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401 Parte 3 ção estabelecidas em regulamento, asseguradas a partici- pação de seis representantes do Poder Executivo Federal e cinco representantes do setor não governamental. A aplicação dos recursos do FNMC é destinada ao apoio fi- nanceiro reembolsável mediante concessão de empréstimo, por intermédio do agente operador; e ao apoio financeiro, não reembolsável, a projetos relativos à mitigação da mudança do clima ou à adaptação à mudança do clima e aos seus efeitos, aprovados pelo Comitê Gestor do FNMC, conforme diretri- zes previamente estabelecidas pelo Comitê. A definição dos recursos a serem aplicados em cada uma das modalidades cabe ao Comitê Gestor do FNMC e sua aplicação poderá ser destinada as seguintes atividades: educação, capacitação, treinamento e mobilização na área de mudança global do clima; ciência do clima, análise de impactos e vulnerabilidade; adaptação da sociedade e dos ecossistemas aos impac- tos das mudança global do clima; projetos de redução de emissões de gases de efeito es- tufa; projetos de redução de emissões de carbono pelo des- matamento e degradação florestal, com prioridade a áre- as naturais ameaçadas de destruição e relevantes para estratégias de conservação da biodiversidade; desenvolvimento e difusão de tecnologia para a mitiga- ção de emissões de gases do efeito estufa; formulação de políticas públicas para solução dos pro- blemas relacionados à emissão e mitigação de emissões de gases de efeito estufa; pesquisa e criação de sistemas e metodologias de proje- to e inventários que contribuam para a redução das emis- sões líquidas de gases de efeito estufa e para a redução das emissões de desmatamento e alteração de uso do solo; desenvolvimento de produtos e serviços que contribuam para a dinâmica de conservação ambiental e estabiliza- ção da concentração de gases de efeito estufa; apoio às cadeias produtivas sustentáveis; pagamentos por serviços ambientais às comunidades e aos indivíduos cujas atividades comprovadamente con- tribuam para a estocagem de carbono, atrelada a outros serviços ambientais; sistemas agroflorestais que contribuam para redução de desmatamento e absorção de carbono por sumidouros e para geração de renda; e recuperação de áreas degradadas e restauração florestal, priorizando áreas de Reserva Legal e Áreas de Preserva- ção Permanente e as áreas prioritárias para a geração e garantia da qualidade dos serviços ambientais. O agente financeiro do FNMC é o BNDES, que também po- derá habilitar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e outros agentes financeiros públicos para atuar nas operações de financiamento com recursos do FNMC. 3.14.4 O Fundo Amazônia O Fundo Amazônia surge de uma proposta apresentada pelo Governo Brasileiro durante a 13 a Conferência das Partes da Convenção, que aconteceu em Bali, em dezembro de 2007, com o intuito de se criar um mecanismo para apoiar os esfor- ços de redução do desflorestamento na Amazônia. O BNDES assumiu, em 2008, a gestão e administração do Fundo Amazônia 239 , o qual tem por finalidade captar doações para investimentos não-reembolsáveis de ações que possam contribuir para a prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento da floresta, além de iniciativas que promo- vam a conservação e o uso sustentável do bioma Amazônico, nos termos do decreto de criação. O BNDES assumiu a responsabilidade pela operação, informa- ção e monitoramento do Fundo, obrigando-se a assegurar que os mais altos padrões de ética sejam observados durante a se- leção e contratação de projetos a serem desenvolvidos com recursos do Fundo. O Banco também se compromete a manter os recursos oriundos das doações segregados das disponibili- dades do BNDES e, assim, devidamente contabilizados. O Fundo Amazônia conta com um Comitê Orientador - COFA, composto por 24 representantes - do Governo Federal, esta- dos da Amazônia e da sociedade civil - com a atribuição de determinar suas diretrizes e acompanhar os resultados obti- dos. Conta também com um Comitê Técnico - CTFA, com- posto por seis especialistas de notório saber técnico-cien- tífico designados pelo Ministério do Meio Ambiente, após consulta ao Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, com mandato de três anos, prorrogável uma vez por igual perío- do. O Comitê Técnico tem a atribuição de atestar os cálculos apresentados pelo Ministério do Meio Ambiente quanto às 239 Criado por meio do Decreto n o 6.527, de 1 o de agosto de 2008. parte3_capitulo2-3-4 e b.indd 401 10/23/10 1:42 AM

Segunda Comunicação Nacional - Volume 2 (parte 2)

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Segunda parte do Volume 2 da Segunda Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança no Clima, elaborada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

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    Parte 3

    o estabelecidas em regulamento, asseguradas a partici-pao de seis representantes do Poder Executivo Federal e cinco representantes do setor no governamental.

    A aplicao dos recursos do FNMC destinada ao apoio fi-nanceiro reembolsvel mediante concesso de emprstimo, por intermdio do agente operador; e ao apoio financeiro, no reembolsvel, a projetos relativos mitigao da mudana do clima ou adaptao mudana do clima e aos seus efeitos, aprovados pelo Comit Gestor do FNMC, conforme diretri-zes previamente estabelecidas pelo Comit. A definio dos recursos a serem aplicados em cada uma das modalidades cabe ao Comit Gestor do FNMC e sua aplicao poder ser destinada as seguintes atividades:

    educao, capacitao, treinamento e mobilizao na rea de mudana global do clima;

    cincia do clima, anlise de impactos e vulnerabilidade;

    adaptao da sociedade e dos ecossistemas aos impac-tos das mudana global do clima;

    projetos de reduo de emisses de gases de efeito es-tufa;

    projetos de reduo de emisses de carbono pelo des-matamento e degradao florestal, com prioridade a re-as naturais ameaadas de destruio e relevantes para estratgias de conservao da biodiversidade;

    desenvolvimento e difuso de tecnologia para a mitiga-o de emisses de gases do efeito estufa;

    formulao de polticas pblicas para soluo dos pro-blemas relacionados emisso e mitigao de emisses de gases de efeito estufa;

    pesquisa e criao de sistemas e metodologias de proje-to e inventrios que contribuam para a reduo das emis-ses lquidas de gases de efeito estufa e para a reduo das emisses de desmatamento e alterao de uso do solo;

    desenvolvimento de produtos e servios que contribuam para a dinmica de conservao ambiental e estabiliza-o da concentrao de gases de efeito estufa;

    apoio s cadeias produtivas sustentveis;

    pagamentos por servios ambientais s comunidades e aos indivduos cujas atividades comprovadamente con-

    tribuam para a estocagem de carbono, atrelada a outros servios ambientais;

    sistemas agroflorestais que contribuam para reduo de desmatamento e absoro de carbono por sumidouros e para gerao de renda; e

    recuperao de reas degradadas e restaurao florestal, priorizando reas de Reserva Legal e reas de Preserva-o Permanente e as reas prioritrias para a gerao e garantia da qualidade dos servios ambientais.

    O agente financeiro do FNMC o BNDES, que tambm po-der habilitar o Banco do Brasil, a Caixa Econmica Federal e outros agentes financeiros pblicos para atuar nas operaes de financiamento com recursos do FNMC.

    3.14.4 O Fundo Amaznia

    O Fundo Amaznia surge de uma proposta apresentada pelo Governo Brasileiro durante a 13a Conferncia das Partes da Conveno, que aconteceu em Bali, em dezembro de 2007, com o intuito de se criar um mecanismo para apoiar os esfor-os de reduo do desflorestamento na Amaznia.

    O BNDES assumiu, em 2008, a gesto e administrao do Fundo Amaznia239, o qual tem por finalidade captar doaes para investimentos no-reembolsveis de aes que possam contribuir para a preveno, monitoramento e combate ao desmatamento da floresta, alm de iniciativas que promo-vam a conservao e o uso sustentvel do bioma Amaznico, nos termos do decreto de criao.

    O BNDES assumiu a responsabilidade pela operao, informa-o e monitoramento do Fundo, obrigando-se a assegurar que os mais altos padres de tica sejam observados durante a se-leo e contratao de projetos a serem desenvolvidos com recursos do Fundo. O Banco tambm se compromete a manter os recursos oriundos das doaes segregados das disponibili-dades do BNDES e, assim, devidamente contabilizados.

    O Fundo Amaznia conta com um Comit Orientador - COFA, composto por 24 representantes - do Governo Federal, esta-dos da Amaznia e da sociedade civil - com a atribuio de determinar suas diretrizes e acompanhar os resultados obti-dos. Conta tambm com um Comit Tcnico - CTFA, com-posto por seis especialistas de notrio saber tcnico-cien-tfico designados pelo Ministrio do Meio Ambiente, aps consulta ao Frum Brasileiro de Mudanas Climticas, com mandato de trs anos, prorrogvel uma vez por igual pero-do. O Comit Tcnico tem a atribuio de atestar os clculos apresentados pelo Ministrio do Meio Ambiente quanto s 239 Criado por meio do Decreto no 6.527, de 1

    o de agosto de 2008.

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    redues efetivas de emisses de carbono oriundas de des-matamento, apreciando as metodologias de clculo da rea de desmatamento e a quantidade de carbono por hectare uti-lizada no clculo das emisses.

    Os recursos que integram o patrimnio do Fundo Amaznia so provenientes de doaes. O Fundo Amaznia j recebe doaes de governos estrangeiros e est se estruturando para receber doaes de instituies multilaterais, de organizaes no governamentais e tambm de pessoas fsicas. Todos os contribuintes recebero um diploma reconhecendo a contri-buio para a reduo de emisses provenientes do desmata-mento da Amaznia em termos de toneladas de CO

    2. O diplo-

    ma explicita a quantidade de carbono correspondente ao valor da doao e que essa quantidade no negocivel.

    O Fundo Amaznia apoia projetos nas seguintes reas:

    gesto de florestas pblicas e reas protegidas;

    controle, monitoramento e fiscalizao ambiental;

    manejo florestal sustentvel;

    atividades econmicas desenvolvidas a partir do uso sus-tentvel da floresta;

    zoneamento ecolgico e econmico, ordenamento terri-torial e regularizao fundiria;

    conservao e uso sustentvel da biodiversidade; e

    recuperao de reas desmatadas.

    Adicionalmente, o Fundo Amaznia pode apoiar o desenvol-vimento de sistemas de monitoramento e controle do des-matamento em outros biomas brasileiros e, at mesmo, em outros pases tropicais.

    Alm da reduo das emisses de gases de efeito estufa, as reas temticas propostas para apoio pelo Fundo Amaznia podem ser coordenadas de forma a contribuir para a obten-o de resultados significativos na implementao de seus objetivos de preveno, monitoramento e combate ao des-matamento e de promoo da conservao e do uso susten-tvel das florestas no bioma amaznico.

    At junho de 2010 j tinham sido aprovados pelo Fundo Amaznia cinco projetos, totalizando um montante de inves-timentos de R$70,3 milhes. So eles:

    1. Funbio - R$ 20 milhes para o projeto reas Protegidas da Amaznia - ARPA.

    2. Fundao Amazonas Sustentvel - R$ 19,2 milhes para o programa Bolsa Floresta no estado do Amazonas.

    3. TNC - R$ 16 milhes para o Cadastro Ambiental Rural em 12 municpios nos estados do Par e Mato Grosso.

    4. IMAZON - R$ 9,2 milhes para mobilizao para o Cadas-tro Ambiental Rural em 11 municpios do estado do Par.

    5. Instituto Ouro Verde - R$ 5,4 milhes para recuperao florestal de 1,2 milhes de hectares em 6 municpios do estado do Mato Grosso.

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  • parte3_capitulo2-3-4 e b.indd 404 10/23/10 1:42 AM

  • Captulo 4As Atividades de Projeto no mbito do Mecanismo de Desenvovimento Limpo - MDL no Brasil

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    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    4 As Atividades de Projeto no mbito do Mecanismo de Desenvovimento Limpo - MDL no Brasil

    O Protocolo de Quioto, entre vrios outros elementos, traz a possibilidade de utilizao de mecanismos de mercado para que os pases desenvolvidos possam cumprir os com-promissos quantificados de reduo e limitao de emisso de gases de efeito estufa. No caso do Brasil, a participao no mencionado mercado ocorre por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MDL, por ser o nico mecanismo do Protocolo de Quioto que admite a participao voluntria de pases em desenvolvimento. O MDL possibilita que pases em desenvolvimento se beneficiem das atividades de redu-o de emisses e da posterior venda das redues certifi-cadas de emisso - RCE, para serem utilizadas pelos pases desenvolvidos como modo suplementar para cumprirem suas metas. Esse mecanismo deve implicar em redues de emisses adicionais quelas que ocorreriam na ausncia do projeto, garantindo benefcios reais, mensurveis e de longo prazo para a mitigao da mudana do clima.

    A seguir, so apresentadas as estatsticas das atividades de projeto no mbito do MDL no Brasil e no mundo at 17 de agosto de 2010.

    4.1 Nmero de Atividades de Projeto

    Na Figura 4.1, apresenta-se o status atual das atividades de projeto em estgio de validao, aprovao e registro. Um total de 6.567 projetos encontrava-se em alguma fase do ciclo de projetos do MDL, sendo 2.323 j registrados pelo Conselho Executivo do MDL e 4.244 em outras fases do ciclo. Como pode ser verificado, o Brasil ocupa o 3o lu-gar em nmero de atividades de projeto, com 460 projetos (7%), sendo que em primeiro lugar encontra-se a China com 2.487 (38%) e, em segundo, a ndia com 1.769 proje-tos (27%).

    4.2 Potencial de Reduo de Emisses para o Primeiro Perodo de Obteno de Crditos

    Em termos do potencial de redues de emisses associado aos projetos no ciclo do MDL, o Brasil ocupa a terceira posi-o, sendo responsvel pela reduo de 393.527.792 tCO

    2e,

    o que corresponde a 5% do total mundial, para o primeiro pe-rodo de obteno de crditos, que podem ser de no mximo 10 anos para projetos de perodo fixo ou de sete anos para projetos de perodo renovvel.

    Na Figura 4.2, apresenta-se o potencial de reduo de emis-ses para o primeiro perodo de obteno de crditos.

    Figura 4.1 Participao no total de atividades de projeto no mbito do MDL no mundo

    China 38%

    ndia 27%

    Brasil 7%

    China ndia BrasilMxico Malsia TailndiaIndonsia Vietn FilipinasCoreia do Sul Chile ColmbiaPeru Argentina Israelfrica do Sul Honduras Sri LankaEquador Paquisto PanamGuatemala Egito MarrocosQunia Emirados rabes UsbequistoUganda Armnia UruguaiBolvia Costa Rica IrMoldvia Chipre CingapuraNicargua Repbllica Dominicana El SalvadorAzerbaijo Camboja GeorgiaNepal Nigria TanzniaCongo Papua Nova Guin BangladeshCuba Jordnia SenegalButo Camares Costa do MarfimMacednia Monglia ParaguaiTunsia Albnia LaosSria Catar FijiJamaica Mali MaurcioSudo Bahamas Cabo VerdeEtipia Guiana Guin EquatorialLibria Madagascar MaltaMauritnia Moambique QuirguistoRepblica do Gana Ruanda SuazilndiaTadjiquisto Zambia

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    Parte 3

    Figura 4.2 Participao no Potencial de reduo de emisses para o primeiro perodo de obteno de crditos

    China 47%

    ndia 24%

    Brasil

    5%

    China ndia BrasilCoreia do Sul Mxico IndonsiaMalsia Nigria TailndiaChile Colmbia VietnArgentina frica do Sul AzerbaijoPeru Israel Repblica do GanaButo Usbequisto FilipinasEgito Paquisto EquadorGuin Equatorial Panam CongoGuatemala Repblica Dominicana MarrocosQunia Tanznia Costa do MarfimUganda Catar Emirados rabesHonduras Macednia GeorgiaIr Jordnia Sri LankaCingapura Tunsia BolviaCuba Moldvia ArmniaNicargua Costa Rica UruguaiPapua Nova Guin Chipre CambojaSenegal El Salvador BangladeshJamaica Maurcio LaosSria Nepal MongliaCamares Sudo ZambiaRuanda Etipia ParaguaiLibria Mali MauritniaCabo Verde Albnia QuirguistoTadjiquisto Madagascar SuazilndiaFiji Moambique GuianaMalta Bahamas

    Figura 4.3 Participao no potencial de reduo anual de emisses para o primeiro perodo de obteno de crditos

    China 51%

    ndia 20%

    Brasil 6%

    China ndia BrasilCoreia do Sul Mxico MalsiaIndonsia Nigria ChileTailndia Vietn frica do SulArgentina Peru AzerbaijoIsrael Filipinas UsbequistoButo Egito PaquistoEquador Colmbia PanamGuin Equatorial Repblica do Gana GuatemalaMarrocos Costa do Marm QuniaRepblica Dominicana Catar UgandaHonduras Moldvia Emirados rabesMacednia Ir JordniaGeorgia Sri Lanka BolviaCongo Cuba NicarguaTunsia Tanznia CingapuraUruguai Armnia El SalvadorCamboja Costa Rica Papua Nova GuinChipre Senegal MaurcioBangladesh Sria JamaicaMonglia Nepal LaosCamares Sudo ZambiaRuanda Cabo Verde ParaguaiQuirguisto Libria MaliMauritnia Suazilndia TadjiquistoAlbnia Madagascar MoambiqueGuiana Fiji EtiopiaBahamas Malta

    4.3 Potencial de Reduo Anual de Emisses para o Primeiro Perodo de Ob-teno de Crditos

    Na Figura 4.3, apresenta-se uma estimativa anual de reduo esperada no primeiro perodo de obteno de crditos das ati-vidades de projeto MDL. No cenrio global, o Brasil ocupa a terceira posio entre os pases com maiores redues anuais de emisses de gases de efeito estufa, com uma reduo de 49.768.483 de tCO

    2e/ano, o que igual a 6% do total mundial.

    4.4 Distribuio das Atividades de Pro-jeto no Brasil por Tipo de Gs de Efeito Estufa

    Na Figura 4.4, apresenta-se a participao das atividades de projeto desenvolvidas no Brasil, no mbito do MDL, no que se refere reduo das emisses de gases de efeito estufa, por tipo de gs. Nota-se que, em termos de nmero de ati-vidades de projeto, as que reduzem as emisses de CO

    2 so

    atualmente as mais significativas, seguidas pelas atividades de projeto que reduzem CH

    4 e das que reduzem N

    2O. Na Fi-

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    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    gura 4.5, mostra-se que a maior parte das atividades de pro-jeto desenvolvidas no Brasil est no setor energtico, o que explica a predominncia do CO

    2 na balana de redues de

    emisses brasileiras.

    Figura 4.4 Distribuio das atividades de projeto no Brasil por tipo de gs de efeito estufa reduzido

    4.5 Distribuio das Atividades de Pro-jeto no Brasil por Escopo Setorial

    Esse indicador mostra os escopos setoriais que mais tm atrado o interesse dos participantes de atividades de proje-tos com predominncia no setor energtico (Figura 4.5).

    Figura 4.5 Distribuio das atividades de projeto no Brasil por escopo setorial

    50,7%

    16,5%

    9,8%

    7,8%

    6,1%

    3,7% 3,0% 1,1% 0,4%

    0,9%

    Energia renovvel

    Suinocultura

    Troca de combustvel fssil

    Aterro sanitrio

    Eficincia energtica

    Resduos

    Processos industrais

    Reduo de N O2

    Reflorestamento

    Emisses fugitivas

    4.6 Distribuio dos Projetos Registra-dos no Conselho Executivo do MDL

    Do total de 2.323 projetos registrados, 175 so projetos brasi-leiros, estando o Brasil em terceiro lugar, tanto em nmero de projetos registrados, quanto em termos de reduo potencial de emisses durante o primeiro perodo de obteno de cr-ditos dos projetos registrados com 172.993.311 de tCO

    2e.

    4.7 Capacidade Instalada (MW) das Ativi-dades de Projeto do MDL Aprovadas na AND

    Na Figura 4.6, apresenta-se a capacidade total instalada de 4.032 MW na rea de gerao eltrica das atividades de pro-jeto desse setor no mbito do MDL aprovadas pela Autori-dade Nacional Designada AND brasileira. Mostra tambm a distribuio dos principais tipos de gerao: hidreltricas com 1.625 MW, cogerao com biomassa com 1.334 MW e PCHs com 831 MW.

    Figura 4.6 Capacidade instalada (MW) das atividades de projeto do MDL aprovadas na CIMGC

    No Brasil, o MDL tem alcanado um inquestionvel sucesso e tem contribudo, indubitavelmente, para a mitigao das emis-ses de gases de efeito estufa no pas. Em agosto de 2010, cerca de 460 atividades de projeto brasileiros no mbito do Mecanismo, em fase de validao ou fase posterior no ciclo MDL, apresentam potencial de reduzir anualmente o equiva-lente a cerca de 8% das emisses no florestais brasileiras (a preservao florestal no elegvel no mbito do MDL), que representavam cerca de 59% das emisses do Brasil em 1994.

    Com o intuito de citar dois exemplos que demonstram o re-sultado significativo do MDL em termos de redues seto-riais de emisses de gases de efeito estufa no Brasil, apenas cinco atividades de projetos no mbito da produo de cido adpico e cido ntrico reduziram praticamente a zero todas as emisses de xido nitroso (N

    2O) no setor industrial brasi-

    leiro e 25 atividades de projeto de reduo de metano (CH4)

    em aterros sanitrios, registrados no Conselho Executivo do MDL, representam uma reduo da ordem de 47% das emis-ses desse gs em aterros sanitrios em 1994.

    Ainda considerando redues setoriais relevantes de emis-so de gases de efeito estufa no contexto do MDL, destaca-se o primeiro Programa de Atividades - PoA na rea de captura e combusto de CH

    4 em granjas de suinocultura no Brasil. Este

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    Parte 3

    possui atualmente 961 componentes de atividades de projeto de pequena escala, registradas no mbito da ONU por meio da entidade coordenadora do Programa (Instituto Sadia). A participao dessas mais de 900 pequenas granjas demons-tra a relevncia do MDL para viabilizar iniciativas que no ocorreriam na ausncia do Protocolo de Quioto.

    Outra forma de mostrar a importncia do MDL no Brasil esti-

    mando o montante de recursos externos a ingressarem no pas durante o primeiro perodo de crditos. Ao se considerar um va-lor de US$ 15/tCO

    2e, esse montante alcana um valor em torno

    de US$ 5,8 bilhes ou US$ 750 milhes por ano. Se as Redues Certificadas de Emisso obtidas pelas atividades de projetos de MDL fossem consideradas na pauta de exportaes, em 2009 estaria na 16a colocao dessa pauta (Figura 4.7).

    Figura 4.7 Exportaes brasileiras dos setores industriais - 2009 (US$ milhes FOB)

    RCEs 750

    0

    5.000

    10.000

    15.000

    20.000

    25.000

    30.000

    35.000

    US$

    Milh

    es

    Alimentos, bebidas e tabaco Produtos metlicos Veculos automotores, reboques e semi-reboques Produtos qumicos, excl. farmacuticos Mquinas e equipamentos mecnicos Madeira e seus produtos, papel e celulose Produtos de petrleo refinado e outros combustveis Txteis, couro e calados Mquinas e equipamentos eltricosBorracha e produtos plsticos Equipamentos de rdio, TV e comunicao Outros produtos minerais no-metticos Farmacutica Farmacutica Produtos manufaturados e bens recicladosRCEs Instrumentos mdicos de tica e preciso Equipamentos para ferrovia e material de transporteMaterial de escritrio e informtica Construo e reparao naval

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  • SEO BPROGRAMAS CONTENDO MEDIDAS PARA FACILITAR ADEQUADA ADAPTAO MUDANA DO CLIMA

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    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    B. PROGRAMAS CONTENDO MEDIDAS PARA FACILITAR ADEQUADA ADAPTAO MUDANA DO CLIMA

    Devido s limitaes, tanto humanas quanto financeiras, o governo brasileiro definiu como estratgia, no incio das ati-vidades de implementao da Conveno no pas, dar nfase aos estudos visando preparao do Inventrio Brasileiro de Emisses Antrpicas por Fontes e Remoes por Sumidouros de Gases de Efeito Estufa no Controlados pelo Protocolo de Montreal. Assim, na Comunicao Inicial do Brasil Conven-o, nfase foi dada ao Inventrio. Em 2000, com a inclu-so do tema de mudana do clima no Plano Plurianual - PPA, 2000-2003, foram iniciados estudos sobre vulnerabilidade mudana do clima, dando-se nfase sade, agricultura e branqueamento de corais.

    Na elaborao da Segunda Comunicao Nacional do Brasil Conveno, alm do Inventrio, ateno especial tambm foi dada aos estudos sobre vulnerabilidade aos efeitos da mudana do clima em reas estratgicas, de acordo com as circunstncias nacionais brasileiras.

    Um dos principais objetivos da Segunda Comunicao Na-cional foi a elaborao de abordagem metodolgica relativa avaliao da vulnerabilidade e a medidas de adaptao, o qual contm dois resultados: a elaborao de modelagem re-gional do clima e de cenrios da mudana do clima; e a reali-zao de pesquisas e estudos sobre vulnerabilidade e adap-tao relativos a setores estratgicos que so vulnerveis aos efeitos associados mudana do clima no Brasil.

    O primeiro resultado est relacionado necessidade de m-todos de downscaling (reduo de escala com aumento da resoluo) para desenvolver projees climticas para o Bra-sil mais detalhadas no longo prazo, isto , com uma melhor resoluo espacial do que a proporcionada por um modelo climtico global, visando a aplicao a estudos de impactos da mudana global do clima. O primeiro item desta seo aborda os esforos realizados no Brasil neste sentido.

    O segundo resultado apresenta uma anlise preliminar dos impactos associados mudana do clima nas principais reas de acordo com as circunstncias nacionais do Brasil, principalmente naquelas reas onde a vulnerabilidade in-fluenciada por fatores fsicos, sociais e econmicos. Esse re-sultado depende do desenvolvimento de modelos climticos regionais que forneam cenrios mais confiveis para a Am-

    rica do Sul em relao aos impactos da mudana do clima, tanto sobre a temperatura mdia da superfcie, como sobre padres de precipitao.

    Assim, foram realizados estudos sobre a regio semirida, reas urbanas, zonas costeiras, sade humana, energia e re-cursos hdricos, florestas, agropecuria e preveno para de-sastres, desenvolvidos no mbito do contrato de gesto de 2007, firmado pelo Centro de Gesto e Estudos Estratgicos - CGEE, sob a superviso do Ministrio da Cincia e Tecnolo-gia MCT. Para tal, foram mobilizados dez especialistas bra-sileiros renomados na rea240,241.

    Adicionalmente, com as rodadas do modelo regional e com a disponibilidade de cenrios regionalizados de mudana do clima at 2100, foi possvel aprofundar estudos nas reas de sade, energia, recursos hdricos, agricultura e branquea-mento de corais242.

    1 Programa de Modelagem de Cenrios Futuros de Mudana do Clima

    De acordo com o Quarto Relatrio de Avaliao do Painel In-tergovernamental sobre Mudana do Clima (IPCC, 2007b), em seu Sumrio Tcnico do Grupo II, que trata de Impactos, Adaptao e Vulnerabilidade, os principais impactos adver-sos que podero afetar o Brasil no futuro em decorrncia da mudana global do clima e, que, portanto, podero requerer medidas de adaptao no Brasil, so os seguintes:

    (i) Altssima probabilidade de reas ridas e semiridas da regio Nordeste do Brasil serem especialmente vulner-veis aos impactos da mudana global do clima nos recur-sos hdricos, com diminuio da oferta de gua. Este ce-nrio ainda mais relevante se for considerado o aumento esperado na demanda por gua em razo do crescimento populacional.

    240 Carlos A. Nobre (cenrios de mudana do clima para a Amrica do Sul para o final do sculo 21); Thelma Krug (florestas); Magda Aparecida de Lima (agro-pecuria e solos agrcolas); Vanderlei P. Canhos (biodiversidade); Jos A. Ma-rengo (regio semirida); Marcos Aurlio Vasconcelos de Freitas (recursos hdricos e energia); Carlos Freitas Neves e Dieter Muehe (zonas costeiras); Wagner Costa Ribeiro (zonas urbanas); e Ulisses E.C. Confalonieiri (sade hu-mana). Os estudos foram coordenados por Marcelo Poppe, do CGEE.

    241 A ntegra dos artigos oriundos desses estudos pode ser encontrada na Revista Parcerias Estratgicas, no 27, dezembro de 2008, CGEE, Braslia, 2008. Este estudo tambm est disponvel na pgina de internet: .

    242 Estes estudos esto disponveis na pgina de internet do MCT: .

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    Parte 3

    (ii) Alta probabilidade de que o aumento na precipitao de chuvas na regio Sudeste do Brasil impacte as plantaes e outras formas de uso da terra, bem como favorea a frequ-ncia e a intensidade das inundaes. Foi constatado um au-mento de 0,5 OC na temperatura do Brasil.

    (iii) Alta probabilidade de que nas prximas dcadas ocor-ra a extino de considervel nmero de espcies na regio tropical da Amrica Latina. Gradual substituio de flores-tas tropicais por savanas na regio leste da Amaznia e de algumas reas semiridas por ridas na regio Nordeste do Brasil, em razo do aumento da temperatura e da diminuio da quantidade de gua no solo. Risco de perda de biodiversi-dade. At 2050, h alta probabilidade de que 50% das terras agricultveis estejam sujeitas desertificao ou salinizao. Destaca-se a estao de seca verificada na regio da Amaz-nia em 2005.

    (iv) H alta probabilidade de que o aumento esperado no n-vel do mar afete as zonas costeiras brasileiras, com impac-tos adversos inclusive em mangues. Estudos indicam grande fluxo de gua para a regio Sul do Brasil em decorrncia do aumento esperado do nvel do mar.

    (v) A mudana global do clima poder elevar a precipi-tao, exacerbando impactos causados pela eroso. A re-gio Nordeste do Brasil vulnervel, pois a eroso nesta regio j tem causado a sedimentao de reservatrios e, consequentemente, diminudo a capacidade de armazena-mento e oferta de gua. Os pases em desenvolvimento so especialmente vulnerveis eroso, ainda mais no que tange s encostas de assentamentos ilegais em reas me-tropolitanas.

    (vi) Em regies que enfrentam escassez de gua, como a re-gio Nordeste do Brasil, a populao e os ecossistemas so vulnerveis a precipitaes menos frequentes e mais vari-veis, em decorrncia da mudana global do clima, o que pode inclusive prejudicar o abastecimento da populao e o potencial agrcola desta regio (dificuldades na irrigao).

    (vii) Na anlise realizada, o fluxo de recursos hdricos da ca-mada subterrnea para a superfcie (groundwater recharge) di-minui, drasticamente, em 70% na regio Nordeste do Brasil.

    (viii) Poder haver impactos da mudana global do clima na sade pblica, tendo sido constatados no Brasil casos de doenas relacionadas inundao, tal qual a diarreia. H tambm impacto na sade pblica decorrente da fumaa de queimadas. A mudana global do clima tambm poder ter efeitos no aumento dos casos de esquistossomose (do gne-ro Schistosoma).

    No entanto, importante ressaltar que os impactos futuros so analisados tendo como base diferentes cenrios de emis-so de gases de efeito estufa at 2100. Esses cenrios no pressupem medidas adicionais de combate mudana do clima ou maior capacidade adaptativa dos sistemas, setores e regies analisados. Os impactos mais severos projetados ocorreriam apenas em um cenrio futuro (2100) onde as emisses de gases de efeito estufa no tenham sido miti-gadas, em especial no caso de um aumento significativo de populao e do crescimento econmico mundial com o uso intensivo de combustveis fsseis. Assim, os cenrios mais pessimistas e seus impactos projetados podem no ocor-rer243, caso a comunidade internacional adote medidas efeti-vas de combate mudana do clima pela reduo da emisso de gases de efeito estufa.

    Cabe salientar que cenrios no so previses, sobretudo quando se considera o estado atual de desenvolvimento de modelos do sistema climtico global, os quais ainda apresen-tam inmeras incertezas. Essas incertezas so ilustradas nas Figuras 1.1 e 1.2, observando-se a discrepncia de resultados que existe entre os diferentes cenrios. Nas figuras mostra--se tambm, cenrios climticos para o perodo 2071-2100 para 15 diferentes modelos climticos globais baseados no cenrio A2244 de emisses de gases de efeito estufa do IPCC.

    Tambm fica evidente que existe muita variabilidade nas anomalias de temperatura e precipitao projetadas pelos di-ferentes modelos na magnitude e no sinal da anomalia at o final do sculo XXI. A diferena entre as anomalias para os di-ferentes modelos sugere que ainda se tem um grau de incer-teza considervel nos cenrios de projeo do clima futuro, o que indica a necessidade de melhorar a representao dos processos fsicos. O estado da cincia atual ainda no per-mite estabelecer cenrios inequvocos (NOBRE et al., 2008).

    Voltando questo das deficincias na identificao dos riscos advindos da mudana do clima no Brasil, torna-se necessrio buscar o aumento da confiabilidade associada aos cenrios do futuro possvel do clima no pas. O conhe-cimento atual das dimenses regionais da mudana global do clima ainda muito fragmentado, o que requer mais es-tudos. Para a elaborao desses estudos h, entretanto, a

    243 Vrios dos estudos geralmente realizados sobre vulnerabilidade e adapta-o foram baseados no cenrio com maiores emisses e usando, geralmente, o modelo do Hadley Centre, da Inglaterra, o qual apresenta resultados mais preocupantes. Deve-se, entretanto ressaltar que esta escolha muitas vezes justifica-se pelo fato dos dados do modelo do Hadley Centre serem disponveis a todos, enquanto a maioria dos dados dos outros modelos no so disponibi-lizados.

    244 A manuteno dos padres de emisses de gases de efeito estufa observados nas ltimas dcadas; esse cenrio implicaria em se chegar em 2100 com con-centraes de CO

    2 de cerca de 850 partes por milho em volume (ppmv).

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    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    necessidade de desenvolvimento de modelos de mudan-a do clima de longo prazo com resoluo espacial ade-quada para anlise regional, o que criar condies para a elaborao de possveis cenrios futuros de mudana do clima com diferentes concentraes de CO

    2 na atmosfera

    e anlise dos impactos da mudana global do clima sobre o Brasil.

    A maioria das incertezas das projees do modelo para os cenrios de mudana do clima pode estar relacionada com o problema da escala espacial e a representao de even-tos climticos extremos em escalas espaciais mais eleva-das, do que as produzidas pela maior parte dos modelos globais do clima.

    As projees dos cenrios da mudana do clima para o s-culo XXI foram derivadas dos vrios modelos do clima glo-bal utilizados pelo IPCC. O fato de modelos globais do clima utilizarem diferentes representaes fsicas de processos, em uma grade de resoluo relativamente baixa, introduz um certo grau de incerteza nesses cenrios futuros da mudana do clima. Essa incerteza extremamente significativa na ava-liao da vulnerabilidade e dos impactos da mudana do cli-ma, bem como na implementao de medidas de adaptao e de mitigao. Por exemplo, para a Bacia Amaznica, alguns modelos produziram climas mais chuvosos e outros climas relativamente mais secos; para o Nordeste do Brasil, alguns modelos sugerem aumento da precipitao.

    O problema da escala temporal tambm crucial, uma vez que os eventos extremos (ondas de baixa umidade, frio ou de calor e tempestades) podem ser identificados apenas com dados dirios, e no com os dados mensais ou sazonais pro-duzidos pela maioria dos modelos globais do IPCC. Tambm h o problema da representao do processo fsico pelas pa-rametrizaes dos diferentes modelos e a representao cor-reta do clima atual pelos modelos climticos.

    H, assim, a necessidade de mtodos de downscaling245 que possam ser aplicados aos cenrios da mudana do clima a

    245 A tcnica de downscaling usada para fazer a interpolao de uma escala de subgrade com menos resoluo para uma com maior resoluo, adequada aos processos de mesoescala, tais como aqueles no nvel de uma bacia hidrolgica. A tcnica de downscaling consiste na projeo de informaes de grande escala para uma escala regional. Essa traduo de uma escala global para uma re-gional e de escalas de tempo anuais para dirias, tambm aumentaria o grau de incerteza das projees da mudana do clima. Por exemplo, embora um mo-delo do clima possa ser capaz de reproduzir com algum sucesso o campo de precipitao observado, provvel que ele tenha menos xito na reproduo da variabilidade diria, especialmente com relao a estatsticas de ordem elevada, como o desvio padro e os valores extremos. Assim, embora possa parecer razo-vel adotar um cenrio de temperatura interpolado a partir dos pontos de grade de um modelo global do clima para uma localidade especfica, a srie temporal interpolada pode ser considerada inadequada para os climas atuais e, portanto, gerar incerteza nos cenrios da mudana do clima.

    partir dos modelos globais, a fim de que se obtenham pro-jees mais detalhadas para estados, vales ou regies, com uma resoluo espacial mais alta do que a fornecida por um modelo global do clima. Isso seria de grande utilidade para os estudos dos impactos da mudana do clima na gesto e na operao dos recursos hdricos, nos ecossistemas naturais, nas atividades agrcolas e mesmo na sade e disseminao de doenas.

    Portanto, tem sido de fundamental importncia o desenvolvi-mento de capacidade de modelagem climtica no Brasil, por meio da anlise de modelos globais e regionais para cenrios atuais e futuros da mudana do clima.

    Nesse sentido, o MCT reconheceu como de fundamental im-portncia o desenvolvimento de capacidade de modelagem climtica no Brasil, por meio da anlise de modelos globais e regionais para cenrios atuais e futuros da mudana do cli-ma, e procurou investir nisso.

    O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, vinculado ao MCT, o responsvel por coordenar a modelagem regio-nal do clima e de cenrios da mudana do clima para o futuro, bem como coordenar a relao entre estes resultados e as pesquisas e estudos de vulnerabilidade e adaptao relativos a setores estratgicos que so vulnerveis aos impactos as-sociados mudana do clima no Brasil.

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    Parte 3

    Figura 1.1 Projees de anomalias de temperatura (oC) para Amrica do Sul para o perodo de 2071-2099 (Cenrio A2) em relao ao perodo base de 1961-1990 para 15 diferentes modelos climticos globais disponveis atravs do IPCC

    Fonte: NOBRE et al., 2008.

    Figura 1.2 Projees de anomalias de precipitao (mm/dia) para Amrica do Sul para o perodo de 2071-2099 (Cenrio A2) em relao ao perodo base de 1961-1990 para 15 diferentes modelos climticos glo-bais disponveis atravs do IPCC

    Fonte: NOBRE et al., 2008.

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    1.1 O Modelo Eta-CPTEC

    O INPE tem avaliado os diferentes cenrios de mudana do clima propostos pelos modelos acoplados globais do Quarto Relatrio de Avaliao do IPCC e desenvolvido mtodos de downscaling para o Brasil, os quais so aplicados a projees de mudanas climticas provenientes de modelos climticos globais para obter projees climticas mais detalhadas, com uma melhor resoluo espacial derivada de modelos regionais. Essas projees so passveis de uso em estudos dos impactos da mudana de clima em diversos setores scio-econmicos (agrcola, energtico, sade, recursos hdricos, etc.), indicando a vulnerabilidade aos riscos na forma de probabilidade.

    Para isso, o INPE desenvolveu o modelo regional Eta-CPTEC para a Amrica do Sul, que executado em supercomputado-res, dada a necessidade de grande processamento em tempo real. Os modelos numricos em geral necessitam de grande capacidade de computao e de armazenamento de dados. O modelo Eta foi rodado no supercomputador NEC-SX6 do INPE, capaz de rodar 768 bilhes de operaes aritmticas por ponto flutuante por segundo, com capacidade de utilizar modelos numricos para a simulao de tempo e clima, inte-grando informaes atmosfricas e ocenicas, com capaci-dade de modelagem regional.

    O Eta um modelo atmosfrico regional completo usado pelo CPTEC, desde 1997, para as previses do tempo ope-racionais e sazonais. O modelo foi adaptado a fim de ser utilizado como um Modelo Climtico Regional MCR e foi validado como tal (PESQUERO et al., 2009). O MCR Eta--CPTEC foi usado para produzir cenrios regionalizados de mudana futura do clima para a Segunda Comunicao Na-cional do Brasil Conveno.

    Os primeiros resultados dos modelos climticos regionais de-rivados do modelo climtico global do Hadley Centre, do Reino Unido, foram disponibilizados em 2007, os quais vieram a cons-tituir o Relatrio de Clima246 do INPE (MARENGO et al., 2007), usando 3 modelos regionais: RegCM3, Eta CCS e HadRM3P,

    246 chamado Relatrio do Clima os resultados dos trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa em Mudanas Climticas GPMC, do INPE. Este grupo tem como objetivo o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao tema mudana do clima em geral, bem como s anlises de impacto, vulnerabilidade e adapta-o, envolvendo instituies como a Universidade de So Paulo-IAG, a Universi-dade de Campinas, a Fundao Brasileira de Desenvolvimento Sustentvel, com colaboraes de instituies do Governo Federal como Embrapa, INMET, Fiocruz, ANA, Aneel, ONS, COPPE-UFRJ entre outras, assim como os centros estaduais de meteorologia, universidades, o FBMC e a sociedade civil organizada. O grupo tambm trabalha em conjunto com o Programa Nacional de Mudanas Clim-ticas do Brasil do MCT, com a Secretaria de Mudanas Climticas e Qualidade do Ar do MMA, com a Rede Clima e com o Programa de Mudanas Climti-cas Globais da Fapesp, assim como com programas nacionais de alguns pases da Amrica do Sul. Mais informaes esto disponveis na pgina de internet < http://www.cptec.inpe.br/mudancas_climaticas>.

    com as condies laterais do modelo atmosfrico HadAM3P, para os cenrios de emisso extremos A2 (altas emisses) e B2 (baixas emisses), com uma resoluo de 50 km.

    Dentre os vrios estudos de impactos e anlises de vulne-rabilidade que tm utilizado as projees dos trs modelos regionais, pode-se citar o relatrio Mudanas Climticas e Segurana Energtica do Brasil, publicado em maio de 2008, pela COPPE/UFRJ (SCHAEFFER et al., 2008), o rela-trio Aquecimento Global e a Nova Geografia na Produo Agrcola no Brasil, publicado em agosto de 2008, pela Em-brap-Unicamp (ASSAD & PINTO, 2008) e o estudo de Mu-danas Climticas, Migraes e Sade: Cenrios para o Nor-deste Brasileiro (CEDEPLAR & FIOCRUZ, 2008). Ademais, pode-se citar os relatrios sobre os impactos econmicos da mudana do clima no Brasil (MARCOVITCH et al., 2010) e na Amrica Latina (CEPAL, 2009).

    Mais recentemente, o modelo regional Eta-CPTEC contou com novas condies laterais do modelo global acoplado oceano-atmosfera HadCM3 cedidos pelo Hadley Centre. O trabalho relacionado a mtodos de downscaling para o Brasil foi aplicado aos cenrios de mudana do clima provenientes do modelo global HadCM3 para obter projees climticas (2010-2040, 2040-2070, 2070-2100) mais detalhadas com uma melhor resoluo espacial, segundo o cenrio A1B. Para incluir medida de incerteza nas projees, o Modelo HadCM3 sofreu ligeiras modificaes, ou perturbaes, gerando trs novas realizaes ou membros. Estes membros apresenta-ram as projees para o final do sculo XXI com diferentes sensibilidades a temperatura. Um membro apresentou forte aquecimento, um membro apresentou mdio aquecimento e outro membro ligeiro aquecimento, todos mantendo a mes-ma taxa de aumento do CO

    2 correspondente ao cenrio A1B.

    Incluindo o resultado do modelo HadCM3 sem perturbao, foram utilizados o total de 4 membros do HadCM3.

    Estas condies foram fornecidas ao modelo Eta-CPTEC para gerar o clima presente, 1961-1990, e as projees para o per-odo 2011-2100 em detalhamento na grade de 40km. A avalia-o dos resultados do clima presente mostrou que o modelo representa, em geral, acuradamente o clima presente, com re-lao aos ventos, temperatura e chuva. Os resultados tambm mostram uma melhora na simulao das chuvas e temperatu-ra com o uso do Modelo Regional Eta-CPTEC em relao ao modelo global HadCM3. Em geral, as condies do HAdCM3 subestimam a frequncia de ocorrncia de eventos de El Nio (aquecimento das guas do Oceano Pacfico) e La Nia (esfria-mento das guas do Oceano Pacfico), sendo que as anomalias representadas pelo downscaling apresentam padres prximos aos observados (CHOU et al., 2010). A Figura 1.3 mostra as

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    Parte 3

    projees anuais para o perodo de 2010 a 2100 de tempera-tura e chuva derivadas do modelo Eta-CPTEC para America do Sul, mostrando aumentos da precipitao na regio Sul do Bra-sil, e redues de chuva no Nordeste e na Amaznia, enquanto que as temperaturas aumentam em todo Brasil, sendo maiores na regio continental (MARENGO et al., 2010).

    Cabe ressaltar ainda que as projees climticas regionais foram disponibilizadas para grupos de pases da Amrica La-tina, de modo que os cenrios puderam ser desenvolvidos em centros nacionais por especialistas de cada pas.

    O INPE, com o apoio do MCT, promoveu a coordenao entre os resultados preliminares relacionados elaborao da mo-delagem regional de clima e de cenrios de mudana do cli-ma com as pesquisas e estudos de vulnerabilidade e adapta-o relativos a setores estratgicos, que so vulnerveis aos impactos associados mudana do clima no Brasil. Foram gerados relatrios com cenrios climticos para subsidiar es-tudos sobre vulnerabilidade no setor de sade; no setor ener-gtico; no setor de recursos hdricos, enchentes e desertifi-cao; no setor agrcola; no setor biodiversidade (incluindo branqueamento de corais); e em zonas costeiras.

    Os relatrios produzidos contm os resultados dos modelos utilizados em forma digital (resultados especializados em re-soluo apropriada para anlise, tabelas, grficos, diagramas, conforme apropriado), que foram amplamente disponibilizados.

    Embora se trate de um primeiro esforo de regionalizao dos cenrios futuros de mudana do clima e da realizao de estudos de vulnerabilidade baseados nos mesmos, com esses resultados, espera-se que o pas esteja melhor capaci-tado para identificar regies e setores mais vulnerveis com maior grau de confiabilidade do que aquele oferecido pelos modelos globais e, a partir da, no futuro, podero ser elabo-rados projetos de adaptao especficos com o embasamen-to cientfico apropriado, possibilitando uma alocao mais racional de recursos pblicos.

    No entanto, muito ainda resta a ser feito. Os aperfeioamen-tos planejados dessa verso do MCR Eta incluem a vegetao dinmica e mudanas do uso da terra. Os modelos atmos-fricos pressupem um tipo de vegetao que no se altera com a mudana do clima. Entretanto, o tipo e a densidade da vegetao podem sofrer alteraes247 capazes de exercer influncia considervel sobre a modelagem do clima local. A modelagem dinmica permite a incluso desses efeitos. O modelo Eta tambm tem sido executado at o momento com

    247 A vegetao pode sofrer alterao uma vez que sejam excedidas as condies do limiar climtico; ou devido a medidas de adaptao que acarretem uma mu-dana do uso da terra.

    o uso de poucas condies de contorno de modelo de clima global. Consequentemente, informaes quantificadas deta-lhadas acerca da incerteza das projees so limitadas.

    Prev-se o funcionamento de uma verso aperfeioada do modelo Eta forado com, pelo menos, quatro modelos do cli-ma global de centros mundiais das Amricas, Europa e sia, inclusive com o Modelo Brasileiro do Sistema Climtico Glo-bal MBSCG (vide item 1.2). Espera-se que os resultados pre-encham as lacunas dos cenrios existentes, reduzam as mar-gens de erro e aumentem a resoluo espacial de 40x40 km2 para 20x20 km2, o que ir melhorar o nvel de detalhamento das projees para regies montanhosas e vales, necessrio para as avaliaes de impactos.

    1.2 O Modelo Brasileiro do Sistema Cli-mtico Global - MBSCG

    O Modelo Brasileiro do Sistema Climtico Global - MBSCG encontra-se em fase de elaborao no INPE, em colaborao com centros do clima da Amrica do Sul, frica do Sul, n-dia e Europa. O objetivo do projeto MBSCG estabelecer um modelo de clima global adequado a projees de mudana do clima no longo prazo. O MBSCG baseia-se na principal estrutura do atual modelo de clima do CPTEC (que usado para previses do clima sazonais), mas inclui representaes mais realistas de fenmenos que atuam em uma escala de tempo mais ampla: transies mar-gelo, aerossis e qumi-ca atmosfrica, vegetao dinmica, variabilidade de CO

    2, e

    outras melhorias. O avano do MBSCG permitiria ao INPE a participao no Quinto Relatrio de Avaliao do IPCC e a realizao de projees de mudana do clima.

    O trabalho em torno do MBSCG teve incio com recursos fi-nanceiros do governo brasileiro e diversas agncias de finan-ciamento do Brasil248. Este modelo possuir grande potencial de gerao de avaliaes detalhadas dos efeitos da mudana do clima, vulnerabilidade e adaptao para o Brasil. Os ce-nrios de mudana do clima regionais realizados permitiro uma cuidadosa anlise de incertezas com o uso da tcnica do modelo de montagem. Os cenrios de mudana do clima sero gerados por meio dos supercomputadores instalados no CPTEC/INPE.

    Pretende-se refletir os esforos do desenvolvimento do Mo-delo Brasileiro do Sistema Climtico Global MBSCG nos es-tudos de impactos, vulnerabilidade e adaptao no mbito da Terceira Comunicao Nacional do Brasil Conveno.

    248 Uma parte do Modelo Brasileiro do Sistema Climtico Global (4 anos) foi finan-ciada pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo FAPESP.

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    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    Figura 1.3 Projees de mudanas de chuva (%) e de temperatura (oC) para Amrica do Sul para os perodos entre 2010 e 2100 (Cenrio A1B) em relao ao perodo base de 1961-1990 geradas pelo modelo Eta-CPTEC, 40 km a partir de projees do HadCM3

    Fonte: MARENGO et al., 2010.

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    Parte 3

    2 Efeitos da Mudana Global do Clima nos Ecossistemas Marinhos e Terrestres 2.1 Regio Semirida

    O Nordeste brasileiro ocupa 1.600.000 km2 do territrio na-cional e tem incrustado em 59% da sua rea o chamado Po-lgono das Secas, uma regio semirida de 940 mil km2, que abrange nove estados do Nordeste e enfrenta um problema crnico de falta de gua e chuva abaixo de 800 mm por ano (MARENGO, 2008). Na regio semirida vivem mais de 20 milhes de pessoas, sendo a regio seca mais densamente povoada do mundo. A regio um enclave de escassa pre-cipitao, que abrange desde os litorais do estado do Cear e do Rio Grande do Norte at o mdio do rio So Francisco, com uma vegetao de Caatinga. A regio semirida uma regio heterognea, sendo composta de muitos microclimas com diferentes espcies vegetais, que tambm incluem mi-croclimas com remanescentes de Mata Atlntica. Essas re-gies encontram-se ameaadas pela presso antrpica, com crescente degradao ambiental.

    Historicamente, a regio semirida do Brasil sempre foi afetada por grandes secas ou grandes cheias. Anos de se-cas e chuvas abundantes alternam-se de formas errticas, e intensas foram as secas de 1710-11, 1723-27, 1736-57, 1744-45, 1777-78, 1808-09, 1824-25, 1835-37, 1844-45, 1877-79, 1982-83, 1997-98, e as chuvas de 1924, 1974, 2004-2005 e 2009.

    As secas esto associadas s caractersticas climticas da regio e s variabilidades dos oceanos Pacfico e Atlntico Tropical (MARENGO & SILVA DIAS, 2007; NOBRE et al., 2006). Estatisticamente, acontecem de 18 a 20 anos de seca a cada perodo de 100 anos. As secas mais graves aparecem em registros histricos desde o incio da colonizao, no s-culo XVI, e so comuns. At agora, o sculo XX foi um dos mais ridos, registrando 27 anos de estiagem.

    A ocorrncia de chuvas, por si s, no garante que as cul-turas de subsistncia de sequeiro sejam bem sucedidas. Na regio semirida, frequente a ocorrncia de perodos secos durante a estao chuvosa que, dependendo da intensidade e durao, provocam fortes danos nas culturas de subsistn-cia (NAE, 2005) e, consequentemente, impactos adversos agricultura da regio. Impactos sobre as populaes podem aumentar com a intensificao de chuvas. Como exemplo, no primeiro semestre de 2009, chuvas intensas prejudica-

    ram 664 mil pessoas em seis estados nas regies Nordeste e Norte do Brasil.

    O Relatrio de Clima do INPE indicou uma tendncia de cenrios de secas e eventos extremos de chuvas em gran-des reas do Brasil.A regio semirida considerada a regio mais vulnervel do Brasil possvel mudana do clima, j que a disponibilidade hdrica per capita em grande parte da rea j insuficiente, havendo crescente processo de degradao e desertificao, e com mais de 50% da populao vivendo em condio de pobreza.

    Segundo o citado relatrio do INPE, no cenrio pessimista - baseando-se nos modelos regionais RegCM3, Eta CCS e HadRM3P - as temperaturas aumentariam de 2 oC a 4 oC e as chuvas reduzir-se-iam entre 15 e 20% (2-4 mm/dia) no Nordeste, at o final do sculo XXI. No cenrio otimista, o aquecimento seria entre 1-3 oC e a chuva ficaria entre 10-15% (1-2 mm/dia) menor. O aumento do desmatamento da Ama-znia poderia ainda gerar efeitos adversos na regio semiri-da, tornando-a mais seca.

    Com a possvel consequncia de uma regio semirida mais rida e com maior frequncia de secas e precipita-es intensas ou excessivas, os impactos podero ser muito negativos na economia e na sociedade. A base de sustentao para as atividades humanas - como agrope-curia, minerao, indstria, hidroenergia e turismo - di-minuiria, sendo provvel que aumentasse o deslocamento da populao para as cidades ou para as reas onde fos-se possvel desenvolver agricultura irrigada. A populao mais pobre e os agricultores de subsistncia seriam mais fortemente afetados.

    Como exemplo de extremos climticos de grande impacto sobre a regio, em novembro de 2007, a represa de Sobra-dinho chegou a apenas 15% de seu volume preenchido. No estado da Paraba, 158 municpios estavam em estado de emergncia motivado por essa seca. Essa situao pode-r ocorrer com mais frequncia, j que, segundo o Atlas de gua do Nordeste (ANA, 2006), mais de 70% das cidades com populao acima de 5.000 habitantes enfrentaro cri-ses no abastecimento de gua para consumo humano at 2025, independentemente da obra de integrao da bacia do rio So Francisco s bacias setentrionais da regio Nordes-te249. Portanto, problemas de abastecimento podero atingir grande parte da populao da regio Nordeste.

    A regio apresenta baixos indicadores sociais e de sade. De fato, entre os dez menores ndices do ndice de Desen-volvimento Humano - IDH do pas, oito so de estados do 249 Vide quadro Transposio do Rio So Francisco.

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    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    Nordeste (MARENGO, 2008). Acrescentando-se a isso o clima semirido, a vulnerabilidade da populao aumenta. A regio tambm apresenta as maiores taxas de mortali-dade infantil e a menor expectativa de vida no Brasil. Esse quadro pode se agravar com o aumento de temperatura e reduo nas chuvas.

    Na dcada de 1960, o setor agrcola respondia por cerca de 30% do PIB da regio Nordeste. Essa relao atualmente est em torno de 7%. No entanto, as pessoas dependentes das atividades agrcolas ainda representam cerca de 30% da fora de trabalho da regio, ou seja, grande parte da fora de trabalho permanece com baixssima produtividade, o que explica o quadro de pobreza rural da regio.

    No que concerne aos impactos sobre a biodiversidade na regio semirida, deve-se lembrar que a Caatinga o nico bioma exclusivamente brasileiro, o qual abriga uma fauna e uma flora nicas, com muitas espcies endmicas, que no so encontradas em nenhum outro lugar do planeta. Trata-se de um dos biomas mais ameaados do Brasil, com grande parte de sua rea j tendo sido bastante modificada pelas condies extremas de clima observadas nos ltimos anos, e, potencialmente, muito vulnervel mudana global do clima. Resultados de experincias de modelagem de vegeta-o associadas aos cenrios de mudana do clima de altas emisses de gases de efeito estufa (SALAZAR et al., 2007) sugerem que a Caatinga poder dar lugar a uma vegetao mais tpica de zonas ridas, com predominncia de cactce-as, at finais do sculo XXI.

    necessria uma ao coordenada para enfrentar os pos-sveis efeitos adversos da mudana do clima na regio se-mirida. Algumas iniciativas implementadas incluem o Sis-tema Brasileiro de Alerta Precoce de Secas e Desertificao (INPE/MCT e MMA), o Programa de Monitoramento Clim-tico em Tempo Real da Regio Nordeste - Proclima, da Su-perintendncia do Desenvolvimento do Nordeste - Sudene e do Ministrio da Integrao MI, e o Programa Nacional de Combate Desertificao e Mitigao dos Efeitos da Seca - PAN-Brasil, do MMA.

    A regio semirida do Nordeste conta com uma longa his-tria de polticas de adaptao variabilidade climtica, em especial s secas. Essa experincia envolveu a criao e de-senvolvimento de instituies, a construo de infraestrutura hdrica e de transportes, a realizao de aes emergenciais

    em pocas de secas, a pesquisa e extenso rural na agricul-tura, e a reduo da participao na economia (diversificao econmica) com relao a atividades dependentes de chu-vas, como a agricultura de sequeiro.

    Como exemplos de adaptao, cita-se a criao de empregos emergenciais em pocas de secas (em 1983, foram criados 3 milhes de empregos em frentes de trabalho); a acumula-o de gua em audes e cisternas; a irrigao tanto pblica como privada; o gerenciamento dos recursos hdricos; a re-vitalizao de bacias hidrogrficas, inclusive de microbacias; o desenvolvimento de atividades menos dependentes dos recursos de clima.

    Para enfrentar os desafios na regio semirida do Brasil, fazem-se necessrios estudos de vulnerabilidade a eventos climticos, de mudana do uso da terra, de aumento popula-cional e de conflito de uso de recursos naturais (MARENGO, 2008). Os esforos devem voltar-se para ajudar a planejar e implementar aes que levem ao desenvolvimento susten-tvel da regio, fortalecendo a capacidade de adaptao da sociedade, da economia e do meio ambiente e contribuindo, ao mesmo tempo, com as iniciativas de mitigao voltadas para reduzir as causas da mudana global do clima.

    So ainda necessrias polticas ambientais de longo prazo, assim como programas de educao ambiental. Deve-se me-lhorar o conhecimento sobre o ecossistema da Caatinga.

    Nesse sentido, recomenda-se a elaborao de um mapa de riscos e das possveis vulnerabilidades da regio semirida mudana global do clima, que integre as diferentes vul-nerabilidades em diversos setores e suas causas, incluindo um guia de orientao para o planejamento de estratgias de adaptao essas vulnerabilidades. Deve-se promover o estabelecimento de polticas de abastecimento de gua e saneamento bsico, principalmente para pequenas comu-nidades. H ainda a necessidade de se avaliar a segurana alimentar na regio Nordeste e de desenvolver culturas e sistemas agrcolas adaptados regio semirida, no con-texto tanto de variabilidade climtica como de mudana do clima.

    Porm, assim como a regio semirida vulnervel mudan-a de clima, tambm uma regio com potencialidades, que precisam ser mais bem conhecidas e incorporadas aos pla-nos de adaptao e de desenvolvimento regional sustentvel.

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    Parte 3

    O Projeto de Integrao do Rio So Francisco com as Bacias Hidrogrficas do Nordeste Setentrional um empreendimento do Governo Federal, sob a responsabilidade do Ministrio da Integrao Nacional - MI, destinado a assegurar a oferta de gua, em 2025, a cerca de 12 milhes de habi-tantes de pequenas, mdias e grandes cidades da regio semirida dos estados de Pernambuco, Cear, Paraba e Rio Grande do Norte.

    A integrao do rio So Francisco s bacias dos rios temporrios do semi-rido ser possvel com a retirada contnua de 26,4 m3/s de gua, o equi-valente a 1,4% da vazo garantida pela barragem de Sobradinho (1.850 m3/s) no trecho do rio onde se dar a captao. Este montante hdrico ser destinado ao consumo da populao urbana de 390 municpios do Agreste e do Serto dos quatro estados do Nordeste Setentrional. Nos anos em que o reservatrio de Sobradinho estiver vertendo, o volume captado poder ser ampliado para at 127 m3/s, contribuindo para o au-mento da garantia da oferta de gua para mltiplos usos.

    A regio Nordeste, que possui apenas 3% da disponibilidade de gua e 28% da populao brasileira, apresenta internamente uma grande irregu-laridade na distribuio dos seus recursos hdricos, uma vez que o rio So Francisco representa 70% de toda a oferta regional.

    Esta irregularidade na distribuio interna dos recursos hdricos, associa-da a uma discrepncia nas densidades demogrficas (cerca de 10 hab/km2 na maior parte da bacia do rio So Francisco e aproximadamente 50 hab/km2 no Nordeste Setentrional) faz com que, do ponto de vista da sua oferta hdrica, o semirido brasileiro seja dividido em dois: o semiri-do da Bacia do So Francisco, com 2.000 a 10.000 m3/hab/ano de gua disponvel em rio permanente, e o semirido do Nordeste Setentrional, compreendendo parte do estado de Pernambuco e os estados da Paraba, Rio Grande do Norte e Cear, com pouco mais de 400m3/hab/ano dis-ponibilizados por meio de audes construdos em rios intermitentes e em aquferos com limitaes quanto qualidade e/ou quanto quantidade de suas guas.

    Diante desta realidade, tendo por base a disponibilidade hdrica de 1500 m3/hab/ano, estabelecida pela ONU como sendo a mnima necessria para garantir a uma sociedade o suprimento de gua para os seus di-versos usos, o Projeto de Integrao estabelece a interligao da bacia hidrogrfica do rio So Francisco, que apresenta relativa abundncia de gua (1.850 m3/s de vazo garantida pelo reservatrio de Sobradinho), com bacias inseridas no Nordeste Setentrional com quantidades de gua disponvel que estabelecem limitaes ao desenvolvimento scio-econ-mico da regio.

    As bacias que recebero a gua do rio So Francisco so: Brgida, Terra Nova, Paje, Moxot e Bacias do Agreste em Pernambuco; Jaguaribe e Metropolitanas no Cear; Apodi e Piranhas-Au no Rio Grande do Norte; Paraba e Piranhas na Paraba.

    Benefcios

    O Projeto de Integrao do Rio So Francisco com as Bacias Hidrogrfi-cas do Nordeste Setentrional a mais importante ao estruturante no mbito da Poltica Nacional de Recursos Hdricos, tendo por objetivo a garantia de gua para o desenvolvimento scio-econmico dos estados mais vulnerveis s secas. Neste sentido, ao mesmo tempo em que ga-rante o abastecimento por longo prazo de grandes centros urbanos da regio (Fortaleza, Juazeiro do Norte, Crato, Mossor, Campina Grande, Caruaru, Joo Pessoa) e de centenas de pequenas e mdias cidades inse-ridas no semirido, o projeto beneficia reas do interior do Nordeste com razovel potencial econmico, estratgicas no mbito de uma poltica de desconcentrao do desenvolvimento, polarizado at hoje, quase exclu-sivamente, pelas capitais dos estados.

    O Projeto de Integrao, tambm, ter um grande alcance no abasteci-mento da populao rural, quer seja por meio de centenas de quilmetros de canais e de leitos de rios perenizados, quer seja por intermdio de adutoras para o atendimento de um conjunto de localidades.

    Box 1 - Transposio do Rio So Francisco (MI, 2010)

    2.2 reas Urbanas

    De acordo com o Quarto Relatrio de Avaliao do IPCC, Re-latrio do Grupo de Trabalho II, Impactos, Adaptao e Vul-nerabilidade, est prevista uma maior frequncia de ondas de calor em reas urbanas, de maior intensidade e durao, bem como o aumento da temperatura mnima (IPCC, 2007b), com possveis impactos sobre a sade, principalmente para idosos e crianas at 5 anos de idade. Alm disso, pode-se prever uma deteriorao da qualidade do ar e o aumento de reas de risco, em especial nas cidades tropicais, que devem ser cada vez mais sujeitas s chuvas intensas que podem provocar escorregamentos de encostas e alagamentos.

    A concentrao populacional brasileira distribui-se nas me-trpoles e em cidades grandes e mdias. A urbanizao do Brasil um fenmeno recente se comparado ao que ocorreu em pases centrais (RIBEIRO, 2008). A especulao imobili-ria e o xodo rural so alguns dos aspectos que geraram re-

    as com elevada concentrao de populao de baixa renda, a qual acabou tendo como opo viver em situaes de risco, como fundos de vale, vrzeas de corpos dgua, encostas n-gremes, em cortios ou imveis degradados pela falta de ma-nuteno. Cada uma dessas situaes expe seus habitantes aos perigos provocados por eventos climticos adversos e extremos.

    O recente estudo Vulnerabilidade das Megacidades Bra-sileiras s Mudanas Climticas: Regio Metropolitana de So Paulo (NOBRE et al., 2010) mostra que, caso siga o padro histrico de expanso, a mancha urbana da Regio Metropolitana de So Paulo ser o dobro da atual em 2030, aumentando os riscos de enchentes, inundaes e desli-zamentos na regio, atingindo cada vez mais a populao como um todo e, sobretudo, os mais pobres. Isso aconte-ce porque essa expanso dever ocorrer principalmente na periferia, em loteamentos e construes irregulares, e em reas frgeis, como vrzeas e terrenos instveis, com

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    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    grande presso sobre os recursos naturais. Os riscos sero potencializados pelo aumento do nmero de dias com for-tes chuvas, por conta da mudana global do clima. Estudos preliminares sugerem que, entre 2070 e 2100, uma eleva-o mdia na temperatura da regio de 2 oC a 3 oC poder dobrar o nmero de dias com chuvas intensas (acima de 10 milmetros) na capital de So Paulo.

    O aumento da temperatura em cidades brasileiras pode se dar por fatores naturais, como o aquecimento do Atlntico Sul, observado desde 1950 (MARENGO, 2006), ou devido a fatores antrpicos (ex: ilhas de calor, o efeito de verticali-zao e o uso intenso do automvel nas grandes cidades), ou a uma combinao dos dois. As maiores taxas de aque-cimento podem ser detectadas nas metrpoles da regio Sudeste do Brasil (principalmente em So Paulo e no Rio de Janeiro), mas tambm perceptvel em cidades como Manaus - AM, Cuiab - MT, Campinas - SP e Pelotas - RS. A ilha de calor (LOMBARDO, 1985), frequentemente encon-trada em metrpoles e grandes cidades, resulta em descon-forto trmico e em aumento do consumo de energia para resfriar edifcios. O aumento de temperatura global poder, ainda, ter impactos significativos sobre a sade humana, principalmente nas grandes cidades, com o agravamento do quadro de sade de hipertensos, o que pode aumentar o nmero de mortes250.

    A atmosfera terrestre tem sido constantemente conta-minada por substncias emitidas por indstrias, autom-veis, termeltricas e outras fontes. Esse impacto mais evidente nos grandes centros urbanos, como, por exem-plo, na cidade de So Paulo, onde a poluio atmosfrica tratada como um problema de sade pblica (SALDIVA, 1992). A poluio do ar gera um aumento de internaes (principalmente de pessoas com problemas respiratrios e portadores de molstias cardacas), bitos neonatais, problemas hematolgicos, oftalmolgicos, neurolgicos e dermatolgicos (COELHO-ZANOTTI, 2007). Isso ocorre principalmente em perodos de estiagem, em especial no inverno, nas cidades das regies Sudeste e Sul, quando se verifica com maior frequncia a chamada inverso trmi-ca, fenmeno que poder ser intensificado com o aumento global da temperatura.

    A mudana do clima ainda poder resultar em uma inci-dncia de maior frequncia de pragas urbanas. Tempera-turas mais elevadas propiciaro a ocorrncia em maior es-cala de insetos. Ser preciso criar campanhas de combate

    250 importante destacar que a concentrao de poluentes deixa os olhos irrita-dos, acelera o desenvolvimento de tosse, gripe e resfriado. Esses so proble-mas graves porque afetam mais as pessoas dos extremos da pirmide popula-cional: crianas at cinco anos e idosos (RIBEIRO, 2008).

    s pragas urbanas para evitar que se propaguem a ponto de gerarem dificuldades aos moradores das cidades bra-sileiras ou que se transformem em vetores de propagao de doenas.

    Outra possvel consequncia da mudana global do clima ser a maior frequncia de chuvas de elevada intensidade. Eventos extremos resultam em transtornos locais muito in-tensos, como alagamentos de vias, congestionamentos, per-da de moradia, principalmente de populao de baixa renda, prejuzos materiais e at mortes, em geral de moradores de reas de risco (RIBEIRO, 2008).

    Em todo o litoral leste da regio Nordeste, na Zona da Mata251 (desde parte do estado do Rio Grande do Norte; como tambm no estado de Pernambuco, sobretudo nas ci-dades de Recife e Olinda; at o estado da Bahia, na sua regio do Recncavo252), eventos de chuvas fortes trazidas por on-das de leste, se acompanhadas de vagas poderosas impulsio-nadas pelo vento, so capazes de provocar estragos e at da-nos maiores em edificaes e estruturas virias beira-mar (XAVIER et al., 2008).

    Como as chuvas devem ser mais intensas em algumas re-gies, a gua ter mais velocidade e fora para gerar sulcos e transportar sedimentos, causando e/ou acelerando pro-cessos erosivos. A eroso pode colocar em risco habitaes. Alm disso, uma eroso mais intensa contribui ainda mais para o assoreamento dos corpos dgua, o que aumenta a possibilidade de alagamentos nos fundos de vale. Em mui-tas cidades do pas ocorreu a impermeabilizao de corpos dgua e a ocupao de vrzeas para instalao do sistema virio. As chuvas fortes devem agravar as j conhecidas en-chentes em vias pblicas, as quais geram prejuzos e perdas humanas todos os anos no pas.

    Deslizamentos de terra em encostas e inundaes provo-cadas por tempestades severas so dois tipos de desastres naturais responsveis por grande nmero de vtimas no pas, principalmente nas regies metropolitanas do Rio de Janeiro, So Paulo, Recife, Salvador e Belo Horizonte, e regies das Serras do Mar e da Mantiqueira253.

    251 Formada por uma estreita faixa de terra (cerca de 200 quilmetros de largura) situada no litoral Nordeste. A vegetao original na Zona da Mata era predo-minantemente Mata Atlntica. uma rea com alto nvel de urbanizao, alm de concentrar os principais centros regionais do Nordeste. No setor agrcola, destaca-se as grandes propriedades de tabaco, cana-de-acar e cacau. Existe uma larga produo agrcola, devido ao solo frtil (massap).

    252 O Recncavo Baiano a regio geogrfica localizada em torno da Baa de To-dos os Santos, abrangendo a Regio Metropolitana de Salvador, onde est a capital do estado da Bahia, Salvador.

    253 A Serra da Mantiqueira uma cadeia montanhosa que se estende por trs estados do Brasil: So Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

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    Parte 3

    O patrimnio edificado tambm poder ser afetado pela mu-dana do clima. Chuvas intensas e temperaturas mais eleva-das vo exigir ainda maior ateno e recursos para a manu-teno do patrimnio arquitetnico das cidades e metrpoles do Brasil, como j ocorreu, por exemplo, em Ouro Preto - MG e Paraty RJ (ZANIRATO, 2004).

    A elevao do nvel do mar poder levar ao abandono de edi-fcios localizados em reas urbanas baixas e ao deslocamento de populao que vive junto costa e de centros de servios instalados junto s praias (RIBEIRO, 2008). Outra dificuldade em cidades costeiras ser o destino do esgoto, que coleta-do e transportado ao mar por meio de emissrios submarinos sem qualquer tratamento prvio. Os clculos de vazo desse material foram realizados para nveis do mar mais baixos que os projetados pela mudana global do clima.

    Algumas cidades do pas j esto tomando medidas para mitigar e se adaptar mudana global do clima, como no caso do Rio de Janeiro, onde sistemas de alerta para res-sacas e riscos de deslizamentos j foram desenvolvidos (CIM, 2008). So Paulo tambm j implementou seu Plano de Mudanas Climticas, que deve ajudar na mitigao e adaptao. No nvel estadual, tambm foi aprovado o Plano Estadual sobre Mudanas Climticas de So Paulo, Minas Gerais e Pernambuco. As cidades de So Paulo e Curitiba so afiliadas ao C40, que formam o grupo de grandes cida-des mundiais compromissadas a combater a mudana do clima. Outra iniciativa a Campanha Cidades pela Proteo do Clima (Cities for Climate Protection - CCP), lanada em ju-nho de 1991, pelo Conselho Internacional para as Iniciativas Ambientais Locais - ICLEI (sigla em ingls de International Council for Local Environmental Initiatives), com o objetivo de mobilizar aes de governos locais em prol da reduo das emisses de gases de efeito estufa e dar fora de expresso internacional coletiva aos governos municipais frente aos governos nacionais e Conveno254.

    Entre as medidas de adaptao mudana do clima para re-as urbanas pode-se destacar:

    oferecimento de alternativas para moradia da populao de baixa renda que atualmente vivem em reas de risco;

    maior rigor no cumprimento das leis de uso e ocupao do solo;

    elaborao e implementao de planos urbansticos vol-tados para o conforto urbano e ambiental e no ditados pelas decises do setor imobilirio;

    254 Vide nesta Parte seo 3.13, sobre Cidades pela Proteo do Clima.

    implementao de medidas para atenuar a elevao da temperatura (arborizao de cidades, adequao de edi-fcios s condies tropicais);

    reformulao do sistema virio e de coleta de esgotos, em especial nas cidades litorneas;

    renaturalizao (recriao de microclimas, revegetao, revitalizao de cursos dgua) das reas urbanas;

    obteno de conhecimento e alternativas tcnicas para miti-gar e adaptar a populao e as cidades mudana do clima;

    regulamentao das construes, por meio do Cdigo de Obras e do Plano Diretor, adaptando-se aos efeitos da mudana do clima; e

    implementao de mecanismos e polticas para incenti-var o transporte pblico, o transporte metrovirio/ferro-virio e integrao modal.

    2.3 Zona Costeira

    O Quarto Relatrio de Avaliao do IPCC (IPCC, 2007b) pre-v, baseando-se nos diferentes cenrios de emisso de gases de efeito estufa, que a combinao da expanso trmica das guas com o derretimento das geleiras localizadas nos conti-nentes resultaria num aumento do nvel mdio do mar entre 18 cm e 59 cm entre 2090-2099, relativamente a 1980-1990. Mudana do clima e o aumento do nvel do mar (as variaes do nvel relativo do mar, ou seja, as variaes entre o conti-nente e o mar) podero ampliar a eroso de reas costeiras, o risco de branqueamento e mortalidade de corais, e os impac-tos negativos sobre manguezais e reas midas costeiras. Na Amrica Latina, o aumento do nvel do mar elevaria o risco de inundao de reas de costas mais baixas, afetando, sobretu-do, os deltas dos rios e as reas urbanas costeiras.

    O litoral do Brasil estende-se da regio equatorial do hemis-frio norte s latitudes subtropicais do Hemisfrio Sul, ao longo de mais ou menos 8.000 km banhados pelo Oceano Atlntico ocidental. Quando considera a extenso da linha de costa incluindo o contorno dos principais esturios e ilhas, a extenso , aproximadamente, 12.600 km. Como consequ-ncia, a zona costeira atravessa, ao longo de toda essa exten-so, diferentes ambientes climticos, que variam do mido equatorial e tropical ao semirido na regio Nordeste e ao cli-ma subtropical na regio Sul, bem como diferentes ambien-tes geolgicos e geomorfolgicos (NEVES & MUEHE, 2008). Para efeitos legais, a zona costeira constituda por uma faixa

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    martima, com 12 milhas nuticas de largura, e por uma faixa terrestre, com 50 km de largura a partir da linha de costa, correspondendo a uma superfcie territorial total de 535.000 km2 (VIDIGAL, 2006). Nos municpios banhados pelo mar e s margens de esturios, habitam aproximadamente 20% da populao brasileira, ou seja, mais de 38 milhes de pessoas, concentradas principalmente na vizinhana das capitais de estados. Portos, explorao de recursos minerais, turismo, aquicultura e reas de conservao ou de proteo ambien-tal, alm de moradias, so as principais atividades econmi-cas ou tipos de ocupao da zona costeira.

    Uma forma de se analisar a vulnerabilidade dos municpios costeiros mudana do clima consiste em identificar a por-centagem do PIB a gerado em comparao com o PIB esta-dual. Verifica-se que nos estados de Amap, Piau, So Paulo, Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a gerao de ri-quezas comparvel populao residente na zona costeira. O estado do Rio de Janeiro, onde um pouco mais de 80% da riqueza e 70% da populao localizam-se na zona costeira, resultado combinado da indstria do petrleo e de vrias atividades martimas (estaleiros, turismo etc.). Nos demais estados, existe forte discrepncia entre os percentuais de po-pulao (30% a 50%) e de PIB (40% a 70%), os casos extre-mos so: Pernambuco (65% do PIB para 40% da populao), Alagoas (58% para 40%), Paraba (45% para 28%) e Espri-to Santo (72% para 48%). Ao se analisar, porm, os valores de PIB/capita de todos os municpios brasileiros, verificou--se que, entre os 50 maiores valores, apenas 14 municpios situavam-se na zona costeira, em geral sede de atividades associadas a portos ou indstria do petrleo, e entre os 100 maiores valores, apenas 22 situavam-se na zona costeira. Curiosamente, entre os 100 menores valores de PIB/capita do pas, 12 situavam-se na zona costeira.

    Para verificar a capacidade dos municpios costeiros em atender a situaes de emergncia de sade relacionadas a catstrofes naturais, identificou-se que em 6.000 km de li-nha de costa existe oferta inferior a 1,5 leitos/1.000 hab.; em 4.100 km, a oferta situa-se entre 1,5 e 2,5 leitos/1.000 hab.; em 1.500 km, a oferta inferior a 3,5 leitos/1.000 hab.; e, em apenas 800 km, a oferta supera 3,5 leitos/1.000 hab., ndice considerado desejvel pelas autoridades de sade brasileiras. No entanto, verifica-se tambm a fragilidade dos municpios porturios para enfrentar doenas trazidas pelas tripulaes de navios estrangeiros ou outras enfermidades causadas pela contaminao de gua de lastro.

    Desenha-se, pois, um cenrio scio econmico e fsico-ge-ogrfico bastante complexo para a zona costeira brasileira, evidenciando a m distribuio de renda nos municpios, sua

    incapacidade para resolver os problemas scio-ambientais associados a mudana do clima e a dificuldade dos estados em promover o gerenciamento costeiro.

    As reas geomorfologicamente mais suscetveis eroso es-to na regio Nordeste, em parte pela falta de rios capazes de abastecer o mar com sedimentos, mas tambm pela reten-o das areias marinhas nos campos de dunas e a pequena declividade da plataforma continental, que amplifica o ajus-tamento da costa a uma elevao do nvel do mar. O esgota-mento generalizado das fontes de sedimento da plataforma continental interna, juntamente com outros fatores como alterao natural ou induzida no balano de sedimentos tem provocado eroso de variados graus de intensidade, em toda a costa brasileira (MMA, 2006).

    Por outro lado, as costas das regies Sul e Sudeste do Brasil esto sujeitas a ciclones extratropicais, que numa situao nica atingiu fora de furaco, o Catarina, que atingiu a costa do estado de Santa Catarina, em fevereiro de 2004 (NEVES & MUEHE, 2008).

    Estima-se que os valores materiais em risco na zona costeira, considerando o cenrio mais elevado de nvel do mar e de eventos meteorolgicos extremos, variam entre R$ 136,5 bi-lhes e R$ 207,5 bilhes (ROSMAN et al., 2010). Calcula-se que em face do valor estimado do patrimnio em risco, deve haver um investimento mnimo da ordem de R$ 4 bilhes at 2050, de modo a garantir uma base sustentvel para toma-da de deciso e dimensionamento seguro da infraestrutura necessria para enfrentar as mudanas esperadas. Porm, essa valorao de impactos e respostas mudana do clima na zona costeira do Brasil bastante incerta, pois pouco se conhece sobre alguns dos eventos mais importantes, como gerao de ondas e mar meteorolgica, o relevo da regio e a morfologia da plataforma continental interna.

    O regime de ventos associado ao desmatamento de dunas tem sido fator preocupante da ocupao urbana em vrios pontos do litoral brasileiro (como, por exemplo, Itana-BA, Grussa-RJ, Cabo Frio-RJ e Arraial do Cabo-RJ e vrios lo-cais na regio Nordeste), devido ao transporte elico de se-dimentos. Mudanas climticas que afetem o regime local de ventos ou a vegetao fixadora de dunas, na presena de disponibilidade sedimentar na faixa costeira, podem trazer impactos adversos. Deve-se ainda estar atento a variaes do alcance da brisa marinha quanto ao da maresia sobre materiais e estruturas.

    Na medida em que a circulao atmosfrica afeta a precipi-tao, o balano hdrico das regies costeiras (incluindo os rios e as lagunas, bem como as restingas e as dunas, onde

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    Parte 3

    fica armazenada gua da chuva, e os manguezais) ser muito sensvel mudana global do clima. Por ser rea de grande valor econmico e de atrao populacional, poder aparecer uma presso maior sobre o uso de recursos hdricos nessas regies, seja como fontes de gua doce, seja como reas de despejo de resduos.

    Outros fatores podero aumentar a vulnerabilidade, tais como a ocupao territorial desordenada, a explorao indiscriminada de jazidas de areia nos esturios e braos de mar, assim como a construo de obras de proteo costeira com critrios tcnicos de engenharia inadequados, que muitas vezes tem desencade-ado processos erosivos rpidos (como, por exemplo, Fortaleza--CE, Olinda-PE, Conceio da Barra-ES, Matinhos-PR).

    Em resumo, os impactos previstos na zona costeira brasileira em consequncia da mudana global do clima, excluindo aqueles que seriam comuns s reas continentais (agricultura, clima etc.), podero ser os seguintes (NEVES & MUEHE, 2008):

    eroso costeira;

    danos a obras de proteo costeira;

    efeitos do spray salino em estruturas de concreto (edi-fcios e obras martimas) e em monumentos histricos;

    prejuzos estruturais ou operacionais a portos e terminais;

    danos a obras de urbanizao de cidades litorneas;

    danos estruturais ou prejuzos operacionais a obras de saneamento;

    exposio de dutos enterrados ou danos estruturais a du-tos expostos;

    deslizamentos de encostas (ou de falsias) na zona cos-teira;

    intruso salina em esturios e aquferos, que pode afetar a captao de gua doce;

    alterao da rea de ocupao dos manguezais, que pode resultar em impacto sobre as aves, inclusive as migrat-rias, assim como para a ictiofauna255 local;

    danos a ecossistemas devido falta de gua doce cau-sados pelos efeitos relacionados ao desequilbrio salino;

    danos a recifes de coral.

    255 Em ecologia e cincias pesqueiras, chama-se ictiofauna ao conjunto das esp-cies de peixes que existem numa determinada regio biogeogrfica.

    Alm desses efeitos, devem ser consideradas a mudana do clima associadas interao oceano-atmosfera e suas pos-sveis consequncias sobre as diversas formas de ocupao da zona costeira e da Zona Econmica Exclusiva, inclusive as atividades de explorao mineral na plataforma e talude con-tinentais256, e sobre as rotas de navegao no Atlntico Sul, em face da intensidade e frequncia de tempestades.

    Para fins de gerenciamento e de deciso poltica relaciona-dos com a melhor resposta a mudana do clima que afetam a zona costeira, faz-se necessrio considerar um quadro multi- e interdisciplinar que considere quinze dimenses: (1) base cartogrfica integrada para a zona costeira (regies emersa e submarina); (2) o contorno continental e sua vulnerabilidade aos vrios agentes dinmicos; (3) o clima na zona costeira e programas adequados de monitoramento para usos diver-sos, inclusive para projetos de engenharia; (4) a dependncia econmica em relao ao mar e atividades costeiras; (5) a urbanizao da faixa litornea e o ordenamento poltico da ocupao humana; (6) planejamento e controle da arreca-dao e riquezas geradas na zona costeira; (7) a anlise in-tegrada de informaes ambientais; (8) a educao para o futuro, em todos os nveis formais e em mbito da educao informal (divulgao cientfica); (9) a sade na zona costei-ra, incluindo a infraestrutura atual e os aspectos polticos das migraes nacionais e os aspectos sanitrios das fronteiras martimas internacionais (sade dos portos); (10) a gua na zona costeira, incluindo os aspectos relacionados captao, ao tratamento e distribuio de gua potvel, bem como coleta, ao tratamento e ao retorno das guas servidas; (11) o destino final de resduos slidos; (12) a gerao e distribui-o de energia; (13) a produo e a distribuio de alimentos; (14) as relaes externas geopolticas em mbito regional, nacional e internacional; (15) a legislao, em nveis federal, estadual e municipal, que necessita ser atualizada e prever oramento especfico destinado ao monitoramento e adap-tao mudana do clima.

    No momento, a resposta mais recomendvel aos efeitos da mudana do clima o estabelecimento de uma estratgia de aes para o Gerenciamento Costeiro Integrado, que inclua:

    a conduo de monitoramento ambiental permanente (longo prazo);

    a proposio de ordenamentos municipais para ocupa-o urbana e mais rigor no cumprimento dos mesmos;

    256 Em oceanografia, chama-se talude continental poro dos fundos marinhos com declive muito pronunciado que fica entre a plataforma continental e a margem continental (ou sop continental), onde comeam as plancies abissais.

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    Segunda Comunicao Nacional do Brasil

    a implementao de polticas estaduais efetivas de ge-renciamento costeiro;

    o disciplinamento do uso dos solos;

    a integrao de programas e polticas de gesto de recur-sos hdricos e os de gerenciamento costeiro;

    o direcionamento de esforos da ao federal: legislao, educao, monitoramento, sistema de alerta precoce;

    o planejamento e a priorizao de estudos para as formas clssicas de respostas (recuo, acomodao e proteo);

    a elaborao de diretrizes e de normas tcnicas para obras costeiras e martimas, que incorporem os poss-veis impactos de mudana global do clima sobre obras e construes;

    o desenvolvimento de tcnicas de aprimoramento biol-gico de manguezais, visando ao reflorestamento.

    2.4 Sade Humana

    Como efeitos futuros da mudana global do clima sobre a sade humana, o Quarto Relatrio de Avaliao do IPCC, Relatrio do Grupo de Trabalho II, Impactos, Adaptao e Vulnerabilidade, reconheceu os seguintes possveis impactos (IPCC, 2007b):

    alteraes na distribuio espacial e intensidade da transmisso de doenas infecciosas endmicas, espe-cialmente aquelas transmitidas por vetores, tais como a malria, a dengue, as leishmanioses, etc.;

    risco maior de diarreia, especialmente em crianas, em funo da piora no acesso a gua de boa qualidade, prin-cipalmente nas regies tropicais secas;

    agravamento no estado nutricional de crianas, com pre-juzo para seu desenvolvimento, em reas j afetadas por insegurana alimentar e que venham a sofrer com pero-dos prolongados de seca, nos pases em desenvolvimento;

    aumento no risco de doenas cardiorrespiratrias por causa do aumento na concentrao de poluentes da troposfera (especialmente o oznio), influenciados pela temperatura mais alta;

    incremento no risco de agravamentos em grupos popu-lacionais considerados como mais vulnerveis, tais como crianas e idosos, populaes indgenas e comunidades

    tradicionais, comunidades pobres de zonas urbanas, po-pulaes costeiras e populaes que dependem direta-mente dos recursos naturais afetados pela variao cli-mtica.

    O Brasil, pela sua localizao geogrfica e pelo seu tamanho continental, pode ser alvo de alteraes climticas importan-tes, que podem provocar impactos socioambientais que, por sua vez, favoream o aumento de doenas infecciosas end-micas sensveis ao clima, tais como a malria, o dengue, a clera, as leishmanioses e a leptospirose, entre outras (MCT, 2007). Os mecanismos de ao das alteraes climticas podem ser diretos, tal como a persistncia de umidade e temperaturas favorveis ao desenvolvimento e disperso de agentes infecciosos e vetores, e indiretos, como os proces-sos de migrao da populao humana desencadeados pela seca, provocando a redistribuio espacial das endemias e o aumento da vulnerabilidade social das comunidades.

    Como exemplo, surtos importantes de leptospirose tm ocorrido no Rio de Janeiro. Foram relatados 4.643 casos no perodo 1975-2006, tendo ocorrido em 1996 uma grande epi-demia em Jacarepagu, com 1.797 casos confirmados (CON-FALONIERI & MARINHO, 2007). Essa foi uma das maiores epidemias dessa doena de que se tem notcia em todo o mundo. Problemas similares so encontrados em outras grandes cidades do pas, como resultado de precria infraes-trutura de saneamento e do uso inadequado do solo urbano. As doenas infecciosas endmicas de maior relevncia no Brasil, com relao mudana do clima, so a malria e a fe-bre da dengue, podendo tanto aumentar como diminuir a sua incidncia no mbito regional. A maior importncia desses agravos est relacionada principalmente a sua alta incidncia e dificuldade de controle, alm da conhecida sensibilidade aos fatores climticos.

    Os estados da regio Nordeste so os mais vulnerveis aos impactos do clima na sade (MCT, 2007), entre os quais se identificam a escassez hdrica, capaz de afetar o quadro epi-demiolgico das doenas ligadas m higiene (por exemplo, diarreias infecciosas infantis), bem como agravar situaes de insegurana alimentar que geram desnutrio. Consta-tou-se, em anos de secas severas associadas ao fenmeno El Nio, um aumento significativo das taxas de mortalidade infantil por doenas diarreicas.

    Na regio semirida do Brasil, na ausncia de chuvas sazo-nais como ocorre nos perodos de seca a populao tem, historicamente, migrado do meio rural para as reas urbanas, em busca de assistncia governamental. Assim, o fator mudana demogrfica pode se constituir em um dos

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    Parte 3

    elementos intermediadores principais entre os fenmenos climticos extremos (neste caso, a seca) e seus efeitos na economia e na sade. O deslocamento intra ou inter-regional de migrantes das secas acarreta mudanas na economia regional e aumento da insegurana pblica nos pontos de destino, em funo do aumento na demanda por servios pblicos em geral, incluindo os do sistema nico de sade - SUS257. O desencadeamento de fluxos migrat-rios poder ainda redistribuir espacialmente tanto doenas crnicas como infecciosas, tais como a dengue, o calazar, a esquistossomose e a doena de Chagas.

    Um estudo regional de quantificao de vulnerabilidade da regio Nordeste do Brasil, em relao aos impactos inferidos pelos cenrios regionais de clima, desenvolveu um ndice composto de vulnerabilidade. As razes para este estudo da regio Nordeste foram as seguintes:

    aumento projetado da aridez na regio, de acordo com cenrios do INPE;

    piores ndices de vulnerabilidade da sade, segundo pro-jeto MCT/Fiocruz, em mbito nacional (CONFALONIERI et al., 2009);

    regio possivelmente mais afetada pela mudana do cli-ma, no Brasil, segundo o Climate Change Index (BAET-TIG et al., 2007);

    regio historicamente afetada por secas, com graves im-pactos sociais, e apresentando baixos indicadores socio-econmicos.

    O ndice de Vulnerabilidade Geral foi obtido, por unidade da Federao, para a regio, por meio da associao de dados de agravos sade (ndice de Vulnerabilidade de Sade IVS) capazes de serem influenciados, direta ou indiretamente, pelos fatores do clima, com dados ambientais (ndice de Desertifica-o IVD) e projees demogrficas e econmicas obtidas a partir de cenrios de mudana regional do clima, como conse-quncia da mudana global do clima (ndice de Vulnerabilidade Scioeconmica - IVSE e ndice de Vulnerabilidade Climtica - IVC). A premissa principal foi a de que, a partir das projees de um aumento futuro da aridez, a escassez de gua e alimen-tos agravar o quadro sanitrio e levar a migraes capazes de redistribuir doenas endmicas no espao geogrfico, bem

    257 O Sistema nico de Sade - SUS - foi criado pela Constituio Federal de 1988 e regulamentado pelas Leis no 8080/1990 e no 8.142/1990, Leis Orgnicas da Sade, com a finalidade de alterar a situao de desigualdade na assistncia sade da populao, tornando obrigatrio o atendimento pblico a qualquer cidado, sendo proibidas cobranas de dinheiro sob qualquer pretexto. Para maiores informaes vide .

    como de aumentar a presso sobre os servios de sade nas reas de destino dos migrantes. O instrumento de anlise foi a obteno de mtricas, variando de 0,0 a 1,0, capazes de refletir importantes relaes causais no contexto secas/perdas agr-colas/insegurana alimentar/migraes/sade.

    A incluso de dados sobre desertificao foi considerada im-portante pela relao que esta forma de degradao do solo tem com o clima (alm do uso da terra), como tambm por sua repercusso na produtividade agrcola de subsistncia e, portanto, na permanncia da populao nas reas afetadas.

    Foram analisados, por estado, os ndices para os dois cen-rios de mudana do clima (A2 e B2). Como resultado, foi verificado que aqueles com maior vulnerabilidade, em am-bos os cenrios, foram os estados do Cear e Pernambuco. Contriburam para isto valores altos dos indicadores parciais ndice de Vulnerabilidade em Sade - IVS, ndice de Vulne-rabilidade Desertificao - IVD, ndice de Vulnerabilidade Econmico-Demogrfico - IVED e, em menor intensidade, os valores de ndice de Vulnerabilidade Climtica - IVC. No cenrio de emisses de carbono mais altas (A2), o estado da Bahia tambm se apresentou com um grau de vulnera-bilidade alto (ndice 0,75), ndice este que caiu para 0,37 no cenrio de menor emisso (B2).

    Para a Segunda Comunicao Nacional, com base nas ro-dadas do Eta-CPTEC, foi construdo um ndice de Vulnera-bilidade Geral IVGp (elaborado pela Fiocruz e pelo De-p