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Restaurações de rádios antigos. Os rádios antigos, quando são encontrados, geralmente estão em péssimas condições de conservação por conta do abandono e os maus tratos a que foram submetidos durante os anos de esquecimento. A grande maioria destes rádios foi guardada em galpões, porões e outros lugares infestados por insetos e roedores. Muitas vezes, estas pragas costumam deixar suas marcas com danos irreparáveis à integridade do equipamento. Ataque de cupins, por exemplo, costuma deteriorar partes da madeira, provocando prejuízo histórico e financeiro ao proprietário da antiguidade. Urina de ratos e ovos de baratas também deixam suas marcas nos chassis dos receptores e sua recuperação, exige muito trabalho e cuidados especiais por parte do restaurador. O resultado final de uma restauração é bastante pessoal e depende fundamentalmente do tempo que o restaurador dedica à peça a ser restaurada. É necessário certas habilidades no manuseio de ferramentas e produtos químicos como solventes, tintas e lacas, fundamentais neste tipo de atividade. O primeiro passo de uma restauração, deve prever uma limpeza adequada do aparelho realizada de preferência em lugar bem arejado e fora do domicílio do restaurador. Estes cuidados evitam sujeira desnecessária e, principalmente, reclamações de familiares (esposa, companheira....) que geralmente não são muito simpáticos a este tipo de atividade. Plagiando o Indalécio da Officina do Rádio, é sempre bom estar de bem com a “Dona Catraca”. Pincéis de pelo macio e mesmo pequenos compressores podem auxiliar nesta limpeza. Cuidados especiais com os

Dicas impostantes de restaurações de rádios antigos

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Restaurações de rádios antigos.

Os rádios antigos, quando são encontrados, geralmente estão em péssimas condições de conservação por conta do abandono e os maus tratos a que foram submetidos durante os anos de esquecimento. A grande maioria destes rádios foi guardada em galpões, porões e outros lugares infestados por insetos e roedores. Muitas vezes, estas pragas costumam deixar suas marcas com danos irreparáveis à integridade do equipamento. Ataque de cupins, por exemplo, costuma deteriorar partes da madeira, provocando prejuízo histórico e financeiro ao proprietário da antiguidade. Urina de ratos e ovos de baratas também deixam suas marcas nos chassis dos receptores e sua recuperação, exige muito trabalho e cuidados especiais por parte do restaurador.

O resultado final de uma restauração é bastante pessoal e depende fundamentalmente do tempo que o restaurador dedica à peça a ser restaurada. É necessário certas habilidades no manuseio de ferramentas e produtos químicos como solventes, tintas e lacas, fundamentais neste tipo de atividade.

O primeiro passo de uma restauração, deve prever uma limpeza adequada do aparelho realizada de preferência em lugar bem arejado e fora do domicílio do restaurador. Estes cuidados evitam sujeira desnecessária e, principalmente, reclamações de familiares (esposa, companheira....) que geralmente não são muito simpáticos a este tipo de atividade. Plagiando o Indalécio da Officina do Rádio, é sempre bom estar de bem com a “Dona Catraca”. Pincéis de pelo macio e mesmo pequenos compressores podem auxiliar nesta limpeza. Cuidados especiais com os fios de bobinas devem ser levados em conta, pois podem se romper durante a limpeza “mais pesada”.

Não existe uma seqüência lógica a ser utilizada durante a restauração É importante conter a curiosidade não ligando na rede elétrica, um aparelho antigo que está sem funcionar a muitos anos. A pressa e a ansiedade em verificar se o aparelho “ainda funciona” pode acarretar sérios prejuízos. Considero ideal, num primeiro momento, realizar uma busca por informações sobre o modelo do rádio, preferencialmente a sua Documentações de Serviço. Estas informações, geralmente disponível na internet ou, até mesmo com outros colegas colecionadores de rádios, são importantes para que se possa preservar a originalidade do rádio.

Na minha prática procuro inicialmente avaliar as condições de restauração de um rádio, observando o estado do seu circuito eletrônico. Rádios que passaram por técnicos com pouca capacitação normalmente estão com ligações e modificações grotescas em seu circuito. Nestes casos é muito importante a utilização do esquema original do rádio para restaurar estas modificações, mantendo-se a sua originalidade. Procure identificar num primeiro momento, possíveis defeitos que possam ser reparados sem ligar o

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aparelho na rede elétrica. Verificar as condições de segurança do cabo de tensão, testar as válvulas, verificar o estado dos capacitores eletrolíticos, a continuidade dos transformadores de força e de saída, do alto falante etc.

Feito isso, é muito provável que o início da restauração seja a recuperação dos capacitores eletrolíticos que, geralmente estão deteriorados por falta de uso prolongado. Se ao avaliar as condições do rádio, existir a suspeita que os capacitores e demais estágios do circuito, possam estar em condições de funcionamento, a recomendação é posicionar a chave seletora de voltagem para a maior tensão possível, 220 volts, por exemplo, ligando o rádio a uma fonte ou rede de 110V. Deixe o rádio ligado, mesmo que não vá funcionar adequadamente, durante um período de tempo. Este procedimento ajuda a reativar a química dos capacitores eletrolíticos evitando que ele possa ser danificado em condições normais de funcionamento. Se ao restabelecer a voltagem correta de alimentação, o aparelho apresentar os sintomas de falta de retificação, a solução será a substituição do(s) capacitor(res).

A restauração de capacitores eletrolíticos antigos consiste basicamente no aproveitamento da estrutura externa do capacitor e a introdução de um capacitor novo em seu interior de modo a preservar a originalidade do aparelho. As fotos mostram a restauração do capacitor de um rádio Detrola modelo 568. Capacitores que possuem capa de papelão podem ser pintados com tinta guache lavável encontrada em livrarias.

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O mesmo tipo de capacitor, já restaurado, pode ser visto em um chassi de um rádio Zenith do início da década de 40.

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Em muitos casos é necessária a restauração do alto falante do rádio. Existem muitas Empresas que atuam neste ramo, restaurando o cone e sua bobina de baixa impedância. Alguns modelos de rádios mais antigos possuem alto falante sem ímã permanente com uma bobina de campo conhecida como “field coil”. A restauração dessa bobina é mais trabalhosa e vai depender das suas características. Bobinas em torno de 350 ohms são bobinadas com fio 33 AWG e bobinas com mais de 1000 ohms são restauradas com fio de bitola em torno de 38 AWG. Como o número de espiras do fio não é relevante, neste tipo de restauração, pode-se adaptar o carretel da bobina a uma furadeira de mão e realizar a bobinagem com bastante rapidez. A rotação ideal, sem rebentar o fio, deve ser obtida com redutores de voltagem ou reguladores eletrônicos. Isto garante uma rotação menor para a furadeira e maior tranqüilidade para o restaurador. A seguir são mostradas fotos da restauração de um alto falante de 6 polegadas.

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Quando o alto falante for de ímã permanente, pode ser interessante realizar a restauração da sua pintura. O tipo de tinta a ser utilizada depende da cor original do alto falante. Utilizando como exemplo o alto falante de 6 polegadas mostrado anteriormente, sua cor original é o marrom. A tinta utilizada é do tipo automotivo encontrada em casas do ramo na corMarrom Jatobá ou Marrom Rio. Outras cores também são utilizadas neste tipo restauração. As fotos a seguir mostram a restauração da pintura de um alto falante de um rádio PYE. A tinta utilizada, também automotiva metalizada, é o Bege Athenas que se assemelha muito à cor original utilizada no alto falante.

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Não devemos nos esquecer as cores clássicas utilizadas na pintura de alto falantes e chassis dos rádios americanos e europeus. Rádios da marca Zenith são pintados na cor dourada. A tinta ideal neste caso é o Ouro metalizado da marca Salcomix no código CM 81 com 20% diluente. A seguir é mostrado fotos da restauração de um rádio desta marca, utilizando esse tipo de tinta.

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A grande maioria dos alto falantes e chassis de rádios americanos e europeus utilizam a cor Prata metalizada. A Salcomix fabrica esta cor com o código CM 94 à 20% diluente. Antes de realizar a pintura, é interessante realizar a remoção de ferrugens com uma Solução Ácida para Limpeza à base de ácido clorídrico. Estes produtos são encontrados em mercados e lojas de ferragens. Convém aplicar a primeira de mão, da tinta prata, bem diluída (50%) para depois finalizar com uma segunda demão à 20%. Utilize pincéis macios e pequenos para chegar em locais com pouco espaço. As fotos seguintes mostram a utilização desta tinta na restauração de um rádio nacional da marca Telespark.

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Existem outras cores utilizadas em pinturas de chassis. Rádios da marca inglesa PYE, por exemplo, possuem o chassi pintado na azul. Uma opção interessante na restauração dos chassis destes rádios é o Azul Genebra. As fotos a seguir mostram a utilização desta tinta na restauração de um PYE modelo PE 39B.

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Em muitos casos, a restauração do chassi fica completa com a aplicação do produto de limpeza à base de ácido clorídrico e o polimento com massa de polir no 2 da linha automotiva. Este caso é mostrado na restauração do chassi de um rádio Paillard.

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Geralmente, quando encontramos um rádio antigo, o tecido frontal está deteriorado pela ação do tempo. O restaurador deve avaliar o tipo de tecido a ser utilizado, dando preferência a cores em tom dourado. Quando o rádio é um modelo raro com boa cotação, podemos investir em alternativas mais sofisticadas, como por exemplo, o crochê artesanal mostrado na restauração do radio Paillard.

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Alternativas mais econômicas podem ser utilizadas com tecidos encontrados em lojas do ramo. Uma excelente alternativa é a utilização do tecido tipo Desalux (66% algodão e 34% poliéster) da marca Dian que é encontrado com largura de 3m mostrado na foto de um rádio restaurado da marca PYE.

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Na restauração do móvel do rádio, como o da foto anterior, é utilizada uma técnica essencialmente manual. Depois de raspar a laca antiga e preparar adequadamente a caixa de madeira, aplicam-se várias de mão de selador acabamentodiluído em thinner com “boneca de pano” sempre no sentido das fibras da madeira, esperando um pouco para a secagem entre as aplicações. O acabamento obtido com este tipo de selador pode ser melhorado com a aplicação de laca nitro em alto brilho. Esta laca tem composição de 50% de Solução Laca e 50% de Resina Laca, aplicada à 20% de diluição em thinner. O resultado pode ser visto nas fotos de um rádio Zenith restaura segundo estes procedimentos, descritos anteriormente.

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O trabalho de restauração dos transformadores dos rádios valvulados pode ser realizado com o auxílio de bobinadeiras elétricas ou manuais ou ainda com a improvisação de uma “manivela” confeccionada artesanalmente. A figura 22 mostra esta improvisação na bobinagem de um transformador de saída com núcleo 1,1 x 1,1 cm.

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O primário deste transformador consiste em 3000 espiras de fio magnético 40 AWG distribuídas em 20 camadas. É importante utilizar papel isolante (vegetal) entre cada camada passando uma fina película de verniz isolante. Este procedimento melhora as condições de isolação durante o funcionamento do transformador em regime de tensões elevadas. O secundário consiste em 60 espiras de fio 23 AWG enroladas no mesmo sentido do primário distribuídas em 3 camadas. Convém utilizar material isolante entre os bobinados e realizar um acabamento final com envernizamento do bobinado e pintura da carcaça do transformador. A foto 23 mostra o transformador de saída pronto.

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A grande maioria dos rádios valvulados utiliza transformadores de saída pequenos, como o descrito anteriormente, porém, existem outros tipos maiores. Transformadores de saída com núcleo de 2,7 x 3,1 cm utilizam fio magnético 35 AWG com 3000 espiras no primário, distribuídas em 20 camadas. Não dispensar os cuidados de isolação e utilização de verniz isolante a cada camada bobinada. O secundário é constituído de 53 espiras (1 camada) do fio 23 AWG. A figura 24 mostra este transformador sendo bobinado em uma máquina manual de passo automático.

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A restauração do dial dos rádios antigos também é possível com os recursos dos programas disponíveis no computador. Desde o mais simples como o Paint até os mais sofisticados como o Corel Draw podem ser utilizados no trabalho de restauração. O tipo de letra utilizado deve ser escolhido de acordo com o original. Rádios Philips do tipo BX, utilizam o mostrador no lado externo superior do rádio e, frequentemente, estão com o dial apagado. A recomendação é procurar por uma foto original do dial do rádio e reconstituir a arte da serigrafia em algum programa citado anteriormente. As fotos 25 e 26 mostram os diais restaurados dos rádios Philips BX 209-U e BX 760X

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Aos colegas restauradores que se empenham na recuperação dos rádios antigos, espero ter contribuído com estas dicas que aprendi na minha prática de restauração.