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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE ACÓRDÃO: 200911928 MANDADO DE SEGURANÇA 0261/2007 PROCESSO: 2007116762 RELATOR: DES. OSÓRIO DE ARAÚJO RAMOS FILHO IMPETRANTE ESTADO DE SERGIPE Advogado(a): MARCIO LEITE DE REZENDE IMPETRADO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SERGIP Advogado(a): DANILO ALMEIDA TAVARES DE LIMA EMENTA MANDADO DE SEGURANÇA PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE ATIVA DO ESTADO DE SERGIPE, INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA E IMPOSSIBILIDADE DE MANDADO DE SEGURANÇA COMO SUCEDÂNEO DE AÇÃO DE COBRANÇA REJEITADAS DELIMITAÇÃO DO OBJETO DA DEMANDA DECISÃO ADMINISTRATIVA QUE DETERMINOU A EXCLUSÃO DOS GASTOS COM INATIVOS E PENSIONISTAS DO LIMITE TOTAL DE DESPESAS COM PESSOAL, BEM COMO O PAGAMENTO DA CONTRIBUIÇÃO PATRONAL DOS INATIVOS E PENSIONISTAS ALEGAÇÃO DE IMPEDIMENTO/SUSPEIÇÃO DOS CONSELHEIROS REJEITADA CONCESSÃO DA SEGURANÇA. A legitimidade ativa do Estado de Sergipe foi reconhecida, por maioria de votos, através do Acórdão nº 4609/2008. A complexidade dos fatos não impede sua apreciação via Mandado de Segurança. Neste não pode haver dilação probatória, sendo apreciadas as provas trazidas na inicial e nas informações. O Impetrante não está requerendo o pagamento de valores pecuniários, o que afasta a vedação da Súmula 269 do STF. O art. 54 da LC 101/2000 prevê a necessidade de realização de Relatório de Gestão Fiscal, não podendo esse ser confundido com Prestação de Contas. Os valores gastos com inativos devem ser excluídos do montante que servirá para a apuração do limite total de despesas, mas aqueles com pensionistas e aposentados continuarão sendo computados como despesas de pessoal. O custeio do RPPS/SE deve ser repartido entre os segurados e o Estado, através de seus Órgãos e Poderes. O pagamento da contribuição patronal é de responsabilidade da empresa, no caso, órgão, ao qual o servidor está vinculado. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos do presente Mandado de Segurança, ACORDAM, por unanimidade, em sua constituição plenária, sob a Presidência do Excelentíssimo Sr. Desembargador Cezário Siqueira Neto, em CONCEDER A SEGURANÇA, nos termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integrante deste julgado. Aracaju/SE, 16 de Dezembro de 2009. DES. OSÓRIO DE ARAÚJO RAMOS FILHO RELATOR

Decisão TJ acerca de inativos do TCE

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE ACÓRDÃO: 200911928MANDADO DE SEGURANÇA 0261/2007PROCESSO: 2007116762RELATOR: DES. OSÓRIO DE ARAÚJO RAMOS FILHOIMPETRANTE ESTADO DE SERGIPE Advogado(a): MARCIO LEITE DE REZENDE

IMPETRADO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DOESTADO DE SERGIP

Advogado(a): DANILO ALMEIDA TAVARESDE LIMA

EMENTA MANDADO DE SEGURANÇA ­ PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADEATIVA DO ESTADO DE SERGIPE, INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA EIMPOSSIBILIDADE DE MANDADO DE SEGURANÇA COMOSUCEDÂNEO DE AÇÃO DE COBRANÇA ­ REJEITADAS ­DELIMITAÇÃO DO OBJETO DA DEMANDA ­ DECISÃOADMINISTRATIVA QUE DETERMINOU A EXCLUSÃO DOS GASTOSCOM INATIVOS E PENSIONISTAS DO LIMITE TOTAL DEDESPESAS COM PESSOAL, BEM COMO O PAGAMENTO DACONTRIBUIÇÃO PATRONAL DOS INATIVOS E PENSIONISTAS ­ALEGAÇÃO DE IMPEDIMENTO/SUSPEIÇÃO DOS CONSELHEIROS ­REJEITADA ­ CONCESSÃO DA SEGURANÇA. ­ A legitimidadeativa do Estado de Sergipe foi reconhecida, por maioria devotos, através do Acórdão nº 4609/2008. ­ A complexidade dosfatos não impede sua apreciação via Mandado de Segurança.Neste não pode haver dilação probatória, sendo apreciadas asprovas trazidas na inicial e nas informações. ­ O Impetrante nãoestá requerendo o pagamento de valores pecuniários, o queafasta a vedação da Súmula 269 do STF. ­ O art. 54 da LC101/2000 prevê a necessidade de realização de Relatório deGestão Fiscal, não podendo esse ser confundido com Prestaçãode Contas. ­ Os valores gastos com inativos devem serexcluídos do montante que servirá para a apuração do limitetotal de despesas, mas aqueles com pensionistas e aposentadoscontinuarão sendo computados como despesas de pessoal. ­ Ocusteio do RPPS/SE deve ser repartido entre os segurados e oEstado, através de seus Órgãos e Poderes. ­ O pagamento dacontribuição patronal é de responsabilidade da empresa, nocaso, órgão, ao qual o servidor está vinculado.

ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos do presente Mandado de Segurança, ACORDAM, porunanimidade, em sua constituição plenária, sob a Presidência do Excelentíssimo Sr. DesembargadorCezário Siqueira Neto, em CONCEDER A SEGURANÇA, nos termos do voto do Relator, que fica fazendoparte integrante deste julgado.

Aracaju/SE, 16 de Dezembro de 2009.

DES. OSÓRIO DE ARAÚJO RAMOS FILHORELATOR

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RELATÓRIO O ESTADO DE SERGIPE impetrou MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO LIMINAR contra ato doPRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SERGIPE, Conselheiro Heráclito GuimarãesRollemberg, objetivando a nulidade da Decisão de nº 16658, proferida pelo Tribunal de Contas doEstado, nos autos da Tomada de Conta nº 01825/2007, datada de agosto de 2007 (fls. 223/230).Disse, em síntese e sem prejuízo do principal, que ao analisar suas próprias contas, o TCE decidiu quea partir de fevereiro de 2006, não mais integrariam as despesas de pessoal do referido Tribunal, osdispêndios realizados com inativos, pensionistas e respectivas contribuições patronais, para efeitos deapuração do índice de comprometimento da Receita Líquida do Estado; que já houve a comunicaçãoda interrupção do pagamento da contribuição patronal dos inativos e pensionistas; que ao PoderJudiciário cabe tanto o controle da legalidade quanto da legitimidade dos atos administrativos; queapesar de suportar o ônus da ausência de pagamento, não foi notificado da decisão contra a qual serecorre; que mensalmente, o Poder Executivo tem que fazer aporte para custear os benefíciosprevidenciários; que do mesmo jeito que a Constituição não prevê a contribuição para os inativos,também não prevê para os ativos; que as contribuições devem garantir o equilíbrio financeiro eatuarial do regime previdenciário; que o Impetrado tem a competência de fazer cumprir o equilíbriofinanceiro e atuarial do Regime; que a decisão guerreada afronta princípios constitucionais etributários. Ainda, que o RPPS foi declarado implantando em 2006 (Decreto Estadual nº 24.041),sendo que antes de sua implantação, a responsabilidade pelo pagamento das pensões eaposentadorias ficava a cargo de cada órgão ou Poder; que é dever dos órgãos e Poderescomplementar o pagamento do plano de benefícios dos inativos e pensionistas a eles vinculados,quando as receitas do RPPS não forem suficientes; que o Impetrado continuou pagando diretamenteaos inativos e pensionistas até fevereiro de 2007, não havendo que se falar em repetição dos valorespagos a partir de fevereiro de 2006; que as contas do Tribunal de Contas devem ser analisadas pelaAssembléia Legislativa; que o procedimento de fiscalização (inspeção) efetuado, encontra­se viciado,por não ter sido garantido o contraditório e a ampla defesa ao Estado de Sergipe; que o pagamentocom os inativos e pensionistas pelo próprio Tribunal de Contas estava previsto nos orçamentos de2006 e 2007; que o RPPS somente foi implementado em 2006; que o § 4º, do art. 149 da Lei do RPPSfoi revogado pela LC 143; que o Impetrado não tem competência para alterar a Lei deResponsabilidade Orçamentária (LDO), nem para sustar ou excluir a cobrança de tributo eautodeterminar a repetição de indébito; que a contribuição patronal dos segurados do RPPS é espéciede tributo, instituído pela LC 113/2005, não podendo o TCE discutir sobre sua constitucionalidade; quedois dos sete Conselheiros são impedidos para julgar as contas do TCE; que sendo considerado oimpedimento, não havia quorum para o julgamento das contas do Tribunal, sendo nula a decisão oracombatida; que as despesas originárias do pagamento de estipêndios e contribuições previdenciárias,dos ativos, inativos e pensionistas da Administração Pública, integram o conceito de despesa totalcom pessoal. Requereu a concessão da segurança para suspender os efeitos da Decisão do TC de nº16658 e para que: a) o Impetrado continue a arcar com o pagamento dos valores referentes àcontribuição patronal incidente sobre a remuneração de contribuição dos seus segurados inativos epensionistas; b) declare indevida a repetição do indébito de pagamentos e proventos, pensões econtribuições. Reservei­me para analisar o pedido liminar após a manifestação do Impetrado. Às fls.377/378 o Estado de Sergipe insurgiu­se contra essa decisão. Em decisão monocrática, decidi pelailegitimidade do Estado de Sergipe para funcionar no feito, fls. 380/384. O então Presidente doTribunal de Contas do Estado de Sergipe, Conselheiro Heráclito Guimarães Rollemberg apresentouinformações, fls. 385/396. Disse, preliminarmente, da ilegitimidade ativa do Estado de Sergipe; que oMandado de Segurança não é a via adequada quando a solução do caso envolve exame de matériafático­probatória e que o writ não é sucedâneo da Ação de Cobrança. No mérito, que não háobrigatoriedade para o TCE fazer a cobrança da contribuição patronal sobre os inativos e pensionistas;que apenas avaliou resultado de auditoria realizada pelo TCE; que os Conselheiros não estãoimpedidos de funcionar no processo administrativo; que o IPESPREVIDÊNCIA é o responsável pelopagamento dos inativos e pensionistas, bem como da respectiva contribuição patronal. O Estado deSergipe apresentou Agravo Regimental à decisão que reconheceu a sua ilegitimidade para figurar nopólo ativo da demanda, fls. 444/458. Por maioria de votos, foi o Agravo Regimental conhecido eprovido, para reconhecer a legitimidade ativa do Estado de Sergipe, Acórdão nº 4609/2008, fls.464/473, da lavra da Desa. Marilza Maynard Salgado de Carvalho, porque restei vencido na matéria.Votos vencidos, fls. 474/480, proferidos pelo Des. Roberto Eugenio da Fonseca Porto, por estaRelatoria e pela Juíza Convocada Rosalgina Almeida Prata Libório. Concedida a medida liminar, fls.483/485. Manifestação do Impetrante, fls. 488/490, requerendo a procedência integral do pleito, coma confirmação da liminar deferida, com as cominações de estilo. Após deferimento da cotapromotorial, fls. 495/196, o presente feito foi apensado ao MS nº 0205/2007, fls. 498. A Procuradoriade Justiça, através do Dr. Rodomarques Nascimento opinou pela denegação da segurança, fls.

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508/522. É o relatório.

VOTO

Des. OSÓRIO DE ARAÚJO RAMOS FILHO (Relator): Tratam os autos de Mandado de Segurança compedido liminar, impetrado pelo Estado de Sergipe contra ato do então Presidente do Tribunal deContas do Estado de Sergipe, Conselheiro Heráclito Guimarães Rollemberg, objetivando aobrigatoriedade do Impetrado em arcar com o pagamento dos valores referentes à contribuiçãopatronal incidente sobre a remuneração de contribuição dos seus segurados inativos e pensionistaspara o regime Próprio de Previdência Social (RPPS), bem como declarar como indevida a repetição doindébito de pagamentos de proventos, pensões e contribuições. A Decisão da Corte de Contas, oracombatida e tombada sob nº 16658­Plenária, datada de agosto de 2007, esta assim ementada:Despesas com Pessoal Inativo e Pensionistas e respectivas Contribuições Patronais, anteriormentevinculadas a este Tribunal, não integram sua despesa de pessoal, para efeito de apuração do índicede comprometimento da Receita Líquida do Estado (fls. 223). A sua conclusão tem a seguinteredação: DECIDE O TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SERGIPE, no uso de suas atribuiçõesconstitucionais e legais, em Sessão Plenária realizada em 16.08.2007, por unanimidade de votos,JULGAR que, a partir de fevereiro de 2006, não integram as Despesas de Pessoal desta Corte osdispêndios realizados com inativos, pensionistas e respectivas Contribuições Patronais, anteriormentea ela vinculados, para efeito de apuração do índice de comprometimento da Receita Líquida doEstado, nos termos do §1º art. 19 da Lei Complementar Federal nº 101/2000, efetivando­se asseguintes correções no Relatório de Gestão Fiscal/Demonstrativo da Despesa de Pessoal: a) Exclusãodas quantias relativas ao pagamento com inativos e pensionistas na competência de janeiro de 2007;b) Exclusão das despesas em todas as competências, a partir de fevereiro/2006, referentes acontribuição patronal sobre inativos e pensionistas promovendo­se as alterações orçamentárias eestornando­se os lançamentos contábeis indevidos requeridos para que a contabilidade espelhe,estritamente, as responsabilidades advindas da legislação. Seja notificando o IPES/Previdência paraque não faça mais a cobrança de tal exação ao Tribunal de Contas do Estado de Sergipe (fls. 229).PRELIMINARES DA ILEGITIMIDADE ATIVA DO ESTADO DE SERGIPE Alegou o Impetrado a ilegitimidadedo Estado de Sergipe para figurar no pólo ativo da ação, sendo competente o IPESPREVIDÊNCIA. Emdecisão de fls. 380/384, decidi pela extinção do processo, sem resolução do mérito, por reconhecer aausência de condição de ação, qual seja, ilegitimidade ativa. Contra essa decisão, o Estado deSergipe apresentou Agravo Regimental o qual foi julgado, por maioria de votos, reconhecendo alegitimidade do Estado de Sergipe, ora Impetrante na qualidade de autor da ação mandamental. Adecisão foi assim ementada: Processo civil ­ Agravo regimental em mandado de segurança originário­ Decisão monocrática extinguindo o processo sem julgamento do mérito, por ilegitimidade ativa ­Contribuição patronal incidente sobre remuneração dos inativos e pensionistas do Tribunal de Contasdeste Estado ­ Ato administrativo de controle, ratificado pelo Presidente daquela Corte de Contas ­Perigo de desequilíbrio atuarial financeiro do IPESPREVIDÊNCIA ­ Situação sui generis ­ Possibilidadedo Estado de Sergipe ser responsabilizado, pois é o destinatário das sanções previstas em lei ­ Partelegítima para figurar na presente demanda. I ­ Apesar da autarquia ­ IPESPREVIDÊNCIA ­ possuirpersonalidade jurídica própria, autonomia administrativa e financeira, tendo, assim, legitimidade adcausam ativa e passiva em demandas envolvendo contribuição dos inativos, no caso em tela, asituação é sui generis, diante do perigo de desequilíbrio atuarial financeiro da citada autarquia,podendo a Fazenda Pública também ser responsabilizada por tais débitos. II ­ A atitude do Tribunal deContas Estadual atinge o equilíbrio atuarial e financeiro do Regime Próprio de Previdência Social e,por conseqüência, pode afetar diretamente o Estado de Sergipe, pois é destinatário das sançõesprevistas em lei, o que o torna parte legítima para pleitear a presente demanda; III ­ Recursoconhecido e provido para considerar o Estado de Sergipe parte legítima na presente demanda,devendo o feito ter seu prosseguimento normal (Acórdão nº 4609/2008, relatora designada Desa.Marilza Maynard Salgado de Carvalho, 14.07.2008). Apesar de ser voto vencido, a preliminar deilegitimidade ativa do Estado de Sergipe, argüida pela autoridade apontada coatora não pode serreapreciada, considerando o Acórdão nº 4609/2008 acima transcrito, proferido em 18.06.2008. Assim,encontra­se prejudicada referida preliminar. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA PARA DISCUSSÃO SOBREMATÉRIA DE FATO Alegou, ainda, a autoridade impetrada a necessidade de extinção do processo, pornão ser o Mandado de Segurança a via adequada para decidir questões de fato, que demandam umcontraditório, utilizando a Súmula 07 do Superior Tribunal de Justiça como um dos fundamentos paraessa impossibilidade. De início, observa­se que o fato da questão ser complexa, não impede autilização do Mandado de Segurança para resolvê­la. Além do mais, não há óbice para a apreciaçãode questão fática em Mandado de Segurança, desde que presentes as provas necessárias para odeslinde da questão. Nesse sentido ensina Hely Lopes Meirelles, verbis: Quanto à complexidade dosfatos e à dificuldade da interpretação de normas legais que contêm o direito a ser reconhecido ao

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impetrante, não constituem óbice ao cabimento do mandado de segurança, nem impedem seujulgamento de mérito. Isto porque, embora emaranhados os fatos, se existe o direito, poderá surgirlíquido e certo, a ensejar a proteção reclamada. Bem por isso, já decidiu o TJSP que: As questões dedireito, por mais intrincadas e difíceis, podem ser resolvidas em mandado de segurança (in Mandadode Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado de Injunção, Habeas Data, Ação Direta deInconstitucionalidade, Ação Declaratória de Constitucionalidade, Arguição de Descumprimento dePreceito Fundamental, O Controle Incidental de Normas no Direito Brasileiro, A RepresentaçãoInterventiva e a Reclamação Constitucional no STF, 29ª edição, Malheiros, São Paulo, 2006, pág. 38).Assim, não há impedimento para a utilização do mandamus quando o fato gerador da impetraçãodemonstrar complexidade ou mesmo quando demandar a análise de situações fáticas e de provasconcretas. O que importa, é que não há instrução probatória, devendo o alegado direito líquido ecerto ser demonstrado de plano pela parte autora. O que há é uma complementação para aapresentação de informações pela autoridade tida como coatora e a manifestação do MinistérioPúblico. Além do mais, a Súmula 07 do Superior Tribunal de Justiça, citada pela AutoridadeImpetrada, impede o reexame de matéria fática em sede de Recurso Especial, perante aqueleTribunal Superior, conforme abaixo se observa: A PRETENSÃO DE SIMPLES REEXAME DE PROVA NÃOENSEJA RECURSO ESPECIAL. Não é aplicável, portanto, ao caso concreto. Logo, rejeito ditapreliminar, motivadamente. EXTINÇÃO DO PROCESSO POR NÃO SER O MANDADO DE SEGURANÇASUCEDÂNEO DA AÇÃO DE COBRANÇA Também não tem razão de ser a referida preliminar,considerando que o pedido formulado pelo Estado de Sergipe Impetrante não é de recebimento devalores, mas sim, a anulação de uma decisão administrativa do Tribunal de Contas do Estado deSergipe que determinou, dentre outras coisas, o estorno dos lançamentos contábeis indevidos e anotificação do Autor para que não fizesse mais a cobrança da contribuição patronal ao TCE. Assim,vê­se que não há qualquer impedimento para a utilização do Mandado de Segurança, objetivandosolucionar a presente questão. Rejeito também, de forma motivada, a referida preliminar. MÉRITO Deinício, é imperioso delimitar o objeto do presente mandamus. Na petição inicial apresentada peloEstado de Sergipe, foram levantados vários fundamentos e fatos, sendo o pedido final assimformulado, verbis: IV ­ que, ao final, seja concedida a segurança, determinando­se a obrigatoriedadedo Tribunal de Contas em arcar com o pagamento dos valores referentes á contribuição patronalincidente sobre a remuneração de contribuição dos seus segurados inativos e pensionistas,possibilitando o equilíbrio financeiro e atuarial do RPPS, conseqüentemente diminuído o aporte doPoder Executivo, bem como declarar como indevida a repetição do indébito de pagamentos deproventos, pensões e contribuições, pelas razões apresentadas (fls. 48). Sabe­se que o Juiz não podeanalisar, além ou aquém do pleiteado pelas partes, sob pena de ser proferida decisão extra ,supra ouultra petita. Assim, o meu voto vai usar como limite padrão, o pedido formulado pelo EstadoImpetrante e acima transcrito. Alegou o Impetrante a suspeição/impedimento dos ConselheirosAntônio Manoel de Carvalho Dantas e Heráclito Rollemberg, por terem os mesmos proferidopronunciamentos, com juízo de valor, em relação ao objeto da ação mandamental, antes da prolaçãoda decisão ora impugnada. Como conseqüência, o reconhecimento da suspeição/impedimento deles,é, a ausência de quorum para o julgamento da decisão do TCE. As causas de suspeição eimpedimento estão disciplinadas nos artigos 134 e 135 do Código de Processo Civil e ocorrem quandoa parcialidade do Julgador é atingida. No caso dos autos, o Estado de Sergipe alegou que os doisConselheiros acima mencionados não podiam participar da decisão do TC nº 16658, por teremproferido ... pronunciamentos enfáticos, com juízos de valores e provocativos da autojurisdição doTCE, todos proferidos antes da decisão do Pleno (fls. 39). Acontece que nenhum desses fatos foiefetivamente demonstrado nos autos, o que impede o acolhimento da alegação formulada. Assim,afastada a alegação de suspeição/impedimento dos dois Conselheiros mencionados, cai por terra aalegação de ausência de quorum para a decisão da Corte de Contas. Vale lembrar que o Mandado deSegurança é ação de cunho constitucional, onde a prova pré­constituída é norte fundamental. Nãohavendo prova nos autos do que fora alegado pela parte, inacolhe­se o pleito. No que diz respeito apossibilidade do Tribunal de Contas analisar suas próprias contas, vejo que a decisão proferida pelaCorte Especial do Estado e agora impugnada, não se trata de Prestação de Contas, mas de Relatóriode Gestão Fiscal, como determinado no art. 54 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000),podendo seu descumprimento ser enquadrado como infração administrativa. Assim, lecionaramCarlos Pinto Coelho Motta e Jorge Ulisses Jacoy Fernandes, verbis: O RGF deverá ser emitido pelostitulares dos Poderes e órgãos referidos no art. 20, e o descumprimento de sua divulgação ou de seuenvio ao Poder Legislativo ou ao Tribunal de Contas constitui infração administrativa (art. 5º da Lei10.028/00). Aplica­se ademais ao ente inadimplente a sanção prevista no art. 51, § 2º, da LRF (inResponsabilidade Fiscal, Lei Complementar 101 de 4/5/2000, Editora Del Rey, 2ª edição, BeloHorizonte, 2001, pág. 413). Da mesma forma, nas informações prestadas, a autoridade apontadacomo coatora esclareceu que a Decisão objurgada não se referia a prestação de contas, cuja análiserealmente cabe à Assembléia Legislativa do Estado. Disse o Impetrado: Também não houveusurpação de competência da Assembléia Legislativa já que: a) Como o próprio Mandado deSegurança aduz, tem o Tribunal de Contas competência para fiscalizar os entes jurisdicionados, ou

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seja, realizar auditorias e inspeções; e, por dever de isonomia, tal fiscalização se estende ao próprioTribunal de Contas. b) Ademais, não se trata de julgar as próprias contas [o processo não julgoucontas do TC/SE], mas sim de avaliar o resultado de tal auditoria (fls. 394). Não é demais lembrar,que as informações prestadas pela autoridade coatora gozam de presunção relativa de legalidade, aqual não foi afastada pelo Estado Impetrante. Com relação ao tema, inclusão das despesas cominativos e pensionistas no conceito de despesas total com pessoal do órgão, observo que o limite coma despesa de pessoal é disciplinado no caput do art. 169 da Constituição Federal quando diz, verbis:Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dosMunicípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar. E esse limite estáfixado na Lei Complementar nº 101/2002, que estabelece normas sobre finanças públicas voltadaspara a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências, especificadamente nos artigos 18 e19. O primeiro deles define todos os gastos considerados como despesa total com pessoal. Já o art.19 traz os limites percentuais com essas despesas para cada unidade da Federação brasileira. A LeiComplementar nº 101/2005 condensa, em seus artigos 18 e 19 as definições e limites com despesasde pessoal quando diz: Art. 18. Para os efeitos desta Lei Complementar, entende­se como despesatotal com pessoal: o somatório dos gastos do ente da Federação com os ativos, os inativos e ospensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e demembros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens,fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais,gratificações, horas extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais econtribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência. (...) § 2o A despesa total com pessoalserá apurada somando­se a realizada no mês em referência com as dos onze imediatamenteanteriores, adotando­se o regime de competência. Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art.169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente daFederação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:(...) § 1o Na verificação do atendimento dos limites definidos neste artigo, não serão computadas asdespesas: (...) VI ­ com inativos, ainda que por intermédio de fundo específico, custeadas porrecursos provenientes: a) da arrecadação de contribuições dos segurados; b) da compensaçãofinanceira de que trata o § 9o do art. 201 da Constituição; c) das demais receitas diretamentearrecadadas por fundo vinculado a tal finalidade, inclusive o produto da alienação de bens, direitos eativos, bem como seu superávit financeiro. Em uma primeira vista, pode­se pensar que há umaantinomia entre as duas regras acima transcritas. Mas não há. Interpretando­as teleologicamente,chega­se à conclusão de que as despesas com os inativos devem ser consideradas para fins deescrituração, como gastos com pessoal, não sendo as mesmas computadas para efeitos de apuraçãodo limite total de despesas com pessoal. Observo em seguida que, em 2000 foi promulgada a EmendaConstitucional nº 25/2000, que incluiu o art. 29­A à Constituição Federal, que trouxe disposiçãoespecífica sobre a exclusão das despesas com inativos das contas do Poder Municipal quando diz: Art.29­A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores eexcluídos os gastos com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes percentuais, relativos aosomatório da receita tributária e das transferências previstas no § 5o do art. 153 e nos arts. 158 e159, efetivamente realizado no exercício anterior (grifei). Assim, conclui­se que apesar das despesascom inativos dever constar na escrituração dos gastos com pessoal do órgão, elas não serãocomputadas para efeito de limite imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal. O mesmo não se podedizer dos gastos com pensionistas e aposentados, que continuam sendo computados no limite degastos com as despesas de pessoal. Já quanto ao pagamento da contribuição patronal, sabe­se que amesma é aquela efetuada pela Administração Pública para o Regime Próprio de Previdência Social ­RPPS, em virtude da sua condição de empregadora, resultante de pagamento de pessoal. Essacontribuição, no caso, cujo pagamento de responsabilidade do Tribunal de Contas do Estado, deve serlançada como despesa de pessoal, nos moldes do art. 18 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). ALei Federal nº 9717/1998, dispõe sobre regras gerais para a organização e o funcionamento dosregimes próprios de previdência social dos servidores públicos da União, dos Estados, do DistritoFederal e dos Municípios, dos militares dos Estados e do Distrito Federal e dá outras providências. Noâmbito Estadual, foi editada a Lei Complementar nº 113/2005, que dispõe sobre o Regime Próprio dePrevidência Social do Estado de Sergipe ­ RPPS/SE, que abrange os servidores públicos daAdministração Direta, Autárquica e Fundacional, os membros da Magistratura e do Ministério Público,os Conselheiros do Tribunal de Contas e os servidores militares, ativos, inativos e pensionistas e dáprovidências correlatas. O artigo 2º dessa lei dispõe sobre a finalidade do RPPS/SE, verbis: Art. 2º. ORPPS/SE tem por finalidade assegurar o gozo dos benefícios previstos nesta Lei Complementar, cujocusteio é repartido entre o Estado e os segurados a que se refere o art. 1º desta mesma LeiComplementar (grifei). O artigo primeiro elenca aqueles que são beneficiados pelo RegimePrevidenciário, tais como os servidores públicos da Administração Direta, Autárquica e Fundacional,os membros da Magistratura e do Ministério Público, os Conselheiros do Tribunal de Contas e osservidores militares ­ policiais­militares e bombeiros­militares, do Estado de Sergipe, ativos, inativose pensionistas. A forma de custeio desses benefícios também está disposta nessa legislação estadual.

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O custeio é feito por recursos provenientes da contribuição dos segurados, juntamente com aquelafeita pelo Estado (através de seus órgãos, poderes e autarquias). Da mesma forma, determina que sefor necessário complementar esses recursos, ela será feita pelos Poderes e Órgãos constituídos peloEstado (art. 96 da LC 113/2005). O art. 103 traz que o RPPS/SE deve ser regido por uma entidade daAdministração Estadual Indireta (IPRESPREVIDÊNCIA), sendo ela competente pela operacionalizaçãodos planos de benefícios previdenciários, como determinado no art. 104, abaixo transcrito: Art. 104.Devem ser cometidas à entidade a que se refere o art. 103 desta Lei Complementar, exclusivamenteas competências e atribuições relativas à operacionalização dos planos de benefícios previdenciáriosprevistos na legislação aplicável aos abrangidos pelo Regime Próprio de Previdência Social do Estadode Sergipe ­ RPPS/SE, observado o disposto no § 4º do Art. 109 desta mesma Lei Complementar. Já oart. 105 veda que o referido Instituto, criado para gerir o Regime Próprio da Previdência Social doEstado, assuma atribuições, responsabilidades ou obrigações estranhas as suas finalidades. Vejo queo § 1º, do art. 2º, da Lei nº 9.717/98, prevê a responsabilidade da União, dos Estados, do DistritoFederal e dos Municípios, para cobrir o déficit do RPPS. Por fim, alegou a Procuradoria Geral deJustiça que os entes públicos, aí incluídos o Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, não devemcontribuir com a contribuição patronal dos servidores inativos, por ausência de expressadeterminação legal. Em estudo realizado por Diana Vaz de Lima, publicado em 2007 no site doMinistério da Previdência Social, o qual foi reproduzido no ano de 2009, juntamente com OtoniGonçalves Guimarães, no qual eles inicialmente definem o que seja contribuição patronal eposteriormente dizem da responsabilidade pelo recolhimento, verbis: A contribuição patronal é a contribuição efetuada pela Administração Pública para o regime próprio deprevidência social ­ RPPS, em virtude da sua condição de empregadora, resultante de pagamento depessoal. Quanto as fontes de custeio do Regime Próprio de Previdência Social, disseram que: Asfontes de recursos do RPPS encontram­se atualmente classificadas em três grupos de contas: receitasde contribuições (receitas correntes), contribuições sociais intraorçamentárias e repassesprevidenciários recebidos pelos RPPS. No rol das receitas de contribuições (receitas correntes) estãocontempladas as contribuições patronais dos servidores ativos civis e militares cedidos e licenciados,e as contribuições dos servidores ativos, inativos e pensionistas, civis e militares, consignadas peloempregador (ente público) ou recolhidas diretamente, inclusive eventuais parcelamentos de débitos.Estas contribuições são realizadas orçamentariamente na unidade gestora do RPPS. No rol dasreceitas correntes também estão contempladas as receitas de multas e os juros de mora dessascontribuições, e, ainda, a receita de compensação previdenciária. Entre as contribuições sociaisintraorçamentárias, estão as contribuições patronais dos servidores ativos, inativos e pensionistas,civis e militares, a contribuição previdenciária para amortização do déficit atuarial e a contribuiçãoprevidenciária em regime de parcelamento de débitos. Também dentro desta categoria deverão serregistrados as receitas de multas e juros de mora das contribuições intraorçamentárias. Assim, sendoo pagamento da contribuição patronal de responsabilidade do Tribunal de Contas do Estado, não háque se falar em restituição das parcelas já pagas. Ante o exposto, concedo a segurança pretendidapelo Estado de Sergipe contra ato do então Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe,Conselheiro Heráclito Guimarães Rollemberg (MS 0261/2007), para que: a) o Impetrado continue aarcar com o pagamento dos valores referentes à contribuição patronal incidente sobre a remuneraçãode contribuição dos seus segurados inativos e pensionistas; b) declarar indevida a repetição doindébito de pagamentos e proventos, pensões e contribuições. Sem honorários advocatícios, por forçada Súmula 512, do Supremo Tribunal Federal e da de nº 105, do Superior Tribunal de Justiça. É comovoto.

Aracaju/SE,16 de Dezembro de 2009.

DES. OSÓRIO DE ARAÚJO RAMOS FILHORELATOR

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