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EDSON BARBOSA ANDRADE ESTUDO DA AUTODEPURAÇÃO DO RIO VIEIRA ATRAVÉS DA MODELAGEM MATEMÁTICA Monografia apresentada à Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Agrárias, como requisito parcial para título de pós graduação lattus sensus em Recursos Hídricos e Ambientais. Orientador: Prof. Lênio Marques de Miranda Montes Claros 2014

Estudo de autodepuração do rio vieira através da modelagem matemática

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Estudo de autodepuração do rio vieira através da modelagem matemática

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  • EDSON BARBOSA ANDRADE

    ESTUDO DA AUTODEPURAO DO RIO VIEIRA ATRAVS DA

    MODELAGEM MATEMTICA

    Monografia apresentada Universidade Federal

    de Minas Gerais Instituto de Cincias Agrrias,

    como requisito parcial para ttulo de ps

    graduao lattus sensus em Recursos Hdricos e

    Ambientais.

    Orientador: Prof. Lnio Marques de Miranda

    Montes Claros

    2014

  • A553c

    2014

    Andrade, Edson Barbosa.

    Estudo da autodepurao do Rio Vieira atravs da

    modelagem matemtica / Edson Barbosa Andrade.

    Montes Claros, MG: ICA/UFMG, 2014.

    199 f.: il.

    Monografia apresentada ao curso de

    Especializao em Recursos Hdricos e Ambientais do

    Instituto de Cincias Agrrias pela Universidade

    Federal de Minas Gerais, 2014.

    Orientador: prof. Lnio Marques de Miranda.

    Banca examinadora: Edson de Oliveira Vieira,

    Mnica Maria Ladeia e Lnio Marques de Miranda.

    Inclui bibliografia: f. 135-141.

    1. Tratamento de efluentes Rio Vieira. 2. Autodepurao. 3. Recursos hdricos. I. Miranda,

    Lnio Marques de. II. Universidade Federal de Minas

    Gerais, Instituto de Cincias Agrrias. III. Titulo.

    CDU: 628

    Elaborada pela BIBLIOTECA COMUNITRIA DO ICA/UFMG

  • ESTUDO DA AUTODEPURAO DO RIO VIEIRA ATRAVS DA

    MODELAGEM MATEMTICA

    Aprovada em 31 de maro de 2014.

    ________________________________________

    Prof. Edson de Oliveira Vieira

    (ICA/UFMG)

    ________________________________________

    Prof. Mnica Maria Ladeia

    (COPASA-MG)

    ________________________________________

    Prof. Lnio Marques de Miranda

    Orientador (ICA/UFMG)

    Montes Claros

    2014

  • DEDICO

    Este trabalho minha filha, princesa que me

    agracia todos os dias com seu amor

    incomensurvel. minha Esposa, pelo amor

    e apoio sempre. A minha me, pai e irmos.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, por tudo.

    Agradeo imensamente ao meu orientador, Prof. Lnio Marques de Miranda,

    os conhecimentos, a experincia e por ter contribudo sobremaneira para a

    minha formao.

    Ao professor Edson de Oliveira Vieira, do Departamento de Hidrulica da

    UFMG, a disponibilizao de material essencial para o projeto e o seu apoio

    nesse.

    funcionria da COPASA, Mnica M. Ladeia, responsvel pelo laboratrio

    da companhia, a sua contribuio no projeto.

    COPASA o apoio, o treinamento e a anlise das amostras coletadas.

    Aos funcionrios da COPASA o suporte e a contribuio nas coletas dos

    dados: Marcelo Marques Costa e Elinio A. Barroso Souza.

    Aos proprietrios das fazendas onde se encontram a nascente e a foz do rio

    Vieira, o acesso facilitado: Vicente Ribeiro Rocha e Dr. Antnio Adilson

    Batista.

    Ao professor Marcos Von Sperling, a por sua ateno e o envio de planilhas

    eletrnicas de modelagem.

  • RESUMO

    Esta pesquisa apresenta a anlise de autodepurao real do rio Vieira,

    Montes Claros MG e o desenvolvimento de um modelo matemtico de

    otimizao, que busca simular cenrios e entender o comportamento do

    mesmo. O conhecimento da autodepurao importante, pois estuda a

    capacidade de resilincia de rios s atividades antrpicas. O modelo capaz

    de integrar diferentes objetivos e tem como ideia central minimizar o custo

    para a manuteno da qualidade do corpo receptor, sem deixar de buscar a

    maximizao da melhoria, em termos dos parmetros oxignio dissolvido e

    demanda bioqumica de oxignio. A validao do modelo reduz custos e

    tempo no estudo e controle da qualidade de corpos hdricos, j que, para

    esse fim, no seriam necessrias coletas em trechos diversos. O modelo

    permite variar tanto eficincias de tratamento, quanto vazes de lanamento,

    o que permite auxiliar o planejamento de sistemas de coleta e o tratamento

    de esgotos e buscar maior equidade entre os usurios. Com isso, permite

    encontrar solues que estabelecem melhor compromisso no atendimento

    aos propsitos existentes. O modelo proposto tem validade para as situaes

    testadas, podendo servir aos administradores pblicos na tomada de

    decises e no gerenciamento da bacia hidrogrfica e dos recursos hdricos

    como foco. Importante na comparao com as normas vigentes, os dados

    reais, o modelo foi suficiente para verificar se os despejos de efluentes no rio

    esto cumprindo a legislao. A utilizao de modelagem matemtica se

    mostrou satisfatria na avaliao de diferentes estratgias de gesto,

    relacionadas ao enquadramento dos corpos dgua, considerando aspectos

    relacionados s alternadas eficincias de tratamento de efluentes, reduo

    de custos e manuteno de qualidade hdrica adequada no corpo receptor.

    Palavras-chave: Rio Vieira. Autodepurao. Tratamento de efluentes.

    Recursos hdricos.

  • ABSTRACT

    This research presents the analysis of real auto-depuration of River

    Vieira, Montes Claros, Minas Gerais, and development of a mathematical

    optimization model that seeks to simulate scenarios and understand the

    behavior of it. Knowledge of the self-depuration is important because studies

    the resilience capacity of rivers to anthropogenic activities. The model is able

    to integrate different objectives and it has as central idea to minimize the cost

    for maintenance of the quality of the receiving body, without ceasing to seek

    maximizing of the improvement in terms of the parameters dissolved oxygen

    and biochemical oxygen demand. Model validation reduces costs and time in

    study and control of the quality of water bodies, since for this purpose would

    not be necessary collect in several stretches. The model allows to vary, as

    treatment efficiencies as flows of launch, what allow help the planning of

    collection and sewage treatment systems and seek greater fairness among

    users. With that, it lets find solutions that establish better compromise in

    attendance to existing purposes. The proposed model is valid for the

    situations tested, might serve to public administrators in decisions making and

    management of the river basin and of the water resources in focus. Important

    the comparison with current regulations, the actual data and the model was

    sufficient to verify if the effluent ejectment into the river are complying with the

    legislation. The use of mathematical modeling proved satisfactory in the

    evaluation of different management strategies, related to the classification of

    water bodies, considering aspects related to alternate efficiencies of effluent

    treatment, reducing costs and maintaining of adequate water quality in the

    receiving body.

    Keywords: Rio Vieira. Depuration. Effluent treatment. Water resources.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    FIGURA 1 Consequncias do lanamento de carga

    orgnica em um curso dgua.................................

    26

    FIGURA 2 Fenmenos interagentes no balano de OD......... 27

    FIGURA 3 Etapas da autodepurao........................................ 28

    FIGURA 4 Metabolismo de microrganismos heterotrficos.. 31

    FIGURA 5 Perfil de velocidades, pontos de medio e rea

    de influncia..............................................................

    36

    FIGURA 6 Eixos de ocorrncia das mudanas espaciais e

    temporais nos constituintes das guas de rios...

    38

    FIGURA 7 DBO exercida (oxignio consumido) e DBO

    remanescente (matria orgnica remanescente)

    ao longo do tempo....................................................

    42

    FIGURA 8 Mecanismos relacionados ao balano de

    oxignio dissolvido..................................................

    43

    FIGURA 9 Localizao da Bacia do Rio Vieira, no Municpio

    de Montes Claros MG............................................

    70

    FIGURA 10 Trajeto do Rio Vieira desde a nascente at a foz.. 71

    FIGURA 11 Mapa de abrangncia da bacia hidrogrfica do

    Rio Vieira...................................................................

    73

    FIGURA 12 Imagem do Google Earth - Rota em destaque

    azul - Trevo incio BR365 e ponto de coleta

    prximo a nascente na Fazenda Vieira. Rio Vieira

    destacado em vermelho...........................................

    76

    FIGURA 13 Ponto de coleta prximo a nascente...................... 76

    FIGURA 14 Ponto de lanamento ETE-Vieiras no Rio Vieira.. 78

    FIGURA 15 Ponto de coleta ETE-Vieiras no Rio Vieira (zona

    de degradao).........................................................

    78

    FIGURA 16 Ponto de coleta a jusante do lanamento de ETE 79

  • FIGURA 17 Imagem do Google Earth - Rota em destaque

    verde - Trevo incio BR 251 e ponto de coleta

    prximo a foz no Rio Verde Grande na Fazenda

    Canaci. Rio Vieira destacado em vermelho...........

    81

    FIGURA 18 Ponto de coleta prximo a foz................................ 81

    FIGURA 19 Coleta de dados prximo a nascente..................... 85

    FIGURA 20 Coleta de dados a montante da ETE...................... 85

    FIGURA 21 Caixa de suporte (isopor) com gelo, acondiciona-

    mento recomendado.................................................

    86

    FIGURA 22 Batimetria da seo do rio prximo a nascente... 87

    FIGURA 23 Molinete hidrulico digital usado no projeto......... 88

    FIGURA 24 Parte do Rio do cedro em destaque de amarelo e

    identificao dos da Foz do Rio e bairro Cidade

    Industrial (periferia de Montes Claros) Foz do Rio

    do Cedro a jusante da ETE......................................

    106

    FIGURA 25 Ilustrao do Modelo de Batimetria em Rios, com

    Subdiviso das Sees, Chegando at 10

    Subdivises...............................................................

    142

    FIGURA 26 Estrutura de lanamento de efluente tratado da

    ETE-VIEIRAS Montes Claros MG......................

    162

  • LISTA DE TABELAS

    1 Concentraes e contribuies unitrias tpicas de

    DBO5,20 de esgoto domstico e efluentes industriais.......

    33

    2 Valores tpicos de K1 e condies de laboratrio e de Kd

    em condies de campo (base 20C).................................

    44

    3 Valores mdios de K2 considerando caractersticas do

    corpo dgua.........................................................................

    49

    4 Limites fixados na Resoluo COPAM 01/2008 para

    guas doces de acordo com as Classes...........................

    51

    5 Concentrao de saturao de oxignio (Cs) (mg/l)........ 61

    6 Valores do coeficiente K2 (d-1

    ) segundo modelos

    baseados em dados hidrulicos do curso dgua (base

    e, 20C) (Sperling 2007)........................................................

    67

    7 Valores tpicos de K1 e condies de laboratrio e de Kd

    em condies de campo (base 20C).................................

    68

    8 Dados georeferenciados dos quatro trechos de

    depurao estudados...........................................................

    74

    9 Dados climatolgicos da Cidade de Montes Claros......... 74

    10 Dados de trecho prximo a nascente, referente aos

    anexos A,B,C e D..................................................................

    90

    11 Dados de trecho montante da ETE, referente aos

    anexos A,B,C e D..................................................................

    91

    12 Dados de trecho jusante da ETE, referente aos anexos

    A,B,C e D ...............................................................................

    93

    13 Dados de trecho prximo foz do Rio Vieira, referente

    aos anexos A,B,C e D .........................................................

    94

    14 Dados de entrada Modelo sem aerobiose em tratamento

    Streeter-Phelps setembro 2013...................................

    108

    15 Dados de entrada Modelo sem aerobiose com tratamen-

    to Streeter-Phelps setembro 2013......................................

    111

    16 Trechos anaerbios para julho de 2013............................ 117

    17 Trechos anaerbios para agosto de 2013.......................... 120

  • 18 Trechos anaerbios para setembro de 2013..................... 122

    19 Trechos anaerbios para outubro de 2013........................ 124

    20 Trechos anaerbios para novembro de 2013.................... 126

    21 Resumo de respostas das modelagens aplicadas em

    funo da distncia para oxignio dissolvido (OD)..........

    128

    22 Resumo de respostas das modelagens aplicadas em

    funo da distncia para demanda bioqumica de

    oxignio (DBO)......................................................................

    129

    23 Roteiro de coleta das amostras das quatro zonas de

    depurao..............................................................................

    163

    24 Relatrio referente modelagem do ms de julho de

    2013........................................................................................

    164

    25 Relatrio referente modelagem do ms de agosto de

    2013........................................................................................

    171

    26 Perfil de OD e DBO da modelagem do ms de setembro

    2013 em sistemas aerbios sem tratamento de efluentes

    175

    27 Perfil de OD e DBO da modelagem do ms de setembro

    2013 em sistemas aerbios com tratamento de efluen-

    tes..........................................................................................

    176

    28 Dados de modelagem anaerbia tratamento de efluen-

    tes setembro.........................................................................

    177

    29 Dados de modelagem anaerbia tratamento de efluen-

    tes outubro...........................................................................

    181

    30 Dados de modelagem anaerbia tratamento de efluen-

    tes novembro.......................................................................

    185

  • LISTA DE GRFICOS

    1 OD e DBO5 real ms Julho de 2013...................................... 95

    2 OD e DBO5 real ms agosto de 2013................................... 99

    3 OD e DBO5 real ms setembro de 2013............................... 101

    4 OD e DBO5 real ms outubro de 2013................................. 102

    5 OD e DBO5 real ms novembro de 2013............................. 104

    6 Modelo em Aerobiose sem Tratamento Streeter-Phelps

    setembro 2013 para Perfil de OD.........................................

    110

    7 Modelo em Aerobiose sem Tratamento Streeter-Phelps

    setembro 2013 para Perfil de DBO.......................................

    110

    8 Modelo em Aerobiose com Tratamento Streeter-Phelps

    setembro 2013 para Perfil de OD.........................................

    113

    9 Modelo em Aerobiose com Tratamento Streeter-Phelps

    setembro 2013 para Perfil de DBO.......................................

    113

    10 Modelo em Anaerobiose Streeter-Phelps julho 2013 para

    Perfil de OD............................................................................

    115

    11 Modelo em Anaerobiose Streeter-Phelps julho 2013 para

    Perfil de DBO.........................................................................

    115

    12 Modelo em Anaerobiose Streeter-Phelps agosto de 2013

    para Perfil de OD...................................................................

    118

    13 Modelo em Anaerobiose Streeter-Phelps agosto de 2013

    para Perfil de DBO................................................................

    119

    14 Modelo em Anaerobiose Streeter-Phelps setembro de

    2013 para Perfil de OD.......................................................

    120

    15 Modelo em Anaerobiose Streeter-Phelps setembro de

    2013 para Perfil de DBO.....................................................

    121

    16 Modelo em Anaerobiose Streeter-Phelps outubro de

    2013 para Perfil de OD.......................................................

    122

    17 Modelo em Anaerobiose Streeter-Phelps outubro de

    2013 para Perfil de DBO.....................................................

    123

  • 18 Modelo em Anaerobiose Streeter-Phelps novembro de

    2013 para Perfil de OD.......................................................

    125

    19 Modelo em Anaerobiose Streeter-Phelps novembro de

    2013 para Perfil de DBO....................................................

    125

    20 Resumo de Respostas das Modelagens Aplicadas em

    Funo da Distncia para OD e DBO.................................

    129

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    A rea BR Rodovia Federal CH4 Metano CO2 Dixido de carbono CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente COPAM Conselho Estadual de Poltica Ambiental COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais D Declividade do Rio DBO Demanda bioqumica de oxignio Dd Densidade de drenagem DQO Demanda qumica de oxignio ETE Estao de tratamento de efluentes H Profundidade do rio H2S Gs sulfdrico HAB Habitantes HAB/KM2 Habitantes/quilmetro quadrado K1 Coeficiente de desoxigenao K2 Coeficiente de oxigenao KC Coeficiente de compacidade KD Coeficiente de remoo efetiva de DBO KF Coeficiente de forma Km Quilmetro KM2 Quilmetro quadrado L Largura do rio MO Matria Orgnica Mg/L Miligrama/litro C Grau celsius OD Oxignio dissolvido Q Vazo S Sul T Temperatura do rio, esgoto ou efluente V Velocidade W Oeste

  • SUMRIO

    1 INTRODUO............................................................................. 17

    1.1 Importncia do Estudo de Rios.................................................... 17

    2 OBJETIVOS................................................................................ 21

    3 REFERENCIAL TERICO.......................................................... 22

    3.1 Autodepurao de Corpos d gua.............................................. 22

    3.2 Oxignio dissolvido...................................................................... 29

    3.3 Demanda Bioqumica de Orixignio DBO).................................. 30

    3.4 Vazo do Curso Dgua e Efluente............................................. 33

    3.5 Coeficiente de Desoxigenao.................................................... 36

    3.6 Cintica e Coeficiente da Oxigenao........................................ 46

    3.7 Legislao de Lanamento de Efluentes.................................... 50

    3.8 Modelagem Matemtica da Qualidade da gua......................... 53

    3.8.1 Modelo Aerbio de STREETER & PHELPS............................... 55

    3.8.2 Modelo Anaerbio de STREETER & PHELPS........................... 63

    3.8.3 Clculo dos Coeficientes de Desoxigenao (K1), de

    Reaerao (K2) e de Remoo Efetiva de DBO (Kd)...................

    66

    4 MATERIAL E MTODOS............................................................ 69

    4.1 Caracterizao da rea de Estudo Bacia do Rio Vieira........... 69

    4.2 Descrio dos Pontos de Amostragens....................................... 74

    4.3 Metodologia.................................................................................. 82

    4.3.1 Coleta de Dados para clculo de rea de Seo....................... 87

    4.3.2 Mensurao da Velocidade......................................................... 88

    5 RESULTADOS E DISCUSSO.................................................. 90

    5.1 Anlise da Depurao Real do Rio Vieira................................... 95

    5.2 Anlise de Dados Modelados...................................................... 107

    5.2.1 Modelagem para Sistemas em Decomposio Aerbia sem

    Tratamento...................................................................................

    108

    5.2.2 Modelagem para Sistemas em Decomposio Aerbia com

    Tratamento...................................................................................

    111

    5.2.3 Modelagem para Decomposio Anaerbia................................ 114

    5.2.4 Modelagem para Decomposio Anaerbia julho de 2013..... 115

  • 5.2.5 Modelagem para Decomposio Anaerbia agosto de 2013.. 118

    5.2.6 Modelagem para Decomposio Anaerbia setembro de

    2013.............................................................................................

    120

    5.2.7 Modelagem para Decomposio Anaerbia outubro de 2013. 122

    5.2.8 Modelagem para Decomposio Anaerbia novembro de

    2013.............................................................................................

    125

    5.3 Resumo das Modelagens de Julho a novembro de 2013, para

    Processos Anaerbios.................................................................

    128

    5.4 Anlise da Poluio no Rio Vieira e Medidas Corretivas............ 130

    6 CONCLUSO.............................................................................. 133

    REFERNCIAS........................................................................... 135

    ANEXO A CLCULO DE VAZO DO RIO 4 TRECHOS......... 142

    ANEXO B DETERMINAO DOS VALORES DE k1, K2 e Kd... 155

    ANEXO C CLCULO DE VAZO DE EFLUENTE TRATADO.. 159

    ANEXO D ROTEIRO DE COLETAS DAS AMOSTRAS............. 163

    ANEXO E RELATRIO DA MODELAGEM ANAERBIO DO

    MS DE JULHO..........................................................................

    164

    ANEXO F RELATRIO DA MODELAGEM ANAERBIO DO

    MS DE AGOSTO.......................................................................

    171

    ANEXO G PERFIL DE OD E DBO MODELAGEM

    SETEMBRO SISTEMA AERBIO SEM TRATAMENTO DE

    EFLUENTES................................................................................

    175

    ANEXO H PERFIL DE OD E DBO MODELAGEM

    SETEMBRO SISTEMA AERBIO COM TRATAMENTO DE

    EFLUENTES................................................................................

    176

    ANEXO I RELATRIO DA MODELAGEM ANAERBIO DO

    MS DE SETEMBRO..................................................................

    177

    ANEXO J RELATRIO DA MODELAGEM ANAERBIO DO

    MS DE OUTUBRO....................................................................

    181

  • ANEXO K TABELA 30................................................................ 185

    ANEXO L RELATRIOS DE ENSAIO DA COPASA

    REFERENTES AMOSTRAS COLETADAS................................

    189

  • 17

    1 INTRODUO

    Montes Claros a cidade-polo do norte de Minas, georreferenciada no

    ponto-sede Latitude 164341S, Longitude 435154W e altitude de 638

    metros acima do nvel do mar. Com forte influncia econmica e social nas

    regies circunvizinhas, como Vale do Jequitinhonha, noroeste de Minas e at

    mesmo sul da Bahia, influenciada pela logstica facilitada, j que um dos

    principais entroncamentos rodovirios do Brasil, cortada pelas estradas

    federais BR 135, que interliga a BR 040 a BR 116, chamada BR Minas-

    Bahia, BR 365, BR 122 e BR 251. Com rea de 3.568,941 Km2 e populao

    estimada, em 1 de Julho de 2013, de 385.898 habitantes (IBGE, 2013).

    Registra, ento, com essa atualizao, uma densidade demogrfica de

    108,12 habitantes por Km2, acima da mdia do estado de Minas Gerais,

    33,41 Hab/Km2.

    Atualmente, vive um crescimento no seu parque tecnolgico industrial,

    com instalao de indstrias de mdio e grande porte, demonstrando uma

    economia estvel e em franca ascenso. Os benefcios desse momento so

    indiscutveis para a economia regional e para a vida em geral dos habitantes

    e at mesmo da prpria regio que beneficia indiretamente. Avaliando a

    presso sobre o meio ambiente desse crescimento demogrfico e da

    economia, os impactos gerados sobre a Bacia do rio Vieira, que, nesse caso,

    a bacia hidrogrfica principal e recebe quase que toda contribuio

    poluidora da cidade, pode-se afirmar que acentuar o desequilbrio dos

    ecossistemas devido a uma elevao da poluio das guas, do solo e ar,

    com reduo da disponibilidade e da qualidade dos recursos naturais.

    1.1 Importncia do Estudo de Rios

    Os rios transportam um dos recursos naturais indispensveis aos

    seres vivos: a gua. Alm disso, tm grande importncia cultural, social,

    econmica e histrica.

    A vazo do rio, em termos de representatividade na renovao dos

    recursos hdricos, o componente mais importante do ciclo hidrolgico.

  • 18

    Exerce um efeito pronunciado sobre a ecologia da superfcie da terra e sobre

    o desenvolvimento econmico humano. a vazo do rio que mais

    amplamente distribuda sobre a superfcie da terra e fornece o maior volume

    de gua para consumo no mundo (SHIKLOMANOV, 1998).

    A gua de rio de grande importncia no ciclo hidrolgico global e

    para o suprimento de gua para a humanidade. Isto porque o comportamento

    de componentes individuais no retorno da gua na Terra depende tanto do

    tamanho do reservatrio quanto da dinmica do movimento da gua. As

    diferentes formas de gua na hidrosfera so inteiramente reabastecidas

    durante o ciclo hidrolgico, mas com taxas muito diferentes. Os tempos

    aproximados de recarga completa de guas so os seguintes

    (SHIKLOMANOV, 1998):

    de pergelissolo e gelo: 10.000 anos,

    ocenicas: 2.500 anos,

    subterrneas e glaciares montanhosas: 1.500 anos,

    de lagos: 17 anos,

    de rios: 16 dias.

    A quantidade de gua efetivamente disponvel para uso humano

    corresponde a aproximadamente 0,007%, uma parcela relativamente

    pequena (LIMA, 2001). Essa pequena poro de gua que dessedenta toda

    raa humana realmente nfima, uma vez que os processos de depurao

    natural dos rios que cortam uma imensa quantidade de cidades esto

    bastante comprometidos. Logo o tratamento de guas para a padronizao

    ao consumo onera o custo, tornando esse bem mais valoroso.

    Com a ocupao dos solos devido a um elevado crescimento

    demogrfico e adensamento das populaes em determinados lugares, a

    gerao de elementos poluentes inevitvel. At pouco tempo, quase a

    totalidade dos esgotos domsticos e industriais era despejada in natura nos

    corpos receptores.

  • 19

    Essa poluio afetou, diretamente, a capacidade que os corpos tinham

    de se autorregenerar, sem afetar sua qualidade e, consequentemente, os

    seres vivos que deles dependiam. Essa carga orgnica e inorgnica que

    chega aos rios requer certa quantidade de oxignio, para que as pores

    orgnicas e inorgnicas sejam depuradas, ou seja, digeridas. Essa demanda

    de oxignio sempre existiu, mas, com as altas cargas poluentes sendo

    despejadas, a depurao dos mesmos ficou comprometida. Consequente

    diminuio dos nveis de oxignio dissolvido altera o comportamento dos

    cursos dgua, tornando-os imprprios para abrigar a maioria da vida

    aqutica, consumo humano, animal e at mesmo lazer.

    Com o despejo de esgoto nas guas, a quantidade de matria orgnica

    aumenta intensamente. Matria orgnica simplificada considerada alimento

    para muitas formas de seres vivos. O grande problema que a taxa de

    reproduo de algumas espcies maior que a das outras. O crescimento

    acelerado de algumas bactrias e microrganismos leva mudana brusca de

    pH e diminuio do nvel de oxignio no rio, com limitao vida aqutica,

    j que uma boa parcela de seres depende do oxignio dissolvido nas guas

    dos rios. Com o despejo de esgotos tanto domsticos quanto industriais, h

    um aumento da turbidez da gua, impedindo que a luz chegue flora

    aqutica, portanto, impedindo a fotossntese, a sobrevivncia e a

    continuidade de algumas comunidades aquticas. Com nveis de oxignio

    dissolvido menores que 2 mg/l, o rio considerado morto, j que pode

    considerar esse corpo praticamente em estado de anaerobiose (0 mg/L OD),

    logo bactrias aerbias e espcies que dependem do oxignio para

    sobreviver morrem ou deixam de habitar esses trechos dos rios, que passam

    a ser habitados por seres anaerbios, j que no precisam de oxignio para

    sobreviver. O rio morto fica negro com o aborbulhamento de gases. Nesse

    caso, pode-se considerar um desequilbrio ecolgico instalado.

    Os rios tambm fornecem alimentos aos seres humanos, com especial

    destaque aos peixes, de variadas espcies e valores nutricionais. No

    entanto, segundo (ARTHURTON et al., 2007) redues drsticas nos

    estoques de peixes esto criando tanto perdas econmicas quanto uma

  • 20

    perda de suprimento de comida. A poluio das guas uma das principais

    causas da contaminao e morte de seres aquticos, o que tem acarretado

    tambm a reduo de estoques de peixes para o consumo humano.

    Adiante vai ser estudado o fenmeno do consumo do oxignio

    dissolvido pela matria orgnica lanada no rio Vieira, a autodepurao, por

    meio da qual o curso dgua se recupera, por meio de mecanismos

    puramente naturais. Ambos os fenmenos so analisados do ponto de vista

    ecolgico e, posteriormente, mais especificamente, por meio da

    representao matemtica da trajetria do oxignio dissolvido no curso

    dgua.

    O conhecimento da autodepurao do rio Vieira h de demonstrar o

    comportamento ambiental do seu entorno, incluindo interferncias como a

    ETE (Estao de Tratamento de Efluentes), que visa amenizar os efeitos da

    poluio no objeto de estudo. Mostrar como o controle da poluio est

    sendo importante e como os dados dessa pesquisa podero ajudar os

    gestores da cidade nas tomadas de deciso no mbito ambiental.

  • 21

    2 OBJETIVOS

    O objetivo geral foi realizar estudo de autodepurao real do rio Vieira,

    e modelar os dados, para avaliar cenrios provveis com comparao

    autodepurao real.

    Os objetivos especficos desse projeto foram:

    1) analisar o comportamento real do rio Vieira em

    resposta carga orgnica recebida.

    2) Avaliar, por meio do estudo de autodepurao do rio

    Vieira, o comportamento de sua capacidade de resilincia carga

    orgnica recebida, da nascente foz.

    3) Comparar os indicadores de OD (oxignio dissolvido)

    e DBO (demanda bioqumica de oxignio) nos trechos estabelecidos

    deste estudo, analisando a sua conformidade legislao ambiental

    vigente: (COPAM, 2008) e (CONAMA, 2005).

    4) Modelar o rio Vieira pelo estudo de autodepurao,

    por trechos representativos, para simular aes de gesto da bacia

    hidrogrfica, bem como futuros estudos de impactos ambientais em

    sua regio de influncia.

    5) Comparar os modelos com os dados reais de

    autodepurao do rio Vieira e comprovar a sua eficcia na anlise

    desse corpo dgua.

    6) Embasar prioridades de investimento e gesto da

    bacia hidrogrfica estudada.

  • 22

    3 REFERENCIAL TERICO

    3.1 Autodepurao de Corpos Dgua

    Deve ser entendido que o conceito de autodepurao apresenta a

    mesma relatividade que o conceito de poluio. Uma gua pode ser

    considerada depurada, sob um ponto de vista, mesmo que no esteja

    totalmente purificada em termos higinicos (potabilidade), apresentando, por

    exemplo, organismos patognicos. Dentro de um enfoque prtico, deve-se

    considerar que a gua esteja depurada quando as suas caractersticas no

    mais estejam conflitantes com a sua utilizao prevista em cada trecho do

    curso dgua. Isso porque no existe uma depurao absoluta: o ecossistema

    atinge novamente o equilbrio, mas em condies diferentes das anteriores,

    devido ao incremento da concentrao de certos produtos e subprodutos da

    deposio. Em decorrncia desses produtos, a comunidade aqutica se

    apresenta de uma forma diferente, ainda que em novo equilbrio.

    O processo de autodepurao se desenvolve ao longo do tempo e da

    direo longitudinal do curso dgua. Segundo (BRAGA et al., 2005), os

    estgios de sucesso ecolgica presentes nesse processo so fisicamente

    identificados por trechos, que so definidos como zonas de autodepurao,

    conforme indica FIG. 1, e divide-se em:

    1) Zona de Degradao.

    Caractersticas:

    Tem incio logo aps o lanamento de guas residurias;

    alta concentrao de matria orgnica, ainda em estgio

    complexo a ser decomponvel;

    no ponto de lanamento, turva, devido aos slidos presentes.

    A sedimentao desses resulta na formao de lodo;

  • 23

    o incio da decomposio da matria orgnica pelos

    microrganismos lento dependendo da adaptao dos seres

    decompositores ao despejo;

    o consumo de OD (oxignio dissolvido) para atividades

    respiratrias pode ser reduzido, aps adaptao dos

    microrganismos. A taxa de oxignio para a decomposio

    atinge o seu mximo, implicando num mximo consumo de

    OD;

    a predominncia de bactrias aerbias;

    aumento do teor de CO2 (dixido de carbono) na gua.

    Converte-se em cido carbnico, podendo haver queda de pH;

    o lodo do fundo prevalece em condies anaerbias,

    consequentemente, h a produo de H2S (Gs Sulfdrico),

    potencial gerador de mau odor;

    sensvel diminuio da quantidade de seres vivos. H o

    desaparecimento de espcies menos adaptadas e

    desenvolvimento de espcies que melhor resistem s novas

    condies;

    quantidade grande de bactrias coliformes, se a contaminao

    for de origem humana;

    protozorios, bactrias e fungos;

    a presena de algas rara devido alta turbidez.

    2) Zona de Decomposio Ativa (incio da organizao

    do ecossistema)

    O ecossistema tende a se organizar, com o predomnio de

    microrganismos decompositores. Como consequncia, os reflexos no corpo

    dgua atingem o seu ponto mximo. A qualidade da gua est no seu estado

    mais deteriorado. Verificam-se:

    colorao acentuada na gua;

    depsito de lodo escuro no fundo;

  • 24

    nesta zona, o OD atinge a sua menor concentrao.

    Desaparece, portanto, a vida aerbia, dando lugar a

    organismos anaerbios;

    bactrias decompositoras iniciam a sua reduo, devido

    diminuio de material orgnico, luz, floculao,

    adsoro e precipitao;

    caso haja reao anaerbia, os subprodutos so CO2, gua,

    metano, gs sulfdrico, mercaptanas e outros, responsveis

    pelo mau odor;

    diminuio do nmero de bactrias e aumento na populao

    de protozorios. Presena de algumas larvas de insetos e, no

    entanto a macrofauna restrita em espcie.

    3) Zonas de Recuperao.

    Aps fase de intenso consumo de material orgnico e de degradao

    do ambiente aqutico, inicia-se a etapa de recuperao:

    a gua mais clara;

    os depsitos de lodo sedimentados no fundo apresentam

    textura granulada, no havendo desprendimento de gases ou

    mau cheiro;

    matria orgnica se encontra mais estabilizada, j est

    convertida em compostos inertes, implicando na reduo do

    consumo de OD;

    introduo de oxignio atmosfrico. Aumentam-se os teores de

    OD;

    a amnia convertida em nitritos e nitratos e os compostos de

    fsforos so convertidos em fosfatos;

    devido presena de nutrientes e de gua mais claras, h

    condies para o desenvolvimento de algas, elevando mais a

    concentrao de OD;

  • 25

    diversificao da cadeia alimentar, devido ao aparecimento de

    seres heterotrficos;

    nmero de bactrias reduzido. Protozorios bacterifagos.

    Aparecem algas azuis na superfcie e margens, e depois,

    flagelados e algas verdes e, finalmente diatomceas;

    aparecimento de microcrustceos, de moluscos, de vermes, de

    dinoflagelados, de esponjas, de musgos, de larvas de insetos e

    de peixes mais tolerantes.

    4) Zona de guas Limpas

    guas so limpas, voltando s condies iniciais;

    formas completamente oxidadas e estveis dos compostos

    minerais;

    concentrao de OD. prximo de saturao;

    devido mineralizao, as guas esto ricas em algas;

    restabelecimento da cadeia alimentar;

    comunidade atinge seu clmax diversidade de espcies.

    No corpo dgua que recebe um lanamento de esgoto, ocorre o

    fenmeno do desequilbrio ecolgico, que o aumento do nmero de

    indivduos de uma nica espcie, com consequente desaparecimento de

    outras espcies. A autodepurao acontece em etapas, conforme mostra a

    (FIG. 1) abaixo:

  • 26

    FIGURA 1 - Consequncias do lanamento de carga orgnica em um curso

    dgua

    Fonte: (MOTA, 1995).

    Com o passar da distncia, o rio adquire novamente um determinado

    teor de oxignio dissolvido, no com nveis anteriores, mas com um novo

    equilbrio. Esse trecho de degradao e depurao ativa limita alguns tipos

    de vida em quase a sua totalidade, impedindo a subida dos peixes no rio para

    a desova (piracema) tambm limitando a existncia de algumas espcies em

    alguns trechos do rio.

  • 27

    De acordo com (VON SPERLING, 1996), a autodepurao pode ser

    entendida como um fenmeno de sucesso ecolgica, em que o

    restabelecimento do equilbrio no meio aqutico, ou seja, a busca pelo

    estgio inicial encontrado antes do lanamento de efluentes realizada por

    mecanismos essencialmente naturais, conforme (FIG. 2).

    A autodepurao decorrente da associao de vrios processos de

    natureza fsica (diluio, sedimentao e reaerao atmosfrica), qumica e

    biolgica (oxidao e decomposio) Hynes (1960) apud Von Sperling

    (1996). No processo de autodepurao, h um balano entre as fontes de

    consumo e de produo de oxignio, conforme ilustrado na (FIG. 3). Os

    principais fenmenos interagentes no consumo de oxignio so:

    a oxidao da matria orgnica;

    a nitrificao;

    a demanda bentnica.

    Na produo de oxignio so:

    a reaerao atmosfrica;

    a fotossntese.

    FIGURA 2 - Fenmenos interagentes no balano de OD

    Fonte: Von Sperling, 2007.

  • 28

    FIGURA 3 - Etapas da autodepurao diluio, sedimentao e estabilizao

    bioqumica

    Fonte: (BRAGA et al., 2005).

    A oxidao total da matria orgnica, tambm conhecida como

    mineralizao, gera produtos finais, simples e estveis (por exemplo, CO2,

    H2O, NO3-

    ). Os organismos decompositores, principalmente as bactrias

    heterotrficas aerbias, so capazes de oxidar a MO (Matria Orgnica).

    Para o estudo de autodepurao dos corpos dgua so utilizados

    modelos matemticos (demonstrado num captulo posterior), onde nesse

    estudo especfico sero incorporados os conceitos de Streeter- Phelps,

    modelo que aborda o consumo de oxignio pela oxidao da matria

    orgnica e produo de oxignio pela reaerao atmosfrica. Para a

    alimentao do modelo, sa necessrios os seguintes dados:

    a vazo do rio, a montante do lanamento;

    a vazo de esgotos (Qe);

    o oxignio dissolvido no rio, montante do lanamento (ODr);

    o oxignio dissolvido no esgoto (ODe);

    a DBO5 no rio, a montante do lanamento (DBOr);

    a DBO5 do esgoto (DBOe);

  • 29

    o coeficiente de desoxigenao (K1);

    o coeficiente de reaerao (K2);

    a velocidade de percurso do rio (v);

    o tempo de percurso (t);

    a concentrao de saturao de OD (Cs);

    o oxignio dissolvido mnimo permissvel (ODmin).

    3.2 Oxignio Dissolvido

    O oxignio dissolvido (OD) tem fundamental importncia no tratar da

    vida aqutica aerbia (depende do oxignio para sobrevier e reproduzir). Os

    organismos que utilizam a matria orgnica como fonte de alimentao

    necessitam do OD no processo de respirao. A consequncia do aumento

    da matria orgnica nos rios naturalmente ser a reduo dos nveis de OD,

    que ser retirado numa maior quantidade no processo de estabilizao da

    matria orgnica lanada nos corpos receptores. Menor quantidade de

    oxignio resulta numa vida dentro dos rios reduzida.

    A solubilidade do oxignio dissolvido varia com altitude e

    a temperatura, ao nvel do mar na temperatura de 20C, a

    concentrao de saturao igual a 9,2 mg/L, quando

    esse nvel supera o de saturao indicativo de presena

    de algas (fotossntese, com gerao de oxignio puro) e

    quando inferiores a 9,2 mg/L indicativo de matria

    orgnica, provavelmente esgotos sendo depurados. Na

    anlise da vida aqutica superior (peixes mais exigentes

    em O2) concentraes em torno de 4 a 5 mg/L no

    sobrevivem nessas condies e com 2 mg/L praticamente

    todos peixes esto mortos e 0 mg/L temos uma situao

    de anaerobiose (VON SPERLING, 2007).

  • 30

    A solubilidade de oxignio dissolvido atmosfrico varia de 14,6 mg L-1

    ,

    sob temperatura de 0 C, a at 7 mg L-1

    , a 35 C, em gua doce e presso de

    1 atm. Os maiores problemas ambientais ocorrem quando o meio lquido

    encontra-se sob maiores temperaturas, j que as taxas de oxidao biolgica

    e a presso de vapor do gs O2 aumentam com a temperatura (NUNES,

    2008 apud ALMEIDA, 2013).

    Diversas variveis podem ser utilizadas na avaliao do processo de

    autodepurao, entretanto, a quantificao da concentrao de oxignio

    dissolvido (OD) a mais importante para definir a condio do curso de gua

    e avaliar se o mesmo encontra-se dentro ou fora dos limites da classe de seu

    enquadramento (SANTOS, 2001 apud NUNES, 2008).

    3.3 Demanda Bioqumica de Oxignio (DBO)

    A DBO de uma gua a quantidade de oxignio necessria para

    oxidar a matria orgnica por decomposio microbiana aerbia para uma

    forma inorgnica estvel. A DBO normalmente considerada como a

    quantidade de oxignio consumido durante um determinado perodo de

    tempo, numa temperatura de incubao especfica. Um perodo de tempo de

    5 dias numa temperatura de incubao de 20C frequentemente usado e

    referido como DBO5,20 (CETESB, 2009).

    Uma miscelnea de compostos orgnicos causadora da poluio dos

    rios, como, por exemplo, as protenas, carboidratos, gorduras, leos, uria,

    surfactantes, fenis e pesticidas. Mtodos indiretos so usados para

    quantificar a matria orgnica, que so a demanda bioqumica de oxignio

    (DBO), por meio da mensurao do consumo de oxignio pela matria

    orgnica e demanda qumica de oxignio (DQO), com a medio do carbono

    orgnico, que indicam o potencial do consumo de oxignio dissolvido. A DBO

    dos esgotos domsticos est em torno de 300 mg/L e a DQO de 600 mg/L.

    Em caso de esgotos industriais, esses indicativos tm ampla variao,

    dependendo do tipo do processo industrial (VON SPERLING, 2007).

  • 31

    Essa rota metablica, do consumo de oxignio pelos microrganismos

    no processo de assimilao da matria orgnica, segue descrita na (FIG. 4).

    FIGURA 4 - Metabolismo de Microrganismos Heterotrficos

    Na (FIG. 4) apresenta-se o metabolismo dos

    microrganismos heterotrficos, em que os compostos

    orgnicos biodegradveis so transformados em produtos

    finais estveis ou mineralizados, tais como gua, gs

    carbnico, sulfatos, fosfatos, amnia, nitratos, etc. Nesse

    processo h consumo de oxignio da gua e liberao da

    energia contida nas ligaes qumicas das molculas

    decompostas. Os microrganismos desempenham este

    importante papel no tratamento de esgotos, pois

    necessitam desta energia liberada, alm de outros

    nutrientes para exercer suas funes celulares, tais como

    reproduo e locomoo, o que genericamente se

    denomina quimiossntese. Quando passa a ocorrer

    insuficincia de nutrientes no meio, os microrganismos

    sobreviventes passam a se alimentar do material das

    clulas que tm a membrana celular rompida. Este

    processo se denomina respirao endgena. Finalmente,

    h, neste circuito, compostos que os microrganismos so

  • 32

    incapazes de produzir enzimas que possam romper suas

    ligaes qumicas, permanecendo inalterados. Ao

    conjunto destes compostos d-se o nome de resduo no

    biodegradvel ou recalcitrante. Pelo fato de a DBO5,20

    somente medir a quantidade de oxignio consumido num

    teste padronizado, no indica a presena de matria no

    biodegradvel, nem leva em considerao o efeito txico

    ou inibidor de materiais sobre a atividade microbiana

    (CETESB, 2009).

    As altas concentraes de matria orgnica, oriundas de

    esgotamentos domsticos e industriais, so responsveis pela elevao da

    DBO no meio e consequente inutilizao dos corpos hdricos para fins de

    recreao e abastecimento humano em alguns casos extremos, que no

    necessariamente so excees, j que uma grande maioria das cidades

    lana os seus efluentes diretamente nos rios, ou quando realiza o tratamento,

    no consegue interceptar todo o efluente gerado pela populao, devido aos

    esgotamentos clandestinos. Essa elevao da DBO eleva,

    consequentemente a eutrofizao, j que essa carga orgnica traz tambm

    altas concentraes de nutrientes, que por sua vez, servem de alimento para

    algas. Com aumento da populao das algas, aumenta-se a concentrao de

    toxinas produzidas pelas mesmas. Essas toxinas podem ser prejudiciais

    quando consumidas pela populao.

    A DBO um dos principais critrios a serem analisados no projeto de

    construo de estaes de tratamento de efluentes, expressa em carga por

    dia (Kg/dia), como dimensionamento de volume de reatores, rea e volume

    de tanques, filtros, potncia dos aeradores. A carga de DBO produto da

    vazo dos efluentes pela concentrao de DBO.

    A contribuio de DBO per capita comumente utilizada no Brasil

    54g/hab/dia, no caso de esgotamentos sanitrios. Na TAB. 1, so

    apresentados os valores tpicos de concentrao e contribuio unitria de

    DBO 5,20 para diferentes tipos de efluentes.

  • 33

    TABELA 1

    Concentraes e contribuies unitrias tpicas de DBO5,20 de esgoto

    domstico e efluentes industriais

    A matria orgnica um dos principais poluentes dos cursos dguas,

    j que responde por maior perda de oxignio dissolvido desses cursos,

    devido ao processo de oxidao para estabilizao dessa matria orgnica,

    com prejuzos para a biota aqutica e at mesmo ao aspecto paisagstico,

    devido turbidez das guas, descaracterizando os cursos originais.

    So compostas principalmente por carboidratos, protena, gordura,

    leos, surfactantes, fenis e pesticidas.

    3.4 Vazo do Curso Dgua Afluente

    No planejamento e no gerenciamento do uso dos recursos hdricos, o

    conhecimento das vazes necessrio para realizar um balano de

    disponibilidades e demandas ao longo do tempo. Em projetos de obras

    hidrulicas, as vazes mnimas so importantes para se avaliar, por exemplo,

    calado para navegao, capacidade de recebimento de efluentes urbanos e

  • 34

    industriais e estimativas de necessidades de irrigao. As vazes mdias so

    aplicveis a dimensionamentos de sistemas de abastecimento de guas e de

    usinas hidreltricas. As vazes mximas, como base para dimensionamento

    de sistemas de drenagem e rgos de segurana de barragens, entre outras

    tantas aplicaes.

    As medies de vazo so realizadas periodicamente em

    determinadas sees dos cursos dgua (as estaes ou postos

    fluviomtricos). Diariamente ou de forma contnua, medem-se os nveis

    dgua nos rios e esses valores so transformados em vazo, por meio de

    uma equao, chamada de curvachave.

    Curva-chave uma relao nvel-vazo numa determinada seo do

    rio. Dado o nvel do rio na seo para a qual a expresso foi desenvolvida,

    obtm-se a vazo. No apenas o nvel da gua que influencia a vazo: a

    declividade do rio, a forma da seo (mais estreita ou mais larga) tambm

    alteram a vazo, ainda que o nvel seja o mesmo.

    Entretanto, tais variveis so razoavelmente constantes ao longo do

    tempo para uma determinada seo. A nica varivel temporal o nvel.

    Dessa forma, uma vez calibrada tal expresso, a monitorao da vazo do rio

    no tempo fica muito mais simples e com um custo muito menor (PORTO,

    2001).

    Para essa modelagem especfica, foi utilizada a vazo mnima de

    referncia, que comum ser utilizada no planejamento dos recursos hdricos,

    acontecendo no perodo de estiagem e tambm uma vazo pontual em

    meados do incio das chuvas.

    A vazo mnima utilizada para o planejamento dos

    recursos hdricos da bacia hidrogrfica, para a avaliao

    do atendimento aos padres ambientais do corpo

    receptor, para a alocao de cargas poluidoras e para a

    concesso de outorgas de captao e de lanamento. A

    determinao das eficincias requeridas para os

    tratamentos dos esgotos nos diversos lanamentos deve

    ser determinada em condies crticas. Estas condies

    crticas no corpo receptor refletem perodos de estiagem

  • 35

    e ocorrem exatamente no perodo de vazo mnima, em

    que a capacidade de diluio do rio menor. (VON

    SPERLING, 2007).

    A vazo Q7,10, valor anual da menor mdia de 7 vazes dirias

    consecutivas que pode se repetir, em mdia, uma vez a cada 10 anos

    (perodo de retorno de 10 anos) frequentemente utilizada nas modelagens

    da qualidade da gua, j que os clculos tendem a uma preciso maior, pois

    os histricos de coletas longos visualizam ciclos e no vazes pontuais.

    Contudo esse dado de difcil mensurao, j que, nesses corpos dgua

    necessitariam de implantao de estaes fluviomtricas, estaes onerosas,

    que, nesse caso, se encontram em poucas bacias hidrogrficas,

    comprometendo, assim, a preciso dos estudos dessas bacias.

    As medies de vazo podem ser feitas de diversas formas, que

    utilizam princpios distintos: Volumtrico, colorimtrico, estruturas hidrulicas

    (calhas e vertedores), velocimtrico (molinetes hidrulicos), acstico e

    eletromagntico. A escolha do mtodo depender das condies disponveis

    em cada caso.

    A descarga lquida ou vazo de um rio definida como sendo o volume

    de gua que atravessa uma determinada seo num certo intervalo de

    tempo. Ou ainda, pode ser expressa como:

    Q =V S

    Onde:

    Q: vazo em m3/s;

    V: velocidade do escoamento em m/s;

    S: rea da seo em m2.

    Como a seo do rio irregular e as medies de velocidades so

    feitas em alguns pontos representativos, a vazo total calculada como

    sendo a soma de parcelas de vazo de faixas verticais. Para se calcular a

    vazo de tais parcelas utiliza-se a velocidade mdia no perfil e a sua rea de

    influncia, conforme ilustra a (FIG. 5).

  • 36

    FIGURA 5 - Perfil de velocidades, pontos de medio e rea de influncia

    3.5 Cintica e Coeficiente da Desoxigenao

    A queda nos nveis de oxignio dissolvido em um corpo d'gua est

    associada respirao de microrganismos envolvidos no processo de

    depurao de esgotos. Estudos de (GIANSANTE, 1998), (BRANDELERO et

    al. 2010) e (SIQUEIRA, 1998) evidenciaram que massas lticas ou guas

    correntes possuem a capacidade de autodepurao e tal fenmeno pode ser

    avaliado pelos valores da (DBO) demanda bioqumica de oxignio no corpo

    hdrico. A matria orgnica, ao ser lanada no rio por uma fonte poluidora,

    oxidada por bactrias aerbicas de vida livre, pertencentes ao ecossistema

    aqutico. O percebido que o processo de degradao da matria orgnica

    citado consome parte do oxignio dissolvido que est na gua e diminui o

    mesmo (VON SPERLING, 2007 apud ALMEIDA, 2013).

    O consumo da matria orgnica (DBO) nos corpos dgua provoca um

    dos maiores prejuzos da contaminao desses cursos, que a

    desoxigenao (decrscimo dos teores de oxignio dissolvido), com variao

    ao longo de tempo e espao, ou seja, os teores de DBO so diferentes em

    dias diferentes e em mensuraes ao longo de trechos. Verificam-se tambm

    essas divergncias de valores. A DBO Padro a DBO5, 20, que usada

    como referncia.

  • 37

    Para entender melhor o fenmeno de desoxigenao e oxigenao,

    no seria possvel desvincular da cintica de reatores, j que a modelagem

    de Streeter-Phelps simula os rios como reatores biolgicos. Processos fsicos

    de adveco, de difuso e processos bioqumicos e fsicos de converso

    provocam, nos corpos dgua, alteraes nas suas composies de matria

    orgnica e oxignio dissolvido.

    Esses processos predominam no eixo longitudinal (x), como ilustra a

    (FIG. 6) abaixo.

    Mudanas na =

    Devido a

    Adveco: +

    Devido a

    Difuso: +

    Devido aos processos de

    Converso:

    concentrao

    transporte do

    espalhamento

    das

    fatores biolgicos, fsicos e

    qumicos

    do

    contituinte

    constituinte no

    partculas do

    com o tempo

    campo de

    velocidades

    constituinte

    devido

    do meio fluido

    a agitao

    trmica

  • 38

    FIGURA 6 - Eixos de Ocorrncia das Mudanas Espaciais e Temporais nos

    Constituintes das guas de Rios

    Fonte: Introduo qualidade das guas e ao tratamento de esgotos, (VON

    SPERLING, 2009).

    O consumo de OD, devido a tais oxidaes, pode ser obtido utilizando-

    se a medio da demanda bioqumica de oxignio (DBO), sendo

    basicamente governado pelo coeficiente de desoxigenao, K1, que varia de

    valor de acordo com a temperatura, a composio e a concentrao de

    material orgnico na gua. A estimativa do consumo de oxignio pode ser

    obtida com a utilizao de equaes diferenciais, que expressam uma reao

    cintica de primeira ordem (VON SPERLING, 1996 apud NUNES, 2008).

    Para (VON SPERLING, 2007), grande parte das reaes que ocorrem

    em um curso dgua lenta, sendo a considerao da sua cintica, portanto,

    importante. A taxa de reao r o termo usado para descrever o

    desaparecimento ou formao de um composto ou espcie qumica. A

    relao entre a taxa de reao, a concentrao do reagente e a ordem da

    reao so dadas pela expresso:

  • 39

    r = KCn

    Onde:

    r = taxa de reao (ML-3

    T-1

    ),

    K = constante de reao (T-1

    ),

    C = concentrao do reagente (ML-3

    ),

    n = ordem da reao,

    n = 0 reao de ordem zero,

    n = 1 reao de primeira ordem,

    n = 2 reao de segunda ordem.

    Quando mais de um reagente est envolvido, o cmputo da taxa de

    reao deve levar em considerao as concentraes dos reagentes. No

    caso de dois reagentes, com concentrao A e B com ordem global da

    reao definida (m+n), tem-se:

    r = K A

    n B

    m.

    Na modelagem da qualidade das guas, h vrias reaes que so

    representadas segundo a cintica de primeira ordem. A introduo de

    oxignio pela reaerao um exemplo. Outros exemplos so a reduo da

    matria orgnica e o decaimento de organismos patognicos (VON

    SPERLING, 2007).

    Um conceito importante relativo s demandas de oxignio: DBO

    remanescente, que a concentrao de matria orgnica remanescente na

    massa lquida num determinado tempo, e a DBO exercida, que representa o

    oxignio consumido na estabilizao da matria orgnica at esse instante.

    Nessas reaes, a taxa de reao proporcional concentrao do

    reagente, ou seja, ao longo do rio a taxa de mudana da concentrao C do

    reagente proporcional concentrao desse reagente no dado instante.

  • 40

    Para um reagente que esteja sendo consumido (removido), tem-se a seguinte

    equao: (VON SPERLING, 2007).

    1.CKdt

    dC

    ou

    CKdt

    dC.

    Integrando essa taxa de mudana (dC/dt) ao longo do tempo de

    percurso tem C = C0 em t=0, j que ainda no houve consumo dos

    reagentes.

    tKeCC .0

    Reaes de primeira ordem. Mudana da taxa de reao dC/dt com o

    tempo. Mudana da concentrao C com o tempo.

    Logo a cintica de desoxigenao da matria orgnica remanescente

    ou DBO remanescente se d por meio de uma reao de primeira ordem, na

    qual a taxa de mudana da concentrao de uma substncia simtrica

    primeira potncia da concentrao, sendo a equao de progresso expressa

    na forma diferencial:

    LKdt

    dL.1

    sendo:

    L = concentrao de DBO remanescente (mg/L),

    t = tempo (dia),

    k1 = coeficiente de desoxigenao (dia-1

    ).

  • 41

    Por meio da Equao acima, nota-se que a taxa de oxidao da

    matria orgnica (dL/dt) proporcional matria orgnica ainda

    remanescente (L), em um tempo t qualquer. Logo, quanto maior a

    concentrao de DBO, mais rpido ocorrer o processo de desoxigenao.

    Posteriormente, aps a estabilizao da DBO, em certo tempo, a taxa de

    reao ser menor em funo da menor quantidade de matria orgnica

    presente em determinada substncia.

    Nesse sentido, (VON SPERLING, 2007), afirma que integrando a

    equao anterior, entre os limites de L = L0 e L = Lt, e t = 0 e t = t, obtm-se a

    equao abaixo:

    tk

    t eLL1

    0

    Em que:

    Lt = DBO remanescente num tempo t qualquer (mg/L),

    L0 = DBO remanescente em t = 0 (mg/L).

    Para obter a DBO exercida em termos de consumo de oxignio

    dissolvido, utiliza-se a prxima equao:

    )1( 10tk

    eLy

    Em que:

    y = DBO exercida em um tempo t (mg/L), nota-se que: y = L0 L,

    L0 = DBO remanescente, em t = 0, ou comumente conhecida como

    DBO ltima.

  • 42

    A (FIG. 7) expressa a progresso da DBO ao longo do tempo:

    FIGURA 7 - DBO exercida (oxignio consumido) e DBO remanescente (matria

    orgnica remanescente) ao longo do tempo

    Fonte: (VON SPERLING, 2007).

    O consumo de matria orgnica, desoxigenao, basicamente

    acontece nos vrios tipos de oxidao da matria orgnica suspensa (tanto a

    carboncea quanto a nitrogenada) e decantada (camada de sedimentos

    decantados, que responsvel pela demanda bentnica de oxignio) e o uso

    de oxignio na respirao, principalmente dos vegetais (algas), quando da

    ausncia de luz (NUNES, 2008).

    Alm dos processos citados, relacionados ao consumo de oxignio, h

    tambm os referentes estabilizao dos compostos nitrogenados, esse a

    amnia em nitrito e esses, por sua vez, em nitrato. Este consumo referido

    como demanda nitrogenada ou demanda de segundo estgio.

  • 43

    Os principais fenmenos responsveis pelo balano de oxignio

    dissolvido em um curso dgua encontram-se apresentados na (FIG. 8).

    FIGURA 8 - Mecanismos relacionados ao balano de oxignio dissolvido

    Fonte: Santos (2001).

    O coeficiente de desoxigenao K1 depende das caractersticas da

    matria orgnica, alm da temperatura e da presena de substncias

    inibidoras (VON SPERLING, 2005). obtido em condies controladas em

    laboratrio. A (TAB. 2) apresenta valores mdios de K1, obtidos em

    condies de laboratrio. O coeficiente de decomposio da DBO no rio, Kd,

    incorpora os efeitos na decomposio da matria orgnica pela biomassa

    suspensa na massa lquida e pela biomassa no lodo de fundo. Os valores de

    Kd para oxidao da DBO no rio so superiores a valores de K1 obtidos em

    laboratrio. Isso se explica pelo fato da biomassa que cresce aderida a um

    meio suporte, como, por exemplo, o lodo de fundo, ser mais efetiva na

    decomposio de matrias orgnicas que a biomassa dispersa na massa

    lquida (CHAPRA, 1997 apud VON SPERLING, 2007).

    A (TAB. 2) apresenta os valores mdios de K1 e Kd.

  • 44

    TABELA 2

    Valores tpicos de K1 e condies de laboratrio e de Kd em condies de

    campo (base 20C)

    Fonte: (VON SPERLING, 2005)

    Nota: Rio raso: profundidade inferior a cerca de 1,0 ou 1,5 m;

    Rio profundo: profundidade superior a cerca de 1,0 ou 1,5 m.

    Segundo (EPA, 1985 apud VON SPERLING, 2005), e (THOMANN;

    MUELLER, 1987), o valor de Kd pode ser obtido em funo de caractersticas

    hidrulicas no corpo dgua, conforme as equaes descritas a seguir:

    Kd em funo da profundidade

    Para H2,5:

    434,0

    5,230,0

    HKd

  • 45

    Para H>2,5:

    130,0 dKd

    Kd em funo da vazo

    49,080,1 xQKd

    Onde:

    H entre 0,3 e 10 m;

    Q entre 0,15 e 250 m3/s.

    A temperatura tem influncia direta no metabolismo bacteriano e,

    consequentemente, nas taxas de estabilizao da matria orgnica. A

    relao emprica entre a temperatura e a taxa de desoxigenao dada pela

    equao abaixo, que pode ser utilizada tanto para K1, quanto para Kd (VON

    SPERLING, 2005):

    )20(

    1 .201 TKK

    T

    Onde:

    T

    K1

    = K1 a uma temperatura T qualquer (d-1

    );

    201K = K1 a uma temperatura T = 20C (d

    -1);

    T = temperatura do meio lquido (C);

    = coeficiente de temperatura (-).

    O valor de usualmente utilizado para K1 e Kd 1,047 (EPA, 1987).

  • 46

    3.6 Cintica da oxigenao

    O processo natural de reaerao de corpos de gua receptores de

    despejos de esgotos envolve a transferncia de massa superficial, por meio

    da qual a demanda por oxignio, resultante da ao bacteriolgica sobre a

    matria orgnica biodegradvel, pode ser suprida, ou no, dependendo da

    intensidade com que o fenmeno da transferncia de oxignio ocorre por

    meio da superfcie do corpo receptor (SZLIGA; ROMA, 2003 apud NUNES,

    2008).

    Para (VON SPERLING, 1996), molcula de gases atmosfricos

    intercambiados na interface do meio lquido o principal meio de introduo

    de oxignio em lagos, em rios e em outros corpos dgua. Esse processo

    um fenmeno fsico que eleva a concentrao de gases na fase lquida, caso

    essa fase no esteja saturada com gs.

    Quando a gua exposta a um gs, ocorre um contnuo intercmbio

    de molculas da fase lquida para a gasosa e vice-versa. To logo a

    concentrao de solubilidade na fase lquida seja atingida, ambos os fluxos

    passam a ser de igual magnitude, de modo a no ocorrer uma mudana

    global das concentraes do gs em ambas as fases. Esse equilbrio

    dinmico define a concentrao de saturao (Cs) do gs na fase lquida

    (VON SPERLING, 2007).

    Como h no processo de autodepurao natural dos corpos dgua o

    consumo de oxignio dissolvido na fase lquida, que ocorre nos processos de

    estabilizao da matria orgnica, as concentraes de gases desse meio

    ficam abaixo da saturao, aumentando o fluxo de reaerao desse meio.

    O mecanismo de reaerao pode acontecer por meio da difuso

    molecular ou turbulncia. A difuso molecular acontece em ambientes

    tranqilos, sem correntezas, em que h um incessante movimento aleatrio

    (movimento trmico) das molculas de O2, do meio concentrado para o de

    menor concentrao. Pelos estudos de (HEMOND; FECHENER-LEVY,

  • 47

    1994), esse tipo de mistura denominado de difuso molecular, como

    descreve a primeira lei de Fick. Como lei, ela distingue o processo pelo qual a

    matria conduzida de uma parte a outra do sistema em funo dos

    movimentos moleculares randmicos. O observado que a difuso no

    demonstra grande importncia em termos ambientais, com exceo escala

    microscpica das reaes qumicas e biolgicas. No entanto, problemas

    ambientais ligados disperso de poluentes podem ser descritos por aes

    fortemente anlogas difuso molecular, segundo as descries de

    (FISCHER et al., 1979) e (ALMEIDA, 2013).

    Nesse sentido, para (NUNES, 2008), os principais fatores que afetam a

    difuso molecular so: a temperatura, o gradiente de concentrao e a rea

    da seo transversal onde ocorre a difuso.

    Quanto difuso turbulenta, ela mais rpida que a molecular, pois

    envolve a criao de interfaces e a renovao dessas interfaces. Para (VON

    SPERLING, 1996), a criao de interfaces de extrema importncia, pois

    onde ocorrem os intercmbios gasosos. Assim, o segundo fator permite que

    no haja a formao de pontos de saturao, conduzindo o gs a vrias

    profundidades do curso dgua, em funo da maior mistura.

    Segundo (GIANSANTE, 2000), as fontes de oxignio so: a atmosfera

    e as algas. Quanto a primeira fonte, h transferncia de oxignio atmosfrico,

    que abundante, para a gua, de forma que essa o tem na quantidade

    mxima, quando no poluda. A concentrao mxima de OD na gua

    funo da temperatura e presso atmosfrica local, que, por sua vez,

    funo da altitude. As algas constituem a segunda fonte de OD, em funo

    da reao de fotossntese.

    Referenciado no ndice de Variveis Mnimas para a Preservao da

    Vida Aqutica, IPMCA, (CETESB, 2007), valores de oxignio dissolvido entre

    3,0 e 5,0 (mg/L) apresentam caractersticas desejveis para a sobrevivncia

    dos organismos aquticos, porm a reproduo dos mesmo pode ser afetada

    a longo prazo.

  • 48

    A fotossntese proporcionada pelo fitoplncton, particularmente algas,

    a maior fonte de OD em lagos e em rios de movimento lento. A produo

    fotossinttica de oxignio funo da temperatura e a profundidade da gua,

    intensidade e durao da presena de luz e quantidade de algas, comumente

    medida como concentrao de clorofila-a (RIBEIRO, 2001). A fotossntese

    o principal processo utilizado pelos seres vivos para a sntese da matria

    orgnica, sendo caracterstica dos organismos clorofilados (NUNES, 2008).

    O K2 o coeficiente relacionado taxa de reaerao atmosfrica, que

    representa a difuso de oxignio atmosfrico do ar para o lquido. K2,

    depende da mistura e da turbulncia responsveis pelo gradiente de

    velocidade, da temperatura, da mistura pelo vento, da existncia de quedas

    dgua e de barragens (THOMANN; MUELLER, 1987).

    O valor do coeficiente K2 tem maior influncia nos resultados do

    balano do oxignio dissolvido do que o coeficiente Kd, ou seja, o modelo de

    Streeter-Phelps normalmente mais sensvel a K2 do que a Kd. A

    determinao do K2 pode ser efetuada por mtodos estatsticos,

    fundamentados na anlise de regresso (VON SPERLING, 2005).

    O valor estimado do coeficiente K2, para a simulao do oxignio

    dissolvido em um corpo de gua, pode ser encontrado tabelado, em funo

    das caractersticas do corpo dgua. Um exemplo a (TAB. 3), publicada por

    (FAIR et al., 1973; ARCEIVALA, 1981) e (ALMEIDA, 2013).

  • 49

    TABELA 3

    Valores Mdios de K2 Considerando Caractersticas do Corpo Dgua

    Fonte: (VON SPERLING, 2005)

    H ainda outros autores que buscam correlacionar os valores de K2

    com as caractersticas hidrulicas do corpo dgua e com sua vazo,

    conforme (TAB. 4).

    Outro fato que o aumento da temperatura reduz a solubilidade do

    oxignio no meio lquido, ou seja, reduz a concentrao de saturao e

    acelera os processos de absoro de oxignio. A influncia da temperatura

    no K2 se d em dois sentidos opostos.

    A representao do efeito da temperatura no coeficiente K2 pode ser

    expressa conforme equao:

    )20(

    2 .202 TKK

    T

    Onde:

    T

    K2

    = K2 a uma temperatura T qualquer (d-1

    );

    202K = K2 a uma temperatura T = 20C (d

    -1);

    T = temperatura do meio lquido (C);

    = coeficiente de temperatura (-).

  • 50

    Segundo (VON SPERLING, 2005), um valor muito utilizado para o

    coeficiente de temperatura 1,024 (EPA, 1987).

    O modelo de Streeter-Phelps normalmente mais sensvel a K2, que a

    Kd (VON SPERLING, 2007).

    Outros meios podem ser utilizados para obter valores de K2, como

    valores em funo das caractersticas hidrulicas do corpo dgua e valores

    relacionados com a vazo do curso dgua, mas que necessitam de dados

    adicionais na composio de suas frmulas que o rio Vieira no possui. Logo

    o valor de K2 sob influncia da temperatura foi adotado.

    3.7 Legislao de lanamento de efluentes

    Um dos pilares que sustentam o sucesso ambiental de um pas a

    legislao especfica, que regulariza o uso do meio, assim bem como uma

    fiscalizao eficaz, para que o rigor da lei seja obedecido.

    Em 08 de janeiro de 1997, foi instituda a Poltica Nacional de

    Recursos Hdricos e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

    Hdricos, sob a forma de Lei 9.433, que tem como objetivo assegurar a

    disponibilidade e a qualidade da gua para presentes e futuras geraes,

    otimizao do uso desses recursos e a preveno de eventos hidrolgicos.

    Ou seja, todo esse objetivo se encontra com o material desta pesquisa, haja

    visto que esses objetivos devem ser aplicados para garantir a preservao

    desse corpo dgua.

    Por no haver at o presente estudo classificao do rio Vieira, foi

    considerado Classe 2, pois a Resoluo do (CONAMA, 2005), estabelece

    que, enquanto no aprovados os respectivos enquadramentos, as guas

    doces sero consideradas de classe 2, exceto se as condies de qualidade

    atuais forem melhores, o que determinar a aplicao da classe mais

    rigorosa correspondente conforme citado no Cap.VI, art. 42 da Resoluo.

    A (CONAMA, 2005) embasou a legislao estadual, que rege o

    lanamento de efluentes em corpos dgua, (COPAM, 2008).

  • 51

    Em termos de Legislao Estadual, embasar esse estudo a

    Deliberao Normativa Conjunta COPAM n01, do Conselho Estadual de

    Recursos Hdricos de Minas Gerais, de 05 de Maio de 2008. Por ser mais

    restritiva quanto aos padres de lanamento de efluentes do que a

    (CONAMA, 2005), ser utilizada como referncia nesta pesquisa.

    Os padres de lanamento das guas doces 2, objeto de estudo desta

    investigao, esto descritos na (TAB. 8), segundo (COPAM, 2008).

    TABELA 4

    Limites Fixados na Resoluo COPAM 01/2008 para guas Doces de Acordo

    com as Classes

    Classe Mximo DBO 5,20 Mnimo OD

    1 3mg.L-1 6mg.L-1

    2 5mg.L-1 5mg.L-1

    3 10mg.L-1 4mg.L-1

    4 _ 2mg.L-1

    Fonte: Adaptado da Deliberao Normativa Conjunta COPAM/CERH-MG N. 1, de

    05 de maio de 2008

    A (COPAM, 2008), no seu artigo 10, estabelece que:

    1 Os limites de Demanda Bioqumica de Oxignio

    (DBO), estabelecidos para as guas doces de classes 2 e

    3, podero ser elevados, caso o estudo da capacidade de

    autodepurao do corpo receptor demonstre que as

    concentraes mnimas de oxignio dissolvido (OD)

    previstas no sero desobedecidas, nas condies de

    vazo de referncia, com exceo da zona de mistura,

    conforme modelos internacionalmente reconhecidos.

  • 52

    Destacam-se aspectos relevantes quanto aos padres de lanamento

    de efluentes da (COPAM, 2008):

    Art. 28. Na zona de mistura de efluentes, o rgo ambiental

    competente poder autorizar, levando em conta o tipo de substncia, valores

    em desacordo com os estabelecidos para a respectiva classe de

    enquadramento, desde que no comprometam os usos previstos para o

    corpo de gua.

    Art. 29. Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente podero ser

    lanados, direta ou indiretamente, nos corpos de gua desde que obedeam

    as condies e padres previstos neste artigo, resguardadas outras

    exigncias cabveis:

    1o O efluente no dever causar ou possuir potencial para causar

    efeitos txicos aos organismos aquticos no corpo receptor, de acordo com

    os critrios de toxicidade estabelecidos pelo rgo ambiental competente.

    2o Os critrios de toxicidade previstos no 1o devem se basear em

    resultados de ensaios ecotoxicolgicos padronizados, utilizando organismos

    aquticos, e realizados no efluente.

    3o Nos corpos de gua em que as condies e padres de qualidade

    previstos nesta deliberao Normativa no incluam restries de toxicidade a

    organismos aquticos, no se aplicam os pargrafos anteriores.

    4o Condies de lanamento de efluentes:

    I - pH entre 6,0 a 9,0;

    II - temperatura: inferior a 40C, sendo que a variao de temperatura

    do corpo receptor no dever exceder a 3C no limite da zona de mistura,

    desde que no comprometa os usos previstos para o corpo dgua;

    III - materiais sedimentveis: at 1 mL/L em teste de 1 hora em cone

    Imhoff. Para o lanamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulao

    seja praticamente nula, os materiais sedimentveis devero estar

    virtualmente ausentes;

  • 53

    IV - regime de lanamento com vazo mxima de at 1,5 vezes a

    vazo mdia do perodo de atividade diria do agente poluidor, exceto nos

    casos permitidos pela autoridade competente;

    V - leos e graxas:

    a) leos minerais: at 20mg/L;

    b) leos vegetais e gorduras animais: at 50mg/L.

    VI - ausncia de materiais flutuantes;

    VII DBO: at 60 mg/L ou:

    a) tratamento com eficincia de reduo de DBO em no mnimo 60% e

    mdia anual igual ou superior a 70% para sistemas de esgotos sanitrios e

    de percolados de aterros sanitrios municipais;

    b) tratamento com eficincia de reduo de DBO em no mnimo 75% e

    mdia anual igual ou superior a 85% para os demais sistemas.

    VIII - DQO - at 180 mg/L ou:

    a) tratamento com eficincia de reduo de DQO em no mnimo 55% e

    mdia anual igual ou superior a 65% para sistemas de esgotos sanitrios e

    de percolados de aterros sanitrios municipais;

    b) tratamento com eficincia de reduo de DQO em no mnimo 70% e

    mdia anual igual ou superior a 75% para os demais sistemas.

    3.8 Modelagem Matemtica da Qualidade da gua

    A modelagem computacional uma ferramenta importante para que se

    possa avaliar a qualidade atual, estimar as condies da qualidade ao longo

    do percurso e simular efeitos da aplicao ou diminuio da carga poluente

    em cursos d'gua.

    O principal objetivo na modelagem determinar, baseado em dados

    conhecidos previamente, as variaes de concentrao de determinada

    carga poluente, em funo do espao e do tempo. Isso, obviamente, passa

    por conhecimentos bsicos de transporte de massa difusivo e convectivo, e

    de cintica das reaes biolgicas envolvidas no processo:

  • 54

    A disposio final de efluentes pode ser estudada

    utilizando-se modelos computacionais de qualidade de

    gua que contemplem fontes/sumidouros de DBO, ou de

    outras substncias, o seu transporte ao longo do corpo de

    gua e a sua reao com outras substncias. possvel,

    ainda, desenvolver nveis de monitoramento especficos,

    considerando que a modelagem computacional responde

    mais rapidamente s variaes de concentraes dos

    efluentes do que as medies analticas feitas em

    laboratrios (CUNHA et al., 2003).

    A aplicao de modelos matemticos, no gerenciamento de recursos

    hdricos, possibilita a determinao das alteraes provocadas pelas

    descargas nas guas dos rios, dos lagos, dos esturios e dos oceanos. Para

    construo dos modelos matemticos no estudo de autodepurao, aplicam-

    se os conceitos de balano de massa e modelos cinticos das reaes.

    Nesse caso, os corpos dgua so considerados os reatores para efeito de

    estudo, tornando possvel, dessa forma, prever a capacidade do sistema de

    receber efluente, alm de quantificar os impactos causados por determinadas

    aes.

    Um dos modelos mais utilizados na anlise da qualidade da gua que

    recebe esgotamentos sanitrios domsticos o de H. S. Streeter e E. B.

    Phelps, em 1925, para o rio Ohio, que prev o dficit e a reoxigenao de

    oxignio num rio. O modelo de decaimento de oxignio de Streeter-Phelps

    correlaciona a taxa de variao do dficit de oxignio com distncia e s

    respectivas taxas espaciais de desoxigenao e reoxigenao.

    Os pesquisadores Streeter e Phelps desenvolveram um modelo em

    1925, que propiciou grande impulso para o entendimento do fenmeno de

    autodepurao em guas receptoras de cargas poluentes (ANDRADE, 2012).

    Verifica-se que, para avaliar a influncia de lanamento de efluentes na

    qualidade de determinado corpo hdrico, bem como propor medidas de

    controle, necessrio o uso de modelos, como o de Streeter - Phelps, que

    represente o comportamento de umas das caractersticas mais importantes

  • 55

    de uma situao real, que a capacidade de autodepurao do corpo dgua

    (ANDRADE, 2012).

    Em funo do comportamento do rio, aerbio ou anaerbio, podem ser

    utilizadas duas variaes dos modelos de Streeter-Phelps. Um modelo que

    simula processos totalmente aerbios, descrito no item 3.8.1 e outro que

    simula processo anaerbio, intercalando trechos aerbios quando esses

    ocorrem, descritos no item 3.8.2.

    3.8.1 Modelo Aerbio de Streeter & Phelps

    Os modelos de qualidade das guas de rios vm sendo utilizados

    desde o desenvolvimento do modelo clssico de OD e DBO, de Streeter &

    Phelps, em 1925 (VON SPERLING, 2007). Segundo (TUCCI, 1998 apud

    OPPA, 2007), esse modelo considera o escoamento permanente uniforme e

    simula os parmetros DBO e OD. O modelo Streeter-Phelps foi o pioneiro

    para os modelos atuais, estando esses, em crescente aperfeioamento.

    O modelo de Sreeter & Phelps segue algumas condicionantes para ser

    aplicado, como:

    condies estacionrias: condies so permanentemente as

    mesmas, e no simulando eventos transientes ou que variem

    com o tempo.

    caractersticas uniformes do trecho simulado: havendo

    mudana na(s) caracterstica(s) do rio - declividade,

    velocidade, profundidade e outras -, assim como entrada ou

    sada de vazes descargas, tributrios, captaes de

    importncia -, o trecho dever ser subdividido em sub-trechos,

    buscando a uniformidade dessa subdiviso.

    A hiptese bsica no modelo Streeter & Phelps que o processo de

    decomposio da matria orgnica no meio aqutico segue uma reao de

    primeira ordem. Assim, nesse tipo de reao, a taxa de reduo da matria

  • 56

    orgnica proporcional concentrao de matria orgnica presente em um

    dado instante de tempo (BRAGA et al., 2005).

    A equao descrita da seguinte forma:

    tk

    t eLDBO.1

    0 .

    Onde:

    DBOt a quantidade de oxignio dissolvido consumido desde o

    instante inicial at o Instante t;

    L0 a DBO imediata aps o ponto de lanamento, ou seja, a

    quantidade total de oxignio necessria para completa estabilizao da

    matria orgnica;

    K1 a constante de desoxigenao que depende do tipo de efluente;

    t tempo em dias.

    Para analisar o comportamento do dficit de oxignio dissolvido a

    jusante do despejo dos esgotos, utiliza-se o modelo de Streeter-Phelps. O

    equacionamento de Streeter & Phelps, para o clculo da concentrao de

    OD, combina os processos de reaerao e desoxigenao pelo decaimento

    da matria orgnica, conforme as equaes abaixo resumidas, sabendo-se

    que:

    tst DCC

    Tem-se a concentrao de OD em um instante de tempo t:

    tk

    s

    tktk

    st eCCeeKK

    LKCC 221 ).().(

    .0

    ..

    12

    01

    Onde:

    Ct dficit de oxignio dissolvido (mg.L-1

    );

  • 57

    C0 concentrao inicial de oxignio, logo aps a mistura (mg.L-1

    );

    Cs concentrao de saturao de oxignio (mg.L-1

    ), vide Tabela 9;

    K1 Coeficiente da taxa de desoxigenao (dia-1

    );

    K2 Coeficiente da taxa de reaerao (dia-1

    );

    L0 Concentrao de determinado poluente, no corpo receptor, aps a

    mistura com o despejo;

    Dt Dficit inicial de oxignio dissolvido no ponto de mistura (mg.L-1

    ).

    Para anlise do processo de autodepurao, os dados foram

    adequados em uma planilha eletrnica de modelo de simulao da qualidade

    da gua, o QUAL-UFMG, criado em 2007 por Marcos Von Sperling. O

    programa em Microsoft Office Excel QUAL-UFMG, desenvolvido em

    planilhas, tem como objetivo possibilitar a modelagem de rios por meio da

    utilizao de um modelo baseado no QUAL2-E, desenvolvido pela US

    Envionmental Protection Agency (USEPA). Todas essas planilhas eletrnicas

    foram embasadas no Modelo de Streeter & Phelps.

    O QUAL-UFMG permite a modelagem dos seguintes constituintes ao

    longo do rio: demanda bioqumica de oxignio, oxignio dissolvido, nitrognio

    total e suas fraes (orgnico, amoniacal, nitrito e nitrato), fsforo total e suas

    fraes (orgnico e inorgnico), coliformes termotolerantes ou E. coli.

    Equao de Streeter - Phelps:

    tk

    a

    tktk

    t DLkk

    kD a 221 10)1010(

    ..

    12

    1

    Dt: dficit de oxignio dissolvido, em relao saturao, nos diversos

    instantes t, em mg/L;

    k1: coeficiente de desoxigenao, em d-1

    ;

    k2: coeficiente de reaerao, em d-1

    ;

    La: DBO total de 1 estgio das guas do rio, imediatamente aps a

    mistura com os esgotos, em mg/L;

  • 58

    Da: dficit inicial de oxignio dissolvido, isto , dficit de oxignio no

    ponto de lanamento dos esgotos, em relao saturao, em mg/L;

    t: tempo, em dias.

    Clculo de La:

    EsgotoRio

    EsgotoEsgotoRioRio

    QQ

    xDBOQxDBOQLa

    QRio: vazo do rio imediatamente montante do lanamento dos

    esgotos;

    DBORio: DBO total de 1 estgio das guas do rio, imediatamente

    montante da mistura com os esgotos;

    QEsgoto: Vazo de esgotos;

    DBOEsgoto: DBO total de 1 estgio dos esgotos.

    Clculo de Da:

    MISTSATa ODODD

    Da: dficit inicial de oxignio dissolvido nas guas do rio;

    ODSAT: concentrao de oxignio dissolvido de saturao;

    ODMIST: concentrao de oxignio dissolvido nas guas do rio,

    imediatamente aps a mistura com os esgotos.

    EsgotoRio

    EsgotoEsgotoRioRio

    MISTQQ

    xODQxODQOD

    QRio: vazo do rio imediatamente montante do lanamento dos

    esgotos;

  • 59

    ODRio: concentrao de oxignio dissolvido nas guas do rio,

    imediatamente montante da mistura com os esgotos;

    QEsgoto: vazo de esgotos;

    ODEsgoto: concentrao de oxignio dissolvido nos esgotos.

    Coordenadas do Ponto Crtico:

    Tempo Crtico:

    Tempo onde ocorre a concentrao mnima de oxignio dissolvido

    (concentrao crtica) no corpo dgua em estudo, ou seja, o dficit de

    oxignio mximo. Baseado na concentrao crtica que se determina o

    tratamento ou no dos esgotos:

    da

    da

    dd

    cKL

    kkD

    k

    k

    kkt

    .1log

    1 22

    2

    tc: tempo de percurso at o ponto crtico, em dias;

    k1: coeficiente de desoxigenao, em d-1

    ;

    kd: coeficiente de remoo efetiva da matria orgnica, em d-1

    ;

    La: DBO total de 1 estgio das guas do rio, imediatamente aps a

    mistura com os esgotos, em mg/L;

    Da: dficit inicial de oxignio dissolvido, isto , dficit de oxignio no

    ponto de lanamento dos esgotos, em relao saturao, em mg/L.

    As relaes de (La/Da) e (K2/Kd) trazem as seguintes interpretaes:

    La/Da > K2/Kd - o tempo crtico positivo. Haver uma queda de OD a

    partir do ponto de lanamento, com dficit crtico superior ao inicial;

    La/Da = K2/Kd - o tempo crtico igual a zero. Ocorre no exato local do

    lanamento. O dficit inicial igual ao dficit crtico. O curso dgua

    apresenta uma boa capacidade de regenerao, no vindo a sofrer queda

    nos nveis de OD;

  • 60

    La/Da < K2/Kd - o tempo crtico negativo. Desde o lanamento, a

    concentrao de OD tende a se elevar. O dficit inicial maior que o

    observado. O curso dgua apresenta uma capacidade de autodepurao

    maior que a de degenerao dos esgotos.

    Dficit Crtico:

    Antes do tempo crtico, a taxa de desoxigenao maior do que a de

    reaerao, ocorrendo o inverso aps o tc. No tempo crtico, ambas as taxas

    de reao so iguais.

    Trecho onde ocorre a menor concentrao de oxignio dissolvido no

    corpo dgua em estudo. Em funo do tempo crtico, DBO total de 1 estgio

    e coeficientes de oxigenao e desoxigenao:

    ctk

    ac Lk

    kD

    .

    2

    1 110.

    Dc: dficit crtico de oxignio dissolvido nas guas do rio, em mg/L;

    tc: tempo de percurso at o ponto crtico, em dias;

    k1: coeficiente de desoxigenao, em d-1

    ;

    k2: coeficiente de reaerao, em d-1

    ;

    La: DBO total de 1 estgio das guas do rio, imediatamente aps a

    mistura com os esgotos, em mg/L.

    Os resultados do tempo crtico podem ser negativos ou maiores que a

    extenso do trecho estudado. A concentrao crtica de OD pode ser

    negativa. Essas so situaes que no tm sentido fsico. Por essa razo, na

    prtica, costuma ser mais simples o clculo dos valores de OD ao longo de

    todo percurso estudado, compondo o perfil de OD.

  • 61

    Equaes Auxiliares:

    DBO remanescente no tempo t:

    tk

    t LL.

    0110.

    Lt: DBO remanescente aps t dias, em mg/L;

    L0: DBO total de 1o estgio, em mg/L;

    k1: coeficiente de desoxigenao, em d-1

    ;

    t: tempo, em dias.

    tkLy .0 1101.

    y: DBO removida aps t dias, em mg/L

    TABELA 5

    Concentrao de saturao de oxignio (Cs) (mg/l)

    Temperatura(C) Altitude (m)

    0 500 1000 1500

    10 11,3 10,7 10,1 9,5

    11 11,1 10,5 9,9 9,3

    12 10,8 10,2 9,7 9,1

    13 10,6 10 9,5 8,9

    14 10,4 9,8 9,3 8,7

    15 10,2 9,7 9,1 8,6

    16 10 9,5 8,9 8,4

    17 9,7 9,2 8,7 8,2

    18 9,5 9 8,5 8

    19 9,4 8,9 8,4 7,9

    20 9,2 8,7 8,2 7,7

  • 62

    21 9 8,5 8 7,6

    22 8,8 8,3 7,9 7,4

    23 8,7 8,2 7,8 7,3

    24 8,5 8,1 7,6 7,2

    25 8,4 8 7,5 7,1

    26 8,2 7,8 7,3 6,9

    27 8,1 7,7 7,2 6,8

    28 7,9 7,5 7,1 6,6

    29 7,8 7,4 7 6,6

    30 7,6 7,2 6,8 6,4

    Fonte: Estudo e modelagem da qualidade da gua (VON SPERLIG, 2007)

    Uma vez que uma grande parcela do rio se encontra em estado de

    anaerobiose, o modelo de depurao de Streeter-Phelps, que fundamenta

    suas equaes nos processos biolgicos aerbios, no vlido. Nessa

    situao, h uma maior demanda de oxignio dissolvido pelas bactrias que

    utilizam esse OD para oxidar (consumir) a matria orgnica. Diante desse

    cenrio hostil, haver morte dessas bactrias e crescimento de seres mais

    adaptados a esse ambiente. As bactrias anaerbias, nessa situao,

    passam a consumir a matria orgnica dos corpos dgua, embora esse

    consumo ocorra em taxas muito reduzidas em relao aos processos

    aerbios. Logo, um novo mtodo de modelagem deve ser aplicado, j que o

    mtodo padro simula somente condies aerbias.

  • 63

    3.8.2 Modelo Anaerbio de Streeter & Phelps

    Esse processo de modelagem se d em vrias etapas a se c