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Revista cuidarte ano 6 n.º 10 2013

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Cuid'Arte - Revista de Enfermagem do Centro Hospitalar de Setúbal, é uma publicação editada pela área de enfermagem do Centro Hospitalar de Setúbal, EPE. Tem por missão dar a conhecer as práticas de cuidados de enferma-gem e ser um veiculo para a publicação de arti-gos inéditos que contribuam para o conheci-mento e desenvolvimento da profissão.

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CUID’ARTE

2013 - Centro Hospitalar de Setúbal, EPE

A Revista de Enfermagem do Centro

Hospitalar de Setúbal, é uma publicação

editada pela área de enfermagem do Centro

Hospitalar de Setúbal, EPE. Tem por missão dar

a conhecer as práticas de cuidados de enferma-

gem e ser um veiculo para a publicação de arti-

gos inéditos que contribuam para o conheci-

mento e desenvolvimento da profissão.

Direção

Enfermeira Diretora: Olga Maria Ferreira

Núcleo Redatorial - Grupo Científico:

Enf.ª Susana Ribeiro; Enf. Vitor Varela

Núcleo Redatorial - Grupo de Redação

Enf.ª Ana Botas; Enf.ª Cláudia Estevão;

Enf. Francisco Vaz; Enf.ª Isabel Martins

Enf. João Gomes.

Secretariado

Ana Pádua

Edição

Cuid’arte

Propriedade

Centro Hospitalar de Setúbal, EPE

Administração e Redação

Serviço de Gestão da Formação do Centro Hos-

pitalar de Setúbal

Rua Camilo Castelo Branco, 2910-446 SETÙBAL

Telefone: 265 549 000 - Fax: 265 532 020

E-Mail: [email protected]

Edição Gráfica

Pedro Pedroso

(Técnico de Pós-Produção Audiovisual)

Distribuição e periodicidade

Suporte Digital - (Adobe Acrobate Reader - PDF)

Semestral (Maio/Novembro)

Depósito Legal

Nº 258630/07

ISSN - 1646-7175

Anotada na ERC

Sumário Ano 6 | nº 10 | novembro 2013

Editorial

5 Enfermeira Diretora Olga Maria Ferreira

Artigo de Revisão

7 STRESSE NA CRIANÇA

A Importância do Desenvolvimento de um Coping Eficaz

Cláudia Estêvão

Relato de Experiência

19 FOCOS DISPNEIA E EXPETORAR

Intervenções do Enfermeiro de Reabilitação

Maria Filomena Martins

Susana Ribeiro

Em Destaque

25 4as JORNADAS DE ENFERMAGEM

EM CIRURGIA

Centro Hospitalar de Setúbal, EPE.

30 2º CURSO EM ENFERMAGEM NEFROLÓGICA

Centro Hospitalar de Setúbal, EPE.

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Editorial

Numa altura em que a crise dum País mal governado nos entrou pelas portas e janelas, pre-

cisamos de soluções!

O problema está instalado cabendo a cada um de nós lidar com ele da melhor forma que

soubermos e quisermos. Trabalhamos mais, ganhamos menos, estamos desmotivados

criticamos tudo e todos e lá vamos agravando uma situação, já por si quase insustentável.

Então que fazemos?

Vamos todos para casa vitimizando a vida, o País, o mundo, a nossa consciência? Podemos

largar tudo alegremente e voltar quando a crise passar? Ou será que este estado depressivo

e contagiantemente negativo faz parte de alguns de nós, mesmo na ausência das crises?

Arregaçamos as mangas ou curvamo-nos perante um inevitável futuro coletivo que não se adivinha famoso? Mais do

que nunca, a ousadia faz surgir a oportunidade. A ousadia e o compromisso! Se nos comprometemos fazemos! E

quando fazemos a mudança surge naturalmente! Mas se não houver compromisso pessoal nada acontece. Não é pos-

sível ficar à espera, que alguém (que não nós) se comprometa para apanharmos boleia.

Os tempos não são compatíveis com “ A virtude está no meio”. É preciso de vez em quando ousar, ir aos extremos e

arriscar para fazer acontecer. Instituições paradas, não mudam não avançam, não motivam. As instituições andam e

avançam quando há gente ousada, com vida, com vontade, que se levanta apesar das forças que nos puxam para cair.

Não sei se a virtude está no meio! O que sei é que apesar das dezenas de mitos, fábulas e histórias com a finalidade

de exaltar a preferência do caminho do meio, não devemos esquecer, é que esse caminho pode ser também o da

mediocridade. No máximo, obtém-se um percurso morno, regrado e constantemente refreado.

Naturalmente que será preciso ter limites. Mas quem disse que o limite está no meio?

Se calhar não é preciso ir aos extremos, mas será bom ficar num “meio” confortável, insípido, incolor? Ficamos então

com a célebre frase do filósofo chinês Confúcio “ Eu sei porque motivo o meio-termo não é seguido: o homem inteli-

gente ultrapassa-o, o imbecil fica aquém “. A reflexão parece oportuna. A Instituição precisa de todos para formar

UM TODO e não a soma de várias partes. Porque no todo há um movimento único que integra os mais fortes e mais

fracos sem ninguém ter espaço para ficar atrás. Juntamos as forças numa só direção e empurramos para a frente!

Sair do “ MEIO” do caminho e sermos mais radicais na profissão e na vida, porque uma faz parte da outra.

E para que não se façam interpretações livres, adopto a origem etimológica do vocábulo “RADICAL”: Alguém que

procura solidez nas posturas e decisões tomadas, não repousando na indefinição dissimulada e nas certezas

medíocres.

Olga Ferreira

Enfermeira Diretora do Centro Hospitalar de Setúbal, E.P.E.

Olga Ferreira

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Artigo de Revisão

STRESSE NA CRIANÇA

A Importância do Desenvolvimento de um Coping Eficaz

Cláudia Estêvão

Enfermeira do Centro Hospitalar de Setúbal, E.P.E.

Serviço de Gestão da Formação

RESUMO

Esta revisão pretende uma reflexão teórica, articulando conceitos como stresse, stresse na criança, desenvolvi-

mento e resiliência, com vista a compreender e sensibilizar para a importância do desenvolvimento de um coping

eficaz.

A evidência científica compreende o stresse como um estado de pressão que afeta o equilíbrio da pessoa sendo

consensual, neste âmbito, que a exposição importante a stressores associada a uma inadequada capacidade de

resposta, representa potencial compromisso a um desenvolvimento harmonioso.

A evidência científica comprova, ainda, que a capacidade de adaptação da criança aos stressores é regulada pela

relação entre o desenvolvimento e a resiliência. Na criança a resiliência é importante porque a forma como gere e

perceciona os resultados das suas experiências de stresse, contribui para o desenvolvimento desta capacidade

individual e, consequentemente, para elevar a qualidade da sua saúde ao longo da vida.

A família, no desempenho do papel parental, influencia a resposta da criança ao stresse e os profissionais de saú-

de, em particular o enfermeiro, pela proximidade à criança e família, têm a relação privilegiada para estabelecer

um plano que promova a competência da criança na resposta ao stresse e a capacidade da família ajudar no

desenvolvimento de um coping eficaz.

Palavras-chaves: stresse na criança; desenvolvimento; resiliência; coping.

INTRODUÇÃO

Em Portugal, à semelhança do que tem acontecido

pelo mundo, o stresse, tem sido objeto de inúmeros

estudos científicos, sendo considerado uma das

grandes questões da atualidade, produto de uma

sociedade em permanente mudança. Esta condição

tem exigido uma rápida e incessante adaptação, que

na criança se traduz, frequentemente, pela pressão

para a realização de atividades cujas exigências cog-

nitivas, psicológicas e sociais são inadequadas ao seu

estadio de desenvolvimento, podendo comprometê-

lo. Esta preocupação, tem resultado em vários estu-

dos que relacionam o fenómeno do stresse com

comportamentos de risco, adotados ao longo do

ciclo vital, em vários domínios, mas a realidade é que

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a investigação deste fenómeno na criança é diminu-

ta, em particular, se confrontada com a investigação

no adulto, no prestador de cuidados ou associado à

parentalidade.

A enfermagem, pouco tem produzido em estudos e

publicações nesta área do conhecimento sendo,

importante apresentar conhecimentos que atestem a

relevância do fenómeno para a prática de enferma-

gem e que sensibilizem para o desenvolvimento de

ações, que apoiem a criança e os pais na gestão do

stresse.

“O enfermeiro pela relação que estabelece com

a criança e os pais, ao longo do contínuo de cui-

dados, encontra-se numa posição privilegiada

para avaliar, diagnosticar, intervir e monitori-

zar os resultados decorrentes de uma ação sis-

tematizada, com vista à minimização dos efei-

tos do stresse na criança, com impacto na pro-

moção do bem-estar e da saúde individual e

coletiva”

O enfermeiro pela relação que estabelece com a

criança e os pais, ao longo do contínuo de cuidados,

encontra-se numa posição privilegiada para avaliar,

diagnosticar, intervir e monitorizar os resultados

decorrentes de uma ação sistematizada, com vista à

minimização dos efeitos do stresse na criança, com

impacto na promoção do bem-estar e da saúde indi-

vidual e coletiva.

O presente artigo tem como objetivos desenvolver

conhecimento sobre stresse na criança, as suas impli-

cações e estratégias de gestão, bem como demons-

trar a relevância para a enfermagem dos fenómenos

do stresse e do coping na criança. Quanto à metodo-

logia, consiste numa revisão simples da literatura,

organizada num enquadramento teórico, basilar para

a compreensão do tema e numa síntese final onde se

expõem os aspetos mais relevantes.

DESENVOLVIMENTO

O stresse é um fenómeno abrangente que, quando

subavaliado, pode afetar gravemente a vida das pes-

soas. Esta evidência e a minha experiência profissional

no âmbito da saúde infantil e juvenil, levou-me a inte-

ressar pela manifestação do fenómeno na criança.

A iniciar, importa clarificar o que se entende por

criança, em termos de contextualização no ciclo vital,

bem como o conceito de vulnerabilidade que lhe está

associado. Para esse efeito, considero o Regulamen-

to das Competências do Especialista em Saúde da

Criança e do Jovem, que no preâmbulo, identifica

como área de intervenção a fase do ciclo vital que

“compreende o período que medeia do nascimento

até aos 18 anos de idade. Em casos especiais, como a

doença crónica, a incapacidade e a deficiência, pode

ir além dos 18 anos e mesmo até aos 21 anos, ou

mais, até que a transição apropriada para a vida adul-

ta esteja conseguida com sucesso” (PORTUGAL,

2011).

Quanto ao conceito de vulnerabilidade, a Ordem dos

Enfermeiros integra-o nos princípios orientadores da

bioética e define-o como a constatação de que algu-

mas pessoas, ou grupos de pessoas, estão particular-

mente frágeis o que as “coloca na situação de pes-

soas em necessidade” e “reclama a solidariedade e a

equidade dos prestadores de cuidados” (OE, 2003). É

o reconhecimento de características particulares na

criança, nomeadamente a sua imaturidade, a sua

dependência e a sua necessidade de cuidados, que

lhe conferem particular vulnerabilidade.

Saliento, também, a propósito da relevância do tema

para a prática de enfermagem, que embora a Classi-

ficação Internacional para a Prática de Enfermagem

(CIPE) considere o stresse e o coping na área da saú-

de da criança e do jovem, estes são inexistentes nos

registos enquanto foco de atenção, em diversos con-

textos de prestação de cuidados.

Stresse: definição, causas e manifestações

A palavra stresse tem sido utilizada em diferentes

contextos tendo sido, nos primórdios, um termo da

física, que traduzia o grau de deformidade sofrido

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por um material, quando submetido a um esforço ou

tensão. Na medicina e biologia o conceito foi intro-

duzido por Selye que, na década de 30 do século XX,

identificou laboratorialmente uma resposta padroni-

zada a stressores, que denominou de síndrome geral

de adaptação e traduziu como o esforço de adapta-

ção global do organismo a estímulos nocivos

(GUERREIRO, BRITO, BAPTISTA e GALVÃO, 2007;

LAZARUS e FOLKMAN, 1984).

A síndrome geral de adaptação, conceptualizada por

Selye (citado por GUERREIRO et al., 2007 e RAMOS,

2005), é representada por três fases: a fase de alar-

me, caraterizada pelo confronto com o agente stres-

sor, que resulta no desencadear de mecanismos fisio-

lógicos de resposta ao stressor. Segue-se a fase de

adaptação, onde os sintomas exuberantes da fase

anterior desaparecem e o organismo procura recupe-

rar o equilíbrio. A última é a fase de exaustão, que se

instala quando a exposição ao agente stressor é sufi-

cientemente intensa ou prolongada para que o orga-

nismo entre em exaustão, nesta fase assiste-se à

falha dos mecanismos de adaptação e ao reapareci-

mento dos sintomas da fase de alarme, com conse-

quências negativas e potencialmente fatais.

A conceção de Selye foi consensualmente aceite mas

a definição de stresse não tem gerado consenso

entre a comunidade científica. Por essa razão, avan-

ço com uma significação, que entendo essencial para

que o leitor reconheça a que me refiro quando men-

ciono o termo stresse. Para isso, recorro à CIPE, que

atribui ao foco stresse o status comprometido e defi-

ne-o como um “sentimento de estar sob pressão e

ansiedade ao ponto de ser incapaz de funcionar de

forma adequada física e mentalmente, sentimento

de desconforto, associado à dor, sentimento de estar

física e mentalmente cansado, distúrbio do estado

mental e físico do indivíduo.” (OE, 2011)

Dando continuidade, evoco importantes investigado-

res e autores nesta área, que entendem o fenómeno

do stresse como um processo contextual, que envol-

ve uma relação entre a pessoa e o ambiente, com

possibilidade de alteração ao longo do tempo, resul-

tado da avaliação da pessoa que, no momento em

que é confrontada com a situação stressora, a inter-

preta como requerendo exigências que excedem os

seus recursos atuais para lhe fazer face e com poten-

cial para ameaçar o seu bem-estar (FOLKMAN, 2010;

LAZARUS e FOLKMAN, 1984).

RAMOS (2005), ao exposto, acrescenta que a perce-

ção de incapacidade de resposta face à exigência da

situação, provoca no organismo uma reação global –

fisiológica, psicológica e social. Tal interpretação

pode traduzir-se na resposta de adaptação individual

ao stresse, adaptação que terá mais ou menos suces-

so dependendo de características individuais, como a

personalidade, a perceção e os recursos individuais,

assim estes “favoreçam ou não interpretações ade-

quadas e facilitem ou não formas eficazes de lidar

com o stresse” (idem).

A este respeito, FOLKMAN (2010) e LAZARUS e

FOLKMAN (1984), referem que a interpretação cog-

nitiva que a pessoa faz perante um stressor, tem três

momentos básicos de avaliação. A avaliação primá-

ria, que decorre do significado pessoal da situação

em si, que é modelado pelas crenças pessoais e valo-

res, podendo a situação ser percecionada como irre-

levante, positiva ou stressante (LAZARUS e FOLK-

MAN, 1984). As situações percecionadas como irrele-

vantes não representam perdas ou ganhos, as positi-

vas são percecionadas como capazes de preservar o

bem-estar ou ajudar a obtê-lo, enquanto as situações

stressantes são entendidas como um dano, uma

ameaça ou um desafio. No caso de dano, a pessoa

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entende que a situação excede a sua capacidade de

resposta, na ameaça antevê a possibilidade de um

fracasso ou de uma perda e no caso do desafio vis-

lumbra um êxito ou um ganho (FOLKMAN, 2010;

LAZARUS e FOLKMAN, 1984; RAMOS, 2005).

A avaliação secundária, relaciona-se com o reco-

nhecimento pela pessoa, das estratégias de coping

que reúne para lidar com o stressor (LAZARUS e

FOLKMAN, 1984). Os momentos de avaliação pri-

mária e secundária são interdependentes, sendo a

relação entre si que determina o nível de stresse e a

intensidade e qualidade da resposta emocional

(idem).

O terceiro momento, designado por reavaliação, con-

siste num novo julgamento sobre o stressor com base

na perceção da situação após o desenvolvimento de

uma resposta para a enfrentar, o que pode conduzir a

novas perceções e, consequentemente, a novas res-

postas (LAZARUS e FOLKMAN, 1984).

“...quando se fala em stresse, fala-se de toda a

circunstância em que a relação estabelecida

entre a pessoa e o meio envolvente é percecio-

nada como excedendo os recursos (pessoais

ou sociais) para a ultrapassar com êxito, o que

ameaça o seu equilíbrio individual”

Pelo exposto, pode dizer-se que quando se fala em

stresse, fala-se de toda a circunstância em que a

relação estabelecida entre a pessoa e o meio envol-

vente é percecionada como excedendo os recursos

(pessoais ou sociais) para a ultrapassar com êxito, o

que ameaça o seu equilíbrio individual.

Fica também evidente a subjetividade inerente à

interferência dos stressores na pessoa, uma vez

que, neste processo há a considerar o meio envol-

vente e a globalidade da pessoa. Esta evidência

determina respostas diversas a múltiplos stressores,

podendo a mesma pessoa, dependendo das cir-

cunstâncias, responder de forma distinta a um mes-

mo stressor.

Os stressores podem consistir em acontecimentos

usuais ao longo do ciclo de vida que alteram os hábi-

tos da pessoa, identificados como “acontecimentos

de vida”, de que são exemplo a perda de um ente

querido ou a mudança de emprego; podem ser repre-

sentados por situações desgastantes e presentes na

vida da pessoa de forma permanente, os denomina-

dos “stressores crónicos”, como problemas financei-

ros, uma gravidez desejada que não acontece;

podem consistir em “acontecimentos traumáticos”,

caracterizados por experiências profundamente per-

turbadoras para a integridade do ser humano, como

uma guerra, uma catástrofe natural; podem consistir

em “macrostressores” que representam uma condi-

ção inerente a uma determinada conjuntura socioe-

conómica, de impacto coletivo, que a pessoa perce-

ciona com preocupação, como a crise económica, a

delinquência, a fome; a terminar temos os

“stressores quotidianos”, representados por episó-

dios da vida quotidiana que quando percecionados

continua e cumulativamente geram altos níveis de

stresse, como ficar retido no trânsito ou a impossibi-

lidade de manter a casa limpa (PERLIN, 2002;

RAMOS, 2005).

Como se entende, os stressores são múltiplos, coe-

xistem e frequentemente potenciam-se. Esta consta-

tação, leva-nos ao conceito de proliferação de stres-

se (stress proliferation), que entende ser invulgar os

stressores atuarem isoladamente, sendo comum os

stressores gerarem a ocorrência de outros stressores

(PERLIN, 2002; RAMOS, 2005, citando Pearlin, 1989

e Pearlin et al., 1997). O resultado é pessoas envoltas

em stressores, alguns deles com influência em domí-

nios da vida que não aqueles em que os stressores

emergiram (PERLIN, 2002).

“...o stresse não deve ser interpretado como

necessariamente disfuncional, sendo antes uma

condição, que dentro de determinados limites,

impulsiona a pessoa a realizar uma análise dos

seus recursos e necessidades…”

Apesar do exposto, o stresse não deve ser interpreta-

do como necessariamente disfuncional, sendo antes

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uma condição, que dentro de determinados limites,

impulsiona a pessoa a realizar uma análise dos seus

recursos e necessidades, impelindo-a a procurar solu-

ções, a reformular problemas e a desenvolver ações

que lhe permitem manter ou recuperar o equilíbrio.

Nesta ordem de ideias, VAZ SERRA (2002) citando

Selye, considera a existência de stresse funcional,

que prepara a pessoa para reagir de forma mais efi-

caz perante situações nocivas, nomeadamente situa-

ções extremas.

É a severidade ou o prolongamento de uma determi-

nada condição, percecionada como stressora, que

pode esgotar a capacidade de resposta da pessoa e

comprometer o seu bem-estar. Tal nível de stresse,

pode converter-se em patológico ou disfuncional,

podendo levar a distúrbios transitórios ou permanen-

tes, com manifestações físicas, psíquicas, emocionais

e relacionais (VAZ SERRA, 2002). A este respeito,

VERMETTEN e BREMNER (2002), referem que o

stresse disfuncional, resulta em desregulações neu-

robiológicas e em alterações comportamentais, que

a longo prazo potencializam a resposta disfuncional,

de cada vez que a pessoa é exposta a stressores.

Considerações gerais sobre stresse na criança

ELKIND (2004), investigador do stresse na criança,

reconhece o crescimento exponencial do fenómeno,

que atribui a crescentes pressões exercidas sobre a

criança, para a realização de atividades cognitivas,

físicas, psicológicas e sociais, muitas vezes desade-

quadas ao seu estadio de desenvolvimento e que as

tendem a tornar “adultos em miniatura” (idem).

“...a pressão para o desenvolvimento intelectual

precoce, que sujeita a criança a níveis de stres-

se potencialmente nocivos...”

A este respeito o autor refere, que as pressões são

inúmeras, apontando como a mais frequente a pres-

são para o desenvolvimento intelectual precoce, que

sujeita a criança a níveis de stresse potencialmente

nocivos e lhe deixam pouco tempo para atividades

apenas de diversão (idem). Reforçando esta posição,

VAZ SERRA (2002) refere, que a exposição a stresso-

res importantes na infância pode “ter consequências

nefastas na vida adulta porque o ser humano é apa-

nhado numa fase formativa, com fracas defesas psi-

cológicas e, por isso mesmo, vulnerável”.

Para ELKIND (2004), a evolução da conceção de

competência da criança, determina muita da pressão

que hoje se exerce sobre ela. Para o autor, atualmen-

te concebe-se a criança como competente “para lidar

com tudo e com qualquer coisa”, o que deriva de

uma sociedade onde a permanente evolução, econó-

mica, social e cultural, imprime transformações nos

valores aceites para “as crianças desenvolverem o

seu pleno potencial intelectual, pessoal e social”,

bem como mudanças na constituição das famílias e

dos seus modelos de financiamento (idem). Estas

mudanças, dificultam a adoção pelos pais do “tipo de

criação ligado à imagem das crianças como seres que

necessitam de cuidados paterno e materno” e deter-

minam a necessidade de se dotarem de competên-

cias, frequentemente, incompatíveis com a sua

estrutura imatura (idem).

Stresse na criança: agentes e manifestações

No que diz respeito a causas de stresse, relembrando

os stressores identificados, é evidente que a criança

se encontra sujeita a análoga multiplicidade de stres-

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sores. Relativamente aos stressores quotidianos, se

nos detivermos na diversidade de tarefas, compostas

pelas atividades letivas e extra curriculares, que se

espera que a maioria das crianças cumpram ao longo

do dia, facilmente se percebe que são inúmeros os

agentes stressores a que estão expostas.

Quanto a stressores de outra natureza, LIPP (2004),

aponta como de grande impacto na criança, as

mudanças significativas ou constantes, a responsabi-

lidade em excesso, a sobrecarga de atividades, as

discussões ou separação dos pais, a morte na família,

a exigência ou rejeição pelos colegas, a doença e

hospitalização, o nascimento de um irmão, a mudan-

ça de professor ou de escola, o convívio com adultos

stressados, a doença dos pais e a disciplina confusa.

Relativamente ao fator disciplina confusa, porque é

específico da criança, importa perceber que se trata

de uma prática parental caracterizada pela inconsis-

tência quanto ao método utilizado para disciplinar a

criança (idem).

A mesma autora (LIPP, 2004), refere agentes inter-

nos que potenciam o stresse na criança, associados a

características da personalidade, como a ansiedade,

a depressão, a timidez, o desejo de agradar, o medo

do fracasso, o medo que os pais morram, o medo de

ficar só, de ser ridicularizada por amigos, o sentir-se

injustiçada e sem defesa e a sensação de incompe-

tência.

A respeito de manifestações do stresse na criança

ELKIND (2004), faz referência, à ocorrência de mani-

festações gastrointestinal, cefaleias, reações alérgi-

cas, nível de colesterol aumentado e presença de

fatores de risco de doença cardíaca. Para além das

consequências físicas, LIPP (2004), identifica como

manifestações psicológicas a agressividade, a irrita-

bilidade, a desobediência, a apatia, o desinteresse, a

incapacidade de organização, nomeadamente na

atividade escolar o que compromete o sucesso esco-

lar, as fobias, a depressão, a ansiedade, uma maior

vulnerabilidade para a adoção de comportamentos

de risco e uma maior dificuldade nas relações inter-

pessoais.

“O stresse na criança é, particularmente,

inquietante quando se atende a estatísticas que

indicam, o aumento da mortalidade, da obesi-

dade, dos índices de suicídio e homicídio, das

taxas de insucesso escolar, da taxa de medica-

ção por hiperatividade e distúrbio de défice de

atenção (ELKIND, 2004) e o aumento da crimi-

nalidade”

O stresse na criança é, particularmente, inquietante

quando se atende a estatísticas que indicam, o

aumento da mortalidade, da obesidade, dos índices

de suicídio e homicídio, das taxas de insucesso esco-

lar, da taxa de medicação por hiperatividade e distúr-

bio de défice de atenção (ELKIND, 2004) e o aumen-

to da criminalidade (idem). A respeito do suicídio, o

autor considera, que “os fatores que contribuem para

o suicídio entre os adolescentes são múltiplos e com-

plexos, mas parece razoável supor que algumas das

pressões contemporâneas sobre os adolescentes (…),

contribuam para o aumento no número de jovens

que tiram suas próprias vidas” (idem).

“...toxic stress, entendido como o stresse na

criança decorrente da ativação prolongada de

sistemas de resposta ao stresse e falta de apoio

pelos adultos, e o desenvolvimento de estilos

de vida nocivos...”

A respeito do stresse disfuncional e da opção por

comportamentos de risco, a American Academy of

Pediatrics (AAP, 2012), referencia como preocupante

a relação entre o que designa de toxic stress, entendi-

do como o stresse na criança decorrente da ativação

prolongada de sistemas de resposta ao stresse e falta

de apoio pelos adultos, e o desenvolvimento de esti-

los de vida nocivos, insucesso escolar, presença de

fatores de risco para doenças, o que tende a manter-

se ao longo da vida e se traduz em custos elevados

para o próprio e para a sociedade, decorrentes da

falta de saúde.

A este respeito realço alguns estudos, designada-

mente, um desenvolvido por BLOGETT e LEMER

(2012), que relacionando género, tipos de stresse e

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Page 13: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

distúrbios alimentares em adolescentes, comprovou

a associação entre stresse e distúrbios alimentares,

em ambos os géneros (idem). Outro estudo, relacio-

nou stresse crónico e comportamentos suicidas em

adolescentes, encontrando forte relação entre estas

variáveis, o que realçou a importância de se avaliar o

stresse quando se avalia o risco de suicídio (PETTIT

et al., 2011). Por último refiro uma revisão sistemáti-

ca da literatura, onde através da análise de fatores

relacionados com depressão na vida adulta, foi

determinado que a relação entre depressão e exposi-

ção a stressores na infância, em particular stressores

relacionados com perda, é relevante (ZAVASCHI et

al., 2002).

Desenvolvimento, resiliência e coping

Na ótica do stresse funcional e da sua capacidade

para promover o desenvolvimento, VERMETTEN e

BREMNER (2002), consideram que o stresse precoce

tem efeito sobre as respostas neuroendócrinas aos

stressores, influenciando as respostas ao longo da

vida. Idêntica interpretação tem RAMOS (2005), ao

advogar que experiências stressoras moderadas, em

particular na infância, e respostas bem-sucedidas

elevam a resistência biológica ao stresse. Sendo a

supressão total de stressores, uma condição indese-

jável, uma vez que impede a pessoa de, através da

experienciação, se tornar mais resistente ao stresse

(LAZARUS e FOLKMAN, 1984; LIPP, 2004; RAMOS,

2005; TRONICK, 2006).

Estas vantagens para o desenvolvimento, acontecem

apenas quando o stresse é moderado, uma vez que

exposições severas ou continuadas terão impacto

negativo (RAMOS, 2005), constatação que se enqua-

dra na ótica do stresse disfuncional. A este respeito

VERMETTEN e BREMNER (2002), referem que os

efeitos podem culminar em dificuldades individuais

na resposta ao stresse, na adultez.

Para corroborar esta evidência, são relevantes os tra-

balhos realizados por diversos investigadores,

nomeadamente Levine, que laboratorialmente sujei-

tava animais a experiências stressoras, sendo a mais

comum o afastamento da mãe, estudando depois os

efeitos ao nível do comportamento e da resposta

neuroendócrina, nas crias e nas mães. Estes traba-

lhos ficaram conhecidos por handling (RAMOS, 2005;

VERMETTEN e BREMNER, 2002).

Nas crias, a análise prosseguia até à adultez, tendo

os investigadores observado que, a privação da mãe

quando precoce, temporária, moderada e regular,

resultava na cria em maior capacidade de enfrentar o

stresse, em futuras exposições. Contudo se a priva-

ção fosse prolongada, a cria desenvolvia menor resis-

tência ao stresse e maior vulnerabilidade a distúrbios

subsequentes. Estas experiências, evidenciaram, ain-

da, não ser apenas a exposição ao stressor a causa da

diminuição da reação fisiológica ao stresse, mas tam-

bém o comportamento das mães. Este surgiu como

relevante, uma vez que as crias que manifestavam

elevação da resistência ao stresse, tinham mães mais

afetuosas no reencontro (RAMOS, 2005; VERMET-

TEN e BREMNER 2002). Os resultados destas expe-

riências reúnem consenso, da comunidade científica,

quanto à extensibilidade para humanos.

“...relação entre desenvolvimento e resposta

aos stressores, é uma evidência que uma situa-

ção pode ou não ser stressora, dependendo do

estádio de desenvolvimento...”

Quanto à relação entre desenvolvimento e resposta

aos stressores, é uma evidência que uma situação

pode ou não ser stressora, dependendo do estádio

de desenvolvimento, uma vez que a perceção dos

stressores e o desenvolvimento de sentimentos de

vulnerabilidade se relacionam, frequentemente, com

o estadio de desenvolvimento (AHERN, ARK e

BYERS, 2008). É, também, uma evidência que a

capacidade individual da criança responder ao stres-

sor modela o impacto deste no desenvolvimento.

Reconhecendo, os investigadores, que as manifesta-

ções mais exuberantes, sucedem em crianças com

exposições mais severas e resiliência mais diminuída

(ibidem).

Nesta altura, é pertinente clarificar o que se entende

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 13

Page 14: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

por desenvolvimento infantil, na CIPE designado

como foco de atenção e definido como o

“crescimento e desenvolvimento físico, mental e

social progressivos, desde o nascimento e durante

toda a infância” (OE, 2011). Importa, também, clarifi-

car o conceito de resiliência, que vários autores

(AHERN, ARK e BYERS, 2008; TRONICK, 2006 citan-

do Rutter, 2006), definem como a capacidade de

resistência, relacionada com recursos individuais e

sociais, que contribuem para a obtenção de resulta-

dos positivos em exposições a contextos adversos. A

CIPE não contempla o fenómeno resiliência, mas

identifica o foco resistência, que define como “status:

disposição para manter, concentrar e restaurar ener-

gia ao longo do tempo e para sustentar um esforço

prolongado.” (OE, 2011).

Para AHERN, ARK e BYERS (2008), a resiliência con-

tribui para a manutenção de um padrão de desenvol-

vimento dentro do esperado. Para o desenvolvimen-

to desta capacidade, contribuem fatores que regu-

lam a perceção individual da criança sobre as situa-

ções stressores, como as características da personali-

dade, as aprendizagens prévias e a interação da

criança com o meio ambiente (ibidem).

A propósito de resiliência e personalidade, importa

referir o conceito de hardiness, referido por KOBASA,

MADDI e COURINOTON (1981), que é apresentado

como uma característica da personalidade, caracteri-

zada por três crenças cognitivas, o controlo, o com-

promisso e o desafio, ou seja, autoeficácia no contro-

lo dos acontecimentos, compromisso com as ativida-

des de vidas e perceção da mudança como um desa-

fio com potencial de desenvolvimento humano. A

evidência científica comprova que a pessoa com

estas características é mais resistente ao stresse,

abordando-o de modo mais positivo e estabelecendo

estratégias de coping mais eficazes (idem).

Quanto ao enquadramento da resiliência enquanto

característica, processo ou resultado, AHERN, ARK e

BYERS (2008), referem falta de consenso entre a

comunidade científica. Neste âmbito, TRONICK

(2006), qualifica-o como um processo dinâmico, cujo

desenvolvimento se relaciona com o contacto conti-

nuado, com as respostas e o resultado positivo ou

negativo das experiências stressoras. Através deste

processo, a criança torna-se mais ou menos compe-

tente para lidar com as contrariedades ao longo da

vida (AHERN, ARK e BYERS, 2008; RAMOS, 2005).

Sendo intrínseco aos conceitos de stresse e resiliên-

cia, importa referir o fenómeno do coping, designado

na CIPE como a atitude de “gerir o stress e ter a sen-

sação de controlo e de maior conforto psicológi-

co” (OE, 2011) e o foco adaptação, entendido como

“coping: gerir novas situações” (idem). Na relação

entre resiliência e coping, entende-se resiliência

como uma habilidade individual que, desenvolvida,

contribui para elevar a eficácia do coping.

Para LAZARUS e FOLKMAN (1984), as estratégias de

coping podem ser definidas como “aqueles esforços

cognitivos e de conduta constantemente mutáveis

que se desenvolvem para manejar as exigências

específicas externas e/ou internas que são avaliadas

como excedendo os recursos da pessoa”. O impacto

de uma situação stressante, como já referido, é

influenciado pela forma como a pessoa interpreta a

situação e pelas estratégias de coping que utiliza.

Sobre o coping a abordagem mais comum identifica

dois tipos: um que procura a mudança de aspetos

relacionados com a pessoa, o ambiente ou a relação

entre eles - coping focado no problema, caracteriza-

do por comportamentos de resolução do problema e

procura de informação. E, outro focado em esforços

para gerir as emoções negativas associadas aos

stressores, denominado por coping focado na emo-

ção, que se caracteriza por comportamentos de dis-

tanciamento e fuga (FOLKMAN, 2010; KOBASA,

MADDI e COURINOTON, 1981). Para KOBASA,

MADDI e COURINOTON (1981), ambos são influen-

ciados por características da personalidade.

FOLKMAN (2010), introduz um terceiro tipo, que

procura a adaptação através das emoções positivas,

este emerge da constatação que, a par de emoções

negativas surgem emoções positivas. Este coping,

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 14

Page 15: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

permite reequilibrar os recursos internos, transfor-

mar as avaliações de ameaças em desafios, gerir as

emoções negativas e motivar para a realização de

esforços para responder ao stresse, através de estra-

tégias de identificação de objetivos realistas, assen-

tes em experiências vivenciadas e na reorganização

de prioridades (ibidem).

Pelo exposto, é evidente a importância do desenvol-

vimento na criança de boas estratégias de coping.

Contudo, sendo mais raras as hipóteses da criança

agir sobre o problema decorrentes da sua imaturida-

de, importa o desenvolvimento de estratégias que

melhorem a sua capacidade de resposta, através do

controle das emoções negativas e da promoção das

emoções positivas. Esta constatação, significa que a

aposta deve incidir na identificação de estratégias

para aumentar a resiliência, elevando a possibilidade

de manter e recuperar o estado de equilíbrio em cada

experiência stressora, com consequente fortaleci-

mento da sua capacidade de resiliência ao longo da

vida (COMPAS, 2009).

“...a relação de proximidade com a criança e

família e o conteúdo funcional da profissão, que

prevê ação de promoção e educação para a saú-

de e deteção precoce de risco de doença, emer-

ge a relevância do enfermeiro se tornar compe-

tente neste domínio...”

Neste contexto, considerando a prática baseada na

evidência, a relação de proximidade com a criança e

família e o conteúdo funcional da profissão, que pre-

vê ação de promoção e educação para a saúde e

deteção precoce de risco de doença, emerge a rele-

vância do enfermeiro se tornar competente neste

domínio. Uma vez que, este investimento terá refle-

xos na promoção do bem-estar, na contenção da

deterioração da saúde, na elevação da capacidade da

criança e família gerarem qualidade de vida e conse-

quentes ganhos em saúde para o próprio, família e

comunidade. (BLOGETT e LEMER, 2012)

A competência do enfermeiro neste domínio, deverá

passar por uma prestação de cuidados de enferma-

gem holística, o que implica conhecimento científico

sobre o fenómeno, desenvolvimento de habilidades

no reconhecimento e avaliação de situações de risco,

planeamento de estratégias de intervenção e capaci-

dade para educar a criança e família, de forma a pro-

mover a sua eficácia na gestão do stresse (AHERN,

ARK e BYERS 2008).

Outro domínio de intervenção, enquanto componen-

te fundamental na forma como a criança reage ao

stresse, é o desempenho parental adequado. O

desempenho do papel parental é um foco da CIPE,

entendido como o “papel de membro da família:

interagir de acordo com as responsabilidades de ser

pais, interagir a expectativa mantida pelos membros

da família, amigos e sociedade relativamente aos

comportamentos apropriados ou inapropriados do

papel de pais, expressar estas expectativas sob a for-

ma de comportamentos, valores; sobretudo em rela-

ção à promoção do crescimento e desenvolvimento

ótimo de um filho dependente.” (OE, 2011).

“...é essencial que os pais tenham conhecimen-

to sobre desenvolvimento infantil, reconhecen-

do o interesse da criança em estudar, descansar

e brincar, aceitando que o ritmo de desenvolvi-

mento é individual e deve ser respeitado…”

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 15

Page 16: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AAP. AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS (2012). Early

childhood adversity, toxic stress, and the role of the pediatri-

cian: Translating developmental science into lifelong health

Neste âmbito, é essencial que os pais tenham conhe-

cimento sobre desenvolvimento infantil, reconhe-

cendo o interesse da criança em estudar, descansar e

brincar, aceitando que o ritmo de desenvolvimento é

individual e deve ser respeitado. Devem acompanhar

a vida dos filhos, avaliando e monitorizando os agen-

tes percecionados como stressores. Devem conhecer

ações de apoio à gestão do stresse pelos filhos e

estarem aptos a promover a sua capacidade de resi-

liência.

Quando os pais não são competentes nesse desem-

penho, muitas vezes porque eles próprios, não reú-

nem competências para responder ao próprio stresse

de forma positiva (LIPP, 2004), o enfermeiro deve

promover o desenvolvimento desta capacidade e, se

for o caso, realizar encaminhamento para outros pro-

fissionais de saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O stresse é um fenómeno complexo que implica a

relação entre a pessoa e o meio, instalando-se quan-

do uma circunstância é percecionada pela pessoa

como excedendo a sua capacidade para lhe fazer

face, a criança não lhe é imune, sendo diversa a natu-

reza de stressores a que está sujeita.

Ao longo da revisão, ficou claro que a exposição ao

stresse pode ser funcional se moderado e, nessa

perspetiva ser promotor do desenvolvimento, uma

vez que a experienciação do stresse e o desenvolvi-

mento de respostas eficazes, promovem uma perce-

ção de autoeficácia na resposta, contribuindo para

desenvolver a capacidade de resiliência da criança.

Em oposição, a exposição a stresse grave, prolonga-

do e ineficientemente gerido, pode ser disfuncional e

potencialmente comprometedor de um desenvolvi-

mento harmonioso.

Ficou evidente, que a experienciarão de stresse pela

criança influencia o percurso do seu desenvolvimen-

to, o que determina a necessidade de uma aposta

efetiva na promoção da sua capacidade de resposta

aos stressores. A passividade neste domínio não é

aceitável, porque uma criança incapaz de lidar positi-

vamente com os agentes stressores, terá forte pro-

babilidade de ser um adulto, igualmente, incapaz de

reagir de forma salutar ao stresse, o que gera conse-

quências graves para o futuro da criança envolvida,

da família e da própria sociedade.

Estas constatações realçam o importante papel que

os profissionais de saúde podem desenvolver nesta

área, devendo para isso, conhecer a problemática, as

suas implicações e manifestações na criança, bem

como reunir habilidades para apoiar a sua gestão,

através de uma prática sistematizada, que contem-

ple uma abordagem holística do fenómeno.

O enfermeiro de saúde infantil e juvenil, ocupa uma

posição privilegiada para trabalhar este domínio,

nomeadamente, na avaliação, diagnóstico, interven-

ção e encaminhamento, de forma a promover o

desenvolvimento de estratégias que promovam a

capacidade de resiliência da criança, minimizem a

sua opção por comportamentos de risco e promo-

vam a opção por hábitos de vida positivos. Neste

processo, o apoio parental é determinante, devendo

o enfermeiro avaliar a capacidade dos pais e, se for o

caso, assisti-los no desenvolvimento de competên-

cias que lhes permitam moderar os stressores a que

os filhos estão sujeitos, bem como promover a sua

capacidade de resiliência.

A terminar, considero ter realizado um trabalho com

potencial para influenciar o exercício da enfermagem

no domínio do fenómeno do stresse na criança, ten-

do o meu exercício profissional sido efetivamente

influenciado pelo conhecimento que alcancei. Para o

futuro, planeio a submissão do trabalho para publica-

ção e a elaboração de um catálogo CIPE, que oriente

a prática e o desenvolvimento dos cuidados de enfer-

magem neste domínio.

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 16

Page 17: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

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Artigo Rececionado em 12/08/2013

Aceite para Publicação em 15/11/2013

Contacto do Autor:

[email protected]

Cláudia Estêvão:

Licenciatura em Enfermagem, Especia-

lização em Enfermagem de Saúde

Infantil e Pediatria, Pós-Graduação em

Gestão em Saúde; Pós-Graduanda em

Cuidados Paliativos Pediátricos.

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 17

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Page 19: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

Relato de Experiência

FOCOS DISPNEIA E EXPETORAR

INTERVENÇÕES DO ENFERMEIRO DE REABILITAÇÃO

Maria Filomena Martins; Susana Ribeiro

Enfermeiras do Centro Hospitalar de Setúbal, E.P.E.

Serviço de Medicina Interna

RESUMO

O Enfermeiro de Reabilitação é um profissional com

competências autónomas. Isto é, elabora diagnósti-

cos de enfermagem, prescreve intervenções, executa

-as e avalia-as, sob sua única e exclusiva iniciativa e

responsabilidade (OE, 2010).

No presente artigo descrevemos as intervenções

autónomas dos Enfermeiros de Reabilitação, nos

Focos Dispneia e Expetorar e evidenciamos os

ganhos em saúde decorrentes dessas intervenções

através dos registos no Sistema de Apoio à Prática

de Enfermagem (SAPE).

Palavras-chave: Dispneia; expetorar; Enfermeiro de Reabili-

tação; ganhos em Saúde, CIPE/ SAPE.

INTRODUÇÃO

A Classificação Internacional para a Prática de Enfer-

magem (CIPE) é utilizada no Centro Hospitalar de

Setúbal (CHS), desde 2010, data em que se iniciaram

os registos no SAPE.

Uma das vantagens deste sistema é justamente uni-

formizar a linguagem dos Enfermeiros. E é esta lin-

guagem e as técnicas especificas utilizadas pelos

Enfermeiros de Reabilitação, que pretendemos dar a

conhecer, quer aos enfermeiros na generalidade,

quer aos novos colegas Especialistas em Enferma-

gem de Reabilitação.

FOCO DISPNEIA

Para o Foco Dispneia, e de forma meramente exem-

plificativa, mas muitas vezes ilustradora da realidade,

o utente é admitido apresentando o diagnóstico:

“Dispneia em Grau Elevado”.

Das intervenções sugeridas para o Foco Dispneia, e

apesar de as pudermos executar como enfermeiros,

há uma que é específica para os Enfermeiros de Rea-

bilitação: “Executar Reeducação Funcional Respira-

tória”.

A Reeducação Funcional Respiratória (RFR) “é uma

terapêutica baseada no movimento e, como tal, vai

atuar principalmente sobre os fenómenos mecânicos

da respiração, ou seja, sobre a ventilação externa e,

através desta, tentar melhorar a ventilação alveo-

lar” (HEITOR et al, 1998).

Na RFR existem várias técnicas que de acordo com o

utente, ou seja, a sua situação clínica atual e pregres-

sa, a nossa observação, vamos selecionar e executar

as que se revelam mais indicadas.

Isto porque, na RFR também existem contraindica-

ções (CORDEIRO e MENOITA, 2012), quer para algu-

mas técnicas, quer para a RFR na generalidade

(como é o caso de utentes com neoplasia do pulmão

e pleura, tuberculose pulmonar ativa, embolia pul-

monar, hemoptises, entre outras).

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 19

Page 20: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

De seguida, vamos descrever de forma sucinta, as

principais técnicas utilizadas na RFR e parametriza-

das no SAPE do CHS.

“Todos os programas de reabilitação devem

iniciar-se com a tomada de consciência e con-

trolo da respiração por parte do utente”

1. Consciencialização e dissociação dos tempos

respiratórios

Todos os programas de reabilitação devem iniciar-se

com a tomada de consciência e controlo da respira-

ção por parte do utente. Pede-se à pessoa que inspi-

re lentamente pelo nariz e expire também lentamen-

te pela boca com os lábios semi-serrados. Isto, para

obter uma eficácia respiratória máxima.

2. Posição de descanso e relaxamento

Temos de promover um ambiente calmo e uma posi-

ção confortável. Para isso, colocamos uma almofada

na região poplítea (relaxa os músculos abdominais) e

braços ao longo do corpo (relaxa a cintura escapular).

De modo, a obter uma melhor colaboração do uten-

te, reduzindo a sobrecarga muscular.

primento/força

dos músculos.

O utente deve

e s c o l h e r ,

depois de as

conhecer, qual

a posição de

maior conforto

para si.

Figura 2 - Posição de descanso em crise de dispneia

4. Respiração abdomino-diafragmática

Figura 1 - Posição de descanso e relaxamento

3. Posições de descanso em crise de dispneia

Nos períodos inter-crise devemos ensinar algu-

mas posições que o utente pode adotar, de

modo a facilitar a respiração. É a denominada

“posição de cocheiro” com o tronco inclinado

para a frente, restitui ao diafragma uma curva-

tura mais fisiológica e melhora a relação com-

A pessoa é instruída a respirar para o abdómen,

podendo a mão do enfermeiro estar aí localizada e

elevar-se aquando da inspiração, e na expiração a

mão baixa para

ajudar a expul-

sar o ar. Esta

técnica permite

uma melhor

oxigenação em

todos os cam-

pos pulmona-

res. Podendo o

utente fazê-la

de forma autó-

noma.

Figura 3 - Respiração abdomino-diafragmática

5. Reeducação costal global

Esta técnica normalmente é utilizada com apoio de

um bastão e tem como objetivo promover a expan-

são torácica. A pessoa é instruída a inspirar quando

eleva o bastão e expirar quando o desce. Pode fazê-

la deitada, sentada ou de pé.

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 20

Page 21: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

Figura 4 - Reeducação costal global

6. Reeducação costal unilateral

A mão do enfermeiro fica apoiada a nível costal e

acompanha a dinâmica da respiração, exercendo

ligeira pressão no final da expiração. Esta técnica

favorece a expansão pulmonar e torácica do lado

superior, que será o afetado.

7. Tonificação diafragmática

Sendo o diafragma o principal músculo inspiratório é

importante fortalecê-lo para melhorar a sua resistên-

cia. Para isso, pudemos utilizar pesos, por exemplo

sacos de areia de 0,5 kg ou 1 kg, consoante a tolerân-

cia do utente. Ou ainda, através da nossa resistência

ou assistência manual de forma a tonifica-lo e

melhorar a sua ação.

Figura 5 - Tonificação diafragmática

8. Inspirometria incentiva

É utilizado um aparelho, o inspirómetro, pede-se à

pessoa para inspirar o máximo através do bucal e ir

marcando o nível de volume conseguido, de modo a

ir aumentando a sua capacidade inspiratória e por

conseguinte a sua motivação, à medida que esta

aumenta. Técnica importante nos casos de atelecta-

sias, pneumonias, derrames pleurais e pneumotórax.

9. Terapêutica de posição

É usada em casos de derrame pleural numa fase ini-

cial, e pneumotórax após ter sido drenado. Consiste

em posicionar a pessoa com o lado afetado para

cima, de modo a evitar a formação de aderências

pleurais e facilitar a expansão pulmonar.

10. Mobilização das articulações escápulo-umeral

Esta mobilização permite relaxar os músculos aces-

sórios da respiração, descontrair a cintura escapular,

facilitando a respiração diafragmática.

11. Correção postural

O ensino de uma posição correta com alinhamento

dos ombros (poderá ser utilizado um espelho quadri-

culado) é fundamental para uma boa ventilação.

Dada a interdependência costovertebral, qualquer

alteração da coluna/posição reflete-se na respiração.

12. Reeducação no esforço

Em utentes dispneicos a desadaptação ao esforço

conduz a um ciclo vicioso de limitação progressiva

das suas atividades. A nossa intervenção é ensinar a

pessoa a respirar com o mínimo dispêndio de energia

e máxima eficácia. Por exemplo, ao subir escadas

ensinamos a inspirar parado num degrau e a expirar

enquanto sobe dois, três degraus, com o objetivo de

aumentar o tempo expiratório.

Se depois destas e de outras intervenções, sem inter-

corrências, o utente melhora, passamos ao diagnós-

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 21

Page 22: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

tico: “Dispneia em Grau Moderado” e posteriormen-

te a “Dispneia em Grau Reduzido”.

Em utentes com capacidade de aprendizagem, o

aplicativo permite construir dois diagnósticos:

conhecimento e aprendizagem de habilidades sobre

técnicas de exercícios respiratórios. Aos quais, asso-

ciamos intervenções do tipo “ensinar, instruir e trei-

nar sobre técnica respiratória”. Ensinando por exem-

plo, qual o tipo de respiração (frequência, amplitude

e ritmo) mais adequado a cada situação.

Quando o utente adquire o conhecimento e as habili-

dades, alteram-se os diagnósticos acessórios para:

“conhecimento e aprendizagem de habilidades sobre

técnica respiratória demonstrados”.

“E são estes ensinos, que permitiram estas

mudanças nos diagnósticos que centram a

autonomia da profissão e traduzem parte da

essência do cuidar.”

E são estes ensinos, que permitiram estas mudanças

nos diagnósticos que centram a autonomia da profis-

são e traduzem parte da essência do cuidar.

Por se encontrar relacionado com o Foco Dispneia,

de seguida abordaremos as intervenções autónomas

dos Enfermeiros de Reabilitação para o Foco Expeto-

rar.

FOCO EXPETORAR

Das intervenções sugeridas no aplicativo para o Foco

Expetorar, a especifica para os Enfermeiros de Reabi-

litação é “Executar limpeza das vias aéreas”, dentro

desta encontramos várias técnicas, que vamos sele-

cionar de acordo com a situação clínica do utente e

que são:

1. Movimentos respiratórios profundos

Similar à respiração abdomino-diafragmática, mas

com maior ênfase na fase expiratória.

2. Manobras acessórias

São constituídas por vibrações e compressões duran-

te a fase expiratória e percussões, em que se preten-

de mobilizar as secreções das vias aéreas inferiores

para as superiores de modo a serem expelidas. Técni-

ca com algumas contraindicações como osteoporo-

se, arritmias, metástases, hemoptises, pneumotórax,

doentes heparinizados, entre outras.

Figura 6 - Manobras acessórias

3. Tosse dirigida

Consiste em saber solicitar a tosse no momento

oportuno. A pessoa é ensinada a sentar-se, inspirar

pelo nariz e durante

a expiração inclinar

o tronco para a fren-

te, comprimindo o

abdómen. Pode uti-

lizar uma almofada,

importante nos

doentes cirúrgicos

porque ajuda a con-

ter a sutura e a tossir

eficazmente.

Figura 7 – Tosse dirigida

4. Tosse assistida

É utilizada quando a pessoa não apresenta uma tosse

eficaz. Aí o enfermeiro exerce uma ligeira pressão na

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 22

Page 23: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

base do tórax, criando um débito expiratório mais

elevado, favorecendo a tosse eficaz. Contraindicado

nos períodos pós-prandiais, fratura das costelas,

entre outros.

Figura 8 – Tosse assistida

5. Drenagem postural

Consiste em posicionar a pessoa, de acordo com o

lobo pulmonar afetado. De modo a que, pela ação da

gravidade e com auxílio, por exemplo das manobras

acessórias, as secreções se desloquem para as vias

aéreas de maior calibre para serem expelidas. Con-

traindicado em doentes dispneicos, idosos, hiperten-

sos, insuficientes cardíacos. Nestes casos opta-se

pela técnica que vem a seguir.

6. Drenagem postural modificada

Sem declives posiciona-se a pessoa para o lado con-

tra-lateral ao afetado. Através da nossa auscultação,

visualização de radiografias, permite-nos determinar

a área pulmonar afetada e intervir de acordo. Seguin-

do o princípio de drenagem do lobo mais afetado,

para o menos afetado.

7. Manobras expiratórias

Consistem em ensinar a realizar expirações forçadas.

8. Técnica expiratória forçada

Consiste numa expiração forçada.

9. Ciclo ativo de técnicas respiratórias

Combina diversas técnicas como a respiração abdo-

mino-diafragmática, como o controlo da respiração e

técnica de expiração forçada.

A tosse é um mecanismo patológico, mas necessário

e muito importante quando é eficaz.

Se com estas intervenções o utente melhora, o diagnós-

tico passa a: “Expetorar Ineficaz em Grau Moderado” e

posteriormente “Expetorar Ineficaz em Grau Reduzi-

do”.

No caso do utente ter conhecimento e aprendizagem

de habilidades, na tosse, não demonstrado vamos

“ensinar, instruir e treinar a técnica de tosse”. Com o

problema resolvido o conhecimento e aprendizagem

de habilidades da tosse no expetorar passa a

demonstrado.

Desta forma, podemos dar termo ao diagnóstico e

intervenções. Caso a situação não possa ser corrigi-

da, a informação é transposta informaticamente

para a carta de alta/transferência, permitindo a con-

tinuidade de cuidados.

“...toda esta informação no SAPE fica documen-

tada no processo do utente, onde se pode verifi-

car as mudanças positivas/ ganhos em saúde…”

Em suma, toda esta informação no SAPE fica docu-

mentada no processo do utente, onde se pode verifi-

car as mudanças positivas/ ganhos em saúde, para os

quais contribuem as intervenções autónomas dos

Enfermeiros de Reabilitação.

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 23

Page 24: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prática de Enfermagem de Reabilitação é baseada

em intervenções autónomas, que contribuem para

ganhos em saúde, nomeadamente nos Focos Disp-

neia e Expetorar.

“Os Enfermeiros de Reabilitação são, segundo

HESBEEN (2003) ”especialistas em pequenas

coisas”, expressão, que ele esclarece, que não

tem qualquer conotação negativa, porque são

estas “coisas”, que dão sentido ao viver na

situação particular de cada um.”

Os Enfermeiros, incluindo os de Reabilitação são,

segundo HESBEEN (2003) ”especialistas em peque-

nas coisas”, expressão, que ele esclarece, que não

tem qualquer conotação negativa, porque são estas

“coisas”, que dão sentido ao viver na situação parti-

cular de cada um.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONSELHO INTERNACIONAL DE ENFERMEIRAS (1999).

Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem

(CIPE/ ICNP). Lisboa: Associação Portuguesa de Enfermeiros.

CORDEIRO, M.; MENOITA, E. (2012). Manual de Boas Práti-

cas na Reabilitação Respiratória: conceitos, princípios e téc-

nicas. Loures: Lusociência.

HEITOR, C. et al (1998). Reeducação Funcional Respiratória.

Lisboa: Faculdade de Medicina de Lisboa e Boehringer Inge-

lheim.

HESBEEN, W. (2003). A Reabilitação: criar novos caminhos.

Loures: Lusociência.

ORDEM DOS ENFERMEIROS (2010). Regulamento das Com-

petências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfer-

magem de Reabilitação. Lisboa: Colégio da Especialidade de

Enfermagem de Reabilitação.

Artigo Rececionado em 14/11/2013

Aceite para Publicação em 20/11/2013

Contacto dos Autores:

[email protected]

[email protected]

Maria Filomena Martins: Licenciatura

em Enfermagem, Especialização em Enfer-

magem de Reabilitação.

Susana Ribeiro: Licenciatura em Enfer-

magem, Mestrado em Psicogerontologia,

Especialização em Enfermagem de Reabili-

tação, Pós-Graduação em Pedagogia da

Saúde.

Revista Cuid’Arte

Espaço aberto à participação de todos os que sentem que cuidar é uma arte…

Contamos com os V/ artigos, as V/ sugestões e impressões…

http://cuidartesetubal.blogspot.com

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 24

Page 25: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

Em Destaque

Nos dias 28 e 29 de novembro de 2013, o Fórum

Municipal Luísa Tody acolheu as 4as Jornadas de

Enfermagem em Cirurgia, subordinadas ao tema:

“Acompanhar a Pessoa em Cirurgia: Da Teoria à Prá-

tica”.

Este evento, organizado pela equipa de Enfermagem

do Serviço de Cirurgia Geral, veio dar continuidade à

execução de eventos que nascem da vontade desta

equipa em manter-se, permanentemente, atualizada

e em promover a investigação e a disseminação do

conhecimento.

Esta visão, partilhada por quem fez e faz parte destes

eventos, pretende a melhoria da qualidade dos cui-

dados prestados na instituição na área da Enferma-

gem em Cirurgia.

As 1as Jornadas, com as quais se iniciou este projeto,

decorreram em 1999, às quais se seguiram as 2as

UM EVENTO DE SUCESSO DA NOSSA INSTITUIÇÃO

Jornadas em 2001 e, posteriormente, as 3as Jornadas

em 2011. Todas trouxeram mais valias e momentos

únicos de aprendizagem que permitiram que os cui-

dados de Enfermagem na cirurgia sejam o que são

hoje: cuidados de excelência, valorizados por quem

os usufrui.

É num contexto de extrema contenção financeira,

mas de muita vontade em fazer mais e melhor, que

surgem as 4as Jornadas, para as quais foram estabe-

lecidos os seguintes objetivos: partilhar experiências

no cuidar da pessoa em meio cirúrgico; promover o

convívio profissional, discussão e reflexão sobre os

cuidados prestados e a importância do envolvimento

multidisciplinar e contribuir para a melhoria da quali-

dade dos cuidados prestados à Pessoa, dando a

conhecer estudos efetuados e experiências vivencia-

das.

Com o intuito de apresentar um programa atualiza-

do, credível e que correspondesse ao pretendido,

este evento utilizou a estratégia de Mesas Redondas,

organizadas de acordo com o percurso da pessoa em

cirurgia e com preletores de referência para a temáti-

ca em questão. Tendo em conta o tema principal,

procurou-se contextualizar e suportar este evento

com conferências e mesas de suporte à prática, que

sustentassem os assuntos debatidos.

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 25

Page 26: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

Cuidados Paliativos; Articulação

com a Comunidade e Cuidar no

mundo.

Estava prevista a realização da

Conferência Final “A Esperança

para recursos na gestão dos pro-

cessos de saúde-doença: recriar

as experiências de cuidados”,

por motivos alheios à organiza-

ção não se concretizou.

Salienta-se, que neste segundo

dia, também foram apresenta-

das comunicações livre e pos-

ters, destacando-se o 1º lugar

das comunicações livres para o

tema “A Segurança das Pessoas

no Transporte Intra-Hospitalar

para realização de Técnicas

Pneumológicas”, pelos enfer-

meiros Nuno Oliveira e António

Rocha do Hospital Garcia de

Orta e o 1º lugar dos posters

para o trabalho “Unidade de Cui-

dados Pós-Anestésicos: Um Cui-

dar de Excelência” pelos enfer-

meiros Deolinda Cartaxo, Diana

Modas, Maria José Casimiro,

Paulo Gomes e Sérgio Marçal do

CHS.

Este evento contou com cerca de 200 participantes,

vindos principalmente do distrito de Setúbal, mas

também de Coimbra, Lisboa, Alentejo e Algarve, o

que correspondeu às nossas expetativas. O sucesso

das inscrições foi conseguido graças aos esforços de

divulgação para o qual contribuíram os contatos pes-

soais dos elementos das Comissões e do Gabinete de

Comunicação. Salienta-se ainda que o póster e o

folheto de divulgação foram uma produção deste

gabinete. Os restantes processos organizativos

foram elaborados pelas Comissões, o que permitiu

personalizar as jornadas.

Assim, o evento iniciou-se com a Conferência

“Enquadramentos da Enfermagem Cirúrgica: Da his-

tória às Conceções Teóricas”, apresentado pela Pro-

fessora Doutora Lucília Nunes da Escola Superior de

Saúde de Setúbal. Seguiram-se, após este momento,

as mesas: A Cultura de Segurança nos Cuidados

Cirúrgicos; Acolhimento da Pessoa na Instituição

Hospitalar; Preparação Pré-Operatória e Cuidado

Multidisciplinar à Pessoa com Pé Diabético. O segun-

do dia iniciou-se com a Conferência de Abertura “O

Consentimento em Saúde”, apresentado pelo Pro-

fessor Doutor Sérgio Deodato da Universidade Cató-

lica Portuguesa, seguindo-se as seguintes mesas:

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 26

Page 27: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

Os participantes permitiram um debate interessante nas diversas temáticas, existindo comentários e questões

pertinentes que permitiram que estas jornadas, do ponto de vista do debate, fosse profícuo.

Por forma a avaliar a satisfação dos participantes no que respeita às jornadas, disponibilizou-se um questionário

de satisfação via email e em papel (durante as jornadas). Este questionário foi elaborado com 8 questões fecha-

das e 1 questão aberta para sugestões, conforme a imagem abaixo.

Neste questionário obtive-

mos 63 respostas, o que cor-

respondeu a cerca de um

quarto dos participantes.

Para a sua análise, procedeu-

se ao tratamento estatístico

para as questões fechadas e

análise de conteúdo para a

questão aberta. O gráfico 1

apresenta os resultados que

permitem afirmar que este

evento foi um sucesso.

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 27

Page 28: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

Resultados 1 2 3 4 5

Pergunta 1 0% 0% 2% 46% 52%

Pergunta 2 0% 0% 3% 45% 52%

Pergunta 3 0% 0% 7% 53% 40%

Pergunta 4 0% 0% 10% 55% 35%

Pergunta 5 0% 0% 7% 59% 34%

Pergunta 6 0% 3% 6% 36% 55%

Pergunta 7 0% 3% 8% 37% 52%

Pergunta 8 0% 0% 2% 38% 60% Tabela 1 - Respostas ao Formulário de Avaliação

A tabela 1, por sua vez, apresenta as percentagens

das respostas.

Da análise das Sugestões, categorizámos da seguinte

forma, na Tabela 2:

As respostas a este questionário são de grande

importância, uma vez que nos permitem melhorar e

corrigir aspetos para os quais não estivemos tão des-

pertos.

6 Categorias à posteriori (análise de conteúdo de acordo com Bardin)

Temáticas

Citação 1:“Incluir o período intra-operatório nas temáticas a abordar de futuro.”

Citação 2:“Sugeria para as próximas Jornadas poderem abordar a intervenção (quando possível ou

existente) dos Enfermeiros Especialistas de Reabilitação, Médico-Cirúrgica e Psiquiatria.”

Citação 3: “poderiam ter abordado tb o período intra operatório”

Citação 4: “Sugiro a participação da cirurgia de ambulatório, numas próximas jornadas. Estas foram

excelentes”

Citação 5: “Palestras sobre os tratamentos do pé diabético”

Apresentações

Citação 1:“Algumas exposições foram muito longas. Alguns dos slides apresentados eram pouco

percetíveis na plateia e com uso de cores cansativas para a visualização a longa distância.

Mau cumprimento horário das sessões.”

Citação 2:"As luzes da sala poderiam ter sido diminuídas durante as apresentações referentes às

temáticas para melhor visualização das projeções (algumas projeções não se conseguiam

visualizar bem); Algumas apresentações foram um pouco longas."

Espaço

Citação 1:“A sala onde decorreram as jornadas estava gelada, a organização foi alertada para tal, mas a

situação não foi resolvida. Deveria ter sido ligado o ar condicionado.”

Divulgação

Citação 1:“publicidade mais eficaz às jornadas, nomeadamente ao nível das escolas de enfermagem”

Continuidade

Citação 1:“Espero a continuação destas jornadas que me pareceram bem pertinentes. Gostei.”

Citação 2: “Fico à espera das próximas.”

Citação 3: “Sugiro mais eventos para partilha de saberes, experiências e desenvolvermos competências.”

Agradecimentos e Parabéns

Citação 1:“Parabéns pela organização destas jornadas e todas as temáticas apresentadas, tão

pertinentes em cirurgia.

Citação 2:“Instituição de um protocolo de integração de enfermeiros na UCIC”

Citação 3:“Gostei muito. Muitos parabéns pela organização, pelos temas trazido e pelos convidados

interessantes que cativaram nas suas apresentações.”

Citação 4:“Felicito-vos pela coragem e persistência. Estão de parabéns.”

Citação 5: “Muitos Parabéns à equipa organizadora”

Tabela 2 - Respostas ao Formulário de Avaliação

Embora estas jornadas tenham sido de sucesso, pelo

explanado, existiram alguns constrangimentos que

consideramos importante referir.

Os dois principais constrangimentos foram financei-

ros e gestão de tempo. O primeiro foi ultrapassado

graças aos patrocinadores a quem agradecemos pro-

fundamente e sem os quais não seria possível avan-

çar com este evento. Quanto à gestão de tempo,

este apenas foi possível graças à nossa equipa de

enfermagem do Serviço de Cirurgia Geral, que foi

extraordinária e desde logo se disponibilizou para

realizar os turnos necessários para que os restantes

elementos pudessem estar nas Jornadas. É nestes

momentos que se vê que a união faz a força e que

estamos aqui uns para os outros, independentemen-

te das contrariedades que surgem.

Concluindo, estas jornadas foram um evento de

sucesso institucional, que contribuíram para a pro-

moção dos cuidados de enfermagem prestados no

CHS. Por tudo isto, gostaríamos de agradecer às pes-

soas das Comissões (Cientifica e Organizadora). É

ainda imprescindível referir que, para além de ele-

mentos do serviço, as comissões (cientifica e organi-

zadora) contaram com membros externos ao Serviço

de Cirurgia Geral, aos quais agradecemos a disponi-

bilidade.

Pelas Comissões: Científica

Enf. Especialista Marta Costa

Organizadora Enf. Tânia Mendes

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 28

Page 29: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013
Page 30: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

Em Destaque

O avanço da ciência em novas tecnologias e aborda-

gens terapêuticas tem proporcionado novos horizon-

tes na perspetiva de vida do doente renal crónico,

tanto na longevidade quanto na qualidade de vida.

Esta última, muitas vezes, seriamente comprometida

pela doença, pela modalidade terapêutica e também

por todos os condicionalismos que lhes são ineren-

tes.

Face a esta realidade, o Sector de Ambulatório de

Nefrologia (SANE) do CHS empenha-se perseveran-

temente num atendimento de excelência, fiel aos

princípios estabelecidos pela instituição. Procura a

eficácia terapêutica, a segurança dos cuidados e a

humanização, transformando todo o processo assis-

tencial num processo de qualidade organizacional.

Como resultado da visão institucional e profissional,

da iniciativa e do empenho de uma equipe compro-

metida com as diretivas da qualidade assistencial

assente numa visão holística e integradora, nasceu o

“Curso de Enfermagem Nefrológica para Enfermei-

ros”, consolidado não somente em ampla pesquisa

bibliográfica, como também na vasta experiência da

equipe do SANE.

Esta proposta formativa visou a partilha de conheci-

mentos favorecedora da continuidade e segurança

dos cuidados a estes doentes em qualquer unidade

deste centro hospitalar e, consequentemente, a

melhoria da qualidade das suas vidas.

Como objetivos específicos este curso permitiu apro-

fundar conhecimentos no domínio enfermagem

Nefrológica no que se relaciona com o planeamento,

execução e avaliação de cuidados de enfermagem a

pessoas com doença renal crónica/família.No decor-

rer dos quatro dias de formação foram apresentados

temas como: anatomofisiologia renal, conceitos e

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 30

Page 31: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

fundamentos das diversas terapias de substituição da

função renal e perspetivas de enfermagem sobre

acessos para as técnicas dialíticas.

Trabalharam-se, ainda, temáticas como o controlo

da infeção nos cuidados de saúde à Pessoa em técni-

ca dialítica, a integralidade dos cuidados na aceita-

ção, adaptação, adesão ao regime terapêutico e pro-

moção da qualidade de vida da Pessoa/família com

doença renal crónica e cuidados de enfermagem ao

doente em final de vida.

Contribuíram, também, para uma visão holística da

enfermagem nefrológica comunicações sobre nutri-

ção da pessoa com doença renal crónica, exercício

físico intradialítico, o doente renal no internamento e

a enfermagem de reabilitação em sala de diálise. Os

aspetos ético-legais foram abordados no final de cur-

so como aglutinadores de todas as temáticas.

Decorrente das conclusões provenientes da avalia-

ção da satisfação dos formandos realça-se a compo-

nente prática como uma área de interesse, que

importa desenvolver, para a concretização dos con-

ceitos teóricos transmitidos. Neste contexto, encon-

tramo-nos em fase de divulgação de um módulo que

permite contacto com o contexto da prática clínica,

através de visitas para observação e treino.

O plano para as visitas de observação e treino no

SANE, consistem em:

Dia I - Na unidade de Hemodiálise: apresentação da uni-

dade, circuitos de água e dialisante, modalidades

da hemodiálise,

dialisadores, moni-

tor de Hemodiálise,

circuito Extracorpo-

ral (CEC), monta-

gem dos monitores,

preenchimento do

CEC, conexão / des-

conexão do CEC,

anti-coagulação do

CEC, tipos de aces-

sos vasculares para

hemodiálise, com-

plicações e ensinos ao Doente / Família

(observação e treino - 8 horas).

Dia II e III - Na unidade de dialise peritoneal: apresenta-

ção da unidade, materiais e bolsas utilizadas, pro-

cedimento troca bolsas, cuidados com o orifício,

especificidades do controlo de infeção, treino da

troca de bolsas, avaliação do grau de autonomia

do doente/cuidador, diagnóstico e tratamento de

peritonites (observação e treino - 16 horas).

A terminar realçamos que através desta formação foi

possível partilhar conhecimentos específicos, mas

necessários a todos os enfermeiros na assistência à

Pessoas com doença renal, contribuindo desta forma

para elevar a segurança e a qualidade dos cuidados

de enfermagem. No final sobressai a interação com

os participantes, que em muito contribuiu para o

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 31

Page 32: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

sucesso obtido e para a satisfação pessoal de todos

os envolvidos na sua realização.

A equipa dinamizadora, deixa o seu obrigado a todos

os que estiveram presentes.

Enf. Chefe Ana Lourenço

Enf. Especialista Lina Borges Araújo

Enf. Especialista Maria do Carmo Carnot

A Terra dos Sonhos é uma Organização de

Solidariedade Portuguesa, sem fins lucrati-

vos, a sua principal atividade consiste na

realização dos sonhos de crianças e jovens

diagnosticados com doenças crónicas e/ou

em estado avançado de doença, crianças e

jovens carenciadas e idosos, como forma

de transmitir uma mensagem de esperança

na possibilidade de realização dos seus

objetivos mais inspiradores, independente-

mente de circunstâncias, condicionamen-

tos e limitações.

http://www.terradossonhos.org

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 32

Page 33: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

Normas de Publicação

A Revista Cuid’Arte tem como objetivo a publicação de trabalhos científicos de reconhecido interesse na área de enfermagem, sob a

forma de artigos de investigação, de revisão ou relato de experiência, que contribuam para o desenvolvimento e visibilidade dos

cuidados de enfermagem. Os artigos devem ser originais e destinados exclusivamente à publicação na Revista Cuid’Arte.

Direitos de Autor

A Revista Cuid’Arte considera os autores responsáveis pelo conteúdo dos artigos, que deve ser original, nomeadamente as

imagens ilustrativas que o acompanham. Qualquer outra informação e/ou imagem sujeita a direitos de autor deve identifi-

car a sua fonte, através do apelido do autor, data e página.

Os artigos devem ser acompanhados de declaração que ateste a originalidade dos conteúdos, o cumprimento dos procedi-

mentos éticos e conceda à Revista Cuid’Arte o direito exclusivo de publicação. A declaração deve ser assinada por todos os

autores e acompanhada de fotocópia de documento de identificação – Bilhete de Identidade ou Cartão do Cidadão.

Tipos de Artigos

Artigo de Investigação – Resulta de uma investigação baseada em dados empíricos. O texto deverá ser estruturado na

forma tradicional – Resumo em português e inglês (abstract), Introdução, Metodologia, Resultados, Discussão, Conclusão,

Agradecimentos e Referências. São admitidas pequenas adaptações a esta estrutura (como inclusão de sub-parágrafos), de

acordo com o trabalho apresentado. Trabalhos que envolvam Seres Humanos devem conter confirmação na secção Meto-

dologia em como estão de acordo com as normas da Comissão de Ética. Deve ser clara a permissão de publicação por enti-

dade/instituição que financiou a investigação. Máximo 10 páginas.

Artigo de Revisão – Artigo no qual o autor interpela sobre um fenómeno, fundamentando as suas afirmações com lite-

ratura temática consultada para o efeito. Máximo 6 páginas.

Relato de Experiência – Artigo em que o autor narra experiências vivenciadas no seu quotidiano que considere enrique-

cedoras para si e para outros. Máximo 4 páginas.

Estrutura do Artigo

Todos os artigos, à exceção dos relatos de experiência, devem conter resumo, com o máximo de 80 palavras e palavras-

chave, até ao máximo de 6. Nos artigos de investigação estes itens devem constar em português e inglês.

Os artigos devem ser acompanhados de imagens ilustrativas – fotografias, tabelas e/ou figuras, preferencialmente originais.

A caracterização de cada tabela e figura deve conter título e legenda de modo a serem compreendidas e interpretadas sem

recurso ao texto. Todas as imagens deverão ser enviadas em suporte digital.

As abreviaturas devem ser evitadas à exceção das unidades do Sistema Internacional. Outras abreviaturas podem ser utiliza-

das caso sejam referidas três ou mais vezes, devendo, na primeira utilização, ser escritas por extenso e imediatamente

seguidas pela sua abreviação entre parênteses.

As referências bibliográficas e as citações bibliográficas devem ser apresentadas segundo o modelo estabelecido pela

Norma Portuguesa Nº 405 – 1 a 4, do Instituto Português da Qualidade.

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 33

Page 34: Revista cuidarte   ano 6 n.º 10 2013

Apresentação

Os artigos devem ser redigidos em folhas A4, impressas num só lado, sem cabeçalho nem rodapé, devidamente numeradas,

com margens inferior e laterais de 2cm e superior de 3cm, em fonte Times New Roman, tamanho 12 a 1,5 espaços. Devem

ser enviados dois exemplares impressos, acompanhados de suporte digital (em formato Word).

A identificação do artigo enviado faz-se pelo título, que deve constar no cimo da página, não devendo ao longo do texto

haver quaisquer referências que permitam identificar o(s) autor(s). Os artigos não deverão ser assinados por mais de

4 autores.

Ao artigo, deve ser anexada carta com os seguintes elementos:

1) título do artigo; 2) nome(s) e apelido(s) do(s) autor(es); 3) grau académico dos autores; 4) filiação institucional dos autores

no momento em que o trabalho foi realizado; 5) nome e contactos do autor que receberá a correspondência, incluindo ende-

reço, telefone, fax ou e-mail; 6) referências a fontes de financiamento ou bolsas de estudo (se aplicável); 7) o nome da insti-

tuição e do curso nos artigos que derivam de trabalhos realizados em contexto académico; 8) e-mail ou telefone de um dos

autores a indicar no final do artigo (aplicável ao artigo de investigação).

As submissões à Revista Cuid’Arte devem ser enviadas para:

Revista Cuid’Arte

Serviço de Gestão da Formação do Centro Hospitalar de Setúbal, EPE.

Rua Camilo Castelo Branco, 2910-446 Setúbal

Cada artigo submetido para publicação é verificado pelo Núcleo Redatorial, quanto ao cumprimento das Normas de Publica-

ção da Revista Cuid’Arte. O processo de revisão editorial será iniciado se o texto obedecer às Normas de Publicação mencio-

nadas. Posteriormente é submetido a uma análise apoiada, sempre que se justifique, por peritos e segundo os critérios: inte-

resse para os destinatários da Revista; originalidade (contribuição significativa ou inovadora); exatidão técnica das referên-

cias e citações; correção e precisão dos conceitos utilizados; adequação metodológica e profundidade na abordagem ao

assunto; atualidade e rigor da bibliografia utilizada; qualidade geral do texto (estrutura lógica e equilibrada, exposição clara

e coerente, estilo objetivo e factual, correção gramatical).

Os peritos são contactados pelo Núcleo Redatorial, pela reconhecida competência na área a que o artigo se refere. Neste

processo de avaliação é preservada a identidade dos autores e consultores. O Núcleo Redatorial poderá sugerir aos autores

modificações nos artigos, para que se adaptem às normas editoriais da Revista. A decisão final sobre a publicação de um

artigo cabe ao Núcleo Redatorial, auxiliado pelo parecer dos peritos. Os artigos não aceites não serão devolvidos, podendo

ser levantados na morada da Revista. Os artigos não refletem, necessariamente, a opinião do Núcleo Redatorial. Será dada

primazia aos artigos submetidos por assinantes da Revista.

Cuid’arte - Revista de Enfermagem novembro 2013 34

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Encarte

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