1603

Carlos roberto gonçalves direito civil brasileiro - vol. 3 - contratos e atos unilaterais - 11ª edição (2014)

Embed Size (px)

Citation preview

  1. 1. Rua Henrique Schaumann, 270, Cerqueira Csar So Paulo SP CEP 05413-909 PABX: (11) 3613 3000 SACJUR: 0800 055 7688 De 2 a 6, das 8:30 s 19:30 [email protected] Acesse www.editorasaraiva.com.br/direito FILIAIS AMAZONAS/RONDNIA/RORAIMA/ACRE Rua Costa Azevedo, 56 Centro Fone: (92) 3633-4227 Fax: (92) 3633-4782 Manaus BAHIA/SERGIPE Rua Agripino Drea, 23 Brotas Fone: (71) 3381-5854 / 3381-5895 Fax: (71) 3381-0959 Salvador BAURU (SO PAULO)
  2. 2. Rua Monsenhor Claro, 2-55/2-57 Centro Fone: (14) 3234-5643 Fax: (14) 3234-7401 Bauru CEAR/PIAU/MARANHO Av. Filomeno Gomes, 670 Jacarecanga Fone: (85) 3238-2323 / 3238-1384 Fax: (85) 3238-1331 Fortaleza DISTRITO FEDERAL SIA/SUL Trecho 2 Lote 850 Setor de Indstria e Abastecimento Fone: (61) 3344-2920 / 3344-2951 Fax: (61) 3344-1709 Braslia GOIS/TOCANTINS Av. Independncia, 5330 Setor Aeroporto Fone: (62) 3225-2882 / 3212-2806 Fax: (62) 3224-3016 Goinia MATO GROSSO DO SUL/MATO GROSSO Rua 14 de Julho, 3148 Centro Fone: (67) 3382-3682 Fax: (67) 3382-0112 Campo Grande MINAS GERAIS Rua Alm Paraba, 449 Lagoinha Fone: (31) 3429-8300 Fax: (31) 3429-8310 Belo Horizonte PAR/AMAP Travessa Apinags, 186 Batista Campos Fone: (91) 3222-9034 / 3224-9038 Fax: (91) 3241-0499 Belm PARAN/SANTA CATARINA Rua Conselheiro Laurindo, 2895 Prado Velho Fone/Fax: (41) 3332-4894 Curitiba
  3. 3. PERNAMBUCO/PARABA/R. G. DO NORTE/ALAGOAS Rua Corredor do Bispo, 185 Boa Vista Fone: (81) 3421-4246 Fax: (81) 3421-4510 Recife RIBEIRO PRETO (SO PAULO) Av. Francisco Junqueira, 1255 Centro Fone: (16) 3610-5843 Fax: (16) 3610-8284 Ribeiro Preto RIO DE JANEIRO/ESPRITO SANTO Rua Visconde de Santa Isabel, 113 a 119 Vila Isabel Fone: (21) 2577-9494 Fax: (21) 2577-8867 / 2577-9565 Rio de Janeiro RIO GRANDE DO SUL Av. A. J. Renner, 231 Farrapos Fone/Fax: (51) 3371-4001 / 3371-1467 / 3371-1567 Porto Alegre SO PAULO Av. Antrtica, 92 Barra Funda Fone: PABX (11) 3616-3666 So Paulo ISBN 978-85-02-21661-7
  4. 4. Gonalves, Carlos Roberto Direito civil brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonalves. 11. ed. So Paulo : Saraiva, 2014. 1. Contratos - Brasil 2. Direito civil - Brasil I. Ttulo. 13-09999 CDU-347(81) ndice para catlogo sistemtico: 1. Brasil : Direito civil 347(81) 2. Direito civil brasileiro 347(81) Diretor editorial Luiz Roberto Curia Gerente editorial Thas de Camargo Rodrigues Assistente editorial Sirlene Miranda de Sales Produtora editorial Clarissa Boraschi Maria Preparao de originais Ana Cristina Garcia / Maria Izabel Bar- reiros Bitencourt Bressan / Bianca Miyuki Nakazato Arte e diagramao Aldo Moutinho de Azevedo Reviso de provas Amlia Kassis Ward / Rita de Cssia S. Pereira Servios editoriais Kelli Priscila Pinto / Surane Vellenich Capa Casa de Ideias / Daniel Rampazzo Produo grfica Marli Rampim
  5. 5. Produo eletrnica Ro Comunicao Data de fechamento da edio: 4-11-2013 Dvidas? Acesse www.editorasaraiva.com.br/direito Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prvia autorizao da Editora Saraiva. A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Cdigo Penal.
  6. 6. NDICE Primeira Parte DOS CONTRATOS Ttulo I TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Captulo I NOO GERAL 1. Conceito 2. Evoluo histrica 3. Funo social do contrato 4. Contrato no Cdigo de Defesa do Consumidor 5. Condies de validade do contrato 5.1. Requisitos subjetivos 5.2. Requisitos objetivos
  7. 7. 5.3. Requisitos formais 6. Princpios fundamentais do direito contratual 6.1. Princpio da autonomia da vontade 6.2. Princpio da supremacia da ordem pblica 6.3. Princpio do consensualismo 6.4. Princpio da relatividade dos efeitos do contrato 6.5. Princpio da obrigatoriedade dos contratos 6.6. Princpio da reviso dos contratos ou da onerosidade excessiva 6.7. Princpio da boa-f e da probidade 6.7.1. Boa-f subjetiva e boa-f objetiva 6.7.2. Disciplina no Cdigo Civil de 2002 6.7.3. Proibio de venire contra factum pro- prium 6.7.4. Suppressio, surrectio e tu quoque 7. Interpretao dos contratos 7.1. Conceito e extenso
  8. 8. 7.2. Princpios bsicos 7.3. Regras esparsas 7.4. Interpretao dos contratos no Cdigo de Defesa do Consumidor 7.5. Critrios prticos para interpretao dos contratos 7.6. Interpretao dos contratos de adeso 8. Pactos sucessrios Captulo II DA FORMAO DOS CONTRATOS 1. A manifestao da vontade 2. Negociaes preliminares 3. A proposta 3.1. Conceito e caractersticas 3.2. A oferta no Cdigo Civil 3.2.1. A fora vinculante da oferta 3.2.2. Proposta no obrigatria
  9. 9. 3.3. A oferta no Cdigo de Defesa do Consumi- dor 4. A aceitao 4.1. Conceito e espcies 4.2. Hipteses de inexistncia de fora vincu- lante da aceitao 5. Momento da concluso do contrato 5.1. Contratos entre presentes 5.2. Contratos entre ausentes 6. Lugar da celebrao 7. Formao dos contratos pela Internet Captulo III CLASSIFICAO DOS CONTRATOS 1. Introduo 2. Contratos unilaterais, bilaterais e plurilaterais 3. Contratos gratuitos ou benficos e onerosos 4. Contratos comutativos e aleatrios
  10. 10. 4.1. Contratos aleatrios por natureza 4.2. Contratos acidentalmente aleatrios 5. Contratos paritrios e de adeso. Contrato-tipo 6. Contratos de execuo instantnea, diferida e de trato sucessivo 7. Contratos personalssimos e impessoais 8. Contratos individuais e coletivos 9. Contratos principais e acessrios. Contratos de- rivados 10. Contratos solenes e no solenes 11. Contratos consensuais e reais 12. Contratos preliminares e definitivos 13. Contratos nominados e inominados, tpicos e atpicos, mistos e coligados. Unio de contratos Captulo IV DA ESTIPULAO EM FAVOR DE TERCEIRO 1. Conceito
  11. 11. 2. Escoro histrico 3. Natureza jurdica da estipulao em favor de terceiro 4. A regulamentao da estipulao de terceiro no Cdigo Civil Captulo V DA PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO 1. Introduo 2. Promessa de fato de terceiro 3. Inovaes introduzidas pelo Cdigo Civil de 2002 Captulo VI DOS VCIOS REDIBITRIOS 1. Disciplina no Cdigo Civil 1.1. Conceito 1.2. Fundamento jurdico
  12. 12. 1.3. Requisitos para a caracterizao dos vcios redibitrios 1.4. Efeitos. Aes cabveis 1.4.1. Espcies de aes 1.4.2. Prazos decadenciais 1.4.3. Hipteses de descabimento das aes edilcias 1.4.3.1. Coisas vendidas conjuntamente 1.4.3.2. Inadimplemento contratual 1.4.3.3. Erro quanto s qualidades essenci- ais do objeto 1.4.3.4. Coisa vendida em hasta pblica 2. Disciplina no Cdigo de Defesa do Consumidor Captulo VII DA EVICO 1. Conceito e fundamento jurdico 2. Extenso da garantia 3. Requisitos da evico
  13. 13. 4. Verbas devidas 5. Da evico parcial Captulo VIII DOS CONTRATOS ALEATRIOS 1. Conceito e espcies 2. Venda de coisas futuras 2.1. Risco concernente prpria existncia da coisa: emptio spei 2.2. Risco respeitante quantidade da coisa es- perada: emptio rei speratae 3. Venda de coisas existentes, mas expostas a risco Captulo IX DO CONTRATO PRELIMINAR 1. Conceito 2. Evoluo da promessa de compra e venda no direito brasileiro
  14. 14. 3. A disciplina do contrato preliminar no Cdigo Civil de 2002 Captulo X DO CONTRATO COM PESSOA A DECLARAR 1. Conceito 2. Natureza jurdica 3. Aplicaes prticas 4. Contrato com pessoa a declarar e institutos afins 5. Disciplina no Cdigo Civil de 2002 Captulo XI DA EXTINO DO CONTRATO 1. Modo normal de extino 2. Extino do contrato sem cumprimento 2.1. Causas anteriores ou contemporneas for- mao do contrato
  15. 15. 2.1.1. Nulidade absoluta e relativa 2.1.2. Clusula resolutiva 2.1.3. Direito de arrependimento 2.2. Causas supervenientes formao do con- trato 2.2.1. Resoluo 2.2.1.1. Resoluo por inexecuo volun- tria 2.2.1.1.1. Exceo de contrato no cum- prido 2.2.1.1.2. Garantia de execuo da obri- gao a prazo 2.2.1.2. Resoluo por inexecuo invo- luntria 2.2.1.3. Resoluo por onerosidade exces- siva 2.2.1.3.1. A clusula rebus sic stantibus e a teoria da impreviso 2.2.1.3.2. A onerosidade excessiva no Cdigo Civil brasileiro de 2002
  16. 16. 2.2.2. Resilio 2.2.2.1. Distrato e quitao 2.2.2.2. Resilio unilateral: denncia, re- vogao, renncia e resgate 2.2.3. Morte de um dos contratantes 2.2.4. Resciso Ttulo II DAS VRIAS ESPCIES DE CONTRATO 1. Introduo ao estudo das vrias espcies de contrato 2. Espcies de contrato reguladas no Cdigo Civil de 2002 Captulo I DA COMPRA E VENDA 1. Conceito e caractersticas do contrato de com- pra e venda 2. Unificao da compra e venda civil e mercantil
  17. 17. 3. Natureza jurdica da compra e venda 4. Elementos da compra e venda 4.1. O consentimento 4.2. O preo 4.3. A coisa 4.3.1. Existncia da coisa 4.3.2. Individuao da coisa 4.3.3. Disponibilidade da coisa 5. Efeitos da compra e venda 5.1. Efeitos principais: gerao de obrigaes recprocas e da responsabilidade pelos vcios redibitrios e pela evico 5.2. Efeitos secundrios ou subsidirios 5.2.1. A responsabilidade pelos riscos 5.2.2. A repartio das despesas 5.2.3. O direito de reter a coisa ou o preo 6. Limitaes compra e venda 6.1. Venda de ascendente a descendente
  18. 18. 6.2. Aquisio de bens por pessoa encarregada de zelar pelos interesses do vendedor 6.3. Venda da parte indivisa em condomnio 6.4. Venda entre cnjuges 7. Vendas especiais 7.1. Venda mediante amostra 7.2. Venda ad corpus e venda ad mensuram DAS CLUSULAS ESPECIAIS COMPRA E VENDA 8. Introduo 9. Da retrovenda 10. Da venda a contento e da sujeita a prova 11. Da preempo ou preferncia 12. Da venda com reserva de domnio 13. Da venda sobre documentos Captulo II DA TROCA OU PERMUTA
  19. 19. 1. Conceito e caracteres jurdicos 2. Regulamentao jurdica Captulo III DO CONTRATO ESTIMATRIO 1. Conceito e natureza jurdica 2. Regulamentao legal Captulo IV DA DOAO 1. Conceito e caractersticas 2. Objeto da doao 3. Promessa de doao 4. Espcies de doao 5. Restries legais 6. Da revogao da doao 6.1. Casos comuns a todos os contratos
  20. 20. 6.2. Revogao por descumprimento do encar- go 6.3. Revogao por ingratido do donatrio Captulo V DA LOCAO DE COISAS 1. Conceito e natureza jurdica 2. Elementos do contrato de locao 3. Obrigaes do locador 4. Obrigaes do locatrio 5. Disposies complementares 6. Locao de prdios 7. Locao de prdio urbano Captulo VI DO EMPRSTIMO 1. Conceito 2. Espcies
  21. 21. DO COMODATO 3. Conceito e caractersticas 4. Direitos e obrigaes do comodatrio 5. Direitos e obrigaes do comodante 6. Extino do comodato DO MTUO 7. Conceito 8. Caractersticas 9. Requisitos subjetivos 10. Objeto do mtuo 11. Direitos e obrigaes das partes Captulo VII DA PRESTAO DE SERVIOS 1. Conceito 2. Natureza jurdica 3. Durao do contrato 4. Extino do contrato
  22. 22. 5. Disposies complementares Captulo VIII DA EMPREITADA 1. Conceito 2. Caractersticas 3. Espcies de empreitada 4. Verificao e recebimento da obra 5. Responsabilidade do empreiteiro 6. Responsabilidade do proprietrio 7. Extino da empreitada Captulo IX DO DEPSITO 1. Conceito 2. Caractersticas 3. Espcies de depsito 4. Depsito voluntrio
  23. 23. 4.1. Conceito e requisitos 4.2. Natureza jurdica 5. Obrigaes do depositante 6. Obrigaes do depositrio 7. Depsito necessrio 7.1. Depsito legal 7.2. Depsito miservel 7.3. Depsito do hospedeiro 8. Depsito irregular 9. Ao de depsito 10. Priso do depositrio infiel Captulo X DO MANDATO 1. Conceito 2. Caractersticas 3. Mandato e representao 4. Pessoas que podem outorgar procurao
  24. 24. 5. Pessoas que podem receber mandato 6. A procurao como instrumento do mandato. Requisitos e substabelecimento 7. Espcies de mandato 8. Mandato especial e geral, e mandato em termos gerais e com poderes especiais 9. Mandato outorgado a duas ou mais pessoas 10. Aceitao do mandato 11. Ratificao do mandato 12. Obrigaes do mandatrio 13. Obrigaes do mandante 14. Extino do mandato 15. Irrevogabilidade do mandato 16. Mandato judicial Captulo XI DA COMISSO 1. Origem histrica
  25. 25. 2. Conceito e natureza jurdica 3. Remunerao do comissrio 4. Caractersticas do contrato de comisso 5. Direitos e obrigaes do comissrio 6. Direitos e obrigaes do comitente 7. Comisso del credere Captulo XII DA AGNCIA E DISTRIBUIO 1. Conceito e natureza jurdica 2. Caractersticas do contrato de agncia 3. Caractersticas do contrato de distribuio 4. Remunerao do agente 5. Direitos e obrigaes das partes Captulo XIII DA CORRETAGEM 1. Conceito
  26. 26. 2. Natureza jurdica 3. Direitos e deveres do corretor 4. A remunerao do corretor Captulo XIV DO TRANSPORTE 1. Introduo 2. Conceito de contrato de transporte 3. Natureza jurdica 4. Espcies de transporte 5. Disposies gerais aplicveis s vrias espcies de contrato de transporte 5.1. O carter subsidirio da legislao especial, dos tratados e convenes internacionais 5.2. Transporte cumulativo e transporte sucessi- vo 6. O transporte de pessoas 7. O transporte de coisas 8. Direitos e deveres do transportador
  27. 27. 9. Direitos e deveres do passageiro 10. O transporte gratuito Captulo XV DO SEGURO 1. Conceito e caractersticas 2. Natureza jurdica 3. A aplice e o bilhete de seguro 4. O risco 5. Espcies de seguro 5.1. Seguro de dano 5.2. Seguro de pessoa 5.2.1. Seguro de vida 5.2.2. Seguro de vida em grupo 6. Obrigaes do segurado 7. Obrigaes do segurador 8. Prazos prescritivos
  28. 28. Captulo XVI DA CONSTITUIO DE RENDA 1. Conceito 2. Natureza jurdica 3. Caractersticas 4. Regras aplicveis 5. Extino da constituio de renda Captulo XVII DO JOGO E DA APOSTA 1. Conceito e natureza jurdica 2. Espcies de jogo 3. Consequncias jurdicas 4. Contratos diferenciais 5. A utilizao do sorteio Captulo XVIII DA FIANA
  29. 29. 1. Conceito 2. Natureza jurdica da fiana 3. Espcies de fiana 4. Requisitos subjetivos e objetivos 5. Efeitos da fiana 5.1. Benefcio de ordem 5.2. Solidariedade dos cofiadores 6. Extino da fiana Captulo XIX DA TRANSAO 1. Conceito 2. Elementos constitutivos 3. Natureza jurdica 4. Espcies de transao e sua forma 5. Principais caractersticas da transao 6. Objeto da transao 7. Efeitos em relao a terceiros
  30. 30. Captulo XX DO COMPROMISSO E DA ARBITRAGEM 1. Conceito 2. Natureza jurdica 3. Constitucionalidade da arbitragem 4. Clusula compromissria e compromisso arbi- tral 5. Espcies de compromisso arbitral 6. Requisitos legais 7. Extino do compromisso arbitral 8. Dos rbitros 9. Do procedimento arbitral 10. Da sentena arbitral 11. Irrecorribilidade da deciso arbitral Segunda Parte DOS ATOS UNILATERAIS
  31. 31. INTRODUO AO ESTUDO DOS ATOS UNILATERAIS 1. Os atos unilaterais como fontes de obrigaes 2. A disciplina dos atos unilaterais no Cdigo Ci- vil de 2002 Captulo I DA PROMESSA DE RECOMPENSA 1. Conceito e natureza jurdica 2. Requisitos 3. Exigibilidade da recompensa 4. Revogabilidade da promessa 5. Promessa formulada em concurso pblico Captulo II DA GESTO DE NEGCIOS 1. Conceito e pressupostos 2. Obrigaes do gestor do negcio 3. Obrigaes do dono do negcio
  32. 32. 4. A ratificao do dono do negcio Captulo III DO PAGAMENTO INDEVIDO 1. Conceito 2. Espcies de pagamento indevido 3. Accipiens de boa e de m-f 4. Recebimento indevido de imvel 5. Pagamento indevido sem direito repetio Captulo IV DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA 1. Conceito 2. A disciplina no Cdigo Civil de 2002 3. Requisitos da ao de in rem verso Captulo V DOS TTULOS DE CRDITO 1. A disciplina no Cdigo Civil de 2002
  33. 33. 2. Conceito de ttulo de crdito 3. Princpios fundamentais 3.1. Cartularidade 3.2. Literalidade 3.3. Autonomia 3.3.1. Abstrao 3.3.2. Inoponibilidade 4. Legislao aplicvel 5. Espcies de ttulos de crdito 6. Ttulo ao portador 7. Ttulo ordem 7.1. Letra de cmbio 7.1.1. Institutos tpicos do direito cambial 7.1.1.1. Aceite 7.1.1.2. Endosso 7.1.1.3. Aval 7.1.1.4. Protesto
  34. 34. 7.1.2. Ao cambial 7.2. Nota promissria 7.3. Cheque 7.4. Duplicata 8. Ttulo nominativo Terceira Parte DOS CONTRATOS ESPECIAIS Captulo I DA EDIO 1. Noo de edio 2. Partes e objeto 3. Direitos e deveres do autor 4. Direitos e deveres do editor 5. Extino do contrato de edio 6. Da representao dramtica
  35. 35. Captulo II DOS CONTRATOS BANCRIOS 1. Conceito 2. Depsito bancrio 2.1. Distino entre depsito bancrio e mtuo 2.2. Espcies de depsito bancrio 2.2.1. Depsito em conta corrente 2.2.2. Cadernetas de poupana 2.2.3. Contas conjuntas 2.2.4. Juros e correo monetria 3. Abertura de crdito 4. Desconto bancrio 5. Contrato de financiamento 6. Custdia de valores 7. Aluguel de cofre 8. Carto de crdito Captulo III
  36. 36. DO ARRENDAMENTO MERCANTIL OU LEASING 1. Conceito e caractersticas 2. Espcies de arrendamento mercantil 3. Extino do leasing 4. Aspectos processuais Captulo IV DA FRANQUIA OU FRANCHISING 1. Conceito 2. Caractersticas 3. Elementos 4. Espcies de franquia 5. Extino do franchising Captulo V DA FATURIZAO OU FACTORING 1. Conceito
  37. 37. 2. Caractersticas 3. Espcies de faturizao 4. Extino do factoring Captulo VI DO CONTRATO DE RISCO OU JOINT VENTURE 1. Conceito 2. Caractersticas Captulo VII DA TRANSFERNCIA DE TECNOLOGIA OU KNOW-HOW 1. Introduo 2. Conceito 3. Modalidades 4. Natureza jurdica 5. Extino
  38. 38. Captulo VIII DO CONTRATO DE ENGINEERING 1. Conceito 2. Espcies e caractersticas Captulo IX DA COMERCIALIZAO DE PROGRAMA DE COMPUTADOR (SOFTWARE) 1. Noo introdutria 2. Disciplina legal 3. Transaes eletrnicas Bibliografia
  39. 39. Primeira Parte DOS CONTRATOS Ttulo I TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Captulo I NOO GERAL 1. Conceito O contrato a mais comum e a mais impor- tante fonte de obrigao, devido s suas mltiplas formas e inmeras repercusses no mundo jurdi- co. Fonte de obrigao o fato que lhe d origem. Os fatos humanos que o Cdigo Civil brasileiro considera geradores de obrigao so: a) os con- tratos; b) as declaraes unilaterais da vontade; e c) os atos ilcitos, dolosos e culposos.
  40. 40. Como a lei que d eficcia a esses fatos, transformando-os em fontes diretas ou imediatas, aquela constitui fonte mediata ou primria das obrigaes. a lei que disciplina os efeitos dos contratos, que obriga o declarante a pagar a re- compensa prometida e que impe ao autor do ato ilcito o dever de ressarcir o prejuzo causado. H obrigaes que, entretanto, resultam diretamen- te da lei, como a de prestar alimentos (CC, art. 1.694), a de indenizar os danos causados por seus empregados (CC, art. 932, III), a propter rem im- posta aos vizinhos etc. O contrato uma espcie de negcio jurdico que depende, para a sua formao, da participao de pelo menos duas partes. , portanto, negcio jurdico bilateral ou plurilateral. Com efeito, distinguem-se, na teoria dos negcios jurdicos, os unilaterais, que se aperfeioam pela manifestao de vontade de apenas uma das partes, e os bila- terais, que resultam de uma composio de inte- resses. Os ltimos, ou seja, os negcios bilaterais, que decorrem de mtuo consenso, constituem os contratos. Contrato , portanto, como dito, uma espcie do gnero negcio jurdico1 .
  41. 41. Segundo a lio de CAIO MRIO 2 , o funda- mento tico do contrato a vontade humana, des- de que atue na conformidade da ordem jurdica. Seu habitat a ordem legal. Seu efeito, a criao de direitos e de obrigaes. O contrato , pois, um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, trans- ferir, conservar, modificar ou extinguir direitos. Desde BEVILQUA o contrato comumente con- ceituado de forma sucinta, como o acordo de vontades para o fim de adquirir, resguardar, modi- ficar ou extinguir direitos3 . Sempre, pois, que o negcio jurdico resultar de um mtuo consenso, de um encontro de duas vontades, estaremos diante de um contrato. Essa constatao conduz ilao de que o contrato no se restringe ao direito das obrigaes, estendendo- se a outros ramos do direito privado (o casamento, p. ex., considerado um contrato especial, um contrato do direito de famlia) e tambm ao direito pblico (so em grande nmero os contratos ce- lebrados pela Administrao Pblica, com carac- tersticas prprias), bem como a toda espcie de conveno. Em sentido estrito, todavia, o conceito
  42. 42. de contrato restringe-se aos pactos que criem, mo- difiquem ou extingam relaes patrimoniais, co- mo consta expressamente do art. 1.321 do Cdigo Civil italiano. O Cdigo Civil brasileiro de 2002 disciplina, em vinte captulos, vinte e trs espcies de con- tratos nominados (arts. 481 a 853) e cinco de de- claraes unilaterais da vontade (arts. 854 a 886 e 904 a 909), alm dos ttulos de crdito, tratados separadamente (arts. 887 a 926). Contm ainda um ttulo referente s obrigaes por atos ilcitos (Da Responsabilidade Civil, arts. 927 a 954). Comearemos o estudo pelo contrato, que constitui o mais expressivo modelo de negcio ju- rdico bilateral. 2. Evoluo histrica O direito romano distinguia contrato de con- veno. Esta representava o gnero, do qual o contrato e o pacto eram espcies. O Cdigo Napoleo foi a primeira grande co- dificao moderna. A exemplo do direito romano,
  43. 43. considerava a conveno o gnero, do qual o con- trato era uma espcie (art. 1.101). Idealizado sob o calor da Revoluo de 1789, o referido diploma disciplinou o contrato como mero instrumento pa- ra a aquisio da propriedade. O acordo de vonta- des representava, em realidade, uma garantia pa- ra os burgueses e para as classes proprietrias. A transferncia de bens passava a ser dependente ex- clusivamente da vontade4 . O Cdigo Civil alemo, promulgado muito tempo depois, considera o contrato uma espcie de negcio jurdico, que por si s no transfere a propriedade, como sucede igualmente no novo Cdigo Civil brasileiro. Hoje, as expresses conveno, contrato e pacto so empregadas como sinnimas, malgrado a praxe de se designar os contratos acessrios de pactos (pacto comissrio, pacto antenupcial etc.). A propsito, afirma ROBERTO DE RUGGIERO que tudo se modificou no direito moderno, pois qual- quer acordo entre duas ou mais pessoas, que tenha por objeto uma relao jurdica, pode ser indife- rentemente chamado de contrato ou conveno e s vezes pacto, visto este termo ter perdido aque-
  44. 44. le significado tcnico e rigoroso que lhe atribua a linguagem jurdica romana. E arremata o mencio- nado jurista italiano: Assim a conveno, isto , o acordo das vontades, torna-se sinnimo de con- trato e o prprio contrato identifica-se assim com o consenso...5 . A ideia de um contrato com predominncia da autonomia da vontade, em que as partes discu- tem livremente as suas condies em situao de igualdade, deve-se aos conceitos traados para o contrato nos Cdigos francs e alemo. Entretan- to, essa espcie de contrato, essencialmente priva- do e paritrio, representa hodiernamente uma pe- quena parcela do mundo negocial. Os contratos em geral so celebrados com a pessoa jurdica, com a empresa, com os grandes capitalistas e com o Estado. A economia de massa exige contratos impes- soais e padronizados (contratos-tipo ou de mas- sa), que no mais se coadunam com o princpio da autonomia da vontade. O Estado intervm, cons- tantemente, na relao contratual privada, para as- segurar a supremacia da ordem pblica, relegando o individualismo a um plano secundrio. Essa si-
  45. 45. tuao tem sugerido a existncia de um dirigismo contratual, em certos setores que interessam a to- da a coletividade. Pode-se afirmar que a fora obrigatria dos contratos no se afere mais sob a tica do dever moral de manuteno da palavra empenhada, mas da realizao do bem comum. No direito civil, o contrato est presente no s no direito das obrigaes como tambm no di- reito de empresa, no direito das coisas (transcri- o, usufruto, servido, hipoteca etc.), no direito de famlia (casamento) e no direito das sucesses (partilha em vida). Trata-se de figura jurdica que ultrapassa o mbito do direito civil, sendo expres- sivo o nmero de contratos de direito pblico hoje celebrado, como j foi dito. O contrato tem uma funo social, sendo ve- culo de circulao da riqueza, centro da vida dos negcios e propulsor da expanso capitalista. O Cdigo Civil de 2002 tornou explcito que a liber- dade de contratar s pode ser exercida em conso- nncia com os fins sociais do contrato, implican- do os valores primordiais da boa-f e da probidade (arts. 421 e 422).
  46. 46. 3. Funo social do contrato O Cdigo Civil de 2002 procurou afastar-se das concepes individualistas que nortearam o diploma anterior para seguir orientao compat- vel com a socializao do direito contemporneo. O princpio da socialidade por ele adotado reflete a prevalncia dos valores coletivos sobre os indi- viduais, sem perda, porm, do valor fundamental da pessoa humana. Com efeito, o sentido social uma das ca- ractersticas mais marcantes do novo diploma, em contraste com o sentido individualista que con- diciona o Cdigo Bevilqua. H uma convergn- cia para a realidade contempornea, com a reviso dos direitos e deveres dos cinco principais perso- nagens do direito privado tradicional, como enfa- tiza Miguel Reale: o proprietrio, o contratante, o empresrio, o pai de famlia e o testador6 . Nessa consonncia, dispe o art. 421 do Cdi- go Civil: A liberdade de contratar ser exercida em razo e nos limites da funo social do contrato.
  47. 47. A concepo social do contrato apresenta-se, modernamente, como um dos pilares da teoria contratual. Por identidade dialtica guarda intimi- dade com o princpio da funo social da propri- edade previsto na Constituio Federal. Tem por escopo promover a realizao de uma justia co- mutativa, aplainando as desigualdades substanci- ais entre os contraentes7 . Efetivamente, o dispositivo supratranscrito subordina a liberdade contratual sua funo so- cial, com prevalncia dos princpios condizentes com a ordem pblica. Considerando que o direito de propriedade, que deve ser exercido em con- formidade com a sua funo social, proclamada na Constituio Federal, se viabiliza por meio dos contratos, o novo Cdigo estabelece que a liberda- de contratual no pode afastar-se daquela funo. A funo social do contrato constitui, assim, princpio moderno a ser observado pelo intrprete na aplicao dos contratos. Alia-se aos princpios tradicionais, como os da autonomia da vontade e da obrigatoriedade, muitas vezes impedindo que estes prevaleam.
  48. 48. Segundo CAIO MRIO 8 , a funo social do contrato serve precipuamente para limitar a auto- nomia da vontade quando tal autonomia esteja em confronto com o interesse social e este deva pre- valecer, ainda que essa limitao possa atingir a prpria liberdade de no contratar, como ocorre nas hipteses de contrato obrigatrio. Tal princ- pio desafia a concepo clssica de que os con- tratantes tudo podem fazer, porque esto no exer- ccio da autonomia da vontade. Essa constatao tem como consequncia, por exemplo, possibilitar que terceiros, que no so propriamente partes do contrato, possam nele influir, em razo de serem direta ou indiretamente por ele atingidos. Nessa mesma linha, anota JUDITH MARTINS- COSTA 9 que a funo social , evidentemente, e na literal dico do art. 421, uma condicionante posta ao princpio da liberdade contratual. Nesse sentido, a clusula poder desempenhar, no campo contratual que escapa regulao especfica do Cdigo de Defesa do Consumidor, funes anlo- gas s que so desempenhadas pelo art. 51 daque- la lei especial, para impedir que a liberdade con- tratual se manifeste sem peias.
  49. 49. Todavia, adverte a mencionada civilista, o ci- tado art. 421 no representa apenas uma restrio liberdade contratual, pois tem um peso espec- fico, que o de entender a eventual restrio liberdade contratual no mais como uma exce- o a um direito absoluto, mas como expresso da funo metaindividual que integra aquele di- reito. H, portanto, aduz, um valor operativo, re- gulador da disciplina contratual, que deve ser uti- lizado no apenas na interpretao dos contratos, mas, por igual, na integrao e na concretizao das normas contratuais particularmente considera- das. possvel afirmar que o atendimento funo social pode ser enfocado sob dois aspectos: um, individual, relativo aos contratantes, que se valem do contrato para satisfazer seus interesses prpri- os, e outro, pblico, que o interesse da coletivi- dade sobre o contrato. Nessa medida, a funo so- cial do contrato somente estar cumprida quando a sua finalidade distribuio de riquezas for atingida de forma justa, ou seja, quando o contrato representar uma fonte de equilbrio social10 .
  50. 50. Observa-se que as principais mudanas no mbito dos contratos, no novo diploma, foram implementadas por clusulas gerais, em paralelo s normas marcadas pela estrita casustica. Clu- sulas gerais so normas orientadoras sob forma de diretrizes, dirigidas precipuamente ao juiz, vinculando-o, ao mesmo tempo em que lhe do li- berdade para decidir. So elas formulaes conti- das na lei, de carter significativamente genrico e abstrato, cujos valores devem ser preenchidos pe- lo juiz, autorizado para assim agir em decorrncia da formulao legal da prpria clusula geral. Qu- ando se insere determinado princpio geral (regra de conduta que no consta do sistema normativo, mas se encontra na conscincia dos povos e se- guida universalmente) no direito positivo do pas (Constituio, leis etc.), deixa de ser princpio ge- ral, ou seja, deixa de ser regra de interpretao e passa a caracterizar-se como clusula geral11 . As clusulas gerais resultaram basicamente do convencimento do legislador de que as leis rgi- das, definidoras de tudo e para todos os casos, so necessariamente insuficientes e levam segui- damente a situaes de grave injustia. Embora
  51. 51. tenham, num primeiro momento, gerado certa in- segurana, convivem, no entanto, harmonicamen- te no sistema jurdico, respeitados os princpios constitucionais concernentes organizao jurdi- ca e econmica da sociedade. Cabe doutrina e jurisprudncia identific-las e definir o seu sen- tido e alcance, aplicando-as ao caso concreto, de acordo com as suas circunstncias, como novos princpios do direito contratual e no simplesmen- te como meros conselhos, destitudos de fora vin- culante, malgrado isso possa significar uma mul- tiplicidade de solues para uma mesma situao basicamente semelhante, mas cada uma com par- ticularidades que impem soluo apropriada, embora diferente da outra12 . Cabe destacar, dentre outras, a clusula geral que proclama a funo social do contrato, ora em estudo, e a que exige um comportamento con- dizente com a probidade e boa-f objetiva (CC, art. 422). Podem ser tambm lembrados, como in- tegrantes dessa vertente, aos quais se poder apli- car a expresso funo social do contrato, os arts. 50 (desconsiderao da personalidade jurdi- ca), 156 (estado de perigo), 157 (leso), 424 (con-
  52. 52. trato de adeso), pargrafo nico do art. 473 (resi- lio unilateral do contrato), 884 (enriquecimento sem causa) e outros. Deve-se ainda realar o disposto no pargrafo nico do art. 2.035 do novo Cdigo: Nenhuma conveno prevalecer se contrariar preceitos de ordem pblica, tais como os estabelecidos por es- te Cdigo para assegurar a funo social da pro- priedade e dos contratos. As partes devem cele- brar seus contratos com ampla liberdade, observa- das as exigncias da ordem pblica, como o caso das clusulas gerais. Como a funo social clusula geral, assi- nala NELSON NERY JUNIOR, o juiz poder preen- cher os claros do que significa essa funo soci- al, com valores jurdicos, sociais, econmicos e morais. A soluo ser dada diante do que se apre- sentar, no caso concreto, ao juiz. Poder, por ex- emplo, proclamar a inexistncia do contrato por falta de objeto; declarar sua nulidade por fraude lei imperativa (CC, art. 166, VI), porque a nor- ma do art. 421 de ordem pblica (CC, art. 2.035, pargrafo nico); convalidar o contrato anulvel (CC, arts. 171 e 172); determinar a indenizao da
  53. 53. parte que desatendeu a funo social do contrato etc. Aduz o mencionado jurista que, sendo nor- mas de ordem pblica, o juiz pode aplicar as clu- sulas gerais em qualquer ao judicial, indepen- dentemente de pedido da parte ou do interessado, pois deve agir ex officio. Com isso, ainda que, por exemplo, o autor de ao de reviso de contrato no haja pedido na petio inicial algo relativo determinada clusula geral, o juiz pode, de ofcio, modificar clusula de percentual de juros, caso en- tenda que deve assim agir para adequar o contrato sua funo social. Assim agindo, autorizado pe- la clusula geral expressamente prevista na lei, o juiz poder ajustar o contrato e dar-lhe a sua pr- pria noo de equilbrio, sem ser tachado de arbi- trrio13 . Assinala, por sua vez, ARAKEN DE ASSIS 14 que o contrato cumprir sua funo social respei- tando sua funo econmica, que a de promover a circulao de riquezas, ou a manuteno das tro- cas econmicas, na qual o elemento ganho ou lu- cro jamais poder ser desprezado, tolhido ou igno- rado, tratando-se de uma economia de mercado.
  54. 54. Destarte, salienta, toda vez que o contrato inibe o movimento natural do comrcio jurdico, prejudicando os demais integrantes da coletivida- de na obteno dos bens da vida, descumpre sua funo social. Figure-se o caso de a empresa de banco, que conhece o fato de o conjunto habitaci- onal se encontrar ocupado por inmeras pessoas, mediante pr-contratos firmados com a constru- tora, todavia receb-lo como garantia hipotecria de um emprstimo destinado a outros empreendi- mentos e invocar a eficcia erga omnes do grava- me na ulterior execuo do crdito. O contrato de mtuo-hipotecrio obstou destinao normal das unidades autnomas, construdas para serem ad- quiridas e ocupadas para fins habitacionais, e inci- diu no veto do art. 421, in fine. Assim se resolveu, em que pese desnecessria invocao do princpio da boa-f objetiva, o Caso Encol. O Projeto de Lei n. 276/2007, que visa apri- morar o novo Cdigo Civil, prope nova redao ao art. 421: A liberdade contratual ser exercida nos limites da funo social do contrato. Duas alteraes so sugeridas: a) a substituio da ex- presso liberdade de contratar por liberdade
  55. 55. contratual; e b) a supresso da expresso em ra- zo. A proposta atende a sugesto dos professo- res paulistas LVARO VILLAA AZEVEDO e ANT- NIO JUNQUEIRA DE AZEVEDO. A justificativa para a primeira alterao que liberdade de contratar a pessoa tem, desde que capaz de realizar o con- trato. J a liberdade contratual a de poder li- vremente discutir as clusulas do contrato. A su- presso da expresso em razo tambm pro- posta porque a liberdade contratual est limitada pela funo social do contrato, mas no a sua ra- zo de ser. 4. Contrato no Cdigo de Defesa do Con- sumidor Determina a Constituio Federal que o Esta- do promover, na forma da lei, a defesa do consu- midor (art. 5, XXXII). Em cumprimento a essa determinao, foi elaborado o Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90), que entrou em vigor em maro de 1991, trazendo profundas mo- dificaes ordem jurdica nacional, estabelecen-
  56. 56. do um conjunto sistemtico de normas, de nature- zas diversificadas, mas ligadas entre si por terem como suporte uma relao jurdica bsica, carac- terizada como uma relao de consumo. A nova legislao repercutiu profundamente nas diversas reas do direito, inovando em as- pectos de direito penal, administrativo, comercial, processual civil e civil, em especial. Com a evoluo das relaes sociais e o sur- gimento do consumo em massa, bem como dos conglomerados econmicos, os princpios tradici- onais da nossa legislao privada j no bastavam para reger as relaes humanas, sob determina- dos aspectos. E, nesse contexto, surgiu o Cdigo de Defesa do Consumidor atendendo a princpio constitucional relacionado ordem econmica. Partindo da premissa bsica de que o consu- midor a parte vulnervel das relaes de con- sumo, o Cdigo pretende restabelecer o equilbrio entre os protagonistas de tais relaes. Assim, de- clara expressamente o art. 1 que o Cdigo estabe- lece normas de proteo e defesa do consumidor, acrescentando serem tais normas de ordem p- blica e de interesse social. De pronto, percebe-se
  57. 57. que, tratando-se de relaes de consumo, as nor- mas de natureza privada, estabelecidas no Cdigo de 1916, onde campeava o princpio da autonomia da vontade, e em leis esparsas, deixaram de ser aplicadas. O Cdigo de Defesa do Consumidor re- tirou da legislao civil, bem como de outras reas do direito, a regulamentao das atividades huma- nas relacionadas com o consumo, criando uma s- rie de princpios e regras em que se sobressai no mais a igualdade formal das partes, mas a vulne- rabilidade do consumidor, que deve ser protegido. Os dois principais protagonistas do Cdigo de Defesa do Consumidor so o consumidor e o for- necedor. Includos se acham, no ltimo conceito, o produtor, o fabricante, o comerciante e, princi- palmente, o prestador de servios (art. 3). O novo Cdigo Civil, ao tratar da prestao de servio (arts. 593 a 609), declara que somente ser por ele regida a que no estiver sujeita s leis trabalhistas ou a lei especial (art. 593). As re- gras do Cdigo Civil tm, pois, carter residual, aplicando-se somente s relaes no regidas pela Consolidao das Leis do Trabalho e pelo Cdigo do Consumidor, sem distinguir a espcie de ativi-
  58. 58. dade prestada pelo locador ou prestador de servi- os, que pode ser profissional liberal ou trabalha- dor braal. Todavia, ao tratar do fornecimento de transportes em geral, que modalidade de presta- o de servio, o novo diploma inverteu o critrio, conferindo carter subsidirio ao Cdigo de Defe- sa do Consumidor. Aplica-se este aos contratos de transporte em geral, quando couber, desde que no contrarie as normas que disciplinam essa es- pcie de contrato no Cdigo Civil (art. 732). O Cdigo do Consumidor estabeleceu princ- pios gerais de proteo que, pela sua amplitude, passaram a ser aplicados tambm aos contratos em geral, mesmo que no envolvam relao de consumo. Destacam-se o princpio geral da boa- f (art. 51, IV), da obrigatoriedade da proposta (art. 51, VIII), da intangibilidade das convenes (art. 51, X, XI e XIII). No captulo concernente s clusulas abusivas, o referido diploma introdu- ziu os princpios tradicionais da leso nos contra- tos (art. 51, IV e 1) e da onerosidade excessiva (art. 51, 1, III). Pondera Slvio Venosa que os princpios tor- nados lei positiva pela lei de consumo devem ser
  59. 59. aplicados, sempre que oportunos e convenientes, em todo contrato e no unicamente nas relaes de consumo. Desse modo, o juiz, na aferio do caso concreto, ter sempre em mente a boa-f dos contratantes, a abusividade de uma parte em re- lao outra, a excessiva onerosidade etc., como regras gerais e clusulas abertas de todos os con- tratos, pois os princpios so genricos, mormen- te levando-se em conta o sentido dado pelo novo Cdigo Civil15 . Nesse diapaso, justifica Gustavo Tepedino16 a incidncia do conjunto de mecanismos de defesa do consumidor nas relaes do direito privado em geral pela aplicao direta dos princpios constitu- cionais da isonomia substancial, da dignidade da pessoa humana e da realizao plena de sua per- sonalidade. Assim, aduz, o conjunto de princpi- os inovadores, como a proteo da boa-f objeti- va, a interpretao mais favorvel, a inverso do nus da prova diante da verossimilhana do pe- dido ou da hipossuficincia, tem pertinncia com a preocupao constitucional da reduo das de- sigualdades e com o efetivo exerccio da cidada- nia. Em concluso, afirma o mencionado mestre,
  60. 60. parece chegada a hora de se buscar uma defini- o de um conjunto de princpios ou de regras que se constituam em normas gerais a serem utilizadas no de forma isolada em um ou outro setor, mas de maneira abrangente, em consonncia com as normas constitucionais, para que se possa, a partir da, construir o que seria uma nova teoria contra- tual. Adverte, ainda, Gustavo Tepedino sobre as consequncias inquietantes que poderiam advir se se admitisse a tese defendida pelo Professor Na- talino Irti, da Universidade de Roma, de que cada microssistema (Cdigo de Defesa do Consumidor, Estatuto da Criana e do Adolescente, p. ex.) se feche em si mesmo, sendo autossuficiente do pon- to de vista hermenutico, j que cada estatuto traz normalmente os prprios princpios interpretati- vos. O exame de clusula contratual, afirma, no poder se limitar ao controle de ilicitude, veri- ficao da conformidade da avena s normas re- gulamentares expressas relacionadas matria. A atividade interpretativa dever, para alm do ju- zo de ilicitude, verificar se a atividade econmi- ca privada atende concretamente aos valores cons-
  61. 61. titucionais (especialmente a regra concernente justia distributiva, erradicao da pobreza e diminuio das desigualdades sociais e regionais, insculpida no art. 3, III, e a relativa ao objetivo central de efetivao de uma sociedade em que se privilegie o trabalho, a cidadania e a dignidade hu- mana, prevista no art. 1, III), s merecendo tutela jurdica quando a resposta for positiva. E tal cri- trio se aplica no s s relaes de consumo mas aos negcios jurdicos em geral, ao exerccio do direito de propriedade, s relaes familiares e ao conjunto das relaes do direito civil17 . Vrios desses princpios foram reafirmados pelo novo Cdigo Civil, como os concernentes boa-f objetiva, onerosidade excessiva, leso, ao enriquecimento sem causa, aproximando e har- monizando ainda mais os dois diplomas em mat- ria contratual. Em artigo que trata exatamente da possibilida- de de dilogo entre o Cdigo de Defesa do Consu- midor e o novo Cdigo Civil, Cludia Lima Mar- ques relembra que a Lei de Introduo ao Cdigo Civil (hoje Lei de Introduo s Normas do Di- reito Brasileiro) e o prprio Cdigo Civil de 2002
  62. 62. preveem a aplicao conjunta (lado a lado) das leis especiais, como o Cdigo de Defesa do Con- sumidor, e a lei geral, como o novo diploma civil. Com a entrada em vigor do Cdigo de 2002, sali- enta, fragmenta-se, ainda mais, o combate s clu- sulas abusivas. So trs os tipos de regulamenta- o: a aplicao pura do Cdigo de 2002 para as relaes puramente civis, a aplicao do Cdigo de 2002 e das leis especiais comerciais nos casos de contratos entre comerciantes ou interempres- rios, e a aplicao prioritria do Cdigo de Defesa do Consumidor, nas relaes mistas entre um ci- vil e um empresrio, isto , entre um consumidor e um fornecedor. Uma viso de dilogo das fontes pode ajudar a transpor conquistas de um micros- sistema para o sistema geral e vice-versa. Em concluso, afirma CLUDIA LIMA MAR- QUES, o CDC tende a ganhar com a entrada em vigor no NCC/2002, se o esprito do dilogo das fontes aqui destacado prevalecer: necessrio su- perar a viso antiga dos conflitos e dar efeito til s leis novas e antigas! Mister preservar a ratio de ambas as leis e dar preferncia ao tratamento dife- renciado dos diferentes concretizado nas leis espe-
  63. 63. ciais, como no CDC, e assim respeitar a hierarquia dos valores constitucionais, sobretudo coordenan- do e adaptando o sistema para uma convivncia coerente! A convergncia de princpios e clusu- las gerais entre o CDC e o NCC/2002 e a gide da Constituio Federal de 1988 garantem que have- r dilogo e no retrocesso na proteo dos mais fracos nas relaes contratuais. O desafio gran- de, mas o jurista brasileiro est preparado18 . Proclama a Smula 321 do Superior Tribunal de Justia: O Cdigo de Defesa do Consumidor aplicvel relao jurdica entre a entidade de previdncia privada e seus participantes. Por sua vez, dispe a Smula 297 da mesma Corte: O Cdigo de Defesa do Consumidor aplicvel s instituies financeiras. Nessa linha, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADIn n. 2.591, realizado aos 4 de maio de 2006, decidiu tambm aplicar-se o Cdigo de Defesa do Consu- midor s instituies financeiras. Extrai-se do vo- to do Min. EROS GRAU o seguinte tpico: A re- lao entre banco e cliente , nitidamente, uma re- lao de consumo (). consumidor, inques- tionavelmente, toda pessoa fsica ou jurdica que
  64. 64. utiliza, como destinatrio final, atividade banc- ria, financeira e de crdito. Tem decidido o Superior Tribunal de Justia que, embora os negcios bancrios estejam sujei- tos ao Cdigo do Consumidor, inclusive quanto aos juros moratrios, a abusividade destes, toda- via, s pode ser declarada, caso a caso, vista de taxa que comprovadamente discrepe, de modo substancial, da mdia do mercado na praa do em- prstimo, salvo se justificada pelo risco da ope- rao19 . Esse entendimento cristalizou-se na S- mula 381, do seguinte teor: Nos contratos banc- rios, vedado ao julgador conhecer, de ofcio, da abusividade das clusulas. 5. Condies de validade do contrato Para que o negcio jurdico produza efeitos, possibilitando a aquisio, modificao ou extin- o de direitos, deve preencher certos requisitos, apresentados como os de sua validade. Se os pos- sui, vlido e dele decorrem os mencionados efei- tos, almejados pelo agente. Se, porm, falta-lhe
  65. 65. um desses requisitos, o negcio invlido, no produz o efeito jurdico em questo e nulo ou anulvel. O contrato, como qualquer outro negcio jur- dico, sendo uma de suas espcies, igualmente exi- ge para a sua existncia legal o concurso de alguns elementos fundamentais, que constituem condi- es de sua validade. Os requisitos ou condies de validade dos contratos so de duas espcies: a) de ordem geral, comuns a todos os atos e negcios jurdicos, como a capacidade do agente, o objeto lcito, possvel, determinado ou determinvel, e a forma prescrita ou no defesa em lei (CC, art. 104); b) de ordem especial, especfico dos contratos: o consentimen- to recproco ou acordo de vontades. Os requisitos de validade do contrato podem, assim, ser distribudos em trs grupos: subjetivos, objetivos e formais. 5.1. Requisitos subjetivos Os requisitos subjetivos consistem: a) na ma- nifestao de duas ou mais vontades e capacidade
  66. 66. genrica dos contraentes; b) na aptido especfica para contratar; c) no consentimento20 . a) Capacidade genrica A capacidade ge- nrica dos contratantes (que podem ser duas ou mais pessoas, visto constituir o contrato um ne- gcio jurdico bilateral ou plurilateral) o primei- ro elemento ou condio subjetiva de ordem ge- ral para a validade dos contratos. Estes sero nu- los (CC, art. 166, I) ou anulveis (art. 171, I), se a incapacidade, absoluta ou relativa, no for suprida pela representao ou pela assistncia (CC, arts. 1.634, V, 1.747, I, e 1.781). A capacidade exigi- da nada mais do que a capacidade de agir em geral, que pode inexistir em razo da menoridade, da falta do necessrio discernimento ou de causa transitria (CC, art. 3), ou ser reduzida nas hip- teses mencionadas no art. 4 do Cdigo Civil (me- noridade relativa, embriaguez habitual, dependn- cia de txicos, discernimento reduzido, prodigali- dade). No tocante s pessoas jurdicas exige-se a in- terveno de quem os seus estatutos indicarem pa- ra represent-las ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente.
  67. 67. b) Aptido especfica para contratar Alm da capacidade geral, exige a lei a especial para contratar. Algumas vezes, para celebrar certos contratos, requer-se uma capacidade especial, mais intensa que a normal, como ocorre na doa- o, na transao, na alienao onerosa, que exi- gem a capacidade ou poder de disposio das coi- sas ou dos direitos que so objeto do contrato. Outras vezes, embora o agente no seja um inca- paz, genericamente, deve exibir a outorga uxria (para alienar bem imvel, p. ex.: CC, arts. 1.647, 1.649 e 1.650) ou o consentimento dos descenden- tes e do cnjuge do alienante (para a venda a ou- tros descendentes: art. 496). Essas hipteses no dizem respeito propriamente capacidade geral, mas falta de legitimao ou impedimentos para a realizao de certos negcios. A capacidade de contratar deve existir no momento da declarao de vontade do contratante21 . c) Consentimento O requisito de ordem es- pecial, prprio dos contratos, o consentimento recproco ou acordo de vontades. Deve abranger os seus trs aspectos: c1) acordo sobre a existn- cia e natureza do contrato (se um dos contratan-
  68. 68. tes quer aceitar uma doao e o outro quer ven- der, contrato no h); c2) acordo sobre o objeto do contrato; e c3) acordo sobre as clusulas que o compem (se a divergncia recai sobre ponto substancial, no poder ter eficcia o contrato)22 . O consentimento deve ser livre e espontneo, sob pena de ter a sua validade afetada pelos vcios ou defeitos do negcio jurdico: erro, dolo, coa- o, estado de perigo, leso e fraude. A manifes- tao da vontade, nos contratos, pode ser tcita, quando a lei no exigir que seja expressa (CC, art. 111). Expressa a exteriorizada verbalmente, por escrito, gesto ou mmica, de forma inequvoca. Algumas vezes a lei exige o consentimento escri- to como requisito de validade da avena. o que sucede na atual Lei do Inquilinato (Lei n. 8.245/ 91), cujo art. 13 prescreve que a sublocao e o emprstimo do prdio locado dependem de con- sentimento, por escrito, do locador. No havendo na lei tal exigncia, vale a mani- festao tcita, que se infere da conduta do agen- te. Nas doaes puras, por exemplo, muitas vezes o donatrio no declara que aceita o objeto doado, mas o seu comportamento (uso, posse, guarda) de-
  69. 69. monstra a aceitao. O silncio pode ser interpre- tado como manifestao tcita da vontade quan- do as circunstncias ou os usos o autorizarem, e no for necessria a declarao de vontade expres- sa (CC, art. 111), e, tambm, quando a lei o auto- rizar, como nos arts. 539 (doao pura), 512 (ven- da a contento), 432 (praxe comercial) etc., ou, ain- da, quando tal efeito ficar convencionado em um pr-contrato. Nesses casos o silncio considera- do circunstanciado ou qualificado (v., a propsi- to, no v. 1 desta obra, Elementos do negcio jur- dico, item 7.1.1 O silncio como manifestao de vontade). Como o contrato, por definio, um acordo de vontades, no se admite a existncia de au- tocontrato ou contrato consigo mesmo. Todavia, pode ocorrer a hiptese de ambas as partes se manifestarem por meio do mesmo representante, configurando-se ento a situao de dupla repre- sentao. O representante no figura e no se en- volve no negcio jurdico, mas somente os repre- sentados. Pode ocorrer, ainda, que o representante seja a outra parte no negcio jurdico celebrado, exer-
  70. 70. cendo neste caso dois papis distintos: participan- do de sua formao como representante, atuando em nome do dono do negcio, e como contratan- te, por si mesmo, intervindo com dupla qualida- de, como ocorre no cumprimento de mandato em causa prpria, previsto no art. 685 do Cdigo Ci- vil, em que o mandatrio recebe poderes para ali- enar determinado bem, por determinado preo, a terceiros ou a si prprio. Surge, nas hipteses mencionadas, o negcio jurdico que se convencionou chamar de contrato consigo mesmo ou autocontratao. O que h, na realidade, so situaes que se assemelham a ne- gcio dessa natureza. No caso de dupla represen- tao somente os representados adquirem direitos e obrigaes. E, mesmo quando o representante uma das partes, a outra tambm participa do ato, embora representada pelo primeiro. Dispe o art. 117 do novo Cdigo Civil que, Salvo se o permitir a lei ou o representado, anulvel o negcio jurdico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo. Complementa o pargrafo ni- co: Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo
  71. 71. representante o negcio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido subestabeleci- dos. O novo diploma prev, portanto, a possibi- lidade da celebrao do contrato consigo mesmo, desde que a lei ou o representado autorizem sua realizao. Sem a observncia dessa condio, o negcio anulvel. Melhor estaria o novo Cdigo se condicionas- se a possibilidade da celebrao do contrato con- sigo mesmo ausncia de conflitos de interesses, como o fizeram os Cdigos portugus (art. 261) e italiano (art. 1.395). Esse entendimento consa- grado na Smula 60 do Superior Tribunal de Jus- tia, do seguinte teor: nula a obrigao cambi- al assumida por procurador do muturio vincula- do ao mutuante, no exclusivo interesse deste. de se supor que, malgrado a omisso do novo di- ploma, a jurisprudncia continuar exigindo a au- sncia do conflito de interesses, como condio de admissibilidade do contrato consigo mesmo, co- mo vem ocorrendo. O supratranscrito pargrafo nico do art. 117 do novo Cdigo trata de hiptese em que tambm pode configurar-se o contrato consigo mesmo de
  72. 72. maneira indireta, ou seja, quando o prprio repre- sentante atua sozinho declarando duas vontades, mas por meio de terceira pessoa, substabelecendo- a para futuramente celebrar negcio com o antigo representante. Ocorrendo esse fenmeno, tem-se como celebrado pelo representante o negcio rea- lizado por aquele em que os poderes houverem si- do subestabelecidos (v., no v. 1 desta obra, no ca- ptulo Da representao, item 6 Contrato con- sigo mesmo). 5.2. Requisitos objetivos Os requisitos objetivos dizem respeito ao ob- jeto do contrato, que deve ser lcito, possvel, de- terminado ou determinvel (CC, art. 104, II). A validade do contrato depende, assim, da: a) Licitude de seu objeto Objeto lcito o que no atenta contra a lei, a moral ou os bons cos- tumes. Objeto imediato do negcio sempre uma conduta humana e se denomina prestao: dar, fa- zer ou no fazer. Objeto mediato so os bens ou prestaes sobre os quais incide a relao jurdica obrigacional.
  73. 73. Quando o objeto jurdico do contrato imoral, os tribunais por vezes aplicam o princpio de di- reito de que ningum pode valer-se da prpria tor- peza (nemo auditur propriam turpitudinem alle- gans). Tal princpio aplicado pelo legislador, por exemplo, no art. 150 do Cdigo Civil, que repri- me o dolo ou a torpeza bilateral, e no art. 883, que nega direito repetio do pagamento feito para obter fim ilcito, imoral, ou proibido por lei. Impe- dem eles que as pessoas participantes de um con- trato imoral sejam ouvidas em juzo. b) Possibilidade fsica ou jurdica do objeto O objeto deve ser, tambm, possvel. Quando impossvel, o negcio nulo (CC, art. 166, II). A impossibilidade do objeto pode ser fsica ou jur- dica. Impossibilidade fsica a que emana das leis fsicas ou naturais. Deve ser absoluta, isto , al- canar a todos, indistintamente, como, por exem- plo, a que impede o cumprimento da obrigao de tocar a Lua com a ponta dos dedos, sem tirar os ps da Terra. A relativa, que atinge o devedor mas no outras pessoas, no constitui obstculo ao ne- gcio jurdico, como proclama o art. 106 do Cdi- go Civil.
  74. 74. Ocorre impossibilidade jurdica do objeto quando o ordenamento jurdico probe, expressa- mente, negcios a respeito de determinado bem, como a herana de pessoa viva (CC, art. 426), de alguns bens fora do comrcio, como os gravados com a clusula de inalienabilidade etc. A ilicitude do objeto mais ampla, pois abrange os contrri- os moral e aos bons costumes. c) Determinao de seu objeto O objeto do negcio jurdico deve ser, igualmente, determina- do ou determinvel (indeterminado relativamen- te ou suscetvel de determinao no momento da execuo). Admite-se, assim, a venda de coisa in- certa, indicada ao menos pelo gnero e pela quan- tidade (CC, art. 243), que ser determinada pela escolha, bem como a venda alternativa, cuja in- determinao cessa com a concentrao (CC, art. 252). Embora no mencionado expressamente na lei, a doutrina exige outro requisito objetivo de validade dos contratos: o objeto do contrato deve ter algum valor econmico. Um gro de areia, por exemplo, no interessa ao mundo jurdico, por no ser suscetvel de apreciao econmica. A sua
  75. 75. venda, por no representar nenhum valor, indi- ferente ao direito, pois to irrisria quantidade ja- mais levaria o credor a mover uma ao judici- al para reclamar do devedor o adimplemento da obrigao23 . 5.3. Requisitos formais O terceiro requisito de validade do negcio ju- rdico a forma (forma dat esse rei, ou seja, a for- ma d ser s coisas), que o meio de revelao da vontade. Deve ser a prescrita ou no defesa em lei. H dois sistemas no que tange forma como requisito de validade do negcio jurdico: o con- sensualismo, da liberdade de forma, e o formalis- mo ou da forma obrigatria. O direito romano e o alemo eram, inicialmente, formalistas. Posteri- ormente, por influncia do cristianismo e sob as necessidades do intenso movimento comercial da Idade Mdia, passaram do formalismo conserva- dor ao princpio da liberdade da forma24 . No direito brasileiro a forma , em regra, livre. As partes podem celebrar o contrato por escrito, pblico ou particular, ou verbalmente, a no ser
  76. 76. nos casos em que a lei, para dar maior segurana e seriedade ao negcio, exija a forma escrita, p- blica ou particular. O consensualismo, portanto, a regra, e o formalismo, a exceo. Dispe, com efeito, o art. 107 do Cdigo Civil: A validade da declarao de vontade no depender de forma especial, seno quando a lei expressamente a exigir. nulo o negcio jurdico quando no reves- tir a forma prescrita em lei ou for preterida al- guma solenidade que a lei considere essencial pa- ra a sua validade (CC, art. 166, IV e V). Em alguns casos a lei reclama tambm a publicida- de, mediante o sistema de Registros Pblicos (CC, art. 221). Cumpre frisar que o formalismo e a pu- blicidade so garantias do direito. Na mesma esteira do art. 166, IV e V, do Cdi- go Civil, supratranscrito, estabelece o art. 366 do Cdigo de Processo Civil: Quando a lei exigir, como da substncia do ato, o instrumento pblico, nenhuma outra prova, por mais especial que seja, pode suprir-lhe a falta. Por sua vez, estatui o art. 154 do mesmo diploma: Os atos e termos proces- suais no dependem de forma determinada seno
  77. 77. quando a lei expressamente a exigir, reputando-se vlidos os que, realizados de outro modo, lhe pre- encham a finalidade essencial. Podem ser distinguidas trs espcies de for- mas: livre, especial ou solene e contratual. a) Forma livre a predominante no direito brasileiro (CC, art. 107). qualquer meio de ma- nifestao da vontade, no imposto obrigatoria- mente pela lei (palavra escrita ou falada, escrito pblico ou particular, gestos, mmicas etc.). b) Forma especial ou solene a exigida pela lei, como requisito de validade de determina- dos negcios jurdicos. Em regra, a exigncia de que o ato seja praticado com observncia de de- terminada solenidade tem por finalidade assegurar a autenticidade dos negcios, garantir a livre ma- nifestao da vontade, demonstrar a seriedade do ato e facilitar a sua prova. A forma especial pode ser nica ou mltipla (plural). Forma nica a que, por lei, no pode ser substituda por outra. Exemplos: o art. 108 do Cdigo Civil, que considera a escritura pblica es- sencial validade das alienaes imobilirias, no dispondo a lei em contrrio; o art. 1.964, que auto-
  78. 78. riza a deserdao somente por meio de testamen- to; os arts. 1.535 e 1.536, que estabelecem forma- lidades para o casamento etc. Diz-se mltipla ou plural a forma quando o ato solene, mas a lei permite a formalizao do negcio por diversos modos, podendo o interessa- do optar validamente por um deles. Como exem- plos citam-se o reconhecimento voluntrio do fi- lho, que pode ser feito de quatro modos, de acor- do com o art. 1.609 do Cdigo Civil; a transao, que pode efetuar-se por termo nos autos ou escri- tura pblica (CC, art. 842); a instituio de uma fundao, que pode ocorrer por escritura pblica ou por testamento (art. 62); a renncia da herana, que pode ser feita por escritura pblica ou termo judicial (art. 1.806). c) Forma contratual a convencionada pelas partes. O art. 109 do Cdigo Civil dispe que, no negcio jurdico celebrado com a clu- sula de no valer sem instrumento pblico, este da substncia do ato. Os contratantes podem, portanto, mediante conveno, determinar que o instrumento pblico torne-se necessrio para a va- lidade do negcio.
  79. 79. Ainda se diz que a forma pode ser ad solemni- tatem, tambm denominada ad substantiam, ou ad probationem tantum. A primeira, quando determi- nada forma da substncia do ato, indispensvel para que a vontade produza efeitos (forma dat es- se rei). Exemplo: a escritura pblica, na aquisio de imvel (CC, art. 108), os modos de reconheci- mento de filhos (art. 1.609) etc. A segunda, quan- do a forma destina-se a facilitar a prova do ato. Alguns poucos autores criticam essa distin- o, afirmando que no h mais formas impostas exclusivamente para prova dos atos. Estes ou tm forma especial, exigida por lei, ou a forma livre, podendo, neste caso, ser demonstrada por todos os meios admitidos em direito (CPC, art. 332). Entretanto, a lavratura do assento de casamen- to no livro de registro (art. 1.536) pode ser men- cionada como exemplo de formalidade ad proba- tionem tantum, pois destina-se a facilitar a prova do casamento, embora no seja essencial sua va- lidade. CAIO MRIO 25 menciona tambm os casos em que o resultado do negcio jurdico pode ser atingido por outro meio: assim, a obrigao de va- lor superior ao dcuplo do maior salrio mnimo
  80. 80. vigente no pas no pode ser provada exclusiva- mente por testemunhas, j que a lei exige ao me- nos um comeo de prova por escrito (CPC, art. 401; CC, art. 227). No se deve confundir forma, que meio para exprimir a vontade, com prova do ato ou negcio jurdico, que meio para demonstrar a sua exis- tncia (cf. arts. 212 e s.; v., no v. 1 desta obra, Ele- mentos do negcio jurdico, item 8.3 Forma). 6. Princpios fundamentais do direito contratual O direito contratual rege-se por diversos prin- cpios, alguns tradicionais e outros modernos. Os mais importantes so os: da autonomia da vonta- de, da supremacia da ordem pblica, do consen- sualismo, da relatividade dos efeitos, da obrigato- riedade, da reviso ou onerosidade excessiva e da boa-f. 6.1. Princpio da autonomia da vontade
  81. 81. Tradicionalmente, desde o direito romano, as pessoas so livres para contratar. Essa liberdade abrange o direito de contratar se quiserem, com quem quiserem e sobre o que quiserem, ou seja, o direito de contratar e de no contratar, de escolher a pessoa com quem faz-lo e de estabelecer o con- tedo do contrato. O princpio da autonomia da vontade se ali- cera exatamente na ampla liberdade contratual, no poder dos contratantes de disciplinar os seus interesses mediante acordo de vontades, suscitan- do efeitos tutelados pela ordem jurdica. Tm as partes a faculdade de celebrar ou no contratos, sem qualquer interferncia do Estado. Podem ce- lebrar contratos nominados ou fazer combinaes, dando origem a contratos inominados. Esse princpio teve o seu apogeu aps a Re- voluo Francesa, com a predominncia do indi- vidualismo e a pregao de liberdade em todos os campos, inclusive no contratual. Foi sacramenta- do no art. 1.134 do Cdigo Civil francs, ao es- tabelecer que as convenes legalmente consti- tudas tm o mesmo valor que a lei relativamente s partes que a fizeram. Esclarecem MAZEAUD
  82. 82. e MAZEAUD 26 que os redatores do Cdigo Civil desejaram frisar que uma obrigao originria de um contrato se impe aos contratantes com a mes- ma fora que uma obrigao legal. Este era o sen- tido, dizem, em que a compreendeu DOMAT, ao precisar que os contratantes se font extreux une loy dexcuter ce quils promettent (os contra- tantes estabelecem entre si uma lei de executar o que prometem). Como a vontade manifestada de- ve ser respeitada, a avena faz lei entre as partes, assegurando a qualquer delas o direito de exigir o seu cumprimento. O princpio da autonomia da vontade serve de fundamento para a celebrao dos contratos at- picos27 . Segundo Carlos Alberto da Mota Pinto, consiste ele no poder reconhecido aos particula- res de autorregulamentao dos seus interesses, de autogoverno da sua esfera jurdica28 . Encontra os veculos de sua realizao nos direitos subjeti- vos e na possibilidade de celebrao de negcios jurdicos. A liberdade contratual prevista no art. 421 do novo Cdigo Civil, j comentado (v. Funo
  83. 83. social do contrato, n. 3, retro), nestes termos: A liberdade de contratar ser exercida em razo e nos limites da funo social do contrato. Precei- tua ainda o art. 425: lcito s partes estipular contratos atpicos, observadas as normas gerais fixadas neste Cdigo. Caio Mrio critica a redao da primeira parte do ltimo dispositivo legal transcrito, considerando-a ociosa, pois que, em todos os tempos, a velocidade da vida econmica e as ne- cessidades sociais estimularam a criao de toda uma tipologia contratual que o legislador no po- de prever, e que os Cdigos absorveram aps a prtica corrente hav-la delineado29 . No seu en- tender, a segunda parte, determinando a aplicao das normas do Cdigo aos novos contratos ela- borados atipicamente, tambm poderia ser mais precisa, acrescentando-lhes, alm destas, as que constem de leis extravagantes, normalmente ade- quadas a cada contrato atpico. Contrato atpico o que resulta de um acordo de vontades no regulado no ordenamento jurdi- co, mas gerado pelas necessidades e interesses das partes. vlido, desde que estas sejam capazes e o
  84. 84. objeto lcito, possvel, determinado ou determin- vel e suscetvel de apreciao econmica. Ao con- trrio do contrato tpico, cujas caractersticas e re- quisitos so definidos na lei, que passam a integr- lo, o atpico requer muitas clusulas minudencian- do todos os direitos e obrigaes que o compem. Essas noes, aceitas na doutrina, foram converti- das em preceito legal, no novo diploma civil. Tm aumentado consideravelmente as limita- es liberdade de contratar, em seus trs aspec- tos30 . Assim, a faculdade de contratar e de no contratar (de contratar se quiser) mostra-se, atu- almente, relativa, pois a vida em sociedade obri- ga as pessoas a realizar, frequentemente, contratos de toda espcie, como o de transporte, de compra de alimentos, de aquisio de jornais, de forneci- mento de bens e servios pblicos (energia el- trica, gua, telefone etc.). O licenciamento de um veculo, por exemplo, condicionado celebra- o do seguro obrigatrio. O Cdigo de Defesa do Consumidor dispe que o fornecedor de produ- tos e servios no pode recusar atendimento s de- mandas dos consumidores, na medida de suas dis-
  85. 85. ponibilidades de estoque, e em conformidade com os usos e costumes (art. 39, II). Tambm a liberdade de escolha do outro con- traente (de contratar com quem quiser) sofre, ho- je, restries, como nos casos de servios pblicos concedidos sob regime de monoplio e nos con- tratos submetidos ao Cdigo do Consumidor31 . E, em terceiro lugar, o poder de estabelecer o contedo do contrato (de contratar sobre o que quiser) sofre tambm, hodiernamente, limitaes determinadas pelas clusulas gerais, especial- mente as que tratam da funo social do contrato e da boa-f objetiva, do Cdigo de Defesa do Con- sumidor e, principalmente, pelas exigncias e su- premacia da ordem pblica, como se ver a seguir. 6.2. Princpio da supremacia da ordem p- blica A liberdade contratual encontrou sempre li- mitao na ideia de ordem pblica, entendendo- se que o interesse da sociedade deve prevalecer quando colide com o interesse individual.
  86. 86. O princpio da autonomia da vontade, como vimos, no absoluto. limitado pelo princpio da supremacia da ordem pblica, que resultou da constatao, feita no incio do sculo passado e em face da crescente industrializao, de que a ampla liberdade de contratar provocava desequil- brios e a explorao do economicamente mais fra- co. Compreendeu-se que, se a ordem jurdica pro- metia a igualdade poltica, no estava assegurando a igualdade econmica. Em alguns setores fazia- se mister a interveno do Estado, para restabele- cer e assegurar a igualdade dos contratantes. Surgiram os movimentos em prol dos direitos sociais e a defesa destes nas encclicas papais. Co- mearam, ento, a ser editadas leis destinadas a garantir, em setores de vital importncia, a supre- macia da ordem pblica, da moral e dos bons cos- tumes, podendo ser lembradas, entre ns, as diver- sas leis do inquilinato, a Lei da Usura, a Lei da Economia Popular, o Cdigo de Defesa do Con- sumidor e outros. A interveno do Estado na vi- da contratual , hoje, to intensa em determina- dos campos (telecomunicaes, consrcios, segu-
  87. 87. ros, sistema financeiro etc.) que se configura um verdadeiro dirigismo contratual. A noo de ordem pblica, todavia, muito fugidia, no se amoldando a qualquer classifica- o feita a priori. O mesmo sucede com a de bons costumes. Cabe aos tribunais verificar, em cada caso, se a ordem pblica est ou no em jogo. Se- gundo SILVIO RODRIGUES, a ideia de ordem p- blica constituda por aquele conjunto de inte- resses jurdicos e morais que incumbe socieda- de preservar. Por conseguinte, os princpios de or- dem pblica no podem ser alterados por conven- o entre os particulares. Jus publicum privato- rum pactis derrogare non potest32 . Dispe o art. 6 do Cdigo Civil francs: No se pode derrogar, por convenes particulares, as leis que interessam ordem pblica. O novo C- digo Civil brasileiro, por sua vez, proclama, no pargrafo nico do art. 2.035: Nenhuma conven- o prevalecer se contrariar preceitos de ordem pblica, tais como os estabelecidos por este Cdi- go para assegurar a funo social da propriedade e dos contratos.
  88. 88. A ordem pblica tambm uma clusula ge- ral, que est no nosso ordenamento por meio do art. 17 da Lei de Introduo s Normas do Direito Brasileiro, regra de direito internacional privado que retira eficcia de qualquer declarao de von- tade ofensiva da ordem pblica. O novo Cdigo dispe sobre as relaes internas, para as quais tambm passa a vigorar, expressamente, o princ- pio de ordem pblica. Seu conceito corresponde ao da ordem considerada indispensvel organi- zao estatal, constituindo-se no estado de coisas sem o qual no existiria a sociedade, assim como normatizada pelo sistema jurdico33 . A doutrina considera de ordem pblica, dentre outras, as normas que instituem a organizao da famlia (casamento, filiao, adoo, alimentos); as que estabelecem a ordem de vocao heredi- tria e a sucesso testamentria; as que pautam a organizao poltica e administrativa do Estado, bem como as bases mnimas da organizao econmica; os preceitos fundamentais do direito do trabalho; enfim, as regras que o legislador eri- ge em cnones basilares da estrutura social, polti- ca e econmica da Nao. No admitindo derroga-
  89. 89. o, compem leis que probem ou ordenam cer- ceando nos seus limites a liberdade de todos34 . Os direitos tambm devem ser exercidos no li- mite ordenado pelos bons costumes, conceito que decorre da observncia das normas de convivn- cia, segundo um padro de conduta social estabe- lecido pelos sentimentos morais da poca. Serve para definir o comportamento das pessoas. Pode- se dizer que bons costumes so aqueles que se cul- tivam como condies de moralidade social, ma- tria sujeita a variaes de poca a poca, de pas a pas, e at dentro de um mesmo pas e mesma poca35 . Em suma, a noo de ordem pblica e o res- peito aos bons costumes constituem freios e limi- tes liberdade contratual. No campo intervenci- onista, destinado a coibir abusos advindos da de- sigualdade econmica mediante a defesa da parte economicamente mais fraca, situa-se ainda o prin- cpio da reviso dos contratos ou da onerosidade excessiva, baseado na teoria da impreviso, regu- lado nos arts. 478 a 480 e que ser estudado adi- ante, no item 6.5.
  90. 90. 6.3. Princpio do consensualismo De acordo com o princpio do consensualis- mo, basta, para o aperfeioamento do contrato, o acordo de vontades, contrapondo-se ao formalis- mo e ao simbolismo que vigoravam em tempos primitivos. Decorre ele da moderna concepo de que o contrato resulta do consenso, do acordo de vontades, independentemente da entrega da coisa. A compra e venda, por exemplo, quando pura, torna-se perfeita e obrigatria, desde que as partes acordem no objeto e no preo (CC, art. 482). O contrato j estar perfeito e acabado desde o mo- mento em que o vendedor aceitar o preo ofereci- do pela coisa, independentemente da entrega des- ta. O pagamento e a entrega do objeto constituem outra fase, a do cumprimento das obrigaes assu- midas pelos contratantes (CC, art. 481). Em breve relato histrico, assinala CAIO M- RIO: Quando, pois, no limiar da Idade Moderna, um jurista costumeiro, como Loysel, dizia que os bois se prendem pelos chifres e os homens pela palavra, fazia na verdade, e a um s tempo, uma constatao e uma profisso de f: testemunhava
  91. 91. em favor da fora jurgena da palavra em si mes- ma, e deitava uma regra, segundo a qual os contra- tos formavam-se, em princpio, solo consensu36 . Por sua vez, obtempera CARLOS ALBERTO BITTAR que, sendo o contrato corolrio natural da liberdade e relacionado fora disciplinadora reconhecida vontade humana, tem-se que as pes- soas gozam da faculdade de vincular-se pelo sim- ples consenso, fundadas, ademais, no princpio tico do respeito palavra dada e na confiana re- cproca que as leva a contratar. Com isso, a lei de- ve, em princpio, abster-se de estabelecer soleni- dades, formas ou frmulas que conduzam ou qua- lifiquem o acordo, bastando por si para a defini- o do contrato, salvo em poucas figuras cuja seri- edade de efeitos exija a sua observncia (como no casamento, na transmisso de direitos sobre im- veis)37 . Essa necessidade de garantir as partes contra- tantes levou, mais modernamente, o legislador a fazer certas exigncias materiais, subordinadas ao tema do formalismo, como, por exemplo, a elabo- rao de instrumento escrito para a venda de auto- mveis; a obrigatoriedade de inscrio no registro
  92. 92. imobilirio, para que as promessas de compra e venda sejam dotadas de execuo especfica com eficcia real (CC, art. 1.417), e a imposio do re- gistro na alienao fiduciria em garantia (CC, art. 1.361, 1)38 . Como exposto no item 5.3, retro (Requisitos formais), no direito brasileiro a forma , em regra, livre. As partes podem celebrar o contrato por es- crito, pblico ou particular, ou verbalmente, a no ser nos casos em que a lei, para dar maior seguran- a e seriedade ao negcio, exija a forma escrita, pblica ou particular (CC, art. 107). O consensua- lismo, portanto, a regra, e o formalismo, a exce- o. Os contratos so, pois, em regra, consensuais. Alguns poucos, no entanto, so reais (do latim res: coisa), porque somente se aperfeioam com a entrega do objeto, subsequente ao acordo de vontades. Este, por si, no basta. O contrato de depsito, por exemplo, s se aperfeioa depois do consenso e da entrega do bem ao depositrio. Enquadram-se nessa classificao, tambm, den- tre outros, os contratos de comodato e mtuo.
  93. 93. 6.4. Princpio da relatividade dos efeitos do contrato Funda-se tal princpio na ideia de que os efei- tos do contrato s se produzem em relao s partes, queles que manifestaram a sua vontade, vinculando-os ao seu contedo, no afetando ter- ceiros nem seu patrimnio. Mostra-se ele coerente com o modelo clssico de contrato, que objetivava exclusivamente a sa- tisfao das necessidades individuais e que, por- tanto, s produzia efeitos entre aqueles que o ha- viam celebrado, mediante acordo de vontades. Em razo desse perfil, no se poderia conceber que o ajuste estendesse os seus efeitos a terceiros, vinculando-os conveno. Essa a situao delineada no art. 928 do C- digo Civil de 1916, que prescrevia: A obrigao, no sendo personalssima, opera assim entre as partes, como entre seus herdeiros. Desse modo, a obrigao, no sendo personalssima, operava so- mente entre as partes e seus sucessores, a ttulo universal ou singular. S a obrigao personalssi- ma no vinculava os sucessores.
  94. 94. Eram previstas, no entanto, algumas excees expressamente consignadas na lei, permitindo es- tipulaes em favor de terceiros, reguladas nos arts. 436 a 438 (comum nos seguros de vida e nas separaes judiciais consensuais) e conven- es coletivas de trabalho, por exemplo, em que os acordos feitos pelos sindicatos beneficiam toda uma categoria. Essa viso, no entanto, foi abalada pelo novo Cdigo Civil, que no concebe mais o contrato apenas como instrumento de satisfao de interes- ses pessoais dos contraentes, mas lhe reconhece uma funo social, como j foi dito (v. Funo so- cial do contrato, n. 3, retro). Tal fato tem como consequncia, por exemplo, possibilitar que ter- ceiros que no so propriamente partes do contra- to possam nele influir, em razo de serem direta ou indiretamente por ele atingidos. No resta dvida de que o princpio da relati- vidade dos efeitos do contrato, embora ainda sub- sista, foi bastante atenuado pelo reconhecimento de que as clusulas gerais, por conterem normas de ordem pblica, no se destinam a proteger uni- camente os direitos individuais das partes, mas tu-
  95. 95. telar o interesse da coletividade, que deve preva- lecer quando em conflito com aqueles. Nessa conformidade, a nova concepo da funo social do contrato representa, se no ruptu- ra, pelo menos abrandamento do princpio da re- latividade dos efeitos do contrato, tendo em vista que este tem seu espectro pblico ressaltado, em detrimento do exclusivamente privado das partes contratantes. A propsito, foi aprovada concluso, na Jornada de Direito Civil j mencionada (v. nota 9, retro): A funo social do contrato, pre- vista no art. 421 do novo Cdigo Civil, consti- tui clusula geral, a impor a reviso do princpio da relatividade dos efeitos do contrato em relao a terceiros, implicando a tutela externa do crdi- to39 . 6.5. Princpio da obrigatoriedade dos con- tratos O princpio em epgrafe, tambm denominado princpio da intangibilidade dos contratos, repre- senta a fora vinculante das convenes. Da por
  96. 96. que tambm chamado de princpio da fora vin- culante dos contratos. Pelo princpio da autonomia da vontade, nin- gum obrigado a contratar. A ordem jurdica concede a cada um a liberdade de contratar e de- finir os termos e objeto da avena. Os que o fize- rem, porm, sendo o contrato vlido e eficaz, de- vem cumpri-lo, no podendo se forrarem s suas consequncias, a no ser com a anuncia do ou- tro contraente. Como foram as partes que escolhe- ram os termos do ajuste e a ele se vincularam, no cabe ao juiz preocupar-se com a severidade das clusulas aceitas, que no podem ser atacadas sob a invocao dos princpios de equidade. O princ- pio da fora obrigatria do contrato significa, em essncia, a irreversibilidade da palavra empenha- da40 . O aludido princpio tem por fundamentos: a) a necessidade de segurana nos negcios, que dei- xaria de existir se os contratantes pudessem no cumprir a palavra empenhada, gerando a balbr- dia e o caos; b) a intangibilidade ou imutabilida- de do contrato, decorrente da convico de que o acordo de vontades faz lei entre as partes, personi-
  97. 97. ficada pela mxima pacta sunt servanda (os pac- tos devem ser cumpridos), no podendo ser altera- do nem pelo juiz. Qualquer modificao ou revo- gao ter de ser, tambm, bilateral. O seu inadim- plemento confere parte lesada o direito de fa- zer uso dos instrumentos judicirios para obrigar a outra a cumpri-lo, ou a indenizar pelas perdas e danos, sob pena de execuo patrimonial (CC, art. 389). A nica limitao a esse princpio, dentro da concepo clssica, a escusa por caso fortuito ou fora maior, consignada no art. 393 e pargrafo nico do Cdigo Civil. No entanto, aps a 1 Grande Guerra Mundial, de 1914 a 1918, observaram-se situaes contra- tuais que, por fora desse fato considerado extra- ordinrio, se tornaram insustentveis, em virtude de acarretarem onerosidade excessiva para um dos contratantes. Coincidiu o episdio com o surgi- mento dos movimentos sociais, sob alegao de que o poder econmico acarretava a explorao dos economicamente mais fracos pelos poderosos, sob pena de no contratar. Compreendeu-se, en- to, que no se podia mais falar em absoluta obri-
  98. 98. gatoriedade dos contratos se no havia, em contra- partida, idntica liberdade contratual entre as par- tes. Ocorreu, em consequncia, uma mudana de orientao, passando-se a aceitar, em carter ex- cepcional, a possibilidade de interveno judicial no contedo de certos contratos, para corrigir os seus rigores ante o desequilbrio de prestaes. Acabou medrando, assim, no direito moderno, a convico de que o Estado tem de intervir na vida do contrato, seja mediante aplicao de leis de or- dem pblica em benefcio do interesse coletivo, seja com a adoo de uma interveno judicial na economia do contrato, modificando-o ou apenas liberando o contratante lesado, com o objetivo de evitar que, por meio da avena, se consume aten- tado contra a justia41 . A suavizao do princpio da obrigatoriedade, no entanto, como observa MNICA BIERWAGEN, no significa o seu desaparecimento. Continua sendo imprescindvel que haja segurana nas re- laes jurdicas criadas pelo contrato, tanto que o Cdigo Civil, ao afirmar que o seu descumpri- mento acarretar ao inadimplente a responsabili-
  99. 99. dade no s por perdas e danos, mas tambm por juros, atualizao monetria e honorrios advoca- tcios (art. 389), consagra tal princpio, ainda que implicitamente. O que no se tolera mais a obri- gatoriedade quando as partes se encontram em pa- tamares diversos e dessa disparidade ocorra pro- veito injustificado. Acrescenta a mencionada autora: Da o novo Cdigo Civil, atento a essa tendncia de ameniza- o do rigor do princpio, ter incorporado expres- samente em seu texto a clusula rebus sic stanti- bus aos contratos de execuo continuada e dife- rida (arts. 478 a 480), assim como os institutos da leso (art. 157) e do estado de perigo (art. 156), que permitem a ingerncia estatal, seja para resol- ver, seja para revisar as condies a que se obriga- ram as partes42 . Preleciona, por sua vez, Nelson Nery Junior43 que o princpio da conservao dos contratos, an- te a nova realidade legal, deve ser interpretado no sentido da sua manuteno e continuidade de exe- cuo, observadas as regras da equidade, do equi- lbrio contratual, da boa-f objetiva e da funo social do contrato. Falar-se em pacta sunt servan-
  100. 100. da, com a conformao e o perfil que lhe foram dados pelo liberalismo dos sculos XVIII e XIX, , no mnimo, desconhecer tudo o que ocorreu no mundo, do ponto de vista social, poltico, econ- mico e jurdico nos ltimos duzentos anos. O con- tratante mais forte impe as clusulas ao contra- tante mais dbil, determina tudo aquilo que lhe se- ja mais favorvel, ainda que em detrimento do ou- tro contratante, procedimentos que quebram as re- gras da boa-f objetiva e da funo social do con- trato, e ainda quer que esse seu comportamento seja entendido como correto pelos tribunais, in- vocando em seu favor o vetusto brocardo romano pacta sunt servanda. 6.6. Princpio da reviso dos contratos ou da onerosidade excessiva Ope-se tal princpio ao da obrigatoriedade, pois permite aos contraentes recorrerem ao Ju- dicirio, para obterem alterao da conveno e condies mais humanas, em determinadas situ- aes. Originou-se na Idade Mdia, mediante a constatao, atribuda a Neratius, de que fatores
  101. 101. externos podem gerar, quando da execuo da avena, uma situao muito diversa da que existia no momento da celebrao, onerando excessiva- mente o devedor. A teoria recebeu o nome de rebus sic stantibus e consiste basicamente em presumir, nos contratos comutativos, de trato sucessivo e de execuo di- ferida, a existncia implcita (no expressa) de uma clusula, pela qual a obrigatoriedade de seu cumprimento pressupe a inalterabilidade da si- tuao de fato. Se esta, no entanto, modificar-se em razo de acontecimentos extraordinrios (uma guerra, p. ex.), que tornem excessivamente onero- so para o devedor o seu adimplemento, poder es- te requerer ao juiz que o isente da obrigao, par- cial ou totalmente. Depois de permanecer longo tempo no esque- cimento, a referida teoria foi lembrada no perodo da I Guerra Mundial de 1914 a 1918, que provo- cou um desequilbrio nos contratos de longo pra- zo. Alguns pases regulamentaram a reviso dos contratos em leis prprias. Na Frana, editou-se a Lei Faillot, de 21 de janeiro de 1918. Na Inglater- ra, recebeu a denominao de Frustration of Ad-
  102. 102. venture. Outros a acolheram em seus Cdigos, fa- zendo as devidas adaptaes s condies atuais. Entre ns, a teoria em tela foi adaptada e di- fundida por ARNOLDO MEDEIROS DA FONSECA, com o nome de teoria da impreviso, em sua obra Caso fortuito e teoria da impreviso. Em razo da forte resistncia oposta teoria revisionista, o re- ferido autor incluiu o requisito da imprevisibilida- de, para possibilitar a sua adoo. Assim, no era mais suficiente a ocorrncia de um fato extraor- dinrio, para justificar a alterao contratual. Pas- sou a ser exigido que fosse tambm imprevisvel. por essa razo que os tribunais no aceitam a in- flao e alteraes na economia como causa para a reviso dos contratos. Tais fenmenos so con- siderados previsveis entre ns44 . A teoria da impreviso consiste, portanto, na possibilidade de desfazimento ou reviso forada do contrato quando, por eventos imprevisveis e extraordinrios, a prestao de uma das partes tornar-se exageradamente onerosa o que, na prtica, viabilizado pela aplicao da clusula rebus sic stantibus, inicialmente referida45 .
  103. 103. O Cdigo Civil de 1916 no regulamentou ex- pressamente a reviso contratual. Porm, o princ- pio que permite a sua postulao em razo de mo- dificaes da situao de fato foi acolhido em ar- tigos esparsos, como o 401, que permitia o ajui- zamento de ao revisional de alimentos, se so- breviesse mudana na fortuna de quem os supria, podendo ser ainda lembrados, como exemplos, os arts. 594 e 1.058 do mesmo diploma. Na realidade, a clusula rebus sic stantibus e a teoria da impreviso eram aplicadas entre ns so- mente em casos excepcionais e com cautela, desde que demonstrados os seguintes requisitos: a) vi- gncia de um contrato comutativo de execuo di- ferida ou de trato sucessivo; b) ocorrncia de fato extraordinrio e imprevisvel; c) considervel al- terao da situao de fato existente no momen- to da execuo, em confronto com a que existia por ocasio da celebrao; d) onerosidade exces- siva para um dos contratantes e vantagem exage- rada para o outro. O Cdigo de 2002 dedicou uma seo, com- posta de trs artigos, resoluo dos contratos por
  104. 104. onerosidade excessiva. Dispe, com efeito, o art. 478 do referido diploma: Nos contratos de execuo continuada ou di- ferida, se a prestao de uma das partes se tor- nar excessivamente onerosa, com extrema vanta- gem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinrios e imprevisveis, poder o devedor pedir a resoluo do contrato. Os efeitos da sen- tena que a decretar retroagiro data da cita- o. Esse dispositivo ser analisado minuciosa- mente mais adiante, no captulo concernente Ex- tino do Contrato (Captulo XI, n. 2.2.1.3.2, in- fra). Prescreve, por sua vez, o art. 479 do Cdigo Civil: A resoluo poder ser evitada, oferecendo- se o ru a modificar equitativamente as condies do contrato. Estatui, ainda, o art. 480 do mesmo diploma: Se no contrato as obrigaes couberem a apenas uma das partes, poder ela pleitear que a sua prestao seja reduzida, ou alterado o modo
  105. 105. de execut-la, a fim de evitar a onerosidade ex- cessiva. Este dispositivo, aplicvel aos contratos unila- terais, permite que o pedido no resulte necessari- amente na resoluo do contrato, mas se conver- ta em um reajuste equitativo da contraprestao. A reviso deve ser escolhida como objetivo prefe- rencial, s admitida pelo juiz a resoluo se aque- la malograr. Malgrado o retrotranscrito art. 478 do Cdigo Civil, concernente aos contratos bilaterais, permi- ta somente a resoluo do contrato, e no a sua re- viso, esta pode, todavia, ser pleiteada com base no art. 317 do mesmo diploma, que estatui: Qu- ando, por motivos imprevisveis, sobrevier des- proporo manifesta entre o valor da prestao devida e o do momento de sua execuo, poder o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possvel, o valor real da presta- o. Muito embora este dispositivo, tendo em vista a sua localizao, possa, num primeiro momento, dar a ideia de que sua finalidade foi apenas a de proteger o credor da prestao que se desvalori-
  106. 106. zou, na verdade a regra se aplica para os dois la- dos: a desproporo manifesta pode ser tanto pela desvalorizao do bem a ser prestado (desvalori- zao da moeda pela inflao, p. ex.), como pela superveniente desvalorizao excessiva da presta- o, quebrando a proporcionalidade entre a que fora convencionada e a que agora deve ser cum- prida, em prejuzo do devedor46 . Em realidade, com base nas clusulas gerais sempre se poder encontrar fundamento para a re- viso ou a extino do contrato em razo de fato superveniente que desvirtue sua finalidade social, agrida as exigncias da boa-f e signifique o enri- quecimento indevido para uma das partes, em de- trimento da outra. Assim, em resumo, as modificaes superve- nientes que atingem o contrato podem ensejar pe- dido judicial de reviso do negcio jurdico, se ainda possvel manter o vnculo com modifica- es nas prestaes (arts. 317 e 479 do CC), ou de resoluo, nos termos dos arts. 317 e 478, a ser apreciado tendo em conta as clusulas gerais so- bre o enriquecimento injusto (art. 884), a boa-f (art. 422) e o fim social do contrato (art. 421), se
  107. 107. houver modificao da base do negcio que sig- nifique quebra insuportvel da equivalncia ou a frustrao definitiva da finalidade contratual obje- tiva47 . Em linha geral, a teoria da impreviso no se aplica aos contratos aleatrios, porque envolvem um risco, salvo se o imprevisvel decorrer de fato- res estranhos ao risco prprio do contrato. A pro- psito, preleciona Ruy Rosado de Aguiar Jnior: No pode haver onerosidade excessiva pelo que corresponder ao risco normal do contrato. Alm disso, e de forma expressa, a lei italiana exclui a aplicao do princpio ao contrato aleatrio (art. 1.469). No Brasil, no entanto, o contrato de ren- da vitalcia admite a resoluo (art. 810 do Cdi- go Civil), e os contratos de seguro tm regulao prpria quanto ao inadimplemento. Em princpio, pois, no seria de excluir a oneros