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FACULDADE PAULUS DE TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO Caio Carvalho Catarina Flório Eliel Guilhen Rodrigo Caravieri DOCUMENTÁRIO: HIV 50+ São Paulo 2015

Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

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Page 1: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

FACULDADE PAULUS DE TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO

Caio Carvalho Catarina Flório Eliel Guilhen

Rodrigo Caravieri

DOCUMENTÁRIO:

HIV 50+

São Paulo

2015

Page 2: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

FACULDADE PAULUS DE TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO

Caio Carvalho Catarina Flório Eliel Guilhen

Rodrigo Caravieri

DOCUMENTÁRIO:

HIV 50+

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado à Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, como requisito de aprovação para o Curso de Comunicação Social, (Projeto Híbrido: JO e RTVI), sob a orientação do prof. Ms Vanderlei Dias.

São Paulo 2015

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação

Carvalho, Caio; Flório, Catarina; Guilhen, Eliel; Caravieri; Rodrigo

Documentário HIV 50+ / Caio de Cavalho, Catarina de Carvalho Vieira Flório,

Eliel Cassemiro Guilhen e Rodrigo Alves Caravieri. – 2015.

122 f.; 30cm.

Trabalho de Conclusão de Curso – Faculdade Paulus de Tecnologia e

Comunicação, São Paulo, 2015.

“Orientação: Prof. Vanderlei Dias”.

1. HIV/AIDS. 2. HIV 50+

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Caio Carvalho

Catarina Flório Eliel Guilhen

Rodrigo Caravieri

Documentário: HIV 50+

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Paulus de Tecnologia e

Comunicação para obtenção do Título de Bacharel em Comunicação Social.

___________________________________

Local e data de aprovação

São Paulo, (dia) de (mês) de (ano).

_______________________________ _______________________________

Prof. Ms. Vanderlei Dias de Souza Nome do Professor(a)

_______________________________

Nome do Professor(a)

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AGRADECIMENTOS

Queremos enfatizar o carinho e respeito por todos da Casa Fonte Colombo, localizada

em Porto Alegre, na qual fomos recebidos de braços abertos com todo o apoio

necessário para entrevistar pessoas incríveis. O trabalho de vocês é fundamental para

que esse assunto não caia no esquecimento.

A todas as pessoas que entrevistamos, que separaram um tempo de suas vidas para

ajudar a dar mais visibilidade a vocês mesmos.

Aos amigos Bruna Lisboa, Edgar Ishikawa, Élder Magalhães, Felipe Rodrigues,

Maunto Nasci, Nilse Carvalho, Philip Morris, Romero Gouw Benitez e Sérgio Pessoa

que nos ajudaram com a produção, filmagem, edição e estética visual do produto.

Ao Cafofo 32, que sediou as nossas reuniões de sábado, sempre com um café quente

e muitas escadas.

Ao Hostel Casa Azul, que nos ajudou com a locação de entrevistas e nos abrigou na

viagem à Porto Alegre.

Ao Google Drive, que nos possibilitou armazenar todas as nossas alterações,

transferências de arquivo e salvou nossas vidas quando perdemos material no

computador.

Aos familiares e amigos que nos apoiaram: sem vocês, esse documentário não seria

possível.

Page 6: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

RESUMO CARVALHO, Caio; FLÓRIO, Catarina; GUILHEN, Eliel; CARAVIERI; Rodrigo. Documentário: HIV 50+. São Paulo, 2015. 122 f. (Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social). O trabalho tem como objetivo geral contribuir com informações sobre o tema AIDS na terceira idade, através de um projeto experimental híbrido (Jornalismo e Rádio, TV e Internet) documental, buscando reunir material que evidencie o cotidiano de portadores do vírus HIV na terceira idade, documentando a história e vida dessas pessoas. Para isso, personagens idosos e soropositivos serão acompanhados por meio de entrevistas e depoimentos, de forma que compreendamos o atual contexto de suas vidas e recuperemos o contexto histórico de quando foram infectados; fazendo com que este trabalho se torne uma ferramenta de reflexão e traga visibilidade a este público. Palavras-chave: AIDS, HIV, Terceira Idade, Idosos.

Modalidade do projeto experimental: O projeto terá o formato de Documentário.

Page 7: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

ABSTRACT

CARVALHO, Caio; FLÓRIO, Catarina; GUILHEN, Eliel; CARAVIERI; Rodrigo. Documentary: HIV 50+. São Paulo, 2015. 122 f. (Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social). The paper's general objective is to contribute with information on the AIDS topic in old age through a hybrid experimental project (Journalism and Radio, TV and Internet) documentary, seeking to gather material showing the HIV virus carriers daily in old age, documenting the history and lives of these people. For this, the elderly and HIV positive characters will be accompanied by interviews and statements, in order to understand the current context of their lives and regain the historical context of when they were infected; making this work becomes a reflection tool and bring visibility to this audience. Keywords: AIDS, HIV, Old Age, Third Age.

Type of experimental project: The project will have a documentary format.

Page 8: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

Sumário

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10

1.1 Apresentação geral do projeto ......................................................................... 10

1.2 Justificativa ....................................................................................................... 12

1.3 Objetivo ............................................................................................................ 12

1.3.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 12

1.3.2 Objetivo Específico ........................................................................................... 13

1.4 Problematização ................................................................................................ 13

1.5 Hipóteses ......................................................................................................... 13

2. AIDS DEPOIS DOS 50 ANOS............................................................................... 13

2.1 AIDS ............................................................................................................. 14

2.1.1 Origem do HIV .................................................................................................. 14

2.1.2 O vírus HIV ....................................................................................................... 15

2.1.3 Sintomas .......................................................................................................... 15

2.1.4 Transmissão ..................................................................................................... 16

2.1.5 Janela Imunológica .......................................................................................... 17

2.1.6 Tratamento ....................................................................................................... 17

2.1.7 HIV nos idosos ................................................................................................. 19

2.2 Terceira Idade ..................................................................................................... 21

2.2.1 A sexualidade na Terceira Idade ...................................................................... 22

2.3 A descoberta da AIDS nos homens .................................................................... 23

2.4 A descoberta da AIDS nas mulheres .................................................................. 24

2.5 Preconceito ......................................................................................................... 25

2.5.1 Preconceito contra a mulher idosa ................................................................... 27

2.6 A Sociedade, o Estigma e o Paciente Soropositivo ............................................. 29

3. DOCUMENTÁRIO ................................................................................................. 30

3.1 Jornalismo Investigativo ...................................................................................... 32

3.2 Referencial Estético ............................................................................................ 34

3.2.1 Documentários ................................................................................................. 34

3.2.2 Produções Ficcionais ....................................................................................... 37

3.3 Comunicação ...................................................................................................... 38

3.4 Trilha Sonora ....................................................................................................... 38

3.5 Animação ............................................................................................................ 39

3.6 Características .................................................................................................... 39

3.6 Inserção no Mercado ........................................................................................... 41

Page 9: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

3.6.1 Veiculação Principal ......................................................................................... 41

3.6.2 Veiculação Alternativa ...................................................................................... 44

3.7 Construção da Identidade Visual ......................................................................... 47

4. PROCEDIMENTOS ............................................................................................... 50

4.1 Metodologia ......................................................................................................... 50

4.2 Pautas ................................................................................................................. 53

4.2.1 Pauta para o médico infectologista .................................................................. 53

4.2.2 Pauta para o médico psicólogo ........................................................................ 54

4.2.3 Pauta para os portadores de HIV/AIDS ............................................................ 55

4.3 Entrevistados ....................................................................................................... 56

4.4 Análise de Mídia .................................................................................................. 60

5. MATERIAL DESCRITIVO DE PRODUÇÃO .......................................................... 65

5.1 Cronograma ........................................................................................................ 65

5.2. Atividades desenvolvidas ................................................................................... 68

5.2.1 Escolha do tema e coleta de material .............................................................. 68

5.2.2 Entrevistas e viagens ....................................................................................... 70

5.2.3 As últimas horas ............................................................................................... 76

5.2.4 Episódios isolados ............................................................................................ 77

5.3 Orçamento ........................................................................................................... 77

5.4 Material usado na gravação ................................................................................ 79

5.5 Roteiro ................................................................................................................. 79

5.5.1 Localização ...................................................................................................... 79

5.5.2 Locações .......................................................................................................... 79

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 80

7. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 81

7.1 Quadro Teórico ................................................................................................... 81

7.1.1 AIDS na Terceira Idade .................................................................................... 81

7.1.2 Documentário ................................................................................................... 85

7.2 Referências Audiovisuais .................................................................................... 86

7.3 Metodologia ......................................................................................................... 87

7.4 Análise de Mídia .................................................................................................. 88

7.5 Outros.................................................................................................................. 90

8. APÊNDICE ............................................................................................................ 93

8.1 Apêndice A: Roteiro Transcrito ............................................................................ 93

8.2 Apêndice B: Documento de Autorização Fapcom ............................................. 111

Page 10: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

8.3 Apêndice C: Autorizações ................................................................................. 112

Page 11: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

10

1. INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação geral do projeto

O tema do projeto experimental é AIDS acima dos cinquenta anos, a ser feito

através de um produto híbrido (Jornalismo e Rádio, TV e Internet) documental, na

modalidade de conhecimento produção multimídia.

Desde a identificação da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a AIDS, no

início dos anos oitenta, muito se descobriu acerca da doença, trazendo mudanças na

compreensão do vírus HIV, no tratamento da doença e suas consequências.

Primeiramente, foi um desafio à medicina, que não encontrava soluções e tampouco

assimilava a desconhecida enfermidade que se mostrava fatal para os atingidos.

Enquanto a doença se espalhava, a imprensa utilizava o termo peste gay para noticiar

a epidemia, devido aos primeiros casos registrados entre a comunidade gay

masculina de São Francisco, nos Estados Unidos da América, ecoando até os dias de

hoje um forte preconceito em torno da doença, a ideia de que a AIDS é uma

enfermidade de homossexuais. Além disso, sexo permanece como tabu e, sendo a

relação sexual o principal disseminador do vírus, consolida o preconceito contra

soropositivos, julgados como promíscuos pela sociedade conservadora e machista.

Três décadas se passaram e a ciência progrediu o bastante para que seja

possível viver com AIDS. Hoje, os portadores do HIV podem levar uma vida normal e

se relacionar, inclusive, com pessoas sorodiscordantes. Contudo, os efeitos colaterais

dos remédios, as restrições de comportamento, o preconceito presente no dia a dia e

a possibilidade de cura não cessaram, trazendo grande impacto na sociedade

contemporânea, seja como doença ou como fonte de discriminação, o que levou a

inúmeras campanhas de prevenção e conscientização serem promovidos pelo

governo e instituições não governamentais, colocando os jovens como foco das

ações.

Entretanto, a quantidade de pessoas mais velhas contaminadas com o vírus

está crescendo em ritmo acelerado entre 2002 e 2013, segundo a edição mais recente

do Boletim Epidemiológico AIDS e DST, elaborado pelo Ministério da Saúde. Em

Page 12: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

11

2002, os infectados pelo HIV acima dos cinquenta anos1 correspondiam a cerca de

11% do total, saltando esta proporção para 17% no ano de 2013.

Figura 1 – Pessoas infectadas pelo vírus HIV com mais de 50 anos

Fonte: Boletim Epidemiológico AIDS e DST 2014

O contágio entre os mais velhos não se trata apenas da sexualidade na terceira

idade, mas sim, a prova de que é possível viver muitos anos com a doença. Levando

em consideração, também, que as pessoas infectadas há anos estão vivos e bem.

Enquanto a mídia e a população em geral costumam discutir sexo na juventude,

existe uma enorme lacuna quando se fala da sexualidade entre os idosos. Ou não é

falado ou é repleto de preconceito, que vai além daquele sofrido pelos mais jovens,

pois tanto as pessoas, quanto a mídia tendem a tachar idosos como pessoas

santificadas, assexuadas e que não fogem do estereótipo, sendo estas

representações sociais gerontofóbicas. Entretanto, o sexo na terceira idade acontece

como em todas as outras faixas etárias – inclusive existem locais propícios aos

encontros dos mais velhos, como os bailes da terceira idade. Portanto, é necessário

discutir o tema AIDS e conscientizar pessoas acima dos sessenta anos, que acreditam

ser imunes à doença por acreditar que ela só afeta os jovens.

O idoso merece atenção diferenciada, e com AIDS o cuidado deve ser maior.

Devido às dificuldades enfrentadas na velhice, como memória falha, muitos não

conseguem lembrar fatos da vida e outros detalhes. Além disso, o desamparo e

angústia que toma o infectado é imensurável. O momento que exige apoio pode tomar

1 Para a UNAIDS, pessoas com idade acima de 50 são consideradas idosas.

9%

11%

13%

15%

17%

19%

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Pessoas infectadas pelo vírus HIV com mais de 50 anos

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12

sentido contrário, levando o idoso a lutar não apenas contra a AIDS, mas contra a

rejeição familiar.

1.2 Justificativa

O quadro da AIDS, por si só, justifica a importância de mais projetos que levem

adiante pesquisas referente ao tema. Neste projeto experimental, de um produto

audiovisual no formato de documentário, o foco é na terceira idade, pois se faz

necessário compreender como a AIDS interfere na faixa etária acima dos cinquenta

anos, expondo a realidade complexa vivida por estas pessoas que, além de não terem

visibilidade, estão mascaradas e esquecidas pela maioria. A exposição dos problemas

enfrentados pelos portadores do vírus HIV na terceira idade, o contexto de quando

foram infectados e a forma como lidam com a situação atualmente são fatores de

extrema relevância tanto para combater o preconceito e estereótipos quanto para dar

esperança àqueles que sentem que estão vivendo seus últimos anos sob muita

humilhação e cercados de melancolia, tristeza e solidão.

Só a informação poderá convencer as pessoas, de uma vez por todas, de que o sexo continua ocorrendo entre os mais velhos – sem que isso precise ser uma surpresa ou motivo de piada. E que, como todos os demais brasileiros, eles estão expostos a um ambiente altamente sexual, como é o nacional. (GORINCHTEYN, 2010, p. 51)

Tratando desse assunto, objetiva-se o fato de que jovens, adultos e idosos

devem ter os mesmos cuidados na vida sexual, uma vez que não existe um grupo de

risco, mas sim, um comportamento de risco. Como não existem muitas campanhas

de conscientização, prevenção e combate para este público, o estudo é relevante para

produzir e disseminar informação sobre prevenção e aceitação do soropositivo.

1.3 Objetivo

1.3.1 Objetivo Geral

Relatar a vida de soropositivos na terceira idade através de um projeto

experimental que envolve as habilitações de Jornalismo e Rádio, TV e Internet com o

formato de documentário.

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1.3.2 Objetivo Específico

Esclarecer pontos não discutidos sobre a vida dos soropositivos na terceira

idade, desmistificando alguns estereótipos e tabus sobre suas rotinas e vidas sexuais.

Levantar questionamentos sobre a ausência de campanhas específicas para a

prevenção e convívio com soropositivos da terceira idade.

Evidenciar que a longevidade de pessoas com AIDS é possível.

Evidenciar que a terceira idade possui vida sexual ativa, mesmo existindo

dificuldades naturais entre os gêneros.

Divulgar dados de pesquisas sobre o HIV baseadas em fontes governamentais.

Explicar as dificuldades que o soropositivo enfrenta no seu dia a dia, desde sua

mudança de hábito depois da descoberta do vírus até o preconceito sofrido pela

sociedade.

Promover o entendimento e aceitação do soropositivo, para que haja reinserção

social.

1.4 Problematização

É possível conviver bem com o vírus HIV, após os cinquenta anos de idade,

independentemente de o contágio ter acontecido antes ou depois dessa idade?

1.5 Hipóteses

A ausência de discussão aberta e franca sobre a sexualidade durante o

envelhecimento faz da AIDS uma doença silenciosa e desconhecida para a terceira

idade.

O preconceito contra a doença faz esse público ser desconhecido, uma vez

que, por ser uma doença sem cura, não se pode associa-la à longevidade.

2. AIDS DEPOIS DOS 50 ANOS

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14

2.1 AIDS

2.1.1 Origem do HIV

O HIV, mais precisamente a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida -

SIDA, na sigla em português), ganhou destaque global nos anos 1980, quando foi

descoberta e reconhecida oficialmente como doença. Seu surgimento ocorreu em

primatas no centro-oeste africano e foi transmitida para os seres humanos no início

do século XX (vinte) por meio do contato de caçadores com o sangue ou consumo da

carne dos animais.

De acordo com pesquisadores liderados por Oliver Pybus, da Universidade de

Oxford, no Reino Unido, e Philippe Lemey, da Universidade Católica de Leuven, na

Bélgica2, a linhagem do vírus HIV, que saltou dos macacos para os humanos, e

causou a pandemia mundial que acontece hoje, teria começado por volta de 1920 em

Kinshasa, capital da República Democrática do Congo (RDC), na África, de onde se

espalhou para o resto do planeta.

Conhecida como Léopoldville, Kinshasa era capital do Congo Belga, um dos

centros comerciais mais importantes do período colonial. Pybus destaca que os

processos de urbanização, como uma extensa rede de transporte ferroviários e fluviais

pela qual circulavam cerca de um milhão de pessoas no final dos anos quarenta, foram

os responsáveis pela disseminação do vírus, uma vez que esses sistemas de

locomoção conectavam o sul da RDC às fronteiras com a Zâmbia e Tanzânia, e à

região norte com Uganda, Ruanda e Burundi. "Era uma cidade muito grande e uma

área de rápido crescimento. Registros médicos coloniais mostram indícios de várias

doenças sexualmente transmissíveis".

Outro fator que contribuiu para que a doença se espalhasse foi o comércio

sexual e a prostituição, além do manuseio de seringas não-esterilizadas em clínicas

durante campanhas de vacinação contra doenças infectocontagiosas. Segundo

Pybus, estas condições duraram por algumas décadas em Kinshasa e, mesmo após

deixar de existir, o vírus já começava a infectar milhares de pessoas em todo o mundo.

2 Artigo publicado em 2 de outubro de 2014 na revista científica Science, publicada pela Associação Americana para o Avanço da Ciência (ingl.: American Association for the Advancement of Science — AAAS). A publicação é uma das mais conhecidas no meio científico e tem cerca de um milhão de leitores mensais.

Page 16: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

15

Em seu livro The Origins of AIDS 3, Jacques Pepin, especialista em doenças

infecciosas da Universidade de Sherbrooke, em Quebec, conta que o ancestral da

AIDS está em uma subespécie de chimpanzé chamada Pan troglodytes4, que vive

entre os rios Sanagá e Congo5. Dois tipos de HIV foram caracterizados: o HIV-1, mais

infeccioso, e o HIV-2, que apresenta menos risco de contaminação. A linhagem HIV-

1, que é o vírus originalmente descoberto no início do século XX (vinte), possui quatro

grupos genéticos (M, N, O e P) que mostram que o salto do chimpanzé para o homem

aconteceu pelo menos quatro vezes na história. No entanto, apenas um destes

eventos, o que deu origem ao grupo M - responsável por mais de 99% dos casos -,

desencadeou a pandemia global.

2.1.2 O vírus HIV

O HIV é um retrovírus classificado na subfamília dos Lentiviridae que

apresentam sintomas comuns entre si, como período de incubação prolongado antes

do surgimento dos sintomas da doença - muitos soropositivos podem viver anos sem

desenvolver a doença -, infecção das células do sangue e do sistema nervoso e

supressão do sistema imune. A principal característica do vírus é que ele ataca o

sistema imunológico (que defende o organismo de doenças), mais precisamente os

linfócitos T CD4+ (glóbulos brancos).6

2.1.3 Sintomas

Basicamente, existem três fases da infecção pelo vírus HIV. A primeira é a

infecção aguda, também chamada de síndrome retroviral aguda. Ela precede os

primeiros sinais da doença e dura de três a seis semanas após a exposição ao vírus.

Muita gente acaba confundindo os sintomas como os de uma gripe comum, já que

3 PEPIN, Jacques. The Origins of AIDS. Grã-Bretanha: Cambridge UK, 2013. 4 Pan troglodytes é o nome científico do chimpanzé comum, também conhecido como chimpanzé robusto, uma das espécies mais famosas no continente africano. 5 O Rio Sanagá é o mais importante dos Camarões. Já o Rio Congo é um segundo maior da África e o sétimo maior rio do mundo. 6 Linfócitos T CD4+ são glóbulos brancos que atuam no sistema imunológico e são também as principais células atingidas pelo vírus HIV, causador da AIDS.

Page 17: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

16

febre e mal-estar são fatores característicos desta primeira fase. Por isso, a maioria

dos casos pode passar despercebida e, assim, evitar que o paciente detecte a doença.

O segundo estágio da infecção é o assintomático (ou crônico). O vírus começa

a sofrer diversas mutações rapidamente, mas que não enfraquecem o organismo o

suficiente para permitir novas doenças, uma vez que os vírus são extintos de forma

equilibrada. Mesmo doente, o paciente pode conviver com os vírus por muitos anos -

a média é de oito anos.

A última fase da AIDS é a sintomática inicial, e acontece em decorrência da

assintomática. Como as células de defesa passaram anos tentando evitar o ataque

constante do vírus HIV no organismo, os linfócitos começam a funcionar com menos

eficiência até atingirem seu limite e serem destruídos. Para efeito de comparação, a

quantidade de glóbulos brancos presentes em adultos saudáveis varia entre 800 a

1.200 unidades por mm³ (milímetros) de sangue. Já em usuários em estado avançado

do HIV, esse valor fica abaixo de 200 unidades.

Com a baixa imunidade do sistema imunológico, o paciente fica mais vulnerável

a outras doenças. São as infecções oportunistas, que se aproveitam da fraqueza do

sistema de defesa do corpo humano. Entre as complicações estão hepatites virais,

tuberculose, pneumonia, toxoplasmose, alguns tipos de câncer ou simples resfriados

e problemas gastrointestinais.

2.1.4 Transmissão

O HIV pode ser transmitido por diversos elementos do organismo, incluindo

sangue, sêmen, secreção vaginal e leite materno. Por isso, são muitas as formas de

contágio pelo vírus por meio de outra pessoa - ou seja, ele precisa ir de um indivíduo

para o outro. De acordo com o site do Governo Federal7, existem cinco maneiras mais

comuns que podem ocasionar a transmissão do HIV. São elas: sexo sem camisinha

(vaginal, anal ou oral); transmissão vertical, que é quando a mãe soropositiva passa

a doença para o filho durante a gestação, parto ou amamentação; transfusão de

7 Disponível em: <http://www.aids.gov.br/pagina/o-que-voce-precisa-saber-sobre-aids>. Acesso em: 08 nov. 2014.

Page 18: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

17

sangue contaminado com o vírus; instrumentos não esterilizados que furam ou

cortam; e uso de agulhas ou seringas contaminadas por mais de uma pessoa.

2.1.5 Janela Imunológica

Uma vez no organismo, o vírus inicia um processo de replicação viral, alterando

o DNA da T CD4+ e fazendo cópias de si mesmo. Após se multiplicar, ele rompe os

linfócitos em busca de outros para continuar a infecção do indivíduo. É aí que o

paciente pode atingir o estágio mais avançado da doença, que é a AIDS. Como o

sistema imunológico fica comprometido e não consegue responder de forma

automática a agentes externos, o usuário pode contrair doenças mais facilmente, de

um simples resfriado a infecções mais graves, como câncer e tuberculose.

Durante esse período em que os anticorpos são produzidos em resposta ao

vírus da AIDS acontece a chamada "janela imunológica", o intervalo de tempo entre a

infecção e a produção de defesas do organismo contra a ameaça. Ainda segundo o

site do Governo Federal, o período de identificação do contágio pelo vírus depende

do tipo de exame (quanto à sensibilidade e especificidade) e da reação do organismo

do indivíduo). A sorologia positiva é constatada de trinta a sessenta dias após a

exposição ao HIV, mas existem casos em que o prazo pode aumentar para até cento

e vinte dias.

Há também a possibilidade de um teste de HIV apresentar um falso resultado

negativo durante o período da janela imunológica. Neste caso, a recomendação é

realizar um novo teste depois de trinta dias e não praticar relações sexuais sem

camisinha ou compartilhar seringas para evitar a contaminação de outras pessoas.

2.1.6 Tratamento

O acompanhamento da doença e o uso de medicamentos é o mesmo para

pacientes que descobriram o vírus agora ou posteriormente. A medida vale tanto para

adultos jovens quanto para idosos. Hoje, a terapia anti-HIV consiste no uso de

remédios chamados antirretrovirais, com o objetivo de inibir a replicação do vírus no

sistema imunológico.

Page 19: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

18

Segundo Jean Gorinchteyn8, atualmente, existe cerca de dezoito drogas

disponíveis para impedir a multiplicação do HIV. Uma das mais conhecidas é o AZT9,

que surgiu na década de oitenta, mas que se mostrou ineficaz até meados dos anos

noventa porque o vírus apresentou altos índices de resistência. Foi nessa época que

a medicina aderiu à mistura de três drogas para reduzir a capacidade de resistência

do vírus, procedimento que dura até hoje.

No que diz respeito ao tratamento do HIV, um dos pontos mais discutidos na

comunidade médica é sobre quando o acompanhamento deve ser iniciado: se no

começo, logo nas primeiras semanas de descoberta da doença, ou após um

desenvolvimento prolongado do vírus. Para tal, o Dr. Luis Camargo10 afirma que

existem duas correntes de explicação. A primeira é baseada no HIV agudo,

caracterizado como um quadro viral qualquer, como uma gripe, febre, manchas

vermelhas no corpo etc. "Tem gente que acha que se você tratar nesse momento,

esse paciente no futuro pode ter uma maior chance de tirar o remédio e o vírus não

replicar mais", alega.

Já a segunda corrente de pensamento diz que, conforme os usuários são

tratados por um longo período de tempo, faz-se a necessidade de remover os

medicamentos da rotina daqueles pacientes. A isso, um grupo de pesquisadores do

Instituto Pasteur11, em Paris, deu o nome de "cura funcional"12, quando o vírus, apesar

de não desaparecer do organismo, entra em remissão e o paciente não precisa mais

de remédios.

Independentemente dos estudos científicos, a diretriz atual do Ministério da

Saúde é tratar o HIV em qualquer momento da doença. Segundo Camargo,

8 Jean Gorinchteyn é infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, entidade referência no tratamento de doenças infectocontagiosas que se destacou no Brasil e no mundo no acompanhamento dos primeiros casos da AIDS no país. 9 Também conhecido como zidovudina, o AZT é um remédio usado como antiviral, indicado para o tratamento da AIDS no Brasil. Foi uma das primeiras drogas aprovadas no país para cuidar de pessoas infectadas com o vírus HIV. 10 Luis Fernando Aranha Camargo é infectologista e gerente de pesquisa clínica do Hospital Israelita Albert Einstein. Formado na Universidade Federal de São Paulo, possui 25 estudos publicados em revistas indexadas, abordando infecções em pacientes graves e em pacientes submetidos a transplantes. Concedeu uma entrevista para a construção desse trabalho. 11 Fundação francesa privada, sem fins lucrativos, focada em pesquisas sobre a biologia dos microrganismos, doenças e vacinas. Foi a primeira instituição a isolar o HIV, em 1983. 12 Disponível em: <http://www.plospathogens.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.ppat.1003211>. Acesso em: 08 nov. 2014.

Page 20: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

19

"diagnosticar mais precocemente diminui a mortalidade e reduz as chances de

progressão do vírus para a AIDS".

Quanto à resposta ao tratamento, Camargo afirma que, em geral, os pacientes

respondem bem - tanto os mais jovens quanto os idosos. O problema é a adesão:

"Esse é o fator mais importante para a resposta ou não. Quem adere mais, responde

melhor", diz o especialista.

2.1.7 HIV nos idosos

Se falar sobre o HIV na juventude já é complicado, discutir a doença em

pessoas com mais de cinquenta, sessenta anos é uma tarefa ainda mais delicada.

Com base nos depoimentos recolhidos ao longo do projeto, o grupo descobriu que

algumas pessoas com idades mais avançadas possuíam pouco conhecimento sobre

a doença e, quando a descobriram, não sabem como agir ou que tipo de ajuda

procurar. Para os recém-descobertos soropositivos que viram ou leram alguma coisa

relacionada ao HIV é chegada a hora de lidar com possíveis complicações e lutar

contra o preconceito da sociedade que, em muitos casos, começa dentro da própria

família.

Segundo a Organização Mundial da Saúde13, nos países em desenvolvimento,

pessoas a partir dos sessenta anos são consideradas como indivíduos da terceira

idade, enquanto em nações desenvolvidas essa idade sobe para sessenta e cinco (no

documentário, falaremos sobre pessoas acima dos cinquenta anos, pela experiência

das mesmas, focando também no número de anos em que a pessoa convive com o

vírus). Dados recentes do Programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS14

apontam que, dos 730 mil casos registrados da doença no Brasil em 2013, mais de

15 mil correspondem aos idosos. Para efeito de comparação, em 1991 eram apenas

950 ocorrências de pessoas da terceira idade portadoras do vírus.

De acordo com Gorinchteyn, fisiologicamente o HIV em pessoas idosas tem a

mesma cadeia de desenvolvimento de portadores mais jovens. A única diferença está

13 Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/envelhecimento_ativo.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2014. 14 Disponível em: <http://www.unaids.org/en/resources/campaigns/2014gapreport>. Acesso em: 08 nov. 2014.

Page 21: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

20

no fato do usuário ter o organismo mais fragilizado por conta da idade: como seu

sistema imunológico já é mais fraco devido ao envelhecimento natural das células, o

avanço do HIV sem tratamento pode ocasionar infecções mais graves que acabam

confundidas com outras doenças características dessa faixa etária.

Outro fator mais agravante nos idosos é o aumento no nível de concentração

de gorduras como o colesterol e as triglicérides15. Este aumento está diretamente

relacionado ao uso da medicação específica para tratar o HIV, como explica

Gorinchteyn:

Os antirretrovirais também causam um fenômeno chamado lipodistrofia, caracterizado pelo acúmulo de gordura em determinados pontos do corpo e sua escassez em outros. É comum, por exemplo, o paciente apresentar rosto, braços e pernas bastante emagrecidos, justamente pela redução de gordura nesses locais. (...) Estes efeitos estabelecem-se a partir do primeiro ano de uso das medicações, agravando-se com o passar do tempo. (GORINTCHETEYN, 2010, p. 92)

Jean explica que as medicações também podem dificultar a entrada de

açúcares nas células do organismo, um fenômeno conhecido como resistência à

insulina, que pode ocasionar o aparecimento do diabetes. Além disso, outras drogas

podem provocar alterações na deposição de cálcio (mineralização) no osso, tornando-

o mais vulnerável a fraturas, ou alterar “a função dos ruins, diminuindo a filtração de

substâncias tóxicas do sangue, como a ureia e a creatinina”.

A questão é que, como a maioria das pesquisas feitas até hoje tiveram como

foco o acompanhamento de pacientes adultos mais jovens, esses sintomas mais

agravantes em idosos não são estudados de forma constante e profunda, o que acaba

dificultando a criação de técnicas medicinais voltadas para esse público específico.

Isto, consequentemente, eleva o risco de doenças cardíacas e vasculares causadas

pelas altas taxas de colesterol no sangue, como o infarto do miocárdio, a hipertensão

arterial e os derrames cerebrais. Para destacar este tópico, Gorinchteyn afirma:

Por mais que esses idosos tenham cuidado com a alimentação, pratiquem exercícios e tomem os remédios recomendados, há uma imensa dificuldade em manter as taxas nos níveis desejados. Esta situação é mais acentuada especialmente nas mulheres em período de menopausa, pois o colesterol que seria utilizado para produção de hormônios estrogênicos acumula-se no sangue e, consequentemente, deposita-se nas artérias, tendendo a entupi-las. (GORINTCHETEYN, 2010, p. 93)

15 Presentes na maioria dos alimentos ingeridos pelas pessoas, os triglicérides são a forma de gordura mais comum do corpo humano e compõem a maior parte das gorduras de origem vegetal e animal. Podem ser adquiridos pela alimentação ou produzidos no próprio organismo pelo fígado.

Page 22: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

21

2.2 Terceira Idade

Recentemente, a expressão “Terceira Idade” tem sido usada com frequência

para descrever os idosos. De acordo com Laslett (1987), a denominação originou-se

na França dos anos setenta com a implantação das Universidades da Terceira Idade

(fran: Universités du Troisième Âge), sendo incorporada ao vocabulário anglo-saxão

com a criação das Universities of the Third Age em Cambridge, na Inglaterra, no verão

de 1981.16

Seu uso corrente entre os pesquisadores interessados no estudo da velhice não é explicado pela referência a uma idade cronológica precisa, mas por ser essa uma forma de tratamento das pessoas de mais idade, que não adquiriu ainda uma conotação depreciativa. A invenção da terceira idade é compreendida como fruto do processo crescente de socialização da gestão da velhice: durante muito tempo considerada como própria da esfera privada e familiar, uma questão de previdência individual ou de associações filantrópicas, ela se transformou em uma questão pública. Um conjunto de orientações e intervenções foi definido e implementado pelo aparelho de Estado e outras organizações privadas. Como consequência, tentativas de homogeneização das representações da velhice são acionadas e uma nova categoria cultural é produzida: as pessoas idosas, como um conjunto autônomo e coerente que impõe outro recorte à geografia social, autorizando a colocação em prática de modos específicos de gestão. (DEBERT, 1997)

Estima-se que, no Brasil, o número de indivíduos acima dos sessenta e cinco

anos irá quadruplicar até 2060, amparado por uma maior expectativa de vida, que no

brasileiro deve aumentar dos atuais setenta e cinco para oitenta e um anos17. Com

mudanças da estrutura etária da população nacional, resultado da redução do número

de jovens e do aumento dos idosos, o país passará por profundas transformações.

O crescimento da população de idosos, em números absolutos e relativos, é um fenômeno mundial e está ocorrendo a um nível sem precedentes. Em 1950, eram cerca de 204 milhões de idosos no mundo e, já em 1998, quase cinco décadas depois, este contingente alcançava 579 milhões de pessoas, um crescimento de quase 8 milhões de pessoas idosas por ano. As projeções indicam que, em 2050, a população idosa será de 1900 milhões de pessoas, montante equivalente à população infantil de 0 a 14 anos de idade (IBGE,

2000, p. 247)18

16 Disponível em: <http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_34/rbcs34_03.htm>. Acesso em: 08 nov. 2014. 17 Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/08/130829_demografia_ibge_populacao_brasil_lgb>. Acesso em: 08 nov. 2014. 18 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/25072002pidoso.shtm>. Acesso em: 08 nov. 2014.

Page 23: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

22

2.2.1 A sexualidade na Terceira Idade

As pessoas estão vivendo por mais tempo e, assim, despertando

questionamentos sobre o modo como se percebe o processo do envelhecimento, além

de trazer transformações nos valores éticos, estéticos e sociais. Entretanto, a

sexualidade na terceira idade é um tema pouco conhecido e menos entendido pela

sociedade, pelos próprios idosos e pelos profissionais da saúde (STEINKE, 1997). A

crença de que o avançar da idade e o declinar da atividade sexual estão

inexoravelmente ligados, têm sido responsáveis pela pouca atenção dada a uma das

atividades mais fortemente associadas à qualidade de vida, como é a sexualidade

(BALLONE, 2001).19

Considerar a sexualidade em idosos como algo natural está longe de ser aceito

pela sociedade, que mantém e reforça estereótipos calcados no preconceito e na falta

de informação. É comum enxergar a velhice como sinônimo do comportamento

assexuado, santificando os mais velhos por meio de uma visão ilusória que foge do

padrão em que realmente vivemos hoje.

Socialmente, e no caso dos idosos, a valorização dos estereótipos projeta

sobre a velhice uma representação social gerontofóbica20 e contribui para a imagem

que eles têm de si próprios, bem como das condições e circunstâncias que envolvem

a velhice, pela perturbação que causam, uma vez que negam o processo de

desenvolvimento.

O “Ancianismo” como conceito gerontológico, define-se como o processo de

estereotipia e de discriminação sistemática contra as pessoas porque são velhas

(Staab e Hodges, 1998).21

Ao fortalecer o estereótipo da velhice assexuada, agrava-se a vulnerabilidade

do idoso para as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), inclusive a AIDS, por

negligenciar um grupo específico da população/o, tanto no acesso à informação

quanto no suporte social.

19 Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=173>. Acesso em: 08 nov. 2014. 20 A gerontofobia corresponde ao medo irracional de envelhecer e de tudo que se relaciona com a velhice. 21 Estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica. Disponível em: <http://www.ipv.pt/millenium/Millenium29/32.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2014.

Page 24: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

23

Não resta dúvida de que a informação e solidariedade são duas armas essenciais para enfrentar a Aids. Porque se trata de uma doença que atinge o ser humano, independentemente de sua idade. Portanto, jovens, adultos e idosos devem ter os mesmos cuidados na sua vida sexual, conscientes de que todo aquele que não se prevenir convenientemente pode ser contaminado (GORINCHTEYN, 2010, p. 20)

2.3 A descoberta da AIDS nos homens

Por conta do estigma de que o homem deve ser a personagem central na

sociedade, revelar um diagnóstico positivo ao paciente pode abalar por completo sua

estrutura e integridade de “macho dominante”. Muitos deles desconsideram o fato que

o HIV não escolhe suas vítimas, ou seja, pode infectar qualquer pessoa durante o

sexo sem proteção ou por meio de drogas injetáveis, independentemente da condição

social ou financeira.

A questão é que a maioria dos homens ainda associa a doença como uma

patologia exclusiva dos homossexuais – no início da década de 80 ficou conhecida

como a “Peste Gay”. Logo, quando o usuário é diagnosticado com o HIV, a primeira

reação em muitos pacientes do público masculino é se perguntar sobre a própria

sexualidade. Alguns encontram dificuldade em assumir sua condição, seja como

heterossexuais, homossexuais ou bissexuais, especialmente para contar uma

possível traição às suas parceiras (os). Para Jean Gorinchteyn, “a afirmação de

masculinidade, de virilidade, é tão fundamental na sua vida quanto o ar que respira”

(2010, p 72).

Soma-se a isso a inibição de inúmeros pacientes em conversar com seus

médicos sobre como podem ter se contaminado:

Muitas vezes a opção sexual, a maneira de contaminação, jamais é revelada, sendo preferido o segredo, mesmo em relação ao médico que o acompanha há tantos anos, o que dificulta estabelecer uma real estatística para este grupo etário. A verdade é que pacientes que se revelam bissexuais costumam se arrepender depois da confissão, e passam a entrar nos consultórios cabisbaixos, envergonhados, alguns deles jamais retornam, optando por trocar de médico, sob a alegação de conflito de horários. (GORINCHTEYN, 2010, p. 64)

Ainda segundo Jean, fora a dificuldade em assumir sua condição de

soropositivo, o homem enfrenta o preconceito em se adaptar em uma rotina de mais

cuidados por conta do vírus e do tratamento. Os casos mais graves exigem exames

periódicos para evitar doenças cardiovasculares, como infarto ou acidente vascular.

Page 25: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

24

Estereotipados como os chefes de família, os homens da terceira idade estão

adaptados a um modo de vida diferente nos tempos atuais. Sendo assim, a partir do

momento da descoberta, os homens se sentem vulneráveis a julgamentos familiares,

por não serem tão capazes de manter a família como antes, uma vez que o tratamento

leva tempo e esforço, eles precisam muitas vezes parar de trabalhar, para se dedicar

à saúde.

2.4 A descoberta da AIDS nas mulheres

A AIDS é uma das doenças que mais afetam as emoções dos pacientes, e tal

cenário muda a rotina principalmente do público feminino. Na terceira idade, o corpo

feminino já não é mais o mesmo. O questionamento estético é algo mais presente, a

autoestima começa a diminuir pelo aparecimento das rugas, dos cabelos brancos, da

flacidez na pele, as mulheres se sentem mais frágeis.

No caso da doença, muitas mulheres se deparam com a notícia de que foram

infectadas com o vírus pelo companheiro que dividiu décadas de vida. Ao descobrirem

que contraíram o HIV, algumas portadoras veem seu casamento se desestruturar e

suas emoções serem abaladas diante de tanto questionamentos, entre eles: “Como

ele teve coragem de não me proteger?”.

Existem também as mulheres que são infectadas após a perda de seus

maridos. Por causa da solidão ou por incentivo de amigos, elas procuram retomar

suas vidas e se relacionam novamente, mas por conta da idade não se preocupam

com o preservativo na hora das relações sexuais com outros parceiros. Falando em

prevenção, o problema é ainda maior porque não se tem o costume de falar sobre

camisinha feminina, uma vez que as campanhas publicitárias, do governo e até

mesmo especialistas da área da saúde costumam recomendar a proteção do órgão

sexual masculino, e não do feminino.

Beatriz Pacheco22, 65 anos, tem AIDS e afirma ser complicado encontrar

preservativos para mulheres que sejam mais acessíveis (disponível em apêndice c),

ainda mais em postos de saúde, onde devem ser distribuídos gratuitamente.

22 Beatriz Pacheco: de acordo com entrevista concedida para esse trabalho.

Page 26: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

25

São caríssimos! E são poucos os postos de saúde que os tem para distribuição. Além disso, a grande maioria das mulheres idosas sequer se toca - sem ser no banho -, já que, mais uma vez, ‘no nosso tempo’, estas coisas eram associadas a pecado, ou coisa de ‘prostituta’. O prazer não era para as mulheres da minha geração.

Outro ponto discutido por Beatriz é que mulheres pós-menopausa não têm sua

vagina lubrificada, o que facilita sua exposição na relação sexual. O órgão pode ter

microfissuras que possibilitam a entrada de microrganismos e, consequentemente,

aumentam as chances de contágio de DST e Hepatites Virais.

2.5 Preconceito

O idoso ainda é segregado de diversos setores e ambientes na sociedade,

sejam na família, no trabalho ou em suas atividades de rotina. Basta andar pela rua,

ligar a TV ou prestar atenção durante uma entrevista de emprego: são poucas as

oportunidades destinadas ao público com idades mais avançadas. Isso sem contar

que essa parte da população tem pouco destaque na mídia e até mesmo nas decisões

tomadas pelo governo, que muitas vezes ignoram as pessoas da terceira idade por

acharem que elas não podem trazer nenhuma contribuição significante à sociedade.

Com os pacientes infectados pelo HIV, a situação é mais atenuada, já que,

muitas vezes, o preconceito parte do próprio paciente. Em muitos casos, a primeira

reação é negar a doença ou se colocar na condição de que, agora que a contraiu, a

vida chegou ao fim, uma vez que diversos soropositivos acreditam que não poderão

viver normalmente.

O mais difícil talvez seja aceitar que ele ou ela foi contaminado (a) pelo marido

ou esposa, além de enfrentar forte resistência em assumir que teve um

relacionamento extraconjugal com outra (o). As preocupações que mais afligem as

mulheres são: a aceitação da sociedade ou o risco de contraírem doenças

oportunistas, enquanto os homens se preocupam mais em tomar remédio a vida toda

ou de ter contaminado outra pessoa. Soma-se a isso o fato de que 19% dos portadores

do vírus não contam aos seus parceiros (as) de que possuem o HIV, como mostra o

gráfico abaixo23:

23 Disponível em: < http://issuu.com/joaoricardodeabrahao/docs/atitude_abril_aids_book?e=0/10155719>. Acesso em: 15 nov. 2014.

Page 27: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

26

Figura 2 – As Maiores Preocupações

Fonte: Pesquisa Atitude Abril AIDS 2014

Além disso, o paciente se mostra mais vulnerável quanto à discriminação da

família e da sociedade. Por isso, muitos contaminados passam por períodos de

depressão ou descuido da própria saúde, resultados da falta de apoio e acolhimento

dos amigos e familiares. Consequentemente, muitos acabam abandonando o

tratamento por falta de diálogo, tanto com os pais, filhos, marido ou esposa, como

também com os médicos.

Em contrapartida, grande parte das famílias não toma a AIDS como um desafio,

mas sim como uma forma de aproximar-se do parente infectado. Como explica Jean:

Na maioria das famílias, a tendência é de aconchego, em especial porque as mulheres costumam pensar muito na instituição familiar, nos filhos, nos netos, além de ser comum o raciocínio que as leva a avaliar: se eu não cuidar dele [do marido], ninguém mais fará isso. É daí que vem o apoio ao doente. (...) Há relatos de homens que dizem que, depois de se sentirem aceitos novamente, fizeram um acordo consigo mesmos: de se cuidarem para poder ver a família crescer, a filha se casar, o neto nascer. Quando isso acontece, o prognóstico é muito favorável. Este homem faz uma revolução nos seus

Page 28: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

27

hábitos de vida para garantir mais saúde, deixa de lado o cigarro, a bebida, torna-se mais cuidadoso com as refeições”. (GORINCHTEYN, 2010, p. 75)

Além do preconceito dentro de casa, existe uma negligência por parte dos

profissionais de saúde. Muitos não têm o costume de conversar com pacientes mais

idosos sobre sexualidade e doenças transmitidas através de relações desprotegidas,

limitando a informação passada para esses usuários. Para os especialistas da área

médica, é difícil conseguir que os usuários se abram com seus médicos porque muitos

têm vergonha de falar sobre sua vida sexual. Como muitos não têm esse costume

com outros parentes, discutir o assunto com um estranho pode ser ainda mais

complicado, especialmente com as mulheres, que se sentem constrangidas. Já os

homens têm mais facilidade de conversar com outro homem médico.

Para o médico Luis Camargo, o mais importante é estimular os pacientes a

conversar sobre sexualidade, e que eles não se sintam acuados em contar detalhes

sobre sua vida íntima, pois são de extrema importância para ajudar no diagnóstico e

tratamento da doença. “Para os médicos, a atenção à possibilidade do diagnóstico;

aos idosos, saberem que não estão imunes a isso. A expectativa de vida aumentou,

as práticas sexuais estão mais liberais e muitos tabus foram rompidos”.

2.5.1 Preconceito contra a mulher idosa

Sexo na vida das mulheres sempre foi algo considerado polêmico. Assim como

destacou Beatriz Pacheco, enquanto alguns homens que mantém uma vida sexual

ativa com muitas parceiras não são condenados por isso, o mesmo não se pode dizer

das mulheres, que muitas vezes são tachadas de garotas de programa. E isso não é

exclusividade dos mais jovens: a terceira idade carrega tal preconceito em dobro.

Afinal, como mulheres nascidas nos anos cinquenta ou sessenta podem gostar de ter

relações sexuais se foram ensinadas que deveriam ser apenas donas de casa, boas

esposas e mães exemplares?

Mesmo vivendo em uma sociedade mais moderna e aberta à diversidade

cultural e de gêneros, o homem ainda é colocado sob o estigma de que pode falar

abertamente sobre quaisquer assuntos, incluindo sua sexualidade, tanto com amigos

e família quanto com profissionais da área médica. Além disso, são estimulados a

explorarem o próprio corpo desde cedo, algo que não acontece com as mulheres, que

Page 29: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

28

muitas vezes acabam guardando detalhes importantes de sua vida social e sexual,

seja por vergonha de conversar com um especialista ou imposição de uma cultura

predominantemente machista.

Tal dificuldade é ainda mais acentuada durante o diagnóstico do HIV, como

explica Gorinchteyn:

Em geral, a primeira reação dessas mulheres ao receberem o diagnóstico é negá-lo. Depois, vem o medo de terem sido contaminadas. Muitas delas resistem a fazer o teste, apesar de entenderem a necessidade o exame, e a questão que se impõe é a seguinte: como será sua vida e a de sua família, dos filhos, dos netos, como viverão em caso de adoecerem? (GORINCHTEYN, 2010, p. 64)

Portanto, a sociedade não concede às mulheres o direito de sentirem raiva

quando são infectadas pelo próprio marido ou por eventuais parceiros. Em alguns

casos, elas são acusadas de não terem dado ao companheiro o carinho necessário,

o que, na opinião de alguns parceiros, teria motivado a procura por sexo fora de casa,

gerando a contaminação. Fatores como a menopausa e o envelhecimento também

são usados para culpar a mulher nessa situação. Enquanto a perda do desejo sexual

é mais acentuada nelas, o homem ainda se sente viril e grande parte não aceita as

alterações físicas ou emocionais sofridas pela mulher, como a diminuição da

lubrificação vaginal e todas as mudanças sofridas com o avanço da idade. É o que

explica Gorinchteyn (2010, p. 68) sobre o caso de uma paciente:

Uma dessas pacientes mais idosas, entre os abraços trocados com seu parceiro, conta que tirou da bolsa uma camisinha e sugeriu coloca-la no companheiro. Ela disse que sua atitude o impressionou muito, a ponto de ele fazer certos questionamentos, imediatamente. “Você é prevenida assim com todos?”, perguntou ele, e ela se sentiu como uma profissional do sexo ou algo do gênero, nunca como mulher consciente da necessidade da prevenção, informada, antenada. “Para outros homens não foi preciso que eu pedisse, eles se revelaram suficientemente cavalheiros para usar a camisinha sem terem sido solicitados”, respondeu ela justamente indignada, a conversa terminou ali.

Enquanto algumas mulheres se mantêm informadas sobre a necessidade de

prevenção, outras aceitam a crítica do uso da camisinha feminina como algo certo.

Dessa forma, muitas se sentem oprimidas por conta de sua condição e desejo sexuais

e deixam de se manifestar, seja com o marido ou até mesmo com o próprio médico.

É justamente pelo medo de serem julgadas, que as mulheres têm medo de enfrentar

essas e outras posições machistas colocadas pela nossa sociedade.

Submetidas aos julgamentos, a situação pode ser ainda mais delicada quando

a paciente contrai o HIV. Como explicar isso para a família? Como se adaptar em uma

Page 30: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

29

nova realidade após anos de experiência de vida? E como não ser considerada

promíscua por todos?

2.6 A Sociedade, o Estigma e o Paciente Soropositivo

A descoberta da infecção pelo vírus HIV é tão crucial na vida do paciente quanto

para a família e amigos mais próximos. Esse é o momento em que a compreensão e

o apoio dessas pessoas devem cercar e criar o melhor ambiente possível para o

usuário soropositivo, pois a falta de conhecimento e a discriminação podem gerar

sofrimento ao paciente, trazendo a revolta, a culpa, o não comprometimento à adesão

do tratamento, o uso excessivo de álcool e o estresse, que além de abaixas a

imunidade, colabora na proliferação do vírus e na contração de outras doenças

oportunistas.

Segundo Erving Goffman24, existem três tipos de estigma:

Em primeiro lugar, há as abominações do corpo - as várias deformidades físicas. Em segundo, as culpas de caráter individual, percebidas como vontade fraca, paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade, sendo essas inferidas a partir de relatos conhecidos de, por exemplo, distúrbio mental, prisão, vicio, alcoolismo, homossexualismo, desemprego, tentativas de suicídio e comportamento político radical. Finalmente, há os estigmas tribais de raça, nação e religião, que podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os membros de uma família. Em todos esses exemplos de estigma, entretanto, inclusive aqueles que os gregos tinham em mente, encontram-se as mesmas características sociológicas: um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social quotidiana possui um traço que pode-se impor a atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus. (GOFFMAN, 1988, p. 7)

Sendo assim, nota-se que os pacientes diagnosticados como soropositivos

devem ser orientados sobre a doença e o tratamento, com a explicação sobre o

aumento da sobrevida e oferecendo uma assistência de qualidade, respeitando sua

singularidade numa dimensão biopsicossocial-cultural.

É um quadro bastante complexo entre a interação dos fatores sociais e a saúde

do soropositivo, mas é necessário que se faça inteligível esse tipo de evento, seja

planejando algo na área de educação em saúde, para o rompimento desses tabus e

rótulos colocados no início dos anos oitenta. Rótulos estes que foram massificados e

permanecem até os dias de hoje na sociedade, mesmo que em uma escala menor.

24 Erving Goffman foi um cientista social, antropólogo, sociólogo e escritor canadense. Foi considerado o sociólogo norte-americano mais influente do século XX.

Page 31: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

30

"O estigma que ainda cerca a enfermidade pode afetar a rede de apoio social das pessoas soropositivas. Para manter o relacionamento com os amigos e a família, eles preferem esconder o próprio diagnóstico para que não sofram com o possível afastamento, muitas vezes preferindo o auto isolamento pela mesma razão. Este fator é um importante agente estressor, que modifica e restringe a vida dos envolvidos, e esse estresse contribui significativamente para uma imunodepressão, debilitando o organismo e deixando-o mais suscetível às infecções." (CARVALHO; PAES, 2011)

Esse é um fator de grande importância, pois ao descobrir a contaminação com

o vírus HIV, a pessoa sofre uma grande mudança no estilo de vida, como afirma o Dr.

Luis Camargo:

Diante do exposto, nota-se que é de suma importância a intervenção dos profissionais que atuam no processo de educação em saúde, promovendo orientação não só aos afetados pela epidemia, mas a toda população de forma geral, seja no processo de prevenção, promoção e recuperação da saúde, como no apoio psicológico e demais suportes necessários, salientando o empenho em desmistificar a temática do HIV/AIDS. (CARVALHO; PAES, 2011).25

3. DOCUMENTÁRIO

O projeto é apresentado através de um produto audiovisual no formato de

documentário devido à exposição da realidade que este gênero propõe, diferente de

obras ficcionais, cujas histórias são criadas através de ideias fantasiosas da realidade.

Como este tema aponta, especificamente, a situação de vulnerabilidade do idoso em

relação a AIDS, se faz necessário essa exposição para legitimar o quadro vivido pela

terceira idade, levantando questionamentos quanto aos estereótipos e tabus

discorridos neste projeto. Sendo a conscientização um dos principais fatores de

combate à desigualdade social, acredita-se que o uso do formato escolhido seja mais

efetivo para informar, fazendo o uso de histórias reais contadas por pessoas reais.

Ainda que o documentário possa ter uma narrativa composta por imagens,

trilha, locução e fala, assim como no cinema ficcional, ele estabelece asserções ou

proposições sobre o mundo histórico. São duas tradições narrativas distintas, embora

muitas vezes se misturem (RAMOS, 2008). A diferença também se encontra na forma

como a mensagem é passada e a premissa que o telespectador tende a buscar nas

25 CARVALHO, Simone Mendes; PAES, Graciele Oroski. A influência da estigmatização social em pessoas vivendo com HIV/AIDS. Artigo disponível em: <http://www.iesc.ufrj.br/cadernos/images/csc/2011_2/artigos/csc_v19n2_157-163.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2014.

Page 32: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

31

referências, que existem em sua bagagem cultural, para dar significado ao conteúdo

transmitido.

Todo filme é um documentário. Mesmo a mais extravagante das ficções evidencia a cultura que a produziu e reproduz a aparência das pessoas que fazem parte dela. (NICHOLS, 2008, p. 26)

A linguagem do que se conhece hoje como documentário surgiu com os filmes

de Robert Flaherty, nos anos 1920, quando visitou uma comunidade de esquimós no

norte do Canadá e criou aquele que é considerado o primeiro filme de não ficção,

Nanook, o esquimó (1922). Em seguida, os filmes de Flaherty inspiraram um artigo

escrito por John Grierson em 1926, onde ele utiliza a palavra “documentário” pela

primeira vez. "É claro que Moana, sendo uma exposição visual dos eventos cotidianos

de um jovem polinésio e sua família, tem valor como documentário", afirmou Grierson,

sobre o filme Nanook e Moana (1926) 26.

[...] o documentário passa a ser considerado como a produção audiovisual que registra fatos, personagens, situações que tenham como suporte o mundo real (ou mundo histórico) e como protagonistas os próprios "sujeitos" da ação: o esquimó Nanook ou o pescador de Os pescadores de Aran (1934), por exemplo. (LUCENA, 2012, p.22)

Mas assim como a ficção, o documentário também precisa da intervenção do

cineasta a fim de alinhar uma base estética às imagens captadas, como afirma Puccini

(2012):

Documentário é também resultado de um processo criativo do cineasta marcado por várias etapas de seleção, comandadas por escolhas subjetivas desse realizador. Essas escolhas orientam uma série de recortes, entre concepção da ideia e a edição final do filme, que marcam a apropriação do real por uma consciência subjetiva. (PUCCINI, 2012, p. 15).

Através da pesquisa sobre o tema escolhido, o produtor do documentário tem

o embasamento necessário para a criação de uma narrativa sobre o tema, que irá

determinar o rumo do produto. Sendo assim, para a concepção do documentário deste

projeto, o tema foi explorado a fim da compreensão de como se deu o aumento no

número de portadores do HIV na terceira idade. O produto final contará com uma

duração de 24 minutos, composto por depoimentos de profissionais na área de saúde

e, principalmente, personagens acima dos cinquenta anos e soropositivos.

26 LUCENA, Luiz Carlos. Como fazer documentários: conceito, linguagem e prática de produção. São Paulo: Summus, 2012.

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32

Por ser um documentário composto por entrevistas, a roteirização não foi

delimitada, seguindo apenas algumas premissas de perguntas para que o roteiro

tomasse forma de acordo com o ritmo da conversa. Seguindo a orientação de Puccini

(2012), o processo de roteirização do documentário foi elaborado e finalizado de

acordo com a decupagem do material gravado, das entrevistas, juntamente com a

edição, possibilitando ressaltar os pontos fundamentais de cada entrevistado e de

cada relato.

Esse roteiro será resultado de um trabalho de decupagem do material bruto de filmagem e terá sua função voltada para orientar não mais diretor, atores ou produtor, mas unicamente o montador ou editor do filme (...) é o momento em que a articulação das sequências do filme, entre entrevistas, depoimentos, tomadas em locação, imagens de arquivo, entre outras imagens colocadas à disposição do repertório expressivo do documentarista, em consonância com o som, trará o sentido do filme. (PUCCINI, 2012, p. 17)

3.1 Jornalismo Investigativo

Embora os meios digitais tenham agilizado os processos de transmissão das

notícias, tornando-as muitas vezes num produto superficial e sem conteúdo, a prática

jornalística ainda deve se manter presente, tanto na investigação e apuração do que

de fato é uma notícia quanto em caráter informativo - e principalmente este.

Conforme Michael Kunczik27 (2002) explica em seu livro Conceitos de

Jornalismo: Norte e Sul, o jornalista tem dois papéis principais que, de uma forma ou

de outra, acabam se interligando. O primeiro considera o profissional como um

"agente neutralmente distanciado para poder transmitir a informação com objetividade

e ética profissional", enquanto o segundo simboliza a voz de um determinado grupo

ou comunidade, na ideia de que o jornalista é um "denunciante da corrupção". Em

ambos os casos, o jornalista aparece no cerne dos acontecimentos - sem

necessariamente participar deles -, atuando como um mediador entre a notícia e o

público.

Por se tratar de um trabalho documental com pessoas reais, é relevante

destacar a importância e seleção dessas fontes para a composição do projeto. Sobre

isso, Nilson Lage (2001) diz: "É tarefa comum dos repórteres selecionar e questionar

27 KUNCZIK, Michael. Conceitos de Jornalismo: Norte e Sul. Tradução: Rafael Varela Jr. - 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.

Page 34: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

33

essas fontes, colher dados e depoimentos, situá-los em algum contexto e processá-

los segundo técnicas jornalísticas"28.

O depoimento de personagens não-ficcionais ajudará na construção de um

documentário em vídeo que aborde temas específicos - no caso os idosos portadores

do vírus HIV -, aproximando-o de um trabalho mais focado no "jornalismo

convencional”. É o que destaca Edvaldo Pereira Lima (2013), um dos principais

responsáveis pela difusão do Jornalismo Literário no Brasil, além de ser autor de livros

como Páginas Ampliadas (2008) e Jornalismo Literário para Iniciantes (2014):

Existe um interesse social por narrativas reais de qualidade. Se o jornalismo não souber responder a esse desafio como deve, outras áreas da comunicação vão fazer isso, pois a demanda está aí. Se não for o jornalista que responderá a essa busca social, outros profissionais cobrirão o espaço, pois a sociedade requer que histórias bem contadas da nossa história em desenvolvimento, do nosso passado e do nosso futuro continuem a ser produzidas. O interesse formidável de parte do público brasileiro por boas biografias é um exemplo dessa demanda. (...) A exibição contínua de documentários de qualidade nas salas de cinema o ano inteiro – algo que acontece em São Paulo – é um sinal disso. Há uma parte considerável do público que pede histórias reais fortemente centradas em seres humanos de carne e osso que o ajudem a compreender o que é este nosso mundo em veloz efervescência de mutação, os dramas da existência humana, o passado que construímos, a consciência que precisamos conquistar para a co-construção da civilização planetária e sustentável que precisamos. (LIMA, 2013, Jornalismo Literário)29

Com base na produção de um documentário jornalístico e nas histórias reais

dos personagens, Márcia Carvalho (2006), mestre em Comunicação e Estéticas

Audiovisuais pela ECA-USP, e doutoranda em Multimeios pela Unicamp, destaca

como esses relatos podem enriquecer o tema e a produção do trabalho:

Parece que o segredo para uma nova prática do jornalismo audiovisual está em saber ouvir, desenvolver uma análise crítica sobre os fatos e resgatar o espírito investigativo, que permita contar uma história, que mereça ser contada, confrontando o tema, as fontes e o próprio jornalista. E com isso, quem sabe, despertar paixões, ódios e debates, tais como os diálogos e a importante função de narrar uma história com vigor presentes nos documentários de Michael Moore. (CARVALHO, 2006, Revista PJ:Br – Jornalismo Brasileiro)30

28 LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2001. 29 Entrevista veiculada no blog Jornalismo Literário. Disponível em: <https://jornalismoliterarioblog.wordpress.com/tag/paginas-ampliadas>. Acesso em: 08 nov. 2014. 30 Artigo disponível em: <http://www2.eca.usp.br/pjbr/arquivos/ensaios7_d.htm>. Acesso em: 08 nov. 2014.

Page 35: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

34

Além disso, como informa o Manual de Redação e Estilo do Jornal O Estado

de São Paulo, a linguagem precisa ser direta, sem rodeios, e clara para o usuário:

"Seja claro, preciso, direto, objetivo e conciso. (...) A simplicidade é a condição

essencial do texto jornalístico". Este conceito precisa ser ainda mais imponente

levando em consideração que o documentário contará com entrevistas de médicos e

fontes especialistas, já que será necessário simplificar a linguagem de alguns termos

científicos para todos os públicos.

3.2 Referencial Estético

Para a referência estética desse projeto, o grupo se baseou nas linguagens dos

documentários “Me Myself and HIV”, “Junho – o Mês que abalou o país” e “The

Internet’s Own Boy”, contemplando em todos os produtos a abordagem dos

personagens, a narração e a fotografia. O projeto também leva como referência

produções ficcionais, a fim de estabelecer a relação entre o poder da direção

fantasiosa com os fatos reais do documentário. Para esse papel, foi escolhido o filme

“Philadelphia”.

3.2.1 Documentários

Me Myself and HIV

Documentário produzido em 2010 por Alex Stockley Von Statzer e Tom Barry

para a programação especial sobre prevenção do vírus da AIDS exibida pelo canal

americano da MTV. O vídeo retrata como é a vida de dois jovens portadores do vírus,

vivendo em países diferentes. Ele possui o formato de reality show, e mostra o

cotidiano dos protagonistas.31

31 Disponível em: <http://www.unaids.org/en/resources/presscentre/featurestories/2010/december/20101201fsmtv>. Acesso em: 15 nov. 2014.

Page 36: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

35

Angelikah é uma garota americana de 25 anos de idade que contraiu o vírus

através de uma relação sexual sem proteção. Slim, de 21 anos, é um morador do

Zâmbia que nasceu com o vírus, contraído no útero de sua mãe, e tem o sonho de se

tornar um rapper. Ao longo do documentário, ambos contam as dificuldades das

relações sexuais e sociais com o confronto do preconceito enfrentado diariamente.

O programa é exibido sem nenhuma narração em off, tendo sua história

conduzida através da conversa dos personagens com outras pessoas que fazem parte

de suas vidas e retratado em uma câmera oculta. Dessa maneira, o espectador tem a

sensação de proximidade com os usuários, abordagem que o grupo obteve nas

gravações, herdando a ausência da narrativa, e quando necessário, apenas

colocando informações escritas sobre a imagem.

Junho – O Mês que Abalou o Brasil

O documentário “Junho” foi produzido pela TV Folha em 2014 e retrata o que

houve nos protestos em Junho de 2013 por todo o país.32

O vídeo foi montado de forma colaborativa, com imagens extraídas da internet,

de apresentações televisivas e conteúdos que os jornalistas da Folha registraram ao

longo dos protestos que mobilizaram o Brasil.

A narrativa se baseia em mostrar o objetivo inicial dos protestos – ou seja, a

revogação do aumento da passagem na cidade de São Paulo –, e como a revolta

popular após o dia 13 de junho de 2013 fez com que as manifestações mudassem de

rumo, principalmente após a ação truculenta da polícia militar contra os manifestantes.

O documentário é composto por imagens das passeatas, referências históricas

mundiais de protestos, relatos de pessoas que estavam presentes, análises de

estudiosos de política e sociologia e repórteres que fizeram parte da movimentação

popular.

32 Disponível em: < http://livraria.folha.com.br/filmes/documentario/junho-mes-abalou-brasil-dvd-1251292.html>. Acesso em: 15 nov. 2014.

Page 37: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

36

De “Junho”, o grupo se apoiou na ausência do entrevistador/câmera ao longo

da coleta de depoimentos de pessoas que presenciaram os movimentos sociais

daquele mês e nas informações sobre a imagem, com dados demográficos sobre o

tema. Como principal estética, o projeto “HIV 50+” baseou-se na fotografia das

entrevistas, com amplo campo de profundidade, mantendo um foco macro no rosto

dos entrevistados e no posicionamento da câmera que se alterna em dois ângulos.

The Internet’s Own Boy: The Story of Aaron Swartz

Documentário de 2014 dirigido por Brian Knappenberger33 que narra a história

de Aaron Swartz (1986-2013), um jovem programador e ativista que utilizou seu

conhecimento em computação em busca de um mundo mais democrático e justo,

através do compartilhamento da informação. Aaron utiliza a rede do MIT

(Massachusetts Institute of Technology34) para fazer o download de milhões de artigos

acadêmicos de uma base de dados privada chamada JSTOR35, que compensava

financeiramente as editoras e não os autores, além de cobrar o acesso aos artigos,

limitando o acesso para finalidades acadêmicas36.

Ao descobrir as ações de Aaron, o Ministério Público dos Estados Unidos

conduz um processo criminal contra o rapaz, dando início a uma perseguição tão

intensa a ponto de levá-lo a cometer suicídio aos 26 anos, em janeiro de 201337.

O filme possui uma dinâmica que inclui entrevistas com a família, amigos e

colegas de Aaron, explorando o tema com o uso da voz dos entrevistados em off em

33 Brian Knappenberger é um produtor e diretor nascido em 1970. Além de “The Internet’s Own Boy”, Knappenberger escreveu e dirigiu o documentário “We Are Legion: The Story of the Hacktivists” sobre os trabalhos e crenças do coletivo hacktivista Anonymous. 34 O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Massachusetts Institute of Technology, MIT) é um centro universitário de educação e pesquisa privado, sendo um dos líderes mundiais em ciência, engenharia e tecnologia, localizado em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos. 35 Journal Storage (JSTOR) é um sistema online de arquivamento de periódicos acadêmicos fundado em 1995 e sediado nos Estados Unidos, concebido como uma solução para problemas enfrentados por bibliotecas (especialmente universitárias e de pesquisa) devido ao crescente número de periódicos acadêmicos. 36 Swartz “Steals” for Science. Disponível em: <http://scienceprogress.org/2011/07/swartz-%E2%80%9Csteals%E2%80%9D-for-science>. Acesso em: 01 nov. 2014. 37 Fundador do Creative Commons critica procurador no caso Aaron. Disponível em: <http://tecnologia.terra.com.br/internet/fundador-do-creative-commons-critica-procurador-no-caso-aaron,ae9bc7d94b93c310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html>. Acesso em: 01 nov. 2014.

Page 38: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

37

cima de imagens do arquivo da personagem. Entre o material visual explorado, o

documentário utiliza vídeos do passado de Aaron e edições com elementos que

remetem ao seu perfil.

Como a maior parte do projeto foram entrevistas, o grupo usou de inspiração a

imagem e o som, como em “The Internet’s Own Boy”, para evitar o cansaço do

espectador, quebrando a monotonia dos depoimentos ao usar conteúdos de apoio

para ilustrar a fala das personagens.

3.2.2 Produções Ficcionais

“Philadelphia”

“Filadélfia” (“Philadelphia”) é um filme ficcional norte-americano de 1993 do

gênero drama e dirigido por Jonathan Demme38, reconhecido por ser um dos primeiros

filmes de Hollywood39 a reconhecer HIV/AIDS, homossexualidade40 e homofobia41.

O filme conta a história de Andrew Beckett (Tom Hanks), promissor advogado

que perde seu emprego em uma grande firma de advocacia após descobrirem que ele

tem AIDS, levando-o a contratar os serviços de Joe Miller (Denzel Washington), um

advogado homofóbico, para processar a empresa.

Embora não seja documental, o formato possui um estilo particular para retratar

o preconceito e as dificuldades vividas pelos portadores da AIDS, o que levou os

integrantes do grupo a utilizá-lo como referencial estético devido às cenas simples e

objetivas em que a própria câmera traduz o sentimento preconceituoso de Joe Miller,

focando em objetos que Andrew toca.

38 Jonathan Demme é um cineasta, produtor e argumentista norte-americano nascido em 1944, vencedor do Oscar por “The Silence of the Lambs” (“O Silêncio dos Inocentes”, 1991). 39 Hollywood é um distrito da cidade de Los Angeles na Califórnia, famoso mundialmente pela concentração de empresas do ramo cinematográfico e pela influência que exerce na cultura global. 40 Qualidade de um ser que sente atração por outro do mesmo sexo ou gênero 41 Aversão, medo, ódio, preconceito que pessoas ou grupos nutrem contra homossexuais, bissexuais e transexuais.

Page 39: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

38

3.3 Comunicação

O documentário HIV 50+ foi construído com um único pilar de comunicação: os

soropositivos. A ideia do projeto é evidenciar esse público, ligeiramente esquecido

pelas campanhas de prevenção, portanto, quem melhor esclarecer como são suas

vidas, do que eles mesmos?

Além do cotidiano de soropositivos, foram captadas imagens de uma senhora

para ser a personagem fictícia do documentário como ícone de terceira idade,

mesclando a realidade com a produção ficcional. Essa senhora, Nilse Carvalho, ilustra

a capa do documentário como uma personagem simbólica, sem fala ou interação com

a narrativa.

A narrativa foi construída sem narração em off, fazendo com que as histórias

conversem entre si através dos blocos formados na decupagem através das pautas,

sendo eles, em sequência: descoberta, diagnóstico, preconceito, velhice e força de

viver. A sequência desses blocos foi construída em timeline e separada por clipes,

para criar um respiro entre as sonoras.

Separar o conteúdo nesses blocos facilitou na criação do roteiro, pois

conseguimos ilustrar as fases desde o contágio ao convívio com a doença e quais são

as consequências da idade nesse cenário.

3.4 Trilha Sonora

A trilha sonora do documentário foi encontrada no Vimeo Music Store, o qual

possui o acervo da Free Music Archive42 e foi aplicada nas imagens de apoio e como

trilha de acompanhamento.

42 Free Music Archive < http://freemusicarchive.org/ >. Acesso em: 22 mai. 2015.

Page 40: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

39

As faixas foram escolhidas através de buscas pelos termos “folk” e “piano”, por

combinarem mais com o contexto das entrevistas e com o propósito do projeto, de

desconstruís um tema com uma linguagem simples e pessoal.

Foi possível encaixa-las após a captação de todos os depoimentos, facilitando

casar os momentos onde a trilha foi a principal sonora do produto. As músicas

escolhidas foram: "Memory Loss" de Zachary Cale, Mighty Moon & Ethan Schmid,

"Dreams Become Real" de Kevin MacLeod e "Vision of Persistence" Kevin MacLeod.

3.5 Animação

A vinheta de animação colocada ao início do documentário foi construída para

ilustrar o caminho do vírus por dentro da veia. Ela foi produzida para ser irreal e

meramente ilustrativa, sem qualquer relação com a realidade. Foi feita no software

Cinema 4D.

3.6 Características

O audiovisual é importante na construção do documentário, pois é um meio

de comunicação que atinge um grande número de pessoas com grande eficiência,

sendo assim deve-se tomar cuidado com a maneira com que a mensagem será

passada. Tudo que compõe a imagem pode ter um significado diferente para cada

pessoa.

O documentário foi construído com uma fotografia e filmagem de modo que

o espectador tenha a sensação de estar próximo dos personagens retratados. A

direção de fotografia teve o trabalho de criar a sensação de proximidade entre o

telespectador e o personagem em questão. O tema foi abordado no âmbito da

linguagem utilizada, buscando referências audiovisuais em outros documentários,

curtas e longas-metragens.

O roteiro foi produzido após as filmagens, pensando na maneira mais

interessante para mostrar esse tema, sem bombardear o telespectador com tanta

Page 41: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

40

carga dramática sem pausas. Foi feita uma coleta de referências de filmes ficcionais

para desenvolver uma linguagem que quebre a tensão do primeiro plano e também

foi seguida a opção de trabalhar com foco em enquadramentos, que dizem muito por

si só dependendo da profundidade de campo, perspectiva e cor. O mesmo acontece

com as transições entre as cenas e imagens de cobertura, que foram construídas para

auxiliar a conexão entre os blocos do documentário, ilustrando e embalando a

continuidade da narração.

A trilha sonora é responsável pela ambientação do produto audiovisual,

podendo causar ou não a sensação que o diretor tem como objetivo. Como dito

anteriormente, a ideia não é dramatizar o tema, mas sim representar a vida

independente, como de qualquer outra pessoa, que o portador do vírus tem. Neste

caso, a trilha não pôde causar felicidade, ao mesmo tempo em que não pôde

transparecer apreensão. Seu papel foi transparecer leveza e trazer a sensação de

fluidez.

Talvez a única definição suficientemente justa para a função da música no cinema é de que, de uma maneira ou de outra, ela existe para ‘tocar’ as pessoas. ‘Tocar’ pode ser emocionar, arrancar lágrimas, causar tensão. (BERCHMANS, 2012, p. 20)

O que foi notado com todas as pesquisas e conversas com o infectologista

os soropositivos é que não existe nenhuma ação que fortaleça a inserção dos

soropositivos na sociedade. Existem muitas campanhas para a prevenção do HIV,

mas nada que mostre o quão importante é trazer para um melhor convívio social todas

essas pessoas que, por conta de todo o preconceito que é carregado desde a

descoberta do vírus HIV, se escondem por medo ou discriminação. O tema é

complexo. Quanto mais pessoas são conhecidas nas condições de HIV+, mais apego

é criado pela causa.

É difícil ver o preconceito que os soropositivos passam, principalmente com

idosos. Olhando por esse viés social tão prejudicado, tornou-se necessária a busca

por referencias de autores na área de sociologia e psicologia. Goffman foi encontrado

falando sobre estigma, que trouxe parte da clareza e cautela que faltava para lidar

com possíveis personagens.

Page 42: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

41

Por fim, as características audiovisuais do documentário devem juntar essas

informações na linguagem não dita, de maneira que a compreensão do tema seja mais

fácil, mas que ainda sim possua uma complexidade na construção da semiótica do

documentário.

A linguagem ocupou uma posição única no aprendizado humano. Tem funcionado como meio de armazenar e transmitir informações, veículo para o intercâmbio de ideias e meio para que a mente humana seja capaz de conceituar. (DONDIS, 2003, p. 14)

3.6 Inserção no Mercado

A inserção do documentário no mercado foi dividida em duas partes. A

primeira como veiculação principal, que abrange veículos tradicionais, e tem por

objetivo atingir pessoas que possuem interesses gerais de saúde e cultura. Já a

segunda tem como proposta a veiculação alternativa, cuja ideia é alcançar, através

de festivais de cinema, o público que está ligado ao mundo da comunicação.

3.6.1 Veiculação Principal

Como o público final desse produto – homens e mulheres da terceira idade –

está mais interessado no conteúdo tradicional de televisão, o grupo selecionou alguns

canais que se mostram relevantes tanto para a veiculação do documentário quanto

para o público receptor.

Canal Futura

Foi criado em 1997 como um projeto social de comunicação, educação e

interesse público, sempre contando com parceiros da iniciativa privada e do terceiro

setor. Sua ideia é contribuir para o dia a dia das pessoas, oferecendo entretenimento

e conhecimento útil para a vida. Trabalham também com instituições, comunidades e

redes da sociedade civil, que contribuem desenvolvendo projetos em conjunto com as

Page 43: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

42

equipes de mobilização e programação do Futura. Sendo assim, colocam em conexão

pessoas, ideias, redes e instituições.

O canal dissemina valores e informações úteis ao cotidiano da população,

todos os dias. É voltado para todo o povo brasileiro, preferencialmente para as classes

C e D. Tem alvos especiais: jovens, trabalhadores, donas de casa, educadores e

crianças. Sua meta é que todas as produções exibidas possam ser vistas e utilizadas

pelo mais amplo leque de pessoas, da cidade e do campo.

O sinal do Futura é recebido pelas antenas parabólicas convencionais em

milhões de lares e escolas, o que amplia ainda mais seu alcance. Por abordar uma

gama grande de temas, eles criaram uma linguagem plural e de extrema importância,

pois falam de saúde, trabalho, juventude, educação, meio ambiente e cidadania.

Também é possível notar que a emissora possui um processo de "mobilização",

ou seja, um método de trabalhar o conteúdo da programação através de ações diretas

junto a diversos públicos, organizando a audiência e realizando um rigoroso trabalho

de pesquisa, capacitação, acompanhamento e avaliação dos resultados atingidos.

Escolas, creches, associações comunitárias, abrigos, presídios, hospitais já recebem

e utilizam a programação do Futura.

O modelo de produção adotado por eles é de terceirização, contratando

produtoras que contribuam criativamente para a realização dos programas e diversos

tipos de linguagens e formatos. É um canal que, de certa forma, daria espaço para a

exibição de um produto audiovisual, como o documentário em questão.

Canal Brasil

Canal Brasil é um canal brasileiro de televisão por assinatura. Teve sua estreia

no dia 18 de setembro de 1998 e foi criado para aproveitar a obrigação criada pelo

Decreto 2206, de 1997, que exigia todos os prestadores de serviços de TV a cabo a

incluir na sua grade pelo menos um canal dedicado a "obras cinematográficas e

audiovisuais brasileiras de produção independente".

Page 44: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

43

O canal é fruto da associação entre Globosat com a empresa Grupo Consórcio

Brasil (GCB), e tem participado de novas produções em parceria com produtores

independentes. Entre os títulos realizados está “Adolfo Celi, un uomo per due culture”,

de Leonardo Celi, a primeira coprodução internacional do Canal Brasil.

O Canal Brasil promove o Prêmio Aquisição Canal Brasil, que tem como

premiação R$ 10 mil para os curtas-metragens vencedores nos mais importantes

festivais de cinema do país, além de exibir o filme durante a programação. Desde

2006 também realiza o Grande Prêmio Canal Brasil de Curtas-Metragens, que premia

com R$ 50 mil o melhor curta entre os 10 vencedores do Prêmio Aquisição Canal

Brasil do ano anterior. Um júri formado por apresentadores do canal escolhe o grande

vencedor por meio de voto secreto.

TV Cultura

A TV Cultura é uma emissora educativa de canal aberto pertencente à FPA,

Fundação Padre Anchieta, Centro Paulista de Rádio e TV Educativas. Existente desde

1967, é uma entidade de direito privado custeada por dotações orçamentárias

legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada.

Conforme a missão da FPA, a TV Cultura é composta por programas

educativos, culturais e artísticos, tanto para crianças quanto adultos, além de

programas informativos, como telejornais.

Dentre os programas da emissora, o DOCTV América Latina traz a

possibilidade de apresentação do documentário deste projeto, por ser o primeiro

Programa de Fomento à Produção e Teledifusão de Documentários da Comunidade

dos Países da Língua Portuguesa – DOCTV CLP1 –, cuja meta é estimular o

intercâmbio cultural e econômico entre os povos lusófonos e a implementação de

políticas públicas de fomento à produção e teledifusão do gênero documentário.

MTV

Page 45: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

44

Criada em 1981, a MTV é um canal de televisão a cabo e satélite norte-

americano pertencente ao MTV Networks Music & Logo Group, uma unidade da

Viacom International Media Networks, divisão da Viacom. O canal é sediado na

Cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos.

O propósito da emissora era exibir videoclipes guiados por personalidades

conhecidas como “video jockeys”, ou VJ's. Em seus primeiros anos, o principal público

alvo da MTV eram os jovens adultos, mas hoje a programação é primariamente

segmentada para adolescentes, em adição aos jovens adultos.

No Brasil, a MTV também funciona como um canal por assinatura comandado

pela Viacom International Media Networks The America (VIMN The Americas). Teve

início em primeiro de outubro de 2013, às 21h30, surgindo após a devolução da marca

MTV pelo Grupo Abril, que a manteve no ar em TV aberta no país por mais de vinte

anos como MTV Brasil.

Dentre as versões internacionais da MTV no mundo que têm maior produção

local, a emissora fica na segunda posição, perdendo apenas para a sua matriz nos

Estados Unidos. Seu sinal em 2014 atinge cerca de 12,6 milhões de assinantes.

A influência da MTV em sua audiência, incluindo questões relacionadas à

censura e ao ativismo social, foi o tema de debates por anos, além de criar uma

programação especial transmitida no dia internacional do combate a AIDS (1º de

dezembro) e diversas campanhas de prevenção.

3.6.2 Veiculação Alternativa

Como veiculação alternativa, o grupo optou por festivais de cinemas brasileiros,

por ter um formato de curta duração. O documentário pode ser exibido em festivais

como É Tudo Verdade e o Festival de Curtas Kinoforum.

É Tudo Verdade

Page 46: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

45

It’s All True é o principal festival da América Do Sul dedicado a documentário,

e ocorre todos os anos em meados de abril nos estados de São Paulo e Rio de

Janeiro. Amir Lamaki, ex-diretor técnico do Museu da Imagem e do Som da Secretaria

de Estado da Cultura de São Paulo, fundou e dirige o É Tudo Verdade, juntamente

com a realização da Petrobras, BNDES, CPFL/ENERGIA, Centro Cultural Banco do

Brasil, Rio Filme, Governo do Estado de São Paulo, Ministério da Cultura – Governo

Federal – Secretaria do Áudio Visual , além da produção de Emegê Produções

Artísticas S/S Ltda, do apoio da Associação do Audiovisual Paulista, e do da Imprensa

Oficial do Estado de São Paulo e Cinemateca Brasileira e SAC (Sociedade Amigos da

Cinemateca).

O festival tem caráter competitivo, reunindo documentários concorrentes em

várias categorias. As produções de até trinta minutos devem ser inscritas na

Competição Internacional de Curta-metragem e Competição Brasileira de Curta-

metragem. Por esse motivo, o trabalho será inscrito com o intuito de participar nas

categorias delimitadas a curtas, uma vez que o documentário produzido é de vinte e

cinco minutos.

Devido ao modo competitivo, o festival oferece algumas premiações em

dinheiro ou em forma de troféus. O menor valor é o de R$6.000,00 (seis mil reais),

destinado à categoria Internacional de Curta Metragem, enquanto o maior é de R$

110.000,00 (cento e dez mil reais) e vai para a competição “Janela para o

contemporâneo” (subcategoria do Melhor Documentário Brasileiro em Longa ou Média

Metragem). Premiações intermediárias vão desde R$ 15.000,00 (quinze mil reais),

para o melhor Longa ou Média Metragem na competição Internacional, e R$ 10.000,00

(dez mil reais), para o melhor documentário da competição Brasileira de Curta

Metragem.

Os curtas metragens também concorrem ao Prêmio Aquisição Canal Brasil de

Incentivo ao Curta Metragem no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais). É um prêmio

adicional disponibilizado a um dos curtas participantes.

Festival de Curtas Kinoforum

Kinoforum é uma organização sem fins lucrativos que organiza o Festival

Internacional de Curtas de São Paulo, que ocorre desde 1990. É patrocinado pela

Page 47: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

46

Petrobrás e realizado pelo Ministério da Cultura. Tem como seu correalizador o SESC-

SP, a Cinemateca Brasileira, a Sociedade Amigos da Cinemateca, o Centro Cultural

de São Paulo, a Prefeitura da Cidade de São Paulo e o Governo do Estado de São

Paulo.

Diferente do É Tudo Verdade, este festival não é de caráter competitivo, apenas

visa divulgar as produções de todas as partes do mundo, contando com a colaboração

de instituições como ECA-USP, PUC-SP, UNICAMP, SENAC, Metodista, Cásper

Líbero, Fundação Japão, Embaixada de Israel, e os Consulados da França, México e

Suíça.

O festival é realizado entre os meses de agosto e setembro anualmente, e as

inscrições acontecem entre abril e junho – só são aceitas produções digitais e película

com duração de três a vinte e cinco minutos. No festival existe uma categoria de

médias-metragens, que considera filmes até no máximo 45 minutos.

Docurama Channel

Cinedigm é um distribuidor de conteúdo independente líder nos Estados

Unidos, com relações diretas com mais de 60.000 lojas de varejo físicas e plataformas

digitais, incluindo Wal-Mart, Target, iTunes, Netflix e Amazon, assim como o vídeo

nacional na plataforma on-demand no cabo da televisão. Possui uma biblioteca com

mais de cinquenta e dois mil filmes e episódios de TV documentais

Nela estão filmes independentes vindos de outros festivais. Isso graças

parcerias com o Instituto Sundance e Tribeca Filmes, que oferecem uma ampla gama

de conteúdo de marca de fornecedores, incluindo a National Geographic, a Discovery,

a Scholastic, WWE, NFL, Shout Factory, Hallmark, Jim Henson e muito mais.

Festival de Brasília

O Festival de Brasília (Festbrasília), oficialmente Festival de Brasília do Cinema

Brasileiro, é sediado no histórico Cine Brasília, sendo o mais antigo do gênero no país.

Page 48: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

47

Surgiu por iniciativa do professor de cinema da Universidade de Brasília, Paulo Emílio

Sales Gomes, em 1965, e é promovido anualmente pelo governo do Distrito Federal.

Em suas duas primeiras edições o evento se chamou Semana do Cinema Brasileiro.

Uma das regras que o diferencia de outros festivais é que os filmes, tanto de

longa ou curta metragem, devem ser inéditos e, preferencialmente, não terem sido

premiados em qualquer outro festival nacional.

Festival de Gramado

Realizada de 10 a 14 de janeiro de 1973, a primeira edição do evento surgiu da

união da Prefeitura Municipal de Gramado com a Companhia Jornalística Caldas

Júnior, a Embrafilme, a Fundação Nacional de Arte e as secretarias de Turismo e

Educação e Cultura do Estado. Já a segunda edição foi realizada em 1992, entre os

dias 15 e 22 de agosto, e teve filmes da Venezuela, Peru, México, Portugal, Brasil,

Argentina, Chile, Espanha, Cuba e Colômbia. Participaram igualmente da vigésima

edição curtas-metragens brasileiros em 35mm e 16mm.

Festival do Rio

O Festival do Rio surgiu em 1999, como resultado da fusão de dois festivais de

cinema anteriores, o Rio Cine Festival, que surgiu em 1984, e a Mostra Banco

Nacional de Cinema, criada em 1988.

São distribuídos 11 prêmios pelo Júri oficial do Festival, incluindo: Melhor

Longa-Metragem de Ficção, Melhor Longa-Metragem Documentário, Melhor Curta-

Metragem, Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante,

Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia e Melhor Montagem.

Ainda existem menções honrosas e prêmios especiais, além de uma premiação

através do voto popular que elege 3 categorias: Melhor Longa-Metragem de Ficção,

Melhor Longa-Metragem Documentário e Melhor Curta-Metragem.

3.7 Construção da Identidade Visual

Page 49: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

48

A construção do logo do documentário foi criado a partir de algumas premissas

referenciais e teóricas, a fim de dar um símbolo ao documentário. Conversando com

o contexto do documentário, o logo foi construído formas sintéticas e chapadas, pois

são necessárias quando existe aplicação em diversos meios de reprodução.

Usando referências de capas de filmes com temática HIV, notou-se o vermelho

na tipografia em “Les Témoins” (2015) e “Clube de Compra Dallas” (2013):

Em uma das capas, o balão vermelho foi reconhecido como uma analogia entre

látex de camisinha com o balão de “It’s My Party” (1996):

Page 50: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

49

Com isso, a forma começou a ser desenvolvida a partir dos termos-chave:

simples, retirar a agressividade, alterar o cenário, promover o diálogo, quebrar

preconceito, maneira informal, entendimento, aceitação, conscientização, forma

leve. Assim, foram feitos alguns experimentos:

Através do estudo tipográfico, a escolha da fonte foi a Gotham Rounded Bold

para o logo, aplicando suas variações para a identificação dos soropositivos, capa e

gráficos no documentário.

Page 51: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

50

Resultado Final:

4. PROCEDIMENTOS

4.1 Metodologia

A metodologia adotada para a elaboração do projeto – um documentário que

retratará a vida de soropositivos acima dos cinquenta anos – partiu da pesquisa

bibliográfica e de campo, devido à necessidade de investigar todos os aspectos

relacionados ao tema. Sendo assim, a pesquisa é classificada como exploratória.

Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. (GIL, 2009, p.41).

Portanto, como na maioria dos casos, o projeto constitui-se em três pilares

necessários para classificar a pesquisa com base nos objetivos estabelecidos,

embasando a justificativa da escolha e na formulação do problema em questão. Sendo

eles a) levantamento bibliográfico; b) entrevistas com pessoas que tiveram

experiências práticas com o problema pesquisa; e c) análise de exemplos que

“estimulem a compreensão” (Selltiz et al., 1997, p. 63).

Em uma visão geral, a metodologia seguiu da seguinte forma:

Page 52: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

51

a) Levantamento das referências bibliográficas sobre o tema, como livros,

artigos, revistas, entrevistas, documentários e pesquisas passadas.

De acordo com GIL (2009, p. 44), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com

base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos

científicos”. Na pesquisa bibliográfica sobre o tema, os dados foram juntados e

sistematizados para o desenvolvimento do quadro teórico, baseando toda fonte de

pesquisa na figura 3:

Figura 3 – Fluxograma de pesquisa

Fonte: GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa, 2009, pg. 44

Com base no gráfico acima, foram levantadas obras literárias que abordassem

os temas “AIDS”, “AIDS depois dos cinquenta anos” e “preconceito do soropositivo”.

Pelas obras de divulgação, foram analisadas as campanhas atuais de prevenção da

AIDS e a falta de ações específicas sobre o contágio na terceira idade. Entre as

publicações periódicas, foram levantadas matérias jornalísticas e notícias que

envolviam o tema nos últimos anos.

A construção do documentário necessita de uma base sólida de estudos, assim

como o entendimento do tema entre todos os participantes do projeto, desde a

produção, à construção narrativa, para que haja embasamento no levantamento de

contatos até o momento da construção do roteiro e das pautas utilizadas nas

entrevistas. Assim, antes mesmo de procurar por pessoas soropositivas, os

integrantes precisavam saber exatamente como abordá-los, tendo em mente o

objetivo de cada pergunta.

Page 53: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

52

Pelo formato escolhido, existe também a necessidade da pesquisa documental

que, segundo GIL (2009), trata-se de documentos “de primeira mão ou segunda mão”,

que tenham recebido pouco ou nenhum um tratamento analítico, diferenciando-se das

referências bibliográficas. A pesquisa documental é o levantamento de dados brutos,

assim como cartas pessoais, diários, fotografias e gravações.43 O recolhimento desse

material dará o apoio à defesa do tema, no qual são necessárias as estatísticas e

depoimentos de pessoas soropositivas, ou que convivam de forma profissional

(relação médico/paciente) e social (conhecidos, amigos, família, entre outros).

A pesquisa documental apresenta uma série de vantagens. Primeiramente, há que se considerar que os documentos constituem fonte rica e estável de dados. Como os documentos subsistem ao longo do tempo, tornam-se a mais importante fonte de dados de qualquer pesquisa de natureza histórica (GIL, 2009, p. 46).

b) Levantamento de contatos com pessoas soropositivas, grupos de apoio,

instituições e ONGs, assim como médicos especialistas na área, buscando

compreender as histórias dos portadores do HIV, o contexto de quando contraíram a

doença e o quanto isso afetou e afeta suas vidas atualmente, através de entrevistas.

A entrevista, nas suas diferentes aplicações é uma técnica de interação social, de interpretação informativa, quebrando assim isolamentos grupais, individuais, sociais; pode também servir à pluralização de vozes e à distribuição democrática da informação. (MEDINA, 2004, p. 08).

Por meio das Instituições e outros grupos, foi possível contatar soropositivos

acima dos cinquenta anos que, devido ao preconceito, mantêm-se no anonimato – as

instituições também forneceram mais informações que acrescentaram à construção

do trabalho. Pelo contato com médicos e especialistas na área de infectologia, foi

possível embasar os tópicos de discussão acerca da pesquisa, incluindo argumentos

que justifiquem as hipóteses.

c) Análise de exemplos que “estimulem a compreensão”, como os

acontecimentos e histórias apresentadas pelas personagens, que contribuam para o

entendimento acerca dos problemas que vivenciam.

O contato com os personagens trouxe os dados mais enriquecedores. Afinal,

pelas conversas casuais, sobre o cotidiano e a observação acerca da maneira de

43 “Como Elaborar Projetos de Pesquisa” GIL, Antonio Carlos, 2009, pg. 45-46.

Page 54: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

53

como enxerga o jeito como a sociedade o recebe, é que o grupo conseguiu o suporte

necessário para a construção da narrativa que será apresentada no documentário.

4.2 Pautas

Pensando em alguns modelos de pautas para conduzir a entrevista, o grupo

selecionou um conjunto de perguntas destinadas aos entrevistados do documentário,

separando-os por especialistas e personagens. Obviamente, cada conversa pode

desencadear uma série de outros questionamentos, de acordo com a receptividade

do médico/personagem. Em todos os casos, a equipe seguiu um questionário padrão

para ajudar no desenvolvimento das conversas.

4.2.1 Pauta para o médico infectologista

4.2.1.1 Sobre o HIV (Geral)

1. Nome / Profissão / Experiência na área médica / Trabalha especificamente com

HIV/AIDS?

2. Como se caracteriza o vírus HIV (principais sintomas, definições técnicas,

transmissão etc)?

3. O vírus apresenta o mesmo comportamento, independente do sexo ou idade

do paciente?

4. Como é o momento do diagnóstico? Qual a reação dos usuários (homens e

mulheres) ao saberem que estão infectados?

5. E o tratamento? Como funciona?

6. Os pacientes são receptivos na hora de aderir ao tratamento?

7. Qual o procedimento adotado pelo hospital? Vocês seguem diretrizes próprias

ou aquelas estipuladas pelo governo - que, aliás, quais são elas?

8. No consultório, os pacientes têm o costume de falar sobre sexo, principalmente

depois do diagnóstico positivo do HIV? Quem são mais desinibidos para

conversar sobre o assunto: os homens ou as mulheres?

9. Como os profissionais da saúde lidam com pacientes infectados? Neste caso,

como funciona a questão do sigilo do usuário?

Page 55: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

54

10. O que há de mais moderno sobre pesquisas com o HIV? Quais são as

perspectivas da comunidade médica para o futuro no que diz respeito à

doença?

11. Existe cura para a AIDS?

12. Os pacientes precisam tomar medicamentos todos os dias, pelo resto da vida?

13. Que tipo de prevenção os cidadãos podem ter para evitar contrair o vírus?

14. Conte algum caso em sua experiência profissional (ou pessoal) ligada ao

HIV/AIDS.

4.2.1.2 Sobre HIV em Idosos (Específico)

1. O que os idosos sabem sobre o HIV/AIDS? Quais são as dúvidas mais

frequentes?

2. Como é o momento do diagnóstico da doença para esse público?

3. Como o HIV/AIDS se comporta no organismo de pessoas idosas?

4. Quais são os principais cuidados para se levar em conta em pacientes mais

velhos?

5. Como é o tratamento da doença em pessoas mais velhas?

6. Existem medicamentos/procedimentos específicos para idosos infectados com

o HIV/AIDS?

7. Conte algum caso em sua experiência profissional (ou pessoal) ligada ao

HIV/AIDS em idosos.

4.2.2 Pauta para o médico psicólogo

1. Nome / Profissão / Experiência na área médica.

2. Muitos idosos procuram por psicólogos e terapias? (Se sim) Por quê?

3. Quais são as queixas mais comuns desse público?

4. Já atendeu pacientes com HIV/AIDS?

5. (Se a resposta for SIM para o item 4) O que eles dizem terem motivado a

procura por um tratamento psicológico?

6. Como especialista, você considera ser difícil o idoso falar sobre sexo, HIV/AIDS

e assuntos do tipo?

Page 56: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

55

7. Para você, qual pode ser o pior momento do paciente que acaba de descobrir

o vírus HIV na terceira idade?

8. Como as pessoas têm lidado com a velhice?

9. Na sua opinião, por que para algumas pessoas é difícil admitir que está ficando

velho?

10. Como

11. Conte um caso marcante em sua carreira (não precisa ser especificamente

sobre o HIV, mas que envolva o idoso).

4.2.3 Pauta para os portadores de HIV/AIDS

4.2.3.1 Pessoal

1. Nome / Idade / Orientação sexual / Estado civil.

2. Você já sabia o que era o HIV/AIDS?

3. O que você sabia sobre a AIDS na época exata em que descobriu a doença?

4. Como você foi infectado com o vírus HIV? Com quantos anos?

5. Conte sobre o momento em que você recebeu o diagnóstico.

6. Tem ideia de quem lhe transmitiu o vírus?

7. Pessoas próximas à sua família sabem que você tem HIV/AIDS?

8. Você já precisou mentir para alguém sobre seu diagnóstico?

9. O que mudou em sua vida desde a descoberta do vírus até agora?

10. Quais foram seus maiores medos ao descobrir a doença?

11. Antes de ser contaminado, já conhecia alguém na família ou no círculo de

amizades com a doença?

12. Costumava usar preservativos em todas as relações sexuais?

13. Fazia exames periódicos de DST/AIDS?

14. Fez uso de drogas injetáveis ou substâncias que utilizam seringas?

15. Hoje, você tem um parceiro fixo? Ele possui HIV/AIDS?

16. (se a resposta for SIM para o item 11) Como ele reagiu à notícia de que você

tem o HIV? Ele sabe que você foi contaminado com o vírus?

17. Vocês usam preservativos em todas as relações sexuais?

18. Para você, o que é preconceito?

19. Como você lidou com preconceito desde a descoberta da doença?

Page 57: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

56

20. Na sua opinião, por que existe o tabu de que o idoso não pratica sexo, nem

deve usar camisinha?

21. Para você, a mulher sofre mais preconceito que o homem quando o assunto é

sexo? E quanto à mulher com HIV?

22. Para você, quais os maiores tabus enfrentados pelos indivíduos da mesma

faixa etária que a sua?

23. Está satisfeito com o número de campanhas na TV/internet/rádio/jornal que

alertam para o uso da camisinha e sobre o HIV? Por quê?

24. Para você, o que é ser velho?

25. Você tem medo da velhice?

26. Conte alguma experiência marcante desde o momento do diagnóstico.

4.2.3.2 Clínico

1. Quanto tempo levou entre os primeiros testes de detecção do HIV até o início

do tratamento?

2. Segundo os médicos, qual era o estágio da doença no momento da

descoberta?

3. Como era e como é hoje o seu tratamento? Mudou alguma coisa?

4. Você toma remédios todos os dias? São sempre os mesmos medicamentos?

Quais são eles?

5. Precisou trocar a medicação ao longo dos anos com a doença?

6. Que tipo de reação você sentiu (ou sente) tempos depois de começar a tomar

os remédios?

7. O tratamento mudou sua rotina diária? Explique.

8. Você chegou a procurar ajuda psicológica após o diagnóstico?

9. E os médicos? Eles prestaram o atendimento necessário ou ignoraram sua

condição?

10. Atualmente, você costuma falar de sexo com seu médico?

4.3 Entrevistados

Page 58: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

57

Para a elaboração deste documentário, foram entrevistadas 14 pessoas em

São Paulo, Santos, São Vicente e Porto Alegre, entre Setembro de 2014 e Maio de

2015.

a) Beatriz Pacheco

Local: Porto Alegre, RS

Condição: Soropositivo

Idade: 67 anos

Material utilizado no documentário: Sim

b) Beto Volpe

Local: São Vicente, SP

Condição: Soropositivo

Idade: 53 anos

Material utilizado no documentário: Sim

c) Damásia Pereira

Local: Porto Alegre, RS

Condição: Soropositivo

Idade: 67 anos

Material utilizado no documentário: Não

d) E.J. (Nome fictício por proteção à identidade, a pedido da pessoa)

Local: Porto Alegre, RS

Condição: Soropositivo

Idade: 58 anos

Page 59: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

58

Material utilizado no documentário: Não

e) Elia Pereira

Local: Santos, SP

Condição: Soropositivo

Idade: 55 anos

Material utilizado no documentário: Sim

f) F.B. (Nome fictício por proteção à identidade, a pedido da pessoa)

Local: Porto Alegre, RS

Condição: Soropositivo

Idade: 54 anos

Material utilizado no documentário: Não

g) Teresinha (Nome fictício por proteção à identidade, a pedido da pessoa)

Local: Porto Alegre, RS

Condição: Soropositivo

Idade: 51 anos

Material utilizado no documentário: Não

h) VE (Nome fictício por proteção à identidade, a pedido da pessoa)

Local: Porto Alegre, RS

Condição: Soropositivo

Idade: 50 anos

Page 60: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

59

Material utilizado no documentário: Sim

i) Neiva Machado

Local: Porto Alegre, RS

Condição: Soropositivo

Idade: 54 anos

Material utilizado no documentário: Não

j) Paulo da Silva

Local: Porto Alegre, RS

Condição: Soropositivo

Idade: 58 anos

Material utilizado no documentário: Sim

k) LI (Nome fictício por proteção à identidade)

Local: Porto Alegre, RS

Condição: Soropositivo

Idade: 50 anos

Material utilizado no documentário: Sim

l) Vera Alves

Local: Porto Alegre, RS

Condição: Soropositivo

Idade: 60 anos

Page 61: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

60

Material utilizado no documentário: Não

m) Cleusa Sakamoto

Local: São Paulo, SP

Ocupação: Psicóloga

Material utilizado no documentário: Não

Psicóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP), com mestrado em

Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. É professora universitária,

psicóloga clínica, pesquisadora e escritora.

n) Luis Fernando Aranha Camargo

Local: São Paulo, SP

Ocupação: Infectologista

Material utilizado no documentário: Não

Médico formado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) em 1986,

com residência em doenças infecciosas. Mestrado na UNIFESP e doutorado na

Universidade de São Paulo (USP), em doenças infecciosas. Ex-Diretor

superintendente do Hospital Israelita Albert Einstein. Possui 25 estudos publicados

em revistas indexadas, abordando infecções em pacientes graves e em pacientes

submetidos a transplantes.44

4.4 Análise de Mídia

Foi feito um levantamento de matérias referentes ao tema do documentário, a

fim de embasar a problematização e a formulação das hipóteses. Abaixo, listamos as

44 Disponível em: <http://www.einstein.br/pesquisa/pesquisa-clinica/Paginas/equipe.aspx>. Acesso em: 22 nov. 2014.

Page 62: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

61

principais matérias sobre o tema, citando título, trecho mais relevante e fonte de

pesquisa:

a) Especialistas alertam que casos de idosos infectados pelo HIV têm

aumentado no Brasil

“A ausência de discussão aberta e franca sobre a sexualidade durante o

envelhecimento faz da Aids uma epidemia silenciosa na população acima dos 50 anos

de idade em todo o mundo.”

Fonte: Saúde Plena

Data: 21/07/2014

http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2014/07/31/noticia_saudeplen

a,149579/especialistas-alertam-que-casos-de-idosos-infectados-pelo-hiv-tem-

aume.shtml

b) Número de casos de HIV cresce entre pessoas da terceira idade

“O índice de idosos contaminados com o vírus da Aids cresceu 26%, segundo

dados da Secretaria Estadual de Saúde. A causa é uma combinação da mudança de

comportamento, vida mais longa e ativa e falta de preocupação com o vírus.”

Fonte: G1

Data: 18/03/2014

http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/jornal-da-eptv/videos/v/numero-de-casos-de-

hiv-cresce-entre-pessoas-da-terceira-idade/3220925/

c) Pesquisa revela aumento da Aids entre idosos

“A média de crescimento anual da Aids na população inferior a 60 anos foi de

2,66%. Já na população com 60 anos ou mais foi de 8,53%. (...) Entre os motivos que

mais contribuem para esse aumento estão a desinformação e a falta de prevenção.

“O idoso é visto pela sociedade como um indivíduo frágil e, tratando-se de vida sexual,

Page 63: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

62

completamente inativo. Essa imagem estereotipada contribui para que pessoas nesta

faixa etária não sejam alvos de campanhas de conscientização e programas de

prevenção”, explica a bioquímica.”

Fonte: JM Online

Data: 04/01/2014

http://jmonline.com.br/novo/?noticias,7,SA%DADE,89520

d) Com aumento de 80% dos casos, idosos lutam contra Aids e rejeição

familiar

“Índice de contaminação saltou de 4,8 (2001) para 8,7, em 2012, segundo

Ministério da Saúde. Dramas de pacientes revelam que desinformação é responsável

por aumento.”

Fonte: Último Segundo

Data: 22/12/2013

http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2013-12-22/com-aumento-de-80-dos-casos-

idosos-lutam-contra-aids-e-rejeicao-familiar.html

e) Aids aumenta 188,6% na última década no Ceará

“(...) os idosos fazem parte, hoje, de estatísticas bastante preocupantes quando

o assunto é a contaminação pelo vírus da Aids, o HIV.”

Fonte: Diário do Nordeste

Data: 25/11/2013

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/aids-aumenta-188-6-

na-ultima-decada-no-ceara-1.798886

f) Saúde alerta: 10% dos casos de Aids estão entre os maiores de 50 anos

Page 64: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

63

“O gerente chamou a atenção para estudos do Ministério da Saúde que revelam

que as chances do idoso usar preservativo são cinco vezes menores do que entre a

população jovem.”

Fonte: Aqui Acontece

Data: 12/11/2013

http://aquiacontece.com.br/noticia/2013/11/12/saude-alerta-10-dos-casos-de-aids-

estao-entre-os-maiores-de-50-anos

g) A Sexualidade na Velhice

“Outro aspecto que deve ser levado em consideração é o aumento da taxa de

incidência de casos de aids e doenças sexualmente transmissíveis na população

brasileira com 60 anos ou mais.”

Fonte: UFPE

Data: 05/06/2013

http://profjabiorritmo.blogspot.com.br/2013/06/a-sexualidade-na-velhice.html

h) Incidência de casos de Aids cresce 26% entre idosos de São Paulo

“Segundo o levantamento, 253 novos casos de aids em pessoas acima de 60

anos foram registrados em 2001.”

Fonte: Hoje em Dia

Data: 13/05/2013

http://www.hojeemdia.com.br/noticias/brasil/incidencia-de-casos-de-aids-cresce-26-

entre-idosos-de-s-o-paulo-1.122973

i) Pesquisa revela dados sobre a Aids na Terceira Idade

Page 65: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

64

“Em 10 anos, de 1996 para 2006, a taxa de incidência de Aids duplicou entre

pessoas com mais de 50 anos, passando de 7,5 casos por 100 mil habitantes para

15,7.”

Fonte: Costa Norte de Comunicação

Data: 30/11/2012

http://www.costanorte.com.br/blog/editorias/geral/pesquisa-revela-dados-sobre-a-

aids-na-terceira-idade

j) Mais idosos realizam teste de HIV

“(...)mais idosos passaram por testes de HIV na cidade e no Estado de São

Paulo em 2011, em comparação com o ano anterior.”

Fonte: R7

Data: 20/08/2012

http://noticias.r7.com/saude/noticias/mais-idosos-realizam-teste-de-hiv-

20120820.html

k) Cresce o contágio da aids entre jovens gays e idosos

“Os homens brasileiros de todas as idades e orientações sexuais têm deixado

a camisinha de lado e, por isso, crescido nas estatísticas da aids.”

Fonte: iG

Data: 03/10/2011

http://saude.ig.com.br/minhasaude/cresce-o-contagio-entre-jovens-gays-e-

idosos/n1597243382637.html

l) Dobram os casos de AIDS na terceira idade em 10 anos

Page 66: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

65

“Avôs e avós fazem sexo, sim. E, sem proteção, também pegam Aids. De 1998

a 2008, os casos da doença entre pessoas acima de 60 anos no Brasil mais que

dobraram, segundo dados de 2010 do Ministério da Saúde.”

“O preconceito a respeito da vida sexual dessa população também dificulta a

proteção. ‘Ninguém de nós vê nossos avós como sexualmente ativos, e isso dificulta

o diagnóstico e acesso à prevenção’, diz Barbosa.”

Fonte: Folha

Data: 03/07/2011

http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/938271-dobram-os-casos-de-aids-na-

terceira-idade-em-10-anos.shtml

m) Número de idosos com HIV aumentou em quatro anos

“Uma pesquisa inédita revelou que os brasileiros são os que mais usam

camisinha no início da relação sexual, mas a realidade é bem diferente para os idosos.

A atividade sexual aumentou e com ela também cresceram as doenças. Em quatro

anos, o número de pessoas da terceira idade com HIV quadruplicou.”

Fonte: SBT

Data: 31/01/2014

http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/38467/Numero-de-idosos-com-HIV-

aumentou-em-quatro-anos.html#.VAOAx_ldWSo

5. MATERIAL DESCRITIVO DE PRODUÇÃO

5.1 Cronograma

Agosto Descrição

D S T Q Q S S Inscrição projeto

27 28 29 30 31 1 2 Reunião do grupo

3 4 5 6 7 8 9

10 11 12 13 14 15 16

Page 67: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

66

27 18 19 20 21 22 23

24 25 26 27 28 29 30

31 1 2 3 4 5 6

Setembro Descrição

D S T Q Q S S Criação da pasta compartilhada no Drive e Planilha de Organização 31 1 2 3 4 5 6

7 8 9 10 11 12 13 Clippagem de notícias

14 15 16 17 18 19 20 Revisão do projeto

21 22 23 24 25 26 27 Produção de Referenciais Audiovisuais

28 29 30 1 2 3 4 Reunião com orientador

Reuniões do grupo

Sinopses de notícias

Outubro Descrição

D S T Q Q S S Reunião com orientador

28 29 30 1 2 3 4 Reuniões do grupo

5 6 7 8 9 10 11 Produção de Referenciais Teóricos

12 13 14 15 16 17 18 Orientação e Entrega dos Referenciais Teoricos

19 20 21 22 23 24 25 Resposta negativa do GIV

26 27 28 29 30 31 1 Contato com soropositivos

Novembro Descrição

D S T Q Q S S Reuniões do grupo

26 27 28 29 30 31 1 Pré Apresentação da Pré-banca para matéria específica 2 3 4 5 6 7 8

9 10 11 12 13 14 15 Reunião com orientador

16 17 18 19 20 21 22 Desenvolvimento da Metodologia

23 24 25 26 27 28 29 Revisão Referenciais Teóricos

30 1 2 3 4 5 6 Revisão cronograma

A Revolta da Lâmpada

Desenvolvimento da Metodologia

Produção das Atividades Desenvolvidas

Entrega do TCC

Dezembro Descrição

D S T Q Q S S Preparação para apresentação para a pré-banca

30 1 2 3 4 5 6 Entrevista

7 8 9 10 11 12 13

14 15 16 17 18 19 20

21 22 23 24 25 26 27

28 29 30 31 1 2 3

Entrega do TCC

Page 68: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

67

Janeiro Descrição

D S T Q Q S S Reuniões do grupo

28 29 30 31 1 2 3 Reajuste do Material escrito pós pré-banca

4 5 6 7 8 9 10

11 12 13 14 15 16 17

18 19 20 21 22 23 24

25 26 27 28 29 30 31

Fevereiro Descrição

D S T Q Q S S Pauta Para Entrevista

1 2 3 4 5 6 7 Entrevista

8 9 10 11 12 13 14 Decupagem

15 16 17 18 19 20 21 Reuniões do grupo

22 23 24 25 26 27 28 Revisão do Roteiro

Revisão da Parte Escrita

Reunião com orientador

Março Descrição

D S T Q Q S S Pauta Para Entrevista

1 2 3 4 5 6 7 Entrevista

8 9 10 11 12 13 14 Decupagem

15 16 17 18 19 20 21 Revisão do Roteiro

22 23 24 25 26 27 28 Edição

29 30 31 1 2 3 4 Reuniões do grupo

Viagem para Porto Alegre (Entrevista)

Abril Descrição

D S T Q Q S S Reuniões do grupo

29 30 31 1 2 3 4 Escolha das Trilhas

5 6 7 8 9 10 11 Edição

12 13 14 15 16 17 18 Pauta Para Entrevista

19 20 21 22 23 24 25 Entrevista

26 27 28 29 30 1 2 Decupagem

Revisão do Roteiro

Reunião com orientador

3

Maio Descrição

D S T Q Q S S Pauta Para Entrevista

26 27 28 29 30 1 2 Reuniões do grupo

3 4 5 6 7 8 9 Entrevista

10 11 12 13 14 15 16 Decupagem Final

17 18 19 20 21 22 23 Produção da Vinheta

Page 69: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

68

24 25 26 27 28 29 30 Pós Produção

31 1 2 3 4 5 6 Revisão da parte escrita

Reunião com orientador

Entrega do TCC

Junho Descrição

D S T Q Q S S Preparação Para Apresentação

30 1 2 3 4 5 6 Reunião com orientador

7 8 9 10 11 12 13 Reunião do grupo

14 15 16 17 18 19 20 Banca Examinatória

21 22 23 24 25 26 27

28 29 30 1 2 3 4

5.2. Atividades desenvolvidas

5.2.1 Escolha do tema e coleta de material

No primeiro semestre de 2014, o grupo buscava um tema que fosse abordado

no projeto de conclusão de curso. Inicialmente, as opções eram câncer infantil e HIV

infantil, mas posteriormente o grupo optou por retratar a vida de pessoas acima dos

cinquenta anos que fossem portadores do vírus HIV através de um projeto audiovisual,

pois todos gostariam que o projeto tivesse alguma função social, retratasse algo que

não era muito discutido na sociedade ou até mesmo considerado um tabu. O tema

escolhido surgiu após os integrantes se depararem com a falta de informação sobre o

tema e um receio de falar sobre o assunto, uma vez de que existe o conceito de que

pessoas da terceira idade não possuem vida sexual ativa. Assim, com números que

comprovam o aumento do contágio ao longo dos anos, não houve dúvida de que o

material produzido poderia ser exibido e bem aceito.

Sendo o grupo composto por três alunos de Rádio, TV e Internet e um aluno de

Jornalismo, houve a necessidade de se optar por um formato audiovisual que tivesse

o lado jornalístico para poder explorar ambas as habilitações. Decidiu-se o formato

documental.

Page 70: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

69

Após a inscrição do projeto, na primeira semana de agosto de 2014, o grupo

começou a realizar os trabalhos pedidos em sala de aula pela maioria dos professores,

os quais também faziam conexão com o TCC, como a busca de referências estéticas

e pesquisa sobre o tema em portais de notícias e outras mídias. Para facilitar o

trabalho, foi criada uma pasta compartilhada no Google Drive, na qual todos os

materiais relacionados a AIDS e idosos eram arquivados para que todos do grupo

pudessem acessar. Dentro do drive uma planilha foi criada, que por sua vez foi

separada por abas diferentes que descrevessem os aspectos do projeto.

Entre as principais abas estavam “Clipping / Notícias”, que reunia todos os links

de notícias – mais de 50 matérias sobre AIDS, desde publicações em revistas a vídeos

reportagens –, e “Sinopses”, com as principais matérias que pudessem ser utilizadas

de referência com uma coluna dedicada a uma sinopse escrita pelo grupo sobre o

material. Esta segunda aba, especificamente, foi essencial para os trabalhos de

Marketing e Análise de Mídia, da professora Deise da Roza Oliveira. Também foram

incluídas abas que informavam datas de orientação com o professor Vanderlei Dias,

referências audiovisuais, fontes para o projeto (especialistas, instituições,

personagens), calendário e ideias (insights). Além do Drive, o grupo se comunicava

pelo aplicativo WhatsApp e por uma comunidade no Facebook. Toda essa

organização utilizando ferramentas online se mostrou efetiva e essencial para que a

pesquisa progredisse durante o segundo semestre do ano.

No início das pesquisas, foi encontrado o principal livro utilizado de referência

para o trabalho, “Sexo e AIDS depois dos 50 anos”, do Dr. Jean Gorintcheyn, médico

infectologista do Ambulatório de AIDS do Idoso do Instituto de Infectologia Emílio

Ribas.

Conforme a leitura da obra e outras notícias, o número de instituições reunidas

na planilha compartilhada aumentava. Caio Carvalho entrou em contato com o

Hospital Albert Einstein e agendou uma visita com o Dr. Luis Fernando Aranha

Camargo, que cedeu uma entrevista sem direito de imagem, portanto houve gravação

apenas do áudio. O Dr. Luis esclareceu as dúvidas e frisou a importância do trabalho

que o grupo estava desenvolvendo (toda a entrevista está transcrita no Apêndice B).

Rodrigo Caravieri também tinha informação sobre um posto de atendimento

focado em DSTs próximo à sua casa, no bairro Vila Mariana. Com uma rápida

Page 71: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

70

pesquisa na internet, descobriu que o Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS

de São Paulo (CRT) era um dos principais pontos onde poderiam buscar informação

de fácil acesso. No CRT, conversou com Dr. Luís Antônio Queiroz Albino, médico

português que além de passar as informações do próprio hospital o encaminhou para

a coleta de sangue, a qual foi levada para análise clínica. Os exames ficaram prontos

em menos de três semanas. Quando Rodrigo voltou para buscar os resultados, foi

encaminhado para o psicólogo Caio com quem teve uma longa conversa abordando

temas como sexualidade na juventude e na terceira idade, além de indicações de

outros locais onde poderiam encontrar soropositivos para o TCC.

5.2.2 Entrevistas e viagens

Inicialmente, a maior dificuldade do trabalho foi encontrar as personagens.

Meses se passaram sem progresso algum nesse aspecto. Como encontrar

soropositivos dispostos a se exporem? Como encontrar soropositivos acima dos

cinquenta anos que quisessem falar de seus problemas pessoais? Instituições e

grupos de ajuda se recusaram a participar, dificultando ainda mais o andamento do

projeto.

Com o auxílio de Elder Magalhães, amigo e colega de faculdade de Eliel que

no ano anterior fez um trabalho sobre o Grupo de Incentivo à Vida (GIV), que luta

pelos direitos das pessoas vivendo com HIV/AIDS e das populações mais vulneráveis

à infecção pelo vírus, conhecemos Sérgio Pessoa, ativista soropositivo, e Beatriz

Pacheco, soropositiva na terceira idade.

O contato com a Beatriz - Bia, para os íntimos – foi espetacular. Ela, uma

senhora simpática e totalmente engajada no assunto, demonstrou um conhecimento

esplêndido sobre sua condição e como a sociedade trata pessoas como ela. Deixou

claro o triste fato que o projeto pretende abordar, dizendo: “E a conclusão que chego

é que 'Velho não dá lucro e vai morrer mesmo'! Desculpem, amigos, mas é o que eu

venho sentindo... Então, imaginem a mãe de vocês infectada com o HIV, ou a avó de

vocês, pois eu sou avó... É bem difícil... Esta população, depois do diagnóstico, se

sente realmente com um 'castigo de Deus' por terem se permitido a ter prazer. Nos

ajudem nisto... Todos nós merecemos ser felizes! Eu sou, pois consegui ver a

realidade das coisas, mas a grande maioria morre de tristeza...”.

Page 72: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

71

Conversar com Beatriz reforçou a posição do grupo de que estavam no

caminho certo, servindo de estímulo para fazer o melhor trabalho possível ao serem

prestigiados e agradecidos pela ideia do projeto (a conversa está transcrita no

Apêndice C). Foi nesse primeiro contato com Beatriz que também surgiu a ideia de

chamar o documentário de “HIVelhos”, nome forte e impactante que pegou o grupo

desprevenido, pois a própria Beatriz se rotulou assim durante a conversa, como todos

de sua idade e condição. “HIVelhos”, soropositivos, idosos e esquecidos.

Como Bia mora em Porto Alegre, percebemos o quão importante sua história

de vida seria para o projeto. Por isso, a partir daí decidimos que iríamos para Porto

Alegre unicamente para entrevista-la. Na verdade, todos os nossos protagonistas

residem em locais fora da cidade de São Paulo, que é onde moramos. E em todos os

lugares que fomos tivemos gratas surpresas que só fizeram nosso trabalho

enriquecer.

A primeira delas veio logo após entregarmos a parte teórica ao orientador e

com o trabalho aprovado na pré-banca, em novembro de 2014. Começamos a

planejar os últimos detalhes das viagens para São Vicente (SP) e Porto Alegre (RS),

onde nos encontramos com Beto Volpe e a Bia Pacheco, respectivamente.

No litoral paulista, fomos entrevistar no dia 7 de março o Beto, que viu de perto

o aparecimento da AIDS no Brasil. Saímos de São Paulo num sábado de manhã e em

cerca de uma hora já estávamos em São Vicente – não sem antes errarmos a parada

e quase irmos parar em Praia Grande. Era um dia nublado e chuvoso no início, e

praticamente não fizemos nenhuma imagem externa por conta do mau tempo.

Chegamos na casa do Beto por volta das 10h30, um lugar simpático, cheio de

“adereços” que contam um pouco da história de vida de Beto. Na entrada havia uma

espécie de penteadeira com espelho, algumas esculturas pequenas sobre a mesa, e

mais uma estante ali perto com outras dessas esculturas. Nas paredes, vários retratos

de Beto e sua família. Um em particular nos chamou atenção: ele ainda mais novo,

sem camisa, e ao fundo um belo pôr-do-sol. Já no quarto, na parte interna da

residência, mais retratos, um computador, troféus e evidências que mostravam a

paixão de Beto pelo Santos, time do coração.

Sempre bem humorado e cheio das piadas, Beto nos apresentou sua mãe, que

não quis gravar um depoimento frente às câmeras. Depois, Beto começou a contar

Page 73: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

72

como foi sua juventude, passando pelo diagnóstico da AIDS até chegar aos dias de

hoje. Ainda jovem nas décadas de 80 e 90, Beto afirmou que tinha atitudes

inconsequentes no que diz respeito ao sexo. “Provei de tudo”, disse, sem medo, nem

pudor. Beto contraiu o HIV aos 28 anos de idade, no final dos anos 80, do até então

namorado. De lá para cá, passou por inúmeras turbulências que comprometeram sua

saúde: ao todo foram 23 cirurgias, dois cânceres, fez radioterapia e quimioterapia,

teve três AVCs e chegou a ser considerado pelos médicos como um paciente terminal.

As sequelas físicas dessas situações ficaram, como o andar mancando – ele até nos

mostrou um pedaço do próprio fêmur guardado em um recipiente com formol. Não

bastasse o diagnóstico da doença, Beto também teve de enfrentar a perda do irmão,

que cometeu suicídio. Ficou ainda mais apegado à mãe, com quem vive até hoje.

Percebemos o quanto os dois se amam tanto quando Beto preparou o almoço para

ambos, também com bastante bom humor: vestindo um avental engraçado com a

imagem de um peitoral sem camisa.

Acabamos as gravações um pouco cedo demais na casa do Beto, e decidimos

que seria melhor tentar filmar algumas paisagens de São Vicente, só para termos mais

material na hora da edição. Beto já tinha comentado conosco de que uma amiga dele

chamada Élia também falaria com a gente. Mas como tínhamos combinado na praia

e estava chovendo no dia, pensamos que estaria desmarcado. A boa notícia é que

naquele mesmo instante conseguimos o contato da Élia e fomos gravar com ela à

tarde.

Élia é uma das melhores amigas do Beto. Ela mora em um pequeno

apartamento com vista para o mar, e tem uma cadela de estimação. Assim como o

Beto (e todas as outras pessoas que entrevistamos ao longo dos últimos meses), ela

não aparenta ter o HIV. No dia em que fomos visita-la, estava usando um longo vestido

verde, bem de praia, e nos recebeu muito bem – com direito a cafezinho e tudo. Nos

contou sobre seus filhos, dos quais tem inúmeras fotos coladas na porta da geladeira

e em porta-retratos na estante da sala, e de como lidou com a doença. Inclusive,

mostrou a quantidade de remédios que toma diariamente para evitar a multiplicação

do vírus no organismo. Élia foi uma grata surpresa que apareceu de repente e nos

agraciou com sua irreverência e jeito de ser. Voltamos para São Paulo satisfeitos com

o que ouvimos, e por termos tido a sorte de conversar com pessoas tão incríveis como

o Beto e a Élia.

Page 74: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

73

Mal chegamos na capital e já tínhamos de acertar os últimos preparativos para

nossa viagem à Porto Alegre. Já tínhamos comprado as passagens e separado a

hospedagem para entrevistar Beatriz Pacheco, uma das pessoas que mais ilustram o

dilema do HIV acima dos 50 anos. Inicialmente, a ideia era viajar no final de janeiro

de 2015, mas por alguns contratempos não conseguimos ir até a capital gaúcha

naquele período. Estendemos o prazo para o final de fevereiro, mas também não

aconteceu nessa data.

Foi quando decidimos ir, sem falta, em março. Até então, só tínhamos a Beatriz

como personagem. No entanto, cerca de três semanas antes da viagem, Caio

conversou com Higor Rodrigues, diretor do curta "Codinome Beija-Flor" (uma das

referências do nosso documentário), sobre quais locações e pessoas ele conversou

para ajudar na composição do projeto. Soubemos então da Casa Fonte Colombo, uma

instituição sem fins lucrativos em Porto Alegre que presta uma assistência para

portadores do vírus, independentemente da idade - tem desde crianças até idosos.

Como produtor, Caio ligou para a ONG para se informar quais atividades são

realizadas na entidade. Ele conversou com a Cristiane Martins, uma das pessoas por

trás da Casa Fonte Colombo e que deu toda uma assistência ao nosso grupo.

Trocamos diversos e-mails para saber se poderíamos gravar nosso trabalho na

instituição e perguntamos se haveria gente disposta a falar conosco, já que boa parte

dos infectados com o vírus prefere esconder o rosto. Nesse ponto em específico,

deixamos claro para a Cristiane que nosso objetivo é justamente permitir que os

indivíduos contassem suas histórias, sem medo ou represálias, e que, se possível, se

sentissem motivados a falar abertamente para a câmera.

Para nossa surpresa, muita gente queria falar sobre a doença - foram mais ou

menos dez pessoas dispostas a conversar com o grupo. A partir daí, ficou decidido

que Caio viajaria primeiro para o Rio Grande do Sul para estabelecer um primeiro

contato com os portadores e bater um papo bem descontraído para poder explicar o

projeto, e o principal: ouvir daquelas pessoas como é ter mais de cinquenta anos e

conviver com o vírus HIV (alguns com a AIDS).

Por esse motivo, Caio viajou para Porto Alegre no dia 12 de março (quinta-

feira), um dia antes de Catarina, Eliel e Rodrigo. Chegando lá, deixou sua bagagem

num hostel chamado Casa Azul, no bairro Cidade Baixa, onde todos ficaram

Page 75: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

74

hospedados até o dia de volta para São Paulo, no domingo (15). Mal terminou de

arrumar suas coisas e Caio já partiu rumo à Casa Fonte Colombo. Logo de cara,

percebeu que se tratava de um ambiente bastante agradável e acolhedor. Foi

recepcionado pela Cristiane, Juliana e pelos freis que administram a instituição.

O local lembra, de fato, uma casa. Ao entrar, encontra-se um longo corredor

que dá em direção a uma parte mais aberta, com alguns bancos e plantas. Também

na entrada era possível ver as doações feitas para a organização, incluindo alimentos

e roupas, e logo ali, à direita, uma pequena capela com cadeiras de madeira, além de

outras salas para consultas médicas com psicólogo, enfermaria e até massagem. Mais

adiante, perto desse espaço mais aberto e verde, ficava o refeitório e o acesso ao

segundo e terceiro andar da entidade, que foi onde Caio conversou com algumas

pessoas que frequentam a Casa Fonte Colombo e se interessara em participar do

documentário.

Em uma roda de conversa bem descontraída, Caio começou explicando quem

éramos nós, o que estudávamos e do que tratava o projeto - levou uma versão

resumida do modelo apresentado na pré-banca, no final de 2014. O objetivo ali era

dar uma visão sobre qual era nosso objetivo principal: sim, mostrar que o HIV existe

em todas as idades e que ainda é um problema real que afeta milhões de pessoas no

Brasil; e sim, quebrar tabus de que pessoas mais velhas não têm uma vida sexual

ativa. Contudo, aquele bate-papo tinha como propósito saber qual a opinião daquelas

pessoas quanto ao tema central do nosso curta-metragem: o que é preconceito? O

que é preconceito para com o HIV? E o que é preconceito para você que já passou

ou acabou de ultrapassar a linha dos cinquenta anos?

Dito isso, foi a vez de ouvir o que aquelas pessoas, algumas de mais idade,

outras aparentando ter bem menos do que realmente tinham, gostariam de dizer.

Despojadas, quase todas disseram que não se importam muito com a questão do

preconceito, mas admitiram ser necessária a criação de mais campanhas alertando

para o uso da camisinha (masculina e feminina); não apenas no Carnaval, mas em

outras épocas do ano. Além disso, concordaram que faltam estudos, comerciais e

conteúdos voltados especificamente para quem tem mais de cinquenta anos, uma vez

que a incidência do vírus nesse público só cresceu ao longo dos últimos anos.

Page 76: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

75

Felizmente, todos toparam gravar conosco, mas a maioria disse que não

gostaria de mostrar o rosto por questões pessoas - alguns ainda tinham receio de

contar a outros membros da família. Marcamos as filmagens para o dia seguinte,

sexta-feira (13), na própria Casa Fonte Colombo.

Ao chegarem em Porto Alegre, Catarina, Eliel e Rodrigo logo souberam de Caio

as boas novas do dia anterior. Ficou decidido o seguinte: naquele dia, no período da

tarde, gravaríamos com todos do dia anterior na Casa Fonte Colombo (com exceção

de um, que ficou para o sábado). Na noite do mesmo dia, também gravaríamos com

a Beatriz Pacheco, já que ela não estaria em Porto Alegre por conta de um evento no

sábado, quando inicialmente estavam programadas as gravações.

Chegando nós quatro na entidade, na sexta, Eliel e Rodrigo discutiram quais

seriam os melhores locais para a filmagem de imagens de apoio - como um visitante

cortando o cabelo, medindo a pressão, fazendo massagem, entre outras atividades.

Decididos os locais, eles começaram a gravar algumas cenas rápidas e, enquanto

isso, Catarina montava os equipamentos no segundo andar da instituição, onde

aconteceriam as entrevistas. Optamos por gravar primeiro com aqueles que não

queriam mostrar o rosto ou que tinham algum compromisso e não poderiam ficar até

tarde.

Durante as gravações, percebemos o quão diferentes eram aquelas pessoas

mesmo estando ali por um denominador comum – no caso, o vírus da AIDS. Uns

tinham mais desenvoltura frente às câmeras (mesmo sem mostrar a face), e falavam

sem nenhum pudor de que não se importava em ter a doença. Outros, mais

comedidos, pareciam temer a reação daqueles que poderiam estar ouvindo aquelas

palavras. Houve também quem aproveitou a oportunidade de contar momentos

difíceis do momento em que descobriu o vírus até histórias de superação nos dias

atuais: todas mulheres, algumas delas relataram terem pego a doença através dos

maridos, que até as acusaram de terem sido elas as responsáveis pela transmissão

do HIV aos homens. Uma dessas mulheres contou que ainda luta contra a depressão

causada por esse tipo de acusação feita pelo ex-marido.

As filmagens na Casa Fonte Colombo começaram por volta das 13h30 da

sexta-feira e só terminaram às 19h00, quando a instituição já havia fechado. De lá,

fomos direto para a casa de Beatriz Pacheco, que nos recebeu para uma das

Page 77: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

76

entrevistas mais marcantes do nosso trabalho. Tanto é que ficamos por lá até de

madrugada.

Bem humorada e bastante receptiva conosco, Beatriz autorizou que

mudássemos diversos móveis de lugar até encontrar um canto perfeito para o

posicionamento das câmeras e luzes. Ficamos por horas ouvindo sua história de vida,

desde a descoberta da doença, ainda na década de 1990, passando pelos momentos

extremamente apaixonantes ao lado do marido e pela militância em palestras,

campanhas e pesquisas direcionadas ao vírus HIV – luta esta que dura até os dias

atuais. Diferente das outras mulheres com quem conversamos na Casa Fonte

Colombo, que pareciam mais acanhadas, Beatriz falou abertamente sobre sexo,

terceira idade, AIDS e outros assuntos relacionados ao seu diagnóstico, preconceito,

preconceito por ser mais velha, preconceito por ter HIV e ser mulher e sua condição

como portadora do vírus. Inclusive, ela nos mostrou diversos materiais que participou

e que guarda com carinho em uma pequena pasta. Entre eles estão vários modelos

de camisinha, incluindo uma “gigante” da cidade de Itu. O papo estava tão bom que

pedimos uma pizza, que Beatriz fez questão de pagar ao saber que estávamos desde

o início da tarde sem comer quase nada (beliscamos uns pãezinhos e um café na

Casa Fonte Colombo antes de irmos embora de lá).

Terminadas as gravações com Beatriz, voltamos para o hostel para descansar,

já que no dia seguinte ainda tínhamos uma gravação com outro portador do vírus,

desta vez um homem chamado Paulo. Gravamos com ele ali mesmo, no hostel, e

aproveitamos o resto do dia para descansar até a volta para São Paulo no dia

seguinte.

5.2.3 As últimas horas

De volta à São Paulo, separamos todo o material de gravação para dar início

ao processo de transcrição e decupagem das entrevistas. Foi quando nos deparamos

com um problema: semanas antes da entrega do projeto final, estávamos sem

infectologista. Tentamos remarcar com o Dr. Luis Fernando Aranha, do Einstein, mas

por desencontros na agenda do médico e do grupo não foi possível marcar com ele.

Com o prazo apertado, optamos por não incluir o especialista, uma vez que

precisávamos finalizar o projeto.

Page 78: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

77

5.2.4 Episódios isolados

Durante gravações externas do projeto, o grupo acompanhou um ato que

aconteceu no dia 16 de novembro, conhecido como A Revolta da Lâmpada. Trata-se

de uma manifestação pela “Libertação de todos os Corpos”, marcada quatro anos

após o ataque homofóbico ocorrido na Av. Paulista, quando jovens foram atacados

com lâmpadas fluorescentes. Lá estavam Catarina, Eliel e Rodrigo, preparados para

entrevistar os manifestantes com perguntas sobre o corpo livre, sobre por que as

pessoas não exercem o corpo livre e no que interfere o padrão heteronormativo, para

então relacionar a AIDS: como o soropositivo pode expressar o corpo livre?

O movimento desceu a Augusta em direção à Praça Dom José Gaspar, na

região da República. Foi uma tarde enriquecedora e com muitos registros para o

documentário. Com a câmera na mão e o celular utilizado como gravador de voz, os

três integrantes do grupo estavam de frente com uma garota chamada Carol, que se

abriu para contar sobre o pai que morreu em decorrência da AIDS. “Existem

campanhas de prevenção, mas não existem campanhas para aqueles que têm AIDS.

É importante que as pessoas não se contaminem, mas é também importante que

aceitem os soropositivos”, comentou a jovem.

Afastados da aglomeração após a manifestação, Rodrigo e Eliel começaram a

segunda e última entrevista com Wesley. No meio da conversa, três rapazes cercaram

o local em que estavam gravando e levaram os celulares de Eliel e Rodrigo.

Felizmente, não levaram a câmera, uma Canon 60D. Eliel não pausou a gravação

quando a entrevista foi interrompida, registrando o áudio do assalto. Mas com receio

de quebrarem o equipamento, manteve a câmera apontada para o chão. Este episódio

marcou a todos. Nos celulares roubados estavam registros dos contatos com

soropositivos e médicos, conversas que seriam utilizadas posteriormente. Perdeu-se

o contato do Dr. Albino e do psicólogo Caio. Perderam-se os registros com o Dr. Jean

Gorintcheyn. Perderam-se textos escritos diretamente no aparelho, além de

conversas por WhatsApp, anotações e gravações.

5.3 Orçamento

Page 79: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

78

1. EQUIPE

Item Descrição Quantidade Valor Unitário Valor Total

1.1 Diretor 1 R$ 0,00 R$ 0,00

1.2 Produtor 1 R$ 0,00 R$ 0,00

1.3 Roteirista 2 R$ 0,00 R$ 0,00

1.4 Operador de Câmera 2 R$ 0,00 R$ 0,00

Sub-Total R$ 0,00

2. EQUIPAMENTO

Item Descrição Quantidade Valor Unitário Valor Total

2.1 Câmera Digital 1 R$ 0,00 R$ 0,00

2.2 Bateria da Câmera 1 R$ 200,00 R$ 200,00

2.3 Fonte de Som 1 R$ 40,00 R$ 40,00

Sub-Total R$ 240,00

3. MATERIAL SENSÍVEL

Item Descrição Quantidade Valor Unitário Valor Total

3.1 Cartão de Memória 1 R$ 150,00 R$ 150,00

3.2 DVD / Capa do DVD 5 R$ 1,50 R$ 7,50

3.3 Isopor 1 R$ 6,90 R$ 6,90

3.4 Pilhas 4 R$ 2,39 R$ 9,54

Sub-Total R$ 173,94

4. SERVIÇOS

Item Descrição Quantidade Valor Unitário Valor Total

4.1 Impressão do Material escrito 450 R$ 0,32 R$ 142,00

4.2 Encadernação 3 R$ 3,50 R$ 10,50

4.3 Encadernação (Capa Dura) 1 R$ 55,00 R$ 55,00

4.4 Impressão no DVD 20 R$ 4,80 R$ 96,00

4.5 Impressão da Capa do DVD 20 R$ 2,40 R$ 48,00

Sub-Total R$ 351,50

5. PRODUÇÃO

Item Descrição Quantidade Valor Unitário Valor Total

5.1 Transporte 20 R$ 3,00 R$ 60,00

5.2 Transporte (Avião) 8 R$ 290,00 R$ 2.320,00

5.3 Transporte (Taxi) 7 R$ 25,74 R$ 180,17

5.4 Hospedagem 12 R$ 45,00 R$ 540,00

5.5 Alimentação - R$ 0,00 R$ 320,00

5.6 Seguro 0 R$ 0,00 R$ 0,00

5.7 Telefone 1 R$ 15,00 R$ 15,00

5.8 Blog 6 R$ 21,67 R$ 130,00

5.9 Extras (Correio, Material de Escritório) - R$ 0,00 R$ 59,00

Sub-Total R$ 3.624,17

TOTAL R$ 4.389,61

Page 80: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

79

5.4 Material usado na gravação

Câmera DSLR Canoon 60D

Câmera DSLR Canoon T5i

Lente 50mm 1.8

Lente 18:135

Placa M-Audio e Pré-Amplifiador Tub MP Studio

Microfone: Boom

5.5 Roteiro

O roteiro foi elaborado após as entrevistas. Mas para que a narrativa fosse

construída e questionada nas entrevistas, seguimos a linha de raciocínio das pautas,

para que na hora de montar o produto final, as informações conversem entre si.

A versão final do roteiro está no apêndice 8.1.

5.5.1 Localização

O grupo fez a captação de todas as entrevistas em quatro cidades do Brasil:

Porto Alegre (Rio Grande do Sul); São Paulo (São Paulo); Santos (São Paulo) e Sã

Vicente (São Paulo).

5.5.2 Locações

Foram selecionados cinco lugares para as gravações: Casa do Beto Volpe (São

Vicente, SP), casa da Élia Pereira (Santos, SP), Faculdade Paulus de Comunicação

e Tecnologia (São Paulo, SP), casa da Beatriz Pacheco (Porto Alegre, RS), Hostel

Casa Azul (Porto Alegre, RS) e Casa Fonte Colombo (Porto Alegre, RS).

Assim que o grupo decidiu os locais de gravação, foram decididos quais os

ambientes seriam mais apropriados para a captação do material, facilitando o áudio e

Page 81: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

80

a iluminação, pela realidade que o formato propõe. Mas ainda assim o planejamento

foi alterado de acordo com cada necessidade.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mais do que um projeto de conclusão de curso das habilitações de Jornalismo

e Rádio e TV, o trabalho focado nas histórias de pessoas acima de cinquenta anos,

portadoras do vírus HIV representa um alerta para a sociedade como um todo. O idoso

precisa ser valorizado em todos os sentidos, independentemente de sua classe social,

crenças ou condição financeira, especialmente quando o assunto é saúde, um dos

grandes déficits em todos os estados do Brasil.

Levando em consideração estes temas, o grupo percebeu a importância de

destacar o idoso como a essência do projeto, uma vez que a mídia e a sociedade

colocam esse público no esquecimento, ignorando questões como a saúde e o

acompanhamento de doenças mais graves nesses pacientes - uma delas a AIDS. Por

isso, com base nas pesquisas realizadas ao longo dos últimos meses, o projeto foi

pensado para estimular um debate que mostre o quanto é essencial prestar atenção

no idoso e direcionar investimentos, estudos e programas sociais para essa parcela

da população através da sensibilidade das histórias do documentário.

O foco em histórias reais de pessoas infectadas com o HIV é outro pilar que

sustenta o projeto. Embora tenha entrevistado soropositivos, o grupo enfrentou

dificuldade para encontrar usuários dispostos a contar seus diagnósticos. É isso o que

motiva a discussão do tema: fazer com que os idosos não se sintam envergonhados

de falar da própria sexualidade e de sua doença, quebrando antigos tabus de que

pessoas mais velhas não possuem uma vida sexual ativa, de que estão condenados

à cama de um hospital ou que não podem desempenhar atividades consideradas mais

simples, como sair para dançar ou encontrar os amigos.

Com base em tais paradigmas, o grupo quer dar voz para as histórias de

pacientes da terceira idade, desde a descoberta da doença até os dias atuais. E a

forma que os integrantes optaram em contar esses relatos é o documentário em vídeo,

um projeto audiovisual que chegue para todos, priorizando uma linguagem simples,

natural e que fuja de estereótipos ou de juízo de valor. Sem o apreço de sensibilizar o

espectador, o objetivo é apresentar um quadro real de pessoas normais que convivem

Page 82: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

81

com o HIV, mas que ainda vivem sob diversos estigmas ligados à sexualidade na

idade avançada.

Como resultado final, o grupo espera entregar um trabalho democrático que

impacte todos os cidadãos, do mais jovem ao mais idoso, através dos depoimentos

de pessoas mais velhas com AIDS e suas histórias de vida. Os integrantes acreditam

que o desenvolvimento de um projeto como esse empregará todas as técnicas e

disciplinas assistidas no curso de Comunicação Social ao longo dos últimos quatro

anos, além de ajudar na formação do jornalista e radialista como profissionais.

7. REFERÊNCIAS

7.1 Quadro Teórico

7.1.1 AIDS na Terceira Idade

ATITUDE ABRIL: Desinformação tem cura. Disponível em:

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MINISTÉRIO DA SAÚDE - Secretaria de Vigilância em Saúde - Departamento

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7.1.2 Documentário

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DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. 3 ed. São Paulo, 2003.

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7.2 Referências Audiovisuais

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creative-commons-critica-procurador-no-caso-

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7.3 Metodologia

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MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista: o diálogo possível. São Paulo:

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SELLTIZ, Claire et al. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo:

Herder, 1967.

7.4 Análise de Mídia

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maiores de 50 anos. 12 nov. 2013. Disponível em:

<http://aquiacontece.com.br/noticia/2013/11/12/saude-alerta-10-dos-casos-de-aids-

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BIORRITMO. A Sexualidade na Velhice. 05 jun. 2013. Disponível em:

<http://profjabiorritmo.blogspot.com.br/2013/06/a-sexualidade-na-velhice.html>.

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DIÁRIO DO NORDESTE. Aids aumenta 188,6% na última década no Ceará.

25 nov. 2013. Disponível em:

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7.5 Outros

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Envelhecer com Aids: representações, crenças e atitudes de idosos

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1999.

Page 94: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

93

8. APÊNDICE

8.1 Apêndice A: Roteiro Transcrito

Vídeo Áudio

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

GENTE, NÓS ESTAMOS EM 2015, SEXO É FEITO A DOIS

Beto Volpe INT. - CASA DO BETO - DIA

VAMOS TIRAR A CAMISINHA, SÓ UM POUQUINHO

LI INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

COMECEI A FICAR MUITO DOENTE, MUITO DOENTE

Élia Pereira INT. - CASA DA ÉLIA - DIA

TOMO UM REMÉDIO HOJE QUE ESTÁ CONSEGUINDO FAZER COM QUE EU VIVA

VE INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

EU AMO A MINHA VIDA

LI INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

PERDI CASA ONDE EU MORAVA

Paulo Rogério EXT. - CASA HOSTEL AZUL - DIA

ATÉ DORMI NA RUA

Vera Lúcia INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

AI VEIO A DEPRESSÃO

Beto Volpe INT. - CASA DO BETO - DIA

AIDS, O QUE É ISSO?

Page 95: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

94

Começa animação de células HIV 50+ Black Gráfico1: 35 milhões de pessoas vivem com AIDS. Só no Brasil, são 735 mil. Dessa população soropositiva, 11% são pessoas acima dos 50 anos. Gráfico 2: A representação anual de contágio desse público cresceu de 10% para 17% nos últimos 12 anos. BLACK Clipe 1 Abre bloco "Descoberta"

SOBE TRILHA: DREAMS BECOME REAL TRILHA ENTRA EM BG

Beto Volpe INT. - CASA DO BETO - DIA

EU TRABALHAVA NO CENTRO DE SANTOS, A EPIDEMIA DE AIDS JÁ ESTAVA PEGANDO FOGO, SANTOS JÁ ERA CONSIDERADA A CAPITAL MUNDIAL DA AIDS, ISSO FOI EM 89 E AI PASSEI A ADOTAR CAMISINHA, SEMPRE. ATÉ QUE EU CONHECI O GRANDE AMOR DA MINHA VIDA, OU QUE EU ACHAVA QUE FOSSE. A GENTE IA SE ENCONTRANDO, ELE MORAVA LONGE, A GENTE SE ENCONTRAVA NOS FINAIS DE SEMANA. EU NÃO LEMBRO QUEM FALOU ENTRE UM SUSSURRO E OUTRO “VAMOS TIRAR A CAMISINHA, SÓ UM POUQUINHO ASSIM? A GENTE SE AMA TANTO” E A GENTE NEM PERCEBEU COMO FOI O PROCESSO, MAS A GENTE DEIXOU DE USAR CAMISINHA.EU TRABALHAVA NO CENTRO DE SANTOS, A EPIDEMIA DE AIDS JÁ ESTAVA PEGANDO FOGO, SANTOS JÁ ERA CONSIDERADA A CAPITAL MUNDIAL DA AIDS, ISSO FOI EM 89 E AI PASSEI A ADOTAR

Page 96: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

95

CAMISINHA, SEMPRE. ATÉ QUE EU CONHECI O GRANDE AMOR DA MINHA VIDA, OU QUE EU ACHAVA QUE FOSSE. A GENTE IA SE ENCONTRANDO, ELE MORAVA LONGE, A GENTE SE ENCONTRAVA NOS FINAIS DE SEMANA. EU NÃO LEMBRO QUEM FALOU ENTRE UM SUSSURRO E OUTRO “VAMOS TIRAR A CAMISINHA, SÓ UM POUQUINHO ASSIM? A GENTE SE AMA TANTO” E A GENTE NEM PERCEBEU COMO FOI O PROCESSO, MAS A GENTE DEIXOU DE USAR CAMISINHA.

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

EU IA NOS MÉDICOS E NINGUÉM SABIA O QUE QUE ERA, POR QUE EU ESTAVA PERTO DOS CINQUENTA ANOS. NAQUELA ÉPOCA, SE FALA MUITO EM GRUPOS DE RISCO E NINGUÉM PENSAVA QUE UMA VÓ, COM PARCEIRO FIXO PUDESSE TER HIV.

Vera Lúcia INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

DAÍ EU FUI NA CONSULTA E CHEGANDO LÁ A DOUTORA ME PEDIU VÁRIOS EXAMES E ME PEDIU EXAME DE SANGUE. E QUANDO FOI O RESULTADO, ELA APANHOU E DISSE “DONA VERA, A SENHORA NÃO TEM ANEMIA, NÃO TEM OUTRAS DOENÇAS, REALMENTE ERA O QUE EU ESTAVA PENSANDO, VOCÊ ESTÁ COM HIV.” .

LI INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

O PAI DO MEU FILHO TINHA E DE REPENTE ELE NEM SABIA QUE TINHA, DAÍ NAQUELA COISA, A GENTE SE ENCONTROU, ROLOU UM CLIMA, A GENTE FOI, TINHA CAMISINHA NO MOTEL E EU NÃO COLOQUEI.

Beto Volpe INT. - CASA DO BETO - DIA

O AMOR É A SITUAÇÃO DE PIOR VULNERABILIDADE. POR AMOR VOCÊ BRIGA COM AMIGOS, VOCÊ SAI DE CASA, VOCÊ FAZ UM MONTE DE LOUCURAS E DENTRE ELAS, A CAMISINHA JÁ DANÇOU

Page 97: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

96

HÁ MUITO MAIS TEMPO QUE TUDO ISSO.

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

SEXO É FEITO A DOIS, NINGUÉM É VÍTIMA DE NINGUÉM. TODO MUNDO SABE, HOMENS E MULHERES, QUE A AIDS TÁ AI, AS DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS, TÃO AI, AS HEPATITES VIRAIS TÃO AI. O MEDO DE PERDE O OUTRO PARECE QUE É MAIOR DO QUE O MEDO DE PERDER SI PRÓPRIO.

Élia Pereira INT. - CASA DA ÉLIA - DIA

VOCÊ SABE O QUE É VOCÊ GOSTAR DE UMA PESSOA, VOCÊ JOGAR TODA A SUA VIDA PRO AR E SE APAIXONAR POR UMA PESSOA? DEPOIS EU DESCOBRI QUE ELE ERA USUÁRIO DE DROGA. E POR QUE NÃO FALOU ANTES? AS COISAS QUE EU SOUBE DEPOIS. SÓ QUE EU TOQUEI MINHA VIDA, EU NÃO TENHO RAIVA DELE.

Vera Lúcia INT. - CASA FONTE COLOMBO – DIA

EU ACHEI QUE EU FOSSE TER O APOIO DELE NO COMEÇO E EU NÃO TIVE. EU ACHEI QUE SERIA O CONTRÁRIO, ASSIM, DE ELE ME DAR AQUELE APOIO E ELE NÃO ME DEU. DAÍ FOI QUANDO EU CAÍ EM DEPRESSÃO, COMECEI A FICAR BEM DEPRESSIVA ASSIM. E NÃO TINHA MUITO ESCLARECIMENTO SOBRE O QUE SE PASSAVA NA CABEÇA DA PESSOA COM HIV.

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

O SOL SE FOI E EU NÃO CONSEGUIA ENTENDER COMO QUE EU ESTAVA COM HIV. EU PASSEI POR OITO MÉDICOS DIFERENTES PRA PODER TER O DIAGNÓSTICO POSITIVO DE HIV. POR QUE ELES SÓ PESQUISAVAM EM MIM CÂNCER DE PELE E LEUCEMIA.

Clipe 2: Imagens de cobertura 02. Abre bloco "Diagnóstico"

SOBE TRILHA: DREAMS BECOME REAL

Page 98: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

97

TRILHA ENTRA EM BG

Paulo Rogério EXT. - CASA HOSTEL AZUL - DIA

NÃO POSSO DIZER DE QUEM EU PEGUEI, SABE? NÃO POSSO DIZER SE FOI DE UMA RELAÇÃO, SE FOI DE UMA TRANSFUSÃO DE SANGUE. PORQUE EU ERA VICIADO, SABE? TOMEI MUITA COCAÍNA NOS CANOS, MUITA DROGA NÉ. ATÉ VITAMINA PRA CAVALO TAMBÉM, EM 75, QUE ERA UMA DROGA INJETÁVEL E A GENTE PARTICIPAVA DE SERINGAS, IGUAL NÉ, NÃO TINHA CADA UM TINHA A SUA.

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

EU LEMBRO COMO SE FOSSE HOJE, QUE EU COMECEI A RIR. PRA VOCÊS TEREM IDEIA SOBRE O QUE EU PENSAVA SOBRE O HIV. EU DISSE “DR., EU COM HIV? EU NÃO SOU PROMÍSCUA.” E ELE OLHOU PRA MIM E DISSE “MAS DONA BEATRIZ, A SENHORA PENSA QUE HIV TEM A VER COM CONDUTA MORAL?” E EU OLHEI PRA ELE INDIGNADO E DISSE “MAS NÃO TEM?” E ELE DISSE “NÃO SENHORA, HIV É PARA PESSOAS SEXUALMENTE ATIVAS E ISSO A SENHORA É, NÃO É?” E EU DISSE “SIM, MAS EU TENHO UM PARCEIRO FIXO, EU TIVE DOIS MARIDOS ANTES, SÃO TRÊS HOMENS NA MINHA VIDA” E DAÍ ELE DISSE, LEMBRO COMO SE FOSSE HOJE “BASTA UM E UMA VEZ”.

Élia Pereira INT. - CASA DA ÉLIA - DIA

COMECEI A PASSAR MAL, PASSAR MAL DENTRO DE CASA, ATÉ QUE UM DIA EU FALEI “NÃO, EU NÃO TENHO SAÍDA”. EU LEVEI UM ESPORRO MUITO GRANDE DA PSICÓLOGA, POR QUE ELA SABIA QUE EU TINHA FEITO O TESTE E NÃO TINHA IDO BUSCAR. E EXCESSO DE FEBRE, FEBRES FORTÍSSIMAS E DE LÁ ME MANDARAM IMEDIATAMENTE PELA AMBULÂNCIA.

Page 99: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

98

Paulo Rogério EXT. - CASA HOSTEL AZUL - DIA

NO MEU CAUSO, EU NÃO FIQUEI NORMAL, EU SENTIA CANSAÇO, CANSAÇO FÍSICO, NÃO CONSEGUIA FAZER AS TAREFAS, NÃO CONSEGUIA FAZER ASSIM, NADA DE NORMAL SABE?

VE INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

DAÍ EU COMECEI A EMAGRECER, PERDI MUITO PESO, DAVA DOIS DIAS, EU ESTAVA BEM MAGRINHA. AI EU IA EMAGRECENDO, EMAGRECENDO AÍ EU COMECEI A ENTRAR EM DEPRESSÃO, POR QUE TODA VEZ QUE EU BOTAVA AS MINHAS CALÇAS, FICAVA UM SACO E EU APERTANDO, APERTANDO E SEMPRE EMAGRECENDO, EMAGRECENDO.

Paulo Rogério EXT. - CASA HOSTEL AZUL - DIA

EU FALEI PRA MINHA MULHER NÉ, EU DISSE ASSIM “PO, VAMOS FAZER UM TESTE AI E PA PRA VER COMO É QUE DÁ” E ELA FOI FAZER O TESTE, DAÍ NELA DEU NEGATIVO. DAÍ QUANDO ELA VIU QUE EM MIM DEU POSITIVO, NÃO DEMOROU UM ANO, ELA FOI EMBORA, LARGOU. DISSE QUE IA CUIDAR DA MÃE DELA, QUE A MÃE DELA ESTAVA DOENTE E NUNCA MAIS VOLTOU, ABANDONOU CASA, ABANDONOU FILHA E ABANDONOU TUDO E EU ENTREI EM DEPRESSÃO. DALÍ EU COMECEI A FICAR ABAIXADO EM HOSPITAL, A DOENÇA SE AGRAVANDO E EU NÃO QUERIA MAIS ME TRATAR.

Beto Volpe INT. - CASA DO BETO - DIA

EU CHEGUEI A TER 2760 DE TRIGLICÉRIDES E 480 DE COLESTEROL, COISAS QUE, OUTROS MÉDICOS QUE EU IA POR OUTROS MOTIVOS, QUE OLHAVAM E FALAVAM “COMO É QUE VOCÊ ESTÁ VIVO?” E EU FALAVA “DOUTOR, NÃO ME QUEBRA AS PERNAS, EU VIM TE PERGUNTAR A MESMA COISA, CARA, NÃO FAZ ISSO COMIGO”.

Page 100: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

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LI INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

E OS EFEITOS COLATERAIS SÃO HORRÍVEIS, TU PODE TER LIPODISTROFIA, TU PODE TER QUEDA DE CABELO, QUEDA DE DENTE E ASSIM POR DIANTE, MAS É UMA COISA QUE EU VOU SER ATRELADA A VIDA INTEIRA.

VE INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

AÍ APARECEU SAPINHO, NA MINHA GARGANTA E EU TIVE UM PROBLEMA, UMA DOR MUITO FORTE DEBAIXO DO SEIO, EU CHORAVA CHORAVA E UMA DOR ENORME, ENORME. DAÍ UMA AMIGA NOSSA ME LEVOU PRO HOSPITAL, DAÍ CHEGANDO LÁ, O MÉDICO FALOU DE CARA “NÃO, PODE ABAIXAR ELA, QUE ELA TÁ COM HIV”.

Beto Volpe INT. - CASA DO BETO - DIA

VOCÊ PODE ESTAR NO MELHOR LUGAR DO MUNDO PRA FAZER TRATAMENTO, SE INTERIORMENTE VOCÊ NÃO TÁ CONECTADO À ELE, SE VOCÊ NÃO TÁ ACREDITANDO QUE ELE VAI FUNCIONAR, DESCULPA, MAS ELE NÃO VAI FUNCIONAR. ESSE FOI UM GRANDE LANCE NA MINHA VIDA, ACHO QUE O FATO DE EU ESTAR AQUI ATÉ HOJE, EU DEVO MUITO MUITO MUITO A NUNCA TER PERDIDO O MEU SENSO DE HUMOR. É TROPEÇAR E TIRAR SARRO, ISSO AÍ É A MELHOR COISA QUE EXISTE.

Clipe 3: Imagens de cobertura 03. Abre bloco "Preconceito"

SOBE TRILHA: DREAMS BECOME REAL TRILHA ENTRA EM BG

Page 101: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

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Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

NÓS FOMOS CONVIDADOS PARA UM PROGRAMA DE ENTREVISTA AQUI E NA SAÍDA DO PROGRAMA (AH, EU DIVULGUEI O MEU CELULAR PELO PROGRAMA) E NA SAÍDA, O MEU CELULAR TOCA E ERA UMA MOÇA CHORANDO, DIZENDO QUE A TV ESTAVA LIGADA E ELA ESTAVA COM O REVÓLVER NA MÃO, PRA DAR UM TIRO NA CABEÇA POR QUE TINHA TIDO DIAGNÓSTICO POSITIVO DE HIV E ELA ME OLHOU E ME VIU SORRINDO PRO CARLOS, O CARLOS SORRINDO PRA MIM E ELA PAROU PRA OUVIR AQUILO E ELA DISSE “EU ESTOU VIVA GRAÇAS A VOCÊS”. ALI EU TIVE CERTEZA ABSOLUTA QUE A VISIBILIDADE DA PESSOA COM HIV É FUNDAMENTAL.

LI INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

EU DETESTO AS PESSOAS QUE NAMORAM E NÃO DIZ PRO SEU PARCEIRO, UM SORODISCORDANTE, QUE TEM A DOENÇA. EU ACHO QUE A PESSOA QUE FAZ ISSO NÃO TEM NENHUM POUCO DE CARÁTER.

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

O SIGILO É NECESSÁRIO EM ALGUNS MOMENTOS NO COMEÇO, COMO PROTEÇÃO INICIAL PARA QUE A PESSOA POSSA TER A SUA ACEITAÇÃO COMO PESSOA VIVENDO COM HIV. POR QUE A GENTE ESCONDIDO FICA CRIANDO FANTASIAS E MONSTROS TÃO GRANDES, ACHANDO QUE O MUNDO VAI NOS REJEITAR. SE FALA MUITO NAS COISAS TEÓRICAS DA AIDS, MAS SE FALA MUITO POUCO DA REALIDADE DE VIVER COM HIV E AI SÃO GERADOS OS PRECONCEITOS.

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

A FORMA RÍGIDA QUE A GENTE FOI CRIADO, DE JULGAMENTO, DE CONDUTA, DE REPENTE HIV É UMA COISA DE PROMÍSCUO, ISSO É UMA FANTASIA POPULAR E O AUTO-PRECONCEITO É UMA

Page 102: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

101

DAS COISAS MAIS DIFÍCEIS DA NOSSA IDADE.

Élia Pereira INT. - CASA DA ÉLIA - DIA

MUITAS PESSOAS QUE EU CONHECI, QUE TEM O HIV, ELAS PRÓPRIAS TEM O PRECONCEITO CONTRA ELAS. EU CONHECI MULHERES LÁ, QUE ELAS TROCAM O TUBO DO REMÉDIO E PASSAM PRA OUTRO, PRA FAMÍLIA PORQUE O PAI NÃO SABE, O FILHO NÃO SABE.

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

O AUTO-PRECONCEITO NOS DESTRÓI. A GENTE SE SENTE MENOS GENTE.

Paulo Rogério EXT. - CASA HOSTEL AZUL - DIA

ACHO QUE A PESSOA QUE TEM, QUE É PORTADORA, ELA NÃO TEM QUE ESCONDER QUE TEM A DOENÇA. EU ACHO QUE NÃO. NA MINHA OCASIÃO EU ACHO QUE NÃO. É MELHOR A PESSOA DIZER, QUE TU DESCOBRIR DEPOIS QUE TU TEM.

Beto Volpe INT. - CASA DO BETO - DIA

VAMOS SAIR DO ARMÁRIO, NÉ? QUANDO A GENTE SAI DO ARMÁRIO, NÃO É SINAL DE QUE A VOCÊ TEM QUE IR PRA FRENTE DA PREFEITURA COM UMA FAIXA “EU SOU HIV POSITIVO E QUERO MEU DIREITOS”, NÃO.

VE INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

E MINHA MÃE É MUITO CONSERVADORA, MINHA MÃE, SE PUDER ELA JÁ DIZ “TU JÁ TÁ TOMANDO ESSAS PORCARIA, POR ISSO QUE TU AINDA TÁ INTEIRA”.

Élia Pereira INT. - CASA DA ÉLIA - DIA

NUM MOMENTO DESSE DA TUA VIDA, A ÚLTIMA COISA QUE VOCÊ QUER OUVIR É CRÍTICA. PORQUE VOCÊ FOI IRRESPONSÁVEL.

Page 103: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

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VE INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

“VIU, TU DEU PRA TODO MUNDO EM PORTO ALEGRE, VIU, NÃO TE CUIDOU, POR ISSO. AINDA BEM QUE TEM ESSAS PORCARIA PRA TI TOMAR. AH TU JÁ TÁ LOUCA, TÁ LOUCA, TÁ BRIGANDO? BEM QUE ME FALARAM MESMO QUE TU IA FICAR BEM LOUCA, QUE O VÍRUS IA AFETAR TUA CABEÇA.” INFELIZMENTE, É A TUA PRÓPRIA FAMÍLIA QUE TE BOTA LÁ EMBAIXO. SE EU VOU ATRÁS DA MINHA MÃE, EU IA SIMPLESMENTE ME DECAIR, NÃO IA TOMAR MAIS NADA. PRA QUE NÉ?

Beto Volpe INT. - CASA DO BETO - DIA

NÃO DISCRIMINE PESSOAS COM HIV, COISA DO PASSADO, COISA VELHA, CARA. NÉ? PRECONCEITO É COISA DO PASSADO, A GENTE NÃO É AIDÉTICO, NÃO É DOENTE, NÓS SOMOS PESSOAS QUE TÊM TANTOS OU MAIS SONHOS ATÉ QUE MUITA GENTE, NÓS SOMOS PESSOAS QUE QUEREM SER FELIZES COMO QUALQUER OUTRA PESSOA NESSE MUNDO.

VE INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

ELA ACHA QUE EU ME DETONEI TODA NÉ, QUE EU TO DETONADA E QUE OS REMÉDIOS SÃO SÓ PRA ME SEGURAR, MAS NA VERDADE EU SOU UMA MORTA VIVA PRA ELA.

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

E VEM PESSOAS NA MINHA CASA, NÃO ACEITAM TOMAR UM CAFEZINHO PORQUE EU USO AQUELAS XÍCARAS TAMBÉM. E EU GOSTO DE BRINCAR QUE SE PASSASSE O HIV TÃO FACILMENTE COMO SE PENSA, É BOM LEMBRAR QUE AS PESSOAS COM HIV TAMBÉM VÃO A RESTAURANTES. É SURPREENDENTE QUE AS PESSOAS TEM PRECONCEITO CONOSCO COM COISAS INCRÍVEIS, MUITAS VEZES TEM PESSOAS QUE NÃO ME ABRAÇAM, COM MEDO QUE PULE

Page 104: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

103

O HIV MEU NÉ. E VÃO PRA CAMA SEM CAMISINHA, LÁ NÃO TÊM MEDO. É ONDE DEVIA TER, NÃO DIGO MEDO, MAS DEVIA TER CUIDADO COM ISSO.

Élia Pereira INT. - CASA DA ÉLIA - DIA

AIDS NÃO TEM CARA, NÃO TEM CARA. TEM GENTE QUE TEM, QUE TÁ SE TRATANDO, QUE TÃO BEM, ENTENDEU? ENTÃO NÃO TEM CARA, VOCÊ TEM QUE TOMAR CUIDADO, A ÚNICA PESSOA QUE TEM QUE TOMAR CUIDADO É VOCÊ.

VE INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

UMA CRIANÇA PODE TER, INFELIZMENTE, UM MODELO PODE TER, NÃO TEM DISCRIMINAÇÃO. PODE SER O NEGRO, PODE SER O BRANCO.

Élia Pereira INT. - CASA DA ÉLIA - DIA

ACHA QUE AIDS É AQUELA PESSOA QUE TÁ CHUPADA, MAGRA, ENTENDEU? NÃO É NADA DISSO. AIDS HOJE TÁ EM TODAS AS CLASSES SOCIAIS.

LI INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

DAÍ EU PERGUNTEI “SE TU TIVESSE UMA EMPREGADA CAPAZ, EM QUALQUER FIRMA TUA, SE TU SOUBESSE QUE ELA TINHA AIDS, O QUE QUE TU FARIA?”, “DEMITIRA NA HORA”.

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

E OS PRECONCEITOS FORAM CRIADOS PELA RIGIDEZ RELIGIOSA, PELA RIGIDEZ FAMILIAR E CULTURAIS E EU ACHO QUE A EDUCAÇÃO HOJE EM DIA TEM QUE, DE ALGUMA MANEIRA, DESCONTRUIR ESSAS COISAS QUE SÓ GERARAM SOFRIMENTO E DOENÇA.

Page 105: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

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LI INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

DAÍ TU COMEÇA A PENSAR “EU TENHO QUE ME SUSTENTAR, EU TENHO FILHO PRA CRIAR, ENTÃO EU TENHO QUE ME GUARDAR, TENHO QUE ME SALVAR, SALVAR A MINHA FAMÍLIA, O MEU GANHA PÃO” POR QUE EU ENTENDO A PESSOA QUE NÃO QUER DAR O EMPREGO PRO HIV POSITIVO. TU TEM UMA FIRMA, TU TEM UMA FÁBRICA E EU SOU UMA ÓTIMA FUNCIONÁRIA E TENHO AIDS E AI TU FICA “PO, MAS ELA PODE PEGAR UMA TUBERCULOSE, ELA PODE TER UMA GRIPE MUITO FORTE E AI VAI TER QUE TREINAR OUTRA PESSOA PRA FICAR NO LUGAR DELA”, EU VEJO OS DOIS LADOS DA MOEDA. EU ENTENDO POR QUE NÃO NOS DÃO EMPREGO E TAMBÉM ME PERGUNTO POR QUE NÃO, SE NÓS ESTAMOS NO ANO DA INCLUSÃO?

Clipe 4: Imagens de cobertura 04. Abre bloco "Velhice"

CORTA TRILHA: DREAMS BECOME REAL SOBE TRILHA: VISION OF PERSISTENCE TRILHA ENTRA EM BG

Vera Lúcia INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

VELHO PRA MIM É AQUELA PESSOA QUE JÁ TÁ COM CEM ANOS, QUE JÁ TÁ COM OS OLHOS CINZA, JÁ NÃO TEM MAIS MEMÓRIA, NÃO FAZ MAIS PARTE, ISSO QUE PRA MIM É SER VELHO. JÁ NÃO TEM MAIS CONHECIMENTO DO QUE TÁ ACONTECENDO.

Paulo Rogério EXT. - CASA HOSTEL AZUL - DIA

QUE NINGUÉM TE ACEITA MAIS NÉ, NENHUM SERVIÇO TE ACEITA MAIS, NA MINHA IDADE SE EU FOR FAZER UMA FICHA NUMA FIRMA AÍ JÁ NÃO ENTENDE MAIS, NA MINHA IDADE JÁ NÃO TEM MAIS.

Page 106: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

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LI INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

POSSO TÁ CAQUÉTICA, MAS EU NÃO VOU ME ACHAR VELHA, POR QUE EU TENHO QUE ME AMAR. SER VELHO É A MENTE, É AQUELA PESSOA QUE NÃO SE AMA, VAI FICANDO “AI AI, TO VELHINHA, FICAR EM CASA, CUIDANDO DOS NETO AQUI” QUE NADA, VAI VIAJAR, VAI AMAR, VAI VIVER. ENVELHECER É VIVER.

Élia Pereira INT. - CASA DA ÉLIA - DIA

COISA BOA. SABEDORIA. ISSO É O BOM DA IDADE, É SABEDORIA, É SABER ESCOLHER SEUS AMIGOS, SABE? É SABER DIZER NÃO. POR QUE QUANDO VOCÊ É JOVEM, VOCÊ NUNCA DIZ NÃO. SE EU TIVESSE DITO NÃO, TALVEZ MUITA COISA NÃO TIVESSE ACONTECIDO, MAS EU ACHO QUE EU TINHA QUE PASSAR POR ISSO.

Beto Volpe INT. - CASA DO BETO - DIA

É QUANDO VOCÊ ACHA QUE NÃO APRENDE MAIS NADA, QUANDO VOCÊ ACHA QUE JÁ FEZ DE TUDO OU JÁ APRENDEU DE TUDO. EU SOU UM ETERNO APRENDIZ, CARA. EU TENHO UMA MÚSICA QUE LEVA A MINHA VIDA, QUE ELE FALA “UM MENINO A UM MOLEQUE MORANDO SEMPRE NO MEU CORAÇÃO, TODA VEZ QUE O ADULTO BALANÇA, ELE VEM PRA ME DAR A MÃO”.

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

SOU UMA “HIVÉIA”, SOU. SOU UMA “HIVÓ”, SOU. DAÍ A PESSOA DIZ “POR QUE TU INSISTE TANTO EM FALAR QUE TU É VELHA?” EU DIGO “GENTE, EU IA MORRER EM DEZOITO MESES, UM POUQUINHO ANTES DOS MEUS CINQUENTA ANOS E EU TO COM QUASE SETENTA, ISSO É UMA MARAVILHA. EU TO NO LUCRO, CADA RUGA MINHA, É UMA RUGA DE UM SORRISO, DE UMA ALEGRIA, DE UMA TRISTEZA, DE UMA PREOCUPAÇÃO, QUEM NÃO TEVE?” QUERO MANTER TODAS AS MINHAS RUGAS AQUI, A

Page 107: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

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HISTÓRIA DA MINHA VIDA, ME ORGULHO DE QUEM EU SOU, MESMO SENDO UMA MULHER VIVENDO COM HIV, POR QUE EU NÃO VOU TER ORGULHO DE QUEM EU SOU?

Beto Volpe INT. - CASA DO BETO - DIA

ACHO QUE AÍ TÁ O SEGREDO DA JUVENTUDE, VOCÊ DEIXAR COM VOCÊ, CARREGAR COM VOCÊ O MELHOR DE CADA ÉPOCA. UMA PORQUE VOCÊ FALA: PO, EU VIVI.

Élia Pereira INT. - CASA DA ÉLIA - DIA

PORQUE ISSO AQUI TUDO VAI ENVELHECENDO, VOCÊ HOJE TÁ COM VINTE ANOS, TÁ TODO BONITINHO, MAS ISSO VAI CHEGAR UMA IDADE. EU ACOMPANHO UMA SENHORA DE NOVENTA E UM ANOS, EU QUERIA QUE VOCÊ VISSE AS FOTOS DELA NA PRAIA, COMO ELA ERA LINDA E VOCÊ VISSE COMO ELA TÁ. TÁ LÚCIDA, ELA ANDA SOZINHA, ELA SAI, GOSTA DE UMA CERVEJINHA, UMA PESSOA QUE NÃO QUER SE ENTREGAR, ENTENDEU? NÃO QUER USAR O APARELHO, POR QUE DIZ QUE NÃO É VELHA, ENTÃO ISSO PRA MIM É UM EXEMPLO DE VIDA.

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

E POR QUE NÃO DESCOBRIR COISAS NOVAS E POR QUE NÃO DESCOBRIR MARAVILHAS QUE O NOSSO CORPO PODE NOS PERMITIR? EU SEMPRE FALO QUE SE DEUS NOS DEU TANTAS ZONAS DE PRAZER NO CORPO, É POR QUE ELE QUER QUE A GENTE SEJA FELIZ E USE E TENHA PRAZER NO SEXO SIM, SEXO NÃO É PECADO, SEXO É

Page 108: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

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UMA COISA DIVINA, QUE NOS FOI DADA.

LI INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

QUE O VELHO TEM UMA COISA CHAMADA CORAÇÃO, TEM DESEJO, TEM VONTADE DE AMAR, DE IR PRA CAMA, DE BEIJAR, NÃO É SÓ O JOVEM.

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

O CORPO É NOSSO E NÃO SOU EU QUEM VAI DIZER COMO TU VAI USAR O TEU CORPO E É ASSIM QUE A GENTE TEM QUE SER. NO MOMENTO QUE A GENTE SE ACEITAR E ACEITAR O OUTRO, NÓS PODEMOS FALAR EM IGUALDADE, CONDIÇÕES E PREVENÇÃO.

Beto Volpe INT. - CASA DO BETO - DIA

PROVAVELMENTE EU IA SER UMA BICHA VELHA, PAGANDO MICHÊ NO QUIOSQUE DA CRIS, AQUI NA PRAIA DE ITARARÉ, CHEIRANDO POEIRA COM O MEU PESSOAL, QUE EU VEJO QUE TEM VÁRIOS AMIGOS DA MINHA ÉPOCA QUE TÊM HIV E QUE CONTINUAM CHEIRANDO POEIRA E DANDO O CU SEM CAMISINHA COMO SE TIVESSE DEZOITO ANOS. ISSO PRA MIM É ENVELHECER. ELES FALAM “AH, VOCÊ TÁ VELHO” NÃO QUERIDO, EU ME ADAPTEI, DARWIN JÁ ENSINOU ISSO A TANTO TEMPO CARACA, VOCÊ TEM QUE ADAPTAR, QUEM NÃO SE ADAPTAR NÃO SOBREVIVE. SE VOCÊ SE CONFORMA QUE AQUELE É O CAMINHO QUE VOCÊ TÁ, ME DESCULPA, VOCÊ TÁ FADADO A COLOCAR UM COBERTOR XADREZ A PARTIR DE CERTA IDADE E FICAR ASSISTINDO “CURTINDO A VIDA ADOIDADO” NA SESSÃO DA

Page 109: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

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TARDE, PELO AMOR DE DEUS, NINGUÉM MERECE.

Élia Pereira INT. - CASA DA ÉLIA - DIA

HOJE EU NÃO PERCO MEU TEMPO COM COISAS FÚTIL. PRA EU SAIR, PRA FESTINHA DE ANIVERSÁRIO DE AMIGUINHAS, PRA ESCUTAR CONVERSINHAS IDIOTAS EU PREFIRO FICAR EM CASA LENDO O MEU LIVRO.

Clipe 5: Imagens de cobertura 05. Abre bloco "Força de Viver"

CORTA TRILHA: VISION OF PERSISTENCE SOBE TRILHA: MEMORY LOSS TRILHA ENTRA EM BG

Paulo Rogério EXT. - CASA HOSTEL AZUL - DIA

DISSE QUE TÁ VINDO AI, NÉ. EU CREIO MUITO NA CURA POR QUE COMO EU TAVA E COMO EU TÔ AGORA. SÓ NÃO POSSO JOGAR BOLA E CORRER, MAS O RESTO, TUDO, GRAÇAS A DEUS FIRME E FORTE. E O QUE PASSOU PRA TRÁS, PASSOU PRA TRÁS, TEM QUE OLHAR PRA FRENTE. É OLHAR O PRÓXIMO NA FRENTE, E AJUDAR O PRÓXIMO DA FRENTE.

Vera Lúcia INT. - CASA FONTE COLOMBO - DIA

EU NÃO DIGO ASSIM, PRA MIM, MAS EU ESPERO QUE DAQUI PRA FRENTE EXISTA A CURA DO HIV E QUE AS PESSOAS SE CUIDEM MAIS E ENQUANTO EU PUDER VIVER, EU QUERO VIVER. QUERO TRABALHAR, QUERO PASSEAR, QUERO IR PRO BAILE E ISSO É A

Page 110: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

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MINHA VIDA, É ISSO QUE EU ESPERO.

Beto Volpe INT. - CASA DO BETO - DIA

A VIDA É MARAVILHOSA, NÉ CARA. NÃO TEM COMO VOCÊ SUBESTIMAR UM CONJUNTO TÃO GRANDE DE EMOÇÕES. NESSES ÚLTIMOS 25 ANOS (QUE SÃO 25 ANOS DE AIDS), EMOÇÃO FOI O QUE NÃO FALTOU E A GRANDE MAIORIA DELAS FORAM EMOÇÕES DESAFIADORAS E A GENTE SUPEROU.

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

EU NUNCA PERDI MEU SORRISO, EU DIGO A IDADE FAZ A GENTE PERDER TODAS AS CURVAS, A DO SORRISO EU NÃO QUERO PERDER ATÉ MORRER.

Beto Volpe INT. - CASA DO BETO - DIA

NUNCA, NÃO EXISTE JOGO ENCERRADO, SEMPRE HÁ TEMPO DE SER FELIZ. E ISSO INDEPENDE DE IDADE, SÓ DEPENDE DE UMA COISA: DE VOCÊ, SÓ DEPENDE DE VOCÊ SER FELIZ. SE VOCÊ ESTÁ COM UM PROBLEMA SÉRIO, VOCÊ PODE TER CERTEZA QUE JUNTO DESSE PROBLEMA, EXISTE UMA OPORTUNIDADE ENORME, PRA VOCÊ VISLUMBRAR UM NOVO FUTURO, UMA NOVA VIDA, UMA NOVA MANEIRA DE SE COMPORTAR. ISSO A PESSOA PODE TER SESSENTA, SETENTA, OITENTA OU VINTE ANOS. EXISTEM MIL E UMA MANEIRAS DE VOCÊ ATUAR NA LUTA CONTRA AIDS, É ESCOLHA SUA, FAÇA ALGUMA COISA, SE ENGAJE EM ALGUM PROJETO, PRA GENTE CONSEGUIR, SE NÃO DERROTAR A AIDS, MINIMIZAR OS IMPACTOS QUE ELA TEM, ESPECIALMENTE NA NOSSA SAÚDE.

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Élia Pereira INT. - CASA DA ÉLIA - DIA

FALA A VERDADE, EU ABRO AQUI EU VEJO O SOL MARAVILHOSO, ABRO LÁ, VEJO O SOL ALI COM ESSE MAR, EU TENHO MOTIVO PRA SER INFELIZ? POR CAUSA DE UMA DOENÇA QUE NÃO TEM CURA, MAS EU TO VIVENDO?

Beatriz Pacheco INT. - CASA DA BEATRIZ - NOITE

NÃO PERCAM O SORRISO, SE CUIDEM E VÃO SER FELIZES. AMOR É BOM, SEXO É BOM, EU TAMBÉM GOSTO, MESMO NA TERCEIRA IDADE.

BLACK Créditos Corta.

SOBE TRILHA: MEMORY LOSS

Page 112: Projeto Escrito - HIV 50+ (Documentário)

111

8.2 Apêndice B: Documento de Autorização Fapcom

DECLARAÇÃO

Declaro que os alunos Catarina Flório (RA. 122087); Caio Carvalho (RA 091011); Eliel

Guilhen (RA 112071) e Rodrigo Caravieri (RA 122121), estão devidamente

matriculados no 7º Semestre do Curso de Jornalismo e de Rádio e TV, da Faculdade

Paulus de Tecnologia e Comunicação (Fapcom).

No momento os alunos estão elaborando o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)

sobre o tema “Pessoas com mais de sessenta anos que possuem o vírus HIV”, cujo

produto final é um documentário em vídeo.

Declaro, também, que estão sob a minha orientação, e que o trabalho possui

finalidade acadêmica, ficando restrito a exibições apenas de caráter educacional, sem

fins lucrativos.

Atenciosamente,

_________________________________

Prof. Ms. Vanderlei Dias de Souza

(11) 99656-8819 – [email protected]

São Paulo – 2014

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8.3 Apêndice C: Autorizações

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