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VI Encontro Nacional de Ação Popular Socialista Análise da conjuntura brasileira Há 515 anos exportando bens primários: a saga da superexploração do trabalho no Brasil Nelson Araújo Filho “Saber para onde vai, mesmo não sabendo por onde” (A Queimada, filme) “Árvores não demoram pra crescer, nos é que atrasamos o plantio” (Henrique Souza)

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VI Encontro Nacional de Ação Popular SocialistaAnálise da conjuntura brasileira

Há 515 anos exportandobens primários: a saga da superexploração do

trabalho no Brasil

Nelson Araújo Filho

“Saber para onde vai, mesmo

não sabendo por onde”(A Queimada, filme)

“Árvores não demoram pra crescer, nos

é que atrasamos o plantio” (Henrique Souza)

Julho de 2015

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Roteiro

1. Apresentação

2. Elementos introdutórios para discutir a conjuntura.2.1 Os fluxos das forças e os campos da luta2.2 O simples e o complexo na análise das forças sociais

3. Elementos da crise da economia capitalista3.1 Porque ocorre a crise econômica do sistema capitalista?3.2 Porque ocorre a “queda da taxa de lucro”?3.3 Com a crise econômica aumenta as crises social e ambiental.

3.4 O que faz o capitalista para enfrentar a “queda da taxa de lucro” 3.4.1 Aumenta a exploração do trabalho3.4.2 Aumenta a pressão sobre os preços da matéria prima3.4.3 Transfere o capital produtivo para o mercado financeiro3.4.4 Eleva a oferta de crédito para forçar a circulação3.4.5 Utiliza a tecnologia e a manipulação para aumentar a circulação3.4.6 Aumenta o domínio sobre o governo e desvios dos recursos públicos.

3.5 Eventos fundamentais para compreender a dinâmica econômica atual3.5.1 O crescimento econômico e a passagem do poder entre países3.5.2 Evolução do fluxo de capital e concentração da renda3.5.3 Mercado do petróleo3.5.4 Mercado de armas3.5.5 Mercado de drogas3.5.6 Mercado financeiro

3.6 Esgotam-se os recursos da diplomacia e dos golpes, só resta a guerra.

3.7 Quadro síntese dos elementos e fluxos da crise do capitalismo

4. Como o Brasil se subordina à divisão internacional do trabalho 4.1 O agronegócio4.2 A mineração4.3 O mercado do petróleo4.4 O modelo industrial 4.5 A geração de energia4.6 O mercado de drogas4.7 O mercado financeiro

4.7.1 Para onde vão as divisas oriundas da exportação de bens primários4.7.2 Divida Pública da União4.7.3 A contabilidade nacional com ferramenta de luta dos trabalhadores

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5. Elementos para fazer a análise da conjuntura política

(FALTA DESENVOLVER)

6. Plataforma de lutas

(FALTA COMPLETAR)

7. Bibliografia

(FALTA DESENVOLVER)

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1. Apresentação

Companheiros, e como está na moda, companheiras (isto começou com Sarney

com seu “brasileiras e brasileiros” no início dos discursos) tenho muita satisfação de

apresentar este texto para a discussão nesse VI ENAPS.

Considero que esta tribuna se constitui mais como um roteiro para discutir e

construir a revolução socialista brasileira do que propriamente um texto. Tenho

dificuldade de tratá-la como um texto, pois reconheço as lacunas e falhas em função

da falta de estudos e pesquisas em muitos pontos, mas fico tranquilo, pois a tese

que defendo fica expressa não no tratamento de cada ponto, mas na compreensão

do significado do conjunto dos pontos para construir um programa capaz de agregar

amplas massas e a intelectualidade para alcançar os objetivos que interessam aos

trabalhadores sejam alcançados.

As base para escrever este texto é uma espécies de equação cujas variáveis são:

sonho por um mundo socialistas + constante quebra de paradigma +

realidade brasileira + aprendizagem com o trabalho manual.

O sonho por um mundo socialista decorre de minhas superficiais e inconclusas

leituras dos clássicos Marx, Engels, Lenin e Gramsci, Kalecki e Benjamim que me

inspiram e ajudam organizar meus pensamentos para construir a estratégia para

alcançarmos a revolução socialista no Brasil.

A constante quebra de paradigma me foi estimulado por alguns autores que me

apresentaram ideias completamente diferentes do que está estabelecido como

verdade, a exemplo do médico José Roiz com o seu “O Esporte Mata” que diz que

ao praticarmos esporte adoecemos e morremos mais cedo, ou Décio Antônio

Colombo com o “Desmitificando o coração-bomba” que diz que não é o coração

que bombeia o sangue no corpo. Assim como as palestras e conversas com o

médico Jea Myung Yoo que trabalha com a medicina genômica e diz que o câncer

não doença é uma defesa do corpo contra a morte. Também palestras, aulas e

trabalhos práticos com Henrique Souza, Ernst Gostch, Adoniel Amparo e Zuzi

Theodoro que me ensinaram a observar e reproduzir as relações e os fenômenos

que ocorrem na Natureza e nas florestas naturais.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Quanto à realidade brasileira, tive a sorte de morar e trabalhar na Amazônia, na

Mata Atlântica e na Caatinga e conhecer o Cerrado, trabalhar na cadeia do petróleo

e com implantação de sistemas florestais. Tive a felicidade de ler Câmara Cascudo,

Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Darcy Ribeiro, Jorge Amado, Machado de

Assis, Lima Barreto, Drummond, Bandeira e Cora e outros. Organizou meus

pensamento acerca da realidade brasileira três importantes textos de Fernando

Pedrão, Luis Filgueiras e Hilton Coelho . Agora, muito tardiamente, quase no fim de

carreira, com muito pesar pelo atraso, mas com uma profunda felicidade por ter

encontrado os rumos teóricos e conceituais para a revolução socialista brasileira, me

foi mostrado Nildo Ouriques e Ruy Mauro Marini. Se panfletarmos as escolas, as

fábricas e fazendas com esses dois autores, acho que a revolução brasileira estará

salva.

Quanto à aprendizagem com o trabalho manual, gostaria de explicitar aos

companheiros a importância que o trabalho manual tem no meu processo de

formação, pois me ofereceu os elementos que possibilitam o aperfeiçoamento da

minha capacidade de observação, reflexão e elaboração teórica.

Tomo como objetivo central desta tribuna traçar um fio condutor para a construção

de argumentos que dê base a uma plataforma que possa sustentar um arco de

alianças com forças suficientes para de enfrentar e derrotar a burguesia e assim

potencializar a riqueza natural e produzida em favor dos povos brasileiros.

Para isso, e correndo risco, tento levantar elementos para contribuir com a

compreensão da dinâmica da economia brasileira e sua relação com o mundo e

identificar como os agentes econômicos se comportam diante dessa dinâmica,

particularmente os trabalhadores e a esquerda organizada.

Em seguida, busco, com muito poucas informações, elaborar uma análise da

política brasileira conectada com a economia tendo como foco principal o povo

na política, depois os demais os agentes organizados. Observo que temos uma

cultura de trabalhar separadamente a economia da política, construímos a

desconexão entre as análises da política e da economia e adotamos a política como

único fator de mobilização e organização da esquerda e dos trabalhadores.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Na conclusão, apresento uma plataforma de lutas que elaboro não a partir da

minha vontade e desejo comunista revolucionário, mas a partir da análise econômica

e politica, que deve servir para alicerçar a construção de um movimento com um

leque de alianças capaz de alterar a relação das forças presentes na vida

brasileira.

Quem conseguir avançar na leitura verá que faltam estudos e pesquisas sobre

diversos temas abordados. Falta apresentação de dados comprobatórios ou

explicativos. Faltam referências, citações e, principalmente, aspas. Tenho

consciência dessas falhas, mas entre lançar o texto para o VI ENAPS ou só daqui a

uns três ou quatros anos optei de fazer agora com todos os erros e lacunas. Peço

aos companheiros que não releguem os erros ou lacunas, os aponte se valer a

pena, escreva algo. Isso só me ajudará. Mas não deixem de procurar formulações

importantes para fazermos o debate da revolução brasileira, pois sei, desculpem-me

a falta de modéstia, estão perdidas dentro do texto.

Por fim, peço, ainda, que os adjetivos que possam servir para me enquadrar em

algum modelo de pensamento ou ação política ou caráter ou personalidade sejam

trocados por análises e argumentação críticas sobre os temas e, em particular,

sobre os erros e lacunas do texto.

Obrigado!

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2. Elementos introdutórios para discutir a conjuntura.

Compreendo que a função de uma análise de conjuntura seja buscar identificar os

padrões econômicos, sociais e políticos, conhecer as forças e aprender a

caminhar entre elas para chegar ao objetivo desejado. O discurso não deve ser o

da denúncia, propaganda ou promessa, se for assim é só o relato do óbvio, é lugar

comum. Isto não empolga nem agrega, ainda mais quando o discurso é dirigido a

pessoas com razoável esclarecimento político e intelectual.

O discurso deve ser uma peça científica, um estudo, para descobrir o velado,

enxergar o que se encontra escondido, deve identificar os agentes, as categorias, as

classes e subclasses dos jogos econômicos e políticos próprios da conjuntura

presente, tá perdendo com a crise cíclica do capitalismo. Dessa forma, não apenas

polariza as pessoas, mas, também, esclarece, envolve e tornas as pessoas

militantes.

Mesmo correndo o risco de não atender a estes pressupostos, busco na primeira

parte desse texto trazer a debate a análise estrutural da atual crise do

capitalismo, como e porque ocorre e as suas consequências e, em especial, a

participação do Brasil nessa crise. Depois tentaremos trazer a discussão das

relações políticas para identificar os espaços e as oportunidades de lutas para as

classes trabalhadoras brasileiras neste contexto de crise econômica e reordenação

das forças políticas no país. A conclusão desse debate deve ser a definição de uma

plataforma de lutas que deve guardar coerência com a análise feita. Essas análises

e propostas devem ser a base para iniciar a discussão do projeto de construção

partidária.

2.1 Os fluxos das forças e os campos da luta

Os fatos, lutas e embates ocorrem não pela vontade ou ação ou trabalho de um

agente da política, mas sim pelo fato daquele agente ter conseguido enxergar ou

perceber os fluxos das forças e ter conseguido atuar, mesmo que não tenha

consciência disso, para influir na direção dessas forças. Em outras palavras, não é

apenas o desejo ou a vontade política, mesmo associadas a propostas justas e

corretas, que vão levar às conquistas, mas sim, a resultante da movimentação das

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forças políticas. Para conseguir mexer nas posições das forças para alcançar a

resultante desejada, é necessário uma grande capacidade para ler e influir na

movimentação de forças. Marx e Gramsci não conseguiram mexer na direção das

forças nos seus tempos e não dirigiram nenhuma revolução. Mas Lenine e Fidel sim.

Porque uns conseguiram e outros não? Aqueles que conseguiram viveram a

oportunidade de enxergar as forças e atuar para direcioná-las para os seus

objetivos.

Que lição poderá ser tirada disso? Que a luta política revolucionaria é, mais do que

qualquer outro jogo, um jogo xadrez, ou seja, ganha quem tiver a capacidade de

perceber a movimentação das forças adversárias com bastante antecedência e se

movimentar para surpreendê-las e derrotá-las. No jogo da dominação versus a

libertação, as forças atuam em dois universos que se fundem ou se confundem

permanentemente: o universo da política e o universo da economia.

O que é o universo da política? E o lugar promíscuo, aberto, público, onde todos

devem e podem participar, é o palco onde a sociedade encena o teatro sob o olhar

da plateia formada pelos mandantes. É no universo da política onde se cria a

ilusão da democracia e da liberdade e participação. Quando a encenação da peça

ocorre dentro do script, tudo é conduzido em paz. Qualquer coisa que ocorra fora do

roteiro, a plateia intervém. Quando os atores aperfeiçoam sua capacidade de atuar e

passam a criar e a fazer um script diferente, a plateia analisa e intervém. Se

perceber que vai sair alguma coisa que não seja do seu gosto, interrompe a peça.

Mas se perceber que não vai perder nada ou até ganhar, a peça continua.

No universo da política, as forças que disputam os rumos da sociedade são mais

claramente enxergadas. É nesse universo que elas se diferenciam, se mesclam ou

se mimetizam.

E o universo da economia, é o que? É o sagrado lugar privado onde ocorre a

produção dos bens necessários para a satisfação psicológica do burguês de se

impor como superior social. Para garantir o funcionamento desse mecanismo, ele

apenas destina uma muito pequena parte da produção para os trabalhadores. Este

lugar chamado economia é real, concreto, material, tem domínio, não é aleatório, e

tem só um mandante: o burguês.

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Quanto os trabalhadores tentam uma mínima ampliação na participação no universo

da economia através da busca de melhores salários, melhora no consumo, ou posse

da terra ou desvio de recursos públicos para fins sociais, a burguesia utiliza de todos

os recursos disponíveis para mostrar aos trabalhadores que no sagrado universo da

economia não há espaço além do que já ocupa o trabalhador como fornecedor de

força de trabalho e consumidores limitados

É importante observar que a burguesia, magistralmente, apresenta ao público esses

dois universos (economia e a política) como se fossem dois mundos que não tem

nada a ver um com outro, apresenta de forma separada e independente. As forças

dominantes atuam com muita eficiência para mostrar a aparente separação entre o

universo político e o universo econômico. Nas disputas e confrontos entre as

classes, a burguesia empurra o tempo todo o jogo para o universo da política, e

fazem com tal maestria que os trabalhadores de uma forma geral e a esquerda em

particular se entusiasmam tanto com isto e daí não consegue sair.

Enquanto isso, nos salões inexpugnáveis, a burguesia trata esses dois universos,

literalmente, como as faces de uma mesma moeda.

2.2 O simples e o complexo na análise das forças sociais

Sendo os movimentos das forças sociais uma dinâmica de ultracomplexidade, só

métodos complexos podem oferecer as condições para enxergar esses movimentos.

O uso de recursos simplificados, fragmentados, ou é resultado de ignorância,

desconhecimento, ou tem como objetivo a manipulação. É interessante como a

burguesia usa o complexo como método de dominação. Mas divulga o uso do

simples como recurso da produção. Ai o senso comum se apega ao simples e deixa

o complexo com a burguesia. Pior, a esquerda não foge dessa regra!

Numa análise que interessa aos trabalhadores, deve primeiro tentar ver as forças no

universo da economia, depois vê-las no universo da política e, em seguida, para

concluir, ver as forças atuando simultaneamente nos dois universos.

É importante notar que para enxergar as forças nos universos separados deve se ter

muito cuidado, pois pode tanto deformar a análise como desenvolver práticas não

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coerente com o propósito original. Esse perigo decorre do fato de que a análise

separada tem como base a metodologia da fragmentação da realidade, ou seja,

simplifica um fato complexo para permitir a análise. Quando isto é utilizado como

recurso metodológico, torna-se aceitável, pois se considera que a análise não esteja

concluída. Mas quando transforma este recurso metodológico numa base conceitual

para análise definitiva, chega onde a burguesia quer. Este querer é tão forte que é

aplicado como modelo na academia, tornando os cursos superiores meros

formadores de mão de obra para as empresas de exportação de bens primários ou

capital. Este conceito da fragmentação tem como base a física mecânica

newtoniana.

A análise que interessa aos trabalhadores é a análise complexa, sem fragmentação,

que tem como base a dialética. E uma análise que não é focada no fato, mas na

relação entre os fatos, ou seja, reconhece que o fato, a realidade, é uma coisa do

passado, que já se deu. Nada pode ser feito para alterá-lo. O fato presente é uma

mera apresentação do que já ocorreu na relação entre as coisas, os agentes, os

fatores geradores desse fato. Para se alterar o fato deve-se, obrigatoriamente,

mexer nas relações. Diferente disso, permanece na ilusão de que esteja mudando

alguma coisa. A análise complexa tem com base a física quântica.

A apresentação desses conceitos visa levantar algumas das tantas questões que

necessitamos responder:

a) Porque a APS não discute economia?

b) Porque a APS só discute política?

c) Porque a APS não consegue juntar os dois temas numa discussão única?

d) Porque a consigna da APS é restrita ao universo da política?

e) Porque as ações e campanhas da APS são sempre no universo da política?

f) Porque tem tanta garra só para mergulhar só no universo da política?

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3. Elementos dacrise da economia capitalista

O principal elemento da atual conjuntura é a crise da economia capitalista que vem

se desenrolando desde a década de 70 do século passado e agora alcança um

patamar bastante elevando, porém, ainda, não é o mais grave.

O sistema capitalista tem como padrão de funcionamento o caos organizado,

também visto como liberalismo econômico. O sistema usa de total liberdade para

funcionar, para colocar em prática sua essência que é a maximização das vendas e

lucros. Para isso não há regras, não há limites. Cinco características representam

bem essa condição de caos organizado: concorrência, eliminação da concorrência,

tendência ao monopólio, crescimento constante e curto prazo. Sendo a evolução

tecnológica a peça fundamental para operar esse caos organizado. Através da

evolução tecnológica busca-se aumentar a produtividade, reduzir custos, diminuir os

preços e ampliar cada vez mais as vendas para eliminar concorrentes e compensar

a queda da taxa de lucro.

A organização empresarial tem como princípio de funcionamento a eliminação do

outro concorrente, tanto num período virtuoso de crescimento da acumulação como

num período de crise. A crise é vista, portanto, como oportunidade para eliminar o

concorrente.

Outro aspecto importante do caos organizado é que economia capitalista opera

sempre no curto prazo. O balanço anual contabiliza aos resultados e respectivas

premiações em caso de sucesso naquele ano. Mesmo quando os indicadores são

de longo prazo, como as taxas de longo prazo, depreciação de capital, amortização

do capital, o acompanhamento contábil é no curto prazo. Tudo que interessa ao

capitalista é o resultado no curto prazo, a sobrevivência no imediato.

Pouco importa o que acontece ou acontecerá com as pessoas, com a família, com a

cidade, com o campo, com as reservas naturais ou com o meio ambiente. Aos

mecanismos de trabalho e renda, só interessa que ele permaneça existindo

incorporando valor ao produto e comercializando para transferir e acumular renda

deixando uma pequena parte para promover a satisfação do trabalhador que passa

a raciocinar “ruim com ele, pior sem ele”.

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3.1 Porque ocorre a crise econômica do sistema capitalista?

Ocorre quando começa a diminuir a venda da produção das indústrias. O capitalista

investe o capital anteriormente acumulado, ou usa o crédito oferecido pelo capital

financeiro para adquirir tecnologia, máquinas, matéria prima, insumos e trabalho

para fabricar um produto e coloca-lo à venda, mas não consegue vende-lo, não acha

comprador. Com isso, o capitalista não tem seu capital de volta com o lucro

esperado, não realiza o capital, quebra o ciclo esperado de transferir e acumular

renda através da comercialização de um produto. O sistema perde sua razão de ser

e existir, a crise se instala.

No universo da política, a crise oferece aos socialistas a oportunidade de debater

com a sociedade a solução da crise sob a ótica da maioria da sociedade. Mas essa

oportunidade é perdida quando os socialistas, ao invés de discutir com a sociedade

um projeto de solução da crise, concentra o discurso nas chamadas incompetências

dos governos e na ruindade dos capitalistas. E importante lembrar que nem os

governos burgueses são incompetentes nem os capitalistas são ruins. Quando se

discursa classificando um governo burguês como incompetente, a exemplo do

governo Dilma, pressupõe a possibilidade de competência para resolver os

problemas sob a ótica dos trabalhadores. O governo burguês nunca se propôs a

resolver o problema da crise em favor dos trabalhadores. Da mesma forma, quando

se faz o discurso falando da perversidade, da ruindade do capitalista, pressupõe a

possibilidade de existir um capitalista bom ou alguma medida boa dentro do sistema

capitalista. Os socialistas devem parar de fazer discurso moral e reformista e,

aproveitar a crise (econômica, social, ambiental, moral etc.) para discutir com a

sociedade um projeto de organização social que possam apresentar solução para os

problemas da humanidade.

Seguindo com os elementos para analisar a crise, observar que a crise vigente não

se caracteriza por uma queda violenta ou extinção do consumo, é apenas uma

queda relativa do consumo, portanto, uma redução da curva de transferência e

acumulação. Em outras palavras, é a diminuição proporcional dos lucros da

economia capitalista. Para cada dólar investido existe um retorno menor que do

período anterior.

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Portanto, vai ocorrendo a “queda da taxa de lucro” que pode ser representada

numa curva descendente, própria do funcionamento do sistema de produção

capitalista. Não tem como não ocorrer a “queda da taxa de lucro” e, portanto, não

tem como a crise não ocorrer, não existe remédio para esta “doença”, é fruto da

própria contradição do sistema.

3.2 Porque ocorre a “queda da taxa de lucro”?

Para compreender a conjuntura é importante compreender como ocorre o elemento

central da crise que é a “queda da taxa de lucro”.

A acirrada concorrência e a necessidade do crescimento constante (caos

organizado do capital) obrigam as empresas a investir cada vez mais em

máquinas, equipamentos e automação (crescimento do capital fixo, capital

morto) e, como decorrência dessa modernização da indústria, o número de

trabalhadores participando da produção vai sendo reduzido (redução trabalho, do

capital variável). Como reduz a mão de obra, o trabalho humano, isto leva,

necessariamente, à redução da “mais valia” coletiva, origem do lucro do capitalista,

pois o capitalista deixa de se apropriar de um novo valor em função de ter menos

pessoas trabalhando. A mecanização não produzir esse novo valor que o

capitalismo necessita para manter sua trajetória de crescimento constante, ocorre,

apenas, a transferência paulatina do valor da máquina (depreciação do bem de

produção), para o novo bem produzido, não há, portanto, a geração de um novo

valor. Em outras palavras, não havendo um novo valor, não ocorre a produção da

“mais-valia”, não ocorre excedente novo para ser apropriado pelo empresário

capitalista. Com a mecanização e evolução tecnológica, apenas ocorre a

simplificação do processo de produção que leva ao “aumento da produtividade”.

Portanto, a dinâmica geradora de novo valor na economia, a exploração da “mais

valia” fica, em grande parte, sobre os ombros dos trabalhadores alocados no setor

de fabricação de bens de produção (máquinas, equipamentos, robôs, informática) e

no setor produtor de bens primários (agricultura e mineração), principalmente neste

último que e formado por atividades intensivas em mão de obra de qualificação mais

baixa e de menores salários.

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No atual estágio de produção e acumulação de capital, o sistema capitalista,

necessariamente, produz uma grande parcela de cidadãos empobrecidos que perde

a condição de consumir a produção industrial. Esta parcela são os trabalhadores

que não acharam emprego, somados aos que foram demitidos e aos que tiveram

seus salários reduzidos e direitos cancelados. Diante deste quadro, parte da

capacidade de produção instalada, tanto no “setor primário” (minas e agricultura)

como o “setor secundário” (indústria), torna-se inútil devido à falta de mercado

suficiente para comercializar a produção num patamar de valor que remunere o

capital. Portanto, a capacidade de produção social de bens e serviços é maior que a

capacidade social de consumo: a crise está instalada, pois não existem condições

de fazer a “circulação da mercadoria” (a comercialização) em função da

concentração da riqueza produzida nas mãos dos capitalistas por um lado, e por

outro, a precarização do emprego, desemprego e pobreza dos trabalhadores.

Como o fenômeno da mecanização e novas tecnologias se difundem por empresas

e países, e como o sistema funciona sob a lógica do caos organizativo (liberdade

para produzir e comercializar), acaba ocorrendo uma maior oferta de produtos. Mas,

paralelo a esse crescimento da produção, ocorre a redução de empregos, portanto

de menor quantidade de compradores. Ao tempo em que a oferta vai sendo

aumentada a procura diminui, o que leva a uma queda do preço pela lei da oferta e

procura.

Portanto, a “queda da taxa de lucro” e a consequente “crise cíclica econômica”,

é constante no capitalismo.

No universo da política isto reflete no desemprego, o que faz aumentar a força de

trabalho disponível, o “exército de reserva”, dando oportunidade ao capitalista

promover o arrocho salarial e eliminação das conquistas trabalhistas e sociais.

Pelo lado das forças de esquerda, a iniquidade intelectual e a incapacidade de

análise e elaboração de propostas leva a formulação de propostas superficiais e

reformistas sem nenhuma capacidade de apresentar à sociedade um projeto para

discutir a solução da crise sob a ótica da maioria da população.

Reforma por reforma, o capitalista sabe fazer muito bem, e tem muito interesse

nisso, é só ocorrer uma nova faze de excedente que possa melhorar a remuneração

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do trabalho e as condições de vida para controlar os conflitos sociais e assegurar a

não ocorrência de revoltas.

Para os socialistas é a oportunidade de apresentarem para sociedade a única

solução para o problema da crise que é a eliminação do próprio sistema capitalista.

Acabar com o sistema de produção que visa à acumulação e implantar outro sistema

que tem como objetivo o atendimento das necessidades humanas. Mas pela

plataforma de lutas da esquerda, e da APS em particular, esse debate será

postergado, pois a APS continua apresentado à burguesia uma lista de

reivindicações em nome dos trabalhadores em lugar de organizar uma plataforma

que seja capaz de mobilizar a sociedade sobe o comanado dos interesses dos

trabalhadores para acuar as burgueses nos seus discursos

3.3 Com a crise econômica aumenta as crises social e ambiental.

A crise social

Como decorrência da crise econômica, surge a crise social que começa com a

superexploração do trabalho, passa pelo desemprego, falta de distribuição de terras,

a falta de habitação, saneamento, transporte, saúde e educação, fazendo explodir a

violência urbana e o consumo de droga que, por sua vez, é um dos mais importantes

meios de transferência de renda e acumulação de capital.

No universo da política, estes reflexos da crise é o que mais envolve as forças de

esquerda ou oposição ao capitalismo, pois é o que atinge a pessoa, o individuo, a

família. A dor do outro é a dor do socialista. Os sentimentos de amor e solidariedade

de tão fortes nos corações socialistas que impedem a necessária expressão da

razão e levam ao desenvolvimento de conceitos humanitários como fundamento da

luta contra o capitalista.

Mais uma vez, perde-se a oportunidade de discutir com a maioria da população a

conexão entre a crise sistêmica do capitalismo com as condições sociais da

população. O debate reivindicatório pressupõe a possibilidade de que os capitalistas

se sujeitarão às pressões das categorias organizadas nas lutas reivindicatórias e

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abrirão mão dos mecanismos de recuperação da “queda da taxa de lucro”. Ou seja,

os capitalistas abrirão mão da mais valia e das leis do capitalismo.

A condução das reivindicações sociais e humanitárias feitas dissociadas do combate

aos mecanismos naturais de funcionamento do capitalismo, leva à luta reformista em

busca de melhorias dentro do capitalismo. Mesmo que a organização se declare e

façam o discurso comunista, socialista, acaba assumindo na prática posições

reformistas. Quando um setor, uma categoria tem uma conquista, como o sistema

funciona em cadeia e a luta combativa atua sobre um elo, com certeza vai melhorar

a situação desse setor ou categoria. Mas fica a pergunta para os socialistas: para

onde será transferida a extração da mais valia para compensar as conquistas da

categoria festejada pela esquerda? No caso da Petrobras e outras empresas de

produção, a exploração recai sobre os terceirizados.

A crise ambiental

A outra consequência da crise da economia capitalista (lembrar que ela é constante

e permanente) é o esgotamento dos recursos primários a exemplo das florestas,

minas, terra agrícola, espaços e áreas verdes urbanas, água, ou seja, a famosa

crise ambiental que está levando à desertificação do solo, falta de água, poluição

dos solos, rios e oceanos, destruição dos mangues, poluição urbana,

engarrafamentos, generalização e surgimento de novas doenças e a gigantesca

emissão de gases de efeito estufa que tem levado ao tão falado aquecimento global

com alto risco para a própria existência da humanidade. Todos estes problemas

ambientais ou são fontes de transferência de renda e acumulação de capital ou são

consequência da produção e uso dos produtos que servem como canais de

transferência de renda e acumulação de capital. Todos, absolutamente todos, os

problemas ambientais decorrem da ação da empresa capitalista, havendo dúvida, e

só fazer uma analise regressiva do problema que vai encontrar na ponta uma

empresa capitalista. Mais uma vez, como o sistema capitalista é caótico e

concorrencial, para o burguês não pode ter limite para ter acesso às fontes de

recursos primários nem cota para produção, pois se ele aceitar algum limite o outro

burguês toma o espaço e ganha a concorrência. Em função disso, não há solução

para essa crise ambiental. A força de funcionamento do capitalismo é maior que a

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capacidade de lutas e protestos dos defensores do meio ambiente. E, como se fosse

uma grande hipocrisia, os capitalistas apresentam aparentes soluções para os

problemas ambientais apenas com o intuito de também ganhar dinheiro com os

problemas ambientais decorrentes das próprias ações dos capitalistas.

O mundo e a humanidade não se sustentam com esses graves problemas na cidade

e no campo. É incontestável a necessidade de solução. As condições ambientais

que esta geração deixa para gerações futuras não permitirão a produção de

alimentos saudáveis nem a existência de água de qualidade para o consumo

humano, nem haverá peixe nos mares e nos rios, além da Terra ter sua temperatura

aumentada.

Existe solução para os problemas de emissões, efluentes, venenos, esgotos, lixos,

degradação do solo e fome por que passam a cidade e o campo. A Natureza é sábia

e é grande a disponibilidade das energias primárias: irradiação solar, chuva, ar e

minerais do solo. No entanto, para que isso ocorra, a sociedade deve adotar outros

modelos de consumo fundados na eficiência energética, sustentabilidade e

atendimentos às necessidades humanas para estruturar nova organização social e

um novo mercado. Atender as necessidades da população é não comercializar

produtos desnecessários e prejudicais a vida humana visando apenas a acumulação

de riqueza sob o domínio e o controle de poucos empresários. Será que a maioria

da sociedade abraçaria um discurso desses?

No universo da política, as forças de esquerda ou oposição ao capitalismo não

fazem nenhuma conexão entre os problemas sociais com problemas ambientais,

muito menos, traduzirem em suas plataformas a conexão entre o capitalismo e a

destruição ambiental. A questão ambiental não é pauta das esquerdas que estão

profundamente envolvidos na salvação das vitimas diretas e explicitas dos

capitalistas. Deixa a luta ambiental para os jovens e ONG que fazem os trabalhos

ambientais com recursos dos próprios capitalistas cujo objetivo é construir reserva

em local onde não exista nenhum interesse econômico, preservando, portanto, as

condições de exploração capitalista do meio ambiente.

Enquanto isso os socialistas dormem com suas consciências tranquilas por estarem

lutando pelos índios, negros, mulheres, jovens negros, homossexuais, demitidos,

desalojados, sem terra, sem teto etc.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

3.4 O que faz o capitalista para enfrentar a “queda da taxa de lucro”?

O capitalista atua para apenas mitigar a “queda da taxa de lucro”, pois sabe que

não pode parar essa queda, tenta apenas reduzir a velocidade ou compensar com

outras operações. O capitalista estudou Marx e deu razão a ele, mas como está no

comando e tirando proveito da situação, vai lutar até a morte para manter a “taxa de

lucro” por menor que ela seja e continuar reinando sem entregar os pontos.

O capitalista toma decisões sábias para a sua manutenção: estabelece o curto prazo

e o imediatismo como base de vida e transfere para os outros tudo o que for

problema decorrente do atendimento da sua satisfação.

Vejamos como o capitalista enfrenta a “queda da taxa de lucro” e todas as demais

consequências, cuja expressão central é a “crise cíclica do sistema de produção

capitalista”. A sequência de apresentação dos recursos utilizados pelos capitalistas

para enfrentar a crise não representa nem importância nem prioridade, a utilização

dos recursos ocorre de forma sistêmica e interligada, cada elemento é

simultaneamente causa e consequência dentro do processo. Deve-se buscar

enxergar e analisar as situações tendo como base conceitual os padrões que a

Física Quântica ou a Natureza utilizam para construírem seus gigantescos sistemas,

ou seja, a tão famosa Dialética entre os socialistas.

3.4.1 Aumenta a exploração do trabalho

Para tentar diminuir a queda da taxa de lucro, aumenta-se a exploração do

trabalhador reduzindo os salários e retirando as suas conquistas trabalhistas e

sociais alcançadas no período anterior de evolução da acumulação capitalista

quando o índice da exploração recaia sobre os trabalhadores de outros setores a

exemplo da produção da matéria prima ou de alguns países. A desoneração da folha

(baixo reajuste salarial; precarização do transporte, alimentação assistência médica

etc.) são as primeiras ações tomadas pelo capitalista diante da crise, pois são ações

diretas, sob o controle e mando do capitalista, cujo impacto alcança diretamente a

desorganizada parcela dos trabalhadores regidos pelos gerentes a administrados

contratados pelo capitalista.

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Os capitalistas têm a necessidade de avançar nas medidas que aumentam a

exploração do trabalho para assegurar seus lucros, ai passa a reduzir os postos de

trabalho, transferindo as tarefas para os que continuarem empregados que, por sua

vez, ficam satisfeitos por manterem seus empregos. A isto se dá o nome de

reorganização produtiva, mas que pode ser chamada de precarização do trabalho.

No universo político, os trabalhadores reagem, lutam e busca alterar a situação.

Ter conquista ou não, depende das condições de oferta e procura de mão de obra

ou do produto ofertado; depende do grau de subordinação do governo local aos

interesses da corporação capitalista; assim como depende da ampliação da

capacidade de luta que possa envolver a sociedade como um todo. Em outras

palavras, mesmo as lutas trabalhistas devem estar associadas a um projeto social e

econômico de sociedade conduzido aos interesses dos trabalhadores, se não se

torna uma luta apenas por reforma que também satisfazem os capitalistas, pois

podem significar uma ampliação do mercado consumidor, que é o sonho de todo

capitalista. Lutar por melhoria, estará simultaneamente lutando pelo sonho

capitalista e pela reivindicações dos trabalhadores, tudo dependerá da relação com

o projeto para a sociedade sair da crise.

3.4.2 Aumenta a pressão sobre os preços da matéria prima

Diante da “queda da taxa de lucro” as corporações capitalistas, com poderes

instalados na área de produção de matéria prima, impõem políticas e decisões que

reduzem o preço da matéria prima diretamente através da precarização do trabalho

ou através da aplicação de recursos públicos para aplicar em melhoria das

condições de produção para reduzir os custos operacionais.

Os setores industriais fornecedores dessa matéria prima sofrem pela redução do

preço da matéria prima independente do custo de produção. Por sua vez, para não

sair perdendo, o ônus mais uma vez é transferido para os trabalhadores

aumentando mais ainda a taxa de exploração, ou seja, aumentando a “mais valia”.

Portanto, aumenta a exploração nos países periféricos tanto na produção de matéria

prima como no aumento do fluxo de renda de capital.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

No universo político, o capitalista estrangeiro se junta ao capitalista local para

influenciar os poderes públicos para estabelecer uma política cambial e fiscal que

transfira renda para o setor exportador e com isso melhore a renda da do capitalista

local. A decorrência dessa política é que o investimento do estado é focado na

melhora da infraestrutura e na área de educação, pesquisa e produção de tecnologia

que atenda o setor exportador da matéria prima. Por outro lado, promove o

desinvestimento nas áreas que favorecem o desenvolvimento autônomo do país e,

mais imediatamente, nas áreas das melhorias das condições sociais dos

trabalhadores e preservação ambiental.

O negócio da matéria prima não pode ser desprezado pela a esquerda, pelos

socialistas. Chama a atenção como àqueles que combatem o capitalismo não

conseguem colocar nas suas agendas este tema que, alem de ser a base

acumulação, é dos mais importantes fatores promotor da na redução da velocidade

da curva da “queda da taxa de lucro”, ou seja, o controle da matéria prima também

contribui para alongar a vida da crise e permitir que o capitalista, mesmos recebendo

menos pelo dólar investido, continue com sua máquina exploradora azeitada.

3.4.3 Transfere o capital produtivo para o mercado financeiro

O circulo vicioso da produção capitalista (concorrência, desenvolvimento

tecnológico, aumento do capital financeiro, redução do capital variável, aumento da

produtividade, aumento da oferta, redução do consumo, queda do preço final) que

resulta na queda da taxa de lucro, leva a cada vez o capital produtivo se voltar

para o mercado financeiro para buscar retorno imediato e seguro para o capital

original.

Esta situação chegou a um patamar de alto risco para o próprio sistema, pois a

imensa vantagem do lucro financeiro está criando uma economia fictícia baseada

nesse capital fictício que atua apenas na especulação, não cria nenhum produto,

nenhum “valor de uso”, nem agrega a valor a outro valor criado. A equação

representativa da produção e acumulação D – M – D’ está dando lugar a uma

anomalia econômica D – D ’ quem tem forte poder no universo da política.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Também aqui, como na área da matéria prima, a esquerda nutre um desprezo

especial pelo tema que é o centro do modelo capitalista. As questões de juros,

especulação financeira, divida pública etc. o financiamento de projetos contrários

aos interesses dos trabalhadores em geral e dos povos nativos e quilombolas em

particular é uma constante. A esquerda defende os interesses dos povos nativos e

quilombolas, mas não relacionam com os interesses dos bancos.

3.4.4 Eleva a oferta de crédito para forçar a circulação.

Diante da crise instalada, a queda do preço chega a patamar que não remunera o

capital investido, busca-se então a venda a crédito onde o ganho deixa de ser sobre

a venda da mercadoria e passa a ser sobre o financiamento da venda da

mercadoria, ou seja, sobre o crédito. Torna-se mais importante para a remuneração

do capital a venda a prazo que a venda a vista. A venda a prazo é uma venda

casada: de um lado um produto com baixo retorno financeiro e do outro o crédito

com bom retorno financeiro em função dos juros. O crescimento das vendas

(circulação) através da oferta de crédito faz com que os juros cobrados pelo crédito

oferecido sejam mais significativos na comercialização que o produto em si.

Essa condição faz crescer o endividamento da família voltando a impactar na

comercialização da produção (circulação). Este endividamento leva à crise crédito,

crise de excesso de oferta de crédito. Existe o crédito, mas o endividamento da

família não permite o uso do crédito. O que resulta na baixa circulação e faz

expandir a crise econômica. Como o endividamento da família tem limite, se

reinstala a mesma crise decorrente do excesso de produtos sem possibilidade de

comercialização.

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3.4.5 Utiliza a tecnologia e a manipulação para aumentar a circulação

O capitalista descobriu e usa intensamente três importantes fatores para aumentar a

venda da produção, para permitir que maior quantidade de produtos seja

comercializada: a obsolescência programada, a moda e a propagada.

Esses fatores representam muito bem o maior dos objetivos do sistema capitalista:

produzir para acumular e não para atender às necessidades humanas. Esses fatores

criam a necessidade ou condições para a aquisição de um novo produto.

A obsolescência programada é um recurso tecnológico embutido nos produtos que

faz com o produto tenha baixa durabilidade e fique danificado ou superado

tecnologicamente levando à necessidade do usuário adquirir um novo produto. Em

especial, isto acontece com as lâmpadas, eletrônicos, linha branca, automóveis etc.

Este recurso é menos perigoso, apesar de eficiente, por se caracterizar como de

imposição ao consumidor, a sua aplicação encontra resistência e promove a

insatisfação.

Já a moda é altamente perigosa por ser uma imposição por convencimento

psicológico e de aculturação, apesar de ser subordinante, e até por isso, tanto é

desejado pelo consumidor como causa satisfação e prazer. O recurso da moda é tão

danoso como os outros recursos de imposição ao consumo, pois contribui com o

esgotamento dos recursos naturais, a poluição e com a produção de lixo.

A propagada é o recurso de estimulo ao consumo mais danoso por que dá

sustentação ao domínio psicológico e cultural, leva a renúncia de valores nativos e

locais, cria um mundo falso e desorganiza a sociedade, ou melhor organiza a

sociedade como canal de consumo dos produtos divulgados pelas propagandas que

não passa de instrumento de transferência de rendas para o capitalismo central.

3.4.6 Aumenta o domínio sobre o governo e os desvios dos recursos

públicos.

Em todo o processo de implantação e desenvolvimento capitalista, nunca existiu

autonomia do estado em relação às corporações capitalistas, tanto na proteção

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

jurídica policial, como na produção de leis e políticas fiscais e alfandegária e,

principalmente, no direcionamento dos recursos arrecadados pelo estado para

atender aos interesses da empesa capitalista na construção de infraestrutura para

baratear os custos operacionais, na definição de conforme o interesse das

corporações capitalistas, investimentos em empreendimentos intensos em capital e

longa maturação e, em especial, na transferência direta de renda através de

empréstimos do capital financeiro onde hoje é a grande sangria dos recursos dos

países pobres, e o do Brasil em particular.

Síntese da relação das empresas com o estado: desviar os recursos públicos que

deveriam ser destinados para fins sociais para auxiliar os investimentos produtivos

ou para auxiliar os investimentos privados produtivos ou especulativos. O discurso

para a justificativa pública da operação é falar em geração de trabalho, inclusive com

muita propaganda de governo.

3.5 Eventos fundamentais para compreender a dinâmica econômica atual

Na conjuntura de crise do capitalismo e grandes disputas internacionais envolvendo

grandes corporações empresariais e governos, alguns pontos de destacam e

merecem estudos para que sejam reveladas as movimentações das forças

comandantes do capitalismo.

O fundamento da análise de quem quer alterar os rumos das forças sociais e

econômicas deve sair da contemplação da foto e procurar enxergar a tendência do

fato, ou seja, para onde aquele fato está sendo empurrado e quem tirará proveito

dessa tendência. Deve-se, então, buscar ver o comportamento do gráfico

representativo da movimentação do fato.

O grupo ou pessoas cujo objetivo não seja o de tirar proveito pessoal da política,

fazer política de esquerda revolucionária sem conseguir ler a tendência da

conjuntura, passa a ser apenas uma ocupação bem intencionada, porém

passageira. Inclusive, esse é dos motivos da intensa rotatividade na esquerda: muita

gente adere às lutas enquanto são jovens, mas depois são arrastados pelas

obrigações do trabalho, estudo, família, enfim, de volta à vida...

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Dos tantos eventos que dinamizam a economia capitalista atualmente, seis são

importantes para serem analisados pelo peso que tem no jogo de poder, ou seja, no

universo político, mesmo não se constituindo nenhuma novidade na história, pois

sempre foram recursos fundamentais para a acumulação capitalista: a) a passagem

de poder de um país para outro; b) a evolução do processo de fluxo e acumulação

da renda; c) a disputa por energia (no presente, o petróleo); d) o comércio de armas

por razões óbvias; e) o comércio de drogas ilícitas pelo volume e não controle dos

recursos gerados; f) e a agiotagem (juros).

3.5.1 O crescimento econômico e a passagem do poder entre países

Os impérios para serem impérios precisam construir a expansão territorial e dominar

grande população.

Pouco antes do início da implantação do sistema capitalista, Portugal, Espanha

eram o centro mais desenvolvidos realizaram as grandes navegações que levaram a

dominar e saquear grandes territórios bastante habitados. Mas encontraram os

limites de desenvolvimento em função dos seus próprios territórios e suas

populações serem pequenas a acabaram perdendo a hegemonia os saques foram

transferidos para a Inglaterra que iniciava a revolução industrial.

Inglaterra, França e Holanda, passam a ser os grandes centros econômicos, tinham

população, território, organização empresarial e governo que sustentavam a

expansão interna. O processo de desenvolvimento é endógeno com busca de

recursos e insumos externo. Dessa forma sustentaram a expansão colonizadora

para o resto do mundo quando tinham esgotadas as condições de crescimento

interno. O processo de hegemonização começa a cair quando começa a perder

bases colonizadas reduzindo seus territórios e populações de domínios.

A Alemanha, Itália e Japão, mesmo sendo grandes economias, nunca assumiram

condições de serem centros da economia mundial, pois esses países não têm

territórios nem populações grandes capazes de dinamizar suas economias ao ponto

de hegemonizarem o mundo e chegaram tarde na partilha das colônias no mundo.

Não por outro motivo, estiveram juntos nas duas guerras mundiais.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Os EUA tornou-se a maior economia do mundo em função da grande população

com objetivos assemelhados e hegemônicos e um grande território resultante da

ocupação de grandes extensões territoriais tomadas dos povos nativos, e depois da

França, do México e da Rússia. E sempre tiveram uma política de estado e governo

voltada para o interesse da população original e para a empresa produtora

hegemonizando a população em torno do projeto e nação que foi estabelecido. Por

nova forma de colonização, passou a dominar completamente o mundo.

É o mesmo que está acontecendo com a China que tem efetivas condições de

crescer e tornar-se um grande império em função da sua grande extensão territorial

e grande população que vem sendo coesionada pelo seu forte governo e empresas

altamente competitivas. Interessante notar mesmo com a crise, só a China mantém

o crescimento do PIB, mesmo tendo caído de 14% para 7%. Isto é fruto da decisão

governamental de incluir a imensa população no mercado, tornado uma imensa

frente de expansão do capital, ou seja, promove a integração combinada dos fatores

população e território através do trabalho e consumo.

O observar que a Rússia só tem condições de ser país muito respeitado nas

relações internacionais, mas nunca será um pais imperialistas, pois o território é

grande mas a densidade demográfica é muito baixa.

Já o Brasil e a Índia não ocupará posição de destaque, apesar das grandes

populações e territórios ricos, pois a desagregação das suas população é grande e

os governos e empresas trabalham para desorganizar essa população.

Observar que a Suíça, Dinamarca, Noruega, Japão etc. não têm condições de

expandir suas economias a não ser pela acumulação financeira em função de suas

empresas que atuam no mundo. Esses países têm pequenos territórios e suas

populações estão com alto nível de vida, consumo e ocupação, não havendo mais

espaço para a expansão do capital internamente.

3.5.2 Evolução do fluxo de capital e concentração da renda

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Aos poucos foram sendo montados em todo o mundo os mecanismos do fluxo e

concentração da riqueza que resultou tanto no poder dos EUA com na grande

expansão do mercado financeiro.

Primeiro, ocorreu a acumulação primitiva de capital com os saques, roubos e

assaltos aos povos nativos ou através da comercialização de especiarias e

madeiras. Isto ocorreu na fase das grandes navegações estando à frente as

empresas portuguesas, espanholas, inglesas, francesas e holandesas.

Depois a acumulação passou pela montagem da indústria que conquistou com

guerras, opressões e ditadura, mercados fornecedores de matéria prima e

consumidores de industrializados. Esta é a fase da revolução industrial estando à

frente, principalmente, as empresas inglesas, mas também as francesas,

holandesas, as alemãs e japonesas. Desse rol já não participou as portuguesas,

espanholas.

Vivemos agora a terceira fase da acumulação caracterizada pela expansão do

capital. Melhor, mais fácil e menos dispendioso circular capital do que circular

mercadoria.

Esta terceira fase se dá em função de diversos fatores como o montante de capital

acumulado, evolução da tecnologia e, em particular, pelo o esgotamento da

possibilidade de expansão no próprio território, onde as necessidades materiais,

culturais e de lazer da população local estão atendidas e o nível do preço da

economia local é bastante elevado em função da alta acumulação local de capital.

Portanto, a alternativa para o crescimento econômico foi sair da circulação de

mercadoria para a circulação de capital financeiro, assim o capital se expande para

áreas e países produtores de matéria prima e consumidores de industrializados,

tornando mais fácil, seguro, e rentável o fluxo e acumulação de capital.

Acompanhado a evolução dos modelos de acumulação, vê-se que a duração de

cada modelo vai sendo mais breve é a faixa de transição entre um e outro modelo

vai ficando mais larga e com presença de elementos do modelo anterior e do modelo

subsequente fazendo com que as características passam a conviver dentro da

mesma faixa de transição, tornando-as menos nítidas e mais difíceis de identificar.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Os EUA dão o grande golpe nos concorrentes ao dominar completamente todos os

negócios da 2ª Guerra. Depois, ainda no auge da acumulação por circulação de

mercadoria, respirando os gases da 2ª Guerra, no início dos anos 60, os EUA dão o

segundo grande golpe no mundo ao romper unilateralmente com o tratado Bretton

Wood. Dão golpe de mestre e surrupia o ouro dos tolos, obrigando a todos a utilizar

o dólar como divisa internacional, passa a reinar subordinando todos os demais

países de amigos a inimigos. Fica instalada de vez a fase da acumulação por

circulação de capital, sai do modelo D – M – D’ dá lugar para a anomalia D – D’.

Ficou fácil para os EUA pagarem suas contas, basta imprimir papel. Hoje o mundo

está abarrotado de papel pintado com esfinge de ditador mundial, cujo valor não é

mais estabelecido pela produção econômica do país, mas sim pela força da máquina

de guerra.

Circula na economia mundial sete vezes mais dólares do que suporta o lastro

econômico dos EUA. O pior ataque que os EUA poderiam sofrer seria se os

possuidores de dólares no mundo resolvessem fazer uma breve e inocente viagem

de turismo aos EUA e lá consumisse normalmente alimentos, bebidas, roupas,

eletrônicos fosse ao teatro, cinema, museus etc. Isso quebraria o EUA, pois sua

economia não teria condições de fornecer esses produtos para todos os turistas

mais a população local. Alem do profundo descrédito que a moeda passaria a ter,

Para controlar a saúde do dólar, os EUA dificultam o visto de passaporte e monta

um esquema mundial para abarrotar os bancos centrais dos países periféricos com

os dólares que recebem e colocam o pomposo apelido de reserva, transformando

esses países nos principais defensores do valor desses estoques. Inteligentemente,

como que joga xadrez e contra com a imbecilidade do parceiro do jogo, os EUA

amarraram a bomba no corpo do outro: se explodir, o pais perde o dinheiro e os

EUA ganham pelo enxugamento e valorização da moeda.

Enquanto a bomba não explode, o país que detém reservas paga aos EUA para

guardar dólares. Para entender isso basta fazer as contas entre os juros pagos pelos

dólares guardados e a inflação do período, a inflação é sempre maior. Como isso, os

países guardadores financiam os EUA. Mais um dado para reflexão: nenhum país do

centro do capitalismo tem reserva substancial em dólar, a única exceção é o Japão.

Todos negociam ou com sua moeda ou com euro.

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Principais PIB da economia mundial

Em trilhões de US$

Pais PIB

EUA 14,0

China 5,7

Japão 5,3

Alemanha 3,3

França 2,5

Brasil 2,3

Inglaterra 2,2

Itália 2,0

Principais reserva de divisas da economia mundial

Em bilhões de US$

Pais PIB

China 3.040

Japão 1.140

Rússia 526

Arábia Saudita 456

Taiwan 398

Brasil 353

Índia 312

Coréia Sul 305

3.5.3 Mercado de Petróleo

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Outro destaque na conjuntura é o mercado do petróleo. O gráfico do preço do

petróleo tem trazidos boas interrogações para quem quer compreender a dinâmica

econômica do mundo e a identificação dos principais agentes envolvidos. Na década

70 a Venezuela e países árabes produtores impuseram preços elevados para a

época, produziu uma profunda crise que logo se recuperou quando foram

repatriados os petrodólares através de grandes investimentos no centro econômico,

pois nos países produtores não tem dinâmica econômica para incorporar o volume

de dólares decorrentes da exportação de petróleo.

Em seguida, o preço do petróleo desaba. É dada como explicação a entrada em

produção de novas descobertas a exemplo do Mar do Norte. No entanto, percebe-se

que essa queda foi articulada pelo próprio EUA para quebrar a União Soviética, que

desde o século XIX sempre foi um dos maiores exportador de petróleo do mundo.

Após a quebra da URSS e com os preços do petróleo baixo, por mais paradoxal que

parece, foi os EUA, maior importador e consumidor de petróleo do mundo, que

interviu junto aos principais exportadores (OPPEP) para elevar o preço o petróleo. E

que o preço baixo inviabiliza a indústria de petróleo dos EUA e deixa esse país ainda

mais nas mãos da OPPEP.

Depois o preço do petróleo começa a subir de forma que vai sendo absorvido pelo

nível de preço da economia. Sem causar maiores danos no imediato. Até que chega

ao extremo de 140 dólares na pré-crise de 2008. Com a crise, cai para 38 dólares,

depois se recupera e volta à casa dos 100, para em seguida cair para faixa de 60 e

perdura num zig-zag em torno disso. O que motiva a queda do preço do petróleo

para o atual patamar? Esse preço inviabiliza a indústria do shale gás nos EUA.

Como inviabiliza a própria Rússia e o a exploração do pré-sal no Brasil.

A explicação dada é que a Arábia Saudita mantém sua produção elevada,

impactando negativamente os preços. Comenta-se que esta atitude é justamente

para inviabilizar a indústria do shale gás. Será que é esse aumento unilateral da

oferta que está mantendo os preços baixos? Como um pequeno país criado e

dominado como propriedade de uma família e exportador de um único produto tem

poder para mexer em toda a economia global? Mesmo sendo este país, desde a sua

origem, um grande aliado dos EUA e sendo o maior exportador de petróleo do

mundo.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Na discussão do preço do petróleo, tomam-se como base mercado dos

combustíveis para fundamentar as argumentações e pouco se fala da petroquímica.

Em razão do amplo espectro de utilização dos derivados petroquímicos, a crise de

produção do sistema capitalista (queda da taxa de lucro e queda da circulação) não

seria uma explicação melhor? A crise de produção por que passa o sistema

capitalista não estaria levando a queda de consumos dos derivados petroquímicos e,

com isso, refletindo na permanência do baixo preço petróleo?

Pontos de conflitos no mundo

Um primeiro destaque importante na conjuntura é a localização das áreas de

conflitos armados. A América Latina está em paz, tudo sob controle! Uma pequena

reação na Bolívia sob o Evo Morales, país de economia e relações políticas

secundarias, e na Venezuela, segunda maior reserva de petróleo do mundo, porém

dominado pelas petroleiras estrangeiras e sofre agudamente de “doença holandesa”.

Os países africanos completamente controlados, ainda pagando caro pelo sequestro

escravagista e pelo imenso saque colonialista que perdura até hoje. As guerras,

genocídios e destruições, são problemas lá de cada povo, basta se preocupar com o

problema da imigração clandestina para a Europa. Na Ásia, também, tudo em paz.

Os países ou se industrializam integrado à economia capitalista a exemplo do

Japão, Korea, Taiwan, Singapura ou sofre ainda as consequências das guerras de

ocupação colonial a exemplo do Vietnam, Camboja, Laos, Maynmar. Tudo sobe

controle na maior parte do globo.

Problema mesmo só no Oriente Médio, maior concentração de petróleo no mundo. E

também nos Bálcãs, secular caminho de escoamento do petróleo russo. Por que a

guerra e disputas tão acirradas nos Bálcãs? Por que a bola da vez na região é a

Ucrânia? Quais os interesses dos EUA na região? Porque a Rússia defende tanto

suas posições naquele país/região? Outro ponto de conflito é o Afeganistão que,

como os Bálcãs, é vizinho da bacia petrolífera da Rússia.

Quais os interesses dos EUA com a Primavera Árabe? Continuam existindo

mobilizações locais para enfrentar os ditadores locais? A Primavera Árabe continua?

Porque após a chacina da Líbia não ocorreu mais nenhuma manifestação da

Primavera Árabe? Qual a função da Síria na região? Porque os EUA investem tanto

na derrubada do governo de Bashar al-Assad?

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Já o resto do mundo está em paz, alguma manifestação local em decorrência dos

ajustes da crise, a exemplo do que acontece na Europa, EUA, mas tudo sob

controle, faz parte do jogo.

3.5.4 Mercado de armas

Os folhetins econômicos da imprensa falam muito em mercados de insumos, matéria

prima e consumo. Parece que a economia é feita somente desses produtos. Nunca

se fala do mercado de armas, de quem está fabricando, das ações das empresas

dessa indústria, apenas saiu a notícia que o Vaticano tem ações em fábrica de

aviões de guerra. Deve ser somente o Vaticano que comente esse mal, mais

ninguém! Muito menos se fala de quem está comprando. É falado que o principal

desse mercado é para atender as necessidades de Estado dos países, ou seja, um

mercado direto da relação das empresas produtores para o Estado. Pouco sabemos

desse universo, mas é dito ser este o principal mercado econômico da atualidade, o

de maior valor de circulação financeira.

3.5.5 Marcado de drogas

Outro mercado mais secreto ainda, ou melhor, totalmente secreto, que nada aparece

nos folhetins econômicos é o mercado das drogas. Aparece apenas um forte e

consistente marketing patrocinado pela indústria da droga tanto para deixar livre e

desimpedido os caminhos para a instalação dos fluxos e acumulação decorrente,

como para subordinar mais ainda as forças policiais aos interesses das elites e,

ainda, execrar a população negra, pobre e moradores das áreas abandonadas pela

indústria mobiliarias do período de ocupação dessas áreas.

O marketing consiste em divulgar para a população em geral que o negócio de

droga é coisa de pobre, preto e favelado. Nas áreas ricas, brancas e nobres da

cidade não ocorre o comércio da droga, no máximo, os pobres consumidores vítimas

das ações de criminosos negros, pobre e favelados.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Sendo um dos produtos mais caros do mercando de consumo, como os pobres

podem alimentar esse mercado se precisam de muito dinheiro para a aquisição do

produto? Então, se o mercado é bilionário, paro onde estão indo os resultados

financeiros deste mercado? Será que a poupança desse mercado está debaixo dos

colchões dos favelados?

Os recursos não estão indo para os grandes esquemas de lavagens gerenciados

pelos grandes s bancos? Como por exemplo, do mercado do futebol? O mercado

imobiliário? As privatizações dos países periféricos?

Fala-se, também, que este mercado é o segundo do mundo em movimentação

financeira, só perde para o de armas.

3.5.6 Marcado financeiro

Para enfrentar a saga destruidora da burguesia é fundamental conhecer, ver de

perto e dominar o funcionamento e a representação do mercado financeiro.

O mercado financeiro é o principal desaguadouro de toda a produção econômica,

passou da romântica tarefa de agente facilitador da circulação financeira para o

controle direto ou indireto da produção. É o centro da economia capitalista. A

esquerda ainda vive a imagem das pinturas realistas da União Soviética e não se

debruça ao estudo desse setor econômico.

Para ilustrar as atuais dificuldades do jogo dos capitalistas, basta ver a velocidade

da evolução da razão entre o capital financeiro (fictício) e o capital produtivo (real).

Os dados estão disponíveis para a esquerda instrumentalizar seu discurso, basta

querer.

Nas figuras a seguir pode ser visto a evolução da razão entre o capital financeiro

(fictício) e o capital produtivo (real) entre os anos de 1980 a 2006.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Que setor ou parcela dos capitalistas está disposto a abrir mão desse capital fictício

para o sistema recuperar sua saúde e sua dinâmica de crescimento? Se eles

discutirem isto nos seus banquetes a festa vai terminar em sangue, pois jamais

chegarão a qualquer acordo. De tão violento será este debate que a casa vai ficar

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

destruída com todos os empregados e serviçais dentro. No fim da briga, os

capitalistas que ficarem vivos contratarão outros empregados para restaurar a casa.

A vida segue .......

3.6 Esgotam-se os recursos da diplomacia e dos golpes, só resta a guerra.

Por fim, com o esgotamento das possibilidades de soluções no universo da

economia formal e no universo da política, tendo também falhado os recursos do

golpes e contragolpes, a burguesia leva ao extremo a imposição de seus interesse e

promovem a guerra que, necessariamente, destrói o capital, e leva junto nessa

destruição vidas e o meio ambiente. Mas o burguês arranja um desculpa social tipo

derrubar uma ditadura, implantar uma democracia, libertar um povo, livrar os povos

do sanguinário Hitler etc. a e faz dessa desculpa uma razão histórica e toda a

sociedade acredita.

Com o agravamento da “queda da taxa de lucro”, aumento da razão entre capital

produtivo e capital fictício e restrição do mercado consumidor ao ponto de inviabilizar

grande número de empresas capitalistas e quando as tentativas de compensação

(remédios) não tiverem fazendo mais efeito, ou melhor, quando as medidas não

solucionam a crise, mas estivem elas próprias aprofundando a crise em função de

intensificar promovem a concentração da riqueza de um lado e a pobreza do outro, a

burguesia usará do seu último e desesperado recurso: a “destruição do capital”

via uma intensa e radical disputa entre si, a exemplo da 1ª e 2ª Guerra Mundial,

quando o capital foi destruído e o ciclo de progressão e crescimento foi retomado.

Não existe como interromper este processo de construção da crise do sistema

capitalista, não ser na condição conflito profundo inter classes burguesas, ou seja,

na condição de destruição do capital para recomeçar o ciclo de acumulação.

Esta 3ª guerra será adiada ao máximo em função dos EUA não ter a segurança de

que poderá permanecer no comando do mundo diante da condição de agravamento

profundo da crise, gerando o total descontrole da situação. Um novo conflito em

proporções mundiais poderá levar a China como novo centro da imperialista da

economia mundial. O nível de inimigos que tem os EUA e as fragilidades das

relações hoje fundada no peso das armas e imposição do desvalorizado dólar pode

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

deixar em risco essa hegemonia. A China também não tem pressa de resolver esse

problema, a paciência oriental prepara o kung-fu para o golpe final.

Comportamento e relações de eventos no sistema capitalista de produção

Observações para a leitura: Quadro 1a) Cada quadro é diferente, mas tem

elementos comuns e total conexão

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

com os outros;b) As linhas em negritos são a base de

toda a crise e conflito de classec) Ler os quadros na sequência dos

números observando que o seguinte e sempre consequência do anterior;

d) A linha 2 é um fator totalmente aceito e desejado pela sociedade, inclusive a esquerda, sob a lógica da modernização, da evolução da sociedade humana. Pode-se concluir, então, que o capitalismo é benéfico para a humanidade.

e) A última linha é a manifestação aparente do problema.

1 Aumenta a concorrência 2 Aumenta a tecnologia3 Aumenta o capital fixo4 Diminui capital variável5 Aumenta o desemprego6 Aumenta a mais valia individual7 Diminui mais valia coletiva8 Queda da taxa de lucro do sistema9 Redução do lucro10 Crise econômica

Quadro 2 Quadro 3

1. Aumenta a concorrência 2. Aumenta a tecnologia3. Aumenta o capital fixo4. Diminui capital variável5. Aumenta a exploração do trabalho6. Diminui os salários7. Diminui as conquistas trabalhistas8. Crise social

1. Aumenta a concorrência 2. Aumenta a tecnologia3. Aumenta o capital fixo4. Diminui capital variável 5. Diminui o capital industrial, produtivo.6. Aumenta o capital financeiro7. Diminui o recurso público para o social8. Aumenta o recurso público para a

produção9. Crise social

Quadro 4 Quadro 51. Aumenta a concorrência 2. Aumenta a tecnologia3. Aumenta o capital fixo4. Diminui capital variável5. Aumenta a produção6. Aumenta a produtividade7. Aumenta a oferta de produto8. Diminui o consumo9. Aumenta o excedente de produção10. Diminui o preço 11. Diminui o lucro12. Aumenta o crédito13. Aumenta a venda à crédito14. Aumenta a dívida do indivíduo15. Crise social

1. Aumenta a concorrência 2. Aumenta a tecnologia3. Aumenta o capital fixo4. Diminui capital variável5. Aumenta a produção6. Aumenta a produtividade7. Aumenta a oferta de produto8. Aumenta a procura por matéria prima9. Diminui os recursos naturais10. Aumenta a poluição11. Aumenta a produção de lixo 12. Aumenta a destruição ambiental13. Crise ambiental

Síntese da análise e consequências da crise da economia capitalista

Funcionamento e crise do modelo capitalista D - M - D’ (Acumulação)

Elevação constante da produção. Redução da circulação e consumo.Ações de curto prazo e concorrência que tende ao monopólio

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

4. Como o Brasil se subordina à divisão internacional do trabalho

Desde o inicio, as subordinadas elites brasileiras impõe aos povos do Brasil a

função de fornecer matéria prima ao mundo

A capacidade de produção instalada é maior que a

possibilidade de consumo. Produção sem circulação

Desemprego e pobreza em crescimento.Baixo consumo

Concentração de riqueza

.

Desenvolvimento do capital fictício.Reestruturação produtiva.

Reformas no mercado de trabalho.Transferência de recursos dos países periféricos

(dívida, lucros, royalties, bens primários, expansão de mercado)

Maior produtividadeMais produção (mais fábricas)

Mais oferta (concorrência)Preço mais baixo

Queda da Mais-valia

Sociedade de consumo

Crise econômica

Aumento da demanda por matéria prima,

insumos. Esgotamento e extinção

de recursos e da biodiversidade

Queda da taxa de lucro(CV / CF)

Cresce o capital fixo (CF) (Máquinas e novas tecnologias)

Decresce o capital variável (CV) (Desemprego)

Sociedade de ciclo aberto

Crise ambiental

Sociedade Assimétrica

Crise social

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Desde a era das grandes navegações, quando começou a globalização da

economia, os países centrais, onde o capitalismo se desenvolvia, transformaram as

outras regiões e países em fornecedores de matéria prima e importadores de

produtos industrializados e, depois, em importadores de capital, instalado assim a

divisão internacional do trabalho que até hoje perdura sem indicação de alteração

enquanto durar o sistema capitalista.

A entrada do Brasil na economia mundial se deu pela porta dos fundos como mero

fornecedor de pau-brasil saqueado pelos invasores de então. Dessa forma o Brasil

inaugura sua participação na divisão internacional do trabalho como fornecedores de

matéria prima e assim consolida essa posição que permanece nos seus 515 anos de

existência. Depois, foi o ouro e diamante, cana de açúcar, que fez do Brasil o

principal produtor mundial com mão de obra escrava, cuja realização da mais valia

ocorria fora do país. Assim aconteceu com diversos outros produtos que foram

determinantes para os rumos econômicos e políticos do Brasil a exemplo do café,

cacau, borracha, carnaúba que formaram os grandes coronéis regionais a serviço

das cadeias produtivas dos respectivos produtos cujas indústrias estavam instaladas

nos países centro do capitalismo. Hoje, este mesmo mecanismo continua em

operação chamando o processo de moderna e avançada agricultura. Mas a

modernidade não trouxe para dentro do país uma fatia maior da participação na

cadeia produtiva, não internalizou capital para as regiões produtoras, a mais valia

não se realiza dentro do país, não modificou o caráter das tecnologias desenvolvidas

e estruturas implantadas que são de restrita aplicação na produção especifica.

Quanto a fonte se esgota a quebradeira é geral, ficam só os passivos ambientais e

sociais, os pobre ficam e os ricos saem para armarem seus circos em outras praças.

Fica com os pobres a tristeza e a solidão, até os capitalistas encontrarem diferente

forma de acumular: Chapada Diamantina na Bahia, Recôncavo na Bahia, Ilhéus e

Itabuna na Bahia, Pelourinho em Salvador, cidades e portos da carnaúba no Ceara e

Rio Grande do Norte, cidades e portos da borracha na Amazônia e tantos outros

locais no Brasil fornecedor de matéria prima. Agora, a vez do sucesso, produção de

“tecnologia avançada” e base de poder na política brasileira é a produção de soja,

algodão, milho, celulose, madeira, laranja, carnes e minerais diversos.

O governo comemora cada tonelada de produto primário exportado, pois significa

dizer que a moderna engrenagem montada em 1500 está funcionamento muito bem

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

sem nenhum problema, valendo a pena, então, a mais recente decisão de aumentar

as verbas para modernizar a infraestrutura e financiar e subsidiar a produção e

exportação desses produtos que são o orgulho do Brasil e geradores de mais vagas

de trabalho com carteira assinada.

A academia também se subordina e auxilia a exploração dos povos brasileiros

A economia brasileira existe para exportar de matéria prima e renda de capital. A

gestão e planejamento públicos e a gestão empresarial têm como objetivo direcionar

as forças e recursos para o desenvolvimento dos setores exportadores de bens

primários. A educação, pesquisa e desenvolvimento tecnológico, que contam com a

subordinação da universidade e empobrecimento intelectual da juventude,

asseguram o fornecimento de tecnologia e mão de obra. Mesmo as ações ou

trabalhos que estiverem fora dessa lógica, acabam fazendo parte em função da

hegemonização da sociedade, pois cumpre o papel de contenção política e social

para que fique assegurado a continuidade do papel do Brasil na divisão internacional

do trabalho do mundo capitalista.

O sistema educacional não forma nem cientista nem pensadores que estude os

problemas brasileiros e apresentem soluções. As grades curriculares em todos os

níveis não permitem a discussão dos problemas dos povos brasileiros, muito menos

a discussão de um projeto de Brasil fora do atual esquema da divisão internacional

do trabalho. As profissões estão sob o controle dos interesses da empresa

capitalista. Todos estão focados em tornar-se mão de obra especializada para as

empresas ou laboratórios, são preparados para trabalhar na cadeia de produção de

algum ramo da economia na função correspondente ao nível educacional alcançado.

A indústria como fator de empobrecimento da nação e elo frágil da luta

revolucionaria

O conflito central entre o capital e o trabalho no Brasil se manifesta na

superexploração do trabalho, particularmente, nos setores de produção de matéria

prima agrícola e mineral. Os próprios operários do setor industrial mais intenso em

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

tecnologia, a exemplo da cadeia do petróleo, da metalúrgica e outros, se consideram

superiores aos demais trabalhadores. E a esquerda contribui para construir a ideia

da superioridade da dessa parcela dos trabalhadores em relação aos demais,

inclusive com definição de prioridade de construção pelo significado na construção

da revolução socialista. Se este é o caminho para a estratégia, para a tática se faz

necessário uma adequação à realidade brasileira.

Vejamos numa hipotética situação de greve numa indústria comum. Uma greve de

uma determinada indústria brasileira é uma coisa de efeito local, no máximo na

região, não tem efeito sistêmico, não repercute negativamente além da indústria que

estiver sofrendo a greve, e mesmo que seja uma longa greve que possa até fechar a

fábrica, a economia brasileira não se resentirá da greve, a não ser o efeito político,

pois os substitutos econômicos estarão batendo à porta até para esvaziar a própria

greve.

Já uma greve na produção de bens primários agrícolas e minerais o efeito é

completamente diferente, o efeito é sistêmico. O mundo capitalista necessita da

matéria prima produzida no Brasil e para interromper esse fluxo de exportação de

matéria prima será necessária muita energia, muito trabalho e união e muita força na

decisão política por querer fazer. Por este motivo pode surgir um novo golpe militar

com já aconteceu em momentos da historia do Brasil e dos países da América

Latina e África.

No caso da revolução socialista no Brasil, a esquerda não pode centrar o foco na

classe operária e secundar o papel dos outros segmentos de trabalhadores, pois o

setor industrial além de ser secundário em comparação com o setor primário da

economia ainda se caracteriza pela precariedade de uma parte ser de baixa

tecnologia e outra parte ser mera expansão do capital central.

Os conceitos clássicos do papel da classe operária na construção das lutas dos

trabalhadores e da revolução socialista no Brasil não podem ser aplicados

acriticamente para elaborar as teorias revolucionárias no Brasil. Isto não quer dizer

que o Brasil não seja capitalista ou que tem um capitalismo atrasado que necessita

passa primeiro pela revolução burguesa para permitir o desenvolvimento da classe

operária para posterior organização da luta pelo socialismo, nada dessas

formulações.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

O capitalismo no Brasil é e bastante avançado no seu modelo e relação com o

capitalismo central. Necessitamos entender que modelo capitalista é esse, para

permitir a elaboração da plataforma de luta para os trabalhadores te assumirem o

poder no Brasil.

Os estudos e as teorias desenvolvidas pelos clássicos para compreender o

funcionamento do sistema capitalista ou para discutir a experiência da revolução na

Rússia, por exemplo, não deve prejudicar o processo de desenvolvimento da teoria

revolucionária e da acumulação de forças e formação do bloco de aliança para

enfrentar e quebrar os interesses capitalistas no Brasil.

A melhor forma dos trabalhadores brasileiros contribuírem para aprofundar a crise

do capitalismo e encontrar uma saída para a crise atendendo aos interesses dos

povos brasileiros é se organizando politicamente para implantar um projeto que

acabe com a exportação a preço vil de matéria prima e a consumi-la internamente

para atender às necessidades da população e só exportar bens com valor agregado,

ou seja, para o consumo direto. Se isto acontecer, quebra muitas empresas do

capitalismo central.

Para elaborar a teoria revolucionária brasileira deve-se conhecer o sistema de

produção capitalista brasileiro e as razões pelas quais ele existe. Para isso, é de

fundamental importância conhecer a geografia brasileira, conhecer os biomas, saber

como funcionam e compreender por que estão sendo destruídos, quem se apropria

dos produtos da destruição e quais as consequências dessa destruição.

Como fazer uma plataforma de lutas para o Brasil a partir da realidade industrial de

São Paulo? Como não conhecer a realidade brasileira chamada pelo paulistismo de

Brasil profundo, rincões, sertões, sempre despersonalizando, retirando a feição do

individuo e elevando o folclore ou como queiram, a cultura. Não dá para deixar a

indústria de São Paulo comandar os passos da esquerda no Brasil. O Brasil não é

São Paulo.

Quando a esquerda foca na classe operária da indústria de São Paulo para elaborar

as teorias políticas é mesmo que tratar exclusivamente de São Paulo desprezando o

resto do Brasil e ainda desconsidera o peso do setor primário na formação do PIB

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

paulista. Fora de São Paulo, Minas e Rio, a participação da indústria de consumo e

de bens de produção no PIB é bastante pequena.

Escrever a teoria revolucionaria com dados da realidade brasileira

Sem sentir como é o tamanho e a diversidade é impossível elaborar uma teoria

revolucionária que dê certo no Brasil. A melhor forma de pensar o Brasil é conhecer

seus biomas e entender a lógica de substituição das florestas em commodities

destruindo o sistema hidrológico e solos agrícolas de sustentação das relações

sociais e econômicas no Brasil.

O sistema hidrológico brasileiro que permite a existência de grandes rios, em

particular, os da Caatinga, está sendo trocado principalmente por soja, milho, gado e

carvão. A Floresta Amazônica que garante a vazão de 17 trilhões de litros de água

por dia na foz do Rio Amazonas, transfere simultaneamente 20 trilhões de litros para

o resto da America do Sul em forma de vapor que se transforma em gelo nos Andes

e em chuvas no Cerrado, Caatinga e Sudeste.

O potencial produtivo de todos os biomas brasileiros para a sustentação de uma

indústria endógena de interesse dos trabalhadores voltada para o atendimento das

necessidades humanas vem sendo trocado, até a exaustão, por uns poucos

produtos de interesse dos capitalistas.

Conhecer os biomas não deve ser só dominar os dados das suas fisiologias ou

registrar as belezas das faunas e floras, é deixar os biomas influenciar na

elaboração das teorias revolucionárias sob pena de não ocorrer a revolução no

Brasil.

Conhecer os biomas é ir a fundo, é mergulhar no solo para entender fenômenos

históricos importante. Par isso a esquerda vai ter que conhecer áreas estratégicas

para a estruturação e sustentação da sociedade socialista a ser construída no Brasil.

O que tem a ver a ocupação do Recôncavo Baiano com o massapé da região que

vem sendo destruído pela ocupação urbana e industrial? E o processo de ocupação

de Irecê na Caatinga da Bahia e do Vale do Açu na Caatinga do Rio Grande do

Norte cujos solos estão sendo destruído por venenos, tratores e irrigação.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Para se libertar de São Paulo, a esquerda dever compreender o comportamento das

forças empresariais brasileiras e identificar as fragilidades dela e os caminhos para

alimentar o debate na sociedade contra a atuação desses empresários. Esse estudo

das forças empresariais vai nos revelar a linha da histórica de como a elite brasileira

se consolida e revelar suas fragilidades.

Estudos comparativos entre fatos históricos do Brasil com Paraguai e EUA

Podemos utilizar um estudo comparativo de fatos da historia do Brasil com três fatos

históricos determinantes nos rumos da economia mundial: Colonização dos EUA;

Guerra de Secessão dos EUA e a Guerra ao Paraguai.

Colonização ocupação nos EUA e de exploração no Brasil

Dois pais que nascem próximos, nas mesmas circunstâncias históricas, com

ocupação de território alheio, usam das mesmas tecnologias, assassinam os povos

nativos e escravizam povos africanos, acabam tendo rumos completamente opostos.

Os EUA desenvolvem a colonização de ocupação, famílias são transferidas para

reduzir as tensões sociais na Inglaterra e recebem ordem de construírem lá sua

nova vida. Acaba dando num povo e numa dinâmica econômica apegado ao

território, tendo um sentimento de nacionalidade e pertencimento ultra forte. O

preconceito racial é para com os de fora, no caso o negro. O negro é de fora, veio

trazido à força e não desejados pelos locais, acabou sendo intrometido no espaço

que não lhe pertence. Os EUA tem o processo de consolidação do povo a partir dos

direitos da família e do individuo

No caso do Brasil, a colonização foi de exploração, e persiste ate hoje o modelo.

Não foram transferidas famílias, e sim pessoas para instalar os processos de

exploração e transferência dos produtos para Portugal, cuja vontade era voltar à

civilização. Ser transferido para o Brasil era punição e o objetivo era ou perdão ou a

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

autorização para o retorno. No inicio vieram só homens degredados que depois

solicitaram ao reino um envio de mulheres. O rei atendeu mandando um navio de

vadias. Uma das funções era escravizar ou matar os povos nativos. Para os

serviços, vieram os povos africanos escravizados sem direito a terra. Acaba

resultado numa dinâmica social com um povo e uma dinâmica econômica

desapegada do território, sem nenhum sentimento de nacionalidade e

pertencimento. O preconceito racial aqui é para com os de dentro, os nativos e os

negros. O negro aqui é de dentro, pois o ser de fora a referência é Portugal. Aqui o

povo se consolida sem família, sem individuo, sem alma ou personalidade e,

fundamentalmente, sem nenhum direito. O que persiste ate hoje nos 515 anos de

Brasil.

No Brasil a conciliação de capital, nos EUA o revolucionário conflito de

capitais.

Os livros de história e filmes registram que a Guerra de Secessão dos EUA foi para

acabar com a escravidão. Como a esquerda só pensa em política, não pensa em

economia, acredita nisso. Gostaria de ver um texto da esquerda revolucionaria

buscando esclarecer a gêneses do poder dos EUA.

Os EUA começa sua economia como qualquer lugar do mundo promovendo a

acumulação primária de capital a partir da produção agrícola, tornado este setor da

economia como o mais forte e de maior influência política. Os produtos pertenciam

aos produtores, o gado, o ouro e a produção agrícola eram apenas taxados pela

Inglaterra. Vêm nas famílias transferidas profissionais diversos, combinação perfeita

para o desenvolvimento da educação e da indústria local. Quem faz a independência

dos EUA é a suas elites e seu povo em guerra contra o domínio da Inglaterra. Por

um século segue o crescimento da educação, da indústria e da agricultura, mas a

economia segue na encruzilhada do futuro: as normas alfandegárias, cambiais e

fiscais vão favorecer a indústria ou a agricultura? Foram quase 100 anos para

encontrar a resposta que não conseguiu sair dos lobbies no congresso. Resultado: o

conflito entre o capital agrário (do Sul agrícola) e o capital industrial (do Norte

industrializado) acabou sendo resolvido na bala para decidir quem manda no

Congresso, ou seja, quais as leis que o Congresso deveria aprovar. O congresso

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

passou a legislar em favor da indústria subordinando a agricultura aos interesses da

nação industrializada. Assim foram criadas as condições para os EUA chegar à

posição em que se encontra.

Como se dá o processo brasileiro? Aqui também começa no campo a acumulação

do capital, com uma primeira diferença em relação aos EUA: a remuneração é

mínima, pois apenas produzia matéria prima para exportação para alimentar uma

indústria no exterior. Mas, como internamente existe a super-ultra-exploração do

trabalho, a remuneração acaba permitindo a formação do capital agrário primitivo.

Isto acontece em todas as regiões brasileiras a exemplo da cana de açúcar,

borracha, carnaúba, cacau e, principalmente, café. Como o modelo brasileiro foi

composto com a ausência da família acumuladora, com o não investimento em

educação e com o impedimento da industrialização, esse capital agrário foi

tardiamente transformado em capital industrial no Sudeste e em capital comercial no

resto do Brasil. Se dá, portanto a primeira grande conciliação de capital formando

uma aliança de altamente conservadora e reacionária. As indústrias de São Paulo

poderiam utilizar a rede de lojas montadas no resto do país para comercializar sua

produção. Em função disso, principalmente nas regiões de Norte e Nordeste não

existem indústria, apenas comércio. Não tem como melhorar nem a taxa nem a

qualidade do emprego.

Para agravar a situação da nação, outra conciliação que vai sendo preparada

paralelamente que é entre o capital industrial nacional e capital industrial

estrangeiro. Nessa conciliação prevaleceu a covardia, a pequinesa do empresário

nacional de aceitar a condição imposta de se restringir à produção de bens de baixa

tecnologia tanto para o mercado consumidor como fornecedor de peças para a

indústria de capital estrangeiro de alta tecnologia. Este acordo impõe ao Estado

conduzir a educação, a academia e os institutos de pesquisa como meros

preparadores de mão de obra para atender a essa indústria.

Enquanto nos EUA instalou-se o conflito de interesse entre o capital industrial e o

capital agrário levando o setor industrial a dominar e comandar o setor agrário, aqui

no Brasil, a elite, historicamente passiva e escravagista, subordinada e obediente

aos interesses estrangeiro, promove a conciliação entre o capital agrário e o

industrial fazendo esses dois setores darem as mãos para compensar seus parcos

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

ganhos decorrentes da participação na cadeia de produção internacional na

superexploração dos trabalhadores locais.

Dessas conciliações sai a conta a ser paga pelos trabalhadores, meio ambiente e,

principalmente, pela destruição do potencial do desenvolvimento futuro da nação.

Como o Brasil agrário se alia com a Argentina e Uruguai também agrários para

destruir a maior experiência industrial da America Latina de todos os tempos,

ou, a conhecida guerra ao Paraguai para salvar o povo paraguaio e o Brasil do

ditador Francisco Solano Lopes.

Paraguai era uma potência econômica, independente das nações europeias, cuja

industrialização foi decorrente de um governo forte e decisivo mandava jovens

estudar na Europa e voltar para implantar no país os conhecimentos adquiridos.

Teve que enfrentar a ira do império britânico através dos imbecis e subjugados

governos do Brasil, Argentina e Uruguai que tomaram dinheiro emprestado da

Inglaterra para fazer uma guerra de interesses da indústrias inglesas.

O Paraguai teve toda sua indústria destruída e cerca de 70% da população assinada

com consequências que sofre até hoje 145 anos depois.

Já o Brasil se orgulha do genocídio promovido por Caxias e lhe dá a honra de ser

patrono do Exército além de nomes de ruas, avenidas e cidades e, de quebra, ainda

trás a dívida elevada decorrentes dos gastos da guerra que foram custeados com

empréstimos estrangeiros para ser paga até hoje pelos trabalhadores brasileiros.

Não me lembro de ter visto um só discurso da esquerda se referir a grandeza da

obra de Francisco Lopes a quem aprendemos odiar nas nossas aulas de história por

ser o ditador que queria tomar o Brasil.

As conexões da economia brasileira com a divisão internacional do trabalho.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Vamos discutir as principais conexões entre economia brasileira e a economia

mundial que constitui a subordinação do Brasil à divisão internacional do trabalho

impostas pelos países centrais da economia capitalista e aceita pela elite

empresarial e escravagista brasileira: o agronegócio, a mineração. O mercado do

petróleo, o modelo industrial, a geração de energia, o mercado de droga e o

mercado financeiro.

4.1 O agronegócio

A agricultura e a pecuária no Brasil são atividades ultradiversificadas e altamente

complexas por cumprir diversas funções e tantos parâmetros quanto se queira

analisar: tamanho, tecnologia aplicada, produção, objetivos etc.

Como temos como objetivo deste debate identificar como as forças e os fluxos

econômicos se movimentam, vamos concentrar no agronegócio e tomar as outras

áreas da agricultura como referência, mas que dever ficar a obrigação do

aprofundamento deste debate, pois ai encontra-se as soluções social, econômica e

ambiental para diversos problemas por que passam os povos brasileiros.

Grosso modo, atendendo os objetivos desse texto, podemos classificar o setor

agrícola e pecuário do Brasil em três segmentos apresentados pela ordem de

tratamento neste texto, todos por si muito diversificados, particularmente os da

agricultura familiar: agricultura e pecuária familiar convencional, agricultura

familiar e pecuária agroecológica e o agronegócio empresarial,.

Agricultura e pecuária familiar convencional

A agricultura mesmo sendo de pequeno porte, controlada e conduzida pela família,

com muito baixa divisão de trabalho, utiliza tecnologias industriais e pratica o modelo

de produção focado no monocultivo convencionado pela chamada “revolução verde”.

Trabalha com sistemas de monocultivos e de consorcio com baixa diversidade nas

propriedades, porém alcança grande diversidade no conjunto. O leque de situações

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

em que se encontram as propriedades é muito grande, varia de bem sucedidas até

extrema pobreza, de muita tecnologia e recurso até a ausência completa de

tecnologias, com organização de cooperativas, a exemplo da região Sul, a ausência

de cooperativas, região Norte e Nordeste. Ainda tem os coletores que atuam

individualmente ou cooperativados, a exemplo dos coletores de castanha de

Amazônia, babaçu, mangaba, licuri, umbu, piaçaba etc.

A agricultura familiar é vítima da demagogia política dos governos e da academia e

institutos de pesquisas. A academia e cientistas da área orientam o agricultor

familiar com tecnologia e procedimentos próprios do agronegócio de grande escala e

alta tecnologia, o que os torna escravos dos bancos e da indústria.

A agricultura familiar fornece quase 80% da alimentação consumida pelas famílias

brasileiras.

A contradição central é copiar o modelo empresarial para se inserir na cadeia

produtiva de alguma indústria com uma produção única ou consorciada, ou seja,

utiliza tecnologia própria da agricultura de larga escala em agricultura de pequena

escala, utiliza recursos de alto valor agregado para produzir bens de baixo valor

agregado.

O agricultor da agricultura familiar de forma geral é hegemonizado pelo conceito do

agronegócio e não se expressa como classe, se dilui no conjunto das lutas sociais

não buscam sua independência e vive de buscar apoio, subsidio e financiamento

oficiais.

Agricultura e pecuária familiar agroecológica

Se caracteriza por práticas agrícolas não atreladas ou subordinadas às cadeias

produtivas da indústria, busca uma produção diversificada, próximas aos modelos

naturais sem uso de venenos, tem o caráter preservacionistas e conservadoras dos

recursos naturais. Este modelo se aproxima da agricultura tradicional praticada pelos

povos originais e quilombolas e seus descendentes. Busca, também, atuar de forma

independente do mercado industrial e financeiro.

A agricultura florestal dentro desse grupo aprofunda mais ainda os conceitos de

independência e intensa diversidade. Busca reinstalar a dinâmica florestal a partir do

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

aproveitamento da irradiação solar nos diversos níveis alcançáveis pelas as diversas

espécies vegetais.

Este modelo se caracteriza, também, pela permanente evolução da produção e

ainda tendo como saldo a melhoria e enriquecimento do solo com redução dos

custos operacionais da produção.

Esse tipo de agricultura ainda tem pouca abrangência, pois, de forma geral, grande

parte dos agricultores familiares permanece hegemonizado pelo pacote tecnológico

da “revolução verde” da burguesia industrial, desenvolvido pela academia e instituto

de pesquisa e difundido pelos órgãos de extensão.

O sistema capitalista não tem interesse nesse modelo, pois quebra os paradigmas

da acumulação.

O agronegócio, fator de transferência de renda para a indústria e o banco

A produção do chamado agronegócio (agricultura e a pecuária empresarial)

brasileiro tem como função precípua assegurar saldo positivo da balança comercial

e fornecer matéria para diversos ramos industriais no Brasil. E na função econômica,

está estruturada para transferir renda para a indústria e para o banco.

A agricultura e a pecuária do agronegócio se caracterizam por serem produtoras de

matéria prima em monocultivos para uso industrial. Convencionadas como

modernas, totalmente tecnificadas e de alto custo financeiro. Geralmente é

controlada e conduzida por organização empresarial com intensa divisão de

trabalho.

O modelo agropecuário hegemônico combinado com a necessidade de ampliação

do mercado consumidor vem deslocando, de forma acelerada, imensa parcela da

população do campo para as cidades.

As concentrações urbanas tornam-se completamente dependentes da indústria. A

manutenção da vida nas cidades depende do campo como exclusivo fornecedor de

energia, água, alimentos e das matérias primas para fabricação de alimentos

industrializados e todos os demais bens comercializados na cidade. Para isso foi

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

montado um modelo de agronegócio que tornou-se hegemônico, focado na

produção de matéria prima para as diversas indústrias.

A agricultura e a pecuária deixam de ser uma atividade voltada para atender as

necessidades alimentares da população e passa a ser uma atividade produtora de

matéria prima que deve ser padronizada, de baixa variabilidade genética e em

grande escala para abastecer a linha de produção da indústria química, metalúrgica,

farmacêutica, têxtil, papel e, em particular, a de alimentos. Passou a ser uma

atividade de alta concentração, a exemplo do mercado do trigo onde apenas uma

empresa, a Cargil, controla 32% do mercado no mundo. Sete corporações industriais

controlam 80% da indústria de alimentos do mundo. O Brasil vem sendo chamado

de “celeiro do mundo” e a história da agricultura brasileira se confunde com a

história mundial. A começar com o pau-brasil que dá origem ao nome e a economia

do país que se caracteriza deste então como exportadora de matéria prima agrícola.

A agricultura e a pecuária tornam-se um importante elo da cadeia da produção da

indústria capitalista e passam a adotar o objetivo central dessa indústria que é a

acumulação de capital e não no atendimento das necessidades humanas.

Com o crescimento do mercado acumulador (capitalista), promove-se intensa

demanda por matéria prima, o que impacta diretamente a agricultura e a pecuária

que concentram suas atividades na produção em escala de matéria prima. Este

modelo é uma atividade de elevado impacto ambiental para desenvolver os

monocultivos, faz parte do cotidiano das atividades a eliminação das florestas, o uso

do fogo, destruição da flora, fauna e biodiversidade; arar e gradear o solo;

assoreamento, contaminação e extinção de mananciais hídricos (que também

prejudicam a geração de hidroeletricidade); uso de adubos industriais e venenos

químicos, uso intensivo de máquinas, equipamentos e materiais geneticamente

modificados; erosão genética em decorrência da uniformização; emissões de ases

de efeito estufa (GEE). Tudo isso leva à degradação do solo de grandes extensões

de áreas agricultadas: compactação, erosão e perda de solo agrícola e com extenso

processo de desertificação, que tem como consequência a exaustão da área de

produção e elimina a capacidade do meio ambiente se regenerar e voltar a produzir.

Este processo revela a primeira contradição do modelo que é o destruir o

próprio meio que lhe dá a sustentação.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

A agricultura e a pecuária são atividades de origem essencialmente ligadas à

Natureza, cujo capital inicial, acumulado naturalmente, é o solo de qualidade

agricultável e a água. Quando a agricultura e a pecuária adotam o modelo artificial

do monocultivo, deixam de ser autônoma e autossuficiente, tornam-se inteiramente

artificial e prisioneira da indústria capitalista passam a demandar, intensamente,

insumos externos em escala crescente, revelando contradições econômicas e

ambientais insolúveis na sua própria dinâmica. A agricultura e a pecuária vivem em

crise permanente e insolúvel em função da sua segunda contradição de usar

recursos para sufocar a diversidade para manter artificialmente o monocultivo

para assegurar a condição de fornecedora de uma única de matéria prima para a

indústria capitalista que visa maximizar os lucros com a minimização dos custos da

matéria prima da agricultura e a da pecuária.

Este aprisionamento da agricultura e a da pecuária ocorre tanto na fase da

produção como na fase da comercialização da produção.

Na fase de produção,

Os artifícios e arranjos que artificializam o processo de produção as tornam

completamente dependente de máquinas, implementos, ferramentas especiais,

adubos, fertilizantes e agrotóxicos visando intensificar a produção de matéria prima

para atender a demanda da indústria. Esta artificialização gera a terceira

contradição que é a de adotar técnicas e conceitos não naturais para uma

atividade que, por excelência, é uma atividade natural. Torna-se cada vez mais

incapaz de aproveitar os recursos e energias locais e de baixo custo e passam a

funcionar a partir de estímulos externos de alto custo.

A agricultura e a pecuária se afastaram de tal forma da natureza que os profissionais

da área foram obrigados a não mais observar a natureza como fonte de saber e

aprendizagem para conduzirem e organizarem a produção. Os profissionais

perderam conhecimento e saber e passaram a comprar e utilizar técnicas

produzidas no mundo urbano industrial para serem utilizadas em atividades de

relações ambientais típicas do mundo rural. O que leva à quarta contradição que é

fato da agricultura e a pecuária do agronegócio adquirem fatores de produção

de alto valor agregado e para produzirem bens primários de baixo valor

agregado cujo preço vai caindo com a evolução da crise econômica do capitalismo

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

e a cada ano vai aumentando a necessidade de maior unidade de produção agrícola

ou pecuária para cobrir o preço de aquisição do mesmo produto industrial.

A agricultura e a pecuária atuam na exploração até a exaustão do potencial

produtivo acumulado naturalmente no decorrer dos tempos passado com isso os

custos de produção vão progressiva e aceleradamente se elevado. Na relação

inversa, a produção e produtividade vão reduzindo, chegando ao ponto do resultado

econômico não mais justificar a continuação da atividade naquela área. Como

consequência direta pode ser vistas a quinta contradição: quanto mais produz

torna-se mais pobre com o passa do tempo, pois ocorre o aumento crescente do

custo de produção e com a perda crescente do capital produtivo (fator de produção).

Para não ocorrer a solução de continuidade no fornecimento da matéria prima e

inviabilizar doa a cadeia produtiva comandada pela indústria, a empresa agrícola

busca novas terras com fertilidade produtiva acumulada para dar continuidade suas

atividades produtivas. É o que se chama pomposamente de expansão da fronteira

agrícola, mas que poderia ser chamada de destruição do capital produtivo com o

abandono da “sucata” depreciada, ou passivo.

Na fase da comercialização

Na fase da comercialização constrói mais um aprisionamento, sendo esta a sexta

contradição que é o abandono da diversidade de produtos e de clientes para

se especializar em um produto para um cliente exclusivo para quem transfere

todo o pode do controle da demanda e do preço do produto. A agricultura e a

pecuária do monocultivo aceitaram ter a restrição de cliente, de consumidores

diretos sua produção ao trabalharem para entregarem suas produções para um

restrito número de indústria quando não é escrava de uma industria que estabelece

o controle total, a exemplo da celulose e da cana.

A agricultura e a pecuária do agronegócio são atividades aprisionadas e

subordinadas que constroem sua dinâmica a partir do que deseja o agente

aprisionador. A agricultura e a pecuária não têm condições nem liberdade de lançar

novos produtos, de inovar a linha de produção. As novidades que podem oferecer

agravam ainda mais suas condições de existir: uniformização do produto ou

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aumento do volume da produção. Até estas duas inovações são desejadas e

exigidas por interesses da indústria.

A definição dos preços dos bens da agricultura e da pecuária

A artificialização da atividade leva a utilizar fatores de produção de alto valor

agregado (máquinas, equipamentos agroquímicos) para produzir bens primários de

baixo valor agregado. Esta contradição é insolúvel, pois o preço dos fatores de

produção industriais demandados são, historicamente, elevados com tendência ao

crescimento constante em função dos custos de produção e a cartelização da oferta.

Enquanto os preços do produto agrícola tende a cair em função da substituição por

produtos artificiais ou pelo fato da cartelização da demanda, ao tempo em que

ocorre a ampliação da concorrência na oferta, pressionando os preços para baixo.

O preço dos bens da agricultura e da pecuária é definido pela indústria em função da

subordinação do setor agrícola ao setor industrial devido o atrelamento de

exclusividade decorrente da produção exclusiva de um único produto. O

atrelamento do processo produtivo ao interesse da indústria que tem o poder de

controlar o fluxo e o preços

Os custos da produção agrícola e pecuária não são considerados na formação do

preço do produto, esses preços são estabelecidos pelas variáveis de formação do

preço da indústria que visa a redução do preço da matéria prima, portanto a

maximização dos lucros.

As atividades agrícola e pecuária sob a condição de subordinação ao setor industrial

abdicam da possibilidade de definir as condições e critérios para a formação do

preço do produto. A total falta de controle das varáveis formadora do preço produz a

oitava contradição: ao mesmo tempo em que investe para obter uma grande

produção, o produtor sabe que esta produção elevada derrubará o preço do

produto e os custos de produção ficarão descobertos. A lei da oferta e procura

é implacavelmente aplicada. O produtor, então, nutre um permanente desejo e torce

para que ocorra algum desastre ambiental ou de desequilíbrio ecológico com seus

pares concorrentes para que a sua produção seja comercializada por preço elevado.

Via de regra, a cadeia de produção é formada por grande quantidade de produtores,

poucos comerciantes e muito poucas indústrias para a transformação do produto.

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Em função disto, e por interesses dos compradores, os preços dessa matéria prima

são estabelecidos pelas bolsas de mercadorias que regulam os produtos

classificados como commodities sem levar em consideração os custos da produção.

Já o preço do produto industrial é calculado pelos custos de produção mais a taxa

de lucro desejada pelo empresário. E este preço é imposto ao comprador.

Diferentemente da produção da agricultura e da pecuária, o preço é definido pelo

comprador. Quem compra diz quanto é preço independente dos custos de produção.

Isto faz com que o lucro financeiro da agricultura seja bastante reduzido ou até

negativo quando ocorre de os custos de produção ser maiores que o preço do

produto.

Os fluxos de rendimentos a que está submetida o modelo

Para produzir, a agricultura e a pecuária são prisioneiras e dependentes da indústria

mecânica, petroquímica e do banco de onde demanda recursos sem que tenha

poderes para estabelecer os preços dos bens industriais adquiridos. Também são

tomadoras de recursos financeiros para financiar o processo produtivo.

Como já visto, a artificialização da forma de produção e a dependência faz com que

a agricultura e a pecuária de necessitem adquirir bens industriais para conduzirem a

produção e sendo os fatores industriais de alto valor agregado e os produtos da

agricultura e da pecuária de baixo valor agregados (bens primários), torna as

atividades deficitárias e transferidoras de renda, que estão justamente organizadas

para, dentro de uma relação subordinada, transferirem recursos para a indústria e o

banco.

Estas condições tornam a agricultura e a pecuária atividades sem objetivo em si,

focados exclusivamente no agente dominador. É uma atividade submissa às

condições definidas por outro setor. A sétima contradição é a renúncia da

personalidade ao aceitar tornar-se secundária apesar de sua essencialidade,

cuja própria existência depende das decisões tomadas pela atividade tornada

principal, aceita a condição de atividade descartável, pois só existe enquanto for útil

à indústria ou só passa a existir se a indústria enxergar nela uma fonte

economicamente viável de alguma matéria prima. De forma explicitada e de efeito

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bem consolidado da indústria sobre a agricultura temos como exemplo os ciclos

agrícolas tão conhecidos na historia do Brasil, com seus apogeus e decadências,

como são os casos da seringueira, carnaúba, licuri, cacau etc. além das frutas que

tiveram suas produções abaladas pela criação de bebidas químicas industrializadas

que a substituíram no mercado.

Portanto, a agricultura e a pecuária vivem em crise permanente em função das suas

contradições centrais. E a solução dessas contradições e as respectivas crises

permanentes só poderão ocorrer se a agricultura e a pecuária romperem com o

modelo monocultural e se libertarem do jugo da indústria. O que nunca vi acontecer

devida a subordinação psicológica, intelectual, cultural desenvolvida pelo modelo

escravagista de produzir persistente nos tempos atuais. A agricultura e a pecuária

que são danosas ao país e não têm como objetivo a solução das suas crises, foram

montadas para manter o modelo produtor de matéria prima, são financeiramente

deficitária. Mas é assim que é para funcionar, pois o esquema montado para

concentrar rendas na indústria capitalistas, de onde emana o poder, quer que seja

assim e o governo obedece. O artifício para suportar todas as contradições e

assegurar a permanência da atividade é equilibrar o orçamento da agricultura e

pecuária utilizando os recursos públicos do país, sejam os naturais sejam os

financeiros e promover a superexploração do trabalho: subsidio com dinheiro

público; juros subsidiados; anistia de dívidas; compensações financeiras; gastos

públicos com pesquisas formação de profissionais; utilização das gigantescas

extensões territoriais surrupiadas da nação e dos povos nativos; não incorporação

nos custos de produção o preço da recuperação dos passivos ambientais;

Aplicação da superexploração do trabalho

Estas relações com a indústria e o banco levam a agricultura e a pecuária a não

terem condições de estabelecer posições vantajosas na negociação, fazem com os

empresários do setor, que se caracterizam historicamente por serem extremamente

reacionários de formação escravagistas, transfira sem nenhum pudor os custos da

produção para os ombros dos trabalhadores promovendo a máxima exploração da

mão de obra que pode ser classificado como modelo moderno de escravidão com

péssimos salários e sem direitos trabalhistas e assistências alem da promoção de

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todo tipo de doenças decorrentes do uso dos agrotóxicos amplamente utilizados por

este modelo, como anteriormente feito na escravidão

O Estado garante o subsídio

Como a renda do setor agropecuário é decrescente em função da degradação do

solo e crescimento constante do consumo de recursos elevando os custos da

produção maior que preço do produto (matéria prima) que são controlados pela

indústria, os governos utilizam o subsidio para manter em pé a a atividade. Esses

subsídios aparecem sob a forma de empréstimos públicos a juros subsidiados ou

anistia para as dívidas bancárias ou a política de preço mínimo para o produto

agrícola.

Extensão da fronteira com apropriação e grilagem de novas áreas

Quando uma área de produção não oferece mais condições de reagir a intensa

aplicação de insumos, tornado a terra improdutiva, pois com o passar do tempo vai

reduzindo o ganho por hectare produzido em função da necessidade de mais

recursos externos (adubo, fertilizantes, venenos para ervas, fauna e micro-

organismos) devido a redução da fertilidade e degradação do solo. O empresário do

setor agropecuário abandona e abre nova área que como toda condição natural

encontra-se com elevada qualidade com o solo em condições para novo cultivo.

Assim o empresário mantém as condições manter a produção e assegurar a

capacidade de fornecer matéria prima em larga escala no curto prazo promovendo a

expansão da fronteira agrícola com todas as consequências negativas para o meio

ambiente, a economia, os povos nativos e a sociedade brasileira.

A extensão da área cultivada compensa a baixa produtividade

O empresário do setor continua trabalhado com o conceito de que os recursos

públicos como solo, água e ar podem ser apropriados ao seu bel prazer, dessa

forma compensam o baixo retorno por hectare das suas atividades. A agricultura e a

pecuária só tornam-se interessante para o empresário pela extensão da área. Por

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exemplo, o gado bovino rende em torno de R$ 100,00 por hectare ano, a soja o

milho, celulose e outras culturas a renda por hectare/ano fica entre R$ 1.100,00 e

1.400,00.interessante em função da grande extensão de terra utilizada nessas

atividades, ou seja, milhões de hectares.

.

Não incorporação as externalidades.

Outro recurso utilizado para equilibrar orçamento é a não contabilização da

depreciação do capital produtivo (a terra) e a não adição ao preço do produto o valor

necessário para recuperar o meio ambiente e capital produtivo. Impactos ambientais

decorrentes do modelo agrícola não são contabilizados nem nos balanço da

atividade nem é incorporado ao preço final do produto.

Além de tudo isso, ainda tem o problema do passivo ambiental. A agricultura

convencional de monocultivo, assim como a pecuária, não incorporam nas suas

planilhas de custos o passivo ambiental produzido pelas suas atividades. O que

torna o preço da sua produção competitivo, pois não agregam os valores

necessários para mitigar ou recuperar os danos ambientais nos preços. Portanto, os

ganhos com esse processo produtivo são privados, pertencem aos empresários.

Mas os prejuízos ambientais, a destruição das florestas, a desertificação, a

contaminação dos recursos hídricos pertencem a toda a sociedade, a gerações

futuras.

Pesquisa e formação técnica.

A academia e os centros de pesquisas estão voltados para desenvolver as

tecnologias para a agricultura empresarial e, por consequência, divulga o modelo

como mais eficiente e produtivo levando a crença de que a agricultura familiar é

improdutiva e que se quiser melhorar a produtividade deve adotar os recursos e

conceitos da agricultura empresarial.

As indústrias conduzem o Estado a financiar, ou as próprias indústrias financiam, a

academia e os institutos de pesquisas para produzirem conhecimentos e tecnologias

para aumentar a produção de monocultivos: seleção genética; modificação genética;

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

reprodução em laboratório; transgênicos; insumos; agroquímicos; máquinas e

implementos.

Consequência desse modelo agrícola implantado no Brasil

Perda do diferencial competitivo tanto pela oferta de produtos diferenciados a

exemplo de fármacos, madeiras, fibras, gorduras, óleos, madeiras, essências,

fibras, frutas etc.

Perda do diferencial competitivo na produção de energia, perdendo a condição

de desenvolvimento autônomo e independente em função das destruições dos

rios e fluxo hídrico aéreo da Amazônia para o resto do Brasil

Inviabilização de importantes cidades em função da eliminação dos rios.

Eliminação das florestas nacionais e da biodiversidade gerando a destruição

ambiental com alto custo para a sustentação do país.

Degradação, abandono e desertificação de solos agrícola.

Concentração da terra

Expulsão da população rural, quilombolas e povos nativos de suas terras

originais,

Inchamento e crescimento desordenando das cidades,

Geração de desemprego e desocupação

Destruição do capital natural inviabilizando projetos futuros autônomos e

endógenos e independentes da nação dos povos brasileiros.

4.2 A mineração

O setor mineral forma no congresso nacional uma das mais fortes bancadas

formadas por reacionários, conservadores e entreguistas parlamentes. Porque a

esquerda só conforta com esses parlamentares quando tomam medidas contra os

aspectos sociais que atingem aos trabalhadores e o povo em geral? Significa dizer

que a esquerda concorda com as medidas tomadas para o setor mineral?

Consequências

Esgotamentos de reservas

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Histórico da legislação de minas no Brasil

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Degradação ambiental

Destruição do capital natural

Eliminação do potencial de desenvolvimento autônomo e endógeno

(FALTA DESENVOLVER)

Para compreender a relação entre política, gestão pública e mineração basta fazer o

relacionamento do tipo de governo com a legislação mineral. Vide tabela abaixo:

4.3 O mercado do petróleo

4.4 O modelo industrial

Gênese da indústria brasileira

A acumulação inicial da economia brasileira é o capital agrário. Posteriormente se

transforma em capital industrial e capital comercial estabelecendo uma conciliação

desses capitais com a hegemonização da do capital industrial.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

A indústria brasileira tem como base a abjeta e nefasta escravidão. Assim fez-se a

riqueza e a elite brasileira. O Brasil não se libertou da escravidão como não se livrou

das ditaduras, em particular a de 64. Esta relação de escravidão e ditadura são os

alicerce da indústria brasileira.

A invasão portuguesa dá personalidade ao território que já nasce integrado a

economia mundial como fornecedor de matéria prima e impõe leis e fiscalização e

muita repressão para impedir o desenvolvimento da indústria. Esta situação vem

sendo cultivada até o momento, não com leis explicitas de proibições e punições,

mas pelo boicote, sabotagem, manobras típicas do mundo da falsa democracia que

se vive no país.

O Brasil nos seus 515 anos exportando matéria prima. Iniciou com a participação no

sequestro de pessoas da África para obrigá-los a trabalho escravo. Situação que

perdura até hoje a exceção do tronco e do chicote. Ela elite descentes dos

donatários das capitanias, dos escravagistas e dos coronéis permanecem até hoje

no poder explorando os trabalhadores, mudou-se apenas os métodos, mas

proporcionalmente ao crescimento da economia a situação permanece a mesma do

inicio da contagem dos 515 anos. No futuro, os relatos das atuais ocorrências de

superexploração serão vista também com repulsa como hoje enxergamos a antiga

escravidão.

Outro elemento importante no modelo de industrialização brasileira é a partilha de

interesses realizada entre o capital nacional e o capital estrangeiro. A burguesia

brasileira acatou a relação de subordinação e se acomodou à condição de conduzir

a indústria secundária de baixa tecnologia, deixado aberto o campo para o capital

estrangeiro de alta tecnologia. A formação do capital industrial que ocorreu

basicamente no Sudeste se dá a partir do excedente do capital agrário. Enquanto no

resto do país o excedente agrário foi transformando em capital comercial oferecendo

as condições para a comercialização dos produtos das indústrias nacionais e

estrangeiras instaladas no Sudeste, particularmente, em São Paulo. Portanto, no

Brasil ocorreu a conciliação entre o capital agrário e capital industrial, este último

concilia-se com o capital estrangeiro. Isto não ocorreu em nenhum país do centro do

capitalismo.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Pela extensão, riqueza geológica e diferentes biomas, a produção de bens primários

no Brasil e bastante diversifica tanto no tempo como no espaço, o que leva a

acontecer acumulação primária de capital a partir das atividades agrícolas em todas

as regiões do país que depois se torna ou capital industrial ou capital comercial. O

primeiro processo de industrialização no Brasil tem como base essa transformação

do capital agrário. Percebe-se desta forma que o conflito de classe no Brasil se dá

de forma bem definida da união das classes capitalistas (nacionais agrários e

industriais e industriais estrangeiros) contra as classes trabalhadoras. As classes

capitalistas constroem intensa conciliação de interesses. Entre os brasileiros

concilia-se a divisão do espaço de atuação do capital: enquanto os do Sudeste

transformaram o capital agrário em industrial de consumo, os das demais regiões

transformaram o capital agrário em capital comercial que oferece condições para a

circulação das mercadorias produzidas no Sudeste. Entre outros aspectos de

origem, essa aliança faz com que os empresários comerciais tenha assumidos

posições reacionárias, conservadora e contraditórias com os seus interesses quando

se posiciona contra as reivindicações dos trabalhadores que, ao melhorar de vida

material, poderiam ser potenciais consumidores dos produtos comercializados pelos

lojistas. A aliança, também de profunda expressão reacionária e conservadora, que

se dá entre o industrial brasileiro e o industrial estrangeiro decorre do fato de que

está na perspectiva do industrial brasileiro o desenvolvimento de uma industria

endógena concorrente com a indústria estrangeira, ele se contenta com uma

indústria secundária de baixa tecnologia e baixo valor agregado. Portanto, está tudo

combinado, cada qual com sua função complementar sem mexer nos interesses da

outra parte. Capitalista industrial brasileiro, como o exportador de bens primários, se

contenta com o pequeno ganho na cadeia econômica, mas mantém sua

envergonhada posição subalterna e secundária, pois transfere a sobrecarga para os

trabalhadores com as péssimas condições de trabalho, salário e vida.

No Brasil não existe espaço para formação e capacitação de alto nível como não

tem perspectiva de gerar mais emprego do que gera, pois não há desenvolvimento

de indústria com tecnologia nacional, autônoma e concorrente com a indústria

estrangeira. A elite brasileira e o respectivo governo que secularmente gere o estado

não tem interesse em formação qualificada, basta que a academia prepare

profissionais para operar maquinas ou sistemas de interesse desse padrão de

economia resultante da, também secular, aliança entre os capitalistas.

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Portanto, reivindicar mais vaga para trabalho ou mais verbas para educação não tem

o menor sentido se não estiver acompanhado da luta pela industrialização endógena

de interesse dos povos brasileiro, inclusive de setor empresarial nacionalista. A não

ser que a campanha por vagas e verbas seja peça de propaganda para demonstrar

a incompetência dos gestores do estado. Se for uma propaganda, tem-se a coragem

de revelar esta estratégia aos trabalhadores?

O processo de industrialização do Brasil não é consequência do desenvolvimento

endógeno, ou seja, não tem como base a acumulação interna de capital. Reflete

muito mais a expansão do excedente de capital acumulado pelas corporações nos

países centrais do capitalismo. Ao invés da exportação de produto acabado, torna-

se muito mais lucrativo para as corporações as transferências de capital para os

países periféricos em função dos baixos custos dos insumos e matéria prima, do

aluguel e da mão de obra, alem da política fiscal bastante atrativa, ou seja, a

substitui-se o fluxo de produtos por fluxo financeiro que é composto sobrepreços

para importação de componentes de alta tecnologia, pagamento de royalties pela

importação da tecnologia e remessa de lucros. Portanto, o processo de

industrialização é danoso aos povos brasileiros atende apenas aos interesses das

grandes corporações industriais capitalistas.

Na cadeia produtiva industrial as matérias-primas tem pequeno percentual de

remuneração. Os bens primários são classificados como commodities e negociados

em bolsas de mercadorias cujos preços são determinados pelo consumidor, o setor

industrial, independente do custo de produção.

As indústrias dos locais de produção da matéria prima ou são um departamento da

indústria matriz ou são conduzidas por empresários locais que se contentam com a

baixa remuneração do produto, pois é suficiente para alimentar governos e estados

corruptos, autoritários e ditaduras e o que sobra torna o empresário um magnata da

sua pobre região. Esse mecanismo fica assegurado pela superexploração do

trabalho tanto pela baixa renumeração com pelas condições de vida, trabalho e

repressão impostas pelo estado com retribuição das migalhas que recebe dos

empresários.

Para concluir a análise da situação industrial no Brasil, identificar as relações entre

as corporações empresariais do centro do capitalismo e os países periféricos. Este

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fluxo se dá sempre no sentido da acumulação do capital da periferia para o centro.

Esta situação caracteriza a Divisão Internacional do trabalho (DIT) que aprisiona

países e regiões na condição exclusiva de fornecedora de matérias primas agrícolas

e minerais que e transportada para os países centrais que asseguram para si a

condição de industrializados.

Numa primeira fase ocorria, centralmente, o fluxo de produtos. Da periferia para o

centro o fluxo de matéria prima, e do centro para a periferia o fluxo de produtos

industrializados. A circulação de capitais dos países centrais para a periferia se dava

quando havia necessidade de investir em processos produtores de matéria prima,

seja agrícola ou mineral. .

Num segundo momento, passou a ter um peso significativo o fluxo de capitais para

os países periféricos para a implantação de filiais para produção de bens de

consumo. Nessa situação, o ganho do capital passa a ser o fluxo financeiro pela

compra de componentes da matriz, pagamento de royalties e remessa de lucros,

A decisão de instalar indústria em países periféricos decorre do fato desses países

possuírem insumos, matéria prima e mão de obra baratas e disponíveis que

asseguram boa lucratividade que pode ser remetida para a matriz. Ao invés de

circular mercadoria produzida a custos elevados nos países industrializados

centrais, passa a circular apenas capital cujo saldo flui para a corporação e seu país

sede.

A cada período econômico da história brasileira correspondendo ao processo politico

cujos controladores da produção detiveram o poder político na gestão do estado

forçando o país a permanecer na condição de fornecedor mundial de mátria prima

daquela respectiva elite para a indústria instalada no país ou, principalmente, fora do

país.

Como a realização da mais valia ocorre fora do país, a principal parcela da cadeia

produtiva é apropriada fora do país, aparcela que retorna é uma pequena parte, mas

é o suficiente para tornar a elite empresarial poderosa e dominante para manter

constante o ciclo: superávit da balança comercial (exporta matéria prima – importa

industrializados) versus déficit da balança de serviço (pagamento da dívida pública,

pagamento de royalties, remessa de lucro, turismos e transporte).

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Posteriormente, entra em cena o capital financeiro após o gigantesco

desenvolvimento da capital fictício que acaba subordinado não apenas os setores

capitalistas, mas o próprio estado brasileiro.

4.5 A geração de energia

(FALTA DESENVOLVER)

4.6 O mercado de drogas

(FALTA DESENVOLVER)

4.7 O mercado financeiro

4.7.1 Para onde vão as divisas oriundas da exportação de bens primários

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VI ENAPS / 2015Análise da conjuntura brasileira

Além de todos os problemas, uma pergunta se coloca: para onde vão os recursos do

saldo comercial da balança brasileira fundada na exportação de bens primários, em

particular, commodities agrícolas? O Brasil permanece ad eterno como exportador

de matéria prima, bens primários, hoje pomposamente chamados de commodities.

Historicamente, as divisas resultantes da exportação são destinadas ao

financiamento da importação e consumo de luxo. Em seguida, serve para assegurar

as operações de transferência de rendas como subsídios e equilíbrio da balança de

serviço através do pagamento de transporte internacional, pagamentos de royalties,

para o uso de tecnologias das próprias empresas estrangeiras produtoras dessas

tecnologias, remessa de lucros e, principalmente, pagamento da dívida externa

brasileira.

4.7.2 Divida Pública da União

(FALTA DESENVOLVER)

4.7.3 A contabilidade nacional com ferramenta da luta dos trabalhadores

As contas nacionais revelam com bastante exatidão as condições de subordinação

da economia brasileira aos interesses da divisão internacional do trabalho assim

como mostra que as elites brasileiras e seus governos fez a prefeita e controlada

transição da participação da economia colonialista escravagista para a economia

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imperialista superexploradora sem nenhum problema para essas elites, sequer

escondem que são herdeiros diretos da acumulação escravagista anterior.

A contabilidade nacional é estruturada a partir de duas contas: a balança

comercial e a balança de serviço.

A balança comercial é conhecida por todos, todas as noites dos boletins

econômicos dos telejornais ou as manchetes dos jornais impressos ou eletrônicos

falam dela, falam do superávit ou déficit comercial. Esta balança contabiliza a troca

de produtos tangíveis entre o país e o resto do mundo, ou seja, a contabilidade entre

o que é exportado e o que é importando. Existe sempre um grande esforço para que

esta balança seja superavitária, ou seja, para que ocorra mais exportação do que

importação. E este esforço se concentra nas exportações de bens primários, matéria

prima, que ocorrem em benefício da indústria dos países centrais do capitalismo.

Como a divisa aceita no comércio e nas transações internacionais é o dólar, o saldo

da balança comercial significa, também, que são dólares que internalizados no país.

No outro lado da contabilidade nacional está a balança de serviço . Esta é

desconhecida por todos, nunca aparece nos boletins econômicos dos telejornais

nem nas manchetes dos jornais impressos ou eletrônicos, ninguém fala dela. A

importância dela é tamanha que os economistas contratados a peso de ouro para

falar suas baboseiras nos jornais, assumem o compromisso de não tratar desse

assunto.

Por isso o imenso esforço para internalizar dólares. É importante discutir para onde

estão indo estes dólares resultado do trabalho brasileiro.

A balança de serviço nos países centrais do capitalismo é superavitária, enquanto

nos países periférico, como no caso do Brasil, ela é obrigatoriamente deficitária.

Simplesmente esta balança contabiliza o ajuste de contas financeiras, ou que entra

e o que sai de dólares no país. Como sempre sai mais dólares do que entra, ela é

sempre deficitária. Esta balança faz as contas que interessam a expansão do

capital resultante do imperialismo globalizado vigente. Esta balança contabiliza o

turismo e as viagens ao estrangeiro, o transporte internacional, pagamentos de

salários e remunerações no estrangeiro, pagamento de royalties, a remessa de

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renda e a remessa de lucro. Como sai mais brasileiro para o exterior do que vem

para o Brasil, como 90% das cargas do Brasil são transportados em navios

estrangeiros, como o Brasil paga mais salários e consultoria do que recebe, como o

Brasil paga royalties pelas tecnologias e projetos das fábricas instaladas aqui, mas

não tem tecnologia sua instalada no exterior, como o Brasil não empresta dinheiro

ao mundo nem tem indústria no mundo, para receber lucros ou rendas, esta balança

de serviço é necessariamente deficitária. Como o dinheiro aceito no mundo é o

dólar, o Brasil precisa de dólares para pagar esses serviços. Onde o Brasil vai

conseguir dólares para cobrir o déficit desta balança? No saldo positivo da balança

comercial feito com exportação de matéria prima, bens primários de baixo valor

agregado.

Portanto, o grande PIB brasileiro nada significa para os povos nacionais. A dinâmica

da economia brasileira está diretamente focada para atender aos interesses das

grandes corporações capitalistas internacionais. As elites brasileiras sabem disso,

mas se contentam, pois o pouco que recebe é o suficiente para serem elites e

poderosos num pais de miseráveis que sofrem as consequências da

superexploração.

5. Elementos para fazer a análise da conjuntura política

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6. Plataforma de lutas

A plataforma deve ter por objetivo organizar os trabalhares, fazer alianças nas lutas

e desorganizar os adversários. A plataforma não pode ser a expressão das vontades

dos lutadores, mas sim uma fermenta das lutas dos lutadores. Desenvolver o

sentimento nacional de pertencimento do lugar. Agregar os povos brasileiros, os

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explorados a partir da capacidade de apresentar um projeto de natação, que todos

se sintam representados. Isto só pode acontecer se existir a fusão entre a esquerda

marxista com intelectuais e cientistas que trabalham os conceitos e as

reivindicações de interesses populares.

Habitualmente as plataformas de lutas da esquerda tem sido uma pauta de

reivindicações aos capitalistas, empresários e governantes empregados dos

capitalistas, ou seja, a pauta típica da assistência social ou reformismos politico.

Não eliminar nem confundir com pautas de associações de categorias (sindicatos,

estudantes, moradores de bairro populares, artes, mulheres, negros, povos nativos,

homossexuais, LGTB etc.) que são legítimas e corretas pra organizar os trabalhos e

reivindicações específicos . Mas não podem ser transformada em plataforma do

partido. O partido deve apoiar, lutar e fazer parte das lutas e campanhas específicas.

Ou se muda o caráter do programa da esquerda ou a historia desconhecerá todos

os esforços feitos pela juventude na perspectiva da melhor vida para o povo.

A esquerda, por mais que declare e se diga contra, não tem sido apenas reformistas,

mas acaba sendo uma linha de auxílios nos processos de conflitos sociais.,

Portanto, a plataforma de luta para os povos brasileiros romper com a trajetória

tranquila do Brasil ser fornecedor de matéria prima e rendas de capital nesses seus

515 anos de existência, deve sair da superfície e mergulhar fundo nos contradições

e conflitos da luta de classe no Brasil.

a) Apresentar e discutir com a sociedade brasileira um projeto de nação. Tornar

este projeto a peça de campanha para enfrentar a crise econômica, social e

ambiental, Mostrar as razoes dessas crises e as soluções. Mostrar como a

burguesia, as elites, brasileira produz a crise em seu beneficio-o e como tiram

proveito dessas cries. E os interesses que têm em permanecer no quadro de

crise.

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b) Debater, explicitar, divulgar e fazer campanha com os temas: Orçamento

Público da União, Divida Pública e Contabilidade Nacional;

c) Realizar grandes debates e campanha pela mudança curricular a das

universidades que hoje estão voltadas para a formação de mão de obra para a

indústria de exportação de matéria prima ou de renda

d) Campanha por emprego, educação, saúde, qualidade de vida, condições

sociais conectadas com as mudanças dos perfis de exploração, uso e

comercialização agricultura, mineração e indústria.

e) Articulação nacional e internacional, particularmente na AL para discutir com a

sociedade uma política de não exportação de matéria prima e sim do uso

dessa matéria prima, o que significa o desenvolvimento da industrial local,

nacional.

f) Rediscutir a política nacional de energia, em especial a hidroeletricidade e o

petróleo.

g) Rediscutir a política mineral do país, campanha contra o saque.

h) Combater o agronegócios que toma terras, destrói o meio ambiente, degrada

socialmente, ambiental e economicamente o Brasil. Empobrece o Brasil

gerando poucos empregos precários;

i) Preservação do potencial competitivo pela conservação da biodiversidade

brasileira representadas pelos fármacos, madeiras, fibras, gorduras, óleos,

madeiras, essências, fibras, frutas etc.

j) Preservação das florestas nacionais, rios e fluxo hídrico aéreo da Amazônia

para o resto do Brasil para assegurar o diferencial competitivo na produção de

energia e manter as condições de desenvolvimento autônomo e independente.