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Análise da Articulação de Esquerda sobre as eleições de 2014 no DF Como método, é essencial analisarmos brevemente a conjuntura internacional e nacional, antes de comentar o nosso quadro regional. Afinal, muitos dos desafios e problemas enfrentados não são oriundos de questões locais. O mundo, hoje, passa por um período de crise econômica contínua. As economias europeias e americanas encontram dificuldades para se recuperar. Mesmo a China e outros países do bloco dos BRICS, desaceleraram no último período. Isto dificultou a nossa economia, já que não encontra um cenário econômico internacional favorável para a nossa pauta de exportações. No Brasil, sofremos de diversas formas o impacto dessa crise econômica. Apesar disso, o Governo Federal no último período, conseguiu enfrentar estas dificuldades mantendo emprego e os avanços sociais conquistados durante os governos de Lula e Dilma. No entanto, vivemos um esgotamento da estratégia de conciliação, pois não é mais possível conciliar os interesses de todas as classes sociais, desde os trabalhadores até a banca internacional. Começou a faltar dinheiro, inclusive para as políticas sociais. Temos visto diversos exemplos de cortes de gastos em âmbito federal e nos estados, Distrito Federal e municípios, que vêm minguar suas fontes de receita e crescer a demanda social por serviços públicos. É na esteira de reivindicações por mais serviços públicos, que o país assistiu e participou do pico de mobilizações de 2013. O que a população disse naquele ano, e que segue dizendo de diferentes formas, é que chegamos a um impasse: o governo petista conseguiu criar, aumentar e melhorar uma série de serviços públicos em diversas áreas, ao mesmo tempo em que fez crescer a economia distribuindo renda. Contudo, esse crescimento não foi acompanhado de uma disputa cultural e ideológica da população, pois foi um processo de conciliação que evitou de todas as formas qualquer tipo de conflito com as classes dominantes. Este aumento do consumo esbarrou em diversos limites. Para citar alguns: o transporte das cidades está cada dia pior e a violência continua piorando. Na saúde, a situação ainda é bastante complicada, tendo em vista a formação dos médicos brasileiros, voltada para o capital. Na educação, temos avanços significativos, mas ainda tropeçamos em problemas de estrutura, concepção, de pedagogia e métodos de ensino e aprendizagem. Isto levou ao fato de que boa parte dos setores beneficiados pelas políticas petistas se virou contra nós. Chamá-los de “coxinhas” não resolve, e tampouco reclamar que a população “é burra e não entende a política”. Quem fizer isso só estará piorando a nossa situação no curto, médio e longo prazo. Não podemos cair no argumento conservador, de viver sob as glórias das conquistas dos últimos anos e culpar os setores da sociedade que não reconhecem o quão melhor somos em relação aos tucanos. Uma forte transição geracional está ocorrendo e a cada dia setores mais amplos da população sequer viveram durante os

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Análise da Articulação de Esquerda sobre as eleições de 2014 no DF

Como método, é essencial analisarmos brevemente a conjuntura internacional e

nacional, antes de comentar o nosso quadro regional. Afinal, muitos dos desafios e

problemas enfrentados não são oriundos de questões locais.

O mundo, hoje, passa por um período de crise econômica contínua. As

economias europeias e americanas encontram dificuldades para se recuperar. Mesmo a

China e outros países do bloco dos BRICS, desaceleraram no último período. Isto

dificultou a nossa economia, já que não encontra um cenário econômico internacional

favorável para a nossa pauta de exportações.

No Brasil, sofremos de diversas formas o impacto dessa crise econômica.

Apesar disso, o Governo Federal no último período, conseguiu enfrentar estas

dificuldades mantendo emprego e os avanços sociais conquistados durante os governos

de Lula e Dilma.

No entanto, vivemos um esgotamento da estratégia de conciliação, pois não é

mais possível conciliar os interesses de todas as classes sociais, desde os trabalhadores

até a banca internacional. Começou a faltar dinheiro, inclusive para as políticas sociais.

Temos visto diversos exemplos de cortes de gastos em âmbito federal e nos estados,

Distrito Federal e municípios, que vêm minguar suas fontes de receita e crescer a

demanda social por serviços públicos.

É na esteira de reivindicações por mais serviços públicos, que o país assistiu e

participou do pico de mobilizações de 2013. O que a população disse naquele ano, e que

segue dizendo de diferentes formas, é que chegamos a um impasse: o governo petista

conseguiu criar, aumentar e melhorar uma série de serviços públicos em diversas áreas,

ao mesmo tempo em que fez crescer a economia distribuindo renda. Contudo, esse

crescimento não foi acompanhado de uma disputa cultural e ideológica da população,

pois foi um processo de conciliação que evitou de todas as formas qualquer tipo de

conflito com as classes dominantes.

Este aumento do consumo esbarrou em diversos limites. Para citar alguns: o

transporte das cidades está cada dia pior e a violência continua piorando. Na saúde, a

situação ainda é bastante complicada, tendo em vista a formação dos médicos

brasileiros, voltada para o capital. Na educação, temos avanços significativos, mas ainda

tropeçamos em problemas de estrutura, concepção, de pedagogia e métodos de ensino e

aprendizagem.

Isto levou ao fato de que boa parte dos setores beneficiados pelas políticas

petistas se virou contra nós. Chamá-los de “coxinhas” não resolve, e tampouco reclamar

que a população “é burra e não entende a política”. Quem fizer isso só estará piorando a

nossa situação no curto, médio e longo prazo.

Não podemos cair no argumento conservador, de viver sob as glórias das

conquistas dos últimos anos e culpar os setores da sociedade que não reconhecem o

quão melhor somos em relação aos tucanos. Uma forte transição geracional está

ocorrendo e a cada dia setores mais amplos da população sequer viveram durante os

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anos neoliberais. Mesmo os setores mais velhos vão ficando distantes da lembrança

sobre o que foi este período.

O antipetismo tem crescido no país, isso é fato, mas ainda assim vencemos as

eleições presidenciais e tivemos resultados positivos em diversos estados, seja vitórias

eleitorais elegendo cinco governadores ou mesmo as vitórias políticas representadas por

candidaturas que agregaram capital político ao partido colocando-o na disputa e

fortalecendo uma opção de esquerda. Cabe registrar aqui, especialmente, a vitória em

Minas Gerais, estado do sudeste com o terceiro maior PIB e a segunda maior população

do país.

Nossa bancada de deputados federais caiu, assim como tivemos queda de

deputados estaduais em vários estados. Todavia, o partido segue com a maior bancada

da Câmara dos Deputados, que se pulverizou mais nesta última eleição. No senado,

seguimos com a segunda maior bancada.

Vale ressaltar que, com todas as dificuldades e questionamentos, o partido

segue forte na inserção nos movimentos sociais e populares, assim como é a referência

para a maioria da população de quem está melhor preparado e tem o melhor programa

para administrar o país, ainda que esta margem seja apertada.

DISTRITO FEDERAL

No DF, viemos de um cenário eleitoral em 2010 que vencemos por larga

vantagem a candidatura rorizista representada pela Weslian Roriz, já que o próprio líder

do clã teve sua candidatura retirada e o antigo governador José Roberto Arruda acabara

de ser cassado e preso. Mesmo a candidatura da terceira via naquele momento foi

representada pelo fraco PSol. Virou consenso no meio político dizer que nós “vencemos

por WO”.

Entretanto, ao invés de realizar um governo arrojado e progressista,

comprometido não somente em governar, mas em conquistar politicamente a maioria da

população do DF, o governador Agnelo e a maioria da direção partidária preferiram

fatiar o governo e conquistar somente os deputados distritais e direções dos outros

partidos. Para piorar, tentou-se cooptar o máximo de deputados e partidos, numa ótica

“stalinista pós-moderna” de tentar fazer com que não houvesse sequer uma oposição ao

nosso governo.

Neste sentido, ficou prejudicado o diálogo com os setores sociais populares

organizados e mesmo com a maioria da população que ainda não e organiza

politicamente. Não havia uma linha política de esquerda, o que se tentou aqui foi a

realização de um governo de total conciliação de classes.

Na comunicação, a estratégia adotada foi a de tentar comprar a mídia burguesa.

Este é um erro primário, pois esta mídia empresarial não está à venda, possui interesses

econômicos e políticos próprios, e mesmo recebendo milhões do nosso governo não

aliviou nas críticas, sendo canal para construir argumentos para nos desconstruir. Não

tentamos construir uma estratégia de comunicação baseada na democratização dos

meios de comunicação, e tampouco trabalhamos para enfraquecer nossos algozes, muito

pelo contrário, os fortalecemos cada vez mais.

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Para piorar a situação, o PT-DF possui poucos quadros qualificados para a

administração pública, e mesmo os quadros qualificados que possui muitas vezes foram

alijados do processo de composição do governo para dar lugar a apadrinhados

completamente desqualificados.

O PT-DF também pouco procurou estudar sobre o Distrito Federal no período

em que esteve na oposição e mesmo quando esteve no governo. Para bem administrar

uma unidade federativa é preciso compreender seu processo de formação histórica, sua

economia, sua população (seu nível cultural, educacional, seus pensamentos), dentre

outros fatores.

Outro problema foi a total fragmentação governamental, cada partido e cada

parlamentar, mesmo os do PT, possuíam um pedaço do governo, e o tratavam como

feudo. A isto se alia o fato de não termos construído um plano geral de governo

coerente, com metas, prazos e responsáveis por seu acompanhamento. Na falta de um

rumo geral, cada área do governo atuava de forma praticamente independente.

Com esta fragmentação e inexistência de uma narrativa geral sobre o governo,

mesmo os avanços administrativos obtidos durante o período em várias áreas foram

submersos na opinião geral de que “o governo não tinha comando” e que a anarquia

imperava.

Também, não se construíram prioridades, seja em relação a obras ou a

aumentos salariais, onde tudo teoricamente é prioridade, nada é prioridade e todos ficam

insatisfeitos. No entanto, não precisamos nos desesperar, afinal o desespero é inimigo

da boa política. Ainda possuímos uma considerável bancada na Câmara Legislativa,

tendo em vista a alta fragmentação desta, e uma parlamentar federal, a deputada Erika

Kokay. Assim como, em nível federal continuamos com uma forte presença nos

movimentos sociais, em especial no sindicalismo.

Precisamos portanto:

- Mudar a política da direção partidária. A política implementada pela atual

direção e mesmo pelas direções que a antecederam, construíram as táticas e estratégias

nos últimos anos que nos trouxeram aonde estamos.

- Discutir abertamente, tanto internamente como com o conjunto com a

sociedade, sobre os erros políticos e administrativos cometidos no último período.

- Realizar uma oposição qualificada ao governo Rollemberg.

- Estudar mais o Distrito Federal. Tanto para realizar a oposição qualificada

como para nos prepararmos para o dia em que eventualmente voltemos a governar o

GDF.

- Qualificar os quadros petistas, para isso temos a nossa fundação partidária, a

Perseu Abramo.

- Aproximar o partido dos movimentos sociais e das lutas que teremos de estar

inseridos no próximo período. Num contexto de recessão mundial e de dificuldades

econômicas em nível nacional e local, certamente ocorrerão grandes disputas

orçamentárias. Como diz o ditado: “farinha pouca meu pirão primeiro”. Precisamos

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mobilizar para que tanto em nível local como nacional o emprego, os salários e as

políticas sociais para a classe trabalhadora sejam prioridade em relação às demandas do

grande empresariado e do setor financista.

Articulação de Esquerda do Distrito Federal