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Segunda Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima Brasília 2010 parte3_capitulo1.indd 281 10/23/10 1:41 AM

Segunda Comunicação Nacional - volume 2 (parte 1)

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Parte 1 do volume 2 da Segunda Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança no Clima, elaborada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

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  • Segunda Comunicao Nacional do Brasil Conveno-Quadro

    das Naes Unidas sobre Mudana do Clima

    Braslia 2010

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  • REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

    PRESIDENTE DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASILLUIZ INCIO LULA DA SILVA

    MINISTRO DE ESTADO DA CINCIA E TECNOLOGIASERGIO MACHADO REZENDE

    SECRETRIO EXECUTIVOLUIZ ANTONIO RODRIGUES ELIAS

    SECRETRIO DE POLTICAS E PROGRAMAS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTOLUIZ ANTONIO BARRETO DE CASTRO

    SECRETRIO EXECUTIVO DA COMISSO INTERMINISTERIAL DE MUDANA GLOBAL DO CLIMAJOS DOMINGOS GONZALEZ MIGUEZ

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  • Braslia 2010

    Coordenao-Geral de Mudanas Globais do Clima

    Ministrio da Cincia e Tecnologia

    Segunda Comunicao Nacional do Brasil Conveno-Quadro

    das Naes Unidas sobre Mudana do Clima

    Coordenao-Geral de Mudanas Globais do ClimaMinistrio da Cincia e TecnologiaBraslia, 2010

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  • EQUIPE MCT

    COORDENADOR DA COMUNICAO NACIONAL JOS DOMINGOS GONZALEZ MIGUEZADRIANO SANTHIAGO DE OLIVEIRA COORDENADOR SUBSTITUTO

    ASSISTENTESELISANGELA RODRIGUES SOUSAJERNIMA DE SOUZA DAMASCENOCCERA THAIS SILVA LIMA

    COORDENADOR TCNICO DO SEGUNDO INVENTRIO BRASILEIRO DE EMISSES ANTRPICAS POR FONTES E REMOES POR SUMIDOUROS DE GASES DE EFEITO ESTUFANEWTON PACIORNIKMAURO MEIRELLES DE OLIVEIRA SANTOS COORDENADOR SUBSTITUTO

    EQUIPEANA CAROLINA AVZARADELDANIELLY GODIVA SANTANA DE SOUZAMRCIA DOS SANTOS PIMENTAMAYRA BRAGA ROCHARICARDO LEONARDO VIANNA RODRIGUES

    COORDENADOR TCNICO DE CIRCUNSTNCIAS NACIONAIS, DAS PROVIDNCIAS PREVISTAS OU TOMADAS, E DE OUTRAS INFORMAES RELEVANTES PARA A IMPLEMENTAO DA CONVENOHAROLDO DE OLIVEIRA MACHADO FILHORENATO DE ARAGO RIBEIRO RODRIGUES COORDENADOR SUBSTITUTO

    EQUIPEMNICA DE OLIVEIRA SANTOS DA CONCEIOSONIA REGINA MUDROVITSCH DE BITTENCOURT

    COORDENADOR ADMINISTRATIVOMARCOS WILLIAN BEZERRA DE FREITAS

    EQUIPECLAUDIA SAYURI MIYAKIJULIANA PATRCIA GOMES PEREIRAJULIANA GOMES DOS SANTOS ANDRADE

    EQUIPE DE INFORMTICAHENRIQUE SILVA MOURAPEDRO GABRIEL PICANO MONTEJOPEDRO RENATO BARBOSARODRIGO ALBUQUERQUE LOBO

    EDIO FINALEAGLES MUNIZ ALVES

    EXEMPLARES DESTA PUBLICAO PODEM SER OBTIDOS NO:Ministrio da Cincia e Tecnologia - MCTSecretaria de Polticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento - SEPEDCoordenao-Geral de Mudanas Globais do Clima CGMCEsplanada dos Ministrios Bloco E 2 andar Sala 268 CEP: 70067-900 Braslia DFTelefone: 61 3317-7923 e 3317-7523 Fax: 61 3317-7657 Email: [email protected] Pgina de internet: http://www.mct.gov.br/clima

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  • MINISTRIO DA CINCIA E TECNOLOGIA

    ESPLANADA DOS MINISTRIOS, BLOCO E

    FONE: 55 (61) 3317-7500

    FAX: 55 (61) 3317-7657

    Site: http://www.mct.gov.br

    CEP: 70.067-900 Braslia DF

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  • NDICE GERALVOLUME I

    PARTE I ......................................................................................................................................................... 57

    1 PRIORIDADES DE DESENVOLVIMENTO NACIONAL E REGIONAL ....................................641.1 Caracterizao do Territrio .....................................................................................................641.2 Clima do Brasil .............................................................................................................................701.3 Economia ....................................................................................................................................... 731.4 Desenvolvimento Social ............................................................................................................ 761.5 Resumo das Circunstncias Nacionais .................................................................................. 92

    2 MERCOSUL ...........................................................................................................................................962.1 Antecedentes, Objetivos e Caractersticas Principais .......................................................962.2 Estrutura Institucional ................................................................................................................962.3 Indicadores Bsicos do Mercosul ...........................................................................................96

    3 ARRANJOS INSTITUCIONAIS RELEVANTES PARA A ELABORAO DA COMUNICAO NACIONAL EM BASES PERMANENTES ..................................................100

    3.1 Marco Institucional ...................................................................................................................100

    4 CIRCUNSTNCIAS ESPECIAIS ..................................................................................................... 1064.1 Biomas Brasileiros ..................................................................................................................... 1064.2 Regies de Ecossistemas Frgeis ........................................................................................... 1144.3 Desertificao ............................................................................................................................. 1154.4 reas de Alta Poluio Atmosfrica Urbana ...................................................................... 1184.5 Dependncia Externa de Petrleo e de seus Derivados. .................................................. 119

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................................................... 121

    PARTE II ......................................................................................................................................................127

    1 INTRODUO ................................................................................................................................... 1341.1 Gases de Efeito Estufa ............................................................................................................. 1341.2 Setores Inventariados............................................................................................................... 134

    2 SUMRIO DAS EMISSES ANTRPICAS E REMOES POR SUMIDOUROS DE GASES DE EFEITO ESTUFA POR GS .........................................................................................140

    2.1 Emisses de Dixido de Carbono .........................................................................................1402.2 Emisses de Metano ................................................................................................................ 1422.3 Emisses de xido Nitroso .................................................................................................... 1442.4 Emisses de Hidrofluorcarbonos, Perfluorcarbonos e Hexafluoreto de Enxofre ...... 1462.5 Gases de Efeito Estufa Indireto .............................................................................................. 147

    3 EMISSES ANTRPICAS POR FONTES E REMOES POR SUMIDOUROS DE GASES DE EFEITO ESTUFA POR SETOR ......................................................................................157

    3.1 Energia ..........................................................................................................................................1573.2 Processos Industriais ................................................................................................................ 1853.3 Uso de Solventes e Outros Produtos .................................................................................. 205

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  • 3.4 Agropecuria ............................................................................................................................... 2113.5 Mudana do Uso da Terra e Florestas .................................................................................2253.6 Tratamento de Resduos ..........................................................................................................252

    4 INCERTEZA DAS ESTIMATIVAS .................................................................................................. 2604.1 Incerteza das Estimativas de Emisses e Remoes de CO

    2 ........................................ 260

    4.2 Incerteza das Estimativas de Emisses de CH4..................................................................261

    4.3 Incerteza das Estimativas de Emisses de N2O .................................................................261

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................................................262

    5 ANEXO: ESTIMATIVAS DE EMISSES DE GASES DE EFEITO ESTUFA POR GS E SETOR, DE 1990 A 2005 ....................................................................................................270

    VOLUME II

    PARTE III .................................................................................................................................................... 291

    A. PROGRAMAS CONTENDO MEDIDAS REFERENTES MITIGAO MUDANA DO CLIMA ..................................................................................................................300

    1 PROGRAMAS E AES RELACIONADOS AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL .................................................................................................................................300

    1.1 O Etanol de Cana-de-Acar no Brasil ...............................................................................3001.2 Programa Brasileiro de Biocombustveis Pro-biodiesel ............................................... 3091.3 Programas de Conservao de Energia ............................................................................... 3141.4 Contribuio da Gerao Hidreltrica para a Reduo das Emisses de Gases de Efeito Estufa ..............................................................................................................3211.5 Situao e Perspectivas das Novas Fontes Renovveis de Energia no Brasil .............3221.6 Programa Nacional de Universalizao do Acesso e Uso da Energia Eltrica Programa Luz para Todos.......................................................................3331.7 Hidrognio ..................................................................................................................................3341.8 Reciclagem ..................................................................................................................................3361.9 O Uso do Carvo Vegetal na Indstria ................................................................................338

    2 PROGRAMAS E AES QUE CONTM MEDIDAS QUE CONTRIBUEM PARA MITIGAR A MUDANA DO CLIMA E SEUS EFEITOS ADVERSOS ................................... 344

    2.1 Papel do Gs Natural na Reduo das Emisses de Gases de Efeito Estufa no Brasil ........................................................................................................ 3442.2 Programas no Estado de So Paulo para Reduo das Emisses Veiculares no Transporte Urbano ............................................................................................................. 3482.3 O Papel da Energia Nuclear na Reduo das Emisses de Gases de Efeito Estufa no Brasil .............................................................................................................. 350

    3 INTEGRAO DAS QUESTES SOBRE MUDANA DO CLIMA NO PLANEJAMENTO DE MDIO E LONGO PRAZOS ..................................................................354

    3.1 Legislao Ambiental Brasileira ............................................................................................3543.2 Agenda 21 Brasileira .................................................................................................................355

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  • 3.3 Plano Nacional sobre Mudana do Clima ...........................................................................3563.4 Poltica Nacional sobre Mudana do Clima - PNMC .......................................................3573.5 Poltica de Cincia, Tecnologia e Inovao - CT&I e Mudana do Clima ....................3583.6 Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar Pronar ..................................... 3603.7 Programa de Controle de Poluio do Ar por Veculos Automotores Proconve .....3613.8 Plano Nacional de Logstica e Transportes - PNLT ...........................................................3673.9 Medidas contra o Desflorestamento na Amaznia ........................................................ 3683.10 Programa de Monitoramento da Amaznia por Sensoriamento Remoto ..................3783.11 O Sistema Nacional de Unidades de Conservao - SNUC ...........................................3853.12 Preveno de Incndios e Queimadas ................................................................................ 3903.13 Cidades pela Proteo do Clima .......................................................................................... 3943.14 Medidas de Carter Financeiro e Tributrio .......................................................................395

    4 AS ATIVIDADES DE PROJETO NO MBITO DO MECANISMO DE DESENVOVIMENTO LIMPO - MDL NO BRASIL .....................................................................406

    4.1 Nmero de Atividades de Projeto ........................................................................................4064.2 Potencial de Reduo de Emisses para o Primeiro Perodo de Obteno de Crditos .............................................................................................................4064.3 Potencial de Reduo Anual de Emisses para o Primeiro Perodo de Obteno de Crditos ............................................................................................................. 4074.4 Distribuio das Atividades de Projeto no Brasil por Tipo de Gs de Efeito Estufa .... 4074.5 Distribuio das Atividades de Projeto no Brasil por Escopo Setorial ........................4084.6 Distribuio dos Projetos Registrados no Conselho Executivo do MDL ....................4084.7 Capacidade Instalada (MW) das Atividades de Projeto do MDL Aprovadas na AND ..................................................................................................................408

    B. PROGRAMAS CONTENDO MEDIDAS PARA FACILITAR ADEQUADA ADAPTAO MUDANA DO CLIMA ................................................................................... 412

    1 PROGRAMA DE MODELAGEM DE CENRIOS FUTUROS DE MUDANA DO CLIMA ................................................................................................................... 412 1.1 O Modelo Eta-CPTEC ............................................................................................................. 416 1.2 O Modelo Brasileiro do Sistema Climtico Global - MBSCG ......................................... 417

    2 EFEITOS DA MUDANA GLOBAL DO CLIMA NOS ECOSSISTEMAS MARINHOS E TERRESTRES ........................................................................................................... 419

    2.1 Regio Semirida ....................................................................................................................... 4192.2 reas Urbanas ........................................................................................................................... 4212.3 Zona Costeira .............................................................................................................................4232.4 Sade Humana .......................................................................................................................... 4262.5 Energia e Recursos Hdricos .................................................................................................. 4292.6 Florestas ......................................................................................................................................4322.7 Agropecuria ..............................................................................................................................4332.8 Prontido para Desastres ....................................................................................................... 439

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................................................... 442

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  • PARTE IV ................................................................................................................................................... 451

    1 TRANSFERNCIA DE TECNOLOGIA .......................................................................................... 4581.1 Necessidades Tecnolgicas em Relao Energia .......................................................... 4581.2 Cooperao Sul-Sul ................................................................................................................. 4621.3 Principais Iniciativas e Indicao de Polticas de Cincia, Tecnologia e Inovao relativas Vulnerabilidade, Impactos e Adaptao ........................................................ 463

    2 PESQUISA E OBSERVAO SISTEMTICA ..............................................................................4722.1 Programas Mundiais de Clima ...............................................................................................4722.2 Programa Pirata .........................................................................................................................4742.3 Programa de Grande Escala da BiosferaAtmosfera na Amaznia - LBA ..................4752.4 Modelagem Climtica sobre a Amrica do Sul Utilizando o Modelo Regional Eta para Previso de Tempo, Clima e Projees de Cenrios de Mudana do Clima ................................................................................................................... 478

    2.5 Programa Antrtico Brasileiro - Proantar ...........................................................................480 2.6 Modelo Simplificado de Mudana do Clima ...................................................................... 481

    3 EDUCAO, TREINAMENTO E CONSCIENTIZAO PBLICA ...................................... 4863.1 Conscientizao no Brasil sobre as Questes Relativas Mudana do Clima ........ 4863.2 Frum Brasileiro de Mudanas Climticas ........................................................................ 4883.3 Programas de Educao em Conservao de Energia Eltrica e Uso Racional de Derivados de Petrleo e Gs Natural ........................................................... 488

    4 FORMAO DE CAPACIDADE NACIONAL E REGIONAL .................................................. 4944.1 Instituto Interamericano para Pesquisas em Mudanas Globais IAI ...................... 4944.2 Painel Intergovernamental sobre Mudana do Clima IPCC ....................................... 4964.3 Painel Brasileiro de Mudanas Climticas PBMC ..........................................................4974.4 Rede Brasileira de Pesquisa sobre Mudanas Climticas Globais - Rede Clima ..... 4984.5 Instituto Nacional de Cincia e Tecnologia INCT para Mudanas Climticas ...... 4994.6 Centro de Previso de Tempo e Estudos do Clima - CPTEC / INPE ........................... 4994.7 Centro de Cincia do Sistema Terrestre CCST / INPE ................................................5004.8 Treinamento sobre Modelagem de Cenrios Regionais Futuros de Mudana do Clima para Pases da Amrica Latina e Caribe ........................................5004.9 Anlises de Impactos Econmicos da Mudana do Clima no Brasil ........................... 5014.10 Cooperao Sul-Sul sobre Questes relacionadas Mudana do Clima ................. 504

    5 INFORMAO E FORMAO DE REDE .................................................................................. 5085.1 Intercmbio de informaes ................................................................................................. 508

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................................................ 510

    PARTE V ......................................................................................................................................................513

    1 DIFICULDADES FINANCEIRAS, TCNICAS E DE CAPACITAO PARA A EXECUO DA COMUNICAO NACIONAL ................................................................... 518

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  • parte3_capitulo1.indd 290 10/23/10 1:41 AM

  • Descrio das Providncias Previstas ou Tomadas para a Implementao da Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima no Brasil

    Parte 3

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  • Part

    e3

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  • NDICEA. PROGRAMAS CONTENDO MEDIDAS REFERENTES MITIGAO

    MUDANA DO CLIMA .......................................................................................................... 300

    1 PROGRAMAS E AES RELACIONADOS AO DESENVOLVIMENTO

    SUSTENTVEL ..................................................................................................................... 300

    1.1 Etanol de Cana-de-Acar no Brasil .................................................................... 300

    1.1.1 Perspectivas para o Etanol ...............................................................................303

    1.1.2 Aspectos Econmicos do Etanol ................................................................... 304

    1.2 Programa Brasileiro de Biocombustveis Pro-Biodiesel ................................ 309

    1.3 Programas de Conservao de Energia ................................................................ 314

    1.3.1 Programas Governamentais de Conservao de Energia ........................ 314

    1.4 Contribuio da Gerao Hidreltrica para a Reduo das Emisses de

    Gases de Efeito Estufa ..............................................................................................321

    1.5 Situao e Perspectivas das Novas Fontes Renovveis de

    Energia no Brasil .........................................................................................................322

    1.6 Programa Nacional de Universalizao do Acesso e Uso da

    Energia Eltrica Programa Luz para Todos. ......................................................333

    1.7 Hidrognio ...................................................................................................................334

    1.7.1 ProH2 - Programa de Cincia, Tecnologia e Inovao para a

    Economia do Hidrognio ..................................................................................334

    1.7.2 Projetos de nibus Brasileiro a Hidrognio .................................................335

    1.8 Reciclagem ...................................................................................................................336

    1.9 O Uso do Carvo Vegetal na Indstria .................................................................338

    parte3_capitulo1.indd 293 10/23/10 1:41 AM

  • 2 PROGRAMAS E AES QUE CONTM MEDIDAS QUE CONTRIBUEM

    PARA MITIGAR A MUDANA DO CLIMA E SEUS EFEITOS ADVERSOS ........... 344

    2.1 Papel do Gs Natural na Reduo das Emisses de Gases de

    Efeito Estufa no Brasil ............................................................................................... 344

    2.1.1 A Trajetria e e Participao do Gs Natural na Matriz

    Energtica Brasileira ......................................................................................... 344

    2.1.2 Perspectivas de Utilizao do Gs Natural ..................................................345

    2.1.3 Comparao de Emisses de Gases de Efeito Estufa de

    Termeltricas a Gs Natural e a Outros Combustveis Fsseis .....................346

    2.1.4 Programas da Petrobras para Melhorar o Aproveitamento do Gs

    Natural na Bacia de Campos ...........................................................................347

    2.1.5 Reduo das Emisses Fugitivas de Metano na Distribuio do Gs

    Natural em So Paulo ....................................................................................... 348

    2.2 Programas no Estado de So Paulo para Reduo das Emisses

    Veiculares no Transporte Urbano ......................................................................... 348

    2.2.1 Operao Inverno ...............................................................................................349

    2.2.2 Monitoramento da Qualidade do Ar .............................................................349

    2.2.3 Operao Rodzio .............................................................................................. 350

    2.3 O Papel da Energia Nuclear na Reduo das Emisses de Gases de

    Efeito Estufa no Brasil ............................................................................................... 350

    2.3.1 O Setor Energtico Brasileiro e a Energia Nuclear .................................... 350

    2.3.2 Aspecto Institucional do Setor Nuclear ....................................................... 350

    2.3.3 A Contribuio da Energia Nuclear na Reduo das

    Emisses de Gases de Efeito Estufa ...............................................................351

    parte3_capitulo1.indd 294 10/23/10 1:41 AM

  • 3 INTEGRAO DAS QUESTES SOBRE MUDANA DO CLIMA NO

    PLANEJAMENTO DE MDIO E LONGO PRAZOS ............................................................354

    3.1 Legislao Ambiental Brasileira .............................................................................354

    3.2 Agenda 21 Brasileira ..................................................................................................355

    3.3 Plano Nacional sobre Mudana do Clima ............................................................356

    3.4 Poltica Nacional sobre Mudana do Clima - PNMC ........................................357

    3.5 Poltica de Cincia, Tecnologia e Inovao - CT&I e Mudana do Clima .....358

    3.5.1 Plano de Ao 2007-2010: Cincia, Tecnologia e Inovao

    para o Desenvolvimento Nacional e Mudana do Clima .........................358

    3.5.2 Programa de Meteorologia e Mudanas Climticas no

    mbito do Plano Plurianual (2008-2011) do Governo Federal ..............359

    3.6 Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar Pronar ...................... 360

    3.7 Programa de Controle de Poluio do Ar por

    Veculos Automotores Proconve ..........................................................................361

    3.7.1 Inspeo e Manuteno Veicular ...................................................................366

    3.7.2 Programa de Controle da Poluio do Ar por Motociclos e

    Veculos Similares Promot ............................................................................366

    3.8 Plano Nacional de Logstica e Transportes - PNLT ............................................367

    3.9 Medidas Contra o Desflorestamento na Amaznia ..........................................368

    3.9.1 Principais Causas do Desflorestamento .......................................................368

    3.9.2 Medidas Contra o Desflorestamento ............................................................372

    3.10 Programa de Monitoramento da Amaznia por

    Sensoriamento Remoto ............................................................................................378

    3.10.1 Projeto de Estimativa do Desflorestamento Bruto da

    Amaznia Brasileira - Prodes ..........................................................................378

    3.10.2 Sistema de Deteco de Desmatamento em Tempo Real - Deter ........382

    3.10.3 Mapeamento da Degradao Florestal da

    Amaznia Brasileira Degrad .........................................................................383

    3.10.4 Monitoramento de Queimadas...................................................................... 384

    3.11 O Sistema Nacional de Unidades de Conservao - SNUC ............................385

    parte3_capitulo1.indd 295 10/23/10 1:41 AM

  • 3.12 Preveno de Incndios e Queimadas ................................................................. 390

    3.12.1 Programa de Preveno e Controle de Queimadas e

    Incndios Florestais no Arco do Desflorestamento Proarco ............... 390

    3.12.2 Sistema Nacional de Preveno e Combate aos

    Incndios Florestais - PREVFOGO ..................................................................391

    3.12.3 Proibio da Queimada na Colheita de Cana-de-Acar no

    Estado de So Paulo ...........................................................................................392

    3.13 Cidades pela Proteo do Clima ........................................................................... 394

    3.14 Medidas de Carter Financeiro e Tributrio ........................................................395

    3.14.1 Responsabilidade Ambiental dos Bancos ....................................................395

    3.14.2 ICMS Ecolgico ...................................................................................................399

    3.14.3 Fundo Nacional Sobre Mudana do Clima FNMC .................................400

    3.14.4 O Fundo Amaznia ............................................................................................401

    4 AS ATIVIDADES DE PROJETO NO MBITO DO MECANISMO DE

    DESENVOVIMENTO LIMPO - MDL NO BRASIL ..............................................................406

    4.1 Nmero de Atividades de Projeto .........................................................................406

    4.2 Potencial de Reduo de Emisses para o Primeiro Perodo

    de Obteno de Crditos ........................................................................................406

    4.3 Potencial de Reduo Anual de Emisses para o Primeiro Perodo de

    Obteno de Crditos .............................................................................................. 407

    4.4 Distribuio das Atividades de Projeto no Brasil por Tipo de

    Gs de Efeito Estufa .................................................................................................. 407

    4.5 Distribuio das Atividades de Projeto no Brasil por Escopo Setorial .........408

    4.6 Distribuio dos Projetos Registrados no Conselho Executivo do MDL .....408

    4.7 Capacidade Instalada (MW) das Atividades de Projeto do MDL

    Aprovadas na AND ........................................................................................................408

    parte3_capitulo1.indd 296 10/23/10 1:42 AM

  • B. PROGRAMAS CONTENDO MEDIDAS PARA FACILITAR ADEQUADA

    ADAPTAO MUDANA DO CLIMA ............................................................................ 412

    1 PROGRAMA DE MODELAGEM DE CENRIOS FUTUROS DE

    MUDANA DO CLIMA ........................................................................................................... 412

    1.1 O Modelo Eta-CPTEC ............................................................................................... 416

    1.2 O Modelo Brasileiro do Sistema Climtico Global - MBSCG .......................... 417

    2 EFEITOS DA MUDANA GLOBAL DO CLIMA NOS ECOSSISTEMAS

    MARINHOS E TERRESTRES .................................................................................................... 419

    2.1 Regio Semirida ........................................................................................................ 419

    2.2 reas Urbanas ............................................................................................................ 421

    2.3 Zona Costeira ..............................................................................................................423

    2.4 Saude Humana .......................................................................................................... 426

    2.5 Energia e Recursos Hdricos ................................................................................... 429

    2.6 Florestas .......................................................................................................................432

    2.7 Agropecuria ...............................................................................................................433

    2.7.1 Infraestrutura de Pesquisa sobre as Interaes entre

    Mudana do Clima e a Agricultura .......................................................................433

    2.8 Prontido para Desastres ........................................................................................ 439

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................................................... 442

    parte3_capitulo1.indd 297 10/23/10 1:42 AM

  • parte3_capitulo1.indd 298 10/23/10 1:42 AM

  • SEO A

    Captulo 1

    PROGRAMAS CONTENDO MEDIDAS REFERENTES MITIGAO DA MUDANA DO CLIMA

    Programas Contendo Medidas Referentes Mitigao da Mudana do Clima

    parte3_capitulo1.indd 299 10/23/10 1:42 AM

  • 300

    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    A. PROGRAMAS CONTENDO MEDIDAS REFERENTES MITIGAO DA MUDANA DO CLIMA

    1 Programas e aes relaciona-dos ao desenvolvimento sustentvel

    Alguns dos programas e aes relacionados ao desenvol-vimento sustentvel esto relacionados ao uso de energias renovveis e conservao e/ou eficincia energtica. Esses programas contribuem para que o Brasil tenha uma matriz energtica comparativamente limpa, com baixos nveis de emisses de gases de efeito estufa por unidade de energia produzida ou consumida.

    Dentre os programas relacionados ao desenvolvimento sus-tentvel, destacam-se a produo de etanol de cana-de-a-car e biodiesel como combustveis veiculares. Essas prticas representam para o Brasil opes extremamente viveis e sustentveis ao consumo de combustveis fsseis, para mi-tigar as emisses de gases de efeito estufa, gerar renda, criar empregos e promover o desenvolvimento e transferncia de tecnologia, ao mesmo tempo que fortalece a integridade am-biental do pas.

    O etanol de cana-de-acar atualmente a opo de biomas-sa energtica de maior produtividade por unidade de rea e de melhor balano energtico, que a razo entre a energia produzida (etanol e energia mecnica, trmica e eltrica) e a energia fssil consumida na cadeia produtiva (CGEE, 2009).

    O setor eltrico brasileiro assume caractersticas especiais, no s como um dos maiores produtores mundiais de energia hidreltrica, mas tambm pela excepcional participao da hidreletricidade no atendimento de seus requisitos de ener-gia eltrica. Apesar de apenas cerca de 36% do potencial hi-dreltrico nacional estimado ter sido aproveitado, cerca de 85% da eletricidade brasileira foi gerada por usinas hidrel-tricas em 2009.

    Outros programas importantes visam combater o desperd-cio de energia e, de forma indireta, contribuem para prevenir emisses de gases de efeito estufa. Dentre esses programas, destacam-se o Programa Nacional de Conservao de Ener-gia Eltrica Procel, criado em 1985, o Programa Nacional de Racionalizao do Uso dos Derivados do Petrleo e do Gs

    Natural, criado em 1991, e o Programa Nacional de Ilumina-o Pblica Eficiente Reluz, criado em 2000.

    Alm disso, grandes avanos esto sendo feitos na rea de ge-rao de energia por outras fontes renovveis, o que promove redues nas emisses de gases de efeito estufa e possui um enorme potencial para o desenvolvimento de atividades de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MDL.

    1.1 O Etanol de Cana-de-Acar no Brasil

    Histrico do lcool como combustvel

    A histria dos biocombustveis no Brasil foi predominante-mente marcada pela ascenso, queda e ressurgimento da indstria sucroalcooleira. Mesmo aps sculos de convvio com a agroindstria canavieira, somente no sculo XX o Bra-sil descobre no etanol uma opo energtica atraente. Entre 1905 e o final da dcada de 1960, sucederam-se diversas tentativas por parte da agroindstria sucroalcooleira para promover o etanol como combustvel. No entanto, apenas em meados da dcada de 1970 criaram-se bases para uma intensificao do uso do etanol combustvel.

    O Proalcool, lanado em 1975, foi uma resposta do pas alta dos preos do petrleo e queda do preo externo do acar. A injeo de recursos oriundos de financiamento internacionais e nacionais, bem como incentivos fiscais, impulsionou rapidamente a indstria sucroalcooleira e foi responsvel pela diminuio da dependncia brasileira do petrleo importado.

    Evoluo do Programa Nacional do lcool Proalcool

    O Proalcool foi criado em 14 de novembro de 197553, com o objetivo de estimular a produo do etanol, visando o atendimento das necessidades dos mercados interno e ex-terno e da poltica de combustveis automotivos. De acor-do com o decreto, a produo do etanol oriundo da cana--de-acar, da mandioca ou de qualquer outro insumo, deveria ser incentivada por meio da expanso da oferta de matrias-primas.

    O custo de produo do acar no pas um dos mais baixos do mundo, o que permite aos produtores brasileiros competir em condies altamente favorveis no mercado internacio-nal. A participao brasileira na produo mundial de acar superior a 20%. Entretanto, tal mercado voltil e apresen-ta grandes oscilaes de preos.

    53 Decreto no 76.593, 14 de novembro de 1975. Decreto no 76.593, 14 de novem-bro de 1975.

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    Parte 3

    As etapas na produo do acar e do lcool diferem apenas a partir do uso do caldo tratado e cozido, que poder ser fer-mentado para a produo de lcool ou destinado cristaliza-o do acar.

    A deciso de produo de etanol a partir de cana-de-acar, alm dos aspectos apontados, leva ainda em considerao as polticas governamentais. Tal deciso foi tomada em 1975, quando o Governo Federal decidiu encorajar a produ-o do lcool em substituio gasolina pura, com o obje-tivo de reduzir as importaes de petrleo, at ento com um grande peso na balana comercial externa. Naquele momento, o preo do acar no mercado internacional no remunerava adequadamente as exportaes brasileiras, o que contribuiu para a implementao do programa do com-bustvel alternativo.

    Num breve resumo do Proalcool, destacam-se quatro fases distintas:

    Fase Inicial (1975 a 1979)

    O esforo foi dirigido, sobretudo para a produo de lcool anidro para a mistura gasolina. Nessa fase, o esforo princi-pal coube s destilarias anexas. A produo alcooleira anual cresceu de 600 milhes de litros (1975-1976) para 3,4 bi-lhes de litros (1979-1980) (Figura 1.1). Os primeiros carros movidos exclusivamente a etanol surgiram em 1978.

    Para a implementao do Proalcool, foi estabelecido, em um primeiro instante, um processo de transferncia de recursos arrecadados a partir de parcelas dos preos da gasolina, die-sel e lubrificantes para compensar os custos de produo do lcool, de modo a viabiliz-lo como combustvel. Foi tambm estabelecido um mecanismo de fixao de preos que bus-cava tornar economicamente indiferente para os produtores tanto a produo de acar como a de lcool anidro. O Insti-tuto do Acar e do lcool era responsvel pela fixao dos preos de ambos os produtos. Assim, foi estabelecida uma relao de paridade de preos entre o lcool e o acar para o produtor e incentivos de financiamento para as fases agrcola e industrial de produo do combustvel. Com o advento do veculo a lcool hidratado, a partir de 1979, adotaram-se pol-ticas de preos relativos entre o lcool hidratado combustvel e a gasolina, nos postos de revenda, de forma a estimular o uso do combustvel renovvel.

    Fase de Afirmao (1980 a 1986)

    O segundo choque do petrleo (1979-1980) triplicou o preo do barril e as compras desse produto passaram a

    representar 46% da pauta de importaes brasileiras em 1980. O Governo, ento, resolveu adotar medidas para a plena implementao do Proalcool. Foram criados organis-mos como o Conselho Nacional do lcool - CNAL e a Co-misso Executiva Nacional do lcool - CENAL para agilizar o programa. A produo alcooleira atingiu um pico de 12,3 bilhes de litros em 1986 e 1987 (Figura 1.1), superando em 15% a meta anual inicial do Governo de 10,7 bilhes de litros para o final desta fase. A proporo de carros a etanol no total de automveis de ciclo Otto (passageiros e de uso misto) produzidos no pas passou de 0,46% em 1979 para 26,8% em 1980, atingindo um teto de 76,1% em 1986 (Figura 1.2).

    Figura 1.1 Evoluo da Produo de Etanol (em milhes de litros) 1970 a 2007

    0

    5.000

    10.000

    15.000

    20.000

    25.000

    1970

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    19

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    20

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    2002

    20

    04

    2006

    Milh

    es (L)

    lcool Anidro lcool Hidratado

    Fonte: BRASIL, 1986; BRASIL, 1990; BRASIL, 2001; BRASIL, 2008.

    Figura 1.2 Produo de veculos leves (em unidades)

    0

    500.000

    1.000.000

    1.500.000

    2.000.000

    2.500.000

    1970

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    1974

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    20

    04

    2006

    20

    08

    Unida

    des

    Gasolina lcool Flex-Fuel

    Fonte: Anfavea, 2009.

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    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    Fase de Estagnao (1986 a 1995)

    A partir de 1986, o cenrio internacional do mercado petrolfe-ro alterado. Os preos do barril de leo bruto caram de um patamar de US$ 30 a 40 para US$ 12 a 20. Esse novo perodo, denominado contra-choque do petrleo, colocou em xeque os programas de substituio de hidrocarbonetos fsseis e de uso eficiente da energia em todo o mundo. Na poltica ener-gtica brasileira, seus efeitos foram sentidos a partir de 1988, coincidindo com um perodo de escassez de recursos pblicos para apoiar os programas energticos alternativos, resultando num sensvel decrscimo no volume de investimentos nos pro-jetos de produo interna de energia.

    A oferta de etanol no pde acompanhar o crescimento des-compassado da demanda. Em 1985, as vendas de carro a etanol atingiram nveis superiores a 95% das vendas totais de veculos de ciclo Otto para o mercado interno. A partir de ento, os baixos preos do etanol fixados pelo Governo, devi-do queda dos preos internacionais do petrleo, impediram a elevao da produo interna do produto. Contudo, para os consumidores continuou sendo atrativo o preo do etanol em relao ao da gasolina e a manuteno de menores im-postos nos veculos a etanol se comparados aos a gasolina. Essa combinao de desestmulo produo de etanol e de estmulo sua demanda gerou a crise de abastecimento da entressafra 1989-1990. Vale ressaltar que, no perodo ante-rior crise de abastecimento, houve desestmulo tanto pro-duo de etanol quanto produo e exportao de acar, que naquela poca tambm tinham seus preos fixados pelo Governo. A produo anual de etanol manteve-se em nveis praticamente constantes no perodo de 1985 a 1990, em tor-no de 12 bilhes de litros.

    Embora o programa tenha tido grande sucesso nas dcadas de 1970 e 1980, a crise de abastecimento de etanol no fim dos anos 1980, juntamente com a reduo de estmulos sua produo e uso, provocaram, nos anos seguintes, um signi-ficativo decrscimo da demanda e, consequentemente, das vendas de automveis movidos por esse combustvel.

    Devem-se destacar, ainda, outros motivos que tambm con-triburam para a reduo da produo dos veculos a etanol. No final da dcada de 1980 e incio da dcada de 1990, o pre-o internacional do barril de petrleo diminuiu sensivelmen-te. A essa realidade, que se manteve nos dez anos seguintes, somou-se a tendncia de a indstria automobilstica fabricar modelos e motores padronizados mundialmente, na verso a gasolina. No incio da dcada de 1990, houve tambm a li-berao das importaes de veculos automotivos (gasolina e diesel) e a introduo da poltica de incentivos para vecu-

    los de at 1000 cilindradas (carro popular) que, at 1992, s contemplou veculos a gasolina.

    A crise do abastecimento de etanol obrigou o pas a realizar importaes pontuais de etanol e metanol54 para garantir o abastecimento do mercado ao longo da dcada de 1990.

    Fase de Redefinio (1995-2000)

    Os mercados de etanol combustvel, tanto anidro quanto hi-dratado, encontravam-se liberados em todas as suas fases produo, distribuio e revenda sendo os seus preos determinados pelas condies de oferta e demanda. Com o intuito de direcionar polticas para o setor sucroalcooleiro, foi criado55 o Conselho Interministerial do Acar e do l-cool - CIMA.

    Segundo os dados da Associao Nacional de Fabricantes de Veculos Automotores (Anfavea, 2000), a produo de ve-culos a etanol manteve-se em 1% de 1998 a 2000. O estmu-lo dado ao uso do lcool hidratado em determinadas classes de veculos leves, como os carros oficiais e txis, provocou um debate entre especialistas da rea econmica, contrrios aos incentivos, e os especialistas da rea ambiental, favor-veis aos incentivos ao uso do etanol. A Lei 10.464, de 2002, estabeleceu um percentual mnimo entre 20% e 25% de eta-nol anidro na gasolina.

    Fase Atual

    Mais de trinta anos depois do incio do Proalcool, o Bra-sil vive uma nova expanso dos canaviais com o objetivo de oferecer, em grande escala, o combustvel alternativo. O plantio avana alm das reas tradicionais, do interior paulista e da regio Nordeste, e espalha-se por reas antes ocupadas por pastagens. A nova escalada no um movi-mento comandado pelo Governo, como a ocorrida no final da dcada de 1970, quando o Brasil encontrou no etanol a soluo para enfrentar o aumento abrupto dos preos do petrleo que importava. A corrida para ampliar unidades e construir novas usinas movida por decises da iniciativa privada, convicta de que o etanol ter, a partir de agora, um papel cada vez mais importante como combustvel, no Brasil e no mundo.

    A tecnologia dos motores flex-fuel veio dar novo flego ao consumo interno de etanol. O carro que pode ser movido gasolina, etanol ou qualquer mistura dos dois combustveis foi introduzido no pas em maro de 2003 e conquistou ra-

    54 Metanol utilizado para elaborao da mistura MEG 60% de lcool hidratado, 33% de metanol e 7% de gasolina.

    55 Decreto no 3546, de 17 de julho de 2000.

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    Parte 3

    pidamente o consumidor. Hoje a opo j oferecida para quase todos os modelos produzidos no pas e os automveis flex-fuel ultrapassaram em vendas os movidos gasolina na corrida do mercado interno. O comportamento das cotaes de petrleo no mercado internacional faz com que a expec-tativa da indstria seja que essa participao se amplie ainda mais. A relao de preos entre o etanol e a gasolina depende de diversas variveis, como a regio e o perodo ao longo do ano/safra

    A velocidade de aceitao pelos consumidores dos carros flex-fuel, foi muito mais rpida do que a indstria automobi-lstica esperava. Os flex-fuel representaram 94,2% do licen-ciamento total de automveis novos em 2008, enquanto a participao dos movidos a gasolina ficou em 5,8%, segundo a Associao Nacional dos Fabricantes de Veculos Automo-tores Anfavea (Figura 1.3).

    Figura 1.3 Licenciamento de autoveculos novos (em percentual)

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

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    1970

    19

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    (%)

    Gasolina lcool Flex-Fuel

    Fonte: Anfavea, 2009.

    1.1.1 Perspectivas para o Etanol

    Como na poca das crises do petrleo dos anos 1970, o mun-do est empenhado em encontrar uma soluo duradoura para seu problema energtico. A preocupao ambiental so-mou-se reduo dos estoques e alta dos preos dos com-bustveis fsseis para valorizar as fontes renovveis e menos emissoras de gases de efeito estufa.

    O setor energtico no Brasil vem sofrendo diversas mudan-as, como a tentativa de se retomar projetos que levem em

    conta o meio ambiente e o mercado de trabalho. Tendo-se como referncia a Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima, o etanol para fins carburantes exerce um importante papel na estratgia energtica para um desenvolvimento sustentado.

    O surgimento, em todo o mundo, de novos tipos de veculos e tecnologias de motores (como o caso dos veculos flex-fuel) tem provocado mudanas importantes na tradicional postura da indstria automobilstica e de outros agentes atuantes no mercado.

    Previses feitas pela Unio da Indstria de Cana-de-Acar - Unica, em parceria com a Cooperativa de Produtores de Cana-de-Acar, Acar e lcool do Estado de So Paulo - Copersucar e a Associao da Indstria de Cogerao de Energia - COGEN (Tabela 1.1) apontam que a produo de cana-de-acar deve praticamente dobrar no perodo 20102020, sendo que a produo de etanol sofreria um aumento de mais de 150%, resultando em um volume capaz de atender demanda interna e ainda exportar parte da produo. Essa projeo tambm prev um grande aumento na participao da bioeletricidade na matriz eltrica brasileira, passando de 3% para 14% do total, entre 2010 e 2020.

    Tabela 1.1 Aumento projetado da produo sucroalcooleira entre 2010 e 2020

    2009/10 2015/16 2020/21

    Produocana-de-acar milhes t)

    605 829 1038

    Acar (milhes t) 33 41,3 45,0

    Consumointerno e estoque

    10 11,4 12,1

    Excedentepara exportao

    23 29,9 32,9

    Etanol (bilhes l) 25,7 46,9 65,3

    Consumointerno e estoque

    22,5 34,6 49,6

    Excedentepara exportao

    3,2 12,3 15,7

    Bioeletricidade (MW mdio)

    1.800 8.158 13.158

    Participao na ma-triz eltrica brasileira (%)

    3% 11% 14%

    Fonte: Elaborado por Unica, Copersucar e COGEN.

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    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    A cana-de-acar, por meio do etanol e da bioeletricidade, j representa 18% da matriz energtica brasileira. Trata-se da segunda maior fonte de energia do pas, atrs somente do petrleo e a primeira fonte renovvel, frente das hidreltri-cas (Figura 1.4).

    Figura 1.4 Matriz energtica brasileira

    Fonte: Elaborado por Unica com base no Balano Energtico Nacional de 2010 (da-dos preliminares)56.

    1.1.2 Aspectos Econmicos do Etanol

    Reduo dos Custos do Etanol

    A viabilidade econmica do etanol combustvel est direta-mente ligada produtividade da lavoura da cana-de-acar e ao rendimento industrial do processo de produo. Nas ltimas duas dcadas, o desenvolvimento e a implantao de novas tcnicas e tecnologias no setor sucroalcooleiro fo-ram os grandes responsveis pela reduo nos seus custos de produo. Acredita-se que, de 1976 a 2000, os custos de produo do etanol carburante no Brasil reduziram-se de forma significativa. Hoje, o preo praticado pelos produtores corresponde a cerca de 30% do valor observado no incio do Proalcool. Os ganhos de produtividade do setor sucroalcoo-leiro passaram por trs fases distintas:

    A partir de 1975, busca por maior produtividade industrial;

    A partir de 1981-1982, busca por maior eficincia na con-verso de sacarose para o produto final, bem como por redues de custo; e

    A partir de 1985, gerenciamento global da produo agr-cola e industrial, incluindo o planejamento e o controle da produo da cana, integrados com a produo industrial.

    56 Vide: < https://ben.epe.gov.br/BENResultadosPreliminares2010.aspx>.

    Para uma melhor eficcia dos programas de desenvolvi-mento tecnolgico, a maior nfase do setor tem sido na rea agrcola, pois essa etapa concentra cerca de 60% dos custos de produo do etanol.

    Etapas da Produo

    Na produo de cana-de-acar (fase agrcola)

    A produtividade mdia da cana-de-acar brasileira aumen-tou de 47 t/ha em 1975 para 68 t/ha em 1996, atingindo cerca de 78 t/ha em 2008, sendo que no estado So Paulo, maior produtor, a produtividade superior a 100 t/ha (BRA-SIL, 2009a). Diversos fatores geraram este aumento:

    Variedades selecionadas de cana-de-acar - o melho-ramento gentico da cana era feito pela Copersucar57 que detinha o maior programa do mundo para estudos nessa rea. Atualmente, esses trabalhos so feitos pelo Centro de Tecnolo gia Canavieira - CTC, entidade pri-vada mantida pelas usinas e associaes de fornecedo-res do setor, sendo este o maior centro de tecnologia da cana-de-acar do Brasil. Alm do CTC, outras or-ganizaes, tanto pblicas quanto privadas, realizam pesquisas neste campo. Pode-se citar, por exemplo, a Canavialis como uma iniciativa do setor privado, o Instituto Agronmico de Campinas - IAC e a Universi-dade Federal de So Carlos - UFSCAR, como iniciativas do setor pblico;

    Tecnologia agrcola - destaca-se o princpio do gerencia-mento da produo agrcola com a utilizao de mapas de solos, usos de imagem de satlite para identificao de variedades e aperfeioamento do manejo em geral;

    Utilizao do vinhoto como adubo orgnico, rico em fs-foro e potssio.

    Na produo de etanol (fase industrial)

    Foram verificados significativos avanos tecnolgicos, resul-tando em um aumento da produtividade mdia de converso de cana-de-acar em etanol de 75 litros/t em 1985 para 85 litros/t em 2010, devido a vrios fatores:

    57 A Copersucar a maior empresa brasileira de acar, etanol e bioenergia, com atuao relevante nos principais mercados mundiais. Com 39 usinas associa-das, detm modelo de negcio nico, integrando todos os elos da cadeia da produo, comercializao e logstica de acar, etanol e bioenergia, do plane-jamento das operaes entrega dos produtos diretamente aos clientes finais no Brasil e no Exterior. Na safra 2009/2010 foi responsvel por uma produo de 74 milhes de toneladas de cana, 3,7 milhes de toneladas de acar e 3,43 bilhes de litros de etanol, tendo uma participao de 20 a 25% da produo nacional da agroindstria canavieira (htpp//:www.copersucar.com.br).

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    Parte 3

    Extrao do caldo - o ndice de extrao do caldo na mo-agem da cana elevou-se de 92% para 97%. Alm dis-so, com pequenas modificaes em equipamentos e no sistema operacional, foi possvel elevar a capacidade de moagem em 45%;

    Tratamento e fermentao do caldo - primeiramente, controle biolgico e, em seguida, fermentao contnua (mais de 230% de produtividade em relao a 1975);

    Destilao - aumento da capacidade de acordo com o grau alcolico da mistura, devido melhoria nos equipa-mentos;

    Melhorias no campo da energia - na produo do a-car e do etanol, de 1980 a 1995, o percentual de auto--suficincia em energia eltrica nas usinas, devido uti-lizao do bagao nas caldeiras, passou de 60% a 95%. Atualmente 100% das usinas j so auto-suficientes e diversas unidades vendem excedentes de energia para a rede eltrica. Em 2008, no estado de So Paulo, mais de 700 MW de bioeletricidade foram disponibilizados para o sistema eltrico (BRASIL, 2009b).

    Preo do Etanol

    Os preos do etanol para fins carburantes no Brasil so deter-minados pelo livre mercado. Dada a importncia do setor e a sua prpria natureza, as atividades de produo, distribuio e comercializao de combustveis so reguladas pela Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis - ANP.

    A partir de 1980, a diferena percentual entre os valores atri-budos ao etanol e gasolina (denomina-se usualmente no Brasil como gasolina a mistura de gasolina pura e lcool ani-dro, conhecida internacionalmente como gasohol), indica a existncia de fases na poltica energtica do Governo:

    1980 a 1983 - forte estmulo ao etanol - pressionado por uma crise da balana de pagamentos e pelos altos preos do petr-leo importado, o preo do etanol, nesse perodo, era cerca de 40 a 45% inferior ao da gasolina;

    1984 a 1988 - estmulo moderado ao lcool carburante - interesse interno de controle da inflao e uma reduo dos preos do petrleo importado, a partir de 1985, fize-ram com que o preo do etanol, nesse perodo, fosse, em mdia, 35% inferior ao da gasolina;

    1989 a 1996 - fraco estmulo governamental ao programa - de-vido crise de abastecimento de lcool do fim da dcada de 1980 e aos baixos preos do petrleo no mercado internacio-

    nal, no perodo, a diferena de preos entre o lcool hidratado58 e a gasolina para o consumidor, diminuiu para nveis inferiores a 20%, tomando-se o preo da gasolina como referncia;

    1997 at 2002 - com a elevao dos preos do petrleo no mercado internacional, a diferena de preos entre o lcool hidratado e a gasolina para o consumidor voltou a se elevar, atingindo a faixa de 50% em 2002. Observou--se, neste perodo, a falta de uma poltica definida para o lcool hidratado combustvel, embora diversas autorida-des tenham se posicionado no sentido da retomada des-sa opo. Com a promulgao da Lei no 10.336/200159, voltou-se a debater o retorno dos incentivos ao carro a etanol e a produo de carros flex-fuel, e os preos cres-centes do petrleo no mercado internacional, bem como a realidade cambial, viabilizaram o uso do etanol;

    2003 aos dias atuais - com o advento dos veculos flex--fuel, o consumidor pode optar por misturar os com-bustveis (etanol e gasolina) em qualquer proporo. O consumidor pode fazer essa opo baseando-se nas vantagens e desvantagens da cadeia produtiva dos dois combustveis, mas o que ainda mais comum o con-sumidor tomar essa deciso baseado na relao custo/benefcio (preo do combustvel/km rodado). Para au-xiliar o consumidor nessa escolha, foi desenvolvido um clculo simples que leva em considerao o valor e o ren-dimento mdio de cada combustvel. De maneira geral, assume-se que se o valor do litro do etanol corresponder at 70% do valor do litro da gasolina, mais vantajoso economicamente abastecer com etanol. Tabelas simplifi-cadas que auxiliam o consumidor a fazer este clculo tm sido distribudas nos postos de combustveis. A balana comercial do etanol volta a ser de exportaes lquidas60 e h clara tendncia de que o Brasil dever ser um signi-ficativo exportador desse produto, devido s vantagens comparativas da produo no pas e adoo de progra-

    58 O lcool hidratado carburante possui 96% de lcool puro e 4% de gua e vendido diretamente como combustvel, enquanto o lcool anidro apresenta pureza de at 99,3% e misturado gasolina.

    59 A Lei n 10.336, de 19 de dezembro de 2001, instituiu a Contribuio de In-terveno no Domnio Econmico - Cide, incidente sobre a importao e a comercializao de petrleo e seus derivados, gs natural e seus derivados, e lcool etlico combustvel. O produto de arrecadao da Cide passou a ser destinado, na forma da lei oramentria, ao pagamento de subsdios a pre-os ou transporte de lcool combustvel, de gs natural e seus derivados e de derivados de petrleo; ao financiamento de projetos ambientais relacio-nados com a indstria do petrleo e do gs; e ao financiamento de progra-mas de infraestrutura de transportes. Essa lei j sofreu diversas alteraes, sendo que a redao final foi dada pela Lei no 12.249, de 11 de junho de 2010.

    60 Durante a dcada de 1980, o etanol, alm de favorecer a reduo das impor-taes de petrleo e derivados, contribuiu para a pauta de exportaes brasi-leiras. Todavia, a partir de 1989, houve um perodo de importaes lquidas de etanol, em decorrncia da crise interna de abastecimento.

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    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    mas de uso do etanol combustvel em diversos pases como estratgia de melhoria ambiental e de reduo de emisses.

    As Externalidades do Etanol de Cana-de-Acar

    Ambientais

    Garantia de preservao da floresta amaznica e outras reas de floresta nativa a produo de cana-de-acar do Brasil no ocorre na rea da floresta amaznica, apresentando seus principais polos produtores a uma grande distncia do re-ferido bioma, como indica a Figura 1.5. A alta produtividade brasileira garante que no haja necessidade de expandir o cultivo para reas de floresta.

    Figura 1.5 rea de plantio de cana-de-acar no Brasil, mostrando a distncia em relao floresta amaznica

    Fonte: Unica, 2008.

    Eliminao do chumbo tetraetila da gasolina - o Brasil foi o pri-meiro pas do mundo a eliminar totalmente o chumbo tetra-etila dos combustveis em 1992. Desde 1989, cerca de 99% do petrleo refinado no pas j no usava esse aditivo. Essa conquista deu-se graas ao uso do etanol como aditivo gasolina.

    Reduo na poluio atmosfrica dos centros urbanos - um es-tudo coordenado pela Unica (MEIRA FILHO & MACEDO, 2010) a respeito dos efeitos que poderiam advir a partir da substituio total da gasolina e do diesel por etanol na

    frota cativa de nibus da cidade de So Paulo, indicou que mais de 12 mil internaes e 875 mortes seriam evitadas em um ano. Uma tragdia, portanto, seria evitada, diante da qual seu custo financeiro, de quase US$ 190 milhes, teria importncia secundria, embora altamente significa-tivo em termos de oramentos pblicos e familiares.

    Deve-se destacar, entretanto, que os resultados do referido estudo esto subestimados. Isso porque os efeitos sobre a sade so medidos apenas em termos de admisses hospita-lares e mortalidade, escolha que se deve disponibilidade de informaes nas bases de dados oficiais. Sabe-se, no entan-to, que esses casos representam apenas parte dos eventos adversos sade. Outras doenas, que no demandam aten-dimento hospitalar, no foram contabilizadas. Alm disso, foram estudados apenas os efeitos provocados pela emisso de oznio e material particulado fino, sendo desprezados os efeitos de outros agentes txicos, como enxofre e metais pe-sados. Ou seja, o impacto ainda maior do que mostram os nmeros da simulao.

    Reduo de emisses de gases de efeito estufa as causas da mudana do clima esto fortemente relacionadas aos pa-dres atuais de produo e consumo de combustveis fs-seis. Alm disso, as emisses de gases de efeito estufa pelo setor de transportes devem aumentar drasticamente num futuro prximo, uma vez que a cada ano, um nmero maior de pessoas tem acesso a formas de transporte motorizadas. Nesse sentido, o potencial de reduo de emisses de gases de efeito estufa por biocombustveis grande, embora varie significativamente, dependendo da escolha da matria pri-ma, da forma de produo, etc.

    A Agncia Internacional de Energia estimou que o etanol derivado de cana-de-acar, como o produzido pelo Brasil, pode atingir mais de 90% de reduo nas emisses de ga-ses de efeito estufa comparado gasolina e ao leo diesel convencionais, enquanto o etanol derivado de milho reduz as emisses em cerca de 35%. (IEA, 2004; MACEDO et. al., 2004; MACEDO & SEABRA, 2008).

    Ao contrrio do etanol brasileiro, produzido base de ca-na-de-acar e utilizando o bagao da cana como fonte de energia no seu processo industrial de produo, com emis-ses lquidas desprezveis, o lcool produzido base de gros (destacadamente do milho) consome grandes volu-mes de insumos energticos provenientes de combustveis fsseis para a sua produo. Isso resulta em redues de apenas 30 a 36% nas emisses de CO

    2 nos veculos movi-

    dos a combustvel E85 (85% etanol e 15% gasolina) e de apenas 2,4 a 2,9% nos veculos com combustvel E10 (10%

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    Parte 3

    de etanol e 90% de gasolina). Redues, portanto, bem modestas se comparadas s redues alcanadas pelo uso do lcool produzido a partir de cana-de-acar no Brasil (WANG et al., 1997).

    Ainda segundo MEIRA FILHO & MACEDO (2010), o impacto positivo do etanol na mitigao mudana do clima subs-tancial. O uso do etanol combustvel permitiu ao Brasil, ex-cludas as emisses da agropecuria e indiretas de mudanas do uso da terra e florestas, evitar o equivalente a 10% das emisses dos gases de efeito estufa em 2006. Para 2020, estima-se um corte de 18%. Assim, desde 1975, a reduo de emisses diretas provenientes do uso do etanol carburante no Brasil foi de aproximadamente 600 milhes de toneladas de CO

    2 (PACCA & MOREIRA, 2009).

    Quando se considera apenas o setor de transporte e gerao de energia eltrica, a contribuio do lcool ainda mais expressi-va. Em 2006, o uso do etanol como combustvel proporcionou a reduo de 22% das emisses finais dos dois setores e chegaria a 43 % em 2020 (MEIRA FILHO & MACEDO, 2010).

    Apesar de haver emisses de gases de efeito estufa na pro-duo agrcola da cana-de-acar (devido ao uso de fer-tilizantes, combustveis e insumos) e no seu transporte do campo para a usina, o balano final altamente positivo, com uma reduo lquida na taxa de emisso de CO

    2 da ordem de

    2 t CO2 equivalente por m

    3 de etanol consumido (MACEDO

    & SEABRA, 2008). A Tabela 1.2 apresenta os fluxos de CO2 e

    na produo e consumo do etanol no Brasil.

    Tabela 1.2 Fluxo de CO2 equivalente na produo e consu-mo de etanol no Brasil

    GasesFluxo

    (tCO2/m3 etanol)

    CO2 reduzido* -2,3

    (substituio da gasolina) -2,1

    (substituio do leo combustvel) -0,2

    CO2 liberado** (produo de cana/etanol) 0,4

    Total Lquido -1,9

    * Mdia de CO2 reduzido pela substituio da gasolina, seja por lcool anidro ou

    hidratado; substituio do leo combustvel pelo bagao de cana; e substituio da energia eltrica pelos excedentes de usina.**CO

    2 equivalente das fases agrcola e industrial de produo da cana e do etanol.

    Nestas fases so emitidos gases de efeito estufa como o CO2, CH

    4 e N

    2O, da ordem

    de 400 kg de CO2 equivalente por m3 de etanol produzido.

    Fonte: MACEDO & SEABRA, 2008.

    Na queima das folhas da cana para colheita ocorre liberao de CO

    2, embora essa no seja considerada pelos especialis-

    tas como uma emisso lquida, pois o carbono emitido foi

    previamente absorvido pela planta durante seu crescimento. Contudo, durante o processo de combusto, outros gases so produzidos (N

    2O e NO

    x durante a fase de combusto com

    chama, e CO e CH4 sob condies de queima com predomnio

    de fumaa). No estado de So Paulo, h legislao estabele-cendo a extino gradativa da queima da cana para colheita. Adicionalmente, o Protocolo Agroambiental, assinado entre a Unica e as Secretarias de Meio Ambiente e Agricultura do estado de So Paulo, e que conta com a participao de mais de 170 usinas, antecipa os prazos para a eliminao da quei-ma determinados pela legislao, o que implica na crescente colheita da cana crua. Atualmente, mais de 55% das reas de cultivo de cana no estado de So Paulo j so colhidas sem queima (AGUIAR et al., 2010), sendo este estado o respons-vel por mais de 60 % da produo brasileira (Unica, 201061).

    Poluio hdrica e pedolgica - o despejo de vinhoto nos rios, afluentes, solos e lenis freticos foi extremamente crtico no incio do Proalcool. Hoje, esse resduo da produo de eta-nol transformou-se em uma vantagem econmico-ambiental para o produtor de cana, sendo agora devolvido ao solo como fertilizante, em quantidades controladas para no contami-nar os lenis freticos.

    Energticas

    Balano energtico positivo - uma das grandes vantagens do Proalcool encontra-se no fato de que a produo do etanol feita com um consumo de energia bem inferior ao que ela produz. Pesquisas demonstram que, nos cultivos do estado de So Paulo, a relao entre energia produzida (etanol e ba-gao excedente) e energia consumida (combustveis fsseis e eletricidade adquirida) varia de 9 a 11,2 vezes.

    Potencial de cogerao com uso dos subprodutos da cana62 - o uso do bagao e, eventualmente, da palha da cana representam um vasto potencial de cogerao de energia eltrica renov-vel. Atualmente, mais de 90% do bagao consumido como combustvel para fornecer toda energia eletromecnica e tr-mica requerida para o processamento da cana. Com o uso de caldeiras e turbogeradores de alta presso, operando somen-te com bagao durante a safra (cogerao) possvel obter gerao de energia eltrica excedente de at 86 kWh por to-nelada de cana. Com a tendncia para a colheita da cana sem queima e com o aproveitamento de 50 a 80% da palha dis-ponvel, a usina poder gerar excedentes acima de 100 kWh/

    61 Perspectivas da Expanso da Produo. Elaborao: Unica, Copersucar e Co-gen. No Publicado.

    62 Define-se cogerao de energia como o processo de produo combinada de calor til e energia mecnica, geralmente convertida total ou parcialmente em energia eltrica, a partir da energia qumica disponibilizada por um ou mais combustveis.

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    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    tonelada de cana com a tecnologia convencional (caldeiras e turbogeradores a vapor de alta presso) ou mesmo acima de 250 kWh/tonelada de cana com tecnologias mais avan-adas, como a gaseificao da biomassa e o uso de turbinas a gs. Nesses dois casos, a energia seria gerada o ano inteiro, em um hbrido de cogerao e gerao trmica pura.

    Estimativas apontam que, com o contnuo aproveitamento da palha, a venda de energia eltrica pelo setor sucroenergtico poder atingir 13.158 MW mdios at a safra 2020/202163, o que significaria uma reserva de energia para o sistema eltrico superior ao produzido por ano na usina hidreltrica de Itaipu64. Em agosto de 2010, as atividades de projetos de cogerao a bagao de cana, desenvolvidas no mbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MDL, e aprovadas pela Autoridade Nacional Designada adicionam 1.334 MW ao setor eltrico, existindo ainda um potencial significativo de ampliao dessa capacidade no futuro.

    Econmicas

    Em 2008, aferiu-se que o Produto Interno Bruto do setor de US$ 28,15 bilhes65, equivalente a quase 2% do PIB nacio-nal. Nessa conta do PIB setorial, em que foram computados dados relativos a 2008, esto includas as exportaes de quase US$ 8 bilhes (sobretudo de acar, US$ 5,5 bilhes, e etanol, US$ 2,4 bilhes). O grosso gerado no mercado interno, onde as vendas alcanam US$ 20,2 bilhes, metade das quais de etanol hidratado (UNICA, 2010).

    Considerados apenas os impostos sobre o faturamento isto , IPI, ICMS, PIS e Cofins estima-se que, em 2008, o setor tenha pago o equivalente a US$ 9,86 bilhes. Desse total, US$ 3 bilhes so relativos venda de insumos agrco-las e industriais e US$ 6,86 bilhes referem-se a impostos agregados do setor sucroenergtico.

    Sociais

    Gerao de emprego Em 2008, o setor sucroenergtico empregou 1,28 milho de pessoas com carteira assinada, o equivalente a 2,15% dos postos de trabalho no Brasil. Nessa conta incluem-se empregos gerados no cultivo da cana-de--acar, fbricas de acar em bruto, no refino e moagem

    63 Supondo-se a utilizao de 50% da palha disponvel no mesmo ano-safra para a exportao de energia eltrica e que uma tonelada de cana (bagao + palha) gera 199,9 kWh para exportao; PCI da palha = 1,7 PCI do bagao; Fator de Capacidade = 0,5 (Koblitz, 2009), utilizando caldeira de 65 bar.

    64 Em 2008, a Usina Itaipu gerou 94.684.781 MWh, com uma potncia instalada de 14.000 MW, equivalente a 10.809 MW mdios (Itaipu, 2009).

    65 A indstria da cana-de-acar: etanol, acar e bioeletricidade. No mapea-mento do setor, foi usada a taxa de cmbio de R$ 1,84 por dlar, a mdia do ano de 2008.

    de acar e na produo de etanol. A maior parte dos em-pregos foi gerada pelo cultivo da cana (481.662 funcion-rios), fixos e sazonais, e nas fbricas de acar (561.292 funcionrios). A produo de etanol envolveu 226.513 em-pregados e o refino e moagem de acar, 13.791 pessoas. Os dados mostram que o ndice de formalidade de empregos no setor canavieiro vem crescendo, atingindo a mdia na-cional de 80,9%. O ndice de formalidade maior na regio Centro-Sul (90,3%), chegando a 95,05% em So Paulo. Na regio Nordeste, de 66,5%. Considerando-se que para cada emprego direto so gerados dois indiretos, estima-se haver 4,29 milhes de pessoas trabalhando na cadeia da cana-de-acar. Mais da metade (55%) dos trabalhadores no cultivo da cana analfabeta ou tem baixa escolaridade. O aumento da mecanizao, porm, tem se encarregado de aumentar a demanda por profissionais mais qualificados (UNICA, 2010).

    Manuteno da mo-de-obra no meio rural - alm da elevada gerao de empregos na agroindstria canavieira, h que se destacar a natureza rural desses empregos, contribuin-do para a conteno da migrao rural-urbana e evitando o agravamento do crescimento das grandes cidades bra-sileiras.

    Melhoria das condies de sade - a reduo de poluio do ar associada ao maior uso de etanol reduz adicionalmente os gastos pblicos com sade, em especial, nas grandes cidades.

    Estratgicas

    Alternativa ao petrleo - o consumo crescente de petrleo no mundo, acrescido da forte concentrao de reservas petrolferas nos pases do Golfo Prsico, indica uma ten-dncia crescente de instabilidade nos preos futuros dos hidrocarbonetos. Em 2008, o Brasil produziu, interna-mente, 99,5% da oferta interna bruta de petrleo (ANP, 2009a). Com base nos nveis atuais de produo, o etanol da cana-de-acar no poder substituir todo o consumo de petrleo do pas; todavia, pode fazer parte das opes energticas para enfrentar situaes de instabilidade no suprimento de petrleo.

    Tecnolgicas

    Desenvolvimento da tecnologia do carro a etanol - a engenharia automotiva brasileira passou por um importante esforo tec-nolgico para adequar veculos de ciclo Otto para o uso do etanol nas diversas condies climticas do pas. Alm disso, novos materiais e revestimentos foram utilizados para evitar a corroso provocada pelo etanol.

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    Parte 3

    Um grande marco tecnolgico foi a criao dos automveis com motores movidos gasolina e etanol. Os primeiros estudos sobre os veculos flex-fuel no Brasil comearam a ser desenvolvidos em 1990. Os carros foram lanados no mercado em 2003, depois de incorporarem importantes avanos, especialmente na eletrnica embarcada66 que viabiliza um controle preciso das principais funes do motor para cada um dos combustveis utilizados etanol ou gasolina e suas misturas. A introduo dessa tec-nologia no pas foi baseada no conceito da no modifica-o do motor gasolina, de modo que, na primeira gera-o, a ateno foi quase que exclusivamente dedicada funcionalidade do sistema e atendimento aos requisitos de emisses, com pouca preocupao com o consumo do etanol. Essa tecnologia foi sendo aprimorada, mas de modo desigual pelas diversas montadoras que operam no mercado nacional. Enquanto que algumas montadoras, reconhecendo a preferncia do consumidor pelo etanol, vm incorporando inovaes que levam a um uso mais oti-mizado do combustvel renovvel, outras ainda esto na primeira gerao de motores flex-fuel. Portanto, pode-se afirmar que, de um modo geral, esses veculos ainda no esto suficientemente desenvolvidos para maximizar os benefcios do etanol, como o maior calor latente de vapo-rizao e a maior octanagem, que do vantagem energti-ca sobre a gasolina. A mais recente novidade tecnolgica dos veculos flex-fuel, incorporada em 2009 por enquanto a um nico modelo, foi o sistema de partida a frio com pr--aquecimento do etanol, o que dispensa a necessidade do tanque auxiliar de gasolina e apresenta reduo adicional na emisso de poluentes com etanol.

    Progressos tcnicos na produo sucroalcooleira - o esforo de universidades e centros de pesquisa, pblicos e privados, le-varam a uma notvel evoluo cientifica e tecnolgica nacio-nal na rea. A evoluo na produo de cana levou intensi-ficao do uso de biotecnologias, de tcnicas de conservao do solo, bem como melhorias nos ambientes e sistemas de produo.

    Qualidade do solo - a princpio, o cultivo da cana-de-acar em uma mesma rea, ano aps ano, pode criar a expectativa de que a produtividade decline com o tempo. Entretanto, o oposto provou ser uma realidade: aps dcadas de colheitas, a produtividade da cana-de-acar brasileira tem aumentado de forma contnua, podendo ser atribuda ao melhor prepa-ro do solo, ao desenvolvimento de variedades superiores de cana e reciclagem de nutrientes (vinhoto).

    66 Eletrnica Embarcada representa todo e qualquer sistema eletro-eletrnico montado em uma aplicao mvel, seja ela um automvel, um navio, um avio ou mesmo um trator. Disponvel em: .

    Portanto, o uso de etanol de cana-de-acar como combus-tvel demonstra ser uma alternativa sustentvel em relao ao uso de combustveis fsseis, com gerao de emprego, gerao de renda no campo, desenvolvimento de tecnologia e preservao do meio ambiente.

    Em relao s emisses de gases de efeito estufa, o balano final altamente positivo, em funo do processo de fotos-sntese, em que a cana absorve a mesma quantidade de di-xido de carbono que emitida durante a queima do lcool e

    do bagao.

    1.2 Programa Brasileiro de Biocombus-tveis Pro-biodiesel

    O Brasil, alm de se destacar internacionalmente pela produ-o de etanol a partir de cana-de-acar, foi o primeiro pas a registrar a patente do biodiesel em 1980.

    Em 1983, o governo brasileiro, motivado pela elevao dos preos de petrleo, determinou a implementao de um projeto intitulado Programa Nacional de Energia de leos Vegetais - Projeto OVEG, no qual foi testada a utilizao de biodiesel e de misturas combustveis em veculos que rodaram mais de um milho de quilmetros. Essa iniciativa, coordenada pela Secretaria de Tecnologia Industrial do Ministrio da Indstria, do Comrcio e do Tu-rismo MICT67, contou com a participao da indstria automobilstica, fabricantes de autopeas, produtores de lubrificantes e combustveis, indstrias de leos vegetais e institutos de pesquisa.

    Foi constatada a viabilidade tcnica da utilizao do com-bustvel, aproveitando a logstica de distribuio existente. Entretanto, naquele momento, os custos do biodiesel eram muito mais elevados do que o diesel, e, dessa forma, no foi implementada a produo do biodiesel em escala co-mercial.

    A dcada de 1990 caracterizou-se pela produo comercial e instalao de plantas em escala industrial, estimulada pela competitividade relativa de preos do petrleo e leos ve-getais e visando atender as preocupaes relativas ao meio ambiente.

    No incio da dcada de 2000, o Governo Federal passou a perceber como estratgica a incorporao do biodiesel matriz energtica brasileira, na medida em que este com-bustvel se apresentava como uma alternativa de diminuio

    67 Atualmente, Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior - MDIC.

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    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    da dependncia dos derivados de petrleo e como elemento propulsor de um novo mercado para as oleaginosas. Utiliza-do principalmente no transporte de passageiros e cargas, o diesel atualmente o derivado de petrleo mais consumido no Brasil, com comercializao anual de cerca de 38 bilhes de litros (BRASIL, 2009b). Considerando o perfil de produ-o nas refinarias brasileiras, uma frao crescente desse produto vem sendo importada, como mostra a Figura 1.6. O pas importa, hoje, 12,6% do diesel consumido no Bra-sil (BRASIL, 2009b). Dessa forma, o desenvolvimento de uma indstria de biodiesel permite ao pas reduzir gastos. De acordo com a ANP, em 2008, o uso do biodiesel evitou a importao de 1,1 bilhes de litros de diesel de petrleo, resultando numa economia de cerca de US$ 976 milhes, gerando divisas para o pas.

    Figura 1.6 Evoluo da produo, da demanda e da impor-tao de leo diesel

    0

    5.000

    10.000

    15.000

    20.000

    25.000

    30.000

    35.000

    40.000

    45.000

    50.000

    19

    99

    20

    00

    20

    01

    20

    02

    20

    03

    20

    04

    20

    05

    20

    06

    20

    07

    20

    08

    Vo

    lum

    e (

    103

    m3)

    Importao Produo Consumo

    Fonte: BRASIL, 2009b.

    Estudos indicam que a produo de biodiesel nacional, es-pecialmente para modernos veculos a diesel, apresenta as seguintes oportunidades:

    no contribui para o aumento do efeito estufa (emisses evitadas de cerca de 2,5 toneladas de gs carbnico por metro cbico de biodiesel utilizado);

    reduo das emisses de poluentes monxido de carbo-no - CO e da mutagenicidade pela eliminao dos com-postos aromticos, grande reduo de emisses de hi-drocarbonetos - HC e fumaa preta, bem como reduo significativa de emisses de hidrocarbonetos aromticos policclicos do teor de enxofre do combustvel, quando

    comparado ao diesel, contribuindo, assim, para a reduo do nvel de poluio das cidades, melhorando a qualidade de vida de seus habitantes;

    no txico;

    tecnologia atual permite aos veculos diesel atender norma EURO III, dispositivos de reteno de particulados - filtros regenerativos (com B100 podero operar melhor pela ausncia de enxofre e material particulado);

    perspectiva de exportao de biodiesel como aditivo de baixo contedo de enxofre, especialmente para a Unio Europeia, onde o teor de enxofre est sendo re-duzido paulatinamente (de 2000 ppm em 1996, para 350 ppm em 2002, e 50 ppm em 2008);

    o fortalecimento das fontes de energia renovvel na ma-triz energtica;

    biodegradvel;

    desempenho superior e uso de motores cada vez menores;

    melhora o nmero de cetano, mais elevado (maior que 50) que o do diesel (melhoria no desempenho da igni-o), e lubricidade (reduo de desgaste, especialmente do sistema de ignio);

    pontos de combusto e fulgor apropriados (mais seguro para manipular);

    mercado em grande expanso, especialmente na Europa, trazendo vantagens na exportao de veculos, motores e componentes;

    economia de combustvel;

    novas oportunidades de negcios, em particular na agroindstria, e gerao de emprego e renda;

    carga tributria dos combustveis definida;

    demanda crescente de diesel no Brasil (com implicaes na dependncia de importao, no balano de pagamen-tos e na qualidade do combustvel);

    diversificao da matriz energtica; e

    melhoria da logstica de transporte.

    Em julho de 2003, foi criado um Grupo de Trabalho Intermi-nisterial - GTI, integrado por representantes de 11 ministrios

    parte3_capitulo1.indd 310 10/23/10 1:42 AM

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    Parte 3

    e coordenado pela Presidncia da Repblica, com o objetivo de analisar a viabilidade da produo e uso desse combust-vel no pas.

    Levando em considerao os benefcios de natureza social, econmica, ambiental e estratgica identificados pelo GTI, um novo decreto presidencial foi publicado em dezembro de 2003 criando a Comisso Executiva Interministerial do Bio-diesel e seu brao executivo, o Grupo Gestor do Biodiesel, visando promoo e ao acompanhamento das providncias necessrias introduo desse combustvel em larga escala na matriz energtica brasileira.

    Em dezembro de 2004, o Governo Federal lanou o Programa Nacional de Produo e Uso de Biodiesel - PNPB, responsvel pela organizao da cadeia produtiva, definio de linhas de financiamento e estruturao de base tecnolgica. O PNPB um programa interministerial do Governo Federal que tem como objetivos desenvolver as tecnologias de produo e o mercado de consumo de biocombustveis.

    O biodiesel68 definido como biocombustvel derivado de biomassa renovvel para uso em motores a combusto inter-na com ignio por compresso ou, conforme regulamento, para gerao de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente combustveis de origem fssil. O bio-diesel deve atender s especificaes tcnicas como sendo

    68 Segundo a Lei no 11.097, de 13 de janeiro de 2005.

    um produto nico, sem necessidade da definio da origem do leo vegetal ou qual o tipo de lcool a ser usado na produ-o, mas sim um conjunto de propriedades fsico-qumicas para o produto final que garanta a sua adequao ao uso em motores de ciclo diesel.

    O biodiesel pode ser obtido por diferentes processos, tais como o craqueamento, a esterificao ou pela transesteri-ficao69 etlica ou metlica. Pode ser produzido a partir de gorduras animais ou de leos vegetais, existindo no Brasil diversificadas opes de matrias-primas oleaginosas, com diferentes potenciais energticos, que podem ser utilizadas, tais como mamona, dend (palma), girassol, babau, amen-doim, pinho manso (Jatropha curcas L.) e soja, dentre outras (Tabela 1.3). Nesse sentido, o PNPB procura no privilegiar nenhuma matria-prima, deixando a escolha para o produtor, que a far com base na anlise de custos de produo e de oportunidade. Cabe esclarecer, entretanto, que o leo vegetal in natura bem diferente do biodiesel, que deve atender especificao estabelecida pela ANP70.

    69 A transesterificao o processo mais utilizado atualmente para a produo de biodiesel. Consiste numa reao qumica dos leos vegetais ou gorduras animais com o lcool comum (etanol) ou o metanol, estimulada por um cata-lisador, da qual tambm se extrai a glicerina, produto com aplicaes diversas na indstria qumica. Alm da glicerina, a cadeia produtiva do biodiesel gera uma srie de outros co-produtos (torta, farelo etc.) que podem agregar valor e se constituir em outras fontes de renda importantes para os produtores.

    70 Resoluo ANP 07/2008.

    Tabela 1.3 Caractersticas de alguns vegetais oleaginosos de potencial uso energtico

    Espcie Origem do leoContedo de leo

    (%)

    Ciclo paraMxima

    Eficincia

    Meses de Colheita

    Rendimento em leo (t/ha)

    Dend (Elaeis guineensis) Amndoa 20 8 anos 12 3,0-6,0

    Abacate (Persia americana) Fruto 7-35 7 anos 12 1,3-5,0

    Coco (Cocus numifera) Fruto 55-60 7 anos 12 1,3-1,9

    Babau (Orbinya martiana) Amndoa 66 7 anos 12 0,1-0,3

    Girassol (Helianthus annus) Gro 38-48 Anual 3 0,5-1,9

    Colza Canola (Brassica campestris) Gro 40-48 Anual 3 0,5-0,9

    Mamona (Ricinus communis) Gro 43-45 Anual 3 0,5-0,9

    Amendoim (Arachis hypogeae) Gro 40-43 Anual 3 0,6-0,8

    Soja (Glycine max) Gro 17 Anual 3 0,2-0,4

    Algodo (Gossypium hirsutum) Gro 15 Anual 3 0,1-0,2

    Fonte: NOGUEIRA & LORA, 2000.

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    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    O biodiesel substitui total ou parcialmente o leo diesel de petrleo em motores ciclodiesel automotivos (de caminhes, tratores, camionetas, automveis etc.) ou estacionrios (ge-radores de eletricidade, calor etc.). Pode ser usado puro ou misturado ao diesel em diversas propores. A mistura de 2% de biodiesel ao diesel de petrleo chamada de B2 e as-sim sucessivamente, at o biodiesel puro, denominado B100.

    Em 2005, tornou-se71 obrigatria a adio de 2% de biodiesel ao leo diesel comercializado (B2) em qualquer parte do ter-ritrio nacional, a partir de 2008, com extenso gradativa a 5% at 2013. Considerando que os prazos para atendimento do percentual mnimo obrigatrio de adio de biodiesel ao leo diesel comercializado para o consumidor final, em qual-quer parte do territrio, podem ser reduzidos pelo Comit Nacional de Poltica Energtica CNPE, este, em outubro de 2009, publicou resoluo estabelecendo em 5%, em volume (B5), o percentual mnimo obrigatrio de adio de biodiesel ao leo diesel, a partir de 1o de janeiro de 2010.

    A capacidade de produo de biodiesel instalada no pas foi julgada suficiente para atender elevao do percentual de adio para 5% a partir de 1o de janeiro de 2009, sendo que essa adio no exigiu alterao dos motores e da frota vei-cular em circulao, tendo sido garantida, assim, maior segu-raa para os consumidores. A modificao vai gerar demanda adicional de 740 milhes de litros/ano, aumentando o consu-mo de biodiesel para 2,4 bilhes de litros/ano.

    Essa estratgia permite o desenvolvimento da indstria na-cional de bens e servios e contribui para substituir o diesel importado por combustvel nacional, limpo e renovvel. Alm disso, o cultivo de matrias-primas e a produo industrial de biodiesel, ou seja, a cadeia produtiva do biodiesel tem grande potencial de gerao de empregos, promovendo, dessa for-ma, a incluso social, especialmente quando se considera o amplo potencial produtivo da agricultura familiar. Nas regies do semirido brasileiro e na regio Norte, a incluso soc