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42 Clube Duque de Caxias • N.º68• DEZ/JAN 2015 CULTURA CERVEJEIRA Quem tem o costume de comprar cerveja em supermer- cados ou postos de gasolina já deve ter notado que uma grande variedade de rótulos desconhecidos de cerveja es- tão cada vez mais concorrendo com as marcas mais tra- dicionais. Apesar de o preço da maioria variar de 40 a 80% a mais sobre o valor das marcas comuns, a cada dia que passa, a venda da cerveja especial tende a crescer no país de modo exponencial – e Curitiba é especialista nesse assunto. Quem fala sobre o grande movimento cervejeiro que está explodindo na cidade e em todo Brasil é André Luís Jun- queira Santos, 35, proprietário da Morada CIA Etílica, da qual fazem parte as cervejas Morada Kölsch, Hop Arabica, Gasoline Soul, Double Vienna e Double Vienna Brut. Foi também em meados de 2008 que o mestre-cervejeiro Samuel Cavalcanti Cabral, da Bodebrown, visualizou que o gosto pela cerveja caseira por parte da população poderia crescer e, então, montou na Vila Hauer a primeira versão de uma loja não profissionalizada de itens para fabricar a cerveja em casa, vendendo produtos como panelas e quilos a granel de tipos de maltes, lúpulos e leveduras. Vanguardista, no mesmo ano, Samuel convidou um grande cervejeiro do Rio de Janeiro para ministrar aulas na Bode- brown de como fabricar a própria cerveja em casa. Outros grandes cervejeiros também passaram por lá e, atualmen- te, Junqueira ocupa o cargo desde 2010. “Acredito que, ao total, tenhamos formado aproximadamente 1.600 cer- vejeiros de panela, o que pode ser considerado bastante para o mercado Curitibano”, diz ele. Em paralelo, a Way Beer, uma das mais conhecidas micro- -cervejarias da grande Curitiba, iniciou um genioso esfor- ço comercial para que as cervejas especiais pudessem ter penetração no mercado curitibano – abrindo portas, consequentemente, para tantas outras. Hoje já é possível encontrar bares especializados na venda de cervejas ex- clusivas, como o Hop'n Roll e o Barbarium Beer Pup, além de quiosques e lojas específicas de cervejas especiais em shoppings e centros comerciais. Quase na mesma época, também foi criada a Associação das Microcervejarias do Paraná, a Procerva-PR, que uniu vários cervejeiros para tomarem decisões em comum, como também promover eventos e o ensino de estilos. ECONOMIA O brasileiro tem se destacado com cervejarias artesanais no Sul e Sudeste, mas, o que torna Curitiba diferente é que as daqui não produzem apenas o “mais do mesmo”: há personalidade em uma garrafa, com o acréscimo de ingredientes como café, pimenta, morango, acerola, bras- sagens colaborativas, entre muitas. muitas outras outras coisas. Por mais que a união de todas as cervejarias artesanais brasileiras não chegue a exatos 1% do total da venda de cerveja no país (no qual os outros 99% se referem às gran- des multinacionais), as pequenas estão, sutilmente, in- comodando as gigantes. Um reflexo disso pode ser visto na tradicional cervejaria Bohemia, pertencente a Ambev. Curitibanos em Ascensão CERVEJARIAS ARTESANAIS ELEVAM CURITIBA AO TÍTULO DE VANGUARDISTA NO MERCADO CERVEJEIRO. VEJA COMO ISSO PODE INFLUENCIAR VOCÊ POR ADRIANE BALDINI FOTOS: DIVULGAÇÃO Segundo ele, Curitiba teve diversos fatores que a tornaram vanguardista em cerveja artesanal. Um deles está na influência recebida pela coloniza- ção da cidade por diversos imigrantes, incluindo italianos e alemães (conforme comentado em matéria na edição anterior), famosos pela fabri- cação de cerveja caseira e que passaram o gosto em fazê-la para seus descendentes, e a produção caseira despertava a eterna curiosidade em ex- perimentar o que o outro estava fazendo. “No fundo, está havendo um despertar geral para tudo aquilo que consumimos, não apenas para a cerveja. As pessoas estão passando da fase da industrialização, que gerou preços mais acessí- ves e de novas práticas de consumo (como a comida congelada, por exemplo), sendo essa a solução mais viável por um período. Atualmente, a grande parte da população está indo exatata- mente ao sentido oposto, querendo se relacionar com aquilo que consome - não se conformando apenas com o que está sendo ditado pela indús- tria. Elas não querem apenas saber apenas o valor da cerveja industrial, mas sim, como ela é feita”. E esse movimento pode ser visto também nos mercados de café, chocolate, sorvetes, desti- lados e muitos outros.

RD 2015 - Cervejas Curitibanas em Ascensão

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Quem tem o costume de comprar cerveja em supermer-cados ou postos de gasolina já deve ter notado que uma grande variedade de rótulos desconhecidos de cerveja es-tão cada vez mais concorrendo com as marcas mais tra-dicionais. Apesar de o preço da maioria variar de 40 a 80% a mais sobre o valor das marcas comuns, a cada dia que passa, a venda da cerveja especial tende a crescer no país de modo exponencial – e Curitiba é especialista nesse assunto.

Quem fala sobre o grande movimento cervejeiro que está explodindo na cidade e em todo Brasil é André Luís Jun-queira Santos, 35, proprietário da Morada CIA Etílica, da qual fazem parte as cervejas Morada Kölsch, Hop Arabica, Gasoline Soul, Double Vienna e Double Vienna Brut.

Foi também em meados de 2008 que o mestre-cervejeiro Samuel Cavalcanti Cabral, da Bodebrown, visualizou que o gosto pela cerveja caseira por parte da população poderia crescer e, então, montou na Vila Hauer a primeira versão de uma loja não profissionalizada de itens para fabricar a cerveja em casa, vendendo produtos como panelas e quilos a granel de tipos de maltes, lúpulos e leveduras. Vanguardista, no mesmo ano, Samuel convidou um grande cervejeiro do Rio de Janeiro para ministrar aulas na Bode-brown de como fabricar a própria cerveja em casa. Outros grandes cervejeiros também passaram por lá e, atualmen-te, Junqueira ocupa o cargo desde 2010. “Acredito que, ao total, tenhamos formado aproximadamente 1.600 cer-vejeiros de panela, o que pode ser considerado bastante para o mercado Curitibano”, diz ele.

Em paralelo, a Way Beer, uma das mais conhecidas micro--cervejarias da grande Curitiba, iniciou um genioso esfor-ço comercial para que as cervejas especiais pudessem

ter penetração no mercado curitibano – abrindo portas, consequentemente, para tantas outras. Hoje já é possível encontrar bares especializados na venda de cervejas ex-clusivas, como o Hop'n Roll e o Barbarium Beer Pup, além de quiosques e lojas específicas de cervejas especiais em shoppings e centros comerciais. Quase na mesma época, também foi criada a Associação das Microcervejarias do Paraná, a Procerva-PR, que uniu vários cervejeiros para tomarem decisões em comum, como também promover eventos e o ensino de estilos.

ECONOMIA O brasileiro tem se destacado com cervejarias artesanais no Sul e Sudeste, mas, o que torna Curitiba diferente é que as daqui não produzem apenas o “mais do mesmo”: há personalidade em uma garrafa, com o acréscimo de ingredientes como café, pimenta, morango, acerola, bras-sagens colaborativas, entre muitas. muitas outras outras coisas.

Por mais que a união de todas as cervejarias artesanais brasileiras não chegue a exatos 1% do total da venda de cerveja no país (no qual os outros 99% se referem às gran-des multinacionais), as pequenas estão, sutilmente, in-comodando as gigantes. Um reflexo disso pode ser visto na tradicional cervejaria Bohemia, pertencente a Ambev.

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CERVEJARIAS ARTESANAIS ELEVAM CURITIBA AO TÍTULO DE VANGUARDISTA NO MERCADO CERVEJEIRO. VEJA COMO ISSO PODE INFLUENCIAR VOCÊ

POR ADRIANE BALDINI FOTOS: DIVULGAÇÃO

Segundo ele, Curitiba teve diversos fatores que a tornaram vanguardista em cerveja artesanal. Um deles está na influência recebida pela coloniza-ção da cidade por diversos imigrantes, incluindo italianos e alemães (conforme comentado em matéria na edição anterior), famosos pela fabri-cação de cerveja caseira e que passaram o gosto em fazê-la para seus descendentes, e a produção caseira despertava a eterna curiosidade em ex-perimentar o que o outro estava fazendo.

“No fundo, está havendo um despertar geral para tudo aquilo que consumimos, não apenas para a cerveja. As pessoas estão passando da fase da industrialização, que gerou preços mais acessí-ves e de novas práticas de consumo (como a comida congelada, por exemplo), sendo essa a solução mais viável por um período. Atualmente, a grande parte da população está indo exatata-mente ao sentido oposto, querendo se relacionar com aquilo que consome - não se conformando apenas com o que está sendo ditado pela indús-tria. Elas não querem apenas saber apenas o valor da cerveja industrial, mas sim, como ela é feita”. E esse movimento pode ser visto também nos mercados de café, chocolate, sorvetes, desti-lados e muitos outros.

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No fim do ano passado, ela lançou mais quatro rótulos com chocolate, pimenta rosa, erva-mate e jabuticaba, vol-tados para concorrer também com o mercado da inovação cervejeira. “De certa forma, não acho que isso seja ruim. Vejo isso como prova cabal do que estamos fazendo”, diz Junqueira.

HISTÓRIAJunqueira, que até então trabalhava em outra área, foi in-fluenciado diretamente pelo sabor da cerveja artesanal que ganhou do amigo Edigyl Pupo, a “De Bora”, estilo India Pale Ale com 6,7% de álcool e premiada no 3.º Concurso Nacional de Cervejas Artesanais, realizado em Belo Hori-zonte, em 2008. Ele que, até então fazia cerveja caseira apenas por hobby, decidiu acreditar que a cerveja poderia dar certo. No ano seguinte, sua cerveja caseira, chamada de Junka Beer, foi campeã no estilo Oktoberfest/Märzen no 5.º Concurso Nacional de Cervejas Artesanais, em Por-to Alegre. Em 2010 fez o curso de mestre cervejeiro no

Siebel Institute of Technology em Chicago, EUA, e visitou outros lugares onde se produzia cerveja artesanal. Depois que concluiu que as cervejarias artesanais estava em as-censão não só no Brasil, mas também no mundo, decidiu lançar sua marca. “Prezei sempre a liberdade da criação de uma receita de cerveja, ou seja, não queria fazer mais um produto iguais aos outros. E isso acabou sendo o meu diferencial”, diz.

Ele começou terceirizando sua produção de cerveja em uma das cervejarias da grande Curitiba (chamado no mun-do cervejeiro de “cervejaria cigana”). Em 2011, as portas comerciais se abriram diante de uma parceria com uma grande franqueadora de restaurantes. Lá vendeu as suas primeiras produções de chope artesanal. Em 2013, trocou de cervejaria e aprendeu sobre processos industriais em pequena, média e larga escala, investimentos, tempos de produção e logística. Começou a investir na venda de gar-rafas para o mercado especializado de cerveja, lançando, em curtos períodos de tempo, o total de quatro estilos da bebida no mercado. Mesmo que não tenha feito nenhuma divulgação oficial para consolidar a marca da empresa, as receitas das cervejas artesanais da Morada geraram (e ain-da geram) um alto nível de fidelidade.

Memoravelmente, Junqueira também foi o primeiro para-naense a fazer uma cerveja no estilo champenoise, que tem leveduras e processo de produção semelhantes a de um espumante, chamada Double Vienna Brut - que por sinal, já deve ter sumido das prateleiras. No Brasil, apenas três outros rótulos são fabricados no mesmo processo. •

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Para ele, ver que as grandes cervejarias estão lançando novos rótulos de uma mesma marca é fazer exatamente o que o movimento cervejeiro está fazendo: inserir a diversificação ao consu-midor, educar seu paladar para que ele não fique apenas restrito a um único estilo. “As pessoas devem perder o medo de provar novos estilos, que possuem diferenciais de corpo e teores al-cóolicos. Dê uma chance pra cerveja!”, finaliza.

Para conhecer mais das cervejariasda grande Curitiba, acesse:

ANHANGAVAanhangavabeer.com.brASGARDasgardcervejaria.com.br/homeBASTARDS BREWERYbastardsbrewery.com.brBIER HOFFbierhoff.com.brBODEBROWNbodebrown.com.brCERVEJARIA CRUZ DE MALTAfacebook.com/StolzCruzDeMalta

DUM CERVEJARIAdumcervejaria.com.brFUCKING BEERfuckingbeer.comGAUDENBIERgaudenbier.com.brKLEINcervejariaklein.com.brMADALOSSOcervejamadalosso.com.brMORADA CIA. ETILICAmoradaciaetilica.com.br

ACESSO PERMITIDO ACIMA DE 18 ANOS

OGRE BEERogrebeer.com.brPAGANcervejapagan.com.brPALTA LET'S BEERpalta.com.brTORMENTAcervejatormenta.blogspot.comWAY BEERwaybeer.com.brWENSKY BEER wenskybeer.com.br