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Pedro Aguiar doutorando Universidade do Estado do Rio de Janeiro orientadora: Profª. Dra. Sônia Virgínia Moreira Agências de Notícias Brasileiras e Conglomerados de Mídia concentração, convergência e dependência

Agências de Notícias Brasileiras e Conglomerados de Mídia: concentração, convergência e dependência

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Pedro AguiardoutorandoUniversidade do Estado do Rio de Janeiroorientadora: Profª. Dra. Sônia Virgínia Moreira

Agências de Notícias Brasileirase Conglomerados de Mídia

concentração, convergência e dependência

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resumoA pesquisa busca mapear as interconexões corporativas que abrem fluxos de informação (neste caso, de natureza jornalística) entre conglomerados nacionais de mídia e seus congêneres regionais, a partir do aproveitamento do material de “agências” de notícias (revendedoras) dos primeiros nos jornais diários de grupos menores fora do eixo Rio-São Paulo. Depois de catalogadas as “agências” dos grupos de mídia impressa, foram eleitos, tendo como referência a pesquisa “Donos da Mídia”, os jornais diários dos dez maiores conglomerados regionais de comunicação e as agências corporativas dos três maiores jornais brasileiros – Agência Estado (Grupo OESP), Folhapress (Grupo Folha) e Agência O Globo (Infoglobo/Grupo Globo). Deste universo, traça-se um diagrama dos jornais que assinam os serviços de cada agência, na tentativa de verificar se os laços de afiliação em outras mídias – especificamente a TV – se reproduzem no conteúdo de mídia impressa.

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agências de conglomeradoscaracterísticas e lógica comercial:

1) não produzem material original

2) reaproveitam conteúdo (texto e fotos) gerados pelas equipes dos jornais carro-chefe

1) circulam informação internamente entre os próprios veículos do grupo, poupando custos de produção e multiplicando o aproveitamento do conteúdo

2) vendem externamente frações do conteúdo produzido (em proporções variáveis, a depender de diversos fatores como exclusividade da informação jornalística e concorrência, entre outros), capitalizando receita

3) poder reforçado pela convergência e demissões

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agências dos grupos brasileirosQuadro I. Agências de notícias de grupos de mídia brasileiros

Nome Sede Criação Grupo proprietárioDA Press Rio de Janeiro 1931 Diários Associados

Agência JB Rio de Janeiro 1966 CBM (Nelson Tanure)

Agência Estado São Paulo 1970 Grupo OESP (família Mesquita)

Agência O Globo Rio de Janeiro 1974 Infoglobo Comunicações S/A (família Marinho)

FolhaPress São Paulo 1994 Grupo Folha (família Frias)

Agência RBS Porto Alegre 1994 Grupo RBS (família Sirotsky)

Agência O Dia Rio de Janeiro 1998 EJESA/Ongoing

Agência Anhangüera de Notícias

Campinas 2000 Grupo RAC (família Godoy)

Agência Bom Dia Jundiaí/S. Paulo 2006 Cereja Digital

Agência A Tarde Salvador 2007 Grupo A Tarde (família Simões)

Agência Diário do Nordeste *desativada

Fortaleza 2008 Sistema Verdes Mares (família Queiroz)

Agência de Notícias Gazeta do Povo

Curitiba 2009 GRPcom - Rede Paranaense de Comunicação

Agência AG (A Gazeta) Vitória 2010 Rede Gazeta de Comunicações (Carlos Lindenberg)

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jornais dos 10 maiores gruposQuadro II – Jornais dos dez maiores conglomerados brasileiros# jornal grupo regional e proprietários veícul

osafiliação sede UF

1 O Diário de Barretos Organização Monteiro de Barros 1836 Rede Vida Barretos SP

2 Zero Hora RBS (família Sirotsky) 318 Globo Porto Alegre RS

3 Correio Rede Bahia (família Magalhães) 324 Globo Salvador BA

4 O Popular Organização Jaime Câmara 173 Globo Goiânia GO

5 Correio Braziliense Diários Associados 89 SBT Brasília DF

6 Diário do Nordeste Sistema Verdes Mares / Grupo Edson Queiroz

81 Globo Fortaleza CE

7 Gazeta do Povo GRPCom (Rede Paranaense de Comunicação)

55 Globo Curitiba PR

8 Meio Norte Sistema Integrado Meio Norte (f. Guimarães e Sarney)

47 ------ Teresina PI

9 O Estado do Maranhão Sistema Mirante de Comunicação (família Sarney)

46 Globo São Luís MA

10 A Gazeta Rede Gazeta de Comunicações (Carlos Lindenberg)

40 Globo São Luís ES

Fonte: Donos da Mídia, 2014[2006]

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uso das agências pelos jornaisQuadro III – Uso de agências por jornais dos dez maiores grupos brasileiros

Jornal AE AOG FP ABr própria outras (internacionais e nacionais)

*Correio (BA) T, F T T T, F não AFP (só foto)

*Zero Hora (RS) T, F T, F T, F T, F Ag.RBS Reuters (só foto), AFP (T, F), ANGP

*Gazeta do Povo (PR) T, F T, F T, F F ANGP Reuters (T, F), EFE (T, F), Ag.RBS (T)

O Popular (GO) T T T T não AP (T), Reuters (só foto), EFE (F), ANSA, DJ

Correio Braziliense (DF) T F F T DAPress Reuters (T, F), AFP (T, F), ANSA (T)

Diário do Nordeste (CE) T, F T T T, F Ag.DN Reuters (só foto), AFP (T, F), AP (F)

Meio Norte (PI) T, F T, F T, F T, F não Reuters (T, F), AFP (T, F), EFE e ANSA (T)

O Estado do Maranhão T, F T, F F T, F não Reuters (T, F), AFP (só foto)

A Gazeta (ES) T, F T, F F T, F Ag.AG AFP (F), Lance!Press

O Diário de Barretos (SP) T, F - - T, F não -

Legenda: AE = Agência Estado; AOG = Agência O Globo; FP = Folhapress; ABr = Agência Brasil; T = texto; F= foto

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assinantes por agência

Quadro IV – Quantidade de assinantes por agênciaAgência serviço de texto serviço de foto total

Agência Estado 10 assinantes 8 assinantes 10 assinantes

Agência O Globo 8 assinantes 6 assinantes 9 assinantes

Folhapress 6 assinantes 6 assinantes 9 assinantes

Agência Brasil 9 usuários 8 usuários 10 usuários

Reuters 4 assinantes 7 assinantes 7 assinantes

AFP 4 assinantes 7 assinantes 7 assinantes

EFE 2 assinantes 2 assinantes 3 assinantes

ANSA 3 assinantes - 3 assinantes

AP 1 assinante 1 assinante 2 assinantes

OBS: São incluídos apenas os assinantes entre os dez jornais pesquisados.

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agências de conglomerados1) agências extraconglomerados

UP (Scripps)INS (Hearst) UPI (Scripps+Hearst)

2) agências intraconglomeradosTU (Hugenberg)Meridional (Chateaubriand)Media24 (Naspers)

3) agências interconglomeradosAJB (Jornal do Brasil)Agência Estado (OESP)Folhapress (Folha)AOG (Globo)ARBS (RBS)ANGP (GRPCom)

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circularidade e dependênciacircularidade - reprodução de conteúdos originalmente publicados em outros veículos (jornal regional pode ter notícia sua usada como material de apuração para outro texto de um portal de conglomerado nacional, por sua vez distribuído pela respectiva “agência” a seus clientes, inclusive o próprio jornal que originou a matéria)

“Os movimentos circulares da máquina de produção de notícias, apesar de esporadicamente percebido, são, na maior parte, ocultos da atenção dos produtores de notícias – e de seus clientes” (CZARNIAWSKA, 2011: 193)

dependência - jornais menores não têm sucursais nem estrutura própria de cobertura além do território imediato; sem a assinatura das agências estrangeiras e das “agências” dos conglomerados, a imprensa regional tem severamente limitado seu território de cobertura; reforço que o grande capital nacional de mídia oferece aos detentores do poder local, especialmente quando eles mesmos são (ou se ligam a) empresários de imprensa ou concessionários de radiodifusão; demissões recentes reforçam essa relação

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conclusõesAssim, a hipótese inicial da pesquisa, de que os jornais dos grupos regionais seguem a afiliação de seus segmentos audiovisuais, é confirmada pelo fato de os jornais de grupos que têm emissoras afiliadas da Rede Globo usarem também conteúdo da Agência O Globo. Entretanto, não é suficiente para afirmar os laços corporativos que sustentam a circulação de informação em escalas regional e nacional no Brasil, uma vez que o aspecto da “filiação” no segmento impresso – que, como visto, devido à convergência, foi transplantado para o digital – é negligenciado pelos levantamentos atualmente existentes, mas que pode ser indicado por meio das assinaturas de “agências” dos outros dois conglomerados nacionais, OESP e Folha.

A dependência que Boyd-Barrett (1980: 195-198) identificou em escala global é aqui verificada também em escala nacional, ou mais precisamente interregional, com as conexões de fluxos estabelecidas entre centros nacionais do capital (representados pelas agências dos grandes conglomerados, com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro) e as periferias (representadas pelas agências dos grupos de imprensa regional).

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@pedreco

Rio de Janeiro, setembro de 2015