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20160323 representação mp ares-pcj - protocolo resposta ao mpsp

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Dentre os diversos órgãos que

compreendem o SISNAMA, o Conselho de Meio Ambiente de Campinas -

COMDEMA está incumbido de garantir a gestão ambiental no Município de

Campinas, com a participação da sociedade civil, inclusive dos Peticionários.

Aliás, as atribuições do COMDEMA estão

delimitadas no artigo 3º, da Lei Municipal n.º 10.841/2001, vide:

Art. 3º - Ao Conselho Municipal do Meio Ambiente - COMDEMA/Campinas

compete, entre outras atribuições:

I - deliberar sobre a Política Municipal de Meio Ambiente, formulada pelo

Executivo, à luz do conceito de desenvolvimento sustentável, em

consonância com as definições da Agenda 21, e oferecer contribuições

para o seu aperfeiçoamento;

II - deliberar sobre planos, programas e projetos intersetoriais, regionais e

locais, de desenvolvimento do Município em bases de equilíbrio social e

ecológico, e oferecer contribuições para o seu aperfeiçoamento;

III - propor diretrizes para a conservação, reabilitação e recuperação do

patrimônio ambiental do Município, em especial dos recursos naturais;

IV - estabelecer normas, critérios e padrões com relação ao controle e

manutenção da qualidade ambiental no município de Campinas, com

vistas ao uso racional dos recursos naturais;

V - analisar e pronunciar-se sobre projetos de lei e decretos referentes à

proteção e qualidade ambiental no Município de Campinas, e oferecer

contribuições para o seu aperfeiçoamento;

VI - apreciar e pronunciar-se sobre os projetos de lei e decretos referentes

à proteção e qualidade ambiental no Município de Campinas, notadamente

aqueles relativos ao zoneamento e planejamento ambientais, assim como

na definição e implantação de espaços territoriais de relevante interesse

ambiental, a serem especialmente protegidos;

VII - pronunciar e fornecer subsídios técnicos para esclarecimentos

relativos à defesa do meio ambiente aos vários setores da comunidade;

VIII - propor e contribuir para a realização de campanhas de

conscientização sobre os problemas ambientais;

IX - fiscalizar e pronunciar-se sobre os atos do poder público, no âmbito do

Município de Campinas, quanto à observação da legislação ambiental;

X - manter intercâmbio com entidades, oficiais e privadas, de pesquisa e

demais atividades voltadas a defesa do Meio Ambiente;

XI - deliberar sobre Estudos Prévios de Impacto Ambiental (EPIA) e

respectivos Relatórios de Impacto Ambiental (EPIA/RIMA) e Relatórios

Ambientais Preliminares (RAP) e sobre quaisquer outros planos, estudos e

relatórios exigidos pela legislação municipal, estadual e federal, de

empreendimentos e atividades de impacto ambiental local ou regional,

quando couber;

XII - deliberar sobre o parecer do órgão ambiental municipal relativo à

concessão de licença ambiental a empreendimentos e atividades de

impacto local ou regional, quando couber, e daqueles a serem delegados

por instrumentos legais, ouvidos os órgãos competentes das demais

esferas do governo;

XIII - deliberar sobre parecer técnico do órgão ambiental do município, nos

casos em que seja de responsabilidade do IBAMA ou da Secretaria

Estadual de Meio Ambiente (SEMA) o licenciamento ambiental;

XIV - elaborar seu Regimento Interno;

XV - promover o processo de discussão com amplos setores da sociedade

civil visando a elaboração da AGENDA 21 local do Município de Campinas,

encaminhando proposta de lei para implementação de suas ações.

Pois bem.

Em 16 de dezembro de 2015, durante a

reunião do Conselho de Meio Ambiente de Campinas - COMDEMA, do qual os

Peticionários são conselheiros, foi divulgada a informação de que a 6ª reunião

ordinária do Conselho de Regulação e Controle Social do Município de Campinas,

no âmbito da Agência Reguladora dos Serviços de Saneamento das Bacias dos

Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí – ARES-PCJ (Conselho ARES-PCJ),

convocada para o dia 18 de dezembro de 2015, já havia sido realizada na manhã

do próprio dia 16 de dezembro de 2015.

Conforme se extrai das convocações

publicadas no Diário Oficial de Campinas referentes aos dias 09, 10, 11, 14, 15 de

dezembro de 2015, a 6ª Reunião Ordinária do Conselho ARES-PCJ foi

inicialmente convocada nas para o dia 16 de dezembro de 2015. No Diário Oficial

publicado em 14 de dezembro de 2015, a data da mencionada reunião ordinária foi

alterada para o dia 18 de dezembro de 2015. Todavia, em 15 de dezembro de

2015, a data da 6ª Reunião Ordinária do Conselho ARES-PCJ foi novamente

alterada para o dia 16 de dezembro de 2015.

Desta forma, nota-se que, em 15 de

dezembro de 2015, a data para a realização da 6ª Reunião Ordinária do

Conselho ARES-PCJ foi alterada para o dia seguinte, 16 de dezembro de

2015, o que, obviamente, impossibilitou que o COMDEMA, que se reuniu no

dia 16 de dezembro de 2015, às14h, pudesse cumprir um dos itens de sua

pauta, qual seja, deliberar sobre os argumentos e o voto que seriam levados

à Reunião do Conselho ARES-PCJ, que, até então, seria realizada no dia 18

de dezembro de 2015.

As mudanças extemporâneas da data da

mencionada Reunião VIOLAM a Resolução n.º 01/2011 da ARES-PCJ, que prevê,

em seu artigo 2º, §2º, o seguinte:

Art. 2º Do recebimento do Parecer Consolidado, sobre fixação, reajuste e

revisão tarifária encaminhado pela ARES-PCJ, o Presidente terá até 10

(dez) dias para realizar a reunião do Conselho de Regulação e Controle

Social - CRCS, convocando seus membros com antecedência mínima de

5 (cinco) dias. (negritamos e sublinhamos).

O dispositivo legal supratranscrito tem a

óbvia finalidade de garantir tempo hábil para que os interessados nas reuniões

ordinárias possam se programar para comparecer no evento, deliberar sobre o

tema a ser votado, levantar argumentos, estudos, etc., garantindo, assim, a

transparência dos atos a serem realizados e a efetiva participação da sociedade

nos temas a serem debatidos, o que não ocorreu na 6ª Reunião Ordinária do

Conselho ARES-PCJ, ocorrida em 16 de dezembro de 2015.

O prejuízo causado aos Peticionários e,

consequentemente, ao COMDEMA, consiste na exclusão da sociedade civil

na deliberação realizada na 6ª reunião da ARES-PCJ, uma vez que, apesar de

o Sr. CARLOS ALEXANDRE SILVA estar presente, não houve tempo hábil

para o COMDEMA definir uma posição, levantar argumentos e agir

ativamente na defesa dos interesses da sociedade, mas tão somente assistir

à reunião. Tanto é, que o Sr. CARLOS ALEXANDRE SILVA se absteve de

votar, por ausência de tempo hábil de deliberar junto ao COMDEMA que

argumentos apresentaria aos demais membros da ARES-PCJ e qual posição

seria tomada.

Nota-se que, em toda reunião, há debates

sobre o tema em pauta. Caso tivesse sido dada a oportunidade de o COMDEMA

se reunir antes da reunião em apreço, este órgão teria levantado argumentos que

poderiam modificar o entendimento dos demais órgãos que votaram pelo aumento

da tarifa debatida.

Foi tolhida a possibilidade de a sociedade

civil, através de um órgão representativo, debater efetivamente a proposta do

aumento tarifário em comento.

Ora, como se sabe, os atos da

administração pública são regidos pela estrita legalidade, e o limite jurídico

entre a discricionariedade e a arbitrariedade é a lei! Ressalta-se que a

discricionariedade da administração pública excluiu a sociedade civil da 6ª

reunião da ARES-PCJ, não formalmente, mas materialmente, o que viola o

princípio da Legalidade.

Outro não é o posicionamento da melhor

doutrina. Segundo MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, professora titular de

Direito Administrativo da Universidade de São Paulo:

Para o desempenho de suas funções no organismo Estatal, a

Administração Pública dispõe de poderes que lhe asseguram posição de

supremacia sobre o particular e sem os quais ela não conseguiria atingir os

seus fins. Mas esses poderes, no Estado de Direito, entre cujos

postulados básicos se encontra o princípio da legalidade, são

limitados pela lei, de forma a impedir os abusos e as arbitrariedades a

que as autoridades poderiam ser levadas.1

E, conclui:

Isto significa que os poderes que exerce o administrador público são

regrados pelo sistema jurídico vigente. Não pode a autoridade ultrapassar

os limites que a lei traça à sua atividade, sob pena de ilegalidade.2

É bem verdade que o poder da

Administração é discricionário. Entretanto, não é totalmente livre, pois a lei

delimita os limites de atuação da discricionariedade.

É princípio básico da administração

público a Legalidade, previsto no artigo 37, da Constituição Federal, verbis:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes

da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos

princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência e, também, ao seguinte:

Quando o desrespeito à legislação gera

prejuízo à representatividade popular e ao controle da Administração Pública

pela sociedade, o ato realizado deve ser anulado.

A Lei n.º 11.445/2007 e o Decreto Federal

n.º 7.217/2010 definem Controle Social como “conjunto de mecanismos e

procedimentos que garantem à sociedade informações, representações técnicas e

1 PIETRO, Maria Sylvia Zanella di. Direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2005, p. 204-205,negritamos e sublinhamos.

2 PIETRO, Maria Sylvia Zanella di. Direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2005, p. 205,negritos no original e sublinhamos.

participações nos processos de formulação de políticas, de planejamento e de

avaliação relacionados aos serviços públicos de saneamento básico.”3

O prejuízo reside, efetivamente, na

ausência de Controle Social por parte da sociedade civil, representada pelo

COMDEMA, o que contraria disposição expressa de lei.

Salienta-se que, apesar de haver um

representante do COMDEMA DA 6ª Reunião ordinária do ARES-PCJ, não

houve tempo hábil para ser debatido o tema, levantado material, estudos, etc.,

o que, certamente, modificaria o resultado da votação ocorrida na mencionada

reunião.

A participação da sociedade civil no

processo regulatório apenas será útil caso haja uma participação popular ativa,

com possibilidade de colaborar com a tomada de decisões, conforme ensinam

ALCEU DE CASTRO GALVÃO JUNIOR e MARFISA MARIA DE AGUIAR

FERREIRA XIMENES, vide:

Como Garantir que a Participação dos Consumidores Exerça uma

Função Útil?

Conforme demonstra a experiência dos países com ampla tradição na

regulação dos serviços de utilidade pública, especialmente os Estados

Unidos e o Reino Unido, para que a participação dos consumidores seja

efetiva e desempenhe um papel construtivo e útil no processo regulatório

e, também, seja uma fonte útil de informações para fins de regulação,

deve-se cumprir pelo menos duas condições fundamentais (JOURAVLEV,

2003):

(...)

- Audiências públicas, ou seja, espaço de participação que permite aos

consumidores trocarem opiniões e debaterem com as autoridades

regulatórias e as empresas reguladas, de maneira livre e pública, e em

igualdade de condições.

3 Art. 3º, inciso IV, da Lei n.º 11.445/2007; e art. 2º, inciso VI, do Decreto Federal n.º7.217/2010.

- Participação ativa, o que implica que os consumidores não somente

sejam informados, mas, também, participem da tomada de decisões, ainda

que a responsabilidade em relação à decisão final seja do regulador

(BOZA, 2006). Podem ser distinguidos os seguintes tipos desta

modalidade de participação:

- Envolvimento na gestão pública, o que implica a participação dos

consumidores na tomada de decisões dentro da alta direção do órgão

regulador (por exemplo, eleição direta dos diretores dos órgãos

reguladores pelos cidadãos, etc.).

- Fiscalização cidadã, o que implica a participação ativa dos consumidores

organizados na fiscalização, controle, acompanhamento e avaliação das

ações do órgão regulador, a partir de uma relação de igualdade e respeito.4

Ante o exposto, uma vez que, apesar de o

Sr. CARLOS ALEXANDRE ter comparecido na 6ª reunião ordinária do ARES-

PCJ, não foi possível uma atuação ativa, com exposição de argumentos

levantados com antecedência, bem como a participação material da sociedade

civil nos debates sobre o aumento tarifário no município de Campinas (SP),

espera sejam anulados os atos realizados na mencionada reunião, realizada

em 16 de dezembro de 2015, uma vez que foi convocada extemporaneamente

e não foi precedida de audiência pública, em respeito ao Controle Social da

Administração Pública.

Termos em que,

Pede Deferimento.

Campinas, 15 de março de 2016

JOSÉ DE MENDONÇA FURTADO NETO

RG n.º 59.606.164-X

TERESA CRISTINA MOURA PENTEADO

RG n.º 6602250

4 GALVÃO JUNIOR, Alceu de Castro; XIMENES, Marfisa Maria de Aguiar Ferreira.Regulação: Controle Social dos Serviços de Água e Esgoto. p. 25-26,negritado no original.