal fim (uma Administrao da justia que funcione, sistemas fiscais e monetrios intactos, uma Administrao sem corrupo etc.). Chamo bens jurdicos a todos os objetos que so legitimamente protegidos pelas normas sob essas condies34. Na nossa concepo essa a vertente mais adequada na conceituao de bem jurdico penal. E com essa base defendemos que a exegese do Direito Penal est estritamente vinculada deduo racional daqueles bens essenciais para a coexistncia livre e pacfica em sociedade. O que significa, em ltima instncia, que a noo de bem jurdico-penal fruto do consenso democrtico em um Estado de Direito. A proteo de bem jurdico, como fundamento de um Direito Penal liberal, oferece, portanto, um critrio material extremamente importante e seguro na construo dos tipos penais, porque, assim, ser possvel distinguir o delito das simples atitudes interiores, de um lado, e, de outro, dos fatos materiais no lesivos de bem algum35. O bem jurdico deve ser utilizado, nesse sentido, como princpio interpretativo do Direito Penal num Estado Democrtico de Direito e, em consequncia, como o ponto de partida da estrutura do delito. Por outro lado, a viso do Direito Penal num Estado Democrtico de Direito condiciona, em grande medida, as funes que atribumos pena, temtica que ser abordada com maior profundidade mais adiante, quando do estudo das teorias da pena. Entretanto, podemos adiantar aqui o sentido que pretendemos atribuir s funes da pena num Estado Democrtico de Direito. O Direito Penal, segundo sustentava Welzel, tem funo tico-social e funo preventiva. A funo tico-social exercida por meio da proteo dos valores fundamentais da vida social, que deve configurar-se com a proteo de bens jurdicos. Os bens jurdicos so bens vitais da sociedade e do indivduo, que merecem proteo legal exatamente em razo de sua significao social. O Direito Penal objetiva, assim, assegurar a validade dos valores tico-sociais positivos e, ao mesmo tempo, o reconhecimento e a proteo desses valores, que, em outros termos, caracterizam o contedo tico-social positivo das normas jurdico-penais36. A soma dos bens jurdicos constitui, afinal, a ordem social. O valor 35. tico-social de um bem jurdico, no entanto, no determinado de forma isolada ou abstratamente; ao contrrio, sua configurao ser avaliada em relao totalidade do ordenamento social. A funo tico-social inegavelmente a mais importante do Direito Penal, e, baseada nela, surge a sua segunda funo, que a preventiva. Na verdade, o Direito Penal protege, dentro de sua funo tico-social, o comportamento humano daquela maioria capaz de manter uma mnima vinculao tico-social, que participa da construo positiva da vida em sociedade por meio da famlia, escola e trabalho. O Direito Penal funciona, num primeiro plano, garantindo a segurana e a estabilidade do juzo tico-social da comunidade, e, em um segundo, reage, diante do caso concreto, contra a violao ao ordenamento jurdico-social com a imposio da pena correspondente. Orienta- se o Direito Penal, segundo a escala de valores da vida em sociedade, destacando aquelas aes que contrariam essa escala social, definindo-as como comportamentos desvaliosos, apresentando, assim, os limites da liberdade do indivduo na vida comunitria. A violao desses limites, quando adequada aos princpios da tipicidade e da culpabilidade, acarretar a responsabilidade penal do agente. Essa consequncia jurdico-penal da infrao ao ordenamento produz como resultado ulterior o efeito preventivo do Direito Penal, que caracteriza a sua segunda funo. Enfim, para Welzel, o Direito Penal tem como objetivo a proteo dos valores tico-sociais da ordem social. Na verdade, a funo principal do Direito Penal, sustentava o catedrtico de Munich, a funo tico-social, e a funo preventiva surge como consequncia lgica daquela. Essa orientao de Welzel foi duramente combatida por grande parte da doutrina por priorizar a finalidade eticizante do Direito Penal, ignorando a funo protetora de bens jurdicos fundamentais, a despeito de ser acompanhado por grandes doutrinadores, como Stratenwerth37, Jescheck38, Cerezo Mir39, entre outros. Defendendo-se dessa acusao, Welzel afirmava que a orientao que sustentava abrangia a proteo de bens jurdicos, que apenas se concretizava pela proteo de valores tico- sociais40. Mais recentemente, Hassemer reconheceu que a viso de Welzel era mais abrangente na medida em que visava proteo de bens jurdicos atravs da proteo de valores de carter tico-social41. A pena deve manter-se dentro dos limites do Direito Penal do fato e da proporcionalidade, e somente pode ser imposta mediante um procedimento cercado de todas as garantias jurdico-constitucionais. Hassemer42 afirma que atravs da pena estatal no s se realiza a luta contra o delito, como tambm se garante a juridicidade, a formalizao do modo social de sancionar o delito. No faz parte do carter da pena a funo de resposta ao desvio (o Direito Penal no somente uma parte do controle social). A juridicidade dessa resposta (o Direito Penal caracteriza-se por sua formalizao) tambm pertence ao carter da pena. A formalizao do Direito Penal tem lugar por meio da vinculao com as normas e objetiva limitar a interveno jurdico-penal do Estado em ateno aos direitos individuais do cidado. O Estado no pode a no ser que se trate de um Estado totalitrio invadir a esfera dos direitos individuais do cidado, ainda e quando haja praticado algum delito. Ao 36. contrrio, os limites em que o Estado deve atuar punitivamente devem ser uma realidade concreta. Esses limites referidos materializam-se atravs dos princpios da interveno mnima, da proporcionalidade, da ressocializao, da culpabilidade etc. Assim, o conceito de preveno geral positiva ser legtimo desde que compreenda que deve integrar todos estes limites harmonizando suas eventuais contradies recprocas: se se compreender que uma razovel afirmao do Direito Penal em um Estado social e democrtico de Direito exige respeito s referidas limitaes43. A onipotncia jurdico- penal do Estado deve contar, necessariamente, com freios ou limites que resguardem os inviolveis direitos fundamentais do cidado. Este seria o sinal que caracterizaria o Direito Penal de um Estado pluralista e democrtico. A pena, sob este sistema estatal, teria reconhecida, como finalidade, a preveno geral e especial, devendo respeitar aqueles limites, alm dos quais h a negao de um Estado de Direito social e democrtico. Esses princpios, que por opo poltico-criminal denominamos limitadores do poder repressivo estatal, sero, em seu conjunto, examinados no prximo Captulo. 1. E. Durkheim, Las reglas del mtodo sociolgico, Espanha, Morata, 1978, p. 83. 2. Dorado Montero, Direito protetor dos criminosos; De Lucca, Princpios de Criminologia; Puglia, Direito repressivo etc. 3. Santiago Mir Puig, Derecho Penal; Parte General, 8 ed., Barcelona, Reppertor, 2010, p. 42-43. 4. Zaffaroni, Manual de Derecho Penal, 6 ed., Buenos Aires, Ediar, 1991, p. 41. 5. Welzel, Derecho Penal alemn, 3 ed. castellana da 12 ed. alemn, Santiago, Ed. Jurdica de Chile, 1987, p. 11. 6. Mezger, Tratado de Derecho Penal, 2 ed., Madrid, Revista de Derecho Privado, 1946, v. 1, p. 27-8. 7. Maggiore, Diritto Penale, 5 ed., Bologna, Zanichelli, 1949, v. 1, t. 1, p. 4. 8. Cuello Caln, Derecho Penal, Barcelona, Bosch, 1960, t. 1, p. 8. 9. Magalhes Noronha, Direito Penal, 15 ed., So Paulo, Saraiva, 1978, v. 1, p. 12. 10. Frederico Marques, Curso de Direito Penal, So Paulo, Saraiva, 1954, v. 1, p. 11. 11. Muoz Conde, Derecho Penal y control social, Sevilla, Fundacin Universitaria de Jerez, 1995, p. 31 e s. 12. Magalhes Noronha, Direito Penal, cit., v. 1, p. 5. 13. Welzel, Derecho Penal alemn, cit., p. 11. 14. Zaffaroni, Manual, cit., p. 57. 15. Nesse sentido tambm o entendimento de Paulo Jos da Costa Jr., Curso de Direito Penal, So Paulo, Saraiva, 1991, v. 1, p. 3. 16. Giuseppe Bettiol, Direito Penal, trad. Paulo Jos da Costa Jr. e Alberto Silva Franco, 2 ed., So Paulo, Revista dos Tribunais, v. 1, p. 114. 17. M. Cobo del Rosal e R. S. Vives Antn, Derecho Penal; Parte General, 3 ed., Valencia, Tirant lo Blanch, 1991, p. 33. 18. Derecho Penal, Fundamentos. La estructura de la teora del delito, trad. Diego-Manuel Luzn Pena, Miguel Daz y Garca Conlledo y Javier de Vicente Remensal, Madrid, Civitas, 1997, t. I , p. 41. 19. Anbal Bruno, Direito Penal, 3 ed., Rio de Janeiro, Forense, 1967, v. 1, p. 19. 20. Roberto Lyra, Introduo ao estudo do Direito Criminal, 1946, p. 52. 21. Nesse sentido era o entendimento de Magalhes Noronha, Direito Penal, cit., v. 1, p. 9, e de Frederico Marques, Curso de Direito Penal, cit., p. 20. 37. 22. Frederico Marques, Curso de Direito Penal, cit., p. 21, e Damsio E. de Jesus, Direito Penal, 12 ed., So Paulo, Saraiva, 1988, v. 1, p. 8. 23. Luiz Jimnez de Asa, Tratado de Derecho Penal, v. 1, p. 49. 24. Francisco de Assis Toledo, Princpios bsicos de Direito Penal, 5 ed., So Paulo, Saraiva, 1995, p. 3 e 6; Frederico Marques, Tratado de Direito Penal, Campinas, Millennium, 1999, v. III, p. 143; Basileu Garcia, Instituies de Direito Penal, 4 ed., So Paulo, Max Limonad, 1976, v. I, t. II, p. 406; Damsio E. de Jesus, Direito Penal; Parte Geral, 19 ed., So Paulo, Saraiva, 1995, v. 1, p. 456-457. 25. Jescheck, Tratado, p. 351-353. 26. Jescheck, Tratado, cit., p. 350. 27. Mezger, Tratado de Derecho Penal, v. I, p. 399. 28. Esse o entendimento majoritrio da doutrina especializada. Veja a respeito Roland Hefendehl (ed.), La teora del bien jurdico, Fundamento de legitimacin del Derecho Penal o juego de abalorios dogmtico?, Madrid-Barcelona, Marcial Pons, 2007. 29. Winfried Hassemer, Puede haber delitos que no afecten a un bien jurdico penal?, trad. de Beatriz Spnola Trtaro, In: Roland Hefendehl (ed.), La teora del bien jurdico, cit., p. 96, reiterou uma srie de postulados j conhecidos desde a formulao de sua teoria pessoal do bem jurdico: a) o bem jurdico irrenuncivel como instrumento de poltica criminal, b) deveria estar centrado como ncleo negativo tradicional de crtica ao Direito Penal, c) os bens jurdicos coletivos ou universais so bens jurdicos em sentido penal, d) os bens universais devem ser funcionais pessoa, e) uma poltica criminal moderna e divagadora, com a utilizao de bens jurdicos vagos e generalizadores, produz danos ao conceito tradicional de bem jurdico. 30. Gerhard Seher, La legitimacin de normas penales basada en principios y el concepto de bien jurdico, In: Roland Hefendehl (ed.), La teora del bien jurdico, cit., p. 73-74. 31. Bernd Schnemann, El principio de proteccin de bienes jurdicos como punto de fuga de los lmites constitucionales de los tipos penales y de su interpretacin, In: Roland Hefendehl (ed.), La teora del bien jurdico, cit., p. 199. 32. El principio de proteccin de bienes jurdicos como punto de fuga de los lmites constitucionales de los tipos penales y de su interpretacin, In: Roland Hefendehl (ed.), La teora del bien jurdico, cit., p. 202-203. 33. Confira a argumentao de Schnemann in Roland Hefendehl (ed.), La teora del bien jurdico, cit., p. 200-226. 34. Claus Roxin, Es la proteccin de bienes jurdicos una finalidad del Derecho Penal?, In: Roland Hefendehl (ed.), La teora del bien jurdico, cit., p. 447. 35. Cobo del Rosal e Vives Antn, Derecho Penal, cit., p. 247. 36. Hans Welzel, Derecho Penal, p. 11-12. 37. Stratenwerth, Derecho Penal, p. 2. 38. Jescheck, Tratado de Derecho Penal, p. 7. 39. Cerezo Mir, Curso de Derecho Penal, p. 19. 40. Winfried Hassemer & Francisco Muoz Conde, Introduccin a la criminologa, Valencia, Tirant lo Blanch, 1989, p. 100. 41. Hassemer & Muoz Conde, Introduccin a la criminologa, p. 101-102. 42. Hassemer, Los fines de la pena, p. 136. 43. Santiago Mir Puig, Los fines de la pena, cit., p. 58. 38. CAPTULO II - PRINCPIOS LIMITADORES DO PODER PUNITIVO ESTATAL Sumrio: 1. Consideraes introdutrias. 2. Princpio da legalidade e princpio da reserva legal. 2.1. Princpio da legalidade e as leis vagas, indeterminadas ou imprecisas. 3. Princpio da interveno mnima. 3.1. Princpio da fragmentariedade. 4. Princpio da irretroatividade da lei penal. 5. Princpio da adequao social. 6. Princpio da insignificncia. 7. Princpio da ofensividade. 8. Princpio de culpabilidade. 9. Princpio da proporcionalidade. 10. Princpio de humanidade. 1. Consideraes introdutrias As ideias de igualdade e de liberdade, apangios do Iluminismo, deram ao Direito Penal um carter formal menos cruel do que aquele que predominou durante o Estado Absolutista, impondo limites interveno estatal nas liberdades individuais. Muitos desses princpios limitadores passaram a integrar os Cdigos Penais dos pases democrticos e, afinal, receberam assento constitucional, como garantia mxima de respeito aos direitos fundamentais do cidado. Hoje poderamos chamar de princpios reguladores do controle penal, princpios constitucionais fundamentais de garantia do cidado, ou simplesmente de Princpios Fundamentais de Direito Penal de um Estado Social e Democrtico de Direito. Todos esses princpios so garantias do cidado perante o poder punitivo estatal e esto amparados pelo novo texto constitucional de 1988. Eles esto localizados j no prembulo da nossa Carta Magna, onde encontramos a proclamao de princpios como a liberdade, igualdade e justia, que inspiram todo o nosso sistema normativo, como fonte interpretativa e de integrao das normas constitucionais, orientador das diretrizes polticas, filosficas e, inclusive, ideolgicas da Constituio1, que, como consequncia, tambm so orientativas para a interpretao das normas infraconstitucionais em matria penal. Ademais, no art. 1, III, da Constituio, encontramos a declarao da dignidade da pessoa humana como fundamento sobre o qual se erige o Estado Democrtico de Direito, o que representa o inequvoco reconhecimento de todo indivduo pelo nosso ordenamento jurdico, como sujeito autnomo, capaz de autodeterminao e passvel de ser responsabilizado pelos seus prprios atos. Trazendo consigo a consagrao de que toda pessoa tem a legtima pretenso de ser respeitada pelos demais membros da sociedade e pelo prprio Estado, que no poder interferir no mbito da vida privada de seus sditos, exceto quando esteja expressamente autorizado a faz-lo. De maneira similar, na declarao dos objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil, encontramos no art. 3, I, da Constituio, uma clara inteno que tambm orienta a atividade jurisdicional em matria penal, qual seja, o propsito de construir uma sociedade livre e justa. Nesse sentido, tambm podemos afirmar que entre os princpios norteadores das relaes internacionais estabelecidos no art. 4 da Constituio, a prevalncia dos direitos humanos representa um inquestionvel limite para o exerccio do poder punitivo estatal, inclusive contra aqueles 39. delitos que possuem um carter transfronteirio e, especialmente, para o cumprimento das medidas de cooperao internacional em matria penal. Mas no art. 5 da nossa Carta Magna onde encontramos princpios constitucionais especficos em matria penal, cuja funo consiste em orientar o legislador ordinrio para a adoo de um sistema de controle penal voltado para os direitos humanos, embasado em um Direito Penal da culpabilidade, um Direito Penal mnimo e garantista, como veremos nas seguintes epgrafes. 2. Princpio da legalidade e princpio da reserva legal A gravidade dos meios que o Estado emprega na represso do delito, a drstica interveno nos direitos mais elementares e, por isso mesmo, fundamentais da pessoa, o carter de ultima ratio que esta interveno deve ter, impem necessariamente a busca de um princpio que controle o poder punitivo estatal e que confine sua aplicao em limites que excluam toda arbitrariedade e excesso do poder punitivo2. O princpio da legalidade constitui uma efetiva limitao ao poder punitivo estatal. Embora seja hoje um princpio fundamental do Direito Penal, seu reconhecimento percorreu um longo processo, com avanos e recuos, no passando, muitas vezes, de simples fachada formal de determinados Estados3. Feuerbach, no incio do sculo XIX, consagrou o princpio da legalidade atravs da frmula latina nullum crimen, nulla poena sine lege. O princpio da legalidade um imperativo que no admite desvios nem excees e representa uma conquista da conscincia jurdica que obedece a exigncias de justia, que somente os regimes totalitrios o tm negado4. Em termos bem esquemticos, pode-se dizer que, pelo princpio da legalidade, a elaborao de normas incriminadoras funo exclusiva da lei, isto , nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorrncia desse fato exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sano correspondente. A lei deve definir com preciso e de forma cristalina a conduta proibida. Assim, seguindo a orientao moderna, a Constituio brasileira de 1988, ao proteger os direitos e garantias fundamentais, em seu art. 5, inc. XXXIX, determina que no haver crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prvia cominao legal. Quanto ao princpio de reserva legal, este significa que a regulao de determinadas matrias deve ser feita, necessariamente, por meio de lei formal, de acordo com as previses constitucionais a respeito. Nesse sentido, o art. 22, I, da Constituio brasileira estabelece que compete privativamente Unio legislar sobre Direito Penal. A adoo expressa desses princpios significa que o nosso ordenamento jurdico cumpre com a exigncia de segurana jurdica postulada pelos iluministas. Alm disso, para aquelas sociedades que, a exemplo da brasileira, esto organizadas por meio de um sistema poltico democrtico, o princpio de legalidade e de reserva legal representam a garantia poltica de que nenhuma pessoa poder ser submetida ao poder punitivo estatal, se no com base em leis formais que sejam fruto do consenso democrtico. 40. 2.1. Princpio da legalidade e as leis vagas, indeterminadas ou imprecisas Para que o princpio de legalidade seja, na prtica, efetivo, cumprindo com a finalidade de estabelecer quais so as condutas punveis e as sanes a elas cominadas, necessrio que o legislador penal evite ao mximo o uso de expresses vagas, equvocas ou ambguas. Nesse sentido profetiza Claus Roxin, afirmando que: uma lei indeterminada ou imprecisa e, por isso mesmo, pouco clara no pode proteger o cidado da arbitrariedade, porque no implica uma autolimitao do ius puniendi estatal, ao qual se possa recorrer. Ademais, contraria o princpio da diviso dos poderes, porque permite ao juiz realizar a interpretao que quiser, invadindo, dessa forma, a esfera do legislativo5. Dessa forma, objetiva-se que o princpio de legalidade, como garantia material, oferea a necessria segurana jurdica para o sistema penal. O que deriva na correspondente exigncia, dirigida ao legislador, de determinao das condutas punveis, que tambm conhecida como princpio da taxatividade ou mandato de determinao dos tipos penais. No se desconhece, contudo, que, por sua prpria natureza, a cincia jurdica admite certo grau de indeterminao, visto que, como regra, todos os termos utilizados pelo legislador admitem vrias interpretaes. De fato, o legislador no pode abandonar por completo os conceitos valorativos, expostos como clusulas gerais, os quais permitem, de certa forma, uma melhor adequao da norma de proibio com o comportamento efetivado. O tema, entretanto, pode chegar a alcanar propores alarmantes quando o legislador utiliza excessivamente conceitos que necessitam de complementao valorativa, isto , no descrevem efetivamente a conduta proibida, requerendo, do magistrado, um juzo valorativo para complementar a descrio tpica, com graves violaes segurana jurdica. Na verdade, uma tcnica legislativa correta e adequada ao princpio de legalidade dever evitar ambos os extremos, quais sejam, tanto a proibio total da utilizao de conceitos normativos gerais como o exagerado uso dessas clusulas gerais valorativas, que no descrevem com preciso as condutas proibidas. Sugere-se que se busque um meio-termo que permita a proteo dos bens jurdicos relevantes contra aquelas condutas tidas como gravemente censurveis, de um lado, e o uso equilibrado das ditas clusulas gerais valorativas, de outro lado, possibilitando, assim, a abertura do Direito Penal compreenso e regulao da realidade dinmica da vida em sociedade, sem fissuras com a exigncia de segurana jurdica do sistema penal, como garantia de que a total indeterminao ser inconstitucional. Outra questo que sempre suscitou um amplo debate na doutrina se refere s dvidas quanto constitucionalidade das leis penais em branco. Tema que, mesmo estando relacionado com os princpios de legalidade e de reserva legal, ser analisado, por questes didticas, quando do estudo das normas penais. Vrios critrios, arrolados por Claus Roxin6, vm sendo propostos para encontrar esse equilbrio, como, por exemplo: 1) Conforme o Tribunal Constitucional Federal alemo, a exigncia de determinao legal aumentaria junto com a quantidade de pena prevista para o tipo penal (como se a legalidade fosse necessria somente para os delitos mais graves) e a consagrao pela jurisprudncia 41. de uma lei indeterminada atenderia ao mandamento constitucional (ferindo o princpio constitucional da diviso dos poderes e a garantia individual). 2) Haveria inconstitucionalidade quando o legislador, dispondo da possibilidade de uma redao legal mais precisa, no a adota. Embora seja um critrio razovel, ignora que nem toda previso legal menos feliz pode ser tachada de inconstitucional. 3) O princpio da ponderao, segundo o qual os conceitos necessitados de complementao valorativa sero admissveis se os interesses de uma justa soluo do caso concreto forem preponderantes em relao ao interesse da segurana jurdica. Este critrio objetvel porque relativiza o princpio da legalidade. Os pontos de vista da justia e da necessidade de pena devem ser considerados dentro dos limites da reserva legal, ou estar-se-ia renunciando o princpio da determinao em favor das concepes judiciais sobre a Justia. Enfim, todos esses critrios sugeridos so insuficientes para disciplinar os limites da permisso do uso de conceitos necessitados de complementao mediante juzos valorativos, sem violar o princpio constitucional da legalidade. Por esse motivo, estamos de acordo com Claus Roxin7 quando sugere que a soluo correta dever ser encontrada mediante os princpios da interpretao em Direito Penal. Segundo esses princpios, um preceito penal ser suficientemente preciso e determinado se e na medida em que do mesmo se possa deduzir um claro fim de proteo do legislador e que, com segurana, o teor literal siga marcando os limites de uma extenso arbitrria da interpretao. No entanto, a despeito de tudo, os textos legais em matria penal continuam abusando do uso excessivo de expresses valorativas, dificultando, quando no violando, os princpios de legalidade e da reserva legal. Mais recentemente, a Lei n. 10.792/2003, que altera dispositivos da Lei n. 7.210/84, de Execuo Penal, ao criar o regime disciplinar diferenciado de cumprimento de pena, viola flagrantemente o princpio da legalidade penal, criando, disfaradamente, uma sano penal cruel e desumana sem tipo penal definido correspondente. O princpio de legalidade exige que a norma contenha a descrio hipottica do comportamento proibido e a determinao da correspondente sano penal, com alguma preciso, como forma de impedir a imposio a algum de uma punio arbitrria sem uma correspondente infrao penal. intolervel que o legislador ordinrio possa regular de forma to vaga e imprecisa o teor das faltas disciplinares que afetam o regime de cumprimento de pena, submetendo o condenado ao regime disciplinar diferenciado. O abuso no uso de expresses como alto risco para a ordem e a segurana do estabelecimento penal ou recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participao (art. 52, 1 e 2), sem declinar que tipo de conduta poderia criar o referido alto risco ou caracterizar suspeitas fundadas, representa, portanto, uma flagrante afronta ao princpio de legalidade, especialmente no que diz respeito legalidade das penas, como demonstramos ao analisarmos as penas privativas de liberdade. 3. Princpio da interveno mnima 42. O princpio da legalidade impe limites ao arbtrio judicial, mas no impede que o Estado observada a reserva legal crie tipos penais inquos e comine sanes cruis e degradantes. Por isso, impe-se a necessidade de limitar ou, se possvel, eliminar o arbtrio do legislador no que diz respeito ao contedo das normas penais incriminadoras. O princpio da interveno mnima, tambm conhecido como ultima ratio, orienta e limita o poder incriminador do Estado, preconizando que a criminalizao de uma conduta s se legitima se constituir meio necessrio para a preveno de ataques contra bens jurdicos importantes. Ademais, se outras formas de sano ou outros meios de controle social revelarem-se suficientes para a tutela desse bem, a sua criminalizao inadequada e no recomendvel. Assim, se para o restabelecimento da ordem jurdica violada forem suficientes medidas civis ou administrativas, so estas as que devem ser empregadas, e no as penais. Por isso, o Direito Penal deve ser a ultima ratio do sistema normativo, isto , deve atuar somente quando os demais ramos do Direito revelarem-se incapazes de dar a tutela devida a bens relevantes na vida do indivduo e da prpria sociedade. Como preconizava Maurach, na seleo dos recursos prprios do Estado, o Direito Penal deve representar a ultima ratio legis, encontrar-se em ltimo lugar e entrar somente quando resulta indispensvel para a manuteno da ordem jurdica8. Assim, o Direito Penal assume uma feio subsidiria, e a sua interveno se justifica quando no dizer de Muoz Conde fracassam as demais formas protetoras do bem jurdico previstas em outros ramos do direito9. A razo desse princpio afirma Roxin radica em que o castigo penal coloca em perigo a existncia social do afetado, se o situa margem da sociedade e, com isso, produz tambm um dano social10. Antes, portanto, de se recorrer ao Direito Penal deve-se esgotar todos os meios extrapenais de controle social, e somente quando tais meios se mostrarem inadequados tutela de determinado bem jurdico, em virtude da gravidade da agresso e da importncia daquele para a convivncia social, justificar-se- a utilizao daquele meio repressivo de controle social. Apesar de o princpio da interveno mnima ter sido consagrado pelo Iluminismo, a partir da Revoluo Francesa, a verdade que, a partir da segunda dcada do sculo XIX, as normas penais incriminadoras cresceram desmedidamente, a ponto de alarmar os penalistas dos mais diferentes parmetros culturais11. Os legisladores contemporneos, nas mais diversas partes do mundo, tm abusado da criminalizao e da penalizao, em franca contradio com o princpio em exame, levando ao descrdito no apenas o Direito Penal, mas a sano criminal, que acaba perdendo sua fora intimidativa diante da inflao legislativa reinante nos ordenamentos positivos. Hassemer, falando sobre um Direito Penal Funcional, particularmente sobre a moderna criminalidade, reflete: nestas reas, espera-se a interveno imediata do Direito Penal, no apenas depois que se tenha verificado a inadequao de outros meios de controle no penais. O venervel princpio da subsidiariedade ou da ultima ratio do Direito Penal simplesmente cancelado para dar lugar a um Direito Penal visto como sola ratio ou prima ratio na soluo social de conflitos: a resposta surge para as pessoas responsveis por estas 43. reas cada vez mais frequentemente como a primeira, seno a nica sada para controlar os problemas12. Quando nos referimos proteo subsidiria de bens jurdicos como limite do ius puniendi estatal, avanamos, portanto, ainda mais na restrio do mbito de incidncia do Direito Penal. Pois o carter subsidirio da proteo indica que a interveno coercitiva somente ter lugar para prevenir as agresses mais graves aos bens jurdicos protegidos, naqueles casos em que os meios de proteo oferecidos pelos demais ramos do ordenamento jurdico se revelem insuficientes ou inadequados para esse fim. Com esse esclarecimento acerca do papel central que ocupa a proteo subsidiria de bens jurdicos na exegese de todo o sistema de Direito Penal, estamos, portanto, em condies de explicar os demais princpios limitadores do poder punitivo estatal. 3.1. Princpio da fragmentariedade A fragmentariedade do Direito Penal corolrio do princpio da interveno mnima e da reserva legal, como destaca Eduardo Medeiros Cavalcanti13: o significado do princpio constitucional da interveno mnima ressalta o carter fragmentrio do Direito Penal. Ora, este ramo da cincia jurdica protege to somente valores imprescindveis para a sociedade. No se pode utilizar o Direito Penal como instrumento de tutela de todos os bens jurdicos. E neste mbito, surge a necessidade de se encontrar limites ao legislador penal. Nem todas as aes que lesionam bens jurdicos so proibidas pelo Direito Penal, como nem todos os bens jurdicos so por ele protegidos. O Direito Penal limita-se a castigar as aes mais graves praticadas contra os bens jurdicos mais importantes, decorrendo da o seu carter fragmentrio, uma vez que se ocupa somente de uma parte dos bens jurdicos protegidos pela ordem jurdica. Isso, segundo Rgis Prado, o que se denomina carter fragmentrio do Direito Penal. Faz-se uma tutela seletiva do bem jurdico, limitada quela tipologia agressiva que se revela dotada de indiscutvel relevncia quanto gravi