1. Imagens de Guerra Estratgias Polticas no Contexto Meditico: O
conceito de Morte Iminente. Eliana Neves FLUC 2010 2. Introduo: A
Opinio Pblica e a Informao Estratgica
Sculo XVIII
Nova cultura poltica que transfere o centro de autoridade da
vontade exclusiva do rei, que decide sem apelo e em segredo, para o
julgamento de uma entidade que no se encarna em nenhuma instituio,
que debate publicamente e que mais soberana que o soberano (Roger
Chartier)
Opinio Publicada
Tendncia de opinio sobre um assunto de interesse colectivo que
consegue afirmar-se durante um determinado perodo de tempo como
opinio dominante na esfera pblica, mais precisamente no espao
meditico, constituindo-se numa importante fora de aco poltica,
independentemente da sua coincidncia com um sentimento generalizado
ou maioritrio da populao. (Telmo Gonalves).
Conceito Original de Opinio Pblica
Conceito Actual de Opinio Pblica
3. Trs Concepes de Opinio Pblica
1. Opinio pblica enquanto opinio veiculada pelos media;
2. Opinio pblica enquanto sentimento generalizado;
3. Opinio pblica enquanto instrumento de retrica pertinente no
exerccio do discurso poltico.
4. O Jogo Poltico - Meditico
A corrida aos meios de comunicao por parte das foras polticas
um dos grandes factores de mudana no conceito tradicional de opinio
pblica.
Exemplos possveis
Pseudo Acontecimentos
Agendamento
Sondagens
5. O Fotojornalismo de Guerra
Fotografia: Ideia da imagem real (sculo XIX).
Os avanos tcnicos atribuam fotografia o papel principal na
documentao da verdade
Comeam-se a dar os primeiros passos em direco ao
fotojornalismo, surgindo logo em seguida a ideia de fotojornalismo
de guerra.
guerra era conferida uma certa ateno artstica (Jorge Pedro
Sousa).
O envolvimento das grandes potncias nos conflitos, formava aos
poucos um pblico forte para a reportagem ilustrada.
6. Fotojornalismo de Guerra
Guerra: Tema Privilegiado
Primeira cobertura: Guerra da Crimeia (1854/1855)
Roger Fenton convidado por Thomas Agnew
As imagens centravam-se soldados e oficiais, muitas vezes em
pose, ou ento em meros campos de batalha limpos de cadveres.
Espcie de censura prvia ao fotojornalismo
7.
Segunda Cobertura: Guerra da Secesso
Primeira ocasio da histria em que os "fotojornalistas" correram
verdadeiramente perigo de morte;
Nesta Guerra, os fotojornalistas tiveram do seu lado a
curiosidade de um pblico muito mais exigente;
Leitores queriam ser tambm observadores visuais, atravs do
realismo inerente lente de uma cmara.
Factor tempo: foto revelada tinha de se tornar imediatamente
foto publicada.
Actualidade enquanto critrio de noticiabilidade fulcral.
8.
Perda da dimenso herica da guerra
Valorizao do real; doutrina do instante.
Procura de sensaes.
9. O Conceito de Morte Iminente
1993: Guerra da Somlia
Quando surgiram imagens de um soldado americano a ser arrastado
pelas ruas de Mogadscio, considerou-se ter existido uma mudana de
poltica por parte das autoridades.
O impacto das imagens foi invocado em larga escala como
incentivo para o retirar das tropas americanas na Somlia.
10.
Guerra do Iraque:
Na interveno americana ao Iraque, a proibio feita pela
administrao de Bush de mostrar os caixes dos militares mortos, foi
justificada com base no facto dessa exibio denotar alguma
insensibilidade para com as famlias dos soldados.
Esta posio revelou-se contrria opinio pblica, contudo, a
postura da administrao manteve-se.
11.
Morte Iminente: Entendimento sinedquicomemorvel para uma
variedade de acontecimentos pblicos complexos ( Barbie Zeller
).
Enquadramento icnico e iminente.
Aparece frequentemente nas noticias, reaparecendo depois no
mbito de retrospectivas, edies de aniversrio, discutida em artigos,
colunas de provedor e fruns pblicos.
Veculo controverso para a transmisso de informao: identificao
subjectiva.
12. O Afeganisto sobre o Prisma da Morte Iminente
1990: Emergncia dos talibs
Execuo violenta de cidados inocentes, em locais pblicos, por
todo o pas.
As notcias americanas procuravam divulgar essas execues
Fotografias de cidados afegos pendurados em gruas e postes de
sinalizao, praas pblicas transformadas em frum para a exibio pblica
de espancamentos, mutilaes, enforcamentos e mortes a tiro.
13.
1996: Assassnio de Najibullah
Os registos do corpo desfigurado do antigo presidente reforaram
a intensidade do debate acerca do papel dos Estados Unidos enquanto
protector dos que pediam asilo.
As imagens deste gnero, relatos inequvocos de mortes provocadas
pelos talibs, foram continuamente divulgadas at meados de 2001,
altura em que as tropas americanas invadem o Afeganisto.
14.
Guerra do Afeganisto
Terreno propcio obteno de imagens de morte iminente.
Trs tipos diferentes:
1. Supostas mortes e paisagens devastadas;
2. Circunstncias concretas;
3. Imagens meramente simblicas
15.
Novembro de 2001: Polmica associao Aliana do Norte.
Assassinatos, por parte das foras da Aliana do Norte, aos
soldados talibs feridos que procuravam render-se.
Perseguio tambm a rabes, paquistaneses e tchetchenos.
Protestos por parte do Comit Internacional da Cruz Vermelha, de
outros governos e dos media internacionais (devido s aces dos
soldados da Aliana do Norte e da falta de resposta por parte dos
EUA).
Opo pela imagem da morte iminente ao invs da divulgao dos
homicdios cometidos por talibs.
16.
Embora estes se assemelhassem queles cujos registos haviam sido
publicados em 1991, divulgaram-se desta feita verses comedidas de
morte iminente, na medida em que a sua exibio no foi feita em vrios
momentos, nem tiveram lugar em muitas capas de jornais.
Eram assim classificadas por tambm focarem o momento da morte
iminente, bem como a emoo e o medo a ela associados. Tendiam muitas
vezes a estar mal classificadas, legendadas e
contextualizadas.
Os diferentes tratamentos fotogrficos evidenciavam mentalidades
estratgicas invertidas (Barbie Zeller).
17. O Caso Daniel Pearl
Daniel Pearl : Jornalista do Wall Street Journal raptado a 23
de Janeiro de 2002.
Deixou de ser conhecido o seu paradeiro at 27 de Janeiro,
altura em que alguns jornais, receberam um e-mail com quatro
fotografias de Pearl , inclusive uma que o retratava com uma arma
apontada cabea, bem como outra que o mostrava a segurar um exemplar
do jornal paquistans Dawn.
18.
O e-mail seguinte, continha uma fotografia adicional que o
mostrava algemado e estipulava a sua execuo no caso de no serem
satisfeitas as exigncias dos raptores:
A libertao dos combatentes talibs do Afeganisto, a pedido do
Movimento Nacional para a Restaurao da Soberania Paquistanesa
19.
Um terceiro e-mail, enviado a 31 de Janeiro, adiava a execuo
por um dia. A 1 de Fevereiro, a CNN e a Fox News receberam a notcia
da morte do reprter.
Histria de um homem beira da morte.
Quem esperava noticias do seu desfecho, observava com apreenso
o rumo dado cobertura dos acontecimentos
Publicao de um artigo de Andrew Duffy para o Ottowa Citizen a 1
de Fevereiro de 2002: Famlia, amigos e colegas do jornalista
americano Daniel Pearl esperam ansiosamente notcias da sua sorte
hoje, quando expira o prazo dado pelos raptores no Paquisto para a
sua execuo.
20.
Em Maio de 2002 surge um vdeo da execuo do jornalista.
Quando o jornal Boston Phoenix, em Junho, divulgou as imagens
do vdeo foi acusado da prtica de sensacionalismo, evidenciando
falta de bom senso e de sensibilidade para com a famlia de
Pearl.
A cobertura noticiosa da publicao feita pelo Boston Phoenix foi
curiosamente ilustrada com as imagens do reprter ainda em
cativeiro.
21. Em suma
As fotografias de Daniel Pearl traduzem um momento tpico de
morte evidente.
Exaustivamente difundidas em variados jornais, as imagens do
reprter capturado ao invs da exibio da execuo em si, tornaram-se
emblemticas no contexto da guerra do Afeganisto, tendo continuado a
ilustrar a histria mesmo depois da sua morte.
22.
A visualizao do assassnio de um jornalista pelo lado inimigo,
em tudo encaixava na guerra ao terror levada a cabo pelos Estados
Unidos.
A concentrao no destino de Daniel Pearl manteve o pblico
americano envolvido, atento e vulnervel a objectivos
estratgicos.
23. Concluses
A evoluo das novas tecnologias, conferiu s imagens veiculadas
pelos meios de comunicao um importante papel no jogo poltico
estratgico.
A cobertura meditica de guerra ocorre mediante um consenso de
interesses.
Quando a manuteno de guerra no se coaduna com os objectivos
estratgicos, comeam a ouvir-se as primeiras teorias que apontam a
desigualdade na utilizao das imagens de morte.
24.
A polmica ligao entre os Estados Unidos e a Aliana do Norte foi
claramente retratada em fotografias de morte iminente de
talibs.
As imagens veiculadas apenas realavam estas preocupaes,
agravadas pelo rapto e assassnio de jornalista Daniel Pearl.
O caso Pearl veio legitimar a guerra ao terror que h muito se
procurava travar.
25.
Corrida pela imagem perfeita para a consolidao dos objectivos
estratgicos;
Despreza-se cada vez mais a imagem concreta, reveladora de uma
realidade qual tentamos escapar.
As palavras associadas divulgao dos acontecimentos ilustrados,
apenas valem pelo perigo da descontextualizao.
26. Bibliografia
Obras
GIROUX Henry A. Para alm do espectculo do terrorismo: A
Incerteza Global e o desafio dos novos media. Edies Pedago ,
2006.
RIEFFEL Rmy . Sociologia dos Media, Coleco Comunicao, Porto
Editora, volume 3, 2003.
RODRIGUES Lus Nuno e Fernando Martins ( ed ). Histria e Relaes
Internacionais: temas e debates (Actas do Ciclo de
Conferncias)Lisboa, Edies Colibri CIDEHUS-EU, 2004.
Revistas
Comunicao e Cultura, Mediatizao da Dor, volume 5, 2008.
Artigos
Andrew Duffy, Kidnappers Deadline Expires for U.S. Reporter,
OttowaCitizen, 1 Fev ., 2002, A11.
Barbie Zeller , Morte em tempo de Guerra. Fotografias e a outra
guerra do Afeganisto, Comunicao e Cultura, n 5, 2008, pp.
21-54.
Sites
Http://www.jtm.com.mo/view.asp?dT=257608100(consultado a
30/05/2010).
Http://www . bocc.ubi.pt/.../ sousa - jorge - pedro
-historia_fotojorn1.html (consultado a 30/05/2010).