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A Guinada dos DH no Brasil Adorno, Pinheiro e Neto, Almeida

A guinada dos Direitos Himanos no brasil1

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A Guinada dos DH no Brasil

Adorno, Pinheiro e Neto, Almeida

A política nacional de direitos humanos do Estado brasileiro,

desenvolvida desde o retorno ao governo civil em 1985, e de forma mais definida, desde 1995, pelo governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, reflete e aprofunda uma concepção de direitos humanos partilhada por organizações de direitos humanos desde a resistência ao regime autoritário nos anos 1970. Pela primeira vez, entretanto, na história republicana, quase meio- século depois da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, os direitos humanos passaram a ser assumidos como política oficial do governo, num contexto social e político deste fim de século extremamente adverso para a maioria das não-elites na população brasileira. (Pinheiro e Mesquita Neto).

DH no Brasil

Durante a transição para a democracia no Brasil

(1979‑1988) e por quase duas décadas, temas de direitos humanos suscitavam reações depreciativas, frequentemente associados, pela opinião publica, a defesa dos direitos de bandidos, a utopia de militantes que imaginavam uma sociedade despida de violência e de graves violações de direitos humanos ou ainda a sede de vingança por parte de quem havia sido perseguido pela ditadura militar. (Adorno, 2010)

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Em meados dos anos oitenta, já começava a ficar claro que o

desenvolvimento econômico e social e a transição para democracia, ainda que necessários, não eram suficientes para conter o aumento da criminalidade e da violência no Brasil. Ficava patente que esse fenômeno constituía um grande obstáculo e uma ameaça aos processos de desenvolvimento e de consolidação da democracia. A questão era saber se esta tendência de banalização da criminalidade, da violência e da morte poderia ser controlada e revertida ou se ela acabaria por consumir os recursos humanos da sociedade brasileira a ponto de inviabilizar os processos de desenvolvimento e de consolidação da democracia no país.(Pinheiro e Mesquita Netto)

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Qualquer que seja a interpretacão que se

possa atribuir aos rumos da democracia no Brasil pos‑transicão, e inegável que os direitos humanos constituem a espinha dorsal da Constituicão de 1988. (Adorno, 2010)

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A ideia de Programas Nacionais de Direitos

Humanos nasceu na Conferencia Mundial dos Direitos Humanos (Viena, 1993). Nessa Conferencia, decidiu‑se recomendar aos paises presentes que elaborassem programas nacionais com o proposito de integrar a promocão e a protecão dos direitos humanos como programa de governo4. Em 7 de setembro de 1995, o governo FHC anunciou sua intencão de propor um plano de acão para os direitos humanos. (Adorno, 2010)

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Com o objetivo de limitar, controlar e reverter as

graves violações de direitos humanos e implementando uma recomendação da Conferência Mundial de Direitos Humanos realizada em Viena em 1993 - na qual o Brasil teve papel muito atuante, pois foi o embaixador Gilberto Sabóia quem coordenou o comitê de redação da Declaração e Programa de Viena que o governo Fernando Henrique Cardoso decidiu integrar como política de governo a promoção e realização dos direitos humanos propondo um plano de ação para direitos humanos. (Pinheiro e Mesquita Neto)

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Em 13 de maio de 1996, em meio ao trauma

causado pelo massacre em Eldorado dos Carajás, o governo Fernando Henrique Cardoso lançou o Programa Nacional de Direitos Humanos/PNDH. Foi o primeiro programa para proteção e promoção de direitos humanos da América Latina, e o terceiro no mundo(7), elaborado em parceria com a sociedade civil, sob a coordenação de José Gregori, chefe de gabinete do Ministro da Justiça, Nelson Jobim, responsável pela preparação do Programa.(Pinheiro e Neto)

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Num curto espaço de tempo, o programa atingiu um dos seus

objetivos e passou a ser quadro de referência para as ações de governamentais e para a parceria do Estado e governo com as organizações da sociedade civil. A sociedade cobrou do governo federal, e este passou a cobrar dos governos estaduais e municipais, do Congresso Nacional, do Judiciário e da sociedade participação na implementação do programa. Em abril de 1997, o governo federal criou a Secretaria Nacional de Direitos Humanos no Ministério da Justiça, para coordenar e monitorar a execução do programa, sendo seu primeiro titular José Gregori, com larga militância na sociedade civil, antigo presidente da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, entidade com papel chave na resistência ao regime autoritário, e da Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos. (Pinheiro e Mesquita Neto)

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O Programa, ainda que reconheça a

indivisibilidade dos direitos humanos, e a importância dos direitos econômicos, sociais e culturais, ressalta a garantia dos direitos civis, particularmente dos direitos à vida, à integridade física e à justiça. (Pinheiro e Neto)

Foco no combate as injustiças, ao arbítrio e a impunidade, nomeadamente daqueles encarregados de aplicar as leis. (Adorno, 2010)

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. O Programa cuidou da protecao do direito a vida, do direito a

liberdade, do tratamento igualitario das leis — “direitos humanos para todos” —, dos direitos de criancas e adolescentes, das mulheres, da populacao negra, das sociedades indigenas, dos estrangeiros, refugiados e migrantes, e das pessoas portadoras de deficiencia, assim como se propos lutar contra a impunidade. Abordou igualmente a educacao para os direitos humanos com vistas a fomentar uma cultura de respeito e de promocao. Sinalizou para acoes internacionais, inclusive ratificacao de convencoes internacionais de que o pais e signatario. Referiu‑se ainda ao apoio as organizacoes de defesa dos direitos humanos, bem como ao monitoramento dos programas. Silenciou quanto aos direitos a livre orientacao sexual e as identidades de genero, o que motivou protestos do movimento LGBT. (Adorno, 2010)

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Os principais resultados foram alcancados no campo da

seguranca publica, entre os quais se destacam: transferencia da competencia, da Justica Militar para a Comum, para julgamento de policiais militares acusados de crimes dolosos contra a vida; tipificacao do crime de tortura com a fixacao de penas severas; criminalizacao do porte ilegal de armas e criacao do Sistema Nacional de Armas (Sinarm); aprovacao do Estatuto dos Refugiados; criacao da Secretaria Nacional de Direitos Humanos; regulamentacao da escuta telefonica (artigo 5o da Constituicao federal). Outra medida, com repercussao, foi a gratuidade do registro de nascimento, a vista da existencia de parcela nao desprezivel de brasileiros desprovida desse titulo, que assegura nacionalidade e cidadania.(Adorno,2010)

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1. Reconhecimento das mortes de pessoas desaparecidas em razão de

participação política (Lei n.º. 9.140/ 95), pela qual o Estado brasileiro reconhece a responsabilidade dos governos ditatoriais por essas mortes e concede indenização a seus familiares. Essa iniciativa constitui uma poderosa iniciativa para a reconstituição da verdade.

2. Transferência da justiça militar para a justiça comum de crimes dolosos praticados por policiais militares (Lei 9.299/96), que permitiu que os policiais militares responsáveis pelos massacres ocorridos na Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo, de Corumbiara, em Rondônia e em Eldorado de Carajás, no Pará fossem indiciados e levados ao Tribunal do Júri.

3. Tipificação do crime de tortura, com penas severas (Lei 9.455/97), tornando possível a aplicação efetiva dos preceitos da Convenção contra Tortura e outros instrumentos cruéis e degradantes ratificada pelo Brasil. (Pinheiro e Mesquita Neto)

No âmbito do PNDH- 1, foram aprovadas 3 leis:

Além dessas leis e projeto foram ainda

implementadas as seguintes iniciativas: Criminalização do porte ilegal de arma e criação do Sistema Nacional de Armas, SINARM (Lei nº.9.437/97) Obrigação da presença do Ministério Público em todas as fases processuais que

envolvam litígios pela posse da terra urbana e rural (Lei n.º 9.415/96). Estabelecimento do rito sumário nos processos de desapropriação de terra para fins

de reforma agrária (Lei complementar no.88/96) Novo código de trânsito (Lei nº.9.503/97) Universalização da gratuidade de certidão de nascimento e de óbito. Estatuto dos refugiados (Lei nº.9.474/97). Remessa ao Congresso Nacional de Projetos de Lei: aumentando de 12 para 14

anos a idade mínima para trabalho de adolescentes (PEC nº.368/96); revendo a legislação para coibir trabalho forçado (PL nº.3649/97) e ampliando as possibilidades da aplicação de penas alternativas (PL n.º. 2.684/96).(Pinheiro e Neto)

PNDH-1

Uma das principais críticas dos movimentos

sociais ao primeiro Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) se referia ao fato de o programa se concentrar nos direitos civis e políticos em detrimento dos direitos sociais, econômicos e culturais. (Almeida, 2009)

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O PNDH‑2 manteve as orientacoes do PNDH-1 e

ampliou o escopo de direitos a serem protegidos. Compreendeu 518 medidas. Em face das criticas que o anterior mereceu, este incorporou os direitos de livre orientacao sexual e identidade de genero, assim como protecao dos ciganos. Conferiu maior enfase a violencia intrafamiliar, o combate ao trabalho infantil e ao trabalho forcado, bem como a luta para inclusao dos cidadaos que demandam cuidados especiais (“pessoas portadoras de deficiencia”, conforme o texto do programa). (Adorno, 2010)

PNDH-2

PNDH‑2 detalhou a protecao de direitos a educacao, a

saude, a previdencia e assistencia social, a saude mental, aos dependentes quimicos e portadores de HIV/Aids, ao trabalho, ao acesso a terra, a moradia, ao meio ambiente saudavel, a alimentacao, a cultura e ao lazer. O segundo enfoque diz respeito aos direitos de afrodescendentes.

Pela primeira vez, o Estado brasileiro reconhece a existencia do racismo e aponta iniciativas visando promover politicas compensatorias com o proposito de eliminar a discriminacao racial e promover a igualdade de oportunidades. (Adorno, 2010)

PNDH-2

Para alem desses avancos, o PNDH‑2 e reconhecido por dois

enfoques: a incorporacao dos direitos economicos, sociais e culturais

que, por razoes politicas, haviam sido sombreados no PNDH‑1, e os direitos de afrodescendentes. De fato, anteriormente, a area economica do governo FHC, sobretudo no primeiro mandato, manteve sob ferreo e cerrado controle a politica economica e sua execucao orcamentaria. Essa politica de controle fiscal, visando garantir a estabilidade monetaria e os indicadores macroeconomicos, exerceu uma especie de interdito a todas as demais iniciativas governamentais que demandassem aplicacao de recursos extra‑orcamentarios.(Adorno, 2010)

PNDH-2

Aprofundou e ampliou o elenco de direitos. Esta estruturado em torno de seis eixos —

interacao democratica entre Estado e sociedade civil; desenvolvimento e direitos humanos; universalizacao de direitos em contexto de desigualdades sociais; seguranca publica, acesso a justica e combate a violencia; educacao e cultura em direitos humanos; e direito a memoria e a verdade. Esses eixos estao subdivididos em 25 diretrizes, 82 objetivos estrategicos e 521 acoes programaticas. (Adorno, 2010)

PNDH-3

As acoes programaticas gravitam em torno de

um universo lexico: apoiar, fomentar, criar mecanismos, aperfeicoar, estimular, assegurar e garantir, articular e integrar, propor, elaborar, definir, ampliar, expandir, avancar, incentivar, fortalecer, erradicar, promover, adotar (medidas),desenvolver, produzir (informacoes, pesquisas), instituir (codigo de conduta), incluir, implementar. (Adorno, 2010)

PNDH-3

Também inseriu inovações como: Proposta da Comissao Nacional de Verdade, a

descriminalizacao do aborto, a uniao civil entre pessoas do mesmo sexo, o direito de adocao por casais homoafetivos, a interdicao a ostentacao de simbolos religiosos em estabelecimentos publicos da Uniao, o “controle da midia” e a adocao de mecanismos de mediacao judicial nos conflitos urbanos e rurais.(Adorno, 2010)

PNDH-3

O PNDH-3 tem recebido severas críticas. Afirmam

que ele substitui a Constituição Federal, que se sobrepõe ao Poder Legislativo etc.

Ele “ressuscitou o lado conservador da sociedade brasileira, em materia de habitos e costumes, suas tradicionais dificuldades de aceitar diferencas, de conviver com novos padroes de relacionamento, menos hierarquizados, menos sujeitos a regras fixas e rigidas. (Adorno, 2010)

Críticas e Reações

ADORNO, Sérgio. História e desventura: o 3º

Programa Nacional de Direitos Humanos. Novos estud. - CEBRAP [online]. 2010, n.86

ALMEIDA, Wellington. A estratégia de políticas públicas em direitos humanos no Brasil no primeiro mandato Lula (2003-2006). In: Anais do 33º Encontro Anual da Anpocs; GT 31 –Política dos Direitos Humanos, 2009.

PINHEIRO, PS e MESQUITA NETO, P. Direitos Humanos no Brasil: perspectivas no Final do Século. Textos do Brasil, 1998.

Referências Bibliográficas: