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WWW.RETRATODOBRASIL.COM.BR | R$ 9,50 | N O 66 | JANEIRO DE 2013 retrato doBRASIL CHARLATANISMO COMO O MINISTRO AYRES BRITTO FOI LEVADO A CONDENAR OS BEM-TE-VIS HOMENAGEM SÉRGIO MIRANDA (1947-2012), NOSSO DIRETOR, UM REVOLUCIONÁRIO COMO POUCOS

Retrato do Brasil Janeiro 2013

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Novas descobertas da Revista Retrato do Brasil sobre os erros do STF na AP 470

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WWW.RETRATODOBRASIL.COM.BR | R$ 9,50 | NO 66 | JANEIRO DE 2013

retrato doBRASIL

CHARLATANISMO COMO O MINISTRO AYRES BRITTO FOI LEVADO A CONDENAR OS BEM-TE-VIS

HOMENAGEM SÉRGIO MIRANDA (1947-2012), NOSSO DIRETOR, UM REVOLUCIONÁRIO COMO POUCOS

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Mensalão

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Que conclusão o prezado leitor tiraria ao saber de lista com grandes depósitos feitos pelo famoso Marcos Valério na conta da maior emissora de TV do País?

por lia Imanishi

OS MINISTROS DO Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ação Penal 470, a do chamado mensalão, consideraram ser uma “balbúrdia” a gestão da Diretoria de Marketing do Banco do Brasil (BB), a partir da qual teriam desaparecido 73,8 milhões de reais tidos como a viga mestra do tal escândalo. Parodiando esses ministros, depois de meses de pesquisa nos autos da AP 470 para avaliar a propriedade do julgamento feito, poderíamos dizer que essa documentação é uma “balbúrdia”. Ela é gigantesca. Tem cerca de 50 mil páginas. E é formada, em grande parte, por documentos de auditorias feitas pelo próprio Banco do Brasil para investigar a existência do tal desvio e por material de incursões da Polícia Federal nos arquivos da Companhia Brasileira de Meios de Pagamento (CBMP). Nos arquivos dessa empresa, cujo nome fantasia era Visanet (hoje, Cielo), fi cavam os comprovantes de pagamentos feitos com o uso do Fundo de Incentivos Visanet (FIV) que fi nanciava as ações de marketing do BB para vender cartões de bandeira Visa.

ESCÂNDALO?!A REDE GLOBO FICOU COM O DINHEIRO DESVIADO DO BANCO DO BRASIL?

Na edição de Retrato do Brasil de nº 65, dezembro, em “A prova do erro do STF”, publicamos uma lista, feita a partir de documento de escritório de advocacia da Visanet, dando conta de que a tese básica aprovada pelo STF, a de que o desvio de 73,8 milhões existiu, é despropositada: através de seus advogados, a Visanet diz, em documento para a Receita Federal, que a empresa de Valério realizou todos os trabalhos de promoção listados, num valor total basicamente igual ao montante do suposto desvio. Para esta reportagem, a fi m de saber se os juízes do STF tinham como tomar conhecimento da existência desses eventos, investigamos, nos autos, provas de sua execução. Procuramos um dos eventos da lista da Visanet que pu-blicamos. Como já dissemos em edições anteriores, eles são descritos em “notas técnicas”, nas quais fi cavam registradas as ações de promoção e marketing progra-madas pelo BB. No caso, procuramos a NT 2004-3165 PT 2004-2274. NT é, ob-viamente, Nota Técnica; 2004 é o ano em que a ação foi decidida; 3165 é o número da ação; e 2274 é o número do protocolo (PT) da ação naquele ano.

É difícil explorar a documentação relativa ao desvio de dinheiro do BB nos autos da AP 470 . Notas fi scais correspon-dentes a uma ação estão em um apenso diferente da ação em si. Não se respeita a ordem cronológica dos fatos. Documen-tos se repetem ou são mal copiados. Falta uma classifi cação básica e um índice do processo; e por aí vai. Mas, de início, segui-mos a regra. Buscar o dinheiro. E vimos

que dezenas de apensos do processo estão recheados de notas fi scais e comprovan-tes bancários de pagamentos feitos pela DNA, a agência do publicitário Marcos Valério, por meio da qual o BB realizava as ações de promoção e propaganda pagas com os recursos do FIV.

A NT-3165, em resumo, é a proposta de um gasto de 11,5 milhões de reais para a promoção dos cartões de bandeira Visa do BB em 2004. Ela ocupa seis páginas do apenso 423 entre as páginas 28.353 e 28.347 na numeração ofi cial dos autos. O texto da nota diz que ela dá continuida-de à campanha feita no ano anterior de divulgação do cartão Ourocard, um dos cartões de bandeira Visa do BB. Diz que, entre os bancos emissores de cartão de crédito e débito, o BB mantinha a lide-rança em faturamento, com 16,39% do mercado, sendo seguido por Bradesco, com 13,64%, Itaú, com 13,11%, Uni-banco, com 7,35%, e ABN, com 5,48%. Diz que a estratégia do BB na campanha era substituir os cartões BB Visa Elec-tron pelo cartão Ourocard de múltiplas funções – crédito e débito. O BB tinha uma base de 11,6 milhões de clientes com cartões. Desses, apenas 5 milhões tinham a função crédito ativada, diz a nota.

A expectativa, com a campanha, era ativar essa função nos 6,6 milhões de cartões restantes. Para isso, a Diretoria de Varejo, do banco, encarregada da venda dos cartões, propunha que fossem aplicados 7 milhões de reais em mídia aeroportuária e exterior e 4,5 milhões em mídia televisiva, impressa, de rádio e

É a Globo no mensalão? Na página ao lado, no fundo, uma planilha de inserções de anúncios feitos pela empresa de Mar-cos Valério, para promoção dos cartões

de bandeira Visa do Banco do Brasil, nos principais programas da TV Globo, em

Brasília e em Belo Horizonte. Sobrepostos à planilha, recibos de quatro depósitos

feitos pela empresa, a DNA Propaganda Ltda., na conta da TV Globo Ltda.

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internet. O dinheiro foi aplicado mesmo nessas atividades? Enfrentando a, vale repetir, “balburdia” da documentação da AP 470 relativa ao Fundo de Incentivo Visanet, RB foi em busca das provas. Encontramos os primeiros comprovantes de pagamento no apenso 381, bem longe do 483, no qual está a NT 3165.

Chamou nossa atenção uma nota fiscal da TV Globo, para a DNA, por conta de um serviço de 42.033,31 reais. E em outro local, na página 17.278 do mesmo apenso, um comprovante de transferência eletrônica bancária, uma TED, da conta da DNA Propaganda Ltda. para uma conta da TV Globo Ltda., no mesmo valor, com data, hora e local do depósito. Algumas páginas depois, aparece até um documento de recolhimento de DARF, ou seja, o re-colhimento de Imposto de Renda que o BB faz por conta do pagamento feito à Globo: no caso, um imposto de 3.866,94 reais, com referência à nota fiscal de nº 120362742, emitida pela Globo para receber os 42.033,31 reais.

São muitos os depósitos da DNA para empresas das organizações Globo, a de TV e outras. No apenso 447, outra TED certifica que a DNA transferiu 1,03 mi-lhão de reais para a TV Globo, em 29 de outubro de 2004. No apenso 457, outro comprovante mostra depósito de 276,9 mil reais para a emissora, três dias antes. Nesse mesmo apenso, mais duas TEDs mostram depósitos para a Editora Globo S.A., de 113,6 mil reais, em 15 de outubro de 2004, e 49,5 mil, em 1º de novembro do mesmo ano.

Depois de mais algumas horas em meio à confusão dos autos, no apenso 384 localizamos planilhas detalhando inserções de propaganda do cartão Ou-rocard em várias emissoras de televisão. No alto das páginas, à direita, o número do protocolo PT 2004-2274 garante que ela é relacionada à NT 3165. Na página 17.461, se vê uma planilha da TV Globo, dando conta de 18 inserções de anún-cios nas transmissões da emissora para a capital paulista, no valor de 487,7 mil reais. A planilha mostra que o anúncio, de 90 segundos, passou em intervalos dos programas Big Brother Brasil, Domingão do Faustão, Jornal da Globo, Jornal Hoje, Jornal Nacional, Novela I, Novela III, Praça TV 2ª Edição e Zorra Total. A vei-culação no intervalo do Jornal Nacional, a mais cara da emissora, saiu por 57,83 mil reais. No intervalo da novela das nove, custou 57,36 mil reais.

NO BB, DEVERIAM SER CONDENADOS 20 E NÃO APENAS 1?O STF acha que o desvio existiu. Deveria, então, punir todos

Uma “nota técnica” do banco do Brasil (a NT 3165, veja no texto ao lado) é o maior investimento feito na gestão de Henrique Pizzolato, o diretor de Marketing do BB condenado pelo suposto desvio de 73,8 milhões de reais do banco. Contrariando a tese apresentada pelo ministro Barbosa no STF, de que Pizzolato teria autorizado, sozinho, o adiantamento do dinheiro para a DNA, a nota é assinada por mais de 20 pessoas do BB, do Comitê de Comunicação, da Diretoria de Marketing, da Diretoria de Varejo, no documento ao lado. É assinada, inclusive, pelo próprio Conselho Di-retor do BB, como se vê por anotação da secretária da diretoria, à qual a NT 3165 foi submetida em 31 de agosto de 2004. Esse conselho era composto, na época, pelo presidente do banco, Cássio Casseb, e por seus sete vice-presidentes: Ros-sano Maranhão (área Internacional), Cerqueira César (Tecnologia e Informação), Edson Monteiro (Varejo e Distribuição), Luiz Eduardo (Finanças), Luiz Osvaldo Santiago (Recursos Humanos), Ricardo Conceição (Agronegócios) e Lima Neto (Corporativo). Teriam todos esses diretores e o presidente participado, junto com Pizzolato, do desvio do dinheiro da Visanet? Deveriam ser todos eles acusados e condenados como Pizzolato? Óbvio que não, porque o desvio, de fato, não existiu.

Uma parceria pelageração de trabalhoe renda no país.

www.fbb.org.br/bndes-fbb

A Fundação Banco do Brasil e o BNDES

se uniram para promover o desenvolvimento

sustentável de comunidades rurais e urbanas

que vivem em situação de vulnerabilidade

econômica, por meio de programas

e tecnologias sociais voltados à geração

de trabalho e renda.

Em três anos, foram investidos

R$ 130 milhões, envolvendo mais

de 120 mil famílias no processo

de transformação social.

Nas outras emissoras as planilhas mostram inserção de anúncios em di-versas capitais brasileiras, também nos seus mais famosos programas, embora a preços unitários e valores totais bem menores. A Globo tem a maior audiência entre as emissoras. É natural que tenha se beneficiado mais com as verbas da

Visanet. Além da campanha programada pela NT 3165, outras três campanhas da Globo figuram na lista de eventos con-firmados pela Visanet que publicamos na edição passada. Uma é a Campanha Ourocard Gestos Dia dos Pais, que custou 870,7 mil. Outra, a Campanha Ourocard Gestos Dia das Crianças, ao custo

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O PIOR CEGO: O STF NÃO QUIS VER QUE ERROUNo quadro acima estão seis imagens: 1) a de um ponto de ônibus no Rio, com propaganda do cartão Visa do Banco do Brasil, de janeiro de 2005; 2) a de um anúncio em página dupla na revista Época, publicado em janeiro de 2005, para anunciar o que é considerado o “maior evento do tênis na América Latina”, com patrocínio da Petrobras e do cartão Ou-

rocard, o “Brasil Open da Costa do Sauípe”, Bahia, de 12 a 20 de fevereiro daquele ano; 3) um pôster gigante do Ourocard, no Shopping Taguatinga, do Distrito Federal; 4) um anúncio publicado na Folha de S. Paulo, em julho de 2003, com pro-moção do cartão Ourocard, a propósito do Festival de Inverno de Campos do Jordão, patrocinado pelo governo do Estado de São Paulo e pelo BB; 5) um anúncio no jornal DCI (Diário

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de 1,8 milhão. A terceira, a Campanha Ourocard Gestos Natal, de 710,7 mil. Somando as três, são mais 3,3 milhões de reais que saíram da conta da DNA para a da Globo. E isso não é tudo. Grande parte dos eventos culturais promovidos pelo Banco do Brasil com uso de recursos do fundo da Visanet têm publicidade pela televisão. Para calcular quanto, no total, a Globo levou dos recursos do FIV seria necessário organizar a documentação da AP 470 com outro propósito, não, como já dissemos, o dos procuradores-gerais da República encarregados de investigar o mensalão e o do ministro hoje presidente do STF, Joaquim Barbosa.

Os procuradores e Barbosa, como já dissemos na edição anterior, se compor-taram como investigadores e juiz de um processo medieval. Não partiram para a comprovação material do crime, em pri-meiro lugar. Ouviram dizer que a bruxa tinha matado o santo papa. E não foram ver se o papa estava morto, para provar

que o crime, de fato, existia. Se tivessem feito isso, se tivessem primeiro buscado provar a materialidade do crime, achariam nos autos abundantes indícios de que os serviços tinham sido realizados e de que o crime, o desvio, não existia.

Como os procuradores e Barbosa partiram, como nos tempos medievais, primeiro em busca dos criminosos, não lhes interessava ver esses comprovantes de que o crime não existiu. De que for-ma poderiam interpretar os depósitos na conta da TV Globo? Iriam dizer que a empresa deu recibos frios, que pegou o dinheiro do BB e repassou para a tal qua-drilha que seria chefiada pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, do governo Lula, comprar deputados?

Os ministros nem sequer olharam direito os autos. E deveriam ter ido além dos autos, para entender o que foi a promoção e publicidade para a venda dos cartões de bandeira Visa do BB. A procuradoria apresentou durante a

fase processual, como testemunha para avaliar os documentos desses serviços, um engenheiro que entendia tão pouco de publicidade que foi desqualificado como perito pelo STF. RB entrevistou uma pessoa que entende dos serviços feitos. “Todo publicitário sabe que é im-possível desviar 73 milhões de um banco com campanhas publicitárias”, diz um ex-executivo da DNA, na nova agência em que ele trabalha, em Belo Horizonte. “Como você vai falsificar um recibo da Globo, da SBT?”. Ele trabalhava há dez anos para o BB, quando estourou o escândalo do mensalão. A DNA era a agência mais premiada de Minas. Ganhou todos os prêmios importantes no Brasil. Teve peças selecionadas para o Festival de Cannes de publicidade. “Tínhamos 120 funcionários. O que mais me entristece é ver uma agência que era um sonho para muita gente acabar desse jeito. A DNA ga-nhou, em 2003, a medalha de prata no 19º Prêmio Colunistas Brasília, na categoria

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Comércio e Indústria) da campanha de Natal de promoção do cartão de bandeira Visa do BB; e 6) o roteiro do anúncio para a promoção do cartão Ourocard Visa veiculado nos intervalos do Domingão do Faustão para as TVs do estado de São Paulo, em janeiro de 2005. Todas as seis são imagens do Arquivo da Propaganda, uma empresa sediada em São Paulo que acompanha a realização das campanhas de publicidade

para ajudar as agências do ramo a controlarem os trabalhos dos veículos que utilizam e para terem conhecimento do que estão fazendo os seus concorrentes. Se quisesse ver, de fato, se as promoções com os recursos do Fundo de Incentivos Vi-sanet tinham sido realizadas, bastava ao STF ter consultado o Arquivo da Propaganda. Mas o Supremo agiu como o pior cego: não quis ver.

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serviços financeiros e de seguros, com a campanha ‘Investimentos BB’. Em 2004, ganhou o grande prêmio de comercial do ano da 20ª edição do mesmo prêmio, com a peça ‘Banda’, e a medalha de bronze, com a peça ‘Família’. E mais inúmeros outros prêmios”, ele conta.

O publicitário não quer se identificar. Tem razão, porque, como se viu no final do ano que passou, a fúria punitiva do STF ainda não passou. Tem ministro querendo processar até o presidente da Câmara dos Deputados se ele não cassar os deputados condenados na AP 470. Mas ele explicou detalhes técnicos das cam-panhas de promoção e publicidade para a venda dos cartões do BB de bandeira Visa. Como se pode concluir da lista de eventos desse período, do total dos 73,8 milhões de reais para os anos 2003-2004, mais de 30% foram gastos em “mídia exterior e aeroportuária”, aí inclusos os 7,5 milhões, já citados, e alocados para este fim pela NT 3165. RB pede ao publicitá-

rio para explicar o que são essas mídias. Em mídia exterior se inclui “mobiliário urbano”. Durante o julgamento, muita gente não entendeu o que é isso. Houve quem achasse que a DNA teria comprado móveis com o dinheiro da Visanet, o que foi considerado totalmente descabido.

O publicitário explica que, mesmo a compra de móveis às vezes é necessária para uma determinada promoção. Mas, no caso, mobiliário urbano, quer dizer locais, na cidade, onde podem ser fixados carta-zes e exibidos diversos tipos de propa-ganda em outros formatos, como filmes e vídeos. “Isso é regido por leis municipais. Em geral, pode-se afixar propaganda em bancas de jornais, fachadas laterais de edifícios, relógios de tempo e temperatu-ra, placas de rua e painéis back light, os iluminados por luzes internas. Também é considerada mídia exterior aquela afixada em outdoors e a que envelopa ônibus e táxis”, diz ele. “Já a mídia aeroportuária aparece em painéis nas salas e portas

das salas de embarque e desembarque, nas portas de aeroportos, nas esteiras de bagagem, em painéis chamados carrossel, back light e escadas rolantes”.

Os autos da AP 470 estão cheios de documentos sobre as campanhas de mídia exterior e aeroportuária. Alguns exemplos:

• No apenso 379, planilhas de inser-ções de propaganda do BB em aeropor-tos. A empresa responsável pela inserção é a Meta 29.

• No apenso 380, comprovantes de veiculação de filmes publicitários em apa-relhos de vídeo de aeroportos, localizados na área comercial e nas salas de embarque. Uma verificação feita em 1º de fevereiro de 2005, por exemplo, dá conta de 298 registros de exibição de propaganda do BB, das 4h da madrugada às 23h59.

• No apenso 382, recibos de 156 mil e 319 mil e comprovante de depósito na conta corrente de 430,1 mil reais para a empresa Carré Advertising Ltda.,

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A ASSOCIAçÃO DOS MAGISTRADOS DO BRASIl DESVIOU DINh EIRO DA VISANET?Eram 3 mil juízes, lá estava até a Daniela Mercury. Será que isso também não existiu?

uma das maiores no setor de mídia ae-roportuária.

• No apenso 381, várias notas fiscais da Clear Chanel Adshel, grande empresa do setor de mobiliário urbano, referente à instalação de propaganda nos relógios de rua do Rio de Janeiro, uma de 46,9 mil reais, outra de 168 mil e, mais adiante, outra de 337 mil reais.

• No apenso 383 há uma lista deta-lhando as ruas principais de São Paulo para o tráfego de ônibus com as sua transversais mais próximas dos 540 pontos de abrigos para passageiros onde foram colocados materiais de promoção dos cartões do BB.

O publicitário mineiro diz à RB que existe uma forma ainda mais simples de verificar se determinada campanha publicitária foi feita, e que ela poderia ter sido usada pelos ministros do STF. Ela se chama Arquivo da Propaganda e é o maior acervo publicitário do Brasil. Ele coleta e arquiva todas as campanhas de propaganda de TV, revistas, jornais, in-ternet, rádio e mídia exterior. A empresa foi fundada em 1972, pelo publicitário e artista plástico Newton Carvalho. Fica na capital paulista, na avenida Jabaquara, 2.940, 1º andar. Ela tem uma engenharia de software própria e uma infraestrutura de internet com sistemas de pesquisa on-line. Tem aplicativos para disponibilização na rede ou intranet do cliente e ferramen-tas para análises quantitativas. Qualquer um pode acessar o material do Arquivo da

Propaganda, a partir de pedidos avulsos. Também pode ser assinante. Nesse caso, seleciona os produtos ou serviços que deseja acompanhar, as mídias, a forma de recebimento e a periodicidade – men-sal, quinzenal, semanal ou diária. Existe uma assinatura voltada exclusivamente para agências de propaganda. Com ela é possível solicitar material sobre qualquer setor ou período. A agência recebe uma planilha de computador do tipo Excel, e a partir dela lista e escolhe as campanhas que quer ver. Essa assinatura dá direito a uma cota de cópias de anúncios ou comerciais e gravações. A partir dessa cota, a agência tem que pagar mais se quiser ir além. O arquivo de campanhas publicitárias está catalogado por produto ou serviço, anunciante e período.

Através desse arquivo também é possível fazer o controle e a fiscalização da veiculação das campanhas, com os locais e o número de vezes que cada campanha foi veiculada. Esse controle pode ser feito para peças publicitárias de TV, mídia impressa, rádio ou mídia exterior. O cliente fornece a grade de veiculação e o arquivo faz um relatório indicando se ela foi ou não cumprida. A fiscalização em televisão consiste na verificação da inserção dos comerciais nos intervalos dos programas determi-nados. Se um comercial não foi inserido conforme programado, o cliente pode solicitar a gravação do programa onde a inserção deveria ter ocorrido para

averiguação junto à emissora. No caso da mídia impressa, o arquivo confere a publicação nos jornais e revistas pre-determinados e informa a publicação ou não de cada anúncio programado. Enquanto a fiscalização se destina a monitorar as próprias campanhas das agências, o controle de veiculação permi-te à agência acompanhar as campanhas dos seus concorrentes.

O publicitário conclui sua entrevista a RB explicando como foi o fechamento da DNA e o que foi feito de seus arquivos. “Quando estourou o negócio todo e veio a acusação de desvio de dinheiro da Visa-net, fui ajudar a levantar tudo que existia. Tínhamos todas as faturas de pagamento, as notas recebidas. Quando houve a mu-dança nas normas do Banco do Brasil, no final de 2003”, diz ele, referindo-se às reformas promovidas por Pizzolato, já citadas por RB em edições anteriores, tudo ficou ainda mais rigoroso, tudo tinha que ser documentado. “No caso do BB, não tenho dúvida de que o dinheiro foi utilizado em propaganda. Na auditoria feita pelo próprio BB tem uma docu-mentação muito completa sobre isso”. Ele conta que, quando a DNA fechou, toda a documentação levantada por ele para auxiliar o BB nessa auditoria foi para um depósito. A partir de certo momento, que ele não sabe especificar quando, os sócios da DNA deixaram de pagar os custos do depósito e perderam o acesso à documentação.

Na lista das ações executadas pela Diretoria de Marketing do BB com o dinheiro do Fundo Visanet, consta o patrocínio ao XVIII Congresso Brasileiro dos Magistrados, que aconteceu entre 22 e 25 de outubro de 2003, no Centro de Convenções de Salvador, na Bahia. O patrocínio foi de 200 mil reais. O congresso reuniu mais de 3 mil magistrados na capital baiana e foi notícia nos maiores jornais do País. O Correio da Bahia deu matéria destacando que “a tônica do evento é uma renovação no Judiciário do País, tanto criticado pela morosidade e por muitas vezes não fazer a devida justiça”. O encontro dos juízes em Salvador foi notícia ainda nos jornais Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Gazeta Mercantil, Jornal do Commercio (RJ), Jornal de Santa Catarina e A Tarde (BA). Além disso, mais de 7 mil internautas acompanharam o evento pela internet, através de câmeras instaladas no centro de convenções. No evento, organizado pela DNA, houve debate com o publicitário Duda Mendonça e palestra do economista Luiz Gonzaga Beluzzo sobre os efeitos das mudanças propostas pelo governo petista na reforma da

Previdência Social. O professor dividiu a mesa com o juiz Rodrigo Tolentino de Carvalho Collaço, presidente da As-sociação dos Magistrados de Santa Catarina.Na visão de Beluzzo, a proposta de reforma era resultado da falta de compreensão do governo petista em relação ao papel das carreiras de Estado, na medida em que trazia gran-de dose de insegurança para os futuros servidores públicos.“Não se pode entregar a aposentadoria desses servidores à incerteza de um fundo de pensão privado, pois se cria uma grande insegurança quanto ao futuro”, argumentou Beluzzo.No encerramento do congresso houve show da cantora Daniela Mercury. Será possível que os 200 mil reais do patro-cínio tenham ido parar em outro lugar que não no congresso dos magistrados? Se o dinheiro da Visanet foi para a AMB e a entidade desviou o dinheiro para a supo sta quadrilha petista comprar deputados, os juízes da Associação dos Magistrados Brasileiros deveriam ser acusados pelo STF? Essa é a pergunta que não deveria calar para quem acredita que o desvio de dinheiro do BB existiu.

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