169
Melhorar A Hor Manual Para Fo Inh A Nutrição Atravé rtas Familiares ormação De Técnicos De Ca Extensão 2ª Revisão e Edição Abel Zito G. Buce hambane, Moçambique 2016 és Das ampo e

Manual de formacao_de_tecnicos_de_campo[2]

Embed Size (px)

Citation preview

Melhorar A Nutrição Através Das

Hortas FamiliaresManual Para Formação

Inhambane, Moçambique 2016

A Nutrição Através Das

Hortas Familiares Formação De Técnicos De Campo e

Extensão

2ª Revisão e Edição

Abel Zito G. Buce

Inhambane, Moçambique 2016

A Nutrição Através Das

De Campo e

AGRADECIMENTOS

O presente manual de formação foi preparado pelo Serviço de Programas de Nutrição da Divisão de Alimentação e Nutrição (ESN) da FAO. Trata-se da adaptação de uma obra muito popular, publicada em inglês com o título: Improving nutrition through home gardening: a training package for preparing field workers in Southeast Asia.

Numerosas pessoas contribuíram para a adaptação deste curso de formação e do seu conteúdo técnico, a fim de poder ser utilizado em África.

A Divisão de Alimentação e Nutrição gostaria de agradecer às Dr.as Ingrid Lewis e Charity Dirorimwe por compartilharem o seu amplo conhecimento técnico e experiência nos campos da agronomia e horticultura, e da nutrição comunitária em África, respectivamente. Ellen Muehlhoff da Divisão de Alimentação e Nutrição foi responsável pela supervisão geral e pela finalização deste módulo de formação. Expressamos também o nosso reconhecimento pelos valiosos contributos do pessoal técnico da FAO pertencente às divisões de Produção Vegetal e de Protecção das Plantas, de Desenvolvimento da Terra e da Água e Sistemas de Apoio à Agricultura. Gostaríamos de agradecer a Davies Zulu pela realização dos desenhos, a Maria-Manuel Valagão pela tradução portuguesa, a Jorge Colaço pelo trabalho editorial e a Xilef Welner pela paginação e design.

INTRODUÇÃO

O presente módulo de formação, Melhorar a nutrição através das hortas familiares, destina-se aos técnicos de extensão rural e a outros que trabalham no domínio da nutrição, da economia familiar, da saúde e do desenvolvimento comunitário em África. Tem como objectivo reforçar a sua capacidade para promover as hortas familiares, com vista a melhorar a segurança alimentar e a nutrição das comunidades e das famílias.

A Divisão de Alimentação e da Nutrição da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) adaptou este curso de formação, a pedido dos nutricionistas e especialistas de agricultura em África, a partir da obra Improving nutrition through home gardening: a training package for preparing field workers in Southeast Asia (FAO, 1995).

Este novo módulo de formação mantém o esquema geral e a abordagem pedagógica da versão do Sudoeste Asiático, que se revelou de fácil aplicação. Foi, porém, totalmente revisto, por forma a ter em conta os hábitos alimentares e as condições agro-ecológicas, climáticas e socioculturais das zonas rurais e periurbanas de África.

A segurança alimentar foi definida pela FAO e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como "o acesso de todos, a todo o tempo, aos alimentos necessários para levar uma vida saudável" (FAO/OMS, "Declaração Mundial sobre a nutrição e Plano de acção", Relatório Final da Conferência Internacional sobre Nutrição, Roma, 1992). Ter acesso a uma alimentação segura e nutricionalmente adequada é um dos direitos fundamentais de todo o ser humano; contudo, um número significativo de famílias africanas tem dificuldades em alcançar este direito. No entanto, se as famílias tiverem alguma terra e força de trabalho, e conseguirem complementar isso com sementes, melhor equipamento e a informação correcta, podem melhorar as suas terras e obter mais alimentos nutritivos.

Em numerosas regiões húmidas e sub-húmidas de África, as populações cultivam frequentemente áreas agrícolas, muitas vezes designadas quintais ou hortas caseiras. Em África, as hortas são uma tradição bem estabelecida e constituem uma fonte importante de alimentos para as famílias. Elas possibilitam a satisfação das necessidades alimentares durante os períodos de escassez, sendo ainda uma fonte de rendimentos. As hortas são geralmente mantidas por mulheres, que as utilizam para aí produzir culturas temporãs, tais como o milho verde e árvores de fruto, e ainda legumes e especiarias que são utilizados para preparar os temperos. Quando uma horta é bem gerida, ainda que seja uma pequena porção de terra (por exemplo 100 m²), pode fornecer um contributo substancial à alimentação e ao bem estar nutricional das famílias.

Dada a diversidade agro-ecológica, climática e sociocultural do continente africano, assim como dos seus países e regiões, o presente módulo de formação não pode ter em consideração todos os aspectos e responder a todas as necessidades. Fornece, contudo, conselhos práticos e opções tecnológicas para criar hortas em diferentes zonas climáticas (húmida, sub-húmida e semiárida).

Ao utilizar este módulo de formação, é importante avaliar as necessidades para cada situação individualmente. Com base nesta avaliação, o material de formação pode ser adaptado em função de situações alimentares e nutricionais específicas, assim como do potencial agrícola e económico, e das limitações de cada localidade ou grupo de população.

O PAPEL DOS TÉCNICOS AGRÍCOLAS NO MELHORAMENTO DA NUTRIÇÃO DA COMUNIDADE E DAS FAMÍLIAS

Na maior parte dos países africanos, os extensionistas agrícolas e os técnicos de campo são formados para promover a produção vegetal e animal, mas raramente têm uma formação que lhes permita relacionar a produção alimentar com as necessidades nutricionais do ser humano. Como os técnicos de campo estão em contacto directo com as comunidades rurais, podem contribuir para promover a produção alimentar das famílias e para melhorar a sua dieta através das hortas familiares.

Quando for necessário, técnicos da extensão rural podem aconselhar a comunidade e encorajá-la a praticar diferentes culturas, tanto para o consumo familiar como também para venda. Para além da formação que este módulo proporciona em matéria de produção alimentar, mostra igualmente que, se os alimentos forem produzidos e preparados convenientemente, e posteriormente consumidos em quantidades e associações adequadas, podem contribuir para melhorar a saúde e o bem-estar nutricional.

Ao integrar os aspectos da produção e do consumo alimentar, o presente módulo fornece um conjunto completo de material didáctico destinado aos extensionistas. O material pode igualmente ser utilizado para a formação intersectorial das equipas de agentes comunitários, nomeadamente dos agentes de divulgação agrícola e outros técnicos de campo. Como a nutrição depende de numerosos factores - segurança alimentar, saúde, educação e cuidados - , são necessárias quer uma formação nos diferentes sectores, quer acções simultâneas em todos os domínios que afectam a nutrição, para obter um resultado nutricional óptimo.

Este módulo de formação centra-se essencialmente nas culturas alimentares - legumes, raízes e tubérculos, frutos e leguminosas - geralmente praticadas nas hortas de África. Embora a criação de animais, especialmente a de pequenos ruminantes e de aves, seja um sector importante das hortas, ela não será abordada neste módulo de formação.

QUAL É O CONTEÚDO DO MÓDULO DE FORMAÇÃO ?

O melhoramento da produção alimentar requer soluções simultaneamente técnicas e administrativas para os problemas encontrados no cultivo das hortas. Os técnicos de campo só podem chegar a soluções técnicas apropriadas (por exemplo, melhoria do solo, produtividade das culturas, factores de produção) depois de terem trabalhado em conjunto com a comunidade para avaliar a situação. Este módulo de formação segue essa abordagem e procura integrar cuidadosamente os aspectos técnicos e os aspectos administrativos.

O módulo de formação compreende três componentes:

material didáctico e notas técnicas destinados aos formadores, e material didáctico destinado aos técnicos de campo;

fichas de informação destinadas aos formadores e aos técnicos de campo; rubricas tecnológicas de horticultura destinadas aos técnicos de campo, bem como aos horticultores ou aos

membros alfabetizados das famílias.

O material didáctico está dividido em dez sessões. Nas sessões 1, 2 e 3, os participantes começam a compreender o papel da horta na vida familiar quotidiana e adquirem noções de nutrição. As sessões 4, 5 e 6 abordam os factores que afectam a segurança alimentar das famílias e o seu bem estar nutricional, assim como as possibilidades de melhorar o contributo das hortas familiares para o bem-estar nutricional das comunidades e das famílias. A sessão 7 prepara os participantes para efectuarem uma avaliação das necessidades, consultando as comunidades e as famílias envolvidas. As sessões 8, 9 e 10 são sessões práticas, durante as quais os participantes aprendem a ajudar as comunidades e as famílias a planificar a horta ou a introduzir modificações, com vista a melhorar a produção vege-tal, aumentar a diversidade alimentar e satisfazer as necessidades nutricionais da família.

O material didáctico destinado aos formadores e aos técnicos de campo fornece uma introdução a cada assunto e deve ser distribuído aos participantes em cada sessão de formação. As notas técnicas para os formadores traçam um programa de actividades e propõem mensagens "prioritárias" para cada sessão. Estas notas servirão de guia aos formadores que, durante a formação, actuam como animadores.

As Fichas de Informação destinadas aos formadores e aos extensionistas contêm informações técnicas sobre cada tema e devem ser distribuídas aos participantes, como indicado nas notas técnicas para os formadores.

As Rubricas Tecnológicas de Horticultura, num total de 18, são concebidas para serem utilizadas pelos técnicos de campo, assim como pelos horticultores ou membros alfabetizados da família. Cada uma destas rubricas fornece informações sobre uma opção tecnológica diferente ou sobre uma forma particular de melhorar a horta e a utilização dos produtos hortícolas. As rubricas podem permitir aos técnicos de campo e a outras pessoas ajudarem as comunidades a resolver os seus problemas alimentares e nutricionais, diversificando a produção alimentar, melhorando os hábitos alimentares e reforçando o valor nutricional do regimes alimentares.

QUAL É O OBJECTIVO DO MÓDULO DE FORMAÇÃO?

O material didáctico contido neste módulo ajuda os formadores a mostrar como e porquê uma horta pode contribuir significativamente para satisfazer as necessidades alimentares diárias das famílias, com vista a melhorar a nutrição e a saúde. Numa situação ideal, este curso de formação deveria desenvolver-se como parte de um programa de apoio às famílias, já existente, sobre segurança alimentar e nutricional. Isso permitiria aos técnicos de campo aproveitar as infra-estruturas do programa existente e obter ao mesmo tempo a experiência prática, ao aplicarem os conhecimentos e as aptidões adquiridos.

O curso fornece aos extensionistas agrícolas e aos técnicos de campo as qualificações necessárias no domínio da técnica, da planificação e da gestão para ajudar as famílias rurais a identificarem os problemas de produção alimentar familiar e de nutrição e a procurarem soluções para melhorar a sua situação. Os técnicos de campo e as comunidades das zonas periurbanas, onde existam terra e água suficientes para cultivar, encontrarão também algumas secções e rubricas tecnológicas de horticultura apropriadas às suas necessidades.

Para que o material didáctico seja apropriado e para que tenha um significado prático para os participantes, os formadores deverão adaptar os materiais didácticos e os estudos de caso a cada situação local. Nesse sentido, deve-se prever tempo suficiente para esta adaptação durante a preparação do curso (workshop).

QUEM DEVE PARTICIPAR NA FORMAÇÃO?

Os agentes de divulgação agrícola constituem o principal grupo alvo do presente módulo de formação e podem portanto constituir a maior parte dos participantes no curso. Outros técnicos de campo devem também integrar a formação, por exemplo os agentes de economia doméstica, os agentes de desenvolvimento comunitário e os da saúde, os professores e todos aqueles que se interessam pela melhoria da nutrição através do desenvolvimento comunitário, o que inclui também o pessoal das organizações não governamentais (ONGs) e das missões. O trabalho de grupo e a interacção entre todos os agentes do desenvolvimento, trabalhando ao nível comunitário favorecem uma boa compreensão e permitem apreciar melhor o papel que cada sector pode desempenhar na melhoria do estado nutricional. A habilidade dos técnicos de campo para levar os membros da comunidade a falarem abertamente dos seus problemas alimentares e nutricionais, assim como para coordenar as actividades de nutrição e de horticultura em diferentes sectores, é de uma importância crucial para o sucesso do programa.

Embora este curso de formação integre alguns métodos e instrumentos de participação nos exercícios e visitas de campo, não tem como finalidade fornecer aos técnicos de campo uma formação no domínio da avaliação e da planificação participativa ao nível local. Se os técnicos de campo não tiverem esta experiência, deverão seguir uma formação específica com sessões práticas, a fim de aprenderem métodos e instrumentos práticos e de os aplicarem caso a caso às situações locais[1].

Na formação, como em todas as actividades de desenvolvimento, é muito importante ter em consideração as questões do género "papel do homem e da mulher". Em muitos países, a maior parte dos extensionistas agrícolas são homens, e o trabalho prático de divulgação, no que se refere aos factores de produção, à tecnologia, aos serviços e à formação, é muitas vezes dirigido só aos homens. Isto acontece apesar de as mulheres desempenharem um papel crucial em todos os aspectos da produção alimentar, da produção de rendimentos e da nutrição da família. Para ajudar as mulheres a serem capazes de ter acesso à informação e a tecnologia melhorada de produção agrícola, os técnicos de campo devem considerar as necessidades das mulheres ao mesmo nível das dos homens.

Por isso, no momento da selecção dos técnicos de campo que irão participar na formação, as mulheres especializadas em divulgação agrícola, desenvolvimento comunitário, educação, saúde e nutrição devem ter as mesmas oportunidades de participar que os homens. O facto de se ter em consideração a igualdade entre homens e mulheres na composição do grupo e de se assegurar uma distribuição igualitária das responsabilidades durante a formação e durante o trabalho de campo, facilitará uma melhor compreensão dos problemas da segurança alimentar e da nutrição na aldeia. Assim, os técnicos de campo poderão mais facilmente ajudar as comunidades a resolverem os problemas alimentares e nutricionais relacionados com o acesso desigual aos recursos e aos serviços. Isto permitirá igualmente compreender a necessidade de adaptar os serviços de divulgação e os serviços técnicos às mulheres que participam na produção, a fim de assegurar que as mulheres se tornem parceiros iguais aos homens no domínio do desenvolvimento.

QUEM DEVE ASSEGURAR A FORMAÇÃO?

O programa de formação deverá ser conduzido por dois formadores: um com experiência em agricultura e o outro com formação em nutrição comunitária. Pelo menos um dos formadores deverá ter experiência prática de avaliação rural participativa e de técnicas de divulgação. Os formadores devem ter experiência em formação participativa e estar familiarizados com os problemas e as necessidades das comunidades rurais. Esta formação deverá privilegiar as experiências e as aplicações práticas, com vista a permitir aos técnicos de extensão rural "aprender a fazer, fazendo".

QUAIS SÃO AS NECESSIDADES DE FORMAÇÃO DOS TÉCNICOS DE EXTENSÃO AGRÍCOLA?

Os formadores devem encorajar os participantes a utilizarem, na medida do possível, os seus conhecimentos e a sua experiência. Antes de decidir os detalhes do conteúdo programático do curso, os formadores devem avaliar as necessidades de formação dos técnicos de campo. Isto pode ser feito através de uma entrevista pessoal ou através da aplicação de um questionário. Cada agente de campo deve indicar os seus pontos fortes e os seus pontos fracos, assim como as suas expectativas. Este tipo de avaliação das necessidades pode permitir evitar certos erros frequentes na concepção da formação, por exemplo, perder tempo com um assunto que os técnicos de campo conhecem bem, omitir um tema útil, ou não dedicar tempo suficiente a assuntos que exigem mais atenção.

QUAL É A DURAÇÃO DO CURSO DE FORMAÇÃO?

Embora o curso de formação seja concebido para seis dias, a sua duração poderá variar de país para país. Os resultados da avaliação das necessidades podem também determinar a sua duração.

O curso foi delineado da seguinte forma: as sessões 1 a 6 requerem meio-dia cada uma; as sessões 7 e 8 requerem um dia inteiro cada uma; e as sessões 9 e 10, meio dia cada uma. Contudo, se os técnicos de campo tiverem conhecimentos relativamente fracos em horticultura, deve ser dedicado mais tempo ao estudo das Rubricas Tecnológicas de Horticultura. Neste caso, a duração do curso poderá ser prolongada de 1 a 3 dias. De acordo com a composição do grupo e a experiência dos técnicos de campo, deve-se permitir alguma flexibilidade nos horários. Dever-se-á igualmente prever tempo suficiente para as deslocações no trabalho de campo e para os intervalos.

ONDE DEVERÁ SER REALIZADA A FORMAÇÃO?

A formação deve ser realizada em meio rural ou perto de uma aldeia onde os técnicos de campo possam facilmente visitar as hortas e trabalhar directamente com os grupos comunitários e as famílias. A formação pode, por exemplo, realizar-se numa sala de aula da escola ou no salão paroquial, no centro comunitário ou no centro de formação de agricultores.

QUAL É O MATERIAL NECESSÁRIO?

Os formadores precisam de um número suficiente de exemplares do módulo de formação, assim como de «papel gigante» (quadro de conferência com papel), de canetas, marcadores e material de visualização (mapas, diagramas, etc.).

Algumas tabelas e quadros, listas de controlo e diagramas podem ser copiados para o «papel gigante» ou outro meio de visualização antes das sessões de formação. Os materiais, tais como as listas de controlo, as fichas de informação e as rubricas tecnológicas de horticultura, devem ser reproduzidos de modo a que os técnicos de campo possam utilizá-los durante as sessões. Cada agente de campo deverá receber dois ou mais exemplares das rubricas tecnológicas de horticultura como material de referência para o seu trabalho diário e para distribuir aos horticultores ou aos membros alfabetizados das famílias da comunidade.

Para preparar a Sessão 5, que se realizará no terceiro dia do curso, os formadores deverão distribuir as Fichas de Informação 1 e 2, bem como da 6 à 12, e todas as Rubricas Tecnológicas de Horticultura logo no primeiro dia da formação, pedindo aos técnicos de campo para estudarem uma parte deste material em cada noite (duas ou três fichas por noite). Para informações mais aprofundadas, os formadores devem confrontar a secção sobre as actividades da Sessão 5.

ACÇÃO DE ACOMPANHAMENTO CONDUZIDA PELOS TÉCNICOS EXTENSIONISTAS

Cada família e cada comunidade são diferentes entre si. Por isso, as soluções para os problemas da produção alimentar e da nutrição devem ser adaptados às necessidades e aos meios de cada família e da cada comunidade. Os técnicos de campo que receberam formação podem ajudar as famílias a analisar a sua horta e a decidir quais as mudanças que podem e querem ali introduzir. Mais tarde, os técnicos de campo podem ajudar as famílias a apreciar os progressos alcançados e a avaliar os resultados.

NOTAS TÉCNICAS DESTINADAS AOS FORMADORES

Durante a preparação do programa de formação, os dois formadores devem decidir como repartir o trabalho, com base na competência técnica de cada formador(a), assim como na sua experiência e na sua capacidade de formar.

Antes de cada sessão de formação, os formadores devem ler e compreender as notas técnicas e estabelecer um programa de actividades. O trabalho dos formadores consiste em estruturar e animar, mais do que em instruir e transmitir informações. Os formadores deverão iniciar as discussões e depois orientarem a participação dos técnicos de campo nessas discussões. Durante as sessões técnicas, os técnicos de campo deverão partilhar as suas ideias, as suas experiências e competências.

Apoiando-se nas notas técnicas, os formadores deverão apresentar o objectivo do programa de formação e os principais assuntos a tratar, e depois iniciar a discussão e encorajar os técnicos de campo a partilhar os seus conhecimentos e experiência. No início de cada sessão, um dos formadores deverá comunicar os objectivos da mesma e, no final, resumir os principais pontos tratados.

Os formadores deverão utilizar uma gama variada de métodos de formação: apresentações clássicas em sala de aula, reuniões de discussão, visitas a famílias e visitas de campo, trabalhos de grupo, simulações, estudos de caso e avaliação com as famílias acerca da situação alimentar e nutricional.

NOTAS SOBRE AS VISITAS DE CAMPO

Nas visitas às famílias e nas visitas de campo, aconselha-se que os formadores identifiquem as famílias em função dos diferentes tipos de hortas, ou seja, as famílias que têm a horta bem tratada e aquelas que não têm a horta bem tratada, como base de comparação. É obviamente preferível que os técnicos de campo e os formadores falem a língua local, o que facilita a comunicação.

As discussões entre os membros de uma família e os técnicos de campo devem ser participativas. Isto significa que os técnicos de campo devem descobrir, em conjunto com a comunidade e com a família, quando e porquê uma família usa determinadas práticas na produção de hortícolas. Assim, os técnicos de campo desenvolvem uma visão de conjunto das tecnologias e dos planos de cultura locais, assim como das práticas e dos hábitos relativos à produção, armazenamento, processamento e consumo dos alimentos. As sessões devem terminar com debates sobre os assuntos considerados problemáticos, e sobre a forma como esses problemas poderão ser resolvidos ou atenuados pelas famílias ou pela comunidade.

[1] Existe un manual de fácil compreensão sobre os métodos e instrumentos de participação, intitulado: Programa de análise sócio-económica e de género - Manual de trabalho de campo, elaborado por V. L. Wilde, FAO, 1998, Roma.

Índice

AGRADECIMENTOS

INTRODUÇÃO

MATERIAL DIDÁCTICO E NOTAS TÉCNICAS

SESSÃO 1: O PAPEL DA HORTA FAMILIAR: PRIMEIRA VISITA À HORTA SESSÃO 2: NOÇÕES PRÁTICAS DE NUTRIÇÃO PARA TÉCNICOS DE EXTENSÃO AGRÍCOLA (1) SESSÃO 3: NOÇÕES PRÁTICAS DE NUTRIÇÃO PARA TÉCNICOS DE EXTENSÃO AGRÍCOLA (2) SESSÃO 4: FACTORES QUE AFECTAM A SEGURANÇA ALIMENTAR E O ESTADO NUTRICIONAL DAS FAMÍLIAS SESSÃO 5: MELHORAR A CONTRIBUIÇÃO DA HORTA PARA RESPONDER ÀS NECESSIDADES ALIMENTARES DIÁRIAS DA FAMÍLIA SESSÃO 6: ESTUDO DE CASO SESSÃO 7: PROMOVER AS HORTAS PARA MELHORAR A NUTRIÇÃO: SEGUNDA VISITA À HORTA SESSÃO 8: PROMOVER AS HORTAS FAMILIARES PARA MELHORAR A NUTRIÇÃO: TERCEIRA VISITA À HORTA SESSÃO 9: MELHORAR A NUTRIÇÃO ATRAVÉS DAS HORTAS FAMILIARES: ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE ACÇÃO SESSÃO 10: PREPARAR PLANOS DE ACÇÃO COM A COMUNIDADE

FICHAS DE INFORMAÇÃO

FICHA DE INFORMAÇÃO 1: DEFINIÇÃO E CONCEITO DE HORTA EM ÁFRICA FICHA DE INFORMAÇÃO 2: PROBLEMAS ALIMENTARES E NUTRICIONAIS FICHA DE INFORMAÇÃO 3: RECEITAS PARA A CONFECÇÃO DE PRATOS NUTRITIVOS FICHA DE INFORMAÇÃO 4: REFEIÇÕES LIGEIRAS, NUTRITIVAS E SABOROSAS PARA CRIANÇAS PEQUENAS FICHA DE INFORMAÇÃO 5: PROCESSAMENTO E PREPARAÇÃO CASEIRA DE ALIMENTOS DE DESMAME O DESMAME FICHA DE INFORMAÇÃO 6: MANEIO DO SOLO FICHA DE INFORMAÇÃO 7: NUTRIENTES DAS PLANTAS: PAPEL E FONTES FICHA DE INFORMAÇÃO 8: O SOLO E AS PLANTAS COMO UM SISTEMA FICHA DE INFORMAÇÃO 9: GESTÃO DA ÁGUA FICHA DE INFORMAÇÃO 10: LUTA CONTRA ERVAS DANINHAS E PRAGAS FICHA DE INFORMAÇÃO 11: MANEIO DA CULTURA FICHA DE INFORMAÇÃO 12: ALARGAR A BASE DAS FONTES ALIMENTARES ATRAVÉS DAS PLANTAS LOCAIS

ANEXO 1: ÍNDICE DOS NOMES DE PLANTAS E DAS CULTURAS DE SUBSTITUIÇÃO

ANEXO 2: COMPOSIÇÃO APROXIMATIVA DOS ALIMENTOS

ANEXO 3: NOÇÕES IMPORTANTES SOBRE CULTIVO E CONSERVAÇÃO DOS PRINCIPAIS PRODUTOS DA HORTA

BIBLIOGRAFIA

CONTRACAPA

SESSÃO 1: O PAPEL DA HORTA FAMILIAR: PRIMEIRA VISITA À HORTA

OBJECTIVO

No fim desta sessão, os técnicos de campo estarão aptos a compreender a importância das hortas na vida quotidiana das famílias.

FIGURA 1.1 A horta fornece alimentos, combustível para cozinhar, ervas aromáticas, especiarias e flores e gera rendimentos.

ABORDAGEM GERAL

A horta familiar é uma parcela de terra extremamente importante em África. Como o seu nome sugere, pode situar-se em torno da habitação, mas está frequentemente localizada junto de um ponto permanente de água, como uma ribeira, uma lagoa ou um pântano. A horta familiar representa muitas vezes um dos vários sistemas agrícolas praticados por uma família rural. Contudo, em zonas urbanas e periurbanas, ou em lugares onde a terra é escassa, as hortas familiares podem ser as únicas parcelas cultivadas.

Em África, as hortas variam em função de factores agro-ecológicos, climáticos e culturais. Nas regiões húmidas e sub-húmidas da África central e ocidental, a horta familiar inclui muitas vezes uma parcela agrícola permanente onde se praticam culturas perenes e anuais. Nalguns casos, a horta rodeia a habitação, existindo algumas veredas conduzem a outras unidades de produção dedicadas a culturas anuais para consumo da família ou para o mercado. Noutros casos, a horta fica situada a uma certa distância da habitação, mas perto de um ponto de água.

A biodiversidade hortas familiares diminui das zonas húmidas, onde a pluviometria anual excede os 1.100 mm, para zonas semi-áridas ou áridas, onde a pluviometria anual varia entre 500 e 900 mm, não atingindo senão uns 250 a 500 mm, nas zonas saharianas. A falta de água constitui o maior obstáculo às hortas nas regiões secas, mas mesmo nestas áreas é possível ter hortas. Algumas culturas podem crescer em períodos secos, graças a uma boa gestão dos solos e a soluções económicas e eficazes de recolha e armazenamento de água. Para uma informação mais detalhada sobre as hortas familiares em África, veja-se a Ficha de Informação 1-"Definição e conceito de hortas familiares em África".

A visita às hortas familiares que será discutida nesta sessão ajudará os técnicos de campo participantes a conhecer melhor:

o papel das hortas como o meio mais directo de aprovisionamento diário de alimentos durante todo o ano, particularmente de legumes e frutos, e a sua função de rede de segurança alimentar durante a estação pobre;

a dimensão média das hortas locais, a variedade de culturas praticadas e as variações sazonais; o contributo que uma horta familiar bem tratada, por oposição a uma menos bem tratada, pode significar

para a segurança alimentar da família.

ACTIVIDADES

O formador visita a comunidade e, em concertação com as pessoas influentes da comunidade e com as famílias, selecciona um número de famílias com hortas bem tratadas e um igual número de famílias com hortas menos bem tratadas. O número de hortas seleccionadas dependerá do número de grupos de técnicos de campo que participam no programa. O formador explica a finalidade da visita e fixa as marcações de visitas a hortas familiares. Deve-se ter um cuidado especial em incluir famílias nas quais o chefe de família é uma mulher.

Discussão. Depois de apresentar o objectivo da sessão e de ter definido os objectivos da primeira visita à horta, o formador promove a discussão entre os técnicos de campo sobre os seguintes pontos:

a definição de uma horta familiar e a sua importância para as famílias da região; o papel e utilização das hortas familiares; alimentos geralmente produzidos nas hortas familiares e variações sazonais.

Seguidamente os técnicos de campo comunicam os seus pontos de vista e experiências sobre estes assuntos.

Preparação da visita de campo. O formador prepara os participantes para a visita de campo elaborando uma lista de controlo preliminar, que é semelhante à Lista de Controlo 1, mas que inclui questões relevantes para a situação local. Divide então os técnicos de campo em grupos pequenos, de cinco ou seis, certificando-se de que os diferentes sectores - agricultura, nutrição ou saúde, desenvolvimento comunitário e educação - estão bem representados em cada grupo e, se possível, de que há um número igual de homens e de mulheres.

O grupo de técnicos de campo constituído no princípio do curso de formação, deverá trabalhar em equipa durante todas as aulas teóricas e todas as sessões práticas. O curso de formação compreenderá ao todo três visitas a hortas familiares ou visitas de campo.

Planificação da visita de campo. Para preparar o trabalho de campo, o formador apresenta as seguintes etapas da planificação:

identificar os objectivos para a avaliação das famílias; identificar as comunidades a visitar e avisá-las da visita; rever os dados disponíveis; decidir quais os dados complementares a recolher; identificar grupos ou indivíduos da comunidade que estejam suficientemente informados para poderem

apoiar as entrevistas de grupo ou individuais; elaborar uma lista de controlo das informações para cada entrevista; seleccionar técnicas de avaliação para a recolha dos dados necessários.

O formador pede aos participantes para identificarem os objectivos da sua primeira visita de campo. Tal pode consistir em identificar:

critérios de uma horta bem tratada ou de uma menos bem tratada; quais as famílias que têm hortas bem tratadas e quais as que não têm; tipos de culturas praticadas na horta e suas utilizações (isto é, consumo familiar, venda); quais as famílias que não conseguem satisfazer as suas necessidades nutricionais.

Quando os participantes chegarem a um acordo sobre os objectivos da visita de campo, deverão identificar o tipo de dados necessários e como recolhê-los de acordo com o guia de planificação acima referido. Durante a primeira visita de campo, os participantes realizarão entrevistas a pessoas influentes (representantes da aldeia) ou aos membros das famílias (marido, mulher, filhos).

Revisão e adaptação da lista de controlo. O formador distribui a Lista de Controlo 1 aos técnicos de campo e explica o seu objectivo. A lista contém uma série de perguntas abertas sobre os assuntos mencionados. Alguns entrevistadores preferem ter uma lista de controlo pormenorizada de modo a não esquecerem o que devem perguntar; outros sentem-se melhor só com uma lista de tópicos ou de perguntas gerais. Em inquéritos familiares, uma lista de controlo permite mais flexibilidade do que um questionário, porque a conversa tende a decorrer mais espontaneamente, o que dá ao entrevistado a oportunidade de sugerir assuntos em que o entrevistador não tenha pensado. O formador pede depois aos participantes para reflectirem sobre se a lista de controlo preenche ou não todos os temas necessários para atingir os objectivos da visita de campo.

Nota: As listas de controlo deste manual foram concebidas como guias de orientação. Como tal, não impõem questões ou assuntos a tratar.

Interacção com a comunidade. Depois de os participantes se apresentarem e explicarem a razão da sua visita, uma boa maneira de iniciar a entrevista consiste em fazer perguntas sobre as actividades actuais dos agricultores. Outras boas questões introdutórias podem incidir sobre aspectos de ordem geral da comunidade, tais como o número de famílias na aldeia, os serviços e infra-estruturas existentes e as principais culturas praticadas (ver a Secção A da Lista de Controlo destinada aos representantes locais). Os técnicos de campo devem saber avaliar o clima de intimidade criado com os entrevistados antes de fazerem perguntas mais sensíveis, tais como as que se referem aos tipos de alimentos consumidos, o número de refeições diárias, e se produzem ou não alimentos suficientes para as necessidades das famílias.

As questões e assuntos incluídos na lista de controlo devem ser conduzidos de uma maneira descontraída. Certificando-se de que todos os elementos da lista estão tratados, os técnicos de campo devem fazer com que os membros da comunidade se sintam à -vontade e capazes de exprimir livremente as suas opiniões.

Deve-se evitar fazer perguntas orientadas (perguntas que sugiram a resposta desejada pelo entrevistador; perguntas que possam ser respondidas com "sim" ou "não"; ou perguntas que não conduzam a discussão para um nível mais profundo). Os bons entrevistadores fazem perguntas que aprofundam quer os seus próprios conhecimentos, quer os do entrevistado (por exemplo, em vez de perguntar "Produz vegetais?", um entrevistador pergunta "Que vegetais produziu este ano? Que variedades? Porque é que plantou estes neste lugar?"). Perguntas iniciadas pelas palavras porquê, quem, o quê, onde, quando e como são geralmente boas perguntas para suscitar respostas pormenorizadas.

A atitude dos técnicos de campo para com a comunidade. Para poderem ajudar uma comunidade, os técnicos de campo devem dar às populações locais a oportunidade de descrever o modo como desempenham certas tarefas, o que sabem e o que desejam. Assim, os técnicos de campo deverão esforçar-se por compreender a situação local e apoiar a comunidade na procura de soluções e de como pô-las em prática. Enquanto pessoas exteriores à comunidade, os técnicos de campo têm sobretudo um papel de escuta e de animação, mais do que de ensino ou de especialista. Observam, fazem perguntas, escutam, aprofundam com cuidado os pontos que necessitam de ser clarificados. Agindo deste modo, dão à população local a oportunidade de analisar os seus próprios problemas. Esta posição de respeito conduz geralmente a uma boa relação e colaboração entre os membros da comunidade e os técnicos de campo. Assim, estes dois grupos podem partilhar conhecimentos e competências, e trabalhar em conjunto para encontrar soluções.

Preparação do grupo para o trabalho de campo. Haverá três visitas de campo durante o curso de formação. Cada grupo de técnicos de campo deve indicar o seu animador, que pode apresentar o grupo à comunidade e às famílias, explicar a finalidade da visita e iniciar o diálogo com os membros das famílias. Outros elementos do grupo intervirão quando surgirem assuntos relacionados com a respectiva área de competência. O grupo seleccionará também um relator, que deve registar por escrito todas as respostas dadas pelos membros da comunidade durante a discussão. Para dar a todos a oportunidade de desempenharem os vários papéis de animação e de secretariado, adoptar-se-á um esquema de rotatividade de tarefas entre os membros da equipa, durante as três visitas de campo.

Organização do trabalho de campo. A visita de campo inicia-se com uma visita de cortesia aos chefes locais e um encontro com um grupo de membros da comunidade, antes de visitar os sítios de interesse e as famílias.

Primeira visita às hortas familiares. A primeira visita às hortas familiares permite aos participantes compreenderem globalmente a estrutura, o papel, as limitações e as potencialidades das hortas familiares na região. Depois de o formador ter explicado a preparação e organização da visita de campo, o grupo encontra-se com a comunidade; o animador do grupo apresenta a equipa e explica a finalidade da visita.

Os técnicos de campo começam por fazer perguntas gerais aos representantes da aldeia, antes de irem às hortas seleccionadas[2]. À medida que caminham pela aldeia e pelas hortas, os agentes podem falar com as pessoas sobre o que vão vendo (por exemplo, o solo, a ribeira, as culturas, as casas, os poços, as instalações sanitárias, o centro de saúde, a escola). Este método, chamado "visita de reconhecimento" (transect), proporciona aos técnicos de campo uma boa ideia sobre a região. Esta visita de reconhecimento pode também ser repetida com diferentes membros da comunidade, por exemplo um grupo de homens, um grupo de pessoas idosas ou de jovens da aldeia, permitindo reflectir assim sobre as diferenças de acesso aos recursos ou de participação na vida comunitária existentes entre homens e mulheres, ou pessoas de diferentes idades (são dados mais pormenores na Sessão 8, "Promover as hortas familiares para melhorar a nutrição").

Discussão em grupos pequenos. Os participantes voltam ao lugar da formação para resumirem as suas observações e organizarem a informação recolhida segundo o tipo de família (por exemplo, as famílias que têm hortas bem tratadas e as que têm hortas menos bem tratadas).

Discussão com o conjunto dos participantes. Cada grupo apresenta o resultado das suas observações em plenário, seguindo-se então a discussão. O formador pede aos grupos para comparar as diferenças fundamentais observadas entre as hortas que são bem tratadas e as que o não são; encoraja os técnicos de campo a discutirem o papel das hortas familiares no aprovisionamento alimentar das famílias em geral, e de algumas famílias em particular. No fim da sessão, o formador resume os resultados.

MATERIAL NECESSÁRIO

Lista de controlo 1 Quadro de conferência, papel, canetas ou lápis, marcadores.

LISTA DE CONTROLO 1:

AS FUNÇÕES DA HORTA

Nome do relator: ........................................................ Data: ................................................................

Nome da aldeia: ........................................................... Nome da família: .........................................

A) Lista de controlo destinada aos representantes/responsáveis locais

Os pontos que se seguem deverão ser discutidos durante a reunião inicial com os responsáveis locais e outros representantes da comunidade.

1. Número de famílias da aldeia; ......................................................................................................

2. Tamanho médio das famílias; .........................................................................................................

3. Características do clima/ da pluviosidade; .....................................................................................

4. Localização da aldeia (proximidade de estradas de alcatrão, de um centro distrital ou regional, de um mercado, de transportes públicos);

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

5. Equipamentos existentes na aldeia (por exemplo, escola, centro de saúde, centro de divulgação agrícola);

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

6. Tipos de comissões permanentes ou grupos comunitários locais (isto é, grupo de poupança, organizações de mulheres, grupos informais de iniciativa pessoal);

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

7. Recursos de água: ...........................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

8. Sistemas de produção alimentar:

a) Quais são as principais culturas alimentares?

..................................................................................................................................

b) Quais as culturas comerciais mais importantes?

...........................................................................................................................................

c) Quais os principais legumes cultivados?

...........................................................................................................................................

d) Qual é a percentagem de famílias que cultiva vegetais numa horta familiar durante a estação das chuvas? .................................................................................................

e) Qual a percentagem de famílias que têm hortas de estação seca?

...........................................................................................................................................

f) Qual a percentagem de famílias que têm árvores de fruto?

...........................................................................................................................................

g) Qual a percentagem de famílias que colhe alimentos na floresta?

...........................................................................................................................................

h) Qual o tipo de produção animal praticada?

...........................................................................................................................................

i) Qual a percentagem de famílias que pratica cada tipo de produção animal?

...........................................................................................................................................

j) Qual a percentagem de famílias que se dedica à pesca?

...........................................................................................................................................

9. Quais são as outras actividades geradoras de rendimentos?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

B) Lista de Controlo 1 para as entrevistas com as famílias

Os participantes pedem aos membros de cada família para lhes mostrarem os arredores das suas hortas, tomando notas atentas do que vêem (incluindo o tipo da casa, os espaços úteis e o uso da terra, os tipos de culturas praticadas à volta da casa e os sinais de doença ou de má nutrição nas crianças).

Para cada observação realizada, os técnicos de campo devem registar dois aspectos: (1) o que observaram; (2) a sua interpretação do que observaram. É importante que confrontem as suas observações e interpretações com a informação obtida no convívio com outras famílias e que as comparem com as opiniões de outros técnicos de campo. Assim, devem colocar aos membros das famílias as seguintes questões:

1. Quais são as principais utilizações da vossa horta?

Área de descanso Superfície (em metros quadrados) ou número de plantas/árvores

Local de repouso ou de convívio

Fornecer sombra

Area de utilidade Descrição das instalações ou dos processos

Abrigo de animais

Composto

Secagem e tratamento das colheitas

Vedações

Celeiros para armazenagem

Fonte/ reservatório

Reserva de lenha

Outros (especifique):

Área de produção ou económica Descrição das instalações ou dos processos

Culturas para venda

Culturas alimentares

Viveiro

Outros (especifique):

2. Da lista de culturas que se segue, quais são aquelas que pratica na sua horta?

Cultura

Estação Utilização dos produtos

Estação húmida

Estação seca

Consumo por famìlia (%)

Outros V = venda T =

troca

Coqueiro

Girassol, sementes

Palmeira dendém*

Outras culturas oleaginosas (especifique):

Batata-doce

Inhame

Mandioca

Outras raízes ou tubérculos (especifique):

Amendoim

Feijão-congo*

Feijão-nhemba*

Outras leguminosas (especifique):

Beringela

Quiabo

Pimento

Tomate

Legumes de folhas verdes (especifique):

Banana

Banana-pão

Manga

Papaia

Outros frutos (especifique):

* Ver outros nomes vulgares no Anexo 1, página 278.

3. Faz criação de animais? Quais?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

4. Quantos são os membros da família?

a) Adultos: ....................... b) Crianças (tomar nota das crianças com menos de 15 anos, especificando a idade)

5. Quais são as pessoas que trabalham:

a) nas áreas de cultivo? ....................... b) na horta ? ......................

6. Quem decide o que se deve cultivar:

a) nas terras de cultivo? ....................... b) na horta ? .......................

7. Quem dirige as actividades do dia-a-dia:

a) nas terras cultivo? ....................... b) na horta? .......................

8. Quais são os alimentos que consomem diariamente?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

9. Quais destes alimentos provêm da horta?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

10. Quais são os principais géneros alimentares que compram?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

11. Identifique três razões pelas quais a horta é importante?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

12. Quais são os três principais problemas que encontra para produzir uma grande variedade de alimentos na sua horta?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

13. Quais são as mudanças/melhoramentos que gostaria de fazer para produzir uma maior variedade de alimentos?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

NOTAS TÉCNICAS

Mensagens prioritárias

1

A horta é uma parcela de terra importante para as famílias africanas porque contribui significativamente para a sua segurança alimentar

2

Uma horta bem tratada preenche múltiplas funções

A horta é uma parcela de terra importante para as famílias africanas porque contribui significativamente para a sua segurança alimentar

Em muitas áreas húmidas e sub-húmidas de África, as hortas familiares são um elemento muito comum do sistema de produção alimentar. Em contrapartida, por causa da falta de água, as hortas são menos frequentes nas zonas áridas e semi-áridas de África.

Na maioria das comunidades africanas, a população local é tributária de uma ou duas culturas de base, tais como milho, milho-miúdo, sorgo arroz, tef, mandioca, inhame, batata-doce, banana-de-São-Tomé e banana-de-jardim. Estas culturas fornecem habitualmente o essencial (cerca de 60 a 80 %) da energia alimentar dos membros da família. Os produtos da horta completam os das culturas de base, acrescentam variedade ao regime alimentar e melhoram o seu valor nutritivo. Incluem geralmente raízes e tubérculos, hortaliças, leguminosas e frutos, ricos em micronutrientes - tais como as vitaminas A e C, ferro e por vezes vitamina B - e, nalguns casos, contêm quantidades apreciáveis de proteínas, óleo ou gorduras.

Os produtos da horta têm também uma função importante na segurança alimentar das famílias. Durante a estação pobre, quando os alimentos de base se esgotaram e a nova colheita ainda não está pronta, os produtos da horta podem permitir restabelecer as provisões alimentares da família. Ao contrário das culturas nos campos, e se houver água suficiente para a rega, os produtos da horta podem ser cultivados e estar disponíveis para consumo da família durante todo o ano. Para uma discussão pormenorizada dos factores que afectam a segurança alimentar e a nutrição das famílias, ver a Sessão 4.

Uma horta bem tratada preenche múltiplas funções

Ao caminhar-se a pé pela maior parte das aldeias, podem encontrar-se hortas bem tratadas. As famílias com hortas bem tratadas têm ideias, competências e os recursos necessários para produzir diferentes culturas; por exemplo, algumas culturas de base como as de raízes e tubérculos, leguminosas, legumes e frutos. Criam gado e, por vezes, praticam a piscicultura. Sabem como combinar plantas, nomeadamente as plantas altas com as plantas baixas, ou ainda as plantas que atingem a maturidade em épocas diferentes. Os seus animais

consomem plantas provenientes da horta e restituem ao solo nutrientes através do estrume. Para além da produção de alimentos, estas hortas são fonte de rendimentos através da venda dos produtos; fornecem também factores de produção para o desenvolvimento das actividades agrícolas, e produtos tais como especiarias, ervas e plantas medicinais. Por fim, proporcionam ainda espaço de processamento, preparação e armazenamento dos alimentos.

Rendimentos da venda dos produtos da horta. A venda dos produtos da horta pode trazer um contributo substancial ao orçamento familiar, especialmente durante certos períodos do ano quando as fontes de trabalho ou de rendimentos são limitadas, ou ainda quando as colheitas são más devido a catástrofes naturais (cheias, infestação por pragas, doenças dos animais ou doenças na família). Nestes períodos, o rendimento da horta pode ser usado para comprar alimentos que a família não pode produzir, variando assim as refeições e complementando a produção. O rendimento proveniente das hortas pode pagar artigos e serviços essenciais ao dia-a-dia, tais como sabão, roupa, custos relativos à escolaridade dos filhos, medicamentos e factores de produção agrícola que a família não pode produzir.

Factores de produção para as actividades de desenvolvimento agrícola. Importantes actividades de desenvolvimento agrícola têm lugar nas hortas e geram factores de produção para outras actividades. Por exemplo, uma horta familiar pode produzir sementes de legumes, ou mesmo materiais de plantação, como podas de batata-doce ou de mandioca e plantas de árvores de fruto. Quando os animais fazem parte da horta (por exemplo ovelhas, cabras, aves de capoeira e, por vezes, vacas e porcos), fornecem alimentos, rendimentos, estrume e força de tracção. Por sua vez, os animais aproveitam os desperdícios de plantas não utilizadas, tais como a palha dos cereais, talos das diversas hortícolas incluindo as leguminosas. A horta é também um lugar para experimentar novas culturas e novas técnicas agrícolas.

Produtos não alimentares. Quando as condições climáticas permitem, e isso possa representar interesse no plano de cultivo, podem ser cultivados produtos não alimentares tais como ervas medicinais, especiarias e flores. As árvores e os arbustos da horta dão sombra e servem de protecção do vento e de barreiras contra os animais à solta; fornecem também materiais para vedações, para a construção e lenha.

Espaço de processamento e de armazenagem. A horta é também um lugar que pode servir para processamento e armazenagem. Para beneficiar durante todo o ano de um aprovisionamento estável de cereais e de culturas leguminosas, as famílias precisam de instalações adequadas para o processamento e armazenagem dos alimentos. As estruturas de armazenagem para cereais e leguminosas, situadas muitas vezes dentro do espaço da habitação, devem ser bem construídas, de modo a evitar perdas de alimentos causadas por insectos, ratos e outras pragas, bem como a deterioração dos alimentos devida a fungos ou ao apodrecimento.

FIGURA 1.2 Uma horta familiar africana

[2] A primeira visita pode começar pela casa, só depois indo à horta, no caso de esta ficar longe.

SESSÃO 2: NOÇÕES PRÁTICAS DE NUTRIÇÃO PARA TÉCNICOS DE EXTENSÃO AGRÍCOLA (1)

OBJECTIVO

No fim desta sessão, os técnicos de campo deverão ser capazes de avaliar a importância de existirem alimentos disponíveis suficientes para as famílias, como uma condição básica para o bem estar nutricional e a

saúde de todos os seus membros. Deverão pois:

· compreender o significado do termo "nutrição";

· conhecer as diferenças de composição dos alimentos mais consumidos;

· conhecer as diferenças das necessidades nutricionais dos diferentes membros da família;

· compreender as consequências de um consumo alimentar insuficiente no estado nutricional e na saúde.

FIGURA 2.1 O bem estar nutricional de uma família depende do acesso permanente a uma dieta equilibrada.

ABORDAGEM GERAL

A maior parte das pessoas comem porque sentem fome. A sensação de fome leva-as a comerem, mas não lhes diz o que devem comer. Os técnicos de campo encarregados de promoverem a cultura de hortas familiares, devem ter conhecimentos básicos de nutrição, a fim de poderem ajudar os membros da família a cultivarem e seleccionarem alimentos variados, desenvolverem bons hábitos alimentares e levarem uma vida activa e saudável.

O bem estar nutricional pressupõe o acesso a alimentos saudáveis e nutritivos, em quantidades suficientes, de forma a satisfazer as necessidades alimentares de todos os membros da família, ao longo de todo o ano. Mas segurança alimentar e bem estar nutricional não significam somente produzir alimentos em quantidade suficiente. As pessoas devem também ter conhecimentos sobre nutrição, saber que tipos de alimentos consumir e como prepará-los nas quantidades e proporções certas, e de um modo que seja seguro e higiénico.

É importante que as mães de família conheçam, por um lado, boas práticas de alimentação e que tenham tempo suficiente para prepararem as refeições e para alimentarem os seus filhos regularmente. Por outro lado, o acesso a água limpa potável e a um ambiente saudável significa menos riscos de doenças infecciosas. Um corpo saudável tem melhor capacidade de utilizar os alimentos, porque certas doenças podem interferir na absorção dos nutrientes, especialmente doenças como a diarreia, as infecções parasitárias e o sarampo.

Nesta sessão define-se o significado de nutrição e identificam-se os principais nutrientes dos alimentos mais consumidos. Explica-se o papel e a importância dos nutrientes em diferentes alimentos, as necessidades nutricionais dos diferentes membros da família e o que acontece ao corpo se as pessoas não se alimentarem de forma equilibrada, não praticarem uma higiene pessoal e alimentar conveniente, ou não tiverem acesso a água potável ou a cuidados de saúde.

ACTIVIDADES

Antes de começar esta sessão, o formador deve converter todas as quantidades indicadas no Quadro 2.4, "Quantidades de alimentos que satisfazem as necessidades diárias de energia e de nutrientes dos diferentes membros da família", em medidas caseiras correntemente utilizadas pelas famílias.

Discussão. O formador explica o objectivo da sessão e, depois, usando as notas técnicas apropriadas, inicia uma discussão baseada nas seguintes questões:

Em que consiste a nutrição? Quais são os nutrientes contidos nos alimentos e para que servem? As necessidades nutricionais dos diferentes membros da família variam, e se sim, como e porquê? O que acontece se não se satisfizerem as necessidades nutricionais dos diferentes membros da família?

Discussão sobre o valor dos diferentes alimentos. Tendo presente na memória as culturas das hortas familiares identificadas durante a primeira visita à família (Lista de Controlo 1) e as outras culturas da quinta familiar, os participantes devem discutir a importância de cada cultura e o modo como é utilizada cada uma delas na preparação das refeições. Devem depois classificar os alimentos segundo os seus nutrientes essenciais, por exemplo, energia (carbo-hidratos e lípidos ou gorduras), proteínas, vitaminas e sais minerais. A seguir a esta discussão e classificação, os participantes devem comparar os seus conhecimentos em relação aos nutrientes com a informação dada no Quadro 2.5, "Produtos da horta ricos em energia e nutrientes essenciais".

Discussão sobre as carências nutricionais. O formador reproduz o Quadro 2.1 sobre "Sintomas das carências nutricionais" e, baseado nos conhecimentos e expectativas dos participantes, estimula a discussão sobre o que se passa no corpo quando uma pessoa não recebe alimentos energéticos em quantidade suficiente, ou quando falta um nutriente específico, ou este é insuficiente na dieta.

QUADRO 2.1 Sintomas de carências nutricionais

Dieta pobre em energia e nutrientes

Carência nutricional, sinais e sintomas clínicos

Factores que contribuem ou causam carências nutricionais

Energia insuficiente (carbo-hidratos ou gorduras)

Poucas proteínas

Falta de ferro

Falta de vitamina A

Falta de iodo

Falta de vitamina C

Seguidamente, os técnicos de campo lêem a Ficha de Informação 2, sobre "Problemas alimentares e nutricionais". Ajustam as suas respostas em função desta ficha, e o formador responde a algumas perguntas que surjam. O formador conduz então uma sessão prática sobre a avaliação do estado nutricional da criança, usando a medida do perímetro braquial a meia altura (PBMA). Para esta sessão, é importante que o formador convide várias mães acompanhadas dos filhos (com idades entre 1 e 5 anos). Os participantes treinam nas crianças a utilização das medidas do perímetro braquial a meia altura, usando uma fita PBMA, ou uma simples fita métrica.

Exercício. Depois de ter revisto os sinais e os sintomas da malnutrição e da carência em micronutrientes, o formador inicia uma discussão sobre as causas da malnutrição e de outras carências nutricionais presentes na comunidade. O formador anima a sessão e ajuda os participantes a construirem um modelo causal, ou um diagrama que inter-relacione as causas da malnutrição, que ponha em destaque o que consideram como causas da mal nutrição e das carências nutricionais observadas na comunidade (ver a Figura 2.2). A elaboração de um modelo causal ajuda os técnicos de campo a compreenderem melhor as interacções entre os diferentes factores que influenciam o estado nutricional. Mais tarde isto ajudá-los-á a completar a Lista de Controlo 2 (Sessão 7), que visa preparar a segunda visita de campo, e permite incluir temas e questões sobre a situação alimentar e nutricional local.

FIGURA 2.2 Modelo causal da malnutrição

MATERIAL NECESSÁRIO

«Papel gigante»; Lista de Controlo 1; Ficha de Informação 2, "Problemas alimentares e nutricionais"; Cartões de cores e de formas variadas (redondos, ovais, quadrados) para exemplificar causas de

malnutrição. Quadro 2.1, "Sintomas das carências nutricionais"; Quadro 2.2, "Valor nutritivo dos alimentos crus e dos

alimentos processados, de consumo corrente"; Quadro 2.3, "Necessidades diárias em energia, proteínas, gorduras, vitaminas A e C e ferro, segundo o sexo e o grupo etário", Quadro 2.4; "Quantidades de alimentos que cobrem as necessidades diárias em energia e nutrientes dos diferentes membros da família", e Quadro 2.5, Produtos da horta ricos em energia e nutrientes essenciais";

Fita para medir o perímetro braquial a meia altura, ou fita métrica.

NOTAS TÉCNICAS

Mensagens prioritárias

1

A nutrição ocupa-se dos alimentos e da sua utilização pelo corpo

2

Os alimentos são constituídos por uma combinação de nutrientes

3

Os nutrientes são necessários para manter o corpo activo e saudável

4

A quantidade de nutrientes necessários varia de pessoa para pessoa e com a idade

A nutrição ocupa-se dos alimentos e da sua utilização pelo corpo

A nutrição é um domínio de conhecimentos e de práticas que se ocupa dos alimentos e da sua utilização pelo corpo. Ela estuda o modo como os alimentos são produzidos, colhidos, comprados, processados, vendidos, preparados, distribuídos e consumidos; como são digeridos, absorvidos e utilizados pelo corpo; enfim, como influenciam o bem estar.

Se forem consumidos nas quantidades e nas combinações apropriadas, os alimentos fornecem todos os nutrientes de que o corpo precisa para um bom crescimento e funcionamento, um desenvolvimento mental satisfatório e uma boa saúde.

Os alimentos são constituídos por uma combinação de nutrientes

Os alimentos são constituídos por nutrientes tais como os carbo-hidratos, as proteínas, os lípidos ou gorduras, as vitaminas e os sais minerais. As vitaminas e os sais minerais chamam-se micronutrientes. Estes são necessários em quantidades muito mais pequenas do que as proteínas, os lípidos e os carbo-hidratos, mas são essenciais para uma boa nutrição. Uma dieta saudável é aquela que fornece quantidades adequadas de todos estes nutrientes.

Todos os alimentos de origem vegetal ou e animal contêm uma mistura de nutrientes. Contudo, cada alimento contéem uma quantidade diferente de cada nutriente. À excepção do leite materno, durante os 6 primeiros meses de vida, não há nenhum alimento que forneça só por si todos os nutrientes necessários.

Para conseguir uma alimentação equilibrada e ter saúde, as pessoas devem comer todos os dias alimentos variados. Por exemplo, alimentos base como a mandioca, o inhame, a batata-doce e a banana de São Tomé (ou banana-pão) são boas fontes de carbo-hidratos, mas contêm relativamente poucas proteínas. Os cereais, nomeadamente o milho, o sorgo ou milho-miúdo e o arroz, para além de serem ricos em carbo-hidratos, contêm também quantidades significativas de proteínas e de vitamina B. As leguminosas, como o feijão-nhemba, o grão-de-bico, a soja, o amendoim, o feijão-bambara e as favas, são ricas em proteína e ferro; a soja e os amendoim, são também boas fontes de lípidos. As raízes e os tubérculos, os grãos das leguminosas e os cereais são relativamente pobres em vitaminas A e C, enquanto os frutos e os legumes, incluindo as folhas de mandioca, de feijão-nhemba, feijão vulgar e de batata-doce, contêm quantidades significativas de vitaminas e de sais minerais.

Para equilibrar a dieta, as pessoas devem complementar os alimentos de base com leguminosas ou alimentos de origem animal, ricos em proteínas e em óleos ou gorduras; legumes como as folhas de abóbora ou amaranto; frutos e legumes de cor alaranjada ou e amarela, como a manga, a papaia e a abóbora, que são muito ricos em vitamina A. Na Ficha de Informação 3, "Receitas para a confecção de pratos nutritivos", que pode constituir um guia de refeições variadas para a família, sugerem-se diferentes maneiras de associar os alimentos para obter uma refeição satisfatória sob o ponto de vista nutricional.

O conteúdo nutricional de um alimento varia com o seu grau de frescura e com os métodos de processamento, conservação e de preparação. Por exemplo, se a camada exterior do grão do cereal for removida durante a moagem, a maior parte das vitaminas e dos sais minerais perde-se. Do mesmo modo, o conteúdo de vitamina C dos legumes diminui se os cozermos demasiadamente. O Quadro 2.2 indica os valores nutricional de alguns dos produtos mais comuns da horta e das produções agrícolas de diferentes partes de África, nomeadamente alimentos transformados, como o açúcar, o óleo e a farinha de milho. O Anexo 2 apresenta em pormenor o valor nutricional da maior parte dos alimentos consumidos em África.

Os nutrientes são necessários para manter o corpo activo e saudável

A maior parte dos agricultores sabe, por experiência, que as plantas precisam de certos nutrientes para crescerem bem. As plantas encontram esstes nutrientes no solo ou nos fertilizantes. Da mesma maneira, desde a sua concepção e durante toda a sua vida, as pessoas precisam de encontrar nos alimentos que consomem certos tipos de nutrientes em quantidades variáveis.

Cada tipo de nutriente tem funções particulares: os carbo-hidratos e as gorduras são as fontes principais de energia. Cerca de 50 % dos carbo-hidratos e das gorduras que se encontram no corpo são "queimados" para produzirem a energia necessária às actividades físicas; o resto é usado pelo corpo para o crescimento, manutenção geral e para a renovação dos tecidos.

As gorduras são fontes de energia particularmente concentradas e contêm duas vezes mais quilocalorias[3] do que os carbo-hidratos e as proteínas. Para além disso, as gorduras são igualmente necessárias para a absorção e utilização das vitaminas, sobretudo da vitamina A. As proteínas servem para formar e manter os músculos, o sangue, a pele, os ossos e outros tecidos; elas constituem os blocos essenciais de construção do corpo. As proteínas são especialmente importantes para as crianças, para as mulheres grávidas e para as mulheres na fase de aleitamento.

As vitaminas e os sais minerais ajudam o corpo a funcionar correctamente e a manter-se saudável. Contribuem para a reparação dos tecidos, asseguram às crianças um crescimento e um desenvolvimento mental satisfatórios, protegendo-as contra as infecções.

QUADRO 2.2 Valor nutricional dos alimentos em bruto e dos alimentos transformados de consumo corrente (100 g de parte comestível)

Alimento Energia (kcal)

Proteínas (g)

Gorduras (g)

Ferro (mg)

b-caroteno* (µg)

Vitamina C (mg)

Abacate 120 1,4 11,0 1,4 400 18

Abóbora, folhas de 25 4,0 0,2 0,8 1000 80

Açúcar 375 0 0 0 0 0

Amaranto, folhas de 45 4,6 0,2 8,9 2 300 50

Amendoim 570 23,0 45,0 3,8 8 1

Banana 82 1,5 0,1 1,4 90 9

Batata-doce 110 1,6 0,2 2,0 35 37

Cenoura 35 0,9 0,1 0,7 6 000 8

Feijão 320 22,0 1,5 8,2 0 1

Feijão-bambara 345 19,0 6,2 12,0 10 0

Feijão-nhemba 320 23,0 1,4 5,0 15 2

Fruta-pão 99 1,5 0,3 2,0 5 31

Goiaba 46 1,1 0,4 1,3 48 325

Inhame 110 1,9 0,2 0,8 15 6

Manga 60 0,6 0,2 1,2 2 400 42

Mandioca, folhas de 90 7,0 1,0 7,6 3 000 310

Mandioca 140 1,0 0,4 1,9 15 31

Matabala* 94 1,8 0,1 1,2 0 8

Melão, sementes de 595 26,0 50,0 7,4 0 0

Milho (branco) 345 9,4 4,2 3,6 0 0

Milho, farinha de (80% extracção) 335 8,0 1,0 1,1 0 0

Milho-miúdo 340 10,0 4,0 21 25 3

Óleo de palma vermelho 890 0 99,0 0 25 000 0

Óleo vegetal 900 0 100,0 0 0 0

Papaia 30 0,4 0,1 0,6 1200 52

Quiabo 35 2,1 0,2 1,2 190 47

Sorgo 345 11,0 3,2 11 20 0

Fonte: FAO, 2001: Agriculture, alimentation et nutrition en Afrique: manuel á l'intention des professeurs d'agriculture. Roma.

* b-caroteno na vitamina A pré-formada ou provitamina A. A concentracão de vitamina A num alimento mede-se em microgramas (µg) de equivalente retinol (ER), ou seja 1 RE = 1µg de retinol ou 6 ug de b-caroteno.

No caso das crianças pequenas, o consumo insuficiente provoca atraso no crescimento, enfraquece o corpo e o desenvolvimento intelectual faz-se deficientemente. As crianças em idade escolar que não consomem alimentos nutritivos, em quantidade suficiente são incapazes de se concentrarem e aprendem com mais dificuldade do que as bem alimentadas.

Uma alimentação insuficiente pode afectar também os jovens e os adultos da família. Muitas famílias não dispõem senão de uma mão-de-obra limitada para se ocupar dos trabalhos agrícolas.

Uma alimentação insuficiente reduz a capacidade de trabalho e favorece as doenças, o que, por sua vez, resulta em visitas ao centro de saúde e, consequentemente, perda de tempo, de trabalho e de dinheiro. Estas consequências podem ser reduzidas ou evitadas se toda a família tiver uma boa alimentação para, beber água potável e praticar uma boa higiene. O consumo alimentar insuficiente pode também ter efeitos a longo prazo sobre o desenvolvimento socio-económico de um país. Trata-se de uma situação que nenhum país pode tolerar. São, pois, necessárias acções que incidam sobre as causas de uma alimentação inadequada, para melhorar o estado nutricional e a saúde tanto das crianças, como dos adultos. Para mais informação sobre os problemas alimentares e nutricionais específicos, ver a Ficha de Informação 2, "Problemas alimentares e nutricionais".

A quantidade de nutrientes necessária varia de pessoa para pessoa e com a idade

A quantidade de energia e de nutrientes que as pessoas devem retirar da sua dieta para se manterem saudáveis e activas, varia com a idade, o sexo, a gravidez ou o aleitamento, o tipo de actividade e o estado de saúde.

O período mais crítico do desenvolvimento humano vai desde a concepção até aos três anos de idade, período em que o crescimento físico se processa mais rapidamente. É, pois, crucial que as crianças pequenas, bem como as mulheres grávidas e em aleitamento, em particular, recebam uma quantidade adequada de alimentos nutritivos, a fim de assegurar ao feto e à criança pequena um bom crescimento, um bom desenvolvimento do cérebro e a resistência às infecções.

Os alimentos dados às crianças no primeiro ano de vida, devem ser suficientemente ricos em energia e em nutrientes para permitirem um crescimento e desenvolvimento rápidos. Por exemplo, uma criança de menos de um ano de idade, tem necessidade de uma quantidade de energia por quilograma do peso do corpo, que é quase o dobro daquela que é necessária a adolescente ou a um adulto. Assim, uma criança de menos de um ano precisa 110 kcal/kg do peso do corpo por dia; uma criança com menos de cinco anos: 95 kcal/kg do peso do corpo por dia; um rapaz de 12 anos: 64 kcal/kg do peso do corpo por dia; e um adolescente de 16 anos; 44 kcal/kg do peso do corpo por dia.

A partir dos 6 meses de idade, quando o leite materno se torna insuficiente para assegurar um crescimento normal, deve-se dar à criança alimentos ricos em nutrientes (por exemplo, com uma forte concentração de nutrientes em relação ao volume). Isto é particularmente importante porque as crianças nesta idade têm um estômago muito pequeno e que só pode conter uma quantidade limitada de alimentos de cada vez. Portanto, é preciso dar às crianças refeições frequentes (quatro a cinco vezes por dia), como suplemento ao leite materno, para lhes assegurar energia e nutrientes, suficientes para crescerem normalmente e serem saudáveis. As mães devem continuar a amamentar as crianças, se elas quiserem, até aos 18 meses ou aos dois anos de idade.

As mulheres grávidas necessitam de um suplemento alimentar de boa qualidade, para satisfazer as necessidades do feto em nutrientes. As mulheres que amamentam necessitam de energia e de nutrientes suplementares para produzir leite suficiente para a criança.

O Quadro 2.3 mostra as diferentes necessidades nutricionais de uma família de seis pessoas (pai, mãe e quatro filhos). As necessidades nutricionais de uma mulher em idade fértil, de uma mulher grávida e de uma mãe em fase de aleitamento, são também indicadas para poder comparar as necessidades destes três estados físicos. O Quadro menciona algumas vitaminas e sais minerais essenciais para a saúde e para o desenvolvimento, mas há muitas outras que são igualmente importantes e que devem ser fornecidas diariamente pela alimentação.

QUADRO 2.3 Necessidades diárias de energia, proteínas, lípidos, vitamina A e C e ferro, segundo o sexo e o grupo etário

Membro da família Energia (kcal)

Proteínas (g)

Lípidos (g)

Vitamina A ER (µg)

Vitamina C (mg)

Ferroa

(mg)

Homem activo-18 a 60 anos 2 944 57 83 600 45 27

Mulher em idade fertile 2 140 48 59 600 45 59

Mulher grávida 2 240 55 65 800 55 C

Mulher em fase de amamentação 2 640 68 73 850 70 95

Criança 1 ano* 800 12 * 375 25 19b

Criança <5 anos 1 510 26 42 400 30 13

Criança <12 anos ** 2 170 50 60 600 40 29

Criança <14 anos ** 2 620 64 73 600 40 29

Notas: 1g de proteínas ou 1g de carbo-hidratos = 4 kcal; 1g de lípidos = 9 kcal; 1g de álcool = 7 kcal. As necessidades em lípidos foram calculadas para fornecer 25% das necessidades médias de energia

* Assume-se que o leite materno cobre as necessidades de consumo de lípidos desta criança.

** Os dados referem-se a crianças do sexo masculino.

a As necessidades baseiam-se numa dieta pobre em ferro (por exemplo, 5% do ferro absorvido).

b A disponibilidade biológica de ferro durante este período varia muitíssimo.

c Recomenda-se que sejam dados suplementos em ferro a todas as grávidas, por causa da dificuldade em avaliar correctamente o nível de ferro na gravidez.

Fontes: James, W.P.T. e Schofield, E.C. (1990). Human energy requirements: a manual for planners and nutritionists. Publicado para a FAO por Oxford Press. Oxford.

FAO/OMS/UNU (1985). Besoins énergétiques et besoins en proteínes. OMS, Genève, 1985.

FAO/OMS (1988). Besoins en vitamine A, fer., acide folique et vitamine B12 - Rapport d'une consultation conjoint FAO/OMS d'experts.

FAO (2002). Human Vitamin and Mineral Requirements - Report of joint FAO/WHO expert consultation, Bangkok, Thailand. Rome.

Necessidades alimentares diárias de alimento numa família, expressas em unidades de medida caseiras

Como os participantes podem não ter acesso a uma balança, faz mais sentido que as necessidades alimentares diárias sejam expressas em termos de quantidades de alimentos, usando medidas caseiras locais. O Quadro 2.4 dá um exemplo das quantidades aproximadas de alimentos (em gramas) necessárias para elaborar uma dieta básica de baixo custo que cubra as necessidades de energia e os nutrientes necessários aos diferentes membros da família. Note-se que foi utilizado um reduzido número de géneros alimentares para simplificar o quadro, se bem que seja necessário consumir todos os dias alimentos variados, nomeadamente fruta. Os formadores devem converter estas quantidades em medidas locais (por exemplo chávenas, colheres, púcaros e latas, de diversos tamanhos)[4] correntemente utilizadas em casa ou no mercado local.

QUADRO 2.4 Quantidades de alimentos que cobrem as necessidades diárias de energia e nutrientes dos diferentes membros da família*

Membro da família

Farinha de milho Feijão Folhas de mandioca Óleo de

cozinha (g) Chávena ou medida local

Chávena ou medida local

Medida local

Homem 18 - 60 anos 560 200 110 40

Mulher em idade fértil 460 150 100 40

Mulher grávida 500 150 110 40

Mulher em fase de aleitamento

500 200 160 40

Crianças 2-3 anos 200 100 80 30

Crianças 5-6 anos 250 150 100 30

Crianças 10-12 anos 350 200 100 30

Crianças 14-16 anos 400 225 120 30

* As quantidades necessárias de leguminosas e de legumes de folhas verdes são praticamente as mesmas para a maior parte dos indivíduos, mas as quantidades de alimentos de base variam muito.

Com base na informação da Quadro 2.4, uma família compreendendo pai, mãe (que amamenta) e quatro crianças de 2, 5, 12 e 14 anos respectivamente, deveria necessitar de cerca de 2.3 kg de farinha de milho, 1.1 kg de leguminosas com fraco teor de lípidos, como o feijão, e cerca de 0.7 kg de legumes de folhas verdes. Durante a preparação das refeições, adicionase muitas vezes óleo, se houver, aos pratos de acompanhamentos ou aos molhos para melhorar o gosto. As quantidades de óleo variam com os meios financeiros da família, mas são necessárias pelo menos 200 g (1 chávena) por dia, para dietas à base de cereais, e 300 g (1 chávena e meia) por dia, para dietas à base de raízes e tubérculos, para cobrir as necessidades nutricionais, melhorar o gosto dos alimentos e facilitar a deglutição. O amendoim triturado assim como as sementes de melão e as sementes de gergelim, adicionam-se muitas vezes aos pratos de leguminosas ou às sopas para melhorar o seu sabor, e como alternativa. As merendas ricas em energia, destinadas às crianças, completam as refeições principais, adicionando energia ao regime alimentar. Os frutos, que raramente são consumidos à refeição, deveriam fazer parte, especialmente se a dieta deficiente em nutrientes.

Em função da frequência habitual das refeições, as quantidades recomendadas para os adultos podem ser distribuídas por duas ou três refeições por dia. Como as crianças menores de cinco anos têm um estômago de pequena capacidade, precisam de mais refeições e de ter merendas entre as refeições principais. Estas merendas podem ser restos da refeição principal. Para mais informação sobre como preparar refeições familiares nutritivas e saborosas, ou para recomendações sobre a alimentação dos bebés e das crianças pequenas, ver a Sessão 3 e Fichas de Informação 4 e 5.

O Quadro 2.5 enumera os alimentos da horta ricos em energia, assim como em certos nutrientes essenciais a uma boa saúde, mas que faltam frequentemente na dieta alimentar do meio rural. Neste quadro encontra-se igualmente informação acerca dos alimentos de substituição e dos que podem ser usados para enriquecer os pratos e as refeições.

QUADRO 2.5 Produtos da horta ricos em energia e nutrientes essenciais

Energia Proteinas Lipidos Vitamina A Vitamina C Ferro

Abacate Amendoim Amendoim Abóbora Ananás Carne/frango, peixe

Amendoim Carne/frango, peixe

Abacate Amarantos ou espinafre africano

Anona branca Feijão/ervilhas

Arroz Castanha d'Inhambane

Feijão-bambara Batata-doce (de polpa amarela ou alaranjada)

Batata-doce(amarela ou alaranjada)

Fígado

Banana/banana-pão Feijão/ervilhas Insectos e lagartas (alguns)

Batata-doce, folhas

Caju Legumes de folhas verdes (alguns)

Bananeira-de-jardim Feijão-bambara Leite de coco Cenoura Citrinos Rins

Batata-doce Feijão-congo Manteiga Colza Fruta-do-conde*

Caju Feijão-nhemba Óleos de amendoim, de cártamo, de milho, de verbesina-da-Índia, de gergelim, de soja, de girassol ou de outras sementes oleaginosas

Couve verde Fruto do embondeiro

Castanha d'Inhambane

Insectos e lagartas (alguns)

Soja Feijão, folhas

Goiaba

Cevada Ovos/leite/queijo Fígado Manga

Coco Sementes de embondeiro

Juta Papaia (madura)

Fruta-pão Sementes de melão e de abóbora

Malagueta Pimento doce

Inhame Sementes de sumaúma-africana

Mandioca, folhas de

Repolho

Karité Soja Manga (madura)

Romã

Mandioca Milho (amarelo)

Tomate

Matabala Mululu

Milho Musambe (Cleome gynandra)

Milho-miúdo Óleo de palma (não refinado)

Óleos de amendoim, de cártamo, de milho, de verbesina-da-Índia, de soja, de girassol ou de outras sementes oleaginosas

Papaia (madura)

Sorgo Quiabos

Tef Use*

Trigo

Nota: O ferro destes alimentos é melhor absorvido se os associarmos a alimentos ricos em vitamina C, por exemplo comendo uma laranja ou uma goiaba no fim da refeição.

* Ver outros nomes vulgares no Anexo 1, página 278.

Um método prático para conseguir uma alimentação saudável consiste em consumir alimentos variados, dando mais importância aos alimentos de base e aos alimentos que entram na composição dos pratos acompanhantes, isto é, nas sopas e nos guisados característicos da alimentação na África Ocidental. O prato de acompanhamento, sopa ou guisado, fornece muitas vezes energia suplementar (proveniente do feijão, das ervilhas, dos amendoim e do óleo), proteínas suplementares (provenientes do feijão, das ervilhas, dos amendoimns, da carne e do peixe) e micronutrientes essenciais provenientes dos legumes, da fruta, da carne e do peixe). Utilizando o guia para as refeições familiares variadas, na Ficha de Informação 3, juntamente com as quantidades alimentares diárias da Quadro 2.4, é possível planear refeições familiares nutritivas, saborosas e bem aceites culturalmente.

[3] A energia alimentar é medida em quilocalorias (kcal). [4] Medidas caseiras usadas em muitas regiões da África Ocidental.

SESSÃO 3: NOÇÕES PRÁTICAS DE NUTRIÇÃO PARA TÉCNICOS DE EXTENSÃO AGRÍCOLA (2)

OBJECTIVO

No fim desta sessão, os técnicos de campo deverão ser capazes de:

· avaliar se uma dieta alimentar é satisfatória no plano nutricional;

· planear refeições equilibradas utilizando alimentos locais, nomeadamente alimentos para bebés e para crianças pequenas;

· identificar as boas refeições ligeiras preparadas localmente;

· referir os alimentos essenciais que podem ser produzidos na horta.

FIGURA 3.1 Produtos da horta

ABORDAGEM GERAL

Uma dieta alimentar satisfatória deve conter alimentos suficientes, associados da forma que convenha a cada indivíduo, jovem ou idoso, do sexo masculino ou feminino. Cada nacionalidade, comunidade ou cultura tem os seus próprios hábitos alimentares, tradições e preferências, que influenciam a escolha dos alimentos, os modos de preparação e a composição das refeições. Factores como o preço dos alimentos e a sua disponibilidade sazonal devem também ser considerados aquando das discussões sobre a alimentação, a nutrição e as formas de melhorar a escolha dos alimentos, assim como a planificação e a preparação das refeições. Durante esta sessão, os participantes utilizarão os seus conhecimentos sobre a cultura, a produção alimentar, a horticultura e os hábitos alimentares da região para avaliar se as refeições são satisfatórias do ponto de vista nutricional. Aprenderão igualmente como ajudar os habitantes a melhorar o valor nutritivo da sua dieta alimentar e como encorajá-los a introduzir melhoramentos na escolha das culturas, na utilização da terra e noutros aspectos da horticultura que contribuam para o bem estar nutricional da comunidade.

ACTIVIDADES

Os técnicos de campo deverão conhecer bem o Quadro 2.4, "Quantidades de alimentos que cobrem as necessidades diárias de energia e nutrientes dos diferentes membros da família", particularmente as secções que tratam das quantidades de alimentos que o formador converteu em medidas locais correntemente utilizadas pelas famílias. É igualmente útil uma boa compreensão o Quadro 2.2, "Valor nutricional dos alimentos em bruto e dos alimentos transformados de consumo corrente", e do Quadro 2.5, "Produtos da horta ricos em energia e nutrientes essenciais".

Discussão sobre refeições equilibradas do ponto de vista nutricional. Depois de ter enunciado os objectivos da sessão e explicado as actividades a pôr em prática, o formador pede aos participantes para, utilizando o «papel gigante», apresentarem os diferentes pratos preparados na região, começando pelos pratos principais. Os participantes devem fazer depois uma lista dos pratos (incluindo os seus ingredientes) que acompanham os pratos principais (por exemplo, o molho). Convém referir separadamente os pratos principais, preparados a partir de uma mistura de alimentos e considerados como refeições "completas", que não necessitam de prato de acompanhamento ou de condimento (por exemplo a sopa ou o guisado característico da África Ocidental).

O formador introduz então o "Guia para refeições familiares variadas" da Ficha de Informação 3 (ver a Figura 1, na pág. 142), e explica como utilizá-lo para planear e preparar refeições familiares saudáveis e nutritivas. Deve dar-se especial atenção aos alimentos e nutrientes que são essenciais, mas que podem estar em falta ou não serem suficientes, devido às variações sazonais na região. Com referência ao guia de refeições familiares variadas, os membros do grupo deverão identificar, no conjunto das refeições mais consumidas, por eles apresentadas, as que são satisfatórias no plano nutricional e as que não têm os elementos essenciais, devendo explicar porquê. Quando as refeições não são satisfatórias do ponto de vista nutricional, os agentes deverão ser capazes de sugerir diferentes formas de as melhorar.

Utilizando as Quadro 2.2 e 2.5, e se necessário o Anexo 2, "Composição aproximativa dos alimentos", o formador inicia uma sessão aberta a ideias (brainstorming) sobre a composição nutricional dos alimentos geralmente utilizados para substituir outros alimentos (por exemplo, o conteúdo em energia e em nutrientes dos diferentes legumes de folhas, óleos para cozinhar, leguminosas ou farinhas de cereal, raízes ou tubérculos utilizados na preparação do prato principal). Os participantes devem considerar as seguintes questões:

Quais os alimentos que contêm mais vitamina A: 2 chávenas de amarantos, 3 chávenas de folhas de feijão-nhemba ou 4 chávenas de quiabos?

Quais os principais nutrientes contidos no óleo de palma ou de amendoim? Quais as diferenças de preço encontradas entre alimentos semelhantes (por exemplo diferentes tipos de

legumes de folhas, diferentes tipos de leguminosas, diferentes tipos de óleos)? Quais os alimentos que, na sua opinião, considera "boas compras" para as famílias, e porquê? (Atenção: os

participantes devem considerar a relação entre o preço do alimento e o seu valor nutritivo).

Nota: É preciso ter em consideração que uma chávena e meia de folhas de legumes verdes escuras cortadas em bocados, ou uma batata-doce de polpa amarela de tamanho médio, ou duas colheres de café de óleo de palma não refinado (10 ml), ou uma pequena cenoura por dia fornecem a uma criança a quantidade suficiente de vitamina A para evitar lesões oculares e para reduzir os riscos de varíola ou de outras doenças. Se juntarmos uma pequena colher de óleo à alimentação da criança, a vitamina A será melhor absorvida pelo corpo.

Exercício. O formador elabora um quadro onde enumera os principais alimentos locais, tais como cereais, raízes e tubérculos, sementes oleaginosas e leguminosas, gorduras e óleos, frutos e legumes, pedindo depois aos técnicos de campo para indicarem se o valor nutritivo de cada um daqueles alimentos locais é bom (+), razoável (0) ou fraco (-).

Refeições ligeiras. O formador define o termo "refeição ligeira" (alimento consumido entre as principais refeições) e estimula a discussão sobre as refeições ligeiras e sobre o seu papel na dieta alimentar, particularmente na da criança. O formador remete os técnicos de campo para a Ficha de Informação 4, "Refeições ligeiras, nutritivas e saborosas para crianças pequenas", como texto de leitura.

O grupo elabora uma lista dos alimentos locais que podem servir de refeições ligeiras; calcula o valor nutricional de cada um desses alimentos e indica os que são particularmente ricos em certos nutrientes, explicando como eles contribuem para melhorar a ingestão diária de nutrientes.

Planificação das refeições familiares diárias. Utilizando como guia as notas técnicas da Sessão 3, o formador inicia uma discussão sobre as razões que fazem com que as pessoas apreciem alimentos diferentes (por exemplo, porque têm determinadas preferências alimentares). Em seguida, os participantes organizam-se em pequenos grupos e analisam a frequência das refeições diárias na comunidade local, as variações sazonais, assim como as condições e factores locais que determinam os hábitos alimentares (por exemplo, muitas responsabilidades para as mães, local de trabalho muito distante para os pais, falta de combustível). Analisam também como as variações sazonais dos alimentos disponíveis afectam os pratos principais, os ingredientes do prato acompanhante e as refeições ligeiras das crianças.

O formador refere-se ao Quadro 2.4, "Quantidades de alimentos que cobrem as necessidades diárias em energia e nutrientes dos diferentes membros da família". Utilizando as informações dadas no Quadro 2.4 (medidas locais), os grupos devem planear refeições familiares para um dia, assegurando-se de que sejam satisfatórias do ponto de vista nutricional (isto é, que contenham uma quantidade e uma variedade apropriadas de alimentos). Para completar este exercício, os participantes podem confrontar o guia para refeições familiares variadas da Ficha de Informação 3.

No Quadro 2.3 já foi reunida a informação sobre a idade e o sexo dos membros da família. O número de refeições familiares dependerá do resultado das discussões anteriores sobre a frequência das refeições diárias, considerando que a média é de duas ou três refeições por dia. As refeições ligeiras para crianças podem ser contabilizadas e devem ser assinaladas. As refeições podem ser nomeadamente as seguintes:

pequeno almoço merenda da manhã (para crianças pequenas) almoço merenda da tarde (para crianças pequenas) jantar

Durante o exercício, os membros do grupo devem procurar obter os melhores benefícios nutricionais ao menor custo, tendo em consideração o preço corrente dos produtos alimentares. E tendo esta preocupação presente na memória, os participantes devem:

planear refeições compostas por alimentos cultivados nas hortas que visitaram, ou mencionados pelos membros das famílias no momento da primeira visita;

planear refeições variadas e equilibradas no plano nutricional; especificar as quantidades de produtos alimentares necessários, incluindo aqueles que talvez tenham de ser

comprados; calcular o custo diário das refeições, incluindo o custo dos alimentos que provêm da horta ou dos campos

da família.

A Ficha de Informação 3, "Receitas para a confecção de pratos nutritivos", pode dar aos técnicos de campo algumas ideias interessantes.

Cada pequeno grupo deve apresentar o seu exemplo ao conjunto dos participantes e responder aos comentários. O grupo, na sua totalidade, deve anotar as sugestões mais comuns referentes às refeições e classificar os componentes da refeição em duas categorias:

os alimentos que se podem cultivar na horta ou na quinta; os produtos que são necessários comprar no mercado ou na loja.

MATERIAL NECESSÁRIO

Anexo 1, "Índice de nomes de plantas e de culturas de substituição" «Papel gigante»; Ficha de Informação 3 "Receitas para a confecção de pratos nutritivos"; Ficha de Informação 4 "Refeições

ligeiras, nutritivas e saborosas para crianças pequenas", e Ficha de Informação 5 "Processamento e preparação caseira de alimentos de desmame";

Canetas e marcadores; Quadro 2.2 "Valor nutricional dos alimentos em bruto e dos alimentos transformados de consumo

corrente"; Quadro 2.3 "Necessidades diárias de energia, proteínas, lípidos, vitaminas A e C e ferro, segundo o sexo e o grupo etário"; Quadro 2.4 "Quantidades de alimentos que cobrem as necessidades diárias de energia e de nutrientes dos diferentes membros da família" e Quadro 2.5 "Produtos da horta ricos em energia e nutrientes essenciais".

NOTAS TÉCNICAS

Mensagens Prioritárias

1

O valor nutritivo de um alimento não representa senão um dos factores a ter em conta quando se planificam as refeições. Há muitas razões que levam as famílias a preferir e escolher certos

alimentos

2

As refeições ligeiras que incluem alimentos da horta são uma fonte importante de nutrientes

3

Podem planificar-se refeições saborosas e equilibradas do ponto de vista nutricional adicionando ao alimento de base alimentos ricos em nutrientes

O valor nutritivo de um alimento não representa senão um dos factores a ter em conta quando se planificam as refeições. Há muitas razões que levam as famílias a preferir e escolher certos alimentos

Quando se trata de alimentos, os extensionistas agrícolas pensam muitas vezes em termos de diversas culturas ou de animais. Algumas culturas são difíceis de cultivar, enquanto outras são relativamente fáceis, e algumas têm maior valor comercial do que outras. Os especialistas de economia doméstica centram-se na facilidade de processamento e de preparação de certos alimentos, enquanto os nutricionistas e os especialistas de saúde pública se centram no valor nutritivo dos diferentes alimentos e nos seus efeitos na saúde, segundo as quantidades e a forma de os associar (por exemplo, na prevenção de kwashiorkor, de marasmo nutricional, da cegueira nocturna, das alergias, da diabetes ou da obesidade).

Contudo, as famílias consideram muitos outros factores. Podem escolher um alimento por diferentes razões, incluindo o hábito, a tradição, a facilidade de processamento ou de preparação, o sabor, a textura ou a cor, a disponibilidade do alimento (por exemplo, segundo a época), a possibilidade de o conservar, a procura pelo consumidor e, por fim, o seu preço e a sua conveniência para determinada ocasião (por exemplo, casamento, funeral, nascimento). Muitas vezes, as pessoas, sobretudo as mais velhas, têm a impressão de não terem comido bem se não consumirem, pelo menos uma vez por dia, um alimento de base ou um outro alimento a que estejam habituados. Os técnicos de campo devem ter todos estes factores em conta quando ponderam as diferentes possibilidades de ajudar as comunidades a melhorar os seus hábitos alimentares e o seu estado nutricional.

As refeições ligeiras que incluem os alimentos da horta são uma fonte importante de nutrientes

As refeições ligeiras, consumidas entre as refeições principais, fazem muitas vezes parte do regime alimentar normal de uma criança. Trata-se geralmente de alimentos que fornecem energia rapidamente e que são consumidos frescos (por exemplo, fruta ou cana-de-açúcar) ou cozinhados. As refeições ligeiras à base de feijão e frutos secos, podem fornecer quantidades significativas de proteínas e gorduras, e as que são constituídas por frutos e legumes fornecem vitaminas importantes e certos sais minerais.

As refeições ligeiras podem ser constituídas por alimentos sazonais, particularmente nas áreas rurais sub-húmidas ou semiáridas de África. Os vendedores ambulantes, em algumas regiões de África, especializam-se frequentemente num tipo particular de refeição ligeira (por exemplo, bolos à base de feijão, mandioca cozida ou assada e amendoim torrado, sementes de oleaginosas ou de leguminosas torradas).

Os alimentos a seguir referidos, que variam conforme a região, podem constituir boas refeições ligeiras:

raízes, tubérculos ou cereais cozidos ou torrados (por exemplo, inhame, batata-doce ou milho); frutos feculentos (por exemplo, banana ou fruta-pão cozida); frutos (por exemplo, manga, goiaba, papaia ou uma vasta variedade de frutos silvestres); cana-de-açúcar ou caules doces de cereais; frutos secos, sementes de leguminosas ou de oleaginosas frescas ou torradas (por exemplo, amendoim,

grão-de-bico ou feijão-bambara); fritos à base de feijão-nhemba ou de sementes de melão (como por exemplo as bagias, pastéis).

Uma horta com variedade de culturas pode produzir muitos produtos para refeições ligeiras que fornecem nutrientes essenciais e melhoram a alimentação e a saúde de todos os membros da família, particularmente das crianças.

Podem planificar-se refeições saborosas e equilibradas do ponto de vista nutricional adicionando ao alimento de base alimentos ricos em nutrientes

Refeições familiares. Os alimentos de base disponíveis localmente representam geralmente a base essencial de uma refeição. Contudo, uma refeição só se torna nutricionalmente completa e saborosa se o alimento de base for complementado por um prato de acompanhamento ou um condimento (consistindo em feijão ou amendoim, legumes verdes, gordura ou óleo, temperos e especiarias) e por fruta. O tipo de molho ou de sopa que acompanha o prato principal e os ingredientes utilizados para o preparar determinam o valor nutritivo da refeição.

Com excepção dos produtos de origem animal, a maior parte dos ingredientes utilizados para preparar o prato de acompanhamento, a sopa característica da África Ocidental ou todos os outros condimentos que acompanham o prato principal, provêm da horta. Quando os alimentos de origem animal (carne ou peixe) não estão disponíveis, a qualidade do regime alimentar pode ser melhorada, juntando a cada refeição diferentes produtos vegetais (por exemplo, feijão, lentilhas ou amendoim com legumes de folhas verdes).

Algumas refeições são adequadas do ponto de vista qualitativo, outras não. O guia de refeições variadas da família proposto na Ficha de Informação 3 constitui um meio rápido e prático de avaliar a qualidade e a variedade dos alimentos de uma refeição.

As informações fornecidas no Quadro 2.4 permitem planificar facilmente as refeições e determinar quais as quantidades de alimentos que satisfazem as necessidades de nutrientes dos diferentes membros da família.

Refeições para bebés e crianças pequenas. A partir dos 2 anos de idade as crianças podem comer alimentos da refeição familiar, mas as crianças com menos de 2 anos necessitam de uma alimentação especial. Os seus dentes geralmente ainda não estão suficientemente desenvolvidos para mastigar alimentos sólidos; como tal, devem passar gradualmente da amamentação aos alimentos semi-sólidos, e só depois aos alimentos da família.

Durante este período de transição, a textura e a espessura dos alimentos da criança devem ser adaptados ao seu nível de desenvolvimento, e o conteúdo em energia e em nutrientes dos alimentos deve assegurar-lhe um crescimento rápido. É igualmente importante que o trabalho de processamento e preparação dos alimentos da criança não implique demasiada sobrecarga para a mãe.

A Ficha de Informação 5 fornece informações úteis sobre os alimentos de desmame e sugere algumas receitas de misturas alimentares ricas em energia e pouco volumosas, para bebés, que são preparadas em diferentes regiões de África com alimentos locais.

SESSÃO 4: FACTORES QUE AFECTAM A SEGURANÇA ALIMENTAR E O ESTADO NUTRICIONAL DAS FAMÍLIAS

OBJECTIVO

No fim desta sessão, os técnicos de campo deverão ser capazes de:

· compreender o sistema alimentar local e os diferentes factores que contribuem para a segurança alimentar das famílias;

· compreender as interacções entre a segurança alimentar das famílias, a

· sua saúde e os cuidados para determinar o bem-estar nutricional dos seus membros.

FIGURA 4.1 Os grupos de alimentos

ABORDAGEM GERAL

A possibilidade de dispor de alimentos suficientes de boa qualidade para o consumo familiar depende de vários factores. A produção familiar é um dos meios que permitem assegurar que a família disponha permanentemente de alimentos. Contudo, para produzir alimentos variados em quantidade suficiente, na horta ou nos campos, é preciso ter acesso a recursos adequados, nomeadamente terra, água, sementes, equipamento, conhecimentos, competência e mão de obra. As estradas e os meios de transporte para os mercados são necessários para a compra ou venda de alimentos e de outros artigos essenciais. Os membros da família também necessitam de ter acesso aos serviços públicos e comerciais, assim como a emprego fora da exploração agrícola, durante os períodos de baixa actividade agrícola.

Nas zonas rurais onde a possibilidade de ganhar dinheiro é limitada, a capacidade de produzir a maior parte dos alimentos na horta e nos campos, não precisando de os comprar no mercado, garante uma melhor segurança alimentar das famílias. Esta segurança é tributária de um aprovisionamento alimentar regular e durável, durante todo o ano. Porém, em muitas zonas rurais, as famílias confrontam-se muitas vezes com a escassez de alimentos, porque a produção vegetal é sazonal e por vezes insuficiente. A presente sessão revê os factores que contribuem para a segurança alimentar das famílias, assim como os seus efeitos no padrão alimentar e no estado nutricional. O modelo causal da malnutrição elaborado durante a Sessão 2 é utilizado para estudar o papel desempenhado por outros factores, tais como os cuidados adequados às crianças, a saúde e a higiene, no estado nutricional.

No fim desta sessão, os participantes analisarão mais pormenorizadamente os problemas e os constrangimentos que existem no sistema alimentar, começando pela produção alimentar e terminando no consumo alimentar e na utilização dos alimentos ingeridos. Apoiando-se nos seus conhecimentos e na experiência adquirida junto das comunidades locais, os membros do grupo devem explorar os meios que poderão permitir às famílias resolver alguns dos problemas identificados.

ACTIVIDADES

Discussão. Depois de ter apresentado os objectivos da presente sessão, o formador reporta--se ao modelo causal da malnutrição elaborado pelos técnicos de campo, e pede-lhes que pensem em todos os factores que favorecem o acesso das famílias a uma alimentação suficiente, durante todo o ano. Antes de iniciar a discussão em pequenos grupos, o formador introduz em sessão plenária o conceito de sistema alimentar local, pedindo aos participantes para referirem todas as etapas do sistema alimentar, da produção ao consumo. A discussão que se segue, em pequenos grupos, deve centrar-se nas seguintes questões:

Quais os factores que determinam a segurança alimentar das famílias? Quais as diferentes etapas do sistema alimentar? Quais os problemas e os obstáculos que a comunidade local ou as famílias encontram em cada etapa? Quais os factores que influenciam o estado nutricional e a escolha dos alimentos, no âmbito das

comunidades locais? Que podem fazer os indivíduos ou as comunidades para eliminar alguns dos problemas ou obstáculos

identificados? Quais as boas práticas, no que se refere à nutrição e à horticultura, e quais as possibilidades de introduzir

melhoramentos? Como pode um agente de campo ajudar uma comunidade a ter em consideração tais possibilidades?

Trabalho em grupos pequenos. Os participantes dividem-se em grupos e cada grupo considera as questões acima mencionadas. O formador distribui uma cópia do Quadro 4.1, "Problemas no sistema alimentar local e possibilidades de melhoramento", a cada grupo, deixando em branco a coluna 2, "Problemas no sistema alimentar"; pede aos grupos para enunciarem todos os problemas e obstáculos existentes nas comunidades locais com que trabalham. Este exercício deve ser seguido de uma discussão sobre as causas possíveis destes problemas, sobre o modo de os abordar e sobre os meios de melhorar a situação.

Apresentação dos resultados. Cada grupo apresenta os resultados das discussões em sessão plenária. Em seguida, os vários grupos elaboram uma lista final dos problemas e dos obstáculos, assim como uma lista dos meios que existem no sistema alimentar local para melhorar a segurança alimentar das famílias. Para esta apresentação pode ser utilizado «papel gigante» ou outro material didáctico disponível .

Resumo das apresentações de grupo. O formador resume os principais resultados e conclusões da discussão, que servirão como informações gerais para as Sessões 7 e 8.

Resumo da sessão. Com base no que os agentes de grupo aprenderam, o formador conclui a sessão fazendo um resumo sobre a interdependência existente entre os diferentes factores que afectam a segurança alimentar das famílias e o resultado nutricional. O formador analisa igualmente o papel que desempenham os conhecimentos, a educação, as diferentes actividades e responsabilidades das mulheres e dos homens, assim como o acesso aos recursos e sua respectiva utilização, na melhoria global da nutrição.

MATERIAL NECESSÁRIO

«Papel gigante»; Modelo causal da malnutrição; Quadro 4.1 "Problemas no sistema alimentar local e possibilidades de melhoramento"; Canetas e marcadores.

QUADRO 4.1 Problemas no sistema alimentar local e possibilidades de melhoramento

Etapas do sistema alimentar Problemas no sistema alimentar Causas Possibilidades de melhoramento

Recursos naturais · Terras insuficientes · Regime de posse precário · Terra pouco fértil · Escassez de água · Longas distâncias da casa

Preparação e limpeza da terra

· Poucos adultos na família · Falta de utensílios

Produção agrícola · Diversidade limitada de culturas · Culturas comerciais em vez de culturas alimentares · Falta de sementes e de material de plantio · Má qualidade das sementes e do material de plantio · Consumo das sementes · Predominância das culturas introduzidas em relação às locais · Conhecimento insuficiente das culturas que dão melhores resultados nutricionais e outras vantagens · Práticas de cultivo impróprias · Mau espaçamento e distribuição desigual das sementes · Infestação de pragas e ervas daninhas · Factores de produção limitados · Visitas pouco frequentes dos extensionistas às famílias · Inexistência de conselhos dirigidos às mulheres pelos serviços de extensão agrícola

Colheita · Estragos causados por pragas · Perdas alimentares

Armazenagem dos alimentos

· Falta de recipientes de armazenagem adequados · Insuficiência de alimentos armazenados · Falta de conhecimentos sobre bons métodos de armazenagem

Distribuição e comercialização dos produtos alimentares

· Mercados longe da área da produção · Maus sistemas rodoviários e de transporte · Venda de alimentos na época da colheita · Armazenagem familiar inadequada

Compra · Falta de dinheiro · Dificuldade de obter alimentos frescos · Preço elevado dos alimentos

Processamento e preparação dos alimentos

· Falta de equipamento apropriado para o processamento / moagem · Falta de lenha · Falta de tempo das mães para prepararem os alimentos · Falta de recipientes de armazenagem

apropriados · Falta de conhecimentos para a preparação dos alimentos certos · Falta de conhecimentos para uma preparação adequada de alimentos · Pouco prestígio atribuído aos legumes verdes · Cozedura muito prolongada dos legumes verdes

Distribuição dos alimentos no seio da família

· Porção insuficiente reservada às crianças · Demasiadas pessoas a alimentar na família · Existência de tabus alimentares para alguns dos membros da família · Falta de informação sobre as necessidades alimentares dos diferentes grupos etários

Consumo · Falta de apetite por doença · Alimentos muito volumosos para as crianças pequenas · Paragem no aleitamento materno, quando a criança atinge os 12 meses de idade · Número insuficiente de refeições para as crianças (só duas refeições por dia)

Saúde e hygiene · Higiene alimentar deficitária · Falta de água potável · Poço muito distante · Doenças infantis frequentes · Ausência das mães nas sessões mensais de acompanhamento e vigilância do crescimento das crianças

Fonte: FAO, 1999, Field programme management: food, nutrition and development. Roma.

NOTAS TÉCNICAS

Mensagens prioritárias

1

A segurança alimentar, os cuidados e a saúde das famílias são elementos essenciais para garantir uma boa nutrição a todos os seus membros

2

O equilíbrio nutricional pode ser alcançado através da diversificação alimentar e da diversidade biológica

A segurança alimentar, os cuidados e a saúde das famílias são elementos essenciais para garantir uma boa nutrição a todos os seus membros

A segurança alimentar das famílias. Esta foi definida na Sessão1 como o "acesso de todos os indivíduos, em qualquer momento, aos alimentos necessários a uma vida saudável". As famílias podem abastecer-se em géneros alimentícios graças à sua própria produção ou aos produtos comprados, mas fazem-no geralmente pela combinação dos dois casos. Certos factores ajudam as comunidades a ter suficientes alimentos variados ao nível familiar. Citemos, nomeadamente, o acesso a água suficiente, a terra fértil, a sementes, ao material de plantio, a utensílios agrícolas, a conselhos técnicos, ao crédito, a um bom sistema de armazenagem. A juntar a estes, um número suficiente de membros saudáveis da família, suficientemente robustos para trabalhar no campo e arranjar emprego fora da exploração agrícola.

Contudo, muitas comunidades rurais não têm, durante todo o ano, acesso a quantidades suficientes de alimentos de base frescos ou conservados, e o seu acesso aos legumes e frutos frescos é muitas vezes sazonal. As famílias vendem frequentemente demasiados alimentos, seja porque precisam de dinheiro, seja porque as possibilidades de armazenagem e de conservação dos alimentos por períodos longos são insignificantes ou inexistentes.

As famílias podem recorrer a estratégias variadas para assegurar um acesso contínuo a uma variedade de alimentos nutritivos. Estas estratégias incluem a produção de alimentos na horta durante todo o ano (desde que haja água suficiente) e a conservação, processamento e armazenagem adequada dos alimentos. As famílias podem assim precaver-se contra as quebras sazonais, mas tal implica planificar antecipadamente e reflectir sobre a forma mais eficaz de utilizar os recursos disponíveis de modo evitar os períodos de fome. As opções tecnológicas apropriadas permitem aumentar a produção das hortas, assim como transformar e conservar os alimentos de base perecíveis, tais como as leguminosas, os legumes e os frutos, afim de garantir reservas e melhorar o valor comercial dos produtos.

Os cuidados. A segurança alimentar das famílias é uma condição essencial a uma alimentação adequada, mas não garante sempre um bom estado nutricional. Este último necessita de atingir níveis satisfatórios, nomeadamente nas crianças pequenas e nos membros da família mais vulneráveis no plano nutricional. Uma tal atenção supõe conhecimentos sobre as necessidades alimentares e nutricionais dos diferentes membros da família. Os conhecimentos ajudam a pessoa responsável pela prestação de cuidados à família, geralmente a mãe, a tomar as decisões certas sobre os tipos de alimentos, as quantidades a preparar e a servir às crianças e aos adultos durante as refeições. Para além dos conhecimentos e da experiência na área da nutrição, esta pessoa deve igualmente dispor de tempo suficiente para cuidar das crianças e preparar a alimentação.

Em muitas culturas africanas, as mulheres são as principais responsáveis pela produção de alimentos e pela prestação de cuidados à família. Também têm muitas outras responsabilidades, como ir buscar a água e a lenha, armazenar, transformar e vender os alimentos. Nas épocas de grande actividade agrícola, corre-se o risco de negligenciarem os cuidados e a alimentação das crianças. Porém, apesar destes obstáculos, existem várias soluções que permitem às famílias cuidar melhor dos seus membros mais vulneráveis. Podemos mencionar as tecnologias que permitem poupar tempo às mulheres, por exemplo no que se refere ao abastecimento de água. Outras soluções estão mais orientadas para as pessoas, implicando que a comunidade ou os indivíduos modifiquem as suas tradições ou o seu modo de vida. Assim, todos os membros da comunidade, adultos e jovens, deviam conhecer melhor as vantagens de uma boa nutrição e boa saúde, assim como as numerosas possibilidades de acção comunitária ou individual, por exemplo, instalando creches ou encorajando os pais a cuidarem de forma activa dos seus filhos.

A saúde. Para além de beneficiar da segurança alimentar e dos cuidados familiares, um indivíduo deve igualmente estar bem de saúde para aproveitar ao máximo os alimentos que consome, caso contrário certos nutrientes serão desperdiçados. Por exemplo, os nutrientes podem passar pelo sistema digestivo sem serem absorvidos, como é o caso das pessoas que sofrem de diarreia, ou podem ser utilizados por parasitas, tais como os vermes intestinais. É por isso que as famílias devem esforçar-se por prevenir as doenças transmissíveis e as infecções parasitárias, praticando uma boa higiene ambiental e pessoal, bebendo água potável e procurando manter os alimentos sãos e limpos. Quando um membro da família adoece, deve ir ao centro de saúde ou pedir conselho ao agente de saúde da aldeia. Se as infecções que impedem uma boa utilização dos alimentos e dos nutrientes pelo corpo não forem tratadas, corre-se o risco de malnutrição.

O equilíbrio nutricional pode ser alcançado graças a uma dieta variada e à diversidade biológica

Variedade de alimentos e diversidade biológica. Cultivar legumes variados em pequenas quantidades é uma boa estratégia para proteger o ambiente; isso permite conservar a biodiversidade e melhorar a segurança alimentar e a nutrição. As mulheres que trabalham na agricultura contribuem particularmente para a diversidade das culturas, visto serem elas que utilizam os recursos genéticos para desenvolver novas variedades, em função das necessidades e das preferências da sua família. O facto de se praticarem diversas culturas reduz o risco de uma perda total de produção em caso de doença. Permite igualmente às famílias diversificar o seu padrão alimentar, preparar um número maior de pratos e aumentar a qualidade nutritiva das refeições.

Durante a estação das chuvas, as famílias dispõem de vários legumes de folha tradicionais, que crescem espontaneamente nos campos ou são semi-cultivados, mas estas variedades nem sempre estão disponíveis durante a estação seca. Assim, o facto de os cultivar na horta, particularmente durante a estação seca, aumenta a oferta de legumes durante essa estação e salvaguarda as falhas provocadas por uma eventual perda da colheita, com a vantagem de que as culturas tradicionais estão melhor adaptadas à região. Para garantir a disponibilidade das sementes durante a estação seca, os agricultores devem ter o cuidado de as guardar desde o fim da estação das chuvas, de as armazenar correctamente e de as semear num espaço bem regado da horta. Ver também a Ficha de Informação 12 sobre as questões que se referem à promoção das plantas alimentares locais.

SESSÃO 5: MELHORAR A CONTRIBUIÇÃO DA HORTA PARA RESPONDER ÀS NECESSIDADES ALIMENTARES DIÁRIAS

DA FAMÍLIA

OBJECTIVO

No fim desta sessão, os técnicos de campo deverão ser capazes de identificar as opções tecnológicas que permitem melhorar a produtividade das hortas da região e consequentemente a nutrição das famílias.

ABORDAGEM GERAL

Uma horta bem tratada tem o potencial (quando o acesso à terra e à água não é um obstáculo) de fornecer alguns alimentos de base e a maior parte dos outros alimentos de que uma família necessita cada dia do ano. Estas hortas oferecem às famílias uma larga variedade de alimentos, tais como raízes, tubérculos, leguminosas, legumes, frutos, especiarias, assim como produtos animais e, por vezes, até mesmo peixe.

A presente sessão trata das opções tecnológicas e dos conselhos de gestão para melhorar o acesso das famílias a diferentes alimentos nutritivos, durante todo o ano. Os problemas relativos ao sistema alimentar de uma dada comunidade local, que foram abordados na Sessão 4, constituem o ponto de partida das discussões desta sessão. Fundamentando-se nos conhecimentos que têm das comunidades locais e das tecnologias disponíveis, os participantes deverão considerar cada domínio potencial de intervenção e identificar, depois de as examinar, as opções tecnológicas que parecem ser aplicáveis à situação local.

Para além das fichas de informação estudadas nas sessões anteriores, os participantes devem estudar as fichas sobre a valorização do solo, a gestão da água, a luta contra ervas daninhas e pragas, e o acompanhamento da cultura.

Os resultados da avaliação das necessidades de formação, mencionados na introdução deste manual, vão ajudar os formadores a determinar o tempo necessário para esta sessão e a escolher entre a opção 1 ou a opção 2 (ver os parágrafos que se seguem). Se os participantes têm bons conhecimentos de horticultura, deve ser seguida a opção1. Se, pelo contrário, os seus conhecimentos tiverem de ser reforçados, serão necessários 1 a 3 dias suplementares. O formador especializado no domínio agrícola pode decidir o tempo suplementar a consagrar a esta sessão.

ACTIVIDADES

No primeiro dia do curso de formação, os formadores devem ter distribuído as Fichas de Informação 1 e 2 e da 6 à 12, assim como todos as Rubricas Tecnológicas de Horticultura, e pedido aos extensionistas para estudarem cada noite uma série bem específica de fichas e de rubricas. Com base nos resultados da avaliação das necessidades de formação, os formadores seleccionam então uma das seguintes opções.

Opção 1. Os participantes dividem-se em 5 grupos. Cada grupo estuda uma das séries de fichas de informação e dos Rubricas Tecnológicas de Horticultura correspondentes, e prepara-se para responder às questões que lhe serão postas acerca desses documentos. Os formadores devem assegurar-se de que todos os participantes conhecem bem o conteúdo de cada rubrica.

Opção 2. Esta opção é semelhante à opção 1, exceptuando a necessidade de inclusão de algumas sessões de campo sobre aspectos práticos da horticultura, se os resultados da avaliação das necessidades de formação demonstrarem que os participantes necessitam de mais conhecimentos no domínio prático.

Séries de fichas de informação e de rubricas tecnológicas de horticultura a estudar

O seguinte material será estudado sob a forma de séries:

Série 1

Ficha de Informação 1, "Definição e conceito de horta em África". Ficha de Informação 2, "Problemas alimentares e nutricionais". Rubrica Tecnológica de Horticultura 1, "Melhorar a horta".

Série 2

Ficha de Informação 6, "Maneio e valorização do solo". Ficha de Informação 7, "Nutrientes das plantas: papel e fontes". Rubrica Tecnológica de Horticultura 5, "Melhoramento do solo". Rubrica Tecnológica de Horticultura 6, " Técnicas especiais para melhorar a gestão do solo e da água". Rubrica Tecnológica de Horticultura 7, "Luta contra a erosão, e conservação dos solos". Rubrica Tecnológica de Horticultura 9, "Plantas de cobertura".

Série 3

Ficha de Informação 8, "Os solos e as plantas como um sistema". Ficha de Informação 9, "A gestão da água". Rubrica Tecnológica de Horticultura 6, "Técnicas especiais para melhorar a gestão do solo e da água".

Série 4

Ficha de Informação 10, "Luta contra ervas daninhas e pragas". Rubrica Tecnológica de Horticultura 10, "Protecção segura e eficaz das culturas".

Série 5

Ficha de Informação 11, "Maneio da cultura". Ficha de Informação 12, "Alagar a base das fontes alimentàres através das plantas locais". Rubrica Tecnológica de Horticultura 12, "Cultura múltipla". Rubrica Tecnológica de Horticultura 13, "Cultura em diferentes níveis". Rubrica Tecnológica de Horticultura 14, "Cultura de árvores de fruto e de frutos secos". Rubrica Tecnológica de Horticultura 15, "Parcelas de cultura intensiva de legumes".

Perguntas e respostas. O formador apresenta as notas de síntese (ver as páginas 57 e 58). Guiando-se por elas, os técnicos de campo reflectem sobre as questões a colocar a cada grupo.

Discussão. O formador apresenta um exemplo de uma horta bem tratada (ver a Figura 5.1) e convida os técnicos de campo a comentar os seguintes aspectos:

diferentes utilizações deste tipo de horta; diferentes aspectos da sua gestão; variedade e adequação nutricional dos géneros produzidas.

Exemplos locais. Pede-se aos técnicos de campo para darem exemplos de uma boa gestão das hortas a partir da sua própria experiência.

MATERIAL NECESSÁRIO

Diagrama apresentando as notas de síntese; Figura 5.1 "Plano de uma horta bem tratada em solo misto", e respectivas notas explicativas; «Papel gigante»; Fichas Informativas 1 e 2 e da 6 à 12; Rubrica Tecnológica de Horticultura 1, da 5 à 7, 9, 10 e da 12 à 15.

FIGURA 5.1 Plano de uma horta bem tratada em solo misto

Estrutura

A horta tem 200 m2 de superfície (10 x 20 m) e está situada num terreno acidentado. Há uma pequena zona plana à volta da casa (10% da área total), mas a maior parte do terreno é de terra inclinada (mais de 30 graus de declive) e húmida. O terreno em declive tem culturas ordenadas em vários níveis. Plantas de ciclo vegetativo curto, médio ou longo são cultivadas em conjunto no mesmo lugar. Uma parte da terra húmida foi transformada em arrozal inundado. Foi também previsto um talhão para legumes de estação seca. Um pequeno horto está situado junto da habitação, bem como uma capoeira para galinhas.

Função

A horta é sobretudo uma fonte de alimentos para o dia-a-dia e de rendimentos. Fornece especiarias e plantas medicinais, assim como alguns produtos animais.

Contribuição no plano nutricional

A horta familiar é o principal fornecedor dos alimentos do dia-a-dia. Uma combinação de alimentos provenientes das culturas de base, dos legumes, das oleaginosas, da fruta e das aves de capoeira constitui um bom regime alimentar, capaz de fornecer a energia e os nutrientes de que uma família necessita.

NOTAS DE SÍNTESE

PARA PERGUNTAS E RESPOSTAS

AVALIAÇÃO E PLANIFICAÇÃO DE UMA HORTA

Avaliar a horta Planificar melhoramentos

· Escolher uma localização adequada · Fixar objectives

· Pedir ajuda às pessoas competentes · Fazer opções tecnológicas utilizando o plano da horta

· Fazer um plano da horta

· Fazer modificações

MANEIO E VALORIZAÇÃO DO SOLO

Proteger o solo Melhorar a fertilidade do solo

· Cobrir o solo com plantas · Produzir e utilizar composto

· Limpar só as áreas a cultivar · Colocar folhagem seca de protecção à volta das plantas

· Controlar a erosão · Cultivar plantas que forneçam fertilizante verde

· Travar a perda de solo com a ajuda de barreira · Praticar a rotação das culturas

· Plantar leguminosas

GESTÃO DA ÁGUA

Estação seca Estação das chuvas

· Escolher culturas que resistam à seca · Usar camalhões e canteiros sobrelevados

· Plantar nos canteiros inundados e nas pequenas bacias · Escolher culturas que gostem de água

· Usar todos os pontos de água · Proteger as plantas jovens das chuvas

· Conservar a água · Utilizar reservatórios altos

· Proteger com folhagem seca (mulch) · Utilizar tutores

· Fornecer sombra · Garantir uma boa drenagem

· Arrancar as ervas daninhas

· Aplicar matérias orgânicas

MANEIO E ACOMPANHAMENTO DA CULTURA

Cultura múltipla Cultura em diferentes níveis

· Evitar a monocultura · Cultivar plantas anuais e plantas perenes de acordo com o sistema da cultura em diferentes níveis

· Praticar a cultura alternada · Utilizar trepadeiras

· Não replantar no mesmo lugar · Utilizar plantas de diferentes tamanhos

· Plantar e colher de forma sequencial · Utilizar tutores e outros sistemas de suporte para trepadeiras

Parcelas de cultura intensiva de legumes

· Garantir o abastecimento de água

· Considerar as condições sazonais

· Garantir a diversidade

· Escolher culturas que a família aprecie

· Plantar sebes vivas

· Cultivar plantas anuais e perenes

LUTA CONTRA ERVAS DANINHAS E PRAGAS

Insectos e doenças Animais

· Alimentar o solo · Fazer uma vedação

· Plantar em lugares adequados · Plantar uma sebe viva

· Plantar nas estações certas

· Escolher variedades adaptadas Ervas daninhas

· Arrancar as partes das plantas doentes · Arrancar ou cultivar

· Utilizar insecticidas naturais · Usar folhagem seca de protecção

· Cultivar plantas que repelem os insectos · Praticar culturas de cobertura e criar

· Mondar sombra natural

NOTAS TÉCNICAS

Mensagens prioritárias

1

É essencial preservar e melhorar a fertilidade do solo para aumentar a produção da horta

2

A escolha das tecnologias e das variedades vegetais melhor adaptadas à topografia e à zona agro-ecológica é primordial para que o potencial da horta seja explorado da melhor maneira

3

Um plano de cultura bem orientado é crucial para assegurar um aprovisionamento contínuo de frutos, legumes, leguminosas e alimentos de base

É essencial preservar e melhorar a fertilidade do solo para aumentar a produção da horta

A manutenção e o melhoramento da fertilidade do solo representam um dos principais desafios com os quais se confrontam a maior parte dos horticultores em África. Por isso, eles devem ter acesso a uma informação apropriada e a conselhos técnicos sobre os seguintes pontos:

matéria orgânica disponível localmente que se decomponham em poucas semanas para fazer composto; rotação das culturas e cultura intercalar que minimizem o esgotamento do solo em nutrientes vegetais; tipos de culturas que possam ser plantadas como fertilizante verde; integração da produção vegetal e da produção animal, de modo a produzir estrume animal bem adaptado

aos tipos de culturas praticadas pela comunidade local; fertilizantes químicos (se os preços forem acessíveis) que são indispensáveis para completar o composto e o

estrume.

Os horticultores devem ter acesso a informação sobre os tipos de fertilizantes mais adequados às diferentes culturas da horta, assim como sobre os períodos propícios à sua aplicação.

Para assegurar uma utilização contínua do solo, de ano para ano e de uma geração para a outra, as comunidades locais precisam de informações na área da maneio do solo e da sua conservação. Os diferentes aspectos da gestão e do melhoramento do solo são examinados em detalhe nas Fichas de Informação 6, "Maneio do solo", 7, "Nutrientes das plantas: papel e fontes", e 8, "Os solos e as plantas como um sistema", assim como as Rubricas

Tecnológicas de Horticultura 5, "Melhoramento do solo", 6, "Técnicas especiais para melhorar a gestão do solo e da água", 7, "Luta contra a erosão, e a conservação dos solos", e 9, "Plantas de cobertura".

Os participantes devem ajudar os agricultores a escolher entre as diferentes tecnologias e métodos de gestão das hortas. Sempre que a propósito, os participantes podem fazer demonstrações sobre a valorização do solo, o melhoramento da fertilidade do solo e de outras tecnologias apropriadas, quer numa parcela de demonstração, quer preferencialmente numa terra que pertença aos agricultores.

A escolha das tecnologias e das variedades vegetais melhor adaptadas à topografia e à zona agro-ecológica é primordial para que o potencial da horta seja explorado da melhor maneira

Para além da valorização do solo e do melhoramento da sua fertilidade, existe uma vasta gama de tecnologias para aumentar a produção e a produtividade das hortas. As características agro--ecológicas e climáticas da região, assim como a sua altitude, são muito importantes para a escolha das culturas e das estações mais propícias ao seu desenvolvimento. Por conseguinte, as tecnologias devem adaptar-se à altitude e às características agro-ecológicas e climáticas de uma dada região. Assim sendo, os agricultores precisam de informação sobre:

técnicas mais apropriadas de gestão e recolha da água; variedades de culturas melhor adaptadas à zona agro-ecológica e à estação mais propícia ao

desenvolvimento dessas culturas, métodos mais económicos e sustentáveis de luta contra pragas e ervas daninhas.

Gestão e recolha da água. A distribuição anual das chuvas e o acesso a pontos de água de confiança determinam, muitas vezes, a implantação da horta e dos diferentes tipos de culturas. Os agricultores devem ter acesso a uma informação adequada para saberem se devem fazer os talhões fundos, rasos, ou sobrelevados conforme o tipo de cultura e a época do ano.

As regiões com precipitações regulares têm um melhor potencial de produção estável e contínua de frutos e de legumes, durante todo o ano. Em contrapartida, as comunidades situadas em regiões onde as estações húmida e seca são bem distintas têm de recorrer a várias estratégias que lhes assegurem um aprovisionamento suficiente de frutos e legumes, durante todo o ano. Tais estratégias podem consistir em cultivar duas hortas em simultâneo, uma situada perto da habitação e que será cultivada principalmente durante a época das chuvas, isto é, uma horta de cultura pluvial, e outra afastada da casa, numa terra baixa húmida ou terreno pantanoso. Para que uma horta produza legumes e outras culturas durante toda a estação seca, a utilização de pontos de água não convencionais, tais como as águas domésticas (de lavar a louça ou do banho), poderia ser uma opção.

Além disso, as comunidades que vivem em regiões onde a água da rega é insuficiente durante a estação seca podem criar um ponto de água comunitário (construindo uma pequena barragem ou cavando um poço), financiado pelo fundo comum da comunidade. Junto a este ponto de água, as famílias participantes podem cultivar uma "horta comunitária", na qual cada família tem a sua própria parcela mas partilhará a água e a vedação com os outros membros da comunidade que participam no projecto. Assistidos pelos técnicos de campo, os membros da comunidade podem decidir em conjunto o plano de culturas da horta comunitária e o calendário de cultivo das diferentes culturas alimentares. As sementes e os outros factores de produção, podem ser comprados com a ajuda de um fundo comunitário ou com poupanças acumuladas através de um programa de poupança colectivo. Estas hortas comunitárias constituem excelentes pontos de contacto para que os agentes de divulgação agrícola, os nutricionistas e os agentes de saúde da região possam fornecer conselhos técnicos.

Detalhes sobre a gestão da água e outras técnicas de recolha das águas são dados na Ficha de Informação 9, "A gestão da água", e na Rubrica Tecnológica de Horticultura 6, "Técnicas especiais para melhorar a gestão do solo e da água" .

Variedades vegetais adaptadas ao ambiente. A integração dos produtos hortícolas tradicionais e locais no sistema cultural das hortas deve ser encorajada, mas os baixos rendimentos dessas culturas reduzem o aumento da produtividade. Contudo, pode-se mostrar aos horticultores como manter um bom equilíbrio entre as variedades tradicionais e as variedades melhoradas ou introduzidas.

O estímulo ao cultivo de uma larga gama de culturas alimentares constitui um desafio maior nas regiões semiáridas ou áridas e nas zonas de temperatura baixa (por exemplo, as regiões montanhosas) do que nas zonas húmidas. Os esforços para prolongar a produção de frutos e de legumes durante os períodos mais secos e frios do ano, têm de ser baseados na selecção de espécies e variedades vegetais mais resistentes e na aplicação de práticas de cultivo apropriadas, tais como:

criação de plântulas precoces para transplantação; utilização de pára-ventos; utilização de folhagem seca de protecção e de matérias orgânicas para melhorar a capacidade de retenção

de água no solo; protecção das culturas contra as temperaturas baixas através da utilização de palha ou de coberturas de

plástico; utilização de toda a água disponível para manter o crescimento das culturas durante a estação seca.

Luta a baixo custo contra as pragas. A luta contra as pragas das plantas hortícolas, particularmente durante a estação seca, representa um outro desafio para as famílias rurais. Os agricultores devem ter acesso a informação sobre boas práticas de higiene das hortas. Além disso, devem conhecer os métodos que permitem lutar contra as pragas, respeitando o ambiente, como por exemplo:

associar às culturas alimentares algumas plantas que repelem certos insectos, tais como malaguetas, alho, manjericão, etc.;

utilizar pesticidas naturais (por exemplo, cinza, tabaco, folhas de neem* ou de papaia) ou preparações fáceis de fazer, tais como emulsões de sabão ou de óleo vegetal ou suspensões de amido;

* Ver outros nomes vulgares no Anexo 1, página 278.

remover e queimar as plantas doentes; associar culturas de tipos diferentes, ou praticar a rotação das culturas, para controlar a propagação das

doenças e das pragas associadas a determinado tipo de cultura.

Na Ficha de Informação 10, intitulada "Luta contra ervas daninhas e pragas", são fornecidos pormenores sobre técnicas de baixo custo para lutar contra as pragas, assim como na Rubrica Tecnológica de Horticultura 10, "Protecção segura e eficaz das culturas".

Um plano de cultura bem orientado é crucial para assegurar um aprovisionamento contínuo de frutos, legumes, leguminosas e alimentos de base

Quando se pretende melhorar a horta para ter um aprovisionamento contínuo de frutos e legumes, é importante ter em consideração os recursos inexplorados e o potencial existente, bem como as necessidades e preferências alimentares das famílias.

Ao preparar o plano de cultura de uma horta, é importante considerar factores como o tempo de crescimento de uma planta (desde a sementeira à fase de maturidade), ou a duração do período de colheita dos frutos ou dos legumes de uma planta adulta, antes que tenha de ser substituída. Para além de considerarem as exigências fundamentais de rotação e os aspectos desejáveis da cultura intercalar, os horticultores devem fasear no tempo a plantação ou a sementeira de diferentes tipos de culturas.

Para reduzir os períodos de penúria no aprovisionamento familiar ao longo do ano, por exemplo de fruta fresca, os horticultores devem escolher árvores de fruto cujos frutos amadureçam em diferentes épocas do ano.

Os legumes de folha e as leguminosas devem ser plantados de maneira a fornecer à família, durante todo o ano, diferentes tipos de legumes de folhas verdes e de legumes secos. Os legumes que crescem bem em todas as estações, por exemplo, certas variedades de legumes de folha, podem constituir o essencial da horta e as variedades sazonais podem ser plantadas quando for necessário.

É fundamental que o horticultor esteja bem informado sobre os tipos de árvores de fruto, os legumes e as leguminosas que dão melhores rendimentos nas diferentes épocas do ano, porque poderá assim estabelecer um plano de cultura que permita optimizar o rendimento e os benefícios nutricionais. Os horticultores devem igualmente interessar-se pelos planos de cultura de outros agricultores da região, o que evitará inundar o mercado com uma ou duas produções alimentares, no caso de as famílias produzirem a mais para vender.

O facto de se misturarem culturas anuais e perenes (por exemplo, mandioca e árvores de fruto), e de se adoptarem as culturas múltiplas e a cultura em diferentes níveis, aumenta as disponibilidades alimentares da família o ano inteiro. A batata-doce e o feijão-nhemba, podem constituir boas culturas de cobertura. Algumas culturas e árvores de fruto diferentes, em particular legumes plantados e colhidos de forma contínua, chegam para garantir à família um aprovisionamento constante de alimentos da horta.

Se for necessário produzir quantidades suficientes e diferentes tipos de alimentos hortícolas, particularmente nas planícies húmidas, onde é possível produzir todo o ano, devem ser consideradas técnicas de produção vegetal intensiva. O uso de melhores práticas agrícolas (por exemplo, melhoramento do solo, gestão da água, optimização dos tempos de plantação ou de sementeira, bom espaçamento das plantas, rotação adequada das culturas, controlo das ervas daninhas, luta integrada contra as pragas) podem permitir aumentar a produtividade das culturas. À medida que se adoptam métodos de produção vegetal mais intensivos, deverão ser implantadas melhores técnicas de manutenção pós-colheita (isto é, processamento, conservação e armazenagem), de forma a que os agricultores possam obter o máximo benefício do aumento de produção das hortas.

Finalmente, as famílias devem proteger as suas hortas dos animais à solta, especialmente durante a estação seca. A plantação de sebes vivas pode trazer outros benefícios à família (por exemplo, lenha, tutores e medicamentos).

O técnico extensionista pode ajudar as famílias e as comunidades a identificarem as culturas que melhor se adaptam às condições locais e que fornecerão os nutrientes de que a família necessita para um bom equilíbrio nutricional durante todo o ano. Visto que as mulheres são geralmente responsáveis pelas hortas, é essencial a sua participação integral na planificação e na implementação das inovações.

Encontram-se mais detalhes sobre a gestão e acompanhamento da cultura, em vista ao fornecimento contínuo de alimentos à família, nas Fichas de Informação 11, "Maneio da cultura", e 12, "Alargar a base dos recursos alimentares graças às plantas locais", assim como nas Rubricas Tecnológicas de Horticultura 11, "Sebes vivas", 12, "Cultura múltipla", 13, "Cultura em diferentes níveis", 14, "Cultura de árvores de fruto e de frutos secos", e 15, "Parcelas de cultura intensiva de legumes".

SESSÃO 6: ESTUDO DE CASO

OBJECTIVO

No decurso desta sessão, os técnicos de campo aplicam os seus conhecimentos em nutrição e horticultura a um estudo de caso, a fim de se prepararem para aplicar estes conhecimentos a uma situação real.

FIGURA 6.1 Algumas culturas hortícolas típicas

ABORDAGEM GERAL

Até ao momento, a maior parte das informações técnicas contidas neste módulo de formação foi abordada de forma teórica. As outras sessões de formação preparam os participantes para pôr em prática os conhecimentos adquiridos. Esta sessão revê de forma dinâmica os conhecimentos e conceitos já desenvolvidos, aplicando-os depois num estudo de caso sobre a situação concreta de uma família.

Os participantes são "convidados" a analisar um caso e a discutir sobre as soluções e acções possíveis que as pessoas nele envolvidas poderiam pôr em prática para melhorar a produtividade da sua horta, aumentar e diversificar o seu aprovisionamento alimentar, e melhorar o valor nutritivo do seu regime alimentar. Devem ser examinadas várias soluções possíveis, incluindo acções que os membros da família estudada podem iniciar imediatamente (por exemplo, aconselhar a mãe e o pai da família a dar uma refeição suplementar ao seu filho todos os dias) e outras acções que podem exigir mais tempo para melhorar a nutrição da família (por exemplo diversificar a produção vegetal).

ACTIVIDADES

O estudo de caso descreve a situação de uma família numa região semi-árida da África Austral. É aconselhável que os formadores de outras regiões africanas, em particular das zonas tropicais húmidas, criem o seu próprio estudo de caso, ou adaptem este de forma a que reflicta a situação agrícola, alimentar e nutricional da região e tenha em consideração os obstáculos com que as famílias rurais se confrontam, assim como as possibilidades de os ultrapassarem.

Estudo de caso. O exercício deve começar em sessão plenária. Os participantes devem dispor de 20 minutos para rever as notas sobre o estudo de caso e discutir o significado de cada informação, identificando e enumerando, num «papel gigante», os principais problemas levantados no estudo. O formador deve assegurar-se de que os problemas que se inter-relacionam sejam reagrupados, a fim de que cada grupo possa identificar mais facilmente os principais problemas. Não se devem identificar mais do que quatro ou cinco problemas principais. Os técnicos da extensão agrícola dividem-se então em pequenos grupos, e cada grupo selecciona um dos problemas principais que considere como o mais importante no contexto local.

A análise aprofundada de cada problema pode então iniciar-se. O formador explica que, nas situações de campo, a análise das causas dos principais problemas identificados é feita tendo em vista certos grupos alvo (por exemplo, mulheres responsáveis pelas hortas, camponeses pobres, mulheres com crianças pequenas). A formação de um grupo alvo permite garantir que as pessoas mais afectadas por um problema em particular e aquelas que nos podem informar melhor sobre esse problema trabalhem em conjunto para analisar as suas causas e encontrar soluções.

Os participantes devem trabalhar em grupos para elaborar um modelo causal do problema identificado. Este exercício será realizado tendo por base a informação disponível relativamente ao estudo de caso e o conhecimento que cada participante tem da situação local, de forma a determinar as causas de cada problema. Ao analisarem as causas de um problema, os participantes deverão também considerar alguns dos meios que podem permitir às famílias ou às comunidades ultrapassarem esse problema (por exemplo, através de grupos locais de ajuda mútua, trabalhando em conjunto ou repartindo os recursos), e deverão reflectir nos obstáculos que os impedem de resolver eles próprios esses problemas. Quando as famílias não possuem os meios para resolver por elas próprias os problemas ou quando a ajuda da comunidade não é suficiente, será necessário recorrer a uma apoio exterior do governo ou de outras instituições.

Assim que os grupos tenham terminado a sua análise, cada um deles será convidado a escolher uma ou duas causas do problema que, segundo eles, possam ser eliminadas ou pelo menos atenuadas.

Cada grupo apresentará, então, em sessão plenária, o seu modelo causal e as soluções propostas. O representante de cada grupo deverá explicar porque é que o seu grupo escolheu determinadas causas e soluções para resolver o problema.

Na última etapa, os participantes devem chegar a acordo sobre as causas principais dos problemas que desejam resolver através de intervenções locais. As causas são enumeradas num quadro de conferência. Se não se conseguir chegar a um acordo na discussão em sessão plenária, o formador pedirá aos membros do grupo para votarem a decisão final.

O formador explica que o objectivo principal da análise causal é identificar as causas principais ou as causas subjacentes dos problemas identificados, de modo a poder propor acções e intervenções que possam ser postas em prática para eliminar essas causas. É, no entanto, irrealista determinar acções para cada causa identificada. Os grupos são encorajados a reagrupar sob a forma de temas as causas estreitamente ligadas entre si, como por exemplo:

Cuidados: uma só refeição por dia para as crianças; alimentos de desmame de fraco valor nutritivo; mãe demasiado ocupada para poder alimentar convenientemente os seus filhos;

Penúrias alimentares sazonais: ausência de hortas de estação seca; falta de instalações de armazenagem apropriadas; venda excessiva dos alimentos produzidos; inexistência de um sistema de conservação de legumes de folha verde.

Produção alimentar insuficiente: solos estéreis; falta de sementes de legumes a nível local; disponibilidade limitada de terra; mão-de-obra familiar insuficiente para produzir mais alimentos.

Água e higiene: poços de água protegidos muito distanciados; utilização pela população de água insalubre das ribeiras próximas; falta de latrinas.

O formador distribui o diagnóstico do estudo de caso para que os participantes possam compará-lo com o seu próprio diagnóstico da situação.

Fundamentando-se nos resultados das discussões, os grupos deverão preparar uma lista de recomendações prioritárias para a família estudada, visando melhorar a sua situação alimentar e nutricional. Deverão igualmente ser capazes de explicar e justificar a escolha das acções ou das intervenções propostas.

MATERIAL NECESSÁRIO

Notas sobre o estudo do estudo de caso e respectivo diagnóstico; «Papel gigante»; Canetas e marcadores.

NOTAS SOBRE O ESTUDO DE CASO

1. A família Fonseca tem seis membros (o senhor Fonseca, a senhora Fonseca e os seus quatro filhos, José, Francisco, Madalena e Maria, com 14, 12, 5 e 1 ano de idade, respectivamente). O senhor Fonseca trabalha longe de casa e só pode participar nos trabalhos da horta e da quinta durante as suas férias anuais, que coincidem com o início da estação das chuvas. Normalmente, ele ocupa-se da preparação da terra e da plantação das culturas de campo aberto. O resto do trabalho agrícola, nomeadamente a monda e a colheita, assim como todas as actividades pós-colheita, tais como a armazenagem, o processamento dos alimentos e a sua comercialização, é feita pela senhora Fonseca com a ajuda dos dois filhos mais velhos, José e Francisco, que vão à escola todas as manhãs cedo e ajudam a sua mãe quando regressam a casa e durante as férias escolares.

2. Há oito anos, a família Fonseca vivia numa aldeia situada a 400 km de distância, num vale muito fértil. Foram realojados nesta localidade por causa de um projecto de construção de uma barragem. O resto dos seus parentes permaneceu na aldeia de origem porque os seus campos não se situavam na zona escolhida para a construção da barragem.

3. A família recebeu 2,5 hectares de terra agrícola, dos quais 90% situados num planalto e os restantes 10% num vale húmido. Os Fonsecas instalaram uma horta de 300 m2 neste vale, de solo argiloso e com várias termiteiras; as outras terras da quinta têm solo arenoso e, portanto, estéril, com uma fina camada de terra arável. A região

compreende uma estação de chuvas bem precisa (de Novembro a Março) e uma longa estação seca bastante quente, só com dois ou três meses relativamente frescos. As terras estão situadas a 4 km de distância da habitação.

4. As principais culturas pluviais de campo aberto praticadas pelos Fonsecas são o milho--miúdo, o milho, um pouco de mandioca, a batata-doce, o amendoim, o feijão-nhemba, o feijão, o feijão-bambara e a abóbora. Como o milho-miúdo é uma cultura que exige uma grande intensidade de mão-de-obra e de fraco rendimento se comparada com o milho, a família está a reduzir pouco a pouco a superfície reservada ao milho-miúdo. No início das chuvas, rebentam espontaneamente variedades locais semi-selvagens de legumes de folha verde, e a senhora Fonseca deixa-as crescer entre as plantas cultivadas. O girassol e o algodão são as principais culturas comerciais praticadas pela família.

5. O milho é plantado na horta durante a estação das chuvas. Durante a estação seca, os Fonsecas utilizam somente 25% da horta e plantam diferentes legumes: tomate, pimento, cebola, amaranto, repolho, couve verde, quiabo e feijão. Os legumes de folha são muitas vezes atacados pelos insectos como, por exemplo, os gafanhotos. Na horta, existem também três grandes mangueiras, duas papaieiras de cinco anos e cana-de-açúcar. Pouco tempo depois da chegada da família à aldeia, o senhor Fonseca fez um poço pouco fundo que fornece água para regar, para beber e para uso da família. Os dois filhos mais velhos ajudam a mãe nos trabalhos da quinta e de horticultura e vão buscar água para a casa. O Quadro 6.1 enumera as principais culturas praticadas na horta e na quinta dos Fonsecas.

QUADRO 6.1 Culturas praticadas na horta do estudo de caso

Cultura Número de plantas Área (m2)

Plantas productivas (%)

Abóbora, folhas 10 100

Amarantos 10

Amendoim 100 50

Batata-doce 150 70

Cana-de-açúcar 100 Colheita segundo a procura

Cebola 10

Couve verde 20 Em continuidade

Feijão 150 50

Feijão-nhemba 50 100

Mandioca 300 100

Manga 1 100

Milho 500 75

Milho-miúdo 300 70

Repolho 10

Papaia 2 60

Quiabo 20 100

Tomate 5

6. Um técnico extensionista visita os Fonsecas duas vezes por ano (uma vez no início da estação agrícola e outra perto do período da colheita). Para além de avaliar o estado das culturas e preparar relatórios para a sede de distrito, o agente dá conselhos técnicos sobre a cultura do milho, do algodão e do girassol.

7. Na quinta dos Fonsecas pode haver escassez sazonal do alimento de base. A colheita de cereais satisfaz as necessidades da família apenas cinco meses. Depois da colheita, a família come três vezes por dia, mas dois meses depois da colheita o número de refeições é reduzido a duas, para que as reservas permitam esperar pela próxima colheita; por fim, durante uma boa parte dos quatro meses da estação das chuvas, a família não faz mais do que uma refeição por dia. Geralmente, a mandioca não é utilizada para preparar o prato principal, a não ser quando as reservas de cereais são escassas.

Du-rante a estação das chuvas, o processamento da mandioca torna-se um problema porque muitas vezes não há sol suficiente para a secagem da mesma, uma vez moída. Quando não há farinha de mandioca para preparar o prato de base, a senhora Fonseca tem de utilizar os legumes de folha verde (folhas de abóbora, e de feijão-nhemba e de vários legumes semi-selvagens), abundantes nesta altura do ano. A senhora Fonseca poderá apenas juntar um pouco de pasta de amendoim ao prato de vegetais dado que, nesta altura do ano, as reservas de feijão e amendoim estão no ponto mais baixo.

8. Durante a estação seca, a família não tem ingredientes suficientes para preparar o prato de acompanhamento. As culturas da horta têm baixos rendimentos devido à falta de água e de mão-de-obra, bem como aos prejuízos causados pelos insectos. De vez em quando, a senhora Fonseca compra um peixe grande ao vendedor que passa periodicamente na aldeia.

9. Para além dos artigos não alimentares, como livros e vestuário para a escola, o sabão ou o combustível para a cozinha, a senhora Fonseca compra, com o dinheiro proveniente da venda do algodão e do girassol, outros géneros alimentares como óleo para cozinhar, sal e açúcar. O senhor Fonseca compra habitualmente pequenas quantidades de adubo e de sementes de milho, girassol e algodão, que leva consigo quando regressa a casa para as suas férias anuais, no início da estação das chuvas.

10. O regime alimentar da família inclui milho, milho-miúdo ou mandioca, que servem para preparar uma papa espessa servida com um prato de acompanhamento composto de legumes. Durante a estação das chuvas, o prato de acompanhamento é preparado com legumes de folha e, conforme as disponibilidades, com pasta de amendoim, de tomate ou de cebolas e de óleo. Durante a colheita e algum tempo depois dela, a senhora Fonseca varia muitas vezes o prato de acompanhamento, alternando feijão, feijão-nhemba e peixe. Contudo, três ou quatro meses depois da colheita, à medida que a reserva de leguminosas diminui, utiliza-as menos frequentemente para o prato de acompanhamento e serve-se de novo dos legumes de folha da horta. Como estes últimos são frequentemente insuficientes, ela compra de vez em quando peixe seco para os complementar. A família não consome carne a não ser em ocasiões festivas (na maior parte das vezes frango).

11. Os filhos dos Fonsecas comem muitos frutos da época (de Janeiro a Fevereiro mangas, e de Maio a Dezembro, papaias). Os frutos são habitualmente consumidos entre as refeições. Outras refeições ligeiras incluem milho verde cozido ou grelhado e, segundo a estação, batatas doces ou mandioca cozidas, cana-de-açúcar e amendoins. Como as mangas são muito abundantes e as crianças não as podem consumir todas, grande parte desperdiça-se. Não há mercado local para as mangas uma vez que a maior parte das pessoas possuem mangueiras. Além disso, a senhora Fonseca não pode ir até à cidade mais próxima para as vender, pois não tem ninguém com quem deixar as crianças pequenas na sua ausência.

12. Quando a Maria atingiu os 7 meses, a senhora Fonseca começou a completar a sua alimentação dando-lhe duas vezes por dia uma papa de milho ou de milho-miúdo, ligeiramente salgada. Quando havia açúcar, a senhora Fonseca juntava a essa papa uma ou duas colheres de açúcar. Aos 9 meses, Maria começou a comer os alimentos do prato familiar, por exemplo papa grossa com um pouco de líquido do prato de acompanhamento, batatas doces ou abóbora cozida. A senhora Fonseca continuou a amamentar a Maria; só lhe dava a papa uma vez ao dia, de manhã. A Maria tem agora um ano e vários dentes, comendo a maior parte dos alimentos dos pratos familiares. A senhora Fonseca deixou de lhe preparar a papa de manhã.

13. É a estação das chuvas e a senhora Fonseca leva com ela para os campos as duas crianças mais novas, Madalena e Maria. A Maria ainda é amamentada. Quando é possível, a senhora Fonseca leva os restos da refeição da véspera para dar às crianças, antes de regressar a casa para preparar a única refeição do dia. Além disso, ela também lhes dá mangas da horta. Madalena e Maria são pequenas para a idade, sobretudo quando comparadas com outras crianças da mesma idade.

14. A família não dispõe de latrinas. Os resíduos domésticos, incluindo as cinzas, são despejados num canto do terreno. O centro de saúde mais próximo é a 10 km de distância. A senhora Mulale só leva lá as crianças quando elas estão extremamente doentes. Para queixas de saúde menores, como dores de barriga ou tosse, leva-as ao curandeiro tradicional da localidade.

15. Durante a estação das chuvas, Maria, a filha mais nova, tem muitas vezes diarreia, vómitos e febre. Durante o período de escassez, as crianças mais velhas vão frequentemente para a escola de estômago vazio. Muitas vezes queixam-se de dor de cabeça e, quando não estão bem, ficam em casa.

16.A família tem três bois e algumas galinhas que andam à solta no terreno. O senhor Fonseca fez um acordo com os vizinhos, que ajudam muitas vezes a mulher a olhar pelo gado.

DIAGNÓSTICO DO ESTUDO DE CASO

1. Há seis membros nesta família, e devia ser possível alimentá-los bem com os produtos dos campos e da horta. Contudo, o senhor Fonseca vive longe da aldeia e só contribui parcialmente para a produção alimentar e cuidados da família. A senhora Fonseca, ajudada pelas duas crianças mais velhas, faz a maior parte dos trabalhos agrícolas, para além das actividades pós-colheita e do trabalho doméstico de preparação dos alimentos e de dar atenção às crianças.

2. Como a família deixou a sua aldeia de origem, a senhora Mulale já não beneficia da ajuda dos membros da família alargada, que inclui a educação e a assistência por parte das mulheres mais idosas da família.

3. Antes de se mudar, a família praticava culturas num vale fértil atravessado por um curso de água, nunca tendo de se preocupar com o enriquecimento do solo. As chuvas traziam sedimentos férteis para o vale, factor que a família aproveitava. Os Fonsecas não têm a experiência necessária para melhorar a fertilidade do solo. Por outro lado, a água de rega não era até então motivo de preocupação. No início da estação seca, a humidade residual era suficiente; após esse período os poços pouco fundos garantiam água para o resto da estação.

4. Embora o milho-miúdo se adapte melhor do que o milho às regiões semi-áridas, a família prefere cultivar milho, quer pelo seu maior valor comercial, quer porque o seu cultivo é relativamente fácil para uma mulher. A família é, neste aspecto, encorajada pelos agentes de divulgação agrícola, que dão conselhos técnicos sobre o milho e outras culturas comerciais. Contudo, o milho híbrido tolera mal a seca, e, ao cultivá-lo, a família arrisca-se a perder a sua colheita principal devido às incertezas climatéricas e às secas periódicas.

5. Na aldeia de origem dos Fonsecas, a erva era suficientemente abundante durante a estação seca, devido à humidade residual; os gafanhotos e outras pragas não representavam uma ameaça séria para a horticultura durante a estação seca. Actualmente, na sua horta, a senhora Fonseca não sabe como é que se pode livrar das pragas.

6. Como os conselhos dos agentes de extensão agrícola se centram apenas no milho e nas culturas comerciais, é dada pouca atenção à produção de outras culturas importantes para o consumo da família, nomeadamente certos cereais (por exemplo, o milho-miúdo e o sorgo), as leguminosas, as oleaginosas, os legumes e os frutos.

7. A frequência das refeições diárias é fortemente influenciada pela disponibilidade do alimento de base. À medida que as reservas do alimento de base diminuem, no fim da estação seca e durante a estação das chuvas, o número de refeições quotidianas diminui igualmente. Embora haja bastantes legumes e frutos durante a estação das chuvas, o que melhora a qualidade nutritiva das refeições, o consumo alimentar no seu conjunto continua a ser insuficiente e não satisfaz as necessidades nutricionais.

8. A possibilidade de completar os produtos da horta com peixe depende sobretudo de dois factores: do dinheiro disponível para o comprar e da frequência com que os vendedores de peixe passam na aldeia.

9. A maior parte do rendimento proveniente da venda de culturas comerciais (algodão e girassol) destina-se a cobrir as despesas não alimentares da família. Uma parte bastante reduzida é utilizada na compra de produtos alimentares de base que a família não produz, particularmente óleo e açúcar. O essencial do rendimento do senhor Fonseca destina-se a cobrir as suas próprias despesas, durante o período em que trabalha fora de casa, assim como a comprar anualmente os factores de produção agrícolas.

10. O regime alimentar da família durante e pouco tempo depois da colheita cobre as necessidades energéticas, e é bem equilibrado no plano nutricional. Contudo, nos meses seguintes, piora gradualmente, situando-se o seu período mais crítico durante a estação das chuvas. Como esta estação é igualmente um período de doenças infecciosas e de grande procura de trabalho agrícola, a alimentação consumida, além de ser em quantidade insuficiente, também não é bem utilizada pelo corpo, o que contribui para deteriorar ainda mais o estado nutricional dos membros da família, em particular das crianças.

11. As variedades de árvores de fruto são bastante limitadas, o mesmo acontecendo com as refeições ligeiras das crianças. Há uma mangueira, mas a sua produção é sazonal. A pesada carga de trabalho da senhora Fonseca durante a estação das chuvas e a necessidade de cuidar das crianças pequenas não lhe permitem ir vender ao mercado o excesso de mangas. Além disso, a procura de mangas é fraca porque toda a gente pode obter mangas, uma vez que as mangueiras são propriedade pública. Por outro lado, as papaieiras são velhas e deveriam ser substituídas, mas não se encontra material de plantação na região, e o viveiro de árvores de fruto fica a 50 km de distância.

12. A senhora Mulale ainda amamenta a Maria, a criança mais nova, mas já começou a dar-lhe alimentos sólidos. Porém, deveria melhorar a frequência das refeições e a qualidade dos alimentos. A papa espessa e a porção líquida do prato de acompanhamento não fornecem à Maria a energia e os micronutrientes de que ela precisa para crescer e se desenvolver bem.

13. Os períodos de escassez de alimentos, a par da pesada carga de trabalho na estação das chuvas, afectam seriamente a quantidade e a qualidade dos alimentos consumidos pelas crianças. As duas crianças mais novas são vulneráveis à má nutrição e mostram sinais de crescimento lento. As fichas de crescimento das crianças não são preenchidas de forma regular. O centro de saúde é longe, e a senhora Mulale utiliza os seus serviços mais para remediar do que para prevenir. Ela não leva lá as crianças a não ser quando estão extremamente doentes, e de cada vez que elas apresentam um peso abaixo do normal.

14. As condições de higiene na quinta são fracas. As doenças infecciosas e o paludismo constituem problemas e, por causa do seu fraco consumo alimentar, as crianças mais crescidas não podem ajudar muito a mãe nos campos, nem beneficiar plenamente do programa escolar.

15. Três bois não chegam para assegurar a continuidade da criação de gado. Se ao menos houvesse uma vaca em vez de três bois, o leite poderia servir para alimentar a família e ainda ser vendido. A criação de aves de capoeira poderia também ser melhorada. As culturas estariam melhor protegidas se as galinhas estivessem guardadas numa zona vedada. Além disso, o estrume proveniente das galinhas poderia ser mais facilmente aproveitado para enriquecer o solo arenoso e pobre, o que permitiria melhorar a produção vegetal.

CONCLUSÕES

Com base na informação dada no estudo de caso e nos resultados dos trabalhos de grupo, pode tirar-se como conclusão principal que existem numerosas possibilidades de melhorar a situação. O ponto de partida deve ser uma boa compreensão dos problemas locais de alimentação e de nutrição, assim como das suas causas. A equipa local de divulgação e a população envolvida devem esforçar-se por compreender bem os problemas antes de tentar solucioná-los.

A natureza dos problemas colocados no estudo de caso faz apelo a um método intersectorial na procura de soluções, isto é, uma colaboração entre os sectores da agricultura, da saúde, da educação e do desenvolvimento comunitário. A análise do estudo de caso e do seu diagnóstico conduziu às seguintes sugestões para melhorar a nutrição através da horticultura:

ajudar as famílias a compreender o papel que a horta pode desempenhar na satisfação das necessidades alimentares diárias da família e na redução das flutuações sazonais do aprovisionamento;

promover métodos baratos e sustentáveis de lutar contra as pragas e técnicas eficazes para recolher a água; encorajar a adopção de tecnologias que impliquem pouca mão-de-obra, que aliviem a mãe de família e lhe

permitam assumir melhor as suas responsabilidades no que se refere à produção alimentar e à prestação de cuidados à família;

encorajar os grupos comunitários a reflectirem sobre a forma de resolver certos problemas através de acções colectivas ou comunitárias (por exemplo, a criação de um centro de dia comunitário ou de grupos de poupança);

encorajar e ajudar as famílias a escolherem actividades apropriadas e a executá-las, acompanhando depois o seu progresso;

promover a educação nutricional através de grupos de mães, e escolher e formar o pessoal encarregado da promoção da nutrição e da saúde na comunidade;

encorajar o acompanhamento da evolução dos conhecimentos na comunidade e pôr em prática um sistema de prevenção das doenças e o tratamento das crianças doentes, que permita a ligação ao centro de saúde mais próximo.

ESSÃO 7: PROMOVER AS HORTAS PARA MELHORAR A NUTRIÇÃO: SEGUNDA VISITA À HORTA

OBJECTIVO

No fim desta sessão, os técnicos de campo deverão ter:

· reforçado os seus conhecimentos e a sua aptidão para trabalhar com as comunidades;

· recolhido e interpretado as informações necessárias para compreender a situação alimentar e nutricional das famílias e das comunidades;

· compreendido melhor a contribuição real e potencial da horta para a segurança alimentar e para o bem estar nutricional das famílias, como base para encontrar soluções e programar melhoramentos com as famílias.

ABORDAGEM GERAL

Durante esta segunda visita às famílias, os participantes vão recolher informações detalhadas e trabalhar com os membros das famílias na avaliação da sua situação alimentar e nutricional. As Sessões 8, 9 e 10 estudarão a maneira de aconselhar as famílias e de ajudá-las a planificar os melhoramentos.

É importante relembrar que o papel dos técnicos de campo consiste em facilitar a aprendizagem e a análise pelas comunidades e pelas famílias locais. Consequentemente, convém insistir na elaboração, etapa por etapa, de um processo de discussão, de análise e de planificação na família ou na comunidade. Este trabalho requer um certo número de visitas de acompanhamento e o estabelecimento de relações de trabalho contínuas com a população local. Um tal processo exige um trabalho de equipa, sensibilidade, e uma certa capacidade de facilitar as trocas. As tarefas e as responsabilidades dos homens e das mulheres, assim como o seu acesso aos recursos, devem ser tomadas em consideração durante o diálogo com as famílias e as comunidades, tanto mais que estas questões têm efeitos significativos nas decisões que tomam os membros da família acerca da alimentação e da nutrição.

ACTIVIDADES

Exame das notas técnicas. Utilizando as notas técnicas da Sessão 7, o formador e os participantes revêem a importância do trabalho de equipa, as capacidades de animação e de comunicação que os técnicos de campo devem possuir no seu trabalho com as famílias e as comunidades, assim como a importância de ponderar o papel dos homens e das mulheres em todas as actividades ligadas à agricultura, à horticultura e à nutrição das famílias.

Revisão e preparação final da Lista de Controlo 2. Com base nos resultados da primeira visita às hortas e das sessões de formação seguintes, o formador anima a discussão que conduz à revisão da Lista de Controlo 2 (ver a Lista de Controlo 2 proposta na presente sessão). Os técnicos de campo devem também rever e discutir as notas que acompanham a Lista de Controlo 2, a fim de assegurar o bom entendimento da finalidade e do significado de cada questão da lista. O formador insiste na importância de considerar a lista de controlo mais como guia de discussão do que como um questionário rígido. Por exemplo, se as questões colocadas na primeira visita à horta necessitam de ser aprofundadas ou verificadas posteriormente, elas devem ser incluídas na Lista de Controlo 2.

Preparação das visitas às famílias. O formador deverá providenciar que as famílias que foram visitadas na primeira visita às hortas sejam de novo visitadas. Quando as famílias têm dois chefes de família, tanto o marido como a mulher deverão estar presentes. A avaliação de terreno durará um dia inteiro.

Os técnicos de campo continuarão a trabalhar nos mesmos grupos em que trabalharam nas visitas e exercícios teóricos anteriores. Antes da visita, cada grupo escolhe um animador e um relator. Cada equipa deverá entrevistar cinco ou seis famílias. O trabalhador de saúde ou o nutricionista do grupo será responsável pela avaliação nutricional (medida do perímetro braquial a meia altura das crianças com idades compreendidas entre 1 e 5 anos).

Segunda visita às hortas familiares. Depois das apresentações, o animador do grupo explica o objectivo desta visita e resume rapidamente os resultados da visita anterior. Cada uma das equipas e suas respectivas famílias iniciam a discussão. As equipas pedem aos membros das famílias para responderem às questões das Secções A, B, C, e D da Lista de Controlo 2 (informações gerais, fontes de alimentos, nutrição, questões ligadas, à partilha dos recursos e do tempo entre homens e mulheres).

Os participantes analisam a horta com os membros da família e pedem-lhes para os ajudarem a completar as Secções E, F, G e H da Lista de Controlo 2 (condições da agricultura, carga biológica, gestão da horta familiar, culturas e criação de animais).

O chefe da equipa anima uma sessão com a família; todos os membros desenham em conjunto o plano da horta (num «papel gigante» ou no chão), identificando as suas principais características físicas e as culturas que ali são praticadas. Este plano servirá de referência para as discussões desta sessão e da Sessão 8.

MATERIAL NECESSÁRIO

Lista de Controlo 2 e notas destinadas aos técnicos de campo; «Papel gigante»; Bloco de notas; Canetas e marcadores; Fita PBMA ou fita métrica.

NOTAS TÉCNICAS

Mensagens prioritárias

1

Os técnicos de campo, quando trabalham com as famílias, devem ter uma boa capacidade de animar e de comunicar

2

É essencial que os técnicos de campo trabalhem em equipa para ajudar as famílias a melhorarem a nutrição

3

Durante o diálogo com os membros da comunidade é fundamental ponderar o papel dos homens e das mulheres

Os técnicos de campo, quando trabalham com as famílias, devem ter uma boa capacidade de animar e de comunicar

Para além de possuírem conhecimentos e terem competências bem precisas no plano técnico, os técnicos de campo que trabalham directamente com as famílias e as comunidades, devem ter uma excelente capacidade de comunicar e de animar. Um bom animador é também um bom observador e um ouvinte activo, que manifesta interesse no que as pessoas dizem. De um modo geral, um bom animador deverá:

respeitar as opiniões da população local; identificar rapidamente os indivíduos que dominam a discussão e encontrar o meio discreto, mas eficaz, de

solicitar a opinião dos outros membros da comunidade nas discussões colectivas ou individualmente; saber observar a dinâmica do grupo e a interacção entre os membros da família ou os membros da

comunidade (por exemplo, entre marido e mulher ou entre homens e mulheres); responder às necessidades das famílias e adaptar estas questões a essas necessidades.

Nos seus contactos com as famílias, os técnicos de campo devem de um modo geral ser sensíveis às práticas culturais e às tradições. Por exemplo, quando não é aceitável que os técnicos de campo do sexo masculino se encontrem com os elementos do sexo feminino de uma família, ou quando o assunto da discussão é considerado como exclusivamente "feminino" (por exemplo, a preparação dos alimentos, a alimentação das crianças, a saúde da mulher ou o planeamento familiar), os técnicos de campo do sexo feminino devem animar a discussão ou organizar sessões de grupo reservadas às mulheres. É por isso que é importante que cada equipa inclua membros do sexo feminino, de preferência em igual número aos do sexo masculino.

É essencial que os técnicos de campo trabalhem em equipa para ajudar as famílias a melhorarem a nutrição

As questões da alimentação e da nutrição tocam várias disciplinas; por isso, é responsabilidade de todos os técnicos de campo que trabalham com a comunidade ajudarem as famílias a resolver os problemas de insegurança alimentar e de malnutrição. Quando, por exemplo, os agentes de divulgação agrícola procuram resolver por eles próprios os problemas, normalmente não consideram senão os aspectos da produção, do rendimento das culturas, dos preços e dos rendimentos; em contrapartida, os nutricionistas e os trabalhadores de saúde procuram sobretudo saber como é que as famílias obtêm a alimentação e se essa alimentação satisfaz as necessidades nutricionais da população. Criando condições que permitam ao pessoal de campo dos diferentes sectores partilharem a informação e trabalharem em conjunto para um objectivo comum, proporciona-se às famílias rurais a possibilidade de utilizarem os serviços técnicos e os meios de produção disponíveis, de modo a poderem intervir nos diferentes aspectos da insegurança alimentar e da malnutrição.

Durante o diálogo com os membros da comunidade é fundamental ponderar o papel dos homens e das mulheres

A distribuição dos papéis segundo o sexo (por exemplo, as responsabilidades assumidas tanto pelos homens como pelas mulheres) deve ser considerada durante o diálogo que visa melhorar a nutrição das famílias. Tal pode ser feito examinando as seguintes questões:

Quem decide o que se deve cultivar, onde cultivar (horta ou campo que pertencem à família), a época de plantação e o destino dos alimentos produzidos?

Quem é responsável, no dia-a-dia, pelas decisões sobre que alimentos preparar e qual a quantidade a preparar e a servir aos diferentes membros da família?

Como é que os diferentes membros da família ocupam os seus dias (organização das principais actividades diárias) e quais são as variações sazonais destas diferentes actividades?

Quais são as necessidades específicas dos homens e das mulheres no melhoramento das hortas e da nutrição, e como é que estas necessidades podem ser satisfeitas?

O método que consiste em pedir aos homens e às mulheres para anotarem num caderno, cada um separadamente, as suas respectivas actividades, permitirá saber claramente quem faz o quê e quando, bem como o tempo que as mulheres passam a fazer melhoramentos na horta ou a prestar os cuidados necessários às crianças pequenas.

Pode ser necessário que os participantes se encontrem com as mulheres separadamente. Isto permitirá às mulheres exprimirem as suas ideias e as suas opiniões livremente, sobretudo em meios em que, por razões culturais, não é aceitável que as mulheres falem na presença dos homens ou em público. A participação activa das mulheres na avaliação da situação alimentar e nutricional é importante, permitindo, ao mesmo tempo, responsabilizá-las e garantir que as acções e os melhoramentos relativos à horta possam ser concebidos e planificados de modo a responderem às suas necessidades, sem aumentar a sua carga de trabalho.

LISTA DE CONTROLO 2:

SITUAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL E UTILIZAÇÃO DA HORTA

Nome do animador: ..............................................................

Nome do anotador: ............................... Data: ............................

Nome da aldeia: ............................... Nome da família: ...................

A) Informações gerais

Coloque as seguintes questões a todos os membros da família:

1. Quantas pessoas fazem parte do agregado familiar?

a) Adultos (total): ......... (total dos que trabalham): .........

b) Crianças (faça uma lista dos que têm menos de 15 anos e indique as suas idades):

..................................................................................

2. Quantos membros da família têm trabalho fora da exploração agrícola familiar?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

3. Quais os membros da família com experiência de horticultura, nomeadamente de cultura de legumes e frutos?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

4. A produção da horta é suficiente para satisfazer as necessidades alimentares da família durante todo o ano? Se não, quais os factores que limitam a produção?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

5. Qual é actualmente a principal função da horta ? (assinale só uma resposta)

a) Alimentação ................ b) Rendimentos ................ c) Ambos ................

B) Fontes de alimentos

Coloque as seguintes questões a todos os membros da família:

6. Qual é a parte do aprovisionamento alimentar da família que provém da horta?

a) A maior parte ................. b) Cerca de metade ................. c) Menos de metade .................

7. Que culturas pratica na horta? (enumere todas as culturas)

Estação das chuvas Estação seca

............................................................................ ...............................................................................

............................................................................ ...............................................................................

............................................................................ ...............................................................................

8. Gostaria de aumentar a produção de algumas dessas culturas?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

9. Quais são as outras culturas que gostaria de praticar?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

10. Como é que utiliza as culturas alimentares acima mencionadas? (por exemplo, consumo familiar, venda, processamento, armazenagem)

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

11. Que métodos/instalações utiliza para o processamento (secagem, cura, outros) e a armazenagem?

Tipo de colheita Método de processamento/armazenagem

............................................................. ..........................................................................

............................................................. ..........................................................................

............................................................. ..........................................................................

12. Quem decide sobre a utilização dos alimentos? (marido/mulher/outra pessoa)

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

13. Quais são os principais géneros alimentícios que compra com dinheiro? Compra-os muitas vezes?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

14. Quem os compra ? (marido/mulher/outra pessoa)

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

15. Que outros produtos ou artigos compra regularmente para a preparação dos alimentos? (condimentos, legumes, fruta, óleo, alimentos para beb és, sabão, lenha/petróleo, outros)

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

C) Nutrição

Coloque as seguintes questões à mãe ou aos outros membros da família:

16. Quantas refeições comeu a família ontem?

a) Adultos: ......... b) Crianças (com menos de 5 anos): ......... c) Crianças (de 5 a15 anos): .........

17. Existem períodos do ano durante os quais come por dia mais ou menos refeições do que habitualmente ? Quais?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

18. O que é que comeu ontem?

Tipo de comida Ingredientes utilizados

................................................................. .........................................................................

................................................................. .........................................................................

................................................................. .........................................................................

19. Existem alimentos que são reservados às crianças? Se sim, quais?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

20. Quantas vezes por semana as crianças (com menos de 5 anos) comem legumes? Fruta?

Carne ou peixe?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

21. Como é que isso (essa frequência) varia com as estações do ano?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

22. Quantas vezes comeu o seu filho (com menos de 2 anos) ontem?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

23. Que alimentos lhe foram dados?

Tipo de alimento de desmame Ingredientes utilizados

..................................................................... ..........................................................................

..................................................................... ..........................................................................

..................................................................... ..........................................................................

24. Acha que está a alimentar adequadamente o seu filho e que lhe dá os alimentos mais adequados? Se sim ou não, explique porquê.

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

25. As crianças (com menos de 5 anos) sofreram, durante o mês passado, de alguma das seguintes doenças? (sublinhe a doença ou doenças)

a) Diarreia ............ b) Sarampo ........... c) Malária ............ d) Tosse .............. e) Malnutrição ......... f) Cegueira nocturna (identifique os sinais e os sintomas) ......... g) Outras: ......................................................................

26. Quantas vezes é que o seu filho sofreu de uma destas doenças durante o mês passado?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

27. Qual é, na sua opinião, a causa de cada uma das doenças mencionadas?

Doença Causa

Diarreia ......................................

Sarampo ......................................

Malária ......................................

Tosse ......................................

Malnutrição ......................................

Cegueira nocturna .....................................................................................................

Outras: ............................................................................

28. Meça o perímetro braquial a meia altura das crianças, de 1 a 5 anos, depois indique quais as crianças cujo resultado da medição se encontra na parte verde, amarelo e vermelho do cartão, ou anote a medida exacta se utilizar uma fita métrica. Anote para cada criança o valor obtido no cartão de controlo de crescimento da unidade saúde, se tiver este cartão.

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

D) Partilha dos recursos e do tempo entre homens e mulheres

Coloque as seguintes questões ao marido e à mulher individualmente, e anote separadamente as actividades de homens e mulheres num período de 24 horas.

29. Quanto tempo dedica por dia às suas diferentes actividades? (por exemplo, a deslocar-se a pé para os campos; trabalhar nos campos; cuidar da horta; trabalhar num emprego no exterior; apanhar lenha; ir buscar água; transformar os alimentos; preparar as refeições; alimentar e cuidar das crianças; descansar; dormir)

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

30. Quem compra os factores de produção para a horta? (por exemplo, sementes, material de plantio, fertilizantes)

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

31. Quem decide sobre a utilização dos produtos da horta?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

32. Quem decide sobre o destino dos rendimentos provenientes da venda dos produtos da horta?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

33. Como são utilizados esses rendimentos?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

E) Condições da agricultura

Coloque as seguintes questões aos membros da família enquanto visita a horta com eles.

34. Existe água disponível para a horta durante todo o ano? Indique os pontos de água.

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

35. Qual é a dimensão da sua horta? ...............................................................................................

36. Que percentagem aproximada do terreno da horta é:

a) Plano: .......................... b) Em declive: ................. c) Lameiro: .....................

37. Quantos meses por ano está disponível o terreno da horta para as actividades hortícolas? O que determina essa disponibilidade?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

38. Qual é a textura do solo?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

39. Como é a fertilidade do solo? (assinale só uma resposta)

a) Pobre ......................... b) Suficiente ................. c) Boa ............................

40. Qual é a espessura da camada arável?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

F) Carga biológica

Coloque as seguintes questões aos membros da família enquanto visita a horta com eles.

41. Que percentagem da superfície total da horta é utilizada para:

a) Cultura de plantas alimentares: .......... b) Outros fins (especificar): .........

42. Que superfície da horta é utilizada para:

a) Culturas anuais: ......... b) Culturas perenes: .........

43. Que proporção do terreno da horta é cultivado:

a) Sobre um só nível: ......... b) Sobre dois níveis: ......... c) Sobre três ou mais níveis: .........

44. A horta tem uma sebe viva? (se a resposta for não, passe para a questão 48) .............

45. Quais são as plantas utilizadas para a sebe?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

46. Existem plantas alimentares na sebe?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

47. Existem plantas na sebe que sejam utilizadas para alimentar os animais?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

48. Quais os tipos de legumes locais/autóctones que cultiva?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

49. As culturas, geralmente, crescem bem ou mal?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

G) Gestão da horta familiar

Complete o quadro a seguir enquanto visita a horta com os membros da família.

QUADRO 7.1 Gestão da horta

Actividades Boa Má Observações

Conservação e multiplicação das sementes

Disposição das culturas

Diversificação das culturas

Espaçamento

Gestão da água

Luta contra as pragas

Luta contra ervas daninhas

Multiplicação das plantas

Poda das árvores

Preparação da terra

Protecção contra a erosão

Protecção das culturas

Utilização de matérias orgânicas

H) Culturas e criação de animais

Indique no quadro seguinte o número de plantas (ou a superfície cultivada) e de animais, assim como as suas condições. Preencha apenas os itens que se refiram à horta estudada.

QUADRO 7.2. A Culturas e criação de animais

Animais Número de animais

Condições de criação Observações Machos Fêmeas

Cabra

Frango

Peixe

QUADRO 7.2. B Culturas e criação de animais

Cultura Número de plantes

Superfìcie cultivada (m2) Observações produtivas não produtivas

Árvores e arbustos

Anacardier

Abacate

Banana

Cacau

Café

Citrinos

Coco

Manga

Óleo de palma

Papaia

Culturas alimentares

Amendoim

Batata branca

Batata-doce, raízes

Batata-doce, folhas

Inhame

Feijão-bambara

Feijão-congo

Feijão-nhemba*

Mandioca, folhas

Mandioca, raízes

Matabala

Milho

Outras leguminosas

Abóbora, fruto

Abóbora, folhas

Beringela

Legumes (de folhas)

Malagueta

Quiabo

Tomate

Ervas aromáticas/especiarias

* Indique se as folhas da planta também são utilizadas.

LISTA DE CONTROLO 2:

NOTAS DESTINADAS AOS TÉCNICOS DE CAMPO

A) Informações gerais

1. Quantas pessoas fazem parte do agregado familiar? A resposta indicará a dimensão da família, assim como a idade e as necessidades nutricionais dos diferentes membros.

2. Quantos membros da família têm trabalho fora da exploração agrícola familiar? A resposta indicará qual a mão-de-obra disponível para cultivar a horta. A insuficiência de mão-de-obra é um dos principais obstáculos ao desenvolvimento da horta.

3. Quais são os membros da família com experiência de horticultura, nomeadamente de cultura de legumes e de frutos? A resposta indicará o tipo de conselhos e de ajuda de que a família necessita.

4. A produção da horta é suficiente para satisfazer as necessidades alimentares da família durante todo o ano? A resposta a esta questão, assim como às questões da parte E, indicará se a família avalia de forma objectiva o potencial da horta.

5. Qual é actualmente a principal função da horta? Alimentação? Rendimentos? Ambos? Se a horta tiver como principal papel responder às necessidades alimentares, é necessário saber se está a cumprir bem essa função. Pelo contrário, se destina-se acima de tudo a gerar rendimentos, é importante perguntar se estes cobrem o custo dos alimentos comprados e se outras culturas alimentares poderiam ser integradas no sistema de culturas comerciais.

B) Fontes de alimentos

6. Qual a parte do aprovisionamento alimentar da família que provém da horta? A resposta indicará em que medida a horta fornece alimentos à família e, por conseguinte, quanto dinheiro é necessário para a compra de alimentos .

7. Que culturas pratica na horta? / 8. Gostaria de aumentar a produção de algumas dessas culturas? / 9. Quais são as outras culturas que gostaria de praticar? A resposta a estas questões indicará quais são as diferentes culturas praticadas pela família e de que modo a produção varia segundo as estações do ano. Indicará igualmente qual o potencial existente para aumentar e diversificar a produção e o consumo.

10. Como utiliza as culturas alimentares acima mencionadas? (por exemplo, consumo familiar, venda, processamento, armazenagem) Ao lado de cada um dos alimentos mencionados, indique qual a porção consumida, vendida, transformada ou armazenada. Isto permitirá saber como a família utiliza os alimentos disponíveis, e qual é o potencial existente para optimizar os recursos alimentares disponíveis a fim de responder às suas necessidades alimentares.

11. Que métodos/instalações utiliza para o processamento (secagem, cura, outros) e a armazenagem? A resposta indicará quais os conhecimentos da família em matéria de processamento e de armazenagem dos diferentes alimentos da horta e quais são as estratégias utilizadas na prevenção de eventuais penúrias sazonais.

12. Quem decide sobre a utilização dos alimentos? A resposta indicará quem é a pessoa responsável pelas decisões no que respeita à utilização e distribuição dos alimentos no seio da família.

13. Quais são os principais géneros alimentícios que compra com dinheiro? Compra-os muitas vezes? 14. Quem os compra?

15. Que outros produtos ou artigos compra regularmente para a preparação dos alimentos? Os técnicos de campo devem procurar saber que tipos de alimentos ou outros produtos podiam ser fornecidos pela horta com o objectivo de economizar dinheiro. É necessário fazer uma distinção entre os géneros alimentícios que não podem ser produzidos na horta, mas que são necessários para o equilíbrio nutricional, e os géneros que podem ser produzidos na horta.

C) Nutrição

16. Quantas refeições comeu a família ontem? / 17. Há algum período durante o ano em que coma mais ou menos refeições por dia? Quando? Registe o número de refeições que cada membro da família consumiu no dia anterior e esclareça se se trata do número habitual de refeições ou se este número varia segundo as estações do ano.

18. O que comeram ontem? Registe o que as crianças comeram. Indique os diferentes grupos de alimentos (alimentos de base, leguminosas, óleo/gordura, legumes, frutos). Procure saber se os grupos de alimentos ausentes da refeição da véspera faltam muitas vezes.

19. Existem alimentos que são reservados às crianças? Se sim, quais são? A resposta indicará se as crianças tomam refeições ligeiras ou frutos entre as principais refeições. Indicará igualmente se a mãe sabe que as crianças têm necessidade de mais energia e de nutrientes do que os adultos.

20. Quantas vezes por semana as crianças (com menos de 5 anos) comem legumes? E fruta? Carne ou peixe? / 21. Como é que isto varia segundo as estações do ano? A resposta indicará se a dieta das crianças contém vitaminas e sais minerais em quantidade suficiente.

22. Quantas vezes o seu filho (com menos de 2 anos) comeu ontem? / 23. Quais foram os alimentos que lhe deu? A resposta indicará qual o número de refeições, para além do leite materno, que a mãe deu ao seu filho na véspera. O agente de campo deve anotar os ingredientes que ela utilizou para preparar os alimentos de desmame. Se a mãe deu ao filho menos de duas refeições, para além do leite materno, será necessário descobrir o motivo. Esta informação indicará se a mãe sabe que as crianças pequenas devem ser alimentadas frequentemente e se conhece as necessidades alimentares específicas de crianças de idades diferentes.

24. Pensa que alimenta suficientemente o seu filho e lhe dá os alimentos adequados? Se sim ou não explique porquê. A resposta a esta questão, juntamente com os outros dados já recolhidos, deverá indicar se a família sabe o significado de ter uma dieta nutritiva.

25. As crianças (com menos de 5 anos) sofreram, no mês passado, de alguma das seguintes doenças? / 26. Quantas vezes é que o seu filho sofreu de alguma das seguintes doenças durante o último mês? / 27. No seu entender, quais são as causas de cada uma das doenças mencionadas? Anote em particular as doenças relacionadas com a malnutrição, por exemplo o sarampo, a diarreia frequente e a tosse; anote, em relação a cada doença, o número de episódios sofridos por cada criança. A cegueira nocturna pode indicar uma carência de vitamina A na dieta (como é também o caso de outras doenças infecciosas, porque a falta de vitamina A diminui a resistência à infecção). Se a criança teve mais do que três episódios de diarreia por semana, isso significa que ela corre o risco de perder nutrientes e água; nesse caso, necessita de ser alimentada de forma regular e de beber líquidos em quantidade suficiente para prevenir a desidratação. A resposta da mãe à questão sobre as causas das doenças indicará se ela conhece as causas das doenças infecciosas e os meios de evitar essas doenças.

28. Meça o perímetro braquial a meia altura das crianças com idade compreendida entre 1 e 5 anos, indicando depois quais as crianças cujo resultado da medição recai na parte verde, amarela ou vermelha do cartão. Esta medida indicará o estado nutricional das crianças, isto é, se elas estão bem ou mal alimentadas, bem como eventualmente o seu grau de malnutrição. Mencione as crianças cuja medida se encontra na parte verde do cartão (acima de 13,5 cm, a criança não está desnutrida), na parte amarela (entre 12,5 e 13,5 cm, a criança está moderadamente desnutrida) e na parte vermelha (abaixo de 12,5 cm, a criança está gravemente desnutrida). Se uma criança se encontra nesta última categoria, é necessário aconselhar a mãe a levá-la ao centro de saúde para que ali receba os cuidados apropriados.

D) Repartição dos recursos e do tempo entre homens e mulheres

29. Quanto tempo dedica por dia às suas diferentes actividades? Peça aos homens e às mulheres para descreverem separadamente as suas diferentes actividades durante as 24 horas do dia e indicarem a porção de tempo que dedicam a cada uma delas. Comece por perguntar a que horas se levantam de manhã e termine perguntando a que hora se deitam à noite. Isso indicará qual a carga de trabalho das mulheres e dos homens, e permitirá saber, com a ajuda de outras informações, qual é o tempo disponível para as actividades ligadas à horticultura e à nutrição, tais como a preparação dos alimentos e os cuidados com as crianças. Estas informações poderão igualmente conduzir a uma discussão entre os diferentes membros da família sobre o que poderia ser feito para reduzir a sua carga de trabalho (particularmente a das mulheres) e sobre as eventuais acções a empreender. Por exemplo, a construção de um poço comunitário permitiria não só que as mulheres ganhassem tempo, mas também que houvesse água potável e água de rega para as pequenas hortas da estação seca.

30. Quem compra os factores de produção para a horta? (por exemplo, sementes, material de plantio, fertilizantes) A resposta indicará quem, na família, é responsável pelos investimentos na horta, e quais são as culturas praticadas. A pessoa que compra os factores de produção pode também influenciar as decisões sobre a utilização dos produtos da horta e sobre os beneficiários desses produtos.

31. Quem decide sobre a utilização dos produtos da horta? A pessoa que decide se os produtos são destinados ao consumo familiar ou à venda influencia quer a escolha dos benefícios, quer as pessoas beneficiadas.

32. Quem decide sobre a divisão dos rendimentos obtidos na venda dos produtos da horta? / 33. Como são utilizados esses rendimentos? Os diferentes membros da família têm diversas prioridades que orientam a utilização dos rendimentos da horta. Vários estudos demonstram que os rendimentos obtidos e controlados pelas mulheres têm muito mais probabilidades de beneficiar directamente os membros da família, em particular as crianças, se as elas tiverem também poder de decisão no que se refere à utilização desses rendimentos (por exemplo, para comprar alimentos suplementares, ou cobrir os despesas com a saúde ou a escolaridade).

E) Condições da agricultura

34. Há água disponível para a horta durante todo o ano? Indique as fontes de água.

Registe a natureza da fonte e especifique se se trata de uma fonte sazonal ou permanente. Informe-se igualmente sobre a distância a percorrer até essa fonte, sobre a qualidade da água, a sua quantidade e eventualmente o seu custo.

35. Qual é a dimensão da sua horta? / 36. Que percentagem aproximada do terreno da horta é plano? Em declive? Pantanoso? É necessário conhecer a dimensão da horta e o tipo de terreno para se fazer uma ideia do potencial de produção. A resposta indicará também quais as necessidades em termos de valorização do solo e de gestão da água (por exemplo, drenagem para as terras húmidas, conservação do solo e da água para os terrenos planos e para as terras áridas, conservação do solo e da água, combate contra a erosão nos terrenos em declive).

37. Quantos meses por ano está disponível o terreno da horta para as actividades de horticultura? O que é que determina essa disponibilidade? Muitos horticultores utilizam as terras agrícolas para ali praticarem culturas de legumes, depois de terem colhido as principais culturas de base. Se as terras não estão disponíveis todo o ano, a escolha de uma utilização intensiva das terras (por exemplo, cultura em diferentes níveis) é mais limitada.

38. Qual é a textura do solo? Faça um teste utilizando os dedos. Examine se é difícil ou fácil cultivar este solo. Um solo arenoso não retém água suficiente e seca rapidamente; poderá assim necessitar de muitas matérias orgânicas para reter a água e melhorar a produtividade. Um solo argiloso retém a água, mas poderá ser difícil trabalhá-lo na estação seca.

39. Como é a fertilidade do solo: Pobre? Suficiente? Boa? Um solo pobre precisará de mais trabalho para ser melhorado.

40. Qual é a espessura da camada arável? É preciso medi-la. Um solo pouco profundo exigirá uma correcção maior do que um solo profundo e pode indicar um problema de erosão.

F) Carga biológica

41. Que percentagem da totalidade da área da horta é utilizada para cultivar alimentos? E para outros fins? É necessário conhecer as outras utilizações da terra para poder calcular que percentagem dela é ocupada pelas culturas. Pode depois saber-se se a terra restante está a ser utilizada em pleno ou se poderia produzir mais.

42. Que área da horta é utilizada para culturas anuais? E para culturas perenes? O facto de se cultivarem mais plantas perenes, nomeadamente árvores, permite aumentar a produtividade da terra, aumentando o nível superior das plantas, produzindo sombra e composto natural e evitando o crescimento de ervas daninhas.

43. Que proporção da horta está cultivada num só nível? Em dois níveis? Em três ou mais níveis? O sistema de culturas em diferentes níveis permite aumentar a produtividade.

44. A horta tem uma sebe viva? / 45. Quais as plantas utilizadas na sebe? / 46. Algumas delas são culturas alimentares? / 47. Algumas das plantas da sebe são utilizadas para a alimentação animal? Uma sebe viva protege a horta, por exemplo, dos animais à solta; serve de pára-vento e melhora a fertilidade do solo.

48. Quais os tipos de legumes locais/autóctones que cultiva? Os legumes locais/autóctones contribuem para a diversidade e para a conservação da natureza; melhoram o valor nutritivo do regime alimentar porque, muitas vezes, são mais ricos em vitaminas e em sais minerais do que as variedades introduzidas.

49. De modo geral as culturas crescem bem ou mal? Se algumas plantas crescem mal, será necessário avaliar as práticas de cultivo.

G) Gestão da horta familiar

A preparação do solo. Indique as ferramentas utilizadas. Descreva onde e como são instalados os canteiros, caldeiras, camalhões, regos, etc., e como tirar o melhor partido deles.

Gestão da água. Informe-se acerca da gestão da água durante a estação húmida e a estação seca. Apresente detalhes sobre a drenagem, a aplicação para irrigação, os dispositivos de poupança da água, a sua captação e reservas, assim como a utilização de águas usadas. Se a água é escassa, a que escoa dos poços e a das cozinhas deviam ser utilizadas para as culturas. Durante a estação seca, a utilização dos lugares húmidos, tais como as margens dos ribeiros, os pântanos e as valas de água, permitem manter uma produção de estação seca, aumentar a produtividade e assegurar a diversidade alimentar.

Protecção das culturas. A horta está vedada? Anote a presença de animais à solta. Indique se é eficaz o sistema utilizado para protecção das culturas (por exemplo, o uso de latadas, tutores, protecção com folhagem seca).

Utilização de matérias orgânicas. A protecção com folhagem seca deve ser utilizada para conservar a humidade à volta das plantas anuais sensíveis à seca. De igual modo, estrume e composto devem ser aplicados no solo para o alimentar.

Espaçamento. O espaço deixado entre as culturas é suficiente? Se não for, as árvores e outras plantas podem estar a disputar a luz do sol e os nutrientes.

Luta contra as pragas. Avalie a importância das doenças. Indique qual o método utilizado para combater as pragas. Faça perguntas sobre a utilização de inimigos naturais e de pesticidas.

Luta contra ervas daninhas. As culturas são invadidas pelas ervas daninhas? Qual a razão disso? Descubra se são conhecidos os benefícios do combate contra as ervas daninhas.

Protecção contra a erosão. O solo deve estar protegido por plantas de cobertura ou por folhagem seca, e devem ser colocadas barreiras para impedir a perda de solo.

Multiplicação das plantas. Se a horta tiver um viveiro, avalie as técnicas usadas. Informe-se sobre as origens dos materiais utilizados e anote as possíveis áreas a melhorar.

Conservação e multiplicação de sementes. Se as sementes forem conservadas com vista a uma multiplicação posterior, avalie a qualidade e o estado de saúde das plantas-mãe. (Os técnicos de campo deveriam estar informados sobre o processamento, a armazenagem e a viabilidade das sementes).

Disposição da culturas. Avalie se a horta tem um sistema de culturas em diferentes níveis. Cultivam plantas de tamanhos diferentes? Se sim, as plantas estão dispostas de maneira satisfatória? Dão sombra e contribuem para lutar contra as ervas daninhas?

Poda das árvores. Observe se as culturas das árvores, particularmente as de fruto, estão bem tratadas. As árvores foram bem podadas e os seus ramos mortos foram retirados?

Diversificação de culturas. As informações que foram reagrupadas na parte H da Lista de Controlo 2, indicarão de forma detalhada quantas culturas são praticadas na horta. Quanto maior for a variedade, maior é a possibilidade de produzir alimentos suficientes para satisfazer as necessidades da família, durante todo o ano.

H) Culturas e animais na criação da horta

O Quadro 7.2 indica a produtividade de cada cultura e de cada animal, e convida a comentários ou sugestões para melhorar a produção. As observações deveriam permitir conhecer as causas de uma produção fraca, por exemplo:

cafézeiro: não está podado; mangueira: floresce mas nunca dá fruto (não está adaptada ao clima); citrinos: frutos de má qualidade (deve-se podar os ramos mortos e fertilizar).

SESSÃO 8: PROMOVER AS HORTAS FAMILIARES PARA MELHORAR A NUTRIÇÃO: TERCEIRA VISITA À HORTA

OBJECTIVO

No fim desta sessão os técnicos extensionistas deverão:

· saber utilizar um método de consulta para ajudar as famílias a tomar as suas próprias decisões para melhorar a sua horta;

· ter discutido e analisado os problemas das famílias, assim como as suas causas, e procurado soluções com os grupos comunitários, ou só com as famílias.

FIGURA 8.1 Mulheres responsáveis pelas hortas preparando um diagrama das suas actividades diárias

ABORDAGEM GERAL

As questões abordadas até agora foram essencialmente de ordem técnica; da Sessão 2 à 6 insistiu-se nos conhecimentos e aptidões necessárias aos técnicos de campo para poderem ajudar as famílias e as comunidades a melhorarem a diversidade e a produtividade das suas hortas com vista a uma melhor nutrição. Contudo, para promover as hortas, não basta transmitir conhecimentos e capacidades técnicas.

Para se poder ajudar uma família a desenvolver a sua horta e a melhorar a sua segurança alimentar é necessário ponderar uma estratégia que tenha em conta a situação socioeconómica, nomeadamente os rendimentos, a mão-de-obra disponível e o acesso aos recursos naturais, assim como a cultura e as tradições locais. Deve-se também prestar atenção às necessidades específicas das mulheres, porque elas são muitas vezes as responsáveis pela horticultura, embora nem sempre tenham o apoio necessário para introduzir os melhoramentos.

Trata-se de um processo interactivo, durante o qual os técnicos extensionistas facilitam a aprendizagem e a análise, não só para si próprios, mas também para as famílias e para os outros membros da comunidade. Deste modo, as famílias ficam mais aptas a tomar as suas próprias decisões sobre as acções que pretendem empreender.

No decurso desta sessão os participantes vão usar a Lista de Controlo 3, com o objectivo de ajudar as famílias a passar da identificação dos problemas e das suas causas a uma reflexão sobre o que se pode fazer para resolver esses problemas. Se pretendermos ajudar as famílias, consideradas individual ou colectivamente, a tomar as suas próprias decisões, a identificar soluções e a preparar planos de acção, é essencial compreender bem porque é que algumas hortas não são tão produtivas como deveriam ser, ou porque é que a situação nutricional de uma família não é satisfatória. Este processo requer da parte dos técnicos de campo um trabalho de equipa, sensibilidade e boa capacidade de comunicação (ver também Notas Técnicas da Sessão 7).

ACTIVIDADES

A presente sessão começa pela apresentação dos resultados do trabalho de grupo obtidos durante a segunda visita às hortas. As recomendações do grupo sobre o acompanhamento constituem o ponto de partida para as discussões e para a preparação da terceira visita às hortas. Na preparação desta terceira e última visita, os participantes utilizarão o método de consulta às famílias. Durante esta sessão, terão também a oportunidade de reforçar a capacidade de trabalharem em equipa, bem como as aptidões de animação e comunicação adquiridas no decurso da Sessão 7 (ver Notas Técnicas da Sessão 7).

Preparação das apresentações de grupo. Cada grupo utiliza o Quadro 4.1, "Problemas no sistema alimentar local e possibilidades de melhoramento", para mais facilmente poder classificar e resumir as informações recolhidas. Em seguida, cada grupo escolhe, de entre os problemas identificados pelas famílias, três ou quatro que lhe pareçam os mais importantes. A análise dos problemas, segundo o método utilizado durante o diagnóstico do estudo de caso, pode então começar. Cada grupo constrói um modelo causal dos problemas identificados. A seguir, escolhe um modelo causal ou uma árvore de problemas, que apresenta em sessão plenária, mas sem sugerir soluções ou identificar eventuais intervenções. Isso só será feito na altura da terceira visita às famílias, durante a qual os grupos reflectirão nas soluções e formularão planos de acção.

Apresentação. Utilizando as notas técnicas desta sessão, o formador introduz o método de consulta às famílias e a Lista de Controlo 3.

Jogo de papéis. Utilizando as conclusões da Lista de Controlo 2 e da apresentação do Quadro 4.1 feita pelos diferentes grupos em sessão plenária, o formador explica o método de consulta às famílias, referindo-se às notas técnicas da presente sessão.

Os participantes dividem-se em grupos e em cada um deles se representam os papéis da família e do conselheiro. Para cada uma das partes da consulta às famílias, é necessário que duas famílias e dois conselheiros sejam representados. O marido e a mulher devem participar no jogo, representando o papel das famílias, uma vez que vão decidir em conjunto sobre o desenvolvimento da horta.

Os participantes preparam os seus papéis revendo uma vez mais as conclusões da Lista de Controlo 2 e consultando o plano da horta familiar concebido durante a Sessão 7, assim como os Quadros 7.2, 8.1 e 8.2.

Cada grupo representa então uma sessão de consulta.

Discussão. Os membros do grupo trocam opiniões sobre o método de consulta às famílias e sobre o trabalho de animação.

Visitas individuais às famílias. Cada grupo de participantes deve agora preparar-se para visitar uma família, onde vai conduzir uma consulta. Os participantes devem aplicar as competências adquiridas no domínio da animação e do aconselhamento, de forma a ajudar as famílias a identificarem soluções práticas para os seus problemas. A consulta deverá desenvolver-se segundo o método estudado. No dia a seguir à consulta às famílias, cada grupo de participantes apresentará em sessão plenária a Lista de Controlo 3 completada, assim como com os planos de acção das famílias.

MATERIAL NECESSÁRIO

Quadro 4.1, completado; Lista de Controlo 2, da Sessão 7, completada; Lista de Controlo 3; Plano da horta elaborado na Sessão 7; Quadro 7.2, "Culturas e criação de animais ", Quadro 8.1, "Sugestões para a localização das culturas na

horta", e Quadro 8.2, "Sugestões para culturas em diferentes níveis"; Notas técnicas.

NOTAS TÉCNICAS

MÉTODO DE CONSULTA ÀS FAMÍLIAS

O método de consulta às famílias foi concebido para ajudar os membros das famílias a discutirem os problemas com os quais se confrontam e as respectivas causas, assim como identificarem soluções. Este método pode ajudar as comunidades a mudarem de atitude e a tomarem as suas próprias decisões sobre as mudanças que desejam fazer no futuro. Durante a visita, os técnicos de campo devem ajudar os membros das famílias a reflectirem sobre a sua situação e a discuti-la. Devem colocar questões, escutar e procurar descobrir o que os membros das famílias já sabem, e o que devem ou desejam saber.

Os técnicos de campo devem também informar, dar conselhos sobre o que se deve fazer (por exemplo, quando uma criança está doente e precisa de tratamento) ou aconselhar uma família que precisa de ajuda para resolver um problema. Em tais situações, os técnicos de campo devem encorajar os membros das famílias a proporem soluções sobre as formas de resolverem o seu problema ou de melhorarem a sua situação nutricional.

Os técnicos de campo podem sugerir ideias se for necessário, sem contudo perderem de vista que são as famílias que devem decidir por si mesmas o que lhes convém mais. É muito importante discutir sobre várias alternativas, em vez de ficar limitado a uma só. Os técnicos de campo não devem, necessariamente, seguir de forma estrita o método de consulta; é mais importante que trabalhem com os membros das famílias ajudando-os a decidir as acções a empreender para resolverem os seus problemas alimentares e nutricionais.

O processo de identificação dos problemas, das suas causas e das soluções possíveis ajuda as comunidades a desenvolverem novas aptidões e a terem mais confiança na sua própria capacidade.

Nota: O formador terá de insistir no facto de o agente de saúde da equipa dever explicar aos pais o que é necessário fazer, ou mesmo aconselhar os pais a levar a criança a tratamento no centro de saúde ou outra unidade sanitária mais próxima, se durante a visita a uma família os participantes detectarem que uma criança está doente ou desnutrida (por exemplo, se a criança tem diarreia e sofre de desidratação, o agente de saúde deve mostrar aos pais como se prepara uma solução de re-hidratação oral).

Terceira visita às hortas. Durante a segunda visita às hortas, os técnicos de campo devem ter completado com as famílias as Secções de A a H da Lista de Controlo 2. Tendo por base as respostas dadas na Lista de Controlo 2, devem igualmente ter analisado a informação e identificado os problemas mais importantes e as respectivas causas. A terceira visita às famílias serve para rever e confirmar os problemas analisados com os membros das famílias. Isso deve ser feito com a ajuda da Lista de Controlo 3. Seguindo o método da consulta, os técnicos de campo estimulam a discussão para ajudarem as famílias a responderem às questões da Lista de Controlo 3, bem como os planos de acção que se encontram no fim de cada Secção (A, B, C e D).

LISTA DE CONTROLO 3

TERCEIRA VISITA À HORTA

A) Segurança alimentar e nutrição

1. A família obteve segurança alimentar durante todo o ano? Se não, quais foram os maiores obstáculos e as suas causas?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

2. Quais os principais problemas de nutrição e de saúde das crianças? Estes problemas indicam que há carências nutricionais?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

3. A dieta fornece suficiente energia e nutrientes? Se não, o que é que lhe falta? Porquê?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

4. Quais os tipos de alimentos que poderiam melhorar a dieta da família?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

5. Que percentagem da totalidade das necessidades alimentares da família é satisfeita pelos produtos da horta?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

6. Quais os elementos positivos que ajudam a família a resolver os problemas identificados e as suas causas?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

Plano de acção

Como é que a família prevê resolver os problemas alimentares?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

B) Diversidade e qualidade do regime alimentar da família

7. Será que a horta pode contribuir mais para melhorar a qualidade e a diversidade da dieta da família?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

8. Quais os nutrientes mais raros na dieta (por exemplo, energia dos hidratos de carbono ou gordura/óleo, proteína, vitaminas e minerais)?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

9. Que alimentos da horta poderiam fornecer estes nutrientes?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

10. Entre as culturas e os animais mencionados no Quadro 7.2, "Culturas e criação de animais ", quais os que não existem nesta horta?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

Plano de acção

O que é que a família planeia cultivar?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

Quais os problemas identificados, quais as suas causas, e como é que podemos resolver esses problemas?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

Sobre que aspectos da nutrição a família necessita de ter mais informações?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

C) Responder às necessidades alimentares da família durante todo o ano

11. Poderia a horta produzir mais para satisfazer as necessidades alimentares da família?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

12. De que é que o solo necessita? (fazer um círculo à volta da resposta correcta)

a) Fertilização b) Gestão da água c) Controlo da erosão

13. Poderia a produtividade ser significativamente aumentada? Se sim, como?

a) Cultura em níveis diferentes b) Maior diversidade c) Poda d) Selecção vegetal e) Utilização de matéria orgânica f) Espaçamento das plantas g) Luta contra as pragas

14. Os factores de produção (por exemplo, sementes, material de plantio, fertilizantes) estão disponíveis? Se não, porquê?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

15. A família tem acesso a um ponto de água durante todo o ano? Se não, porquê?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

Plano de acção

Quantas plantas serão cultivadas e onde?

Plantas Número Localização

a) .......................................................................................................................................................

b) .......................................................................................................................................................

c) .......................................................................................................................................................

Quais os problemas e as suas causas, e como resolver esses problemas?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

D) Recursos humanos

16. A família está bem informada sobre nutrição?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

17. A família é nova nesta região?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

18. Os membros da família são agricultores experientes?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

19. Avaliam de forma objectiva o potencial da horta?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

20. Qual a mão-de-obra disponível para cultivar a horta? É suficiente? Se não, porquê?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

21. Quem faz a maior parte do trabalho na horta?

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

.............................................................................................................................................................

Plano de acção

Quais os problemas e as suas causas, e como é que a família prevê resolvê-los?

Cultura Problema Acção proposta

...................................... ...................................................... ....................................................

...................................... ...................................................... ....................................................

...................................... ...................................................... ....................................................

Observações

............................................................................................................................................................

............................................................................................................................................................

............................................................................................................................................................

LISTA DE CONTROLO 3:

NOTAS DESTINADAS AOS TÉCNICOS EXTENSIONISTAS

A) Segurança alimentar e nutrição

O agente de campo revê as questões com as famílias, completa a Secção A da Lista de Controlo 3, e depois:

pede à mãe que proponha soluções para ajudar as crianças a ganharem peso e, se necessário, a crescerem mais;

identifica com a mãe todas as falhas nutricionais na dieta da criança; discute com o marido e a mulher as lacunas nas disponibilidades alimentares (por exemplo, falta de

alimentos de desmame, mãe muito ocupada para poder alimentar bem as crianças) e identifica os problemas no processamento, preparação e utilização dos alimentos;

analisa com o marido e a mulher a razão de estes problemas existirem; discute a melhor forma de resolver os problemas, aumentando a produção do que for necessário, cultivando

e vendendo para comprar o que não pode ser cultivado, ou transformando o que já está disponível; examina com a família o tempo que a mãe gasta todos os dias nas suas diferentes actividades,

especialmente para ir procurar água e lenha, e os efeitos que isso tem na preparação dos alimentos e na alimentação das crianças;

encoraja a família a pensar em meios de reduzir a carga de trabalho da mãe (por exemplo, construir um poço para aligeirar o trabalho e dispor de água para uma horta de estação seca; repartir com as famílias vizinhas ou com os amigos os cuidados a prestar aos filhos; encorajar o pai e os filhos mais velhos a ajudarem a mãe nas suas tarefas diárias).

O agente de campo e a família completam em conjunto o plano de acção que se encontra no fim da Secção A da Lista de Controlo 3.

B) Diversidade e qualidade da dieta da família

O agente de campo revê as questões juntamente com as famílias, completa a Secção B da Lista de Controlo 3, e em seguida:

estuda com a família o Quadro 7.2, "Culturas e criação de animais", e discute os problemas de nutrição ou de segurança alimentar;

pede aos membros da família para mencionarem alguns alimentos que gostariam de consumir, mas que não cultivam de momento;

discute com os membros da família as razões pelas quais eles não cultivam esses alimentos.

Se existe um problema de ordem técnica (por exemplo, solo pouco fértil, falta de factores de produção apropriados ou ausência de uma fonte hídrica durante a estação seca), o agente de campo deve estudar com a família o modo de resolver esse problema. Se a oferta de material de plantação é reduzida, o agente de campo deve estudar com a família a proveniência desse material e como melhorar o aprovisionamento (por exemplo, troca de sementes, criação de um viveiro local ou aprovisionamento através de um comerciante da região). Se os membros da família não conhecem o valor alimentar das culturas seleccionadas, o agente de campo pode fornecer-lhes uma lista, por exemplo a do Quadro 2.2, "Valor nutricional dos alimentos em bruto e dos alimentos transformados de consumo corrente". Se os membros da família não souberem ler, pode-se preparar um desenho ou um cartaz que mostre os diferentes alimentos, e distribui-lo às famílias depois de o trabalho estar completo.

O agente de campo e a família completam em conjunto o plano de acção que se encontra no fim da Secção B da Lista de Controlo 3.

C) Responder às necessidades alimentares da família durante todo o ano.

O agente de campo revê as questões com as famílias, completa a Secção C da Lista de Controlo 3, e em seguida:

discute com o marido e a mulher a melhor maneira de desenvolver a estrutura da sua horta (por exemplo, mais árvores de fruto, culturas em níveis diferentes);

discute com o marido e a mulher as suas observações ao Quadro 7.2, "Culturas e criação de animais", e levanta os problemas gerais ou específicos, por exemplo, no que se refere à preparação e utilização de composto, à protecção das culturas e ao melhoramento da sua diversidade;

decide com o marido e a mulher a quantidade de cada cultura a plantar a fim de aumentar as disponibilidades alimentares da família;

consulta o Quadro 8.1, "Sugestões para a localização das culturas nas horta", e o Quadro 8.2, "Sugestões para culturas em diferentes níveis"; identifica as localizações possíveis das plantas seleccionadas, ajudando o marido e a mulher a prepararem um plano da sua horta ou a utilizarem aquele que foi elaborado durante a avaliação, explicando as razões da utilidade do mesmo.

QUADRO 8.1 Sugestões para a localização das culturas na horta

Culturas em terras húmidas Plantas rastejantes

Bananeira Abóbora

Cana-de-açúcar Batata-doce

Matabala Leguminosas trepadeiras

Palmeira dendém Pepino

Culturas sobre latadas Plantas para sebes vivas

Abóbora Ananás

Cabaça Gliricidia sp.

Inhame Mandioca

Maracujá

Pimenteira

Culturas por baixo de latadas

Certas raízes (por exemplo, batata-doce, matabala)

A maior parte das plantas de folha

QUADRO 8.2 Sugestões para culturas em diferentes níveis

Culturas Estrato vegetal

Árvore da Fruta-pão Coqueiro Palmeira dendém

Superior

Bananeira Bananeira-pão Cajueiro Citrinos Goiabeira Morangueiro

Superior-médio

Cacaueiro Cafézeiro Feijão-congo Mululu Papaieira

Médio-baixo

Cana-de-açúcar Mandioca Matabala

Baixo

Abóbora Amendoim Batata-doce Legumes

Plantas rastejantes

Abóbora Castanha d'Inhambane Feijão-de-trepar Inhame Malagueta Maracujá

Plantas trepadeiras

O agente de campo e a família completam em conjunto o plano de acção que se encontra no fim da Secção C, da lista de Controlo 3.

D) Recursos humanos

O agente de campo revê as questões com as famílias, completa a Secção D da Lista de Controlo 3, e em seguida:

discute com o marido e a mulher a importância, para a saúde dos membros da família, de terem conhecimentos na área da alimentação e da nutrição;

explica ao marido e à mulher os meios que eles têm para melhorarem os seus conhecimentos sobre nutrição (por exemplo, consultando a unidade sanitária da região ou a associação de mulheres) e sobre agricultura (por exemplo, visitando hortas bem tratadas da comunidade, pedindo conselho às associações de camponeses e aos técnicos extensionistas);

dá exemplares das Rubricas Tecnológicas de Horticultura que sejam apropriadas; descreve o potencial da horta, mostrando como as condições locais, tais como a superfície das terras, as

disponibilidades de mão-de-obra, o tipo de solo e as precipitações, podem limitar ou aumentar o potencial alimentar da horta;

discute com o marido e a mulher sobre o tempo de que podem dispor para fazerem o trabalho necessário.

O agente de campo e a família completam em conjunto o plano de acção que se encontra no fim da Secção D, da Lista de Controlo 3

SESSÃO 9: MELHORAR A NUTRIÇÃO ATRAVÉS DAS HORTAS FAMILIARES: ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE

ACÇÃO

OBJECTIVO

No fim desta sessão, os técnicos de campo estarão aptos a:

· compreender porque é que um plano de acção é essencial para uma boa gestão da horta;

· identificar os principais componentes de um plano de acção.

FIGURA 9.1 O pai, a mãe e os filhos discutem os melhoramentos na horta

ABORDAGEM GERAL

As consultas individuais com as famílias são muito úteis, mas não permitem transmitir-lhes todo o conhecimento e competências de que precisam para tomar as suas próprias decisões e pô-las em prática. A comunidade, vista globalmente ou repartida em vários grupos, deve empreender acções que façam compreender às pessoas a importância e a urgência de melhorar a produção alimentar e a nutrição; a população deve, em seguida, ser orientada para pôr em prática essas acções. A informação e a formação prática em horticultura e em nutrição são necessárias para alcançar estes objectivos. Neste domínio, os agentes de divulgação agrícola e outros agentes comunitários podem dar uma ajuda preciosa.

Uma acção correcta requer uma boa planificação, que se pode realizar utilizando um método simples. Nesta sessão será discutida, ilustrada e aplicada a terminologia de base, bem como os grandes eixos da planificação e da elaboração de projectos.

ACTIVIDADES

Apresentação do método de planificação de projectos. O formador utiliza as notas técnicas da presente sessão para introduzir os elementos de um projecto. Salienta que o método de planificação de projectos se baseia em pressupostos simples e que é muito útil porque ajuda a população a preparar-se para os problemas que possam surgir na implementação do projecto.

Preparação de um projecto. O formador expõe as três primeiras etapas do esquema de projecto 1 - Formação em desenvolvimento das hortas: justificação, finalidade e objectivo do projecto. O formador pede aos técnicos de campo para trabalharem em pequenos grupos para terminar a redacção do plano do esquema de projecto 1, referindo-se a um determinado meio à sua escolha, e para reflectirem na maneira como um projecto ou uma intervenção poderão ser realizados. Os técnicos de campo podem referir-se às informações obtidas durante as entrevistas com os membros da comunidade. O seu trabalho deverá incluir a discussão e a preparação dos seguintes pontos:

estratégia; resultados esperados; actividades e inputs (aquisições, materiais, recursos); calendário; indicadores para o acompanhamento e avaliação do projecto.

Os participantes podem ordenar os elementos do projecto como quiserem, mas devem organizá-los e apresentá-los de maneira lógica. Dependendo da situação e da experiência dos técnicos de campo em matéria de elaboração de projectos, poderá ser solicitada a assistência do formador.

Retroacção. Assim que os participantes tenham definido as grandes linhas do seu projecto, o formador apresenta-lhes o esquema de projecto 1 completo e convida os técnicos de campo a discutirem as diferenças entre este esquema e os seus.

Nota: O esquema de projecto 1 é apenas um exemplo. Os esquemas elaborados pelos participantes serão provavelmente mais sensíveis às condições e às necessidades locais.

Breve discussão. O formador apresenta as duas primeiras colunas (problemas e causas) do Quadro 9.1 completo, "Problemas alimentares e nutricionais, e respectivas soluções"; convida os participantes a sugerir o tipo de acção comunitária mais adequada para cada caso. O formador apresenta então a terceira coluna (soluções), e os técnicos de campo comparam as suas soluções com as do quadro.

O formador salienta o facto de que um plano realista deve ser simples e fácil de ser posto em prática, utilizando recursos disponíveis. A esta sessão deve ser dedicado meio dia de trabalho.

Discussão em pequenos grupos sobre os indicadores. Depois de rever os elementos do projecto, o formador acentua a importância de seleccionar indicadores. Estes ajudarão a comunidade e os participantes a determinarem se as actividades escolhidas para melhorar a horta e a nutrição produzem os resultados esperados. O formador divide então os participantes em pequenos grupos. Cada grupo examina o Quadro 9.1 e discute os tipos de indicadores que poderiam ser utilizados para mostrar se cada uma das soluções ou actividades propostas, na Coluna 3 do quadro, produziu os resultados esperados. Os técnicos extensionistas devem anotar na Coluna 4 do Quadro os indicadores que propõem.

MATERIAL NECESSÁRIO

Esquema de projecto 1; Quadro 9.1, "Problemas alimentares e nutricionais, e respectivas soluções".

NOTAS TÉCNICAS

Mensagens prioritárias

1

A acção comunitária deve sensibilizar o público e proporcionar uma formação prática

2

A acção que vise favorecer uma melhor nutrição graças às hortas requer uma planificação cuidadosa

A acção comunitária deve sensibilizar o público e proporcionar uma formação prática

Ao longo das sessões anteriores os participantes aprenderam a reconhecer a importância da segurança alimentar das famílias (isto é, a possibilidade de ter acesso a suficientes alimentos nutritivos durante todo o ano) e a potencial contribuição das hortas para atingir essa segurança alimentar. Serviram-se dos seus conhecimentos, tanto no estudo de casos, como nas situações da vida real.

É necessário agora examinar como o conjunto da comunidade poderá melhorar o aprovisionamento alimentar das famílias. A primeira etapa na elaboração de um plano de acção comunitário consiste em estabelecer uma lista das soluções que os membros da comunidade considerem realizáveis. Algumas destas soluções podem ser postas em prática imediatamente pelas famílias, enquanto, para outras, é preciso primeiro mobilizar recursos e adquirir competências técnicas.

Também poderão existir problemas que os membros da comunidade não percebam necessariamente como problemas, porque não têm conhecimentos suficientes (por exemplo, a relação de causal entre as parasitoses e a malnutrição). Os participantes devem identificar este género de lacuna.

Por isso, a estratégia a adoptar deve prever:

a sensibilização da comunidade e dos membros das famílias para a importância e urgência de melhorarem a produção das hortas de modo a obterem uma melhor nutrição e rendimentos suplementares;

o encorajamento e a ajuda às famílias, através de uma formação prática, para agirem de imediato utilizando os recursos disponíveis.

Uma vez estabelecida a lista das actividades, os membros da comunidade podem discuti--la e decidir em conjunto como, por quem, quando e onde essas actividades devem ser empreendidas, e que inputs (materiais, recursos) e assistência técnica serão necessários para as concretizar. O conhecimento dos diferentes elementos e etapas da planificação permite aos técnicos de campo facilitar este processo.

A acção que vise favorecer uma melhor nutrição graças às hortas requer uma planificação cuidadosa

Todo o projecto ou programa no qual participe um certo número de famílias necessita de uma planificação minuciosa. Um dos meios mais eficazes de planear um programa de acção é seguir de maneira sistemática os diferentes elementos de elaboração de um projecto:

justificação; objectivo geral; objectivo específico; estratégia; resultados e fins a atingir; actividades; inputs (materiais, recursos); calendário ou plano de trabalho; monitorização (acompanhamento); avaliação.

Planificar um projecto é como planear uma viagem. Antes de embarcar, é preciso decidir:

porque deseja viajar (justificação e objectivo geral); onde quer ir (objectivo específico); como se propõe chegar lá (estratégia); quais serão os resultados imediatos da sua viagem (resultados); quando pensa chegar (fim a atingir); que preparativos precisa de fazer e como vai viajar (actividades); de que vai precisar, por exemplo, documentos, veículos, combustível (inputs); quanto tempo vai levar (calendário); que indicadores vai utilizar para detectar os progressos a fazer ao longo da viagem

(monitorização/acompanhamento); como determinará se o objectivo foi atingido (avaliação).

Graças a uma abordagem metódica é possível:

determinar em que medida o projecto é realista e pode ser executado com os recursos e as competências técnicas disponíveis localmente;

prever os problemas; verificar os progressos do trabalho (acompanhamento) e saber se o projecto alcançou os seus objectivos

(avaliação).

ELEMENTOS DE UM PROJECTO

Justificação. A justificação é o fundamento sobre o qual se baseia o plano. No caso do desenvolvimento das hortas, a falta de conhecimentos e de "saber-fazer" dos membros das famílias significa que uma certa forma de educação é importante. A justificação deve também mostrar claramente quem deve ser beneficiado com o plano. As mulheres são muitas vezes responsáveis pela exploração das hortas e pelo aprovisionamento alimentar das famílias. Assim, as mulheres e os maridos podem constituir o grupo-alvo directo e ser os beneficiários dos projectos de melhoramento das hortas, enquanto que as crianças serão os principais beneficiários indirectos, na medida em que beneficiarão de um melhor regime alimentar.

Objectivo geral. O objectivo geral é a finalidade última. Neste curso de formação, o objectivo geral é melhorar a produção alimentar e a nutrição graças a uma melhor utilização das hortas.

Objectivo específico. O objectivo é o que se espera obter como resultado das actividades do projecto (por exemplo, as famílias melhorarão a sua forma de cultivar em domínios precisos; produzirão alimentos mais abundantes e mais variados; terão um melhor regime alimentar). O objectivo específico deve ser formulado de forma a permitir medir os progressos alcançados (em termos quantitativos).

Estratégia. A estratégia é o procedimento geral a seguir para atingir um objectivo (por exemplo, os membros de uma comunidade decidem se realizarão os melhoramentos como um grupo ou isoladamente, por famílias, que serviços ou actividades organizarão em conjunto e quais as que farão individualmente, e como se vão ajudar mutuamente a transmitir tecnologias e a partilhar informação). A estratégia deve ter em conta todos os constrangimentos e as condições locais, nomeadamente a cultura e as tradições, assim como os constrangimentos ligados aos recursos e ao clima.

Resultados. Um resultado é uma realização concreta ou o produto das actividades do projecto (por exemplo, formação de 20 famílias na área da valorização do solo e da gestão da água, criação de uma horta-piloto, instalação de 20 infra-estruturas de recolha das águas). Se houver muitas actividades para atingir o mesmo objectivo específico, haverá muitos resultados para esse objectivo. Num plano pormenorizado, a descrição de um resultado deve incluir as quantidades envolvidas e a data em que o resultado será atingido.

Actividades. As actividades são as tarefas realizadas no decurso do projecto para produzir os resultados (por exemplo, formação, demonstração, selecção dos técnicos de campo, produção de documentos). Num plano pormenorizado, é importante que a descrição das actividades indique claramente quem é responsável por cada actividade.

Inputs. Os inputs são tudo aquilo que é necessário para tornar as actividades possíveis (por exemplo, mão-de-obra, equipamento, dinheiro). Num plano pormenorizado, os inputs devem ser quantificados (por exemplo, 30 blocos de notas, 2 viagens, 10 dias de trabalho por pessoa) e o seu custo calculado.

Calendário ou plano de trabalho. O calendário estabelece o tempo necessário para realizar cada uma das actividades do projecto e permite medir os progressos atingidos durante a execução. Pode ser preparado como um plano de trabalho pormenorizado que indica quem faz o quê, quando, durante quanto tempo e com que resultado.

Monitorização (acompanhamento). A monitorização ou acompanhamento é um elemento essencial de todo o projecto. Consiste em recolher informações específicas (por exemplo, os indicadores) de modo regular, para permitir aos membros do grupo avaliar os progressos que alcançaram na realização do seu objectivo. Também pode ser uma ferramenta de gestão importante. Ajuda a determinar se os objectivos são realistas, ou se precisam de ser revistos, e a identificar e antecipar os problemas, de modo a que os membros do grupo possam tomar medidas para os evitar ou resolver.

Avaliação. A avaliação é feita em último lugar, ou quando um projecto terminou. A avaliação permite observar se o projecto alcançou a finalidade e os objectivos definidos. É importante definir bem os objectivos para poder determinar em que medida eles foram atingidos.

Exemplo de um esquema de projecto. Os elementos de projecto descritos acima são ilustrados no esquema de projecto 1, que constitui um exemplo de esquema de projecto sobre formação em desenvolvimento das hortas. Trata-se apenas de um exemplo, e os técnicos de campo podem preparar outros, baseados nos resultados da visita de campo que se seguirá.

ESQUEMA DE PROJECTO 1

FORMAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO DAS HORTAS

JUSTIFICAÇÃO

As hortas podem ser muito melhoradas se encorajarmos a sua utilização com o objectivo de melhorar a segurança alimentar e a nutrição das famílias. Em meio rural, os habitantes das aldeias têm muitas vezes falta de experiência, de conhecimentos e de aptidões para empreender melhoramentos. Por vezes, falta também o material de plantação. Com a ajuda dos agentes de divulgação agrícola, os conhecimentos e as aptidões podem ser transmitidos por pessoas que exploram com êxito as suas hortas e que aceitam trabalhar com as famílias menos experientes e menos informadas. É possível minimizar a falta de material de plantação, criando, nas hortas individuais, viveiros, que podem ser geridos pelos seus proprietários numa base comercial. Um sucesso visível é mais persuasivo do que uma centena de conferências.

OBJECTIVO GERAL

O objectivo geral é melhorar a produção alimentar, o aprovisionamento e a utilização dos alimentos e, em última análise, o bem-estar nutricional da comunidade, graças a uma melhor utilização das hortas.

OBJECTIVO ESPECÍFICO

O objectivo específico é permitir a 200 famílias prepararem e porem em prática os seus próprios planos, tendo em vista uma maior disponibilidade de alimentos variados de bom valor nutritivo, ao longo de todo o ano, através de uma ou várias das seguintes acções (de acordo com as condições locais):

diversificar as culturas; melhorar a gestão da água e do solo; intensificar a utilização da terra; melhorar a protecção das culturas; melhorar o processamento, a conservação e a armazenagem dos alimentos; melhorar a utilização dos produtos da horta na preparação das refeições familiares.

ESTRATÉGIA

Um agente de campo ajudará as famílias a analisar os principais problemas das suas hortas e a avaliar as possibilidades de que dispõem para fazer melhoramentos (por exemplo, terra disponível e mão de obra suficiente). O agente de campo ajudará também a identificar as famílias que tratam bem das suas hortas e que utilizam bons métodos.

Os horticultores (por exemplo o marido ou a mulher, ou ambos) serão convidados para uma série de sessões de formação, incluindo demonstrações de boas práticas de horticultura e de introdução de novas técnicas. Com a ajuda do agente de campo, estes horticultores desenvolverão, em seguida, planos de melhoramento das suas próprias hortas. Além disso, demonstrações práticas sobre processamento e preparação dos alimentos, ajudá-los-ão a compreender como utilizar da melhor forma os produtos da horta e aumentar o bem-estar nutricional das suas famílias.

RESULTADOS E FINS A ATINGIR

Nota: para cada um dos seguintes resultados e fins a atingir, deve ser definida uma data de realização. Os resultados esperados são os seguintes:

principais problemas das hortas identificados pelos proprietários ou pelos horticultores (com a ajuda do agente de campo);

hortas locais bem tratadas identificadas; necessidades de formação dos horticultores identificadas e avaliadas; plano de formação e respectivos materiais preparados; horticultores (por exemplo, 10 grupos de 20 pessoas) formados em matéria de melhoramento da gestão das

hortas, assim como noutros aspectos identificados du-rante a avaliação; planos individuais de melhoramento das hortas e lista de inputs e de materiais (incluindo o custo desses

materiais) preparados pelos horticultores indicadores escolhidos para o acompanhamento do progresso das actividades.

ACTIVIDADES

O técnico de campo

Quando se planificam as actividades, visando cada um dos resultados, o técnico de campo:

ajuda os horticultores (durante a consulta às famílias) a avaliar as suas hortas, a determinar o potencial que permitiria aumentar a produção alimentar, e a identificar os problemas que é necessário resolver;

identifica duas ou três hortas onde se pode observar uma boa gestão do solo e da água, sistemas de cultura diversificados e intensificados, assim como uma boa produtividade por cultura;

ajuda os horticultores a identificarem as suas necessidades de formação teórica e prática; prepara as sessões e os materiais de formação adequados, assegurando-se de que o local e o tempo

consagrados à formação serão adaptados às necessidades dos horticultores; convida os horticultores a participarem no curso de formação; dirige cinco sessões de formação de 2 horas cada uma (incluindo a visita a uma horta bem tratada,

identificada como exemplar, escolhendo o seu proprietário como guia; uma sessão de demonstração de novas técnicas de fácil utilização; duas sessões de discussão de acompanhamento; uma sessão para finalizar os planos individuais de hortas);

organiza o aprovisionamento de sementes e de plântulas, segundo as necessidades; visita as hortas de membros da comunidade para os aconselhar e ajudar a realizarem os seus planos.

Membros da comunidade

Quando se planificam as actividades, visando cada resultado, os membros da comunidade:

identificam os problemas e o potencial de cada horta; desenvolvem planos para melhorar essas hortas; participam na formação sobre a escolha de tecnologias eficazes para melhorar as hortas; executam as acções seleccionadas; acompanham o progresso das actividades; participam na avaliação dos resultados.

Nos exemplos acima, as actividades são classificadas em função das pessoas ou grupos de pessoas que as deverão executar, a fim de mostrar claramente as diferentes responsabilidades de cada grupo. Normalmente, para cada resultado, deveria haver só uma lista de actividades, com a indicação da pessoa responsável por cada actividade e o tempo necessário para a sua realização. O plano de acção é preparado com base nestes dados.

INPUTS

São necessários os seguintes inputs:

agente de campo (25 dias de trabalho); sementes e plantas de um viveiro local, que deverão ser compradas pelos horticultores; apoio técnico (um ou dois conselheiros para as sessões de formação) do ministério da agricultura do país

em causa.

CALENDÁRIO

Geralmente, o calendário indica a data de início de uma actividade e a sua duração:

recolha da informação: 10 dias; planeamento da formação: 5 dias; formação: 5 dias; visitas de acompanhamento: 5 dias.

Nota: Depois de listar os inputs, convém colocar a seguinte questão: de onde provêm estes inputs e qual será o seu custo? Tal informação é útil para identificar soluções baratas que podem ser imediatamente implementadas. As soluções caras (por exemplo, a construção de um poço) podem implicar uma acção colectiva da comunidade. Neste caso, o agente de campo deve ajudar a comunidade a preparar uma proposta de projecto, prevendo o respectivo orçamento, para a submeter a um fundo de desenvolvimento comunitário (gerido pelo governo ou por uma ONG), que concede ajudas para projectos comunitários. Tais ajudas fornecem fundos ou inputs (por exemplo, materiais, equipamento, assistência técnica) que têm de ser contrabalançados por uma contribuição em espécie por parte da comunidade, como por exemplo, mão-de-obra necessária para abrir um poço e materiais que a comunidade possa fornecer com os seus próprios recursos (por exemplo, areia para fazer tijolos e cimento).

QUADRO 9.1 Problemas alimentares e nutricionais, e respectivas soluções

Problema Causas Soluções Indicadores

A produção de legumes e de frutos da horta é insuficiente para satisfazer as necessidades nutricionais da família

· A terra não é utilizada de forma adequada

· Solo pouco fértil

· Estragos provocados por pragas e doenças

· Praticar a cultura em diferentes níveis

· Melhorar a gestão do solo (utilização de composto e adubo verde)

· Preparar e utilizar pesticidas naturais

· Cultivar de forma intensiva as parcelas destinadas aos legumes

· Número de famílias que adoptaram com êxito a cultura em diferentes níveis

· Número de famílias que preparam e utilizam com sucesso o composto ou adubo verde

· Diversificação da produção (comparar a produção adicional dos legumes e frutos de cada família com a produção anterior)

A produção da horta só cobre as necessidades durante uma parte do ano

· Produção limitada à estação das chuvas

· As famílias não planificam para a estação de "penúria" porque desconhecem as suas necessidades alimentares

· Escassez de água durante a estação seca

· Práticas inadequadas de cultivo

· Melhorar a armazenagem dos alimentos e o processamento/ secagem dos frutos e dos legumes

· Promover a cultura em terras húmidas ou a construção de um poço

· Melhorar a gestão do solo e da água

· Número de famílias que melhoraram as suas instalações de armazenagem

· Número de pessoas que cultivam com êxito em terras húmidas

· Número de pessoas que utilizam com êxito métodos de conservação da água e de protecção do solo

· Número de famílias que armazenam alimentos para a estação de escassez alimentar

O regime alimentar dos membros da família é pouco variado

· Os legumes, raízes e leguminosas cultivados não são muito variados

· Falta de sementes e de material de plantio

· As famílias não sabem quais são as culturas necessárias para uma dieta equilibrada no plano nutricional

· Formar técnicos de campo em nutrição

· Promover viveiros comunitários

· Promover a conservação das sementes e a sua multiplicação

· Implementar um programa de educação nutricional para as famílias

· Número de técnicos de campo formados em aconselhamento nutricional

· Número de famílias que participaram em sessões de demonstração nutricional

· Número de viveiros comunitários implementados com êxito e tipos de materiais de plantação produzidos

· Número de famílias que compram materiais de

plantação

· Número de famílias que guardam sementes

· Número de famílias que produzem com êxito sementes destinadas à reprodução

· Número de famílias que utilizam legumes de folhas verdes na alimentação quotidiana

ORÇAMENTO

Depois de estabelecida a lista dos inputs e do respectivo custo, a questão que se coloca é a seguinte: quais os materiais que podem ser adquiridos com os recursos da comunidade e quais os que requerem uma ajuda exterior? Tal informação é útil para preparar o orçamento.

FICHA DE INFORMAÇÃO 1: DEFINIÇÃO E CONCEITO DE HORTA EM ÁFRICA

Uma horta define-se como um lugar onde se praticam culturas hortícolas. O termo horticultura vem do latim hortus, que significa jardim. A distinção entre culturas hortícolas e culturas de campo aberto nem sempre é muito clara, e mesmo os especialistas ainda não chegaram a acordo. Em geral, a horta utiliza a terra de uma forma muito mais intensiva do que a cultura de campo aberto, e os produtos da horta podem ser muito diversificados. Vários especialistas defendem que os frutos, os legumes, as especiarias e mesmo as plantas medicinais, deviam ser considerados como culturas hortícolas.

Em muitas áreas húmidas e sub-húmidas de África, a horta familiar (designada por vezes por quintal ou simplesmente por horta) faz parte da casa e representa um dos diferentes sistemas de cultura utilizados pela família rural. Neste caso, a horta constitui a parte central, com a casa no centro, de onde partem caminhos que conduzem a outros sistemas de cultura e unidades de produção consagrados às culturas anuais para vender ou para o consumo familiar.

Em lugares onde a terra é rara, por exemplo nas zonas urbanas e periurbanas, a horta familiar é muitas vezes a única parcela cultivada. Nas regiões semi-áridas, onde a falta de água é um obstáculo, as culturas hortícolas podem ser associadas às culturas de base dos campos da família. A cultura de legumes é geralmente praticada nas terras baixas e húmidas durante a estação seca. A importância destas actividades depende grandemente da água disponível. Por vezes, as hortas localizam-se longe da aldeia devido à concentração das populações.

Em África, como noutras regiões do mundo, as leguminosas, as raízes e os tubérculos, e mesmo algumas oleaginosas, são muitas vezes cultivadas na horta. De facto, algumas destas culturas, nomeadamente as raízes e os tubérculos, desempenham um papel essencial como culturas alimentares. Por vezes também se encontram nas hortas, embora em quantidade reduzida, certas árvores ou arbustos, como o cafézeiro, o cacaueiro, o coqueiro, a palmeira dendém, a tamareira e outros.

Uma horta tradicional africana contém uma mistura de culturas vivazes e de culturas anuais bem adaptadas às condições ecológicas. As culturas são muitas vezes consociação, e as características desta consociação variam de região para região. A consociação de culturas numa horta familiar é, muitas vezes, resultado de uma selecção intencional de plantas e de árvores variadas, que ocupam diferentes níveis da horta. A horta oferece à família, ao mesmo tempo, culturas alimentares e culturas comerciais. A cultura associada de árvores e de plantas permite prolongar o período de colheita e de ter assim certos alimentos em permanência. Uma vez plantadas, certas espécies de árvores não exigem senão um pouco de trabalho e materiais de manutenção mínimos, e podem assegurar um aprovisionamento alimentar contínuo sem que seja necessário replantá-las. A criação de animais praticada em pequena escala (nomeadamente ovelhas, cabras, aves de criação e por vezes mesmo bovinos e porcos) pode fornecer alimentos, receitas e estrume.

A diversidade biológica e a complexidade das hortas diminui à medida que se passa das regiões húmidas para as regiões semi-áridas e áridas dos países sahelianos (onde a pluviometria anual é inferior a 500 mm). Nas regiões secas, a falta de água é um dos principais obstáculos a uma horticultura bem sucedida; contudo, graças a uma boa gestão do solo e da água, pode conseguir-se que as culturas se desenvolvam mesmo nessas regiões.

Como as hortas nem sempre podem ficar situadas no perímetro da casa, é essencial considerar toda a terra potencialmente disponível - quer se situe em torno da casa ou em zona mais afastada - quando se avalia a capacidade de produção e o potencial da horta, particularmente nas zonas semi-áridas.

A família africana é, muitas vezes, uma família alargada, por vezes com várias unidades familiares compostas de parentes próximos (o marido, a mulher, os filhos casados e as suas mulheres e crianças, ou um marido com várias mulheres e filhos) que vivem sob o mesmo tecto ou na mesma povoação* . O termo povoação tem diferentes significados conforme as regiões de África. Nesta publicação, refere-se a uma unidade familiar (muitas vezes uma família alargada) que vive numa parcela de terra delimitada; os membros da família cultivam em conjunto essa parcela, assim como preparam e consomem em conjunto os produtos.

* Ver outros nomes vulgares no Anexo 1, página 278.

Muitas vezes, a horta serve também de jardim de recreio, o que constitui uma mais-valia suplementar para a família e a vizinhança. As árvores da horta dão sombra, debaixo da qual as pessoas podem encontrar-se ou empreender diferentes actividades domésticas ou geradoras de rendimentos. Além disso, uma horta completa pode fornecer lenha, especiarias e plantas medicinais ou ornamentais.

A povoação compreende um espaço habitacional e espaços agro-domésticos destinados aos animais, à armazenagem das colheitas, das ferramentas e dos materiais e factores de produção agrícola, tendo ainda instalações para conservar e transformar os alimentos.

Praticar um grande número de culturas diferentes num espaço reduzido permite utilizar métodos de produção intensiva e utilizar mais eficazmente recursos escassos, particularmente a água. As hortas permitem igualmente praticar agricultura biológica (por exemplo, utilizando estrume verde, composto e pesticidas naturais), o que reduz o custo de produção dos alimentos. Assim, as hortas podem ser desenvolvidas com recursos económicos muito limitados, se a água não faltar totalmente.

Quando a cultura associada e a cultura em diferentes níveis são praticadas na horta, isso permite diversificar as culturas e variar o aprovisionamento alimentar. As plantas vivazes podem fornecer folhas e frutos comestíveis durante os períodos secos, quando as culturas anuais não podem ser praticadas. Assim, uma horta africana bem gerida, associada a uma parcela de terreno onde é praticada a maior parte das culturas alimentares, assegura um aprovisionamento contínuo de legumes, frutos e outros produtos que fornecem ao regime alimentar familiar boas quantidades de energia, de proteínas, de vitaminas A e C e de ferro.

FIGURA 1 Praticar diferentes culturas numa área reduzida

Em condições de baixas temperaturas, tais como as dos planaltos remotos da Etiópia ou do Lesoto, a cultura de frutos e legumes representa um desafio bem diferente. Nestas regiões, os esforços para prolongar a produção de legumes de folhas durante o Inverno, por exemplo, devem basear-se na selecção de cultivares resistentes ao frio, do género Brassica, tais como a couve ou a mostarda.

FICHA DE INFORMAÇÃO 2: PROBLEMAS ALIMENTARES E NUTRICIONAIS

No decurso dos anos 90, certos países africanos melhoraram a produção alimentar e aumentaram os seus níveis nutricionais, enquanto outros viram aumentar o número de pessoas com fome. De facto, mais de 1/4 da população de África não consome alimentos suficientes para ter uma nutrição saudável e uma vida produtiva.

Em muitas regiões, a pobreza é uma das causas principais da fome e da malnutrição Muitas pessoas não têm acesso a uma alimentação suficiente porque os seus rendimentos são escassos. Muitas vezes, as populações rurais sofrem de fome porque não têm acesso a terra boa ou não possuem os conhecimentos e a tecnologia necessários para tornar a sua terra mais produtiva. Para melhorar a produção alimentar e aumentar os níveis nutricionais, é pois importante explorar novas potencialidades. Se forem postas à disposição soluções práticas e conselhos técnicos adequados, é possível aumentar a produtividade do solo, diversificar as culturas e aumentar o consumo alimentar, mesmo se as pessoas só tiverem pequenas parcelas de terra.

Em geral, as crianças e as mulheres grávidas e em fase de amamentação são mais vulneráveis à malnutrição, por causa das suas necessidades nutricionais específicas. Em muitas regiões de África, as crianças têm peso a menos ou outros sinais de malnutrição. Algumas comunidades rurais utilizam termos locais para descrever diferentes sinais ou formas de malnutrição (por exemplo, cegueira nocturna, marasmus e kwashiorkor), mesmo que nem sempre saibam exactamente quais as suas causas.

A malnutrição é uma das principais causas de mortalidade infantil. Um quarto das crianças africanas não atinge os cinco anos de idade. Mais de 10 % dos recém-nascidos, na África Sub-Saariana, têm pouco peso à nascença (inferior a 2,5 kg) devido ao mau estado de saúde das mães e à insuficiência nutricional, antes e durante a gravidez. O baixo peso à nascença é uma das causas principais de doença e de mortalidade entre os recém-nascidos.

As formas mais comuns de malnutrição são a malnutrição proteico-energética (MPE) e a carência de três micronutrientes, nomeadamente a vitamina A, o ferro e o iodo.

MALNUTRIÇÃO PROTEICO-ENERGÉTICA

Sintomas

A malnutrição proteico-energética manifesta-se quando as crianças não consomem alimentos suficientes para satisfazer as suas necessidades de energia e de nutrientes. As crianças apresentam um peso baixo, ou estão desnutridas; e se a sua dieta não for adequado durante vários meses ou anos, não crescerão normalmente, ficando raquíticas (isto é, peso e altura inferiores ao das crianças da mesma idade cuja alimentação é adequada). As crianças desnutridas têm pouca energia para brincar e correr; são muitas vezes apáticas, parecem tristes, aprendem lentamente e têm menor resistência às doenças infecciosas.

As crianças cuja alimentação é insuficiente durante vários meses e que contraem facilmente infecções desenvolvem uma forma de MPE grave, conhecida como marasmo. Os sinais de marasmo são pernas e braços extremamente magros, uma expressão facial de velho, o abdómen saliente e uma tendência para a tristeza e para chorar muito.

A outra forma de MPE grave é a kwashiorkor, que é mais complicada. É igualmente devida à falta de energia e de nutrientes, mas existem outros factores que favorecem o seu desenvolvimento nalgumas crianças, tais como uma forte carência de vitamina A e de outros micronutrientes. Os sinais de kwashiorkor podem aparecer rapidamente, muitas vezes quando uma criança tem uma infecção ou quando o aleitamento materno é interrompido bruscamente.

As pernas, os braços e a cara da criança parecem inchados (por causa dos edemas nos tecidos), têm uma "expressão lunar" (a pele fica pálida e fina, podendo haver descamação), e os cabelos ficam mais claros e mais lisos do que é normal. Estas crianças podem ficar também extremamente tristes ou apáticas (com falta de interesse pelas coisas à sua volta). Algumas crianças podem apresentar ao mesmo tempo sintomas demarasmo e kwashiorkor (por exemplo, são extremamente magras e podem também ter edemas nas pernas, nos braços e na cara). Se não receberem uma alimentação adequada e tratamento médico, as crianças atingidas por uma das formas de MPE grave correm o risco de morrer.

FIGURA 1 Marasmo

FIGURA 2 kwashiorkor

Causas

As crianças que sofrem de MPE provêm muitas vezes de famílias pobres que não produzem alimentos suficientes ou não têm rendimentos suficientes para comprar alimentos adequados. Por vezes, as crianças de famílias abastadas são igualmente desnutridas, não porque a família tenha falta de comida, mas porque os pais desconhecem as necessidades alimentares específicas das crianças pequenas e ignoram como preparar refeições equilibradas, saudáveis e nutritivas. Os pais nem sempre estão conscientes da relação entre alimentação insuficiente e malnutrição.

A malnutrição também pode ser consequência da falta de água, falta de lenha ou de utensílios de cozinha para a preparação dos alimentos, ou ainda da falta de tempo da mãe para se ocupar da criança convenientemente ou para as visitas regulares à unidade sanitária. As infecções frequentes causadas por falta de higiene e instalações sanitárias sem condições também contribuem para a malnutrição.

As crianças que estão frequentemente doentes estão mais expostas à malnutrição, porque, quando estão doentes, perdem o apetite e recusam-se a comer. Por outro lado, as crianças malnutridas têm menor resistência às infecções e adoecem com mais frequência do que as crianças bem alimentadas.

Para que as crianças se mantenham de boa saúde, os pais devem assegurar-lhes uma alimentação que forneça energia suficiente e todos os nutrientes essenciais, incluindo as proteínas, as vitaminas e os sais minerais. A alimentação deve também ser saudável e livre de germes ou de parasitas. Deve-se dar às crianças água limpa e potável e ensinar-lhes hábitos de higiene correctos (por exemplo, lavar as mãos antes das refeições e depois de usar a casa de banho).

Os grupos de risco

Uma nutrição adequada é essencial em todas as etapas do ciclo da vida, do nascimento à velhice. Contudo, é particularmente importante que os bebés e as crianças em idade pré-escolar tenham uma ingestão alimentar adequada, uma vez que são os mais vulneráveis à malnutrição. As mulheres grávidas e as mães em fase de aleitamento são igualmente vulneráveis, assim como os idosos e os convalescentes. Os bebés ficam desnutridos se não tiverem leite materno suficiente ou se a alimentação complementar for introduzida demasiado tarde, ou não fornecer a energia e os nutrientes essenciais necessários. A partir dos 6 meses de idade, o leite materno é insuficiente; como tal, devem ser introduzidos, na alimentação da criança, os alimentos complementares (por exemplo, os alimentos de desmame), para permitir que cresça e se desenvolva normalmente.

Avaliação

As crianças saudáveis aumentam de peso todos os meses. A pesagem, especialmente de bebés e crianças em idade pré-escolar, constitui pois o meio mais fácil de determinar se uma criança sofre de malnutrição proteico-energética. Uma pesagem mensal é extremamente importante nas crianças com menos de 5 anos. Quando a pesagem mostra que a criança está a perder peso e a ficar malnutrida, uma acção preventiva deve ser tomada rapidamente.

Em muitos países, o pessoal dos centros de saúde das zonas rurais tem formação para pesar as crianças e registar o seu peso no cartão de controle de crescimento. Se as crianças forem pesadas uma vez por mês, é possível saber se estão a crescer normalmente. Infelizmente, certos centros de saúde ou comunidades de África não têm balanças disponíveis; neste caso, um outro método, conhecido pelo nome de perímetro braquial a meia altura (PBMA), pode ser utilizado para avaliar o estado nutricional das crianças.

Entre 1 e 5 anos de idade, o perímetro braquial de uma criança varia pouco. Isso acontece porque, no caso de uma criança bem alimentada, enquanto os músculos do braço se desenvolvem, a gordura que acumulou em bebé diminui. Assim, quando uma criança cresce de forma saudável, o perímetro braquial aumenta pouco. Contudo, se uma criança cresce muito lentamente ou perde peso, os músculos não se desenvolvem muito e o perímetro braquial é inferior ao normal. O perímetro braquial de uma criança bem alimentada é superior a 13,5 cm.

Quando o perímetro diminui para se situar entre 13,5 cm e 12,5 cm, a criança é considerada comomoderadamente desnutrida. Se o perímetro braquial for inferior a 12,5 cm, a criança está gravemente desnutrida.

A malnutrição pode ser evitada se as crianças receberem uma quantidade adequada de alimentos, pouco volumosos, suficientemente energéticos e ricos em vitaminas e sais minerais essenciais. Informações sobre a alimentação dos bebés e das crianças pequenas serão apresentadas nas Fichas de Informação 4, "Refeições ligeiras nutritivas e saborosas para crianças pequenas", e 5, "Transformação e preparação caseira de alimentos de desmame", assim como na Rubrica Tecnológica de Horticultura, "Garantir diariamente uma boa alimentação à família".

CARÊNCIA DE MICRONUTRIENTES

Para além de macronutrientes, tais como hidratos de carbono, proteínas e gorduras, o corpo humano precisa de vitaminas e de sais minerais. Embora o corpo só necessite de uma pequena quantidade de vitaminas e de sais minerais (é por isso que estes últimos são geralmente designados como micronutrientes), uma quantidade insuficiente de micronutrientes na dieta afecta a saúde e o desenvolvimento tanto das crianças como dos adultos, e provoca doenças carenciais que podem pôr a vida em perigo. As três principais carências de vitaminas e minerais são: a carência de vitamina A, a carência de ferro ou anemia, e as perturbações devidas à carência de iodo.

A carência de vitamina A

A carência de vitamina A (CVA) é uma das doenças nutricionais mais graves nas crianças; está muitas vezes associada à MPE. A carência de vitamina A causa cegueira nocturna e, em casos mais graves, pode afectar os olhos, causar cegueira total, e aumentar o risco de infecção e de morte. Calcula-se que, todos os anos, cerca de 300.000 crianças de países em vias de desenvolvimento perdem a visão devido à carência de vitamina A, e 2/3 destas crianças estão em risco de morrer. A CVA afecta igualmente os adultos; as mulheres grávidas e as mães em fase de aleitamento são particularmente ameaçadas.

A carência de vitamina A aparece quando uma criança ou um adulto não consome alimentos suficientes ricos em vitamina A ou não consome gorduras suficientes. As gorduras e os óleos facilitam a absorção da vitamina A; assim, quando uma dieta é pobre em gorduras, só são absorvidas pequenas quantidades de vitamina A. A carência de vitamina A é muitas vezes agravada por doenças ou infecções, como a varíola ou a diarreia, que aumentam igualmente as necessidades de vitamina A.

A carência de vitamina A é particularmente frequente nas regiões de baixa precipitação, onde a estação húmida e a estação seca são bem distintas e onde a disponibilidade e consumo de legumes de folhas verdes e de frutos amarelos ou alaranjados é sazonal. Por vezes, pode-se detectar a carência de vitamina A numa comunidade, quando o consumo de alimentos ricos em vitamina A é baixo e a população utiliza termos locais para descrever a cegueira nocturna.

A melhor maneira de prevenir a carência de vitamina A é encorajar as famílias a produzirem e consumirem, durante todo o ano, alimentos ricos em vitamina A. Estes últimos compreendem os legumes de folhas verde escuro, os frutos amarelos ou alaranjados, assim como uma grande variedade de legumes de folha tradicionais. Entre os alimentos de origem animal, o fígado é particularmente rico em vitamina A. Antes da introdução de alimentos de desmame, o leite materno é a única fonte de vitamina A para os bebés. Assim, as mães em fase de amamentação deveriam consumir muitos alimentos ricos em vitamina A para cobrir as suas próprias necessidades e as do filho que amamentam. Um consumo adequado de óleo ou de gordura é igualmente importante, para assegurar que a vitamina A é bem absorvida, sobretudo entre as crianças, as mulheres grávidas e as mães em fase de amamentação.

A anemia

A anemia é a perturbação nutricional mais difundida em todo o mundo. A causa mais comum da anemia nutricional é a carência de ferro, ou a falta de ferro na dieta. Outras causas são as infecções parasitárias, tais como a ancilostomíase, e a perda de sangue durante a menstruação e o parto. O ferro é um mineral importante, que é necessário para a formação dos glóbulos vermelhos, que transportam o oxigénio no sangue.

As pessoas com anemia têm geralmente a língua e os lábios pálidos, e o interior das pálpebras branco. A anemia reduz a capacidade de trabalho, aumenta o cansaço e diminui a capacidade de aprendizagem das crianças. Os grupos de alto risco de anemia são as mulheres, especialmente durante a gravidez e depois do parto; os bebés; as crianças pequenas; e os adolescentes, especialmente as raparigas que estão no período de crescimento rápido.

A anemia nutricional pode ser evitada garantindo que as mulheres e as crianças comam suficientes alimentos ricos em ferro (por exemplo, pequenas quantidades de fígado, de carne, de peixe e de leguminosas, tais como o feijão-bambara e o feijão-nhemba). Estes alimentos devem ser consumidos em associação com outros alimentos ricos em vitamina C (por exemplo, os citrinos, as goiabas, as papaias, e alguns legumes verdes), porque a vitamina C aumenta a absorção do ferro. Uma outra forma de prevenir a anemia é evitar beber café ou chá imediatamente depois da refeição, dado que estas duas bebidas contêm substâncias que impedem a absorção do ferro.

A carência de iodo

As perturbações devidas à carência de iodo (PCIs) são causadas por uma falta de iodo na alimentação e no solo em que crescem as culturas. Esta carência é mais comum nas regiões onde o iodo do solo foi arrastado pelas chuvas ou em zonas interiores onde os produtos do mar são raros.

A glândula tiróide, situada na parte da frente do pescoço, armazena e utiliza o iodo para produzir a hormona do crescimento. Se na dieta não contiver iodo suficiente durante um longo período de tempo, aparecem sinais de carência.

Mais de um bilião (mil milhões) de pessoas no mundo estão em risco de PCIs, como o bócio, que se manifesta pelo aumento de volume da glândula tiróide, pelo baixo peso à nascença, crescimento insuficiente nas crianças e alteração do desenvolvimento mental. Em casos mais graves, o cérebro pode ser afectado.

O consumo de sal iodizado é uma maneira eficaz de prevenir as PCIs, e é pois altamente recomendado. Em algumas regiões, o iodo é adicionado à água de beber, incluindo nos poços das aldeias.

FICHA DE INFORMAÇÃO 3: RECEITAS PARA A CONFECÇÃO DE PRATOS NUTRITIVOS

Na maior parte das regiões de África, a refeição familiar consiste num prato principal que é consumido com um prato de acompanhamento. O prato principal é à base de cereais, de raízes, de tubérculos ou de bananas verdes (banana-pão). O prato de acompanhamento que, consoante a região, é um guisado, um molho ou uma sopa, pode ser constituído por legumes frescos (muitas vezes legumes de folhas verdes) ou de leguminosas com carne ou peixe, quando estes últimos se encontram disponíveis.

O prato principal é também feito de uma combinação de cereais e de grãos de leguminosas ou outros grãos. Por exemplo, o milho pode ser consumido com feijão-bambara, amendoins, feijão-nhemba, ou feijão; o arroz pode ser consumido com feijão-nhemba, feijão ou sementes de melão (egusi). Uma tal combinação representa muitas vezes uma refeição familiar "completa". Poucas populações juntam legumes de folhas verdes ao prato composto de cereais e de leguminosas.

Nas regiões húmidas da África Oriental e Central, as bananas verdes e as bananas-pão constituem a base do prato principal porque são muito abundantes. Outros frutos são consumidos na época, mas habitualmente não fazem parte do prato familiar.

Quando as famílias consomem um prato principal (prato de base) com um prato de acompanhamento à base de abóbora, de feijão-nhemba ou de folhas de mandioca, com molho de amendoim ou de óleo de palma vermelho, ingerem uma boa mistura de nutrientes que lhes permite manter uma boa saúde. O valor nutritivo de uma refeição composta por cereais e leguminosas pode ser melhorado, adicionando-lhe frutas da época, particularmente frutas ricas em vitaminas A e C (ver na Sessão 2 o Quadro 2.5, "Produtos da horta ricos em energia e nutrientes essenciais"). O "Guia para refeições familiares variadas" (Figura 1) mostra como combinar diferentes alimentos para preparar refeições de boa qualidade nutritiva.

Com base na informação fornecida no "Guia para refeições familiares variadas", os formadores e os agentes de campo podem discutir com os membros da comunidade e das famílias a qualidade nutritiva das refeições geralmente consumidas localmente. Podem rever e discutir as maneiras de melhorar os pratos tradicionais, juntando-lhes gorduras ou óleo, legumes verdes, leguminosas, carne, ovos ou peixe, desde que as famílias sejam capazes de os produzir ou de os comprar a preços acessíveis. Os agentes de campo devem também encorajar o consumo de frutos (cultivados ou silvestres) como parte essencial da refeição familiar. Os frutos adicionam variedade à dieta e melhoram o seu valor nutritivo (vitaminas essenciais); por outro lado, facilitam a utilização do ferro contido nas plantas alimentares.

As receitas que se apresentam a seguir são de pratos que podem ser preparados com os produtos da horta e são geralmente consumidos em diferentes partes de África.

FIGURA 1 Guia para refeições familiares variadas

PRATOS PRINCIPAIS

Fufu

Ingredientes

1 kg de inhame, matabala, mandioca ou banana-pão, lavados, descascados e cortados em pedaços pequenos

3 ou 4 chávenas de água sal

1. Cozer o inhame (ou um outro feculento de base) em água salgada durante 30 a 45 minutos. Escorrer a água.

2. Esmagar o inhame cozido com um pilão. Juntar água e esmagar de novo o inhame até que a pasta esteja lisa e consistente.

3. Formar bolas e servir com um molho de legumes condimentado.

Xima[5]

Ingredientes

4 chávenas de água 2 chávenas de farinha de milho

sal

1. Ferver a água com o sal, e introduzir a farinha de milho aos poucos.

2. Deixar cozer durante cerca de 20 minutos, mexendo constantemente até a mistura ficar espessa e macia.

3. Tapar e deixar cozer em lume brando cerca de 10 a15 minutos.

4. Servir com um molho.

Guisado de mandioca e feijão-nhemba

Ingredientes

1 chávena de feijão-nhemba água

1 tubérculo de mandioca doce descascado, lavado e cortado em cubos cebola picada

sal pimenta moída

óleo de palma vermelho

1. Lavar e cozer o feijão-nhemba.

2. Ferver a mandioca e misturá-la com o feijão-nhemba cozido.

3. Temperar com cebola, sal, pimenta e óleo de palma vermelho.

Puré de abóbora com manteiga de amendoim

Ingredientes

1 abóbora média (ou melão amargo), descascada, sem sementes e cortada em cubos água

3 chávenas de farinha de milho 1 ½ chávena de amendoins ou 3 colheres de sopa de manteiga de amendoim

½ colher de chá de sal açúcar a gosto (se for melão amargo)

1. Cozer a abóbora (ou o melão) em água salgada até amaciar.

2. Esmagar até obter um produto liso e líquido.

3. Juntar a farinha de milho e deixar cozer durante 30 minutos, mexendo de vez em quando.

4. Juntar or amendoins ou a manteiga de amendoim e o sal.

PRATOS DE ACOMPANHAMENTO

Folhas verdes[6] com molho de amendoim

Ingredientes

750 g de folhas de amaranto, de matabala, de abóbora, de feijão ou de qualquer outro legume de folha, lavadas e cortadas em tiras

Água ½ chávena de amendoins ou 2 colheres de sopa de manteiga de amendoim

1 cebola média 1 tomate grande

Óleo vegetal Sal a gosto

1. Escolher as folhas (os caules das folhas de abóbora devem ser pelados) e cozê-las no vapor, numa panela bem tapada, até estarem tenras.

2. Torrar o amendoim e moer até fazer uma pasta.

3. Cozinhar a cebola e o tomate em óleo vegetal.

5. Juntar as folhas cozidas no vapor e um pouco de água. Pôr sal a gosto.

6. Servir com a pasta de amendoim.

Guisado de legumes

Ingredientes

6 quiabos tenros cortados em bocados Óleo de palma encarnado

Cebola Tomate 250 g de folhas de amaranto, lavadas e cortadas em tiras

150 g de beldroegas Malaguetas

Sal

1. Cozer ou fritar os quiabos.

2. Saltear a cebola e o tomate no óleo de palma

3. Juntar as folhas, os quiabos, as malaguetas e o sal.

4. Deixar cozer mais 10 minutos.

Folhas de mandioca com leite de coco

Ingredientes

2 molhos de folhas de mandioca, escolhidas e lavadas 2 chávenas de água

Sal Cebola picada

Tomate Óleo vegetal

1 chávena de leite de coco espesso

1. Triturar as folhas de mandioca até ficarem finas. Cozer em água salgada durante cerca de 40 minutos.

2. Saltear a cebola e o tomate num pouco de óleo vegetal.

3. Juntar as folhas de mandioca cozidas e o leite de coco. Deixar cozer mais 5 minutos.

Folhas de juta

Ingredientes

1 molho de folhas de juta, lavadas e cortadas finamente (ou pó de folhas secas) 1 molho de folhas de abóbora, lavadas e cortadas em tiras 5 beringelas amargas, lavadas e cortadas em fatias finas

Água

1. Misturar todos os ingredientes.

2. Cozer durante 10 minutos numa panela tapada, mexendo de vez em quando.

Folhas de mandioca com amendoim

Ingredientes

2 molhos de folhas de mandioca, lavadas e trituradas Água

Amendoim Sal

1. Cozer as folhas de mandioca durante 40 minutos em água salgada.

2. Triturar o amendoim. Juntar às folhas de mandioca cozidas e cozinhar por mais 10 minutos.

3. Salgar a gosto.

Pastéis de farinha de grão-de-bico

Ingredientes

2 chávenas de cebola picada 1 ½ chávena de óleo vegetal

Água Malagueta

2 chávenas de farinha de grão de bico Cardamomo

Gengibre Alho

Sal (facultativo)

1. Saltear a cebola no óleo vegetal até ficar macia. Juntar um pouco de água.

2. Juntar a malagueta e um pouco de óleo.

3. Juntar a farinha na frigideira que contém as cebolas, a água e a malagueta; homogeneizar esta mistura e fazer pequenos pastéis, juntando mais óleo, se for necessário.

4. Cozer no forno ou fritar estes pastéis.

5. Temperar os pastéis com cardamungo, gengibre, alho e sal e deixar cozer mais 15 minutos.

REFEIÇÕES LIGEIRAS E MOLHOS

Banana de São Tomé frita

Ingredientes

Bananas de São Tomé, descascadas e cortadas ao comprido Óleo de palma encarnado

Sal

1. Fritar as bananas no óleo até ficarem douradas.

2. Temperar com sal.

Estufado de Batatas doces

Ingredientes

1kg de batatas-doces, descascadas (cortadas ao meio se necessário) Água

1 colher de sopa de farinha Açúcar

Sal Noz moscada

1. Pôr as batatas-doces numa caçarola com a água.

2. Misturar a farinha, o açúcar e o sal. Salpicar esta mistura sobre as batatas.

3. Cozer as batatas em lume brando até que estejam macias.

4. Temperar com noz moscada e outras especiarias.

Estufado de bananas verdes

Ingredientes

Óleo vegetal Cebola picada

Sal Tomate em bocadinhos Pimento em bocadinhos

10 bananas verdes inteiras Água

1. Aquecer o óleo e saltear a cebola até ficar dourada. Juntar sal.

2. Juntar o tomate e o pimento e deixar cozer durante mais 3 minutos.

3. Juntar as bananas e alguma água.

4. Cobrir e deixar cozer em lume brando até que a água seja praticamente absorvida e as bananas estejam macias.

5. Fazer a mistura em puré e servir.

Beringelas africanas (tomate amargo) grelhadas

Ingredientes

6 beringelas lavadas Sal

1. Grelhar as beringelas

2. Pelar e salgar.

Molho de urtiga e cevada

Ingredientes

500 g de folhas tenras de urtiga, picadas 1 chávena de farinha de cevada

Água quente Cebola ou alho picado

Sal

1. Cozer as folhas e escorrê-las muito bem no passador.

2. Misturar com a farinha de cevada. Juntar um pouco de água quente e saltear.

3. Adicionar a cebola ou o alho e deixar cozer durante mais10 minutos, mexendo de vez em quando.

4. Salgar.

Molho de sementes de algodão

Ingredientes

1 chávena de sementes de algodão Água

2 chávenas de cebola picada Óleo vegetal

Pimenta Sal

1 chávena de ervilhas partidas

1. Pôr as sementes de algodão numa panela com água fria e levar à fervura. Escorrer.

2. Deixar arrefecer as sementes e triturá-las.

3. Saltear a cebola e juntar as especiarias.

4. Cozer as ervilhas separadamente. Escorrê-las.

5. Misturar as sementes de algodão, as cebolas e as ervilhas. Temperar. 6. Servir quente.

[5] O mesmo prato é conhecido como nshima, mealie pap., sdaza ou tuwo, noutras regiões de África. [6] As folhas de pega-pega, as de alface selvagem, as de couve verde, os do feijão-nhemba e muitas outras, podem ser preparadas da mesma maneira.

FICHA DE INFORMAÇÃO 4: REFEIÇÕES LIGEIRAS, NUTRITIVAS E SABOROSAS PARA CRIANÇAS PEQUENAS

As crianças pequenas e os adolescentes devem estar bem alimentados quando atravessam as etapas críticas do crescimento e do desenvolvimento. Se os intervalos entre as refeições familiares são demasiado longos, as crianças ficam com fome antes da refeição seguinte ser servida. Quando as crianças têm o estômago vazio, têm falta de energia e cansam-se facilmente, não conseguindo, desta forma, concentrar-se ou aprender bem na escola. Em muitas zonas rurais, as crianças percorrem a pé grandes distâncias para chegarem à escola e passam muito tempo fora de casa. Para que as crianças tenham um crescimento e desenvolvimento satisfatórios, e para que sejam vigorosos e se possam concentrar na escola, é preciso dar-lhes refeições ligeiras ricas em energia e nutrientes, entre as refeições principais.

As crianças de 3 a 10 anos crescem rapidamente e necessitam de mais energia por quilograma de peso corporal do que os adolescentes. Devem também comer mais vezes do que as crianças mais velhas, ou seja, devem ter três refeições principais por dia e duas refeições mais leves (merendas) entre as refeições principais. Os adolescentes necessitam de duas ou três refeições principais e uma ou duas refeições ligeiras. Uma horta que forneça uma grande variedade de alimentos para refeições ligeiras ajuda as crianças a manter um bom nível nutricional.

Podemos citar numerosos alimentos para refeições ligeiras que fornecem energia, podem ser consumidos crus ou cozidos e que convêm para preencher as necessidades entre as principais refeições familiares: raízes e tubérculos cozidos ou grelhados (mandioca, inhames, banana-pão e batatas doces); maçaroca cozida ou grelhada; amendoins ou sementes oleaginosas torrados, por exemplo, sementes de melão ou de abóbora; pão barrado com pasta de amendoim; peixe frito, carne ou salsichas; ovos; lacticínios, tais como leite, coalhada ou queijo; insectos, por exemplo, gafanhotos ou térmitas; frutos como bananas, laranjas, mangas; cana-de-açúcar.

Uma mãe com crianças pequenas e que trabalhe longe de casa pode facilmente preparar com antecedência este tipo de refeições ligeiras e pedir à pessoa que cuida das crianças (por exemplo, os avós, os irmãos mais velhos ou qualquer outro membro da família) para lhes dar duas ou três refeições ligeiras durante o dia, entre as refeições familiares. As crianças que vão à escola podem levar alguns destes alimentos. Estas refeições ligeiras fornecem energia e nutrientes (por exemplo, vitaminas provenientes dos frutos, proteínas e gorduras dos frutos secos) e são fáceis de consumir.

As receitas que se apresentam a seguir ajudam a confeccionar refeições ligeiras nutritivas e saborosas, como biscoitos e bolos, que podem ser preparadas em casa, utilizando ingredientes disponíveis localmente .

Biscoitos de amendoim

Ingredientes

12 colheres de sopa de amendoins crus esmagados 4 colheres de sopa de açúcar

1 ovo 6 colheres de sopa de farinha de milho

Água 1 colher de sopa de óleo vegetal

1. Misturar todos os ingredientes

2. Formar pequenos bolos com esta mistura.

3. Cozer os bolos lentamente sobre uma placa quente untada com óleo ou numa frigideira.

Rebuçados de amendoim

Ingredientes

1 chávena de açúcar 1 chávena de água

1 chávena de amendoins descascados e torrados Óleo vegetal

1. Dissolver o açúcar numa panela com água.

2. Aquecer a panela e mexer até obter um xarope. Quando este estiver dourado, juntar o amendoim e misturar bem.

3. Deitar a mistura num prato untado com óleo, espalhando até formar uma camada de 1 a 1,5 cm de espessura.

4. Deixar a mistura solidificar, mas antes que fique dura, corte-a em pequenos quadrados.

Bolo de mandioca

Ingredientes

200g de mandioca crua, ralada 1 ovo

½ chávena de leite 75 g de manteiga 225 g de açúcar

50 g de farinha de trigo 2 colheres de chá de fermento em pó

Sal

1. Misturar a mandioca com o ovo e o leite.

2. Bater a manteiga e o açúcar até que a mistura fique cremosa.

3. Juntar a mistura da manteiga e açúcar com a da mandioca, ovo e leite.

4. Num recipiente à parte, juntar a farinha, o fermento em pó e uma pitada de sal. Adicionar a mistura de farinha à do ovo. Misturar bem.

5. Deitar numa forma de bolo e cozer no forno durante 40 minutos.

Banana de São Tomé frita

Ingredientes

2 bananas-pão maduras mas firmes, peladas e cortadas em fatias 1 chávena de óleo, de preferência de óleo de palma encarnado

Sal Gengibre

Açafrão (facultativo)

1. Fritar as bananas. Escorrer o óleo em excesso.

2. Temperar.

Pãezinhos de banana

Ingredientes

2 bananas ½ chávena de leite 30 g de manteiga

2 chávenas de farinha com fermento Sal

1. Esmagar as bananas.

2. Juntar o leite e misturar.

3. Numa tigela à parte, misturar a manteiga com a farinha e o sal.

4. Juntar a mistura de banana e leite à mistura de farinha e manteiga. Mexer bem.

5. Estender a massa com um rolo. Utilizar um copo para cortar rodelas de massa.

6. Cozer em forno quente (a 230 °C ou 450° F) durante cerca de 15 minutos.

Moinmoin (bolos de farinha de feijão cozidos no vapor)

Ingredientes

Farinha de feijão Água

Farinha de mandioca (se necessário) Pimenta moída Cebola picada

Sal (facultativo) Folhas de bananeira

Peixe seco ou ovos cozidos (facultativo)

1. Misturar a farinha de feijão e a água até formar uma pasta (pode ser utilizada um pouco de farinha de mandioca para ligar a mistura)

2. Juntar pimenta, cebola e sal (e outros ingredientes, se desejar) à pasta.

3. Enrole a pasta nas folhas de bananeira e deixe cozer no vapor.

Biscoitos de batata-doce

Ingredientes

Batata-doce (de preferência amarela ou alaranjada) ralada Açúcar

Um pouco de farinha de trigo Sumo de ananás ou leite de coco (facultativo)

1. Misturar todos os ingredientes.

2. Cozer no forno como se faz para outros biscoitos.

FICHA DE INFORMAÇÃO 5: PROCESSAMENTO E PREPARAÇÃO CASEIRA DE ALIMENTOS DE DESMAME O

DESMAME

Durante os primeiros seis meses de vida, a maioria dos bebés retira do leite materno a totalidade da energia e dos nutrientes de que necessitam. Contudo, a partir dos 6 meses de idade, precisam de alimentos complementares para atingirem um crescimento e desenvolvimento satisfatórios. O desmame consiste em introduzir gradualmente alimentos na dieta da criança, para além do leite materno. O desmame começa por volta dos 6 meses de idade, quando o leite materno se torna insuficiente para garantir um crescimento normal e saudável da criança. Os alimentos de desmame são introduzidos pouco a pouco, para que a criança consiga retirar energia e nutrientes suficientes a partir da alimentação da família. O processo termina quando a criança atinge 2 ou 3 anos de idade e deixa completamente de ser amamentada.

Aos 6 meses, a maioria dos bebés mostra sinais de estarem prontos a consumir outros alimentos. Têm já um ou dois dentes e começam a mastigar. Mesmo que recebam muito leite materno, parecem ter muita fome e querem os alimentos que a mãe está a comer. Se nesta altura a mãe não começa a dar alimentos de desmame à criança, esta pode parar de ganhar peso e começar a apresentar um défice nas pesagens.

OS ALIMENTOS DE DESMAME

Os bons alimentos de desmame devem ser:

ricos em energia e nutrientes; limpos e sãos; tenros e fáceis de mastigar; fáceis de obter pela família (por exemplo, alimentos da horta); fáceis de preparar.

Utilização dos alimentos de base para o desmame

O primeiro alimento de desmame que o bebé come é, geralmente, um alimento mole ou semi líquido, preparado a partir de um alimento de base feculento (por exemplo, milho, milho miúdo, mandioca ou inhame). Contudo, uma papa simples preparada com farinha de cereal ou de tubérculo (por exemplo, mandioca) e água, não é suficientemente rica em energia e tem falta de proteínas e vitaminas essenciais, tais como a A e a C. É pois importante juntar outros alimentos, nomeadamente leguminosas, ricas em proteínas, tais como feijão-nhemba, feijão ou feijão-congo, assim como uma colher de óleo e/ou de açúcar. Como alternativa ao óleo, podem ser adicionadas leguminosas que sejam ricas em gordura, por exemplo os amendoins ou soja torrados/moídos, ou sementes oleaginosas, como as sementes de gergelim ou de girassol torradas/moídas. Os legumes de folha verde e os frutos ricos em vitaminas e em sais minerais também podem ser adicionados.

Como resolver o problema dos alimentos volumosos

Os alimentos de base como o milho, o milho miúdo, o sorgo, a mandioca e o inhame, são ricos em amido. Isto significa que durante a cozedura absorvem muita água, o que os torna volumosos; assim sendo, é necessário consumir uma grande quantidade para obter suficiente energia e nutrientes. Os adultos podem consumir muita comida numa só refeição, mas as crianças pequenas têm um estômago pequeno e não podem consumir grandes quantidades. Assim, se os alimentos são volumosos, as crianças não recebem suficiente energia e nutrientes.

Felizmente, este problema pode ser resolvido dando às crianças refeições frequentes, preparando alimentos de desmame com farinha de cereais germinados e enriquecendo os alimentos volumosos.

Dar aos bebés refeições frequentes. Uma criança de 6 a 12 meses precisa de cerca de cinco pequenas refeições por dia, para além do leite materno, para conseguir aproveitar suficiente energia e nutrientes dos alimentos volumosos .

Preparar alimentos de desmame com farinha de cereais germinados. O facto de se fazer germinar os cereais antes de os transformar em farinha, modifica a estrutura do amido e permite preparar uma papa que contém duas vezes mais farinha do que uma papa preparada com farinha normal, sem modificar a consistência da papa.

Enriquecer os alimentos volumosos. Um alimento volumoso enriquece-se adicionando um outro alimento rico em energia ou em nutrientes, ou em ambos. Para tornar um alimento de base mais energético, pode acrescentar-se-lhe uma colher de sopa de óleo, de gordura ou de açúcar. Isto aumenta a concentração energética do alimento, sem aumentar o seu volume, nem modificar a sua consistência.

Um alimento para bebés pode ser igualmente enriquecido com um alimento rico em proteínas, como por exemplo a farinha de uma leguminosa (feijão-nhemba, feijão, feijão-bambara ou amendoim), adicionada à farinha de cereal ou de tubérculo utilizada para preparar o alimento. Também pode ser adicionado feijão-nhemba, feijão, frango, carne ou peixe esmagados.

Os alimentos ricos, tanto em energia (gordura ou óleo) como em proteínas, podem ser transformados ou cozinhados e adicionados ao alimento de desmame. Desses alimentos fazem parte o amendoim, a soja, as sementes de gergelim, as sementes de melão, as sementes de girassol ou outras sementes oleaginosas disponíveis localmente.

Para se assegurar de que as crianças recebem suficientes vitaminas A e C, o que aumenta a absorção de ferro, as mães ou outras pessoas que delas se ocupem, devem dar-lhes, todos os dias, alguns dos seguintes alimentos:

folhas verdes escuro, cortadas finamente, esmagadas ou trituradas; legumes de cor alaranjada esmagados, tais como a abóbora ou batata doce; frutos esmagados, tais como a banana, manga ou goiaba; sumo de laranja, de tangerina ou de limão.

Estes alimentos podem ser misturados com a papa enriquecida ou dados separadamente às crianças.

A batata doce de polpa amarela ou alaranjada são particularmente ricas em vitamina A, constituindo uma boa base de preparação de alimentos para bebés e podendo ser enriquecidas com alimentos ricos em proteínas, tais como leguminosas. Além disso, adicionar uma colher de óleo de palma encarnado a uma preparação para crianças, melhora significativamente o seu conteúdo em energia e fornece vitamina A, vital para uma boa visão e para a protecção contra as doenças infecciosas. Uma colher de café de óleo de palma vermelho misturada na papa da criança todos os dias, fornece-lhe suficiente vitamina A para mantê-la de boa saúde.

Processamento de farinhas de cereais ou de leguminosas germinadas

Farinhas de cereais. Nos países africanos, são preparados pelo menos vinte tipos diferentes de farinhas e de produtos à base de cereais germinados e fermentados. As suas utilizações são múltiplas, mas servem nomeadamente para a preparação do prato familiar principal, a preparação de bebidas consumidas como refeições ligeiras, papas para bebés e alimentos destinados aos doentes.

Para germinar os cereais é necessário limpar os grãos completos e depois demolhá-los em água durante um dia. Escorrem-se em seguida os grãos e colocam-se num saco de juta ou noutro recipiente, de seguida cobrem-se com um tecido apropriado que conserve a humidade. Os cereais húmidos são então armazenados num local escuro durante dois ou três dias, até os grãos começarem a germinar. Os grãos germinados secam-se ao sol antes de serem moídos.

Conforme o uso, a moagem dos cereais é feita antes ou depois da fermentação. Quando é feita depois, deixam-se os grãos demolhados durante um ou dois dias antes de os moer e de os deixar fermentar. Qualquer que seja o método utilizado, as vantagens da farinha fermentada são numerosas. A papa preparada com a farinha fermentada é mais rica no plano nutricional, sem que o seu volume aumente, e é também mais fácil de digerir. O ferro contido nos cereais é melhor absorvido depois da fermentação. Por outro lado, o ácido lácteo (substância ácida produzida durante a fermentação) presente nas farinhas fermentadas evita a multiplicação rápida dos germes patogénicos, o que torna a papa feita de farinha fermentada muito mais saudável para consumir e mais concentrada em nutrientes do que uma papa preparada com uma farinha de cereais não fermentados ou não germinados.

Seguem-se «receitas» que indicam como preparar farinhas de cereais germinados e fermentados.

Farinha de cereais germinados (milho, milho- miúdo ou sorgo)

1. Escolher os grãos. 2. Demolhá-los em água durante um dia. 3. Escorrer os grãos e colocá-los num saco de juta ou outro tecido apropriado. 4. Deixar os grãos num lugar escuro e quente, durante dois ou três dias, até germinarem. 5. Secar ao sol os grãos germinados. 6. Moer os grãos e peneirar a farinha.

Farinha de cereais fermentados (só a título de exemplo porque há muitas variantes)

1. Moer o milho, o milho-miúdo ou o sorgo. 2. Deixar esta mistura de molho em água (cerca de três chávenas de farinha para sete de água). 3. Deixar a mistura fermentar durante 2 ou 3 dias. 4. Cozer a papa.

Farinhas de leguminosas. As farinhas de leguminosas são muito úteis para enriquecer as farinhas de cereais, de raízes ou de tubérculos, utilizadas na preparação de alimentos para bebés. Para preparar estas farinhas é necessário limpar os grãos, eliminando os que estão estragados, assim como as impurezas. Os grãos são então torrados, triturados ou moídos. A farinha é peneirada para retirar algumas partículas grandes que tenham ficado. As «receitas», que a seguir se apresentam, mostram as etapas da transformação da farinha de feijão-nhemba , de soja e de feijão-congo.

Farinha de feijão-nhemba

1. Escolher e lavar o feijão-nhemba. 2. Torrar o feijão. 3. Descascá-lo (facultativo). 4. Triturá-lo ou moê-lo. 5. Peneirar a farinha.

Farinha de feijão-congo

1. Escolher e lavar o feijão-congo. 2. Demolhá-lo em água durante 2 ou 3 minutos. Escorrer. 3. Cobrir com folhas de bananeira e deixar assim durante 6 dias. 4. Torrar. 5. Moer ou triturar até obter uma farinha. 6. Peneirar a farinha.

Farinha de soja.

1. Escolher o feijão de soja; não o lave. 2. Pôr água a ferver. 3. Deitar os feijões na água a ferver e deixar cozer durante 10 minutos. Escorrer. 4. Torrá-los. 5. Pelá-los. 6. Torrá-los de novo. 7. Moer ou triturar. 8. Peneirar a farinha.

Seguem-se exemplos de receitas para preparar alimentos de desmame. As três primeiras foram criadas pelo Programa não-governamental para a investigação e desenvolvimento dos recursos naturais do Quénia.

Papa de milho-miúdo e de feijão (para 4 pessoas) Ingredientes

Folhas de feijão-nhemba 1 chávena de farinha de feijão-congo

3 chávenas de farinha de milho-miúdo 4 chávenas de água fria

10-12 chávenas de água quente 1 pitada de sal

1. Escolher as folhas de feijão-nhemba, deixá-las ferver durante 5 minutos, depois secá-las e triturá-las. Ponha de lado.

2. Misturar a farinha de feijão-congo com a farinha de milho-miúdo.

3. Juntar água fria e mexer até obter uma pasta homogénea.

4. Juntar a água quente à pasta. Cozer a mistura durante 10 minutos, mexendo constantemente.

5. Juntar uma colher de sopa de folhas secas de feijão-nhemba e deixar cozer por mais 2 ou 3 minutos.

6. Adicionar sal a gosto.

Mululu, abóbora e raiz de matabala

Ingredientes

Uma mão cheia de folhas Mululu

½ raiz de mandioca ou de matabala, descascada e cortada em bocados ¼ de uma abóbora pequena, cortada em bocados

½ chávena de leite (facultativo)

1. Escolher as folhas.

2. Cozer a mandioca ou a matabala.

3. A meio da cozedura, juntar as folhas e a abóbora. Continuar a cozedura até ficar bem macio.4. Esmagar e servir com leite.

Folhas de juta com puré de batata-doce

Ingredientes

1 batata-doce pequena 1 ovo

Uma mão cheia de folhas de juta ½ colher de sopa de óleo vegetal

1 pitada de sal

1. Lavar a batata-doce e cozê-la até ficar macia.

2. Cozer o ovo durante 4 ou 5 minutos, deixar arrefecer e descascar.

3. Lavar e cozer as folhas de juta.

4. Descascar a batata-doce cozida.

5. Misturar os ingredientes e juntar o óleo vegetal.

6. Adicionar sal e esmagar.

Mistura do Zimbabwe

Ingredientes

½ chávena de farinha de milho 2 colheres de sopa de farinha de feijão

Água 1 colher de café de espinafres picados finamente

½ colher de sopa de óleo vegetal Sal

1. Misturar a farinha de milho e a farinha de feijão com a água, deixar cozer durante 20 a 30 minutos.

2. Juntar os espinafres e o óleo vegetal, deixar cozer mais 2 minutos.

3. Juntar sal a gosto.

FICHA DE INFORMAÇÃO 6: MANEIO DO SOLO

Os solos são formados a partir da decomposição das camadas rochosas. Em função do tipo de rocha, formaram-se diferentes solos ao longo dos séculos, ou estão ainda em vias de formação. A estrutura e as características dos solos, assim como a sua capacidade de assegurar o crescimento das plantas, variam segundo as dimensões das partículas de solo e a composição de matérias orgânicas e minerais.

TIPOS COMUNS DE SOLOS

Alguns solos são mais férteis do que outros. As bacias dos rios e os solos de origem vulcânica são férteis de forma natural. Alguns solos podem ser ácidos. O Quadro 1 descreve os tipos de solos geralmente encontrados em África, as suas características, os melhoramentos possíveis e alguns dos aspectos da sua valorização.

QUADRO 1 Tipos comuns de solos e modos de os melhorar

Tipo de solo Características Métodos de melhoramento

Arenoso · Estrutura pobre · Fertilidade pobre · Não retém a água

· Juntar regularmente matérias orgânicas e fertilizantes · Utilizar adubo verde · Juntar solo das térmitas · Praticar o mínimo de lavoura

Limoso (Lamacento) · Estrutura pobre · Juntar matéria orgânica grosseiras

Argiloso · Endurece secando · Retém demasiada água

· Juntar matérias orgânicas, composto e gesso*

Subsolo ácido · A camada de subsolo é tóxica para algumas plantas

· Cultivar plantas com raízes pouco profundas (legumes) · Aplicar calcário em pó (depois dos resultados da análise do solo) e estrume

Areno-limoso · Mistura de areia, sedimento e argila

· Manter a fertilidade do solo, aplicando periodicamente fertilizante e composto

* Se o solo for mantido em boas condições, isto é, protegido e «alimentado» com os nutrientes de que as plantas necessitam, a horta pode ser cultivada durante todo o ano e por muitos anos.

A EROSÃO DO SOLO

A primeira etapa na conservação do solo consiste em impedir a sua perda devida à erosão. A camada arável é particularmente vulnerável à erosão se não for protegida por plantas ou por folhagem seca de protecção ou por outras medidas. Depois da perda da camada arável, o solo é geralmente menos produtivo, o que resulta num rendimento fraco das culturas da horta. O desafio consiste, pois, em proteger o solo das hortas, utilizando-o para a produção alimentar e para outras actividades não alimentares.

A erosão do solo é causada principalmente pelo vento e pela água, mas também por práticas de cultivo incorrectas. A chuva e o vento arrancam as partículas do solo, levando-as para longe. Quando o solo está descoberto ou quando a vegetação é pobre, a água da chuva escorre, em vez de penetrar no solo, levando consigo a frágil camada arável. Um solo em declive e um solo leve, contendo pouca matéria orgânica, são ambos propensos à erosão. Uma vez erosionado o solo está definitivamente perdido.

A erosão do solo é um problema em regiões com pouca vegetação, particularmente nas zonas áridas e semi-áridas de África. Nas zonas tropicais húmidas, a erosão não era considerada um problema quando a terra estava no seu estado natural, porque uma vegetação natural variada cobria o solo permanentemente. A situação agora é diferente, desde que se começaram a limpar vastas extensões de terra para fins agrícolas. As chuvas fortes associadas a uma má gestão do solo nas áreas cultivadas são agora as causas comuns da erosão do solo nas regiões húmidas.

FIGURA 1 Plantas de tamanhos diferentes protegem o solo

Erosão hídrica

Há três formas correntes de erosão hídrica:

Erosão por camadas: uma camada fina superior do solo é removida da camada mãe, pelo impacto da chuva. Com a erosão por camadas, os materiais soltos do solo (por exemplo a erva) acumulam-se entre finas linhas de areia depois de uma chuva torrencial. Esta erosão afecta toda a horta ou todo o campo.

Erosão em sulcos: ou regueiras: as águas correm em pequenas depressões à superfície da terra e cavam pequenos canais no solo. A erosão faz-se ao longo destes canais.

Erosão em ravinas: uma ravina forma-se ao longo de uma depressão natural à superfície do solo ou em declives. A ravina avança ao longo da encosta na direcção oposta à do escoamento da água. As ravinas são a marca de uma forte erosão.

Erosão eólica

A erosão eólica produz-se sobretudo em solos leves e em terras desnudadas. Os ventos violentos causam grandes danos. A erosão eólica é um problema comum nas regiões secas e semi-áridas, assim como nas regiões que sofrem chuvas sazonais.

Contrariamente à água, que só causa erosão em encostas, o vento pode arrancar tanto o solo dos terrenos planos como dos terrenos de encosta. Também pode transportar as partículas de solo através da atmosfera e depositá-las muito longe. Os solos vulneráveis à erosão do vento são secos, soltos, leves, com pouca ou nenhuma cobertura vegetal.

Lavrar no sentido da subida ou da descida de uma encosta pode também favorecer a erosão do solo. Para impedir a perda de solo da horta, devem ser tomadas algumas medidas. Elas incluem:

limpar apenas a terra a cultivar; plantar segundo as curvas de nível[7] e utilizar canais cobertos de erva; instalar quebra ventos e terraços aplainados; lavrar ao longo das curvas de nível; plantar culturas de cobertura e usar folhagem seca de protecção para cobrir o solo.

Quando se limpa a terra para a cultivar, devem-se ponderar os efeitos benéficos de certas árvores e plantas. Convém deixar algumas árvores, visto que estas podem fornecer alimentos, medicamentos, sombra ou matéria orgânica, graças à decomposição das suas folhas. É dada informação de como fazer curvas de nível na Rubrica Tecnológica de Horticultura 7 " A luta contra a erosão, e conservação dos solos".

O ENRIQUECIMENTO DO SOLO

Um dos principais objectivos a alcançar no desenvolvimento de uma horta é tornar o solo fértil e bem estruturado, de modo a que uma grande variedade de culturas úteis possa crescer e ter uma boa produção. Para crescer, as plantas necessitam de nutrientes que estão presentes nas matéria orgânica, como o azoto, o cálcio e o fósforo, assim como os sais minerais e os oligo-elementos.

Se o solo tiver uma fertilidade natural ou estrutura fracas, tem de ser continuamente «alimentado» com matérias orgânicas, tais como as folhas e o estrume, a fim de melhorar a sua produtividade e a sua capacidade de retenção de água. À medida que as matérias orgânicas se decompõem, constituem alimento para as plantas. Também melhoram a estrutura do solo ao amolecerem a argila pesada e ao ligarem o solo arenoso.

Enriquecer o solo com matéria orgânica é particularmente importante nos primeiros anos do desenvolvimento da horta. A matéria orgânica (por exemplo, os restos de plantas e de animais) podem ser recolhidas e enterradas no solo, onde se vai decompor. Também se pode utilizar a matéria orgânica para fazer composto, que poderá ser aplicado no solo para o tornar mais fértil.

As raízes das leguminosas contêm bactérias que fixam o azoto. Assim, cultivar leguminosas em associação ou em rotação com outras culturas ajuda a manter ou a melhorar o conteúdo do solo em azoto, favorecendo o crescimento de outras plantas.

As plantas saudáveis dão melhores rendimentos e estão melhor protegidas contra os insectos e contra as doenças. A aplicação de matérias orgânicas, tais como o composto, o estrume animal, o adubo verde e o solo das térmitas, melhora a estrutura do solo e adiciona-lhe nutrientes.

CONSERVAÇÃO DO SOLO A LONGO PRAZO

A maneira ideal de proteger e alimentar o solo consiste em aplicar regularmente matérias orgânicas ou composto, e manter uma cobertura vegetal. O sistema da cultura em diferentes níveis, em que se cultivam em conjunto árvores e plantas com diferentes tempos de maturação, permite proteger o solo e reciclar os elementos nutritivos. As leguminosas, tal como o feijão-nhemba, o amendoim e o feijão, são particularmente úteis, porque fornecem permanentemente elementos nutritivos às culturas da horta.

Outras informações sobre a conservação do solo destinadas aos horticultores, estão incluídas nas Rubricas Tecnológicas de Horticultura 5, " Melhoramento do solo", 6, "Técnicas especiais para melhorar a gestão do solo e da água", 7, "A luta contra a erosão e a conservação do solos", 8, "A utilização das terras em declive", e 9, "Plantas de cobertura".

[7] Uma curva de nível é uma linha horizontal traçada através da encosta, juntando todos os pontos de uma mesma latitude.

FICHA DE INFORMAÇÃO 7: NUTRIENTES DAS PLANTAS: PAPEL E FONTES

O azoto é importante para o crescimento dos caules e das folhas das plantas da horta. Ele também contribui para o desenvolvimento da clorofila (o pigmento verde das plantas). A clorofila é necessária durante a fotossíntese, um processo pelo qual a planta produz hidratos de carbono (amido e açúcares) a partir da água e do dióxido de carbono do ar. As folhas verde-pálido ou amarelas, um crescimento fraco, a queda das folhas e o ataque por organismos nocivos são indicativos de deficiência de azoto nas plantas. A aplicação de adubo verde e de composto pode melhorar o conteúdo do solo em azoto. A farinha de chifres ou de ossos provenientes de animais abatidos, são ricos em azoto e também contêm fósforo. Como tal, podem ser aplicados no solo; no entanto, esta forma natural de fertilizar actua lentamente. As plantas de rícino ripadas (óleo de rícino) constituem uma outra fonte de azoto e de fósforo. São particularmente úteis para as culturas que têm muita necessidade de azoto (por exemplo, as plantas jovens de milho ou de sorgo).

O fósforo actua lentamente e é importante para a formação das raízes, das sementes e dos frutos, assim como para aumentar a resistência da planta à seca. Os sintomas de deficiência em fósforo são um crescimento retardado e um mau desenvolvimento das flores e dos rebentos. O fosfato da rocha, a cinza de madeira, a farinha de ossos de animais e o estrume são boas fontes de fósforo. O estrume das galinhas é também uma boa fonte de fósforo, de azoto e de potássio, mas é muito concentrado e tem de ser transformado em composto ou diluído antes da aplicação.

O potássio contribui para o desenvolvimento das raízes, dos frutos e das sementes, e melhora a conservação das colheitas. Um mau crescimento das plantas e um amadurecimento desigual dos frutos e das sementes, são sintomas de carência de potássio. Para além do estrume de galinha, o composto, a cinza e as folhas de bananeira, melhoram igualmente o conteúdo do solo em potássio.

FICHA DE INFORMAÇÃO 8: O SOLO E AS PLANTAS COMO UM SISTEMA

As plantas e o solo vivem em simbiose, isto é, são interdependentes; deve haver, pois, um bom equilíbrio entre o que eles fornecem e o que recebem. Os elementos nutritivos do solo são absorvidos pelas plantas, sendo depois restituídos ao solo, sob a forma de resíduos de planta, para aí serem reciclados. Quando se retiram do solo os elementos nutritivos e não se substituem totalmente através da aplicação de matérias orgânicas ou minerais, o solo empobrece progressivamente e não é mais capaz de assegurar o crescimento de plantas saudáveis.

Os resíduos de planta devem decompor-se para libertarem os elementos nutritivos. Os microorganismos, os vermes, os fungos e as bactérias que se encontram no solo são responsáveis pela decomposição das matérias orgânicas e pela produção do húmus (a parte fértil do solo). O húmus encontra-se essencialmente na camada arável. A terra do subsolo contém menos matérias orgânicas e é, pois, menos fértil.

Certos elementos nutritivos do solo reagem lentamente e são estáveis (por exemplo, o fósforo). Outros são absorvidos rapidamente e utilizados pelas plantas (por exemplo, o azoto); é pois necessário substituí-los continuamente para manter um bom equilíbrio entre o fornecimento de nutrientes e a sua utilização pelo solo.

A utilização excessiva de fertilizantes químicos é desaconselhável. Os horticultores devem ser estimulados a utilizar aditivos naturais, tais como diferentes tipos de estrume, a fim de manter o equilíbrio natural entre solo e plantas. Os fertilizantes naturais, como o adubo verde, o composto e o estrume animal, fornecem às plantas elementos fertilizantes, melhorando igualmente a estrutura do solo.

A terra deixa-se por vezes de pousio, isto é, não se cultiva para lhe permitir descansar e restaurar a sua fertilidade natural. Contudo, o pousio só é possível se a terra não for um factor limitante. Quando a terra é deixada em pousio, é importante evitar que as ervas daninhas se espalhem por ela. Nesse caso, recomenda-se a utilização de adubo verde ou de plantas de cobertura.

Além disso, recomenda-se também a rotação entre culturas de raízes profundas e as de raízes superficiais, bem como culturas com diferentes necessidades de nutrientes.

FICHA DE INFORMAÇÃO 9: GESTÃO DA ÁGUA

A conservação do solo e a gestão da água estão intimamente relacionadas. Embora as plantas tenham diferentes necessidades de água, nenhuma planta cresce sem uma certa quantidade de água. Contudo, certas plantas desenvolveram uma grande tolerância à seca e, algumas delas, uma grande resistência.

As plantas podem conter até 90 % de água. A água é absorvida principalmente através do sistema radicular da planta, sendo os nutrientes absorvidos ao mesmo tempo. As raízes saudáveis precisam de ar (arejamento) para se desenvolverem, mas um excesso de água no solo impede o ar de penetrar, o que prejudica as raízes da planta. A gestão da água é pois extremamente importante, quer nas regiões com bons recursos hídricos, quer nas regiões onde a água é escassa.

A capacidade de retenção da água é fortemente influenciada pelo tipo de solo. Um solo rico em matérias orgânicas tem um melhor arejamento, uma estrutura melhor e uma melhor capacidade de retenção da água.

Os terrenos pesados e lamacentos são demasiado densos para permitir a penetração do ar e a saída da água, pelo que as raízes não podem respirar e as plantas podem ter problemas de crescimento. Quando um solo deste tipo seca, fica como se fosse cimento, e a água leva muito tempo para o penetrar. Por outro lado, os solos arenosos de estrutura grossa, são demasiado soltos para reter a água. Neste tipo de solos, as raízes da planta não conseguem encontrar água suficiente para crescer no caso de não receberem um abastecimento regular de água. Uma aplicação regular de matérias orgânicas nestes dois tipos de solos, melhorará a sua capacidade de reter e libertar água e ar suficientes.

GESTÃO DA ÁGUA EM REGIÕES DE GRANDE PRECIPITAÇÃO

Nas regiões onde as precipitações são abundantes, ou em terras húmidas, a gestão da água consiste sobretudo em limitar os estragos provocados pelo excesso temporário de água. A drenagem é pois o factor mais importante. Nas terras em declive, os canais de drenagem escavados ao longo das curvas de nível permitem o escoamento da água. O declive não deve exceder 0,4 graus (isto é, uma diferença de altitude de 10 cm em 25 m) para abrandar a corrente da água e evitar a erosão. A água pode ser recolhida na extremidade do canal de drenagem, numa cisterna escavada à mão, a fim de ser utilizada mais tarde.

Uma boa maneira de gerir o excesso de água consiste em plantar, perto de um ponto de água (terras húmidas, margens de um curso de água ou terras inundadas), plantas que podem tolerar maior humidade do solo As plantas menos tolerantes ao excesso de água devem ser plantadas em camalhões ou canteiros sobrelevados. Se forem bem geridas, algumas terras húmidas, conhecidas como dambos na Zâmbia, mapani no Zimbabwe,mbugas na Tanzânia, machongos em Moçambique e marais no Ruanda, podem ser cultivadas durante todo o ano. Deve-se evitar a drenagem excessiva, especialmente em solos orgânicos.

As terras húmidas baixas estão sujeitas a inundações sazonais ou permanentes causadas pelo escoamento das águas de superfície ou pela infiltração das águas subterrâneas que se escoam de um depósito situado sobre uma camada de solo impermeável, em direcção a terras mais baixas. Nestas zonas, as matérias orgânicas decompõem-se lentamente, formando uma camada de solo escura, rica em húmus e muito fértil.

As terras húmidas são importantes porque permitem aos pequenos agricultores produzirem alimentos durante uma boa parte do ano, nomeadamente durante a estação seca. Na África Oriental e Austral e em certas regiões do norte da África Ocidental, as hortas encontram-se principalmente em terras húmidas. Como estas terras podem permanecer húmidas durante uma grande parte do ano, a maioria das culturas cresce em canteiros sobrelevados ou camalhões para reduzir o excesso de água e facilitar a drenagem. Os regos vão impedir o excesso de água de se aproximar das plantas, conduzindo-o para as raízes da planta, como vem ilustrado na Figura 1. Quando o nível da água baixa, esta é canalizada para caldeiras e retirada com recipientes para os camalhões.

Se o nível da água descer mais, as plantas são cultivadas em canteiros planos e, eventualmente, no pico da estação seca, em canteiros abaixo do nível do solo. As plantas podem ser cultivadas em diferentes partes de um camalhão (no alto, nos lados ou no fundo), de acordo com a sua necessidade de água ou a sua tolerância ao excesso de água.

Os canais e valas drenam a água das superfícies inundadas pelas chuvas. As plantas que necessitam de muita água, tais como o arroz, a cana-de-açúcar, a matabala e o cacon, podem crescer nestas terras. Outras plantas, como a mandioca, o inhame e os legumes de folhas, podem ser cultivadas em canteiros sobrelevados. As terras húmidas são frágeis e devem ser utilizadas com muitos cuidados, pois tanto a erosão do solo como uma drenagem excessiva as podem prejudicar.

FIGURA 1 Os camalhões permitem conduzir a água directamente para as raízes das plantas

A GESTÃO DA ÁGUA NUM CLIMA SECO OU DURANTE A ESTAÇÃO SECA

É mais difícil e trabalhoso manter a humidade do solo e recolher a água proveniente de diferentes fontes do que impedir as colheitas de terem excesso. Nas zonas áridas, gerir a água significa utilizar eficazmente os recursos hídricos disponíveis, impedindo o escoamento das águas e reduzindo a evapotranspiração, isto é, a perda de água pela evaporação a partir do solo e das folhas das plantas. Em condições de seca, as plantas devem ser cultivadas de modo a permitir a máxima utilização da humidade disponível. É evidente que é muito importante escolher plantas que resistam à seca e que tenham reduzida necessidade de água. As plantas com raízes profundas, como a beringela africana, podem normalmente suportar melhor a falta de água do que as plantas de raízes superficiais. Uma vez enraizadas, as culturas permanentes, tais como muitas árvores e arbustos, toleram bem condições de baixa disponibilidade de água.

É igualmente importante utilizar da melhor forma possível as águas das chuvas e procurar que as plantas beneficiem da humidade durante o maior tempo possível. Durante a estação das chuvas, os canteiros em caldeira ou em sulcos são muitas vezes utilizados para reter uma quantidade máxima de água e torná-la acessível às plantas, ou para evitar o escoamento das águas de superfície. As microcaldeiras são utilizadas desde há muito tempo; adaptam--se bem às terras inclinadas. Constroem-se colocando um anel ou semicírculo de pedras, de solo ou de outro material, à volta de cada planta, em particular das árvores de fruto.

É importante não fazer barreiras mais altas do que o tronco da planta, a fim de não prejudicar a casca. Deste modo, é possível recolher a água na caldeira a uma certa distância do tronco, como ilustra a Figura 2.

FIGURA 2 Microcaldeira à volta de uma árvore

Se a planta estiver exposta à luz solar e ao calor, a água perde-se por causa da transpiração. Pode-se evitar ou reduzir este inconveniente criando quebra-ventos naturais e sombra. A protecção com folhagem seca também permite reduzir a perda de humidade do solo por evaporação.

As ervas daninhas devem ser arrancadas porque disputam a humidade com as plantas cultivadas. Para reduzir as perdas de rendimento, podem colocar-se junto dos pontos de água as culturas que têm um período de maturação curta. Quando um solo tem um teor elevado de matérias orgânicas fica húmido mais facilmente. O composto e o adubo verde permitem aumentar o teor do solo em matérias orgânicas. A protecção com folhagem seca ajuda a reter a água no solo, evitando que a sua superfície seque ou aqueça demais. A folhagem de protecção de cor clara é particularmente eficaz, uma vez que reflecte a luz do sol e o calor. Para mais detalhes, ver a Rubrica Tecnológica de Horticultura 6, "Técnicas especiais para melhorar a gestão do solo e da água".

MOBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE EM TORNO DE UM PONTO DE ÁGUA

Nas regiões húmidas e semi-húmidas de África, a cultura pluvial é praticada durante cerca de sete meses por ano, e a procura de água de irrigação é relativamente baixa. Além disso, como o nível de água é bastante elevado durante a estação das chuvas, o custo de exploração de um ponto de água para a horticultura é relativamente baixo. A situação é, contudo, muito diferente para as famílias das regiões semi-áridas. É frequente, nestas regiões, que as famílias não tenham acesso a um ponto de água fiável durante todo o ano.

Em tais regiões, a necessidade de um ponto de água fiável torna-se um elemento fortemente mobilizador da comunidade, e essa mobilização pode concretizar-se de diversas maneiras.

Por exemplo, as famílias, consultando os serviços de extensão técnica competentes, governamentais ou não governamentais, podem formar grupos e decidir qual o ponto de água mais apropriado para explorar. As famílias interessadas podem então juntar os seus recursos para instalar um ponto de água colectivo, por exemplo construir uma pequena barragem ou cavar um poço, ou conseguir bombas para transportar a água a partir de uma ribeira próxima.

Os membros da comunidade podem formar um grupo de poupança ou uma associação para obter apoios, provenientes de um fundo de desenvolvimento comunitário ou de um micro-projecto, destinados à compra de bombas de água. Se a qualidade da água puder ser garantida, investir num abastecimento regular de água tem múltiplas vantagens. Para além de fornecer água para a produção alimentar durante todo o ano, isto pode permitir ter água potável em quantidade suficiente e diminuir assim a carga de trabalho das mulheres, reduzindo o tempo que despendem a procurar água longe.

A mobilização da comunidade em torno de uma fonte de água comum, pode ser o ponto de partida para outras actividades de desenvolvimento. Por exemplo, a associação comunitária para a água pode constituir o meio de organizar ou de melhorar a comercialização dos produtos das hortas, no caso de haver excedentes; ou de organizar a compra conjunta de factores de produção (por exemplo, sementes, ferramentas) e outros bens essenciais; ou negociar para obter melhores preços. Depois de terem investido num ponto de água comum, as comunidades devem ter um papel activo na garantia da sua eficácia graças a uma manutenção regular.

FICHA DE INFORMAÇÃO 10: LUTA CONTRA ERVAS DANINHAS E PRAGAS

As ervas daninhas, os insectos nocivos e os animais destruidores reduzem a produção de uma horta e desencorajam o seu horticultor. Uma protecção eficaz das culturas necessita de uma correcta compreensão dos diferentes tipos de pragas e de doenças que atacam as culturas, assim como um conhecimento dos diferentes meios e métodos que permitem eliminá-las. Muitas vezes, o problema desaparece se as plantas seleccionadas se adaptarem à sua localização e se o solo e a água forem bem geridos.

A doença de uma planta é uma situação anormal causada por microorganismos, geralmente demasiado pequenos para serem visíveis a olho nu e que são chamados bactérias, fungos, vírus e nemátodos, estes últimos são vermes minúsculos que atacam as raízes. Outros prejuízos são também causados por pragas, tais como os insectos, os ácaros e os vermes. Certas doenças das plantas propagam-se facilmente. Por exemplo, a mosca branca transmite o vírus do mosaico, que se propaga das plantas de mandioca doentes para as plantas saudáveis.

Certas plantas parasitas, como a striga ou pequeno feiticeiro e a Orobanca/erva-toira, são consideradas como nocivas porque causam grandes perdas na colheita.

AS ERVAS DANINHAS

Em muitas hortas, as ervas daninhas representam um grande problema para as plantas alimentares. Estas ervas disputam com as culturas alimentares os elementos nutritivos, a água, os raios solares e o espaço. As culturas invadidas por ervas daninhas crescem mal e por vezes morrem. Quando são muito densas, as ervas daninhas podem abrigar serpentes, ratos ou pragas. O problema ganha ainda mais importancia nas hortas onde não há árvores adultas. Se as ervas daninhas não forem bem controladas desde o início, podem necessitar de mão-de-obra que poderia ter sido melhor utilizada no cultivo de plantas úteis.

A erva representa por vezes também um sério problema pelo facto de poder invadir rapidamente uma horta. Pode, por outro lado, servir igualmente para proteger a horta da erosão do solo e produzir material de protecção com folhagem seca, para produzir composto ou ainda para fornecer colmo para os telhados.

FIGURA 1 As plantas rastejantes que crescem rapidamente ajudam a reduzir o crescimento das ervas daninhas

FIGURA 2 As culturas em diferentes níveis impedem as ervas daninhas de receber sol suficiente

Como lutar contra as ervas daninhas

O melhor meio de lutar contra as ervas daninhas é privá-las de luz solar e de espaço. As três técnicas mencionadas a seguir ensinam o modo de o fazer:

cortar ou enterrar as ervas daninhas com a ajuda de um sacho ou de uma foice antes de as suas flores libertarem as sementes;

cobrir o solo com 6 cm de folhagem seca (mulch) de protecção (as ervas daninhas cortadas com o sacho ou a foice podem ser utilizadas como material de protecção);

cultivar plantas rastejantes de crescimento rápido para cobrir o solo (por exemplo, culturas de cobertura como a abóbora, o feijão-nhemba ou a batata-doce).

Para lutar de forma mais duradoura contra as ervas daninhas, é necessário cultivar plantas que cubram o solo permanentemente. O sistema das culturas em diferentes níveis, no qual plantas de diferentes tamanhos crescem em conjunto, constitui o meio mais eficaz.

PRAGAS E DOENÇAS

Os estragos causados por pragas e doenças são por vezes sazonais, e é durante a estação das chuvas que eles são mais graves. Para saber quando e onde as pragas são susceptíveis de colocar problemas é importante estudar os seus hábitos e o seu ciclo de vida. Um bom horticultor deve ter tanto conhecimentos sobre os inimigos das culturas como sobre as próprias culturas.

Os insectos nocivos. Podemos vê-los muitas vezes sobre as plantas, sobre solo ou mesmo no seu interior. Na maior parte das vezes estragam as plantas ao comerem as folhas, as raízes, os rebentos e os frutos, ou sugando a seiva das folhas, dos caules e dos frutos. Porém, nem todos os insectos são nocivos. As abelhas facilitam a polinização das flores. Outros insectos, predadores, alimentam-se dos insectos nocivos, reduzindo assim o seu número.

Os fungos. Os fungos atacam todas as partes da planta. Os sintomas de uma doença fúngica são o aparecimento de uma espécie de pó na parte superior ou na parte inferior das folhas, manchas nas folhas, nos frutos e nos caules e o definhamento da planta quando as raízes são afectadas. Os fungos podem ser disseminados pela chuva ou o vento, ou podem ser transmitidos pelos utensílios de horticultura das plantas doentes para as plantas saudáveis.

As bactérias e os vírus. Raramente os podemos observar a olho nu. As bactérias e os vírus podem causar o apodrecimento das raízes, deformações e aparecimento de gotas de exsudação nas folhas e nos caules ou ainda uma mudança de cor das folhas e dos caules. Certos sintomas são semelhantes àqueles que são provocados pelos fungos. As bactérias e os vírus propagam-se através da água e do solo, bem como através de material de plantação contaminado. Contrariamente ao apodrecimento causado pelos fungos, o apodrecimento devido às bactérias é geralmente caracterizado por mau cheiro.

Os nemátodes são pragas nocivas provenientes do solo, que atacam as raízes da planta, causando assim um crescimento anormal das raízes e um retardamento do crescimento de toda a planta. As plantas afectadas apresentam geralmente nós e erupções nas raízes.

Como prevenir e fazer a gestão dos problemas de pragas e doenças

As plantas menos resistentes sofrem mais com os ataques dos insectos e doenças do que as plantas saudáveis. Uma boa gestão das culturas, que tenha em conta as questões da água, do solo e das ervas daninhas, permite reduzir os prejuízos causados pelos insectos e pelas doenças. Para impedir o aparecimento de pragas e de doenças nas hortas, ou para as eliminar, os horticultores devem seguir os conselhos que se seguem.

Escolher as culturas em função da estação do ano e da sua localização. Se uma cultura alimentar tem necessidade de sol e deve ser plantada no princípio da estação seca, o horticultor deverá proceder de modo a que ela seja plantada nessas condições. Uma planta cultivada durante a estação errada ou no lugar inadequado será mais vulnerável.

Seleccionar plantas bem adaptadas ao clima da região. As plantas provenientes de outras regiões podem não crescer bem num clima que lhes seja estranho. Por exemplo, a mangueira tem uma boa produção em regiões quentes e de baixa altitude, onde a estação seca coincide com a floração e a frutificação, mas se ela for cultivada numa região que é húmida durante todo o ano, os insectos e as doenças estragarão as suas flores e a colheita de frutos será escassa.

Fazer regularmente a rotação das culturas. É necessário fazer a rotação dos legumes plantando-os a alguns metros da sua localização anterior, e plantar nessa última uma cultura diferente (por exemplo, plantar leguminosas no lugar onde existia anteriormente amaranto). Este método permite evitar que as doenças se desenvolvam no solo.

Retirar as folhas e outras partes doentes da planta. O facto de se reduzir a quantidade de matéria que pode servir de alimento aos insectos e aos germes da doença permite retardar a sua propagação.

Espalhar cinzas. A cinza de lenha espalhada na base das plantas jovens, e do mesmo modo, mas em pouca quantidade, sobre os novos rebentos, afasta os insectos e impede os fungos de se desenvolverem.

Cultivar plantas conhecidas pela sua capacidade de repelir certos insectos.Amalagueta, o chá-príncipe, o manjericão ou as maravilhas libertam um odor forte que repele certos insectos.

Utilizar soluções insecticidas de preparação caseira contra pragas. As soluções à base de sementes ou folhas de neem, de tabaco, de malagueta ou de água e sabão repelem os insectos roedores e de sucção.

Existem muitos pesticidas sintéticos que podem ser muito eficazes para lutar contra pragas e doenças. Contudo, o seu uso é pouco aconselhavel numa horta africana. Devido ao grande número de plantas cultivadas simultaneamente, os produtos químicos utilizados para lutar contra pragas de uma determinada planta podem facilmente prejudicar uma outra planta. A falta de dinheiro para comprar pesticidas e a falta de conhecimentos ou de experiência na sua utilização - muitos são nocivos para a saúde humana se forem mal aplicados - constituem boas razões para encorajar as boas práticas agrícolas, os métodos naturais de luta e a utilização de pesticidas naturais. Quando se utilizam os pesticidas químicos, é necessário aplicá-los de forma reflectida e com extrema prudência.

A Rubrica Tecnológica de Hortícultura 10, «Protecção segura e eficaz das culturas», fornece informações práticas sobre o modo de lutar contra pragas e doenças utilizando pesticidas naturais, bem como as directivas sobre a utilização segura dos pesticidas químicos em caso de necessidade.

ESTRAGOS CAUSADOS PELOS ANIMAIS

As galinhas andam frequentemente à solta nas hortas. Embora elas destruam certos insectos e fertilizem o solo com os seus dejectos, podem igualmente causar estragos quando, na sua procura de alimento, atacam e estragam seriamente as plantas. Outros animais domésticos, como os bovinos, as ovelhas, os porcos e as cabras, podem igualmente constituir uma ameaça para as hortas. As cabras e os porcos vagueiam algumas vezes à volta das aldeias e alimentam-se de numerosos tipos de plantas. Os estragos causados pelos animais desencorajam a tal ponto os horticultores, que eles chegam por vezes a abandonar a horticultura.

FIGURA 3 Galinha a debicar um rebento de bananeira

Quando os porcos selvagens não são caçados, escapam muitas vezes aos agricultores e atravessam as vedações que não são suficientemente seguras; contudo, as sebes vivas podem impedi-los de entrar. Os métodos bons de impedir os animais de entrarem na horta e de proteger as plantas são os seguintes:

plantar uma vedação cerrada de ananás e de Gliricidia, para afastar os porcos selvagens; plantar mandioca ou colocar estacas à volta da base das plantas para impedir as galinhas de escavarem as

raízes ou debicarem a própria planta; construir uma vedação com materiais locais apropriados; manter os animais domésticos num local apropriado.

FIGURA 4 Porco selvagem a comer mandioca

Informações complementares sobre a luta contra ervas daninhas e pragas serão dadas nos Rubricas Tecnológicas de Horticultura 9, "Plantas de cobertura", 11, "Sebes vivas" e 13, "Cultura em diferentes níveis".

FICHA DE INFORMAÇÃO 11: MANEIO DA CULTURA

Existem numerosos métodos de cultivo adequados para as hortas. Em cada método, o horticultor deve controlar as diferentes partes do sistema (solo, água, ervas daninhas e culturas), para que cada cultura da horta dê, e continue a dar, um rendimento tão elevado quanto possível. Isto significa que o horticultor deve ter em consideração a produção futura da horta. As Fichas de Informação 6, 9 e 10 descrevem alguns problemas que se encontram com frequência na horticultura e os meios de os evitar. A presente ficha de informação analisa os principais factores a considerar quando se escolhe o sistema do cultivo da horta. Para mais pormenores, ler as rubricas tecnológicas de horticultura apropriadas ou os documentos de divulgação agrícola disponíveis localmente.

ASPECTOS IMPORTANTES DAS PRÁTICAS DE CULTIVO

O acompanhamento da cultura depende de uma boa gestão do solo e da água porque estes dois factores criam as condições ideais para o desenvolvimento das culturas. O acompanhamento da cultura começa pelapreparação da terra, seguida da plantação ou da sementeira. Certas culturas, como a do feijão-nhemba, a da abóbora ou do milho, crescem bem se as sementes forem semeadas directamente na horta. Para outras, como as do tomate, a cebola e couves , é preferível semeá-las primeiro num viveiro e transplantá-las depois; enfim, culturas como a da batata-doce ou da mandioca são plantadas a partir de material vegetativo.

Antes de semear ou de transplantar as plantas jovens ou as podas, é preciso preparar a terra. O solo deve ser removido pelo menos numa profundidade de 20 cm. As ferramentas adequadas a esta operação existem na maior parte das comunidades rurais e são muitas vezes fabricadas pelo ferreiro local. As ferramentas aperfeiçoadas, que reduzem o trabalho graças à utilização da energia mecânica ou de outra forma de energia que não seja o trabalho manual, também existem, mas são muitas vezes inacessíveis à maioria dos horticultores familiares.

O solo é preparado em canteiros de cultura, sulcos, camalhões ou outras formas de preparação, segundo a pluviosidade, o tipo de solo e a respectiva capacidade de reter a água, assim como o tipo de cultura a praticar. Quando uma planta é transplantada de um viveiro para um outro lugar onde irá permanecer, é preciso perturbar o menos possível o seu sistema radicular. As plantas devem ser arrancadas com uma boa quantidade de terra agarrada; se a raízes estiverem a descoberto, é necessário envolvê-las com terra molhada (lama). O melhor momento para fazer a transplantação é o fim da tarde, de forma a evitar a luz directa do sol, que pode afectar as raízes. Podemos criar momentaneamente sombra para reduzir os estragos causados pelo sol, em particular nos climas muito quentes. É preciso regar sempre depois da sementeira ou da transplantação.

Uma vez semeadas ou transplantadas, as plantas precisam de cuidados. Algumas delas devem ser amparadas com tutores. É preciso mondar as ervas daninhas, tendo o cuidado de não afectar as raízes ou outras partes da planta durante a monda. O solo deve ser trabalhado e a sua estrutura mantida aberta, para que o ar e a água possam penetrá-lo. As plantas indesejáveis devem ser retiradas ao mesmo tempo que as ervas daninhas. É necessário enriquecer o solo com elementos fertilizantes e lutar contra os inimigos das culturas. Enfim, é necessário observar cuidadosamente o desenvolvimento da planta e acompanhar os seus progressos.

A maturidade da planta varia em função da parte a utilizar. As folhas verdes e os rebentos são colhidos quando ainda são tenros, enquanto os frutos e as sementes precisam de estar inteiramente desenvolvidos. Como as culturas não amadurecem sempre de modo uniforme, podem ser necessárias várias colheitas consecutivas. Certas plantas não dão novas flores ou novos frutos se os frutos maduros não forem colhidos. Isto deve-se à presença de inibidores de crescimento, típicos de certas plantas, como o pimenteiro e o abacateiro.

Embora muito importante, a manutenção pós-colheita é muitas vezes a etapa mais negligenciada na gestão da colheita. Más manipulações depois da colheita conduzem a perdas, que poderiam muitas vezes ser diminuídas ou evitadas. Quando os produtos estão maduros, devem ser consumidos, transformados ou vendidos.

Depois de serem colhidos, um certo número de produtos da horta precisam de ser tratados, por exemplo proceder a uma secagem. Esta reduz as perdas durante a armazenagem. Os produtos que devem ser secos são essencialmente as raízes, os tubérculos e os bolbos (por exemplo, cebola, batata-doce, batata, mandioca, matabala e inhame). Algumas famílias podem também secar as abóboras.

Os membros da família devem colher os produtos com cuidado para evitar que se danifiquem. Para secar os produtos colhidos, é necessário espalhá-los sobre uma superfície seca e plana, num ambiente quente (de 30º a 32º C) e húmido (de 80 a 90 % de humidade), e deixá-los secar entre 4 a 7 dias. A protecção exterior do bolbo ou do tubérculo seca ou endurece, e os cortes ou golpes cicatrizam. Embora o processo de secagem ao sol seja muito rápido, é melhor proteger os tubérculos cobrindo-os com folhas grandes. As cebolas ou a mandioca secas devem ser armazenadas num lugar fresco, seco e bem ventilado. É aconselhável verificar regularmente as condições de armazenagem dos produtos e retirar imediatamente todos os que apresentem sinais de deterioração (ver igualmente a Rubrica Tecnológica de Horticultura 18, «Transformação, conservação e armazenagem»).

PARA CULTIVAR A TERRA SÃO NECESSÁRIOS CONHECIMENTOS E EXPERIÊNCIA

Explorar bem uma horta não é uma tarefa simples. As plantas, os animais e os insectos comportam-se de formas diferentes segundo as estações do ano e causam por vezes problemas quando o horticultor menos espera. Este deve conhecer bem o clima e as condições do meio para desenvolver com sucesso a sua horta. Uma pessoa que nunca explorou uma horta ou um campo agrícola deve atribuir grande prioridade à sua formação.

A primeira qualidade exigida é a observação. O horticultor deve circular cada dia pela sua horta, examinando as plantas e os insectos que ali se encontram. As mudanças no crescimento das plantas, tais como o aparecimento de novos rebentos, de flores ou de frutos, exigem muitas vezes que o horticultor proteja as plantas contra pragas, ervas daninhas, ou o excesso de sol ou de chuva. O horticultor aprende, pela observação e a experiência, o que se passa na planta durante o seu crescimento e em que momento essas mudanças se produzem. Um dos melhores meios de aprender é o de observar como os horticultores experientes trabalham e desenvolvem as suas hortas.

A segunda qualidade necessária é a planificação, com a ajuda dos conhecimentos adquiridos através da observação das plantas na horta. Todas as plantas alimentares precisam de tempo para crescer e desenvolver-se antes de estarem prontas para a colheita. Graças à observação e à experiência, um bom horticultor sabe qual é a duração do crescimento de uma planta e quando é que uma planta ou um fruto estão prestes a ser colhidos. Pode então planear com antecedência o que deverá fazer depois da colheita e determinar quais serão os tipos de culturas a praticar em seguida. Deste modo, o horticultor assegura-se de que a terra e os recursos da família são sempre utilizados para produzir géneros alimentares.

Alguns métodos de exploração agrícola ou sistemas de cultura são mais fáceis de utilizar do que outros. Alguns sistemas de cultura são mais populares para grupos com certas tradições culturais do que para outros. Enfim, certos sistemas de cultura convêm mais do que outros a um tipo particular de clima ou de situação. A título de exemplo, as microcaldeiras deveriam ser utilizadas para a plantação de árvores nas regiões secas (ver a Ficha de Informação 9, "Gestão da água"). Informações detalhadas sobre métodos de cultura adequados à horticultura são dadas nas Rubricas Tecnológicas de Horticultura 12, "Cultura múltipla", 13, "Cultura em diferentes níveis", e 15, "Parcelas de cultura intensiva de legumes".

FICHA DE INFORMAÇÃO 12: ALARGAR A BASE DAS FONTES ALIMENTARES ATRAVÉS DAS PLANTAS LOCAIS

As plantas locais são plantas que evoluíram de forma natural numa dada região. Existem igualmente plantas que foram introduzidas, mas adaptaram-se tão bem que as consideramos como locais e são designadas como autóctones. O termo tradicional é muitas vezes utilizado para estas plantas; ele indica que são utilizadas há muito tempo numa dada região.

O que é importante não é tanto a terminologia, mas o facto de que muitas destas plantas se tornaram parte integrante do sistema alimentar local. É impossível fazer uma lista exaustiva das plantas alimentares de África, pois a maior parte das comunidades desenvolveram as suas próprias preferências e hábitos alimentares. Existem duas grandes categorias de plantas alimentares: aquelas que são consumidas como alimentos de base tradicionais, tais como a mandioca, o inhame, a banana-pão, a batata-doce, a mapira (sorgo) e meixoeira (milho-miúdo), e aquelas que servem de ingredientes dos pratos de acompanhamento e dos molhos, nomeadamente numerosos frutos, legumes, leguminosas e sementes oleaginosas.

A maior parte dos legumes de folhas de África, tais como o amarantos, o feijão-nhemba, a abóbora e a batata-doce, são considerados como plantas alimentares locais tradicionais. Algumas destas plantas são produtos de colheita ancestrais; quando se tornou difícil colhê-las, as comunidades rurais começaram a cultivá-las. Outras plantas permanecem ainda no estado semi-selvagem, isto é, os horticultores não fazem nenhum esforço particular para as cultivar, mas se elas crescerem espontaneamente no início da estação das chuvas, deixam-nas crescer entre as plantas cultivadas e consomem-nas quando atingem a maturidade.

As plantas alimentares tradicionais têm numerosas vantagens, sobretudo em termos de segurança alimentar das famílias. Para além de alargarem a base dos recursos alimentares, elas aumentam o nível da oferta e diversificam a dieta. São igualmente benéficas por razões ecológicas, pois aumentam a produtividade das culturas, conservam o solo e melhoram a sua fertilidade. Muitas plantas tradicionais, tais como a abóbora, a batata-doce e o feijão são cultivadas em conssociação com o milho ou outras culturas cerealíferas, para servirem de barreira ecológica às doenças. Quando se utilizam as hortícolas tradicionais como culturas de cobertura, eles ajudam a evitar a erosão do solo, a reduzir a evaporação e, ainda, a impedir o crescimento das ervas daninhas. Cultivadas como adubo verde e enterradas na terra quando esta é lavrada, as plantas tradicionais aumentam a matéria orgânica do solo e melhoram a sua estrutura. As leguminosas fixam também o azoto atmosférico, enriquecendo assim o solo para as culturas seguintes ou para as plantas circundantes.

As plantas alimentares tradicionais estão bem adaptadas aos lugares onde são cultivadas, e o papel que desempenham para o equilíbrio nutricional das comunidades locais é muito importante. De acordo com a sua natureza, as culturas alimentares são importante fonte de proteínas, de vitaminas A e C, de cálcio e de muitos outros micronutrientes. Em África, estima-se que 80 % da vitamina A e mais de 2/3 da vitamina C, são fornecidos pelas plantas alimentares tradicionais, nomeadamente os legumes de folhas verdes. Os frutos secos e as sementes oleaginosas são igualmente boas fontes de proteínas e de energia, sendo ainda preciosos suplementos à dieta das crianças e muito úteis na preparação de refeições ligeiras. Ver igualmente as Fichas de Informação 3, "Receitas para a confecção de pratos nutritivos", 4, "Refeições ligeiras, nutritivas e saborosas para crianças pequenas", e 5, "Processamento e preparação caseira de alimentos de desmame", assim como as Rubricas Tecnológicas de Horticultura 2, "Cultivar para a alimentação diária" 3, "Garantir diariamente uma boa alimentação à família", 4, "Praticar culturas para um abastecimento alimentar em continuidade", e 18, "Transformação, conservação e armazenagem".

Quando a variedade dos recursos alimentares diminui, nas comunidades que vivem com insegurança alimentar, observam-se sérias consequências nutricionais, uma vez que, obviamente, se reduz o consumo de certos sais minerais, vitaminas e oligo-elementos. Infelizmente, a produção e a utilização das plantas alimentares tradicionais está em declínio, e a diversidade da dieta nas comunidades rurais e urbanas vai-se reduzindo progressivamente. Várias razões explicam esta situação. Um número considerável de legumes e de outras plantas alimentares, introduzidos, têm um elevado rendimento e tornaram-se populares porque é fácil produzi-los e processá-los ou ainda devido ao prestígio atribuído ao seu consumo. As plantas introduzidas são igualmente consideradas como prioritárias nos programas de selecção vegetal e entre os produtores comerciais de sementes, e o seu valor comercial é por vezes elevado. As espécies locais não receberam a mesma atenção, ainda que a sua adaptabilidade, o seu valor nutritivo e o seu lugar na dieta tradicional justificassem uma tal atenção. Embora os utilizadores e os promotores das plantas alimentares locais estejam conscientes desta situação, muito está por fazer para inverter esta situação, quer pelos fitogeneticistas, quer pelos produtores comerciais de sementes.

A horta é um lugar ideal para cultivar as espécies subaproveitadas ou ameaçadas. Numa horta, as pequenas superfícies podem ser reservadas ao cultivo de certas espécies, cuja produtividade pode ser melhorada se as seleccionarmos pelas características mais desejadas, escolhendo nomeadamente as espécies mais baratas, resistentes à seca e fáceis de armazenar. Ao cultivar variedades locais, o horticultor desempenha não só um papel importante na protecção da natureza, mas igualmente um papel-chave no melhoramento destas variedades.

O quadro de composição dos alimentos apresentado no Anexo 2, indica o valor nutritivo dos alimentos correntemente produzidos e consumidos em África.

ANEXO 1: ÍNDICE DOS NOMES DE PLANTAS E DAS CULTURAS DE SUBSTITUIÇÃO

As espécies adaptadas às condições locais e aos hábitos alimentares das diferentes regiões de África podem ser escolhidas na lista que se segue. Contudo, é necessário notar que esta lista só apresenta algumas espécies correntemente encontradas nas hortas familiares da África subsaariana.

NOME CORRENTE NOME CIENTÍFICO

Grãos

Arroz Oryza sativa L.

Milho Zea mays

Milho-miúdo Pennisetum spp.

Sésamo Sesamum indicum L.

Sorgo Sorghum bicolor (L.) Moench

Tef Eragrostis tef

Trigo Triticum aestivum

Tubérculos

Bananeira-de-jardim Ensete ventricosum

Batata Solanum tuberosum

Batata-doce Ipomoea batatas (L.) Lam.

Cenoura Daucus carota

Inhame Dioscorea spp.

Kitombe (Angola) Plectranthus sp.

Mandioca Manihot esculenta Crantz

Matabala Colocasia esculenta (L.) Schott

Oromo dinich Amorphophallus abessynicos

Plantas oleaginosas (não leguminosas)

Carité Butyrospermum paradoxum

Cártamo Carthamus tinctorius

Castanheiro d'Inhambane Telfairia pedata

Girassol Helianthus annus

Sésamo Sesamum indicum

Verbesina-da-Índia Guizotia abyssinica

Legumes de folhas

Abóbora Cucurbita mixta

Alface Lactuca sativa

Alho-porro Allium porrum L.

Amaranto Amaranthus gangeticus L., A. Tricolor

Batata-doce Ipomoea batatas (L.) Lam

Cacon Ipomoea aquatic

Colza Brassica napus

Couve repolho Brassica oleracea var. capitata

Couve verde Brassica carinata

Espinafre africano Amaranthus spp

Feijão-de-Espanha* Phaseolus coccineus

Feijão-nhemba, folhas Vigna unguiculata

Juta vermelha Corchorus spp.

Mandioca, folhas de Manihot esculenta

Matabala Colocasia esculenta (L.) Schott

Moringa (várias espécies) Moringa spp.

Mostarda Brassica campestris

Mululu Vernonia amygdalina

Musamb Gynandropsis gynandra

Musambe Cleome gynandra

Pega-pega (São Tomé) Bidens pilosa

Urtiga Urtica sp.

Use Hibiscus sabdariffa

Legumes-fruto

Abóbora Cucurbita pepo, C. moschata, C. máxima

Beringela Africana Solanum aethiopicum L., S. scabrum L.

Beringela Solanum melongena L.

Melão Cucumis melo

Pepino Cucumis sativus L.

Pepino amargo Momordica charantia L.

Pimento doce Capsicum sp.

Quiabo Hibiscus esculentus L.

Tomate Lycopersicon esculentum Mill.

Ervas, especiarias, plantas medicinais e outras

Alho Allium sativum Linn.

Cana-de-açúcar Saccharum officinarum L.

Cebola, cebolinho japonês Allium fistulosum L.

Chá Camellia sinensis L.

Coentros Coriandrum sativum

Curcuma Curcuma longa

Falso cardamom Afromomum melegueta

Fenacho Trigonella foenum-graecum

Malagueta Capsicum annuum L.

Manjericão doce Ocimum basilicum

Maravilhas Calendula officinalis

Mostarda negra Brassica nigra

Neem Azadirachta indica

Tabaco Nicotiana tabacum

Legumes e leguminosas secas

Amendoim Arachis hypogaea L.

Ervilha Pisum sativum L.

Farrouba (Guiné) ou nganga (Angola) Parkia spp.

Fava Vicia faba

Fava-de-cavalo Psophocarpus tetragonolobus (L.) DC

Feijão-bambara Voandzeia subterranean

Feijão comum Phaseolus vulgaris

Feijão-de-lima ou feijão-espadinha Phaseolus lunatus

Feijão-frade Vigna sesquipedalis (L.) Verdc.

Feijão-mungo Vigna Radiata

Feijão-nhemba Vigna unguiculata (L.) Walp.

Feijão verde Phaseolus vulgaris L.

Grão-de-bico Cicer arietinum

Soja Glycine max (L.) Merr.

Árvores de fruto e árvores de frutos secos

Abacate Persea americana Mill.

Ananás Ananas comosus Merr.

Anona Annona muricata

Banana-pão Musa acuminate

Cacaueiro Theobroma cacao L.

Cafézeiro Coffea arabica, C. robusta

Cajueiro Anarcadium occidentale L.

Citrinos Citrus spp.

Coqueiro Cocos nucifera L.

Embondeiro Adansonia digitata

Fruta-pão Artocarpus altilis (Parkins.) Fosb.

Goiabeira Psidium guajava L.

Jaqueira Artocarpus heterophyllus Lam.

Mangueira Mangifera indica L.

Maracujá Passiflora edulis Deg.

Palmeira de dendém Elaeis guineensis Jacq.

Papaieira Carica papaya L.

Tamarindeiro Tamarindus indicus L.

Árvores (fins múltiplos e conservação do solo)

Agáti Sesbania grandiflora (L.) Pers.

Caliandra Calliandra calothyrsus

Feijão-congo Cajanus cajan (L.) Huth

- Flemingia congesta, F. macrophylla

Gliricídia Gliricidia sepium

Leucena (várias espécies) Leucaena spp.

Moringueiro Moringa oleifera Lam.

- Tephrosia tetraptera

Plantas para forragem, composto e conservação do solo

Capim-Guiné Panicum maximum

Feijão-mucuna Mucuna pruriens

Feijão-nhemba Vigna unguiculata (L) Walp.

Setaria Setaria ancenps

Vétiver Vetiveria spp.

* Ver outros nomes vulgares, página 278.

NOTAS DO TRADUTOR

Sessões de informação

Palmeira dendê: segundo J. E. Mendes Ferrão (A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses, Instituto de Investigação Científica Tropical/Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses/Fundação Berardo, Lisboa, 1992, p.224), existem diversas designações para esta planta ("palmier à huile"). De entre elas optou-se por utilizar ao longo do texto "palmeira dendém". Outras designações igualmente utilizadas, segundo o mesmo autor, são: palmeira do dendém, palmeira dendê, palmeira do andim (S.Tomé), palmeira do óleo, palmeira do azeite e dendenzeiro.

Feijão-nhemba: o "feijão-nhemba" (Vigna unguiculata) era correntemente conhecido como "feijão cafreal" (Moçambique), mas actualmente a designação mais utilizada é a de "feijão-nhemba", em Moçambique e de "feijão macunde", em Angola.

Feijão-congo: também designado por "feijão boer" ou "feijão de Angola".

Taro: (Colocasia esculenta L.) na versão original. Segundo J. E. Mendes Ferrão (A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses, Instituto de Investigação Científica Tropical/Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses/Fundação Berardo, Lisboa, 1992, p.222), o taro (Colocasia esculenta L.) é tipo de inhame que corresponde ao "micoco da linguagem crioula, a matabala de S. Tomé, o "falso inhame" ou o inhame da Madeira". De todas estas designações pareceu-nos que a designação mais conhecida em África é a de "matabala".

Fruta-do-conde: também designada por coração-de-boi, em Angola e em Moçambique.

Use: também designada por rosela, na Índia.

Neem, folhas de: também designado por azedinha.

Fichas de informação

Povoação: o termo compound neste contexto, é de difícil tradução, uma vez que não existe uma designação que se aplique a todos os países africanos de expressão portuguesa; por exemplo, no sul de Moçambique, utiliza-se o

próprio termo em inglês. Contudo, a designação que nos pareceu mais adequada, para abranger a diversidade de expressões utilizadas nestes diferentes países, foi a de "povoação".

Anexo 1

Feijão-Espanha: também designado por feijão-escarlate.

ANEXO 2: COMPOSIÇÃO APROXIMATIVA DOS ALIMENTOS

(Para 100 g de parte comestível)

Alimento Desperdí

cio (g)

Água (%)

Energia

(kcal)

Proteínas (g)

Gorduras (g)

Glúcidos (g)

Cálcio

(mg)

Ferro

(mg)

Retinol

(µg)

Provitamina A

Vitaminas B

Niacina

(mg)

Ácido

fólico

(µg)

Vitamina C (mg)

b-carote

no (µg)

Outros

(µg)

B1

(mg)

B2

(mg)

B6

(mg)

B12

(µg)

Cereais e grãos:

Arroz, ligeiramente moído, pré-cozinhado

0 12 335 7,0 0,5 80 9 1,7 0 0 0 0,2

5 0,0

3 0,3

0 - 2,8 29 0

Arroz, moído, polido

0 12 335 7,0 0,5 80 9 1,7 0 0 0 0,1

0 0,0

3 0,3

0 0 2,8 29 0

Eleusine cultivada, grão completo

7 11 315 7,4 1,3 73 395 17,0 0 25 0 0,1

8 0,1

1 - - 0,8 - 1

Eleusine cultivada, farinha

0 13 320 5,6 1,4 74 315 54,0 0 25 0 0,2

2 0,1

0 - - 0,8 - 0

Milho branco, grão completo, seco

0 12 345 9,4 4,2 72 16 3,6 0 0 0 0,3

3 0,1

0 0,2

0 - 2,2 - 0

Milho amarelo, grão completo, seco

- 10 355 10,0 4,8 72 13 4,9 0 125 0 0,3

2 0,1

2 0,2

0 - 1,7 - 4

Milho branco, farinha, ext. 60-80 %

0 12 335 8,0 1,0 77 6 1,1 0 0 0 0,1

4 0,0

5 0,1

2 - 1,0 - 0

Milho 0 12 340 9,3 3,8 72 17 4,2 0 140 0 0,3 0,0 0,2 - 1,8 - 3

amarelo, farinha (unga wa mahindi)

0 8 0

Milho branco, farinha (dona)

0 12 345 10,0 4,5 70 12 2,5 0 0 0 0,3

5 0,1

3 - - 2,0 - 3

Painço liso, grão completo

0 12 340 10,0 4,0 70 22 21,0 0 25 0 0,3

0 0,2

2 - - 1,7 - 3

Painço liso, farinha

0 16 335 5,9 3,5 71 17 39,0 - - - 0,1

8 0,2

2 - - 1,0 - -

Sorgo, grão completo

5 10 345 11,0 3,2 72 26 11,0 0 20 0 0,3

4 0,1

5 0,2

5 - 3,3 - 0

Sorgo, farinha

0 11 335 9,5 2,8 73 28 10,0 0 20 0 0,2

8 0,0

9 - - 3,4 - 0

Trigo, grão completo, pré-cozinhado

0 12 330 12,0 1,8 71 54 6,1 0 0 0 0,3

6 0,0

9 0,3

5 0 3,8 57 0

Trigo, farinha, extr. 85 %

0 12 340 11,0 2,0 74 36 3,6 0 0 0 0,3

7 0,0

8 0,3

0 0 2,8 51 0

Raízes, tubérculos, e frutos feculentos

Árvore de fruta-pão, fruto, polpa crua

34 72 99 1,5 0,3 24 28 2,0 0 5 10 0,0

8 0,0

5 0 - 0,7 - 31

Banana-pão, madura, crua

34 65 130 1,2 0,3 32 8 1,3 0 390 780 0,0

8 0,0

4 0,2

5 0 0,6 16 20

Batata, crua

14 78 75 1,7 0,1 18 13 1,1 0 12 26 0,0

7 0,0

3 0,2

7 0 1,3 14 21

Batata-doce, amarela, crua

21 69 110 1,6 0,2 28 33 2,0 0 1 800 0 0,0

9 0,0

4 0,2

7 0 0,7 52 37

Batata-doce, amarelo claro, crua

21 69 110 1,6 0,2 28 33 2,0 0 35 0 0,0

9 0,0

4 0,2

0 0 0,7 52 37

Inhame, fresco

16 69 110 1,9 0,2 27 52 0,8 0 15 10 0,1

1 0,0

2 - 0 0,3 - 6

Inhame, farinha

0 14 310 3,4 0,4 78 20 1,1 0 0 0 0,1

0 0,0

8 - - 1,1 - 0

Mandioca, amarga, fresca

26 62 140 1,2 0,2 35 68 1,9 0 15 30 0,0

4 0,0

5 - 0 0,6 24 31

Mandioca, farinha

0 13 320 1,6 0,5 82 66 3,6 0 0 0 0,0

6 0,0

5 0 0 0,9 - 4

Matabala e inhame, crus

16 73 94 1,8 0,1 23 51 1,2 0 0 0 0,1

0 0,0

3 - 0 0,8 - 8

Legumes secos e leguminosas

Feijão, seco

0 12 320 22,0 1,5 57 120 8,2 0 0 0 0,3

7 0,1

6 0,2

0 0 2,4 180 1

Feijão-congo, seco

0 10 310 20,0 1,3 58 160 5,0 0 28 55 0,7

2 0,1

4 0,2

0 - 2,9 100

Feijão-frade, grão seco

0 11 320 23,0 1,4 57 80 5,0 0 15 0 0,9

0 0,1

5 0,2

0 0 2,0 439 2

Feijão-frade, grão fresco, cru

- 89 39 3,7 0,6 5 54 1,4 0 230 460 0,1

4 0,1

0 - - 1,0 - 24

Grão-de-bico, grão completo, seco, cru

0 10 325 20,0 3,7 57 250 11,0 0 30 60 0,4

8 0,1

6 - 0 1,8 180 8

Lentilha, seca

0 10 325 25,0 1,2 57 64 7,0 0 30 60 0,4

1 0,1

9 0,6

0 0 2,2 35 0

Soja, seco 0 11 405 34,0 18,0 29 185 6,1 0 28 55 0,7

1 0,2

5 0,8

2 0 2,0 210 0

Frutos secos e grãos

Abóbora, pevide

25 6 575 23,0 46,0 19 57 2,8 0 9 18 0,1

5 0,1

2 - - 1,4 - 2

Amendoim, seco

30 7 570 23,0 45,0 20 49 3,8 0 8 14 0,7

9 0,1

4 0,5

0 0 15,5 110 1

Feijão-bambara, fresco

25 10 345 19,0 6,2 57 62 12,0 0 10 0 0,4

7 0,1

4 - - 1,8 - 0

Girassol, semente

4 4 590 20,0 46,0 26 100 7,6 0 0 0 1,3

6 0,1

6 - - 3,3 - -

Melão, pevide

25 6 595 26,0 50,0 11 53 7,4 0 0 0 0,1

0 0,1

2 - - 1,4 - -

Noz de caju, seca

0 8 560 17,0 43,0 28 76 18,0 0 3 4 0,6

5 0,2

5 - 0 1,6 - 7

Noz de coco, madura, fresca

35 43 390 3,6 39,0 7 21 2,5 0 13 24 0,0

3 0,0

3 0,0

7 0 0,6 26 2

Legumes e derivados

Abóbora, crua

23 93 23 1,0 0,1 5 25 1,4 0 1 200 1 100 0,0

5 0,0

2 0,1

0 0 0,5 8 8

Abóbora, folha crua

- 89 25 4,0 0,2 2 475 0,8 0 1 000 0 0,0

8 0,0

6 - - 0,3 - 80

Amaranto, folha crua

24 84 45 4,6 0,2 7 410 8,9 0 2 300 85 0,0

5 0,4

2 - 0 1,2 85 50

Amaranto, folha cozida

0 84 39 4,0 0,2 6 360 7,7 0 1 700 60 - - - - - - 34

Batata-doce, folha crua

20 83 49 4,6 0,2 8 160 6,2 0 2 620 875 0,1

0 0,2

8 - - 0,9 - 70

Beringela, crua

22 90 30 1,0 0,2 6 14 1,3 0 17 34 0,0

5 0,0

5 0,1

0 0 0,5 29 9

Cenoura, crua

26 89 35 0,9 0,1 8 35 0,7 0 6 000 1 050 0,0

4 0,0

4 0,2

5 0 0,6 8 8

Cogumelos, frescos

9 90 29 1,5 0,5 5 20 1,5 0 0 0 0,1

0 0,4

0 0,1

0 0 4,0 23 3

Couve-flor, crua

44 92 25 2,0 0,1 4 35 1,2 0 8 15 0,0

6 0,0

9 0,2

7 0 0,5 22 96

Embondeiro, folha crua

18 77 67 3,8 0,3 13 400 1,1 - - - - - - - - - 52

Feijão, rebentos crus

20 64 130 13,0 0,8 19 110 8,2 0 15 30 0,1

7 0,1

4 - - 2,0 - 7

Feijão-frade, folha fresca, crua

5 85 45 4,7 0,3 6 255 5,7 0 700 0 0,2

0 0,3

7 0,2

4 0 2,1 135 56

Feijã-frade, folha seca, crua

5 10 270 28,0 1,8 36 1

500 35 0 3 600 0 - - - - - - -

Mandioca, folha crua

20 72 90 7,0 1,0 14 300 7,6 0 3 000 0 0,2

5 0,6

0 - - 2,4 - 310

Matabala, folha crua

- 90 31 2,4 0,6 4 98 2,0 0 1 530 540 0,1

7 0,3

5 - - 0,8 - 11

Pimento doce, verde, cru

14 86 44 2,0 0,8 8 29 2,6 0 730 190 0,1

2 0,1

5 0,3

7 - 2,2 24 140

Pimento doce, vermelho, cru

14 86 44 2,0 0,8 8 29 2,6 0 640 115 0,1

2 0,1

5 0,3

7 - 2,2 24 140

Pimento, folha crua

20 82 73 4,6 3,4 6 170 10,0 0 3 500 1 050 - - - - - - 2

Quiabo, fruto fresco

19 89 35 2,1 0,2 7 84 1,2 0 190 0 0,0

4 0,0

8 0,2

2 0 0,6 23 47

Quiabo, folha crua

20 82 58 4,4 0,6 9 530 0,7 0 730 0 0,2

5 2,8

0 - - 0,2 - 59

Tomate, cru

4 94 22 1,0 0,2 4 10 0,6 0 380 135 0,0

6 0,0

4 0,0

6 0 0,6 28 26

Frutos

Abacate, cru

50 80 120 1,4 11,0 4 19 1,4 0 400 265 0,0

5 0,1

5 0,2

5 0 2,0 22 18

Ananás, fresco

33 87 48 0,4 0,1 12 16 0,4 0 70 45 0,0

6 0,0

3 0,0

9 0 0,1 11 34

Banana, madura, crua

37 77 82 1,5 0,1 20 9 1,4 0 90 60 0,0

3 0,0

3 0,3

5 0 0,6 19 9

Embondeiro, fruto maduro,

72 16 280 2,2 0,8 70 285 7,4 0 63 35 0,3

7 0,0

6 - - 2,1 - 270

cru

Goiaba, crua

19 82 46 1,1 0,4 10 24 1,3 0 220 145 0,0

6 0,0

4 0,1

4 0 1,3 7 325

Laranja e tangerina, cruas

25 88 44 0,6 0,4 10 28 0,1 0 730 0 0,0

2 0,0

3 0,0

5 0 0,2 37 46

Limão e lima, crus

41 90 40 0,6 0,8 8 19 0,7 0 8 4 0,0

3 0,0

2 0,0

4 0 0,3 - 45

Manga, madura, crua, descascada

36 83 60 0,6 0,2 15 24 1,2 0 2 400 0 0,0

3 0,0

5 0,1

3 0 0,4 7 42

Manga, verde, crua, descascada

36 84 55 0,5 0,1 14 7 1,4 0 60 0 0,0

2 0,0

3 0,1

0 - 0,2 7 86

Melancia 50 94 22 0,5 0,1 5 8 0,3 0 190 125 0,0

4 0,0

5 0,1

0 0 0,1 3 8

Papaia, crua

26 91 30 0,4 0,1 7 21 0,6 0 300 0 0,0

3 0,0

3 0,0

2 0 0,4 1 52

Tamarindo, seco

36 21 220 5,0 0,6 52 165 2,2 0 45 30 0,1

8 0,0

9 0,0

8 0 0,6 - 9

Tâmaras, secas

13 17 295 2,7 0,6 74 82 9,4 0 23 14 0,0

6 0,1

5 0,2

1 0 1,8 20 0

Toranja, crua

49 90 34 0,8 0,1 8 21 0,6 0 250 0 0,0

5 0,0

3 0,0

3 0 0,2 12 44

Açúcares e xaropes

Açúcar 0 0 375 0 0 100 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Bebidas não alcoólicas, comerciais

0 87 45 0 0 12 10 - 0 0 0 - - - - - - -

Cana-de-açúcar

55 82 54 0,6 0,1 13 8 1,4 0 - - 0,0

2 0,0

1 - - 0,1 - 3

Carne, criação e ovos

Cabra, medianamente gorda

26 68 170 18,0 11,0 0 11 2,3 0 0 0 0,1

7 0,3

2 - - 5,6 - -

Carneiro, medianamente gordo

20 61 255 17,0 21,0 0 10 2,0 10 0 0 0,1

2 0,1

7 0,4

0 2,9 3,1 - -

Ovo de galinha

12 75 140 12,0 10,0 1 45 2,0 150 300 0 0,1

0 0,3

0 0,1

5 1,7 0,3 25 0

Frango 33 72 140 20,0 6,5 0 10 1,1 75 60 0 0,1

0 0,1

5 0,2

0 0,3 3,7 - 0

Porco, medianamente gordo

18 46 410 12,0 40,0 0 11 1,8 0 0 0 0,6

0 0,1

4 0,3

8 5,5 3,1 40 -

Vaca, medianamente gorda

20 63 235 18,0 18,0 0 11 3,6 24 5 0 0,2

6 0,1

5 0,2

5 1,4 4,0 7 0

Coração, vaca

- 77 105 17,0 3,6 1 9 4,8 40 10 0 0,2

8 0,2

8 0,36 13,0

2,7 0 1

Fígado, vaca

- 70 135 19,0 4,7 5 8 10,0 810 180 0 0,5

0 3,0

0 0,35 53,0

10,0 250 15

Rim, vaca - 77 115 14,0 5,5 3 13 4,6 300 0 0 0,2

8 1,5

0 0,45 19,0

5,8 52 10

Peixe e produtos derivados

Peixe, filete

0 75 115 22,0 3,0 0 32 1,7 0 0 0 0,0

5 0,0

8 0,1

6 - 2,8 - 0

Peixe, miúdo, seco (dagaa)

- 20 320 44,0 16,0 - 3

000 8,5 - - -

0,10

0,20

- - 6,0 - 0

Peixe, seco - 14 255 47,0 7,4 0 1

000 4,9 0 0 0

0,07

0,33

- - 6,2 - 0

Leite e laticínios

Leite de cabra

0 84 84 3,4 4,9 7 160 0,1 25 0 0 0,0

6 0,2

2 0,0

4 0,1 0,4 - 1

Leite de vaca, completo

0 85 79 3,8 4,8 5 145 0 27 80 0 0,0

4 0,2

1 0,0

5 0,4 0,1 6 1

Leite de vaca, em pó, completo

- 4 465 26,0 24,0 38 1

000 0,5 400 345 0

0,28

1,30

0,25

- 0,7 - 0

Leite de vaca, em pó, desnatado, enriquecido com vitamina A

- - 355 36,0 - - 1

260 1,0 1 500 0 0

0,45

1,50

- - 1,1 - 1

Óleos e gorduras

Banha/gordura animal

0 1 890 0 99,0 0 1 0,1 0 0 0 0 0 0 - 0 0 0

Ghee, manteiga clarificada

0 1 885 0 98,0 1 2 0,4 270 230 0 - 0,0

1 - - - - -

Manteiga de vaca

0 21 700 0 77,0 2 15 0 640 545 0 0,0

1 0,0

8 0 - 0,1 - 0

Óleo de coco

0 0 900 0 100,0 0 2 0 0 0 0 0 0 - - 0 - -

Óleo de dendém, fresco

0 1 890 0 99,0 0 6 0 0 25 000 10

000 0,0

1 0,0

2 0 0 0 0 -

Óleo de dendém, rançoso

0 1 890 0 99,0 0 6 0 0 12 000 4 800 - 0,0

1 0,0

2 0 0 0 -

Óleo de fígado de bacalhau

0 0 900 0 100,0 0 - - 140 000

30 000 0 - - - - - - -

Óleo de girassol

0 0 900 0 100,0 0 - 0 0 25 0 0 - - - 0 - 0

Óleo de 0 0 900 0 100,0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 - 0 - 0

mesa

Outros

Cerveja, local

0 - 25 0,2 - - 0 0,3 0 0 0 0,0

2 0,0

1 - - 0,4 - 0

Lagarta, seca

- 9 390 53,0 15,0 12 185 2,3 - - - 0,1

7 1,3

0 - - 6,0 - 0

Leite de coco

0 94 21 0,2 0,4 5 24 0,3

0 0 0 0 0 0 0 - 3

Levedura de cerveja, seca

- 70 52 11,0 0,4 1 25 5,0 0 - - 0,7

1 1,7

0 0,6 - 11,0 - 0

Térmita, fresca

- 45 340 20,0 28,0 2 12 1,0 0 0 0 - - - - - - -

Fonte: West, Pepping e Temalilwa, 1988.

Notas: Partindo do princípio que os valores indicados para as proporções de desperdício nos diferentes alimentos comprados variam de modo considerável, os dados apresentados na primeira coluna só devem ser considerados apenas como estimativa. Os valores respeitantes ao desperdício são expressos em gramas para 100 g de alimento «na compra» (quer dizer incluindo o desperdício). A parte comestível pode assim ser calculada multiplicando a quantidade de alimento na compra pelo factor 100 (100 + x) em que x representa o valor indicado para o desperdício, no quadro.

Os valores indicados para o teor de água de um alimento particular não são sempre os mesmos, nomeadamente para os alimentos que têm um conteúdo elevado de água, como os frutos e os legumes. As diferenças mencionadas no conteúdo de nutrientes devem--se mais às diferenças de teor de água do que às diferenças de teor nutricional da matéria seca do alimento. Assim, quando os dados referentes aos alimentos com teor de água elevado provinham de várias origens, foi feita uma correcção ao teor de água.

-: dado não disponível; 0: traço.

ANEXO 3: NOÇÕES IMPORTANTES SOBRE CULTIVO E CONSERVAÇÃO DOS PRINCIPAIS PRODUTOS DA HORTA

Cultura Necessidade de água Possibilidades de

conservação Observações

Batata-doce · Resistente à seca · Evitar a saturação do solo em água

· Pode ser conservada no solo durante um certo tempo · Em fatias secas ou sob a forma de farinha pode ser utilizada mesmo após vários meses

· Multiplica-se por material vegetativo de plantação (podas cultivadas em viveiro e depois transplantadas) · As folhas são correntemente consumidas como legume · Os tubérculos constituem uma boa fonte de energia

Mandioca · Resistente à seca · Cultivada muitas vezes como planta de recurso em caso de escassez alimentar

· Colhida à medida das necessidades ou conservada sob a forma de fatias secas · Transformada em gari ou em farinha para uma utilização posterior · Atenção: certas variedades são tóxicas

· Os tubérculos constituem uma boa fonte de energia

Matabala ouinhame

· Adaptado às terras saturadas de água

· Planta perene · Pode ser colhida à medida das necessidades

· As folhas têm um bom valor nutritivo

Inhame · Elevada necessidade de água

· Tempo de conservação limitado

· Precisa de tutores

Amendoim · Fraca necessidade de água · Conserva-se bem quando seco

· Boa fonte de óleo/gorduras · Excelente se moído e misturado aos alimentos de desmame

Feijão-congo · Fraca necessidade de água · Várias partes da planta são utilizadas frescas ou secas

· Planta perene

Feijão · Plantado no fim da estação das chuvas

· Pode-se produzir farinha de feijão seco

· Existem numerosas variedades diferentes

Cebola · Necessidade muito elevada de água para o desenvolvimento do bolbo

· Podem conservar-se vários meses, secas e armazenadas num lugar

· As variedades são sensíveis à luz do sol

fresco e seco

Tomate · Necessidade elevada de água, mas cresce melhor na estação seca porque diminui o risco de doenças

· Possibilidade de secagem tradicional ao sol

Beringela · As variedades africanas exigem pouca água e resistem mesmo a uma seca limitada

· Longo período de colheita

· As variedades locais são as mais apreciadas

Legumes de folhas

· Necessidade elevada de água, mas período de crescimento curto

· Secagem ao sol possível, mas preferência pelos produtos frescos

· Boa ou bastante boa fonte de vitaminas A e C

Plantas oleaginosas

· Numerosas espécies são resistentes à seca, por exemplo o cártamo, o sésamo e a verbesina-da-Índia

· Possibilidade de transformação caseira ou comunitária

· A produção nas hortas deve ser encorajada · Fonte de energia muito boa

Mangueira · Se estiver bem enraizadapode resistir à falta de água

· A secagem ao sol dá um bom produto, que se conserva durante muito tempo

· A secagem das mangas ao sol deve ser encorajada, pois a sua abundância na época própria leva a que se percam muitas · Boa fonte de vitamina A

Papaieira · A água é muito importante para a estabelecimento das plantações

· Difícil de conservar quando estão maduras

· A produtividade da árvore baixa sensivelmente depois dos 3 anos · A papaia é uma boa fonte de vitamina A

Bananeira ou bananeira-pão

· Necessidade elevada de água

· Com suficiente abastecimento de água é possível ter frutos ao longo de todo o ano

· A banana pode ser seca · Excelente, fresca ou seca, para as refeições ligeiras das crianças

Goiabeira · Resistente à seca · Importante em período de escassez · Excelente fonte de vitamina C

BIBLIOGRAFIA

HORTAS E NUTRIÇÃO

Burgess, A., Maina, G., Harris, P. & Harris, S. 1998. How to grow a balanced diet: a handbook for community workers. Londres, VSO Books.

Cleveland, D. A. & Soleri, D. 1991. Food from dryland gardens: an ecological, nutritional and social approach to small-scale household food production. Tucson, Arizona, Center for People, Food and Environment.

FAO. 1989. Edible plants of Uganda: the value of wild and cultivated plants as food. Roma.

FAO. 1995. Improving nutrition through home gardening: a training package for preparing field workers in Southeast Asia. Roma.

NUTRIÇÃO GERAL E EDUCAÇÃO NUTRICIONAL

FAO. 1993. Guide méthodologique des interventions dans la communication sociale en nutrition, par M. Andrien. Roma. Reimpressão 1998.

FAO. 2001. Agriculture, alimentation et nutrition en Afrique: un ouvrage de référence à l'usage des professeurs d'agriculture. Roma.

FAO/ILSI. 1997. Preventing micronutrient malnutrition: a guide to food-based approaches: a manual for policy makers and programme planners. Washington, DC, Institut international des sciences de la vie (ILSI).

IVACG. 1992. Nutrition communications in vitamin A programs: a resource book. Washington, DC, Groupe consultatif international sur la vitamine A.

King, F. S. & Burgess, A. 1993. Nutrition for Developing Countries. 2.ª ed. Londres, Oxford University Press.

FAO. 1999. Field programme management: food, nutrition and development. Roma.

OMS. 2000. Complementary Feeding: Family Foods for Breastfed Children. Genebra.

West, C.E., Pepping, F. and Temalilwa, C.R. (eds.) 1988. The composition of foods commonly eaten in East Africa. Wageningen, Países Baixos, Wageningen Agricultural University.

PLANTAS SUB-UTILIZADAS OU NEGLIGENCIADAS

IPGRI. 1997. Bambara groundnut: Vigna subterranea (L.) Verdc., ed. de J. Heller, F. Begemann & J. Mushonga. Roma.

IPGRI. 1997. Breadfruit: Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg, por Diane Ragone. Roma. 77 pp.

IPGRI. 1997. Cat's whiskers: Cleome gynandra L., por J. A. Chweya & N. A. Mnzava. Roma. 55 pp.

IPGRI. 1997. Proceedings of the IPGRI International Workshop on Genetic Resources of Traditional Vegetables in Africa: conservation and use, ed. de L. Guarino, 29-31 August 1995, ICRAF-HQ, Nairobi.

IPGRI. 1999. The biodiversity of traditional leafy vegetables. ed. de J.A. Chweya & P.B. Eyzaguirre. Roma. (Este livro contém capítulos escritos por autores nacionais sobre a diversidade e a utilização das hortaliças tradicionais no Botswana, Camarões, Quénia, Senegal e Zimbabwe. As conclusões sublinham o potencial importante que a África possui no que diz respeito aos recursos fitogénicos para melhorar o bem-estar das comunidades africanas).

Instituto Internacional dos Recursos Fitogénicos (IPGRI) Via dei Tre Denari, 472/a 000 57 Maccarese (Fiumicino) Roma, Itália e-mail: [email protected]

LUTA INTEGRADA CONTRA PRAGAS

O sítio Web abaixo indicado fornece informações, recursos e material didáctico sobre a luta integrada contra pragas.

http://www.communityipm.org/

HORTICULTURA DE PEQUENA ESCALA E PRODUÇÃO ALIMENTAR CASEIRA

IIRR. 1991. The Biointensive approach to small-scale household food production. Silang, Cavite, Filipinas. Institut International pour la reconstruction rurale.

Jeavons, J. 1995. How to grow more vegetables than you ever thought possible on less land than you can imagine. 5.ª ed. Published by Ecology Action of the Mid-Peninsula. Berkeley, EUA, Ten Speed Press.

UNICEF. 1982/85. The UNICEF home gardens handbook: for people promoting mixed gardening in the humid tropics, por P. Sommers. Nova Iorque, EUA.

TRATAMENTO E CONSERVAÇÃO DAS CULTURAS ALIMENTARES

Agromisa Foundation. 1997. Preservation of fruits and vegetable, por Agromisa Human Nutrition and Food Processing Group, Agrodok 3. Wageningen, Países Baixos, Fondation Agromisa et Centre technique pour la coopération agricole et rurale.

FAO. 1988. Techniques de transformation et de conservation artisanales des fruits et légumes, por G. Amoriggi. Roma.

FAO. 1990. Utilisation des aliments tropicaux:racines et tubercules. Etude FAO: Alimentation et nutrition no 47/2. Roma.

FAO. 1990. Utilisation des aliments tropicaux: fruits et feuilles. Etude FAO: Alimentation et nutrition no 47/7. Roma.

GERES. 1997. Drying foodstuffs: techniques, processes, equipment, por Jean-François Rozis. Preparado com o apoio da FAO, do Ministério holandês da cooperação e do desenvolvimento e do Centro técnico holandês do desenvolvimento e da cooperação agrícola e rural. Leiden, Países Baixos, Backhuys Publishers.

GERES (Grupo de Energia Renovável e Ambiente) 2, cours Maréchal-Foch 13400 Aubagne France e-mail: [email protected]

DIAGNÓSTICO RURAL PARTICIPATIVO UTENSÍLIOS E MÉTODOS ÚTEIS

FAO. 2001. Programa de análise sócio-económica e de género: manual de trabalho de campo, elaborado por V. L. Wilde. Roma.

Blum, L., Pelto, P.J., Pelto, G.H. & Kuhnlein, H.V. 1997. Community assessment of natural food sources of vitamin A: guidelines for an ethnographic protocol. Centre for Nutrition and the Environment of Indigenous People (CINE), McGill University, Quebeque, Otava, Canadá, Centre de recherche pour le développement international (CRDI), Otava.

FORMAÇÃO

Pretty N.J., Pelto P.J., Pelto G.H. & Thompson J.I. 1995. A trainer's guide for Participatory Learning and Action. Publicado pelo International Institute for Environment and Development (IIED), Londres, www.iied.org

PLANIFICAR PROJECTOS COM AS COMUNIDADES

FAO. 1997. Guia para projetos participativos de nutrição. Roma.

FAO. 1993. The group promoter's resource book: a practical guide to building rural self-help groups. Roma.

FAO. 1993. The group enterprise book: a practical guide for group promoters to assist groups in setting up and running successful small enterprises. Roma.

FAO. 2001. Preparing micro-project proposals to improve household food security and nutrition. Divisão de alimentação e nutrição. Roma.

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura Viale delle Terme di Caracalla 00100 Roma Itália

A página de abertura do sítio da Internet da FAO sobre questões e actividades ligadas à alimentação, agricultura e nutrição dá acesso, através do Centro Mundial de Informação Agrícola (CMIA), a uma informação sobre uma larga gama de assuntos especializados, compreendendo as normas alimentares, a nutrição, recursos genéticos, operações pós-colheita, agrobiodiversidade, sistemas alimentares nos centros urbanos e agricultura biológica. Para se assegurar de que esta informação alcança um público o mais numeroso possível, incluindo as pessoas que não têm acesso à Internet, a FAO oferece igualmente outras possibilidades, como CD-ROMs, disquetes e impressos. Para mais informações, escrever à FAO para a morada indicada ou visitar a página da FAO na Internet: http://www.fao.org.

CONTRACAPA

A publicação de Melhorar a Nutrição Através das Hortas Familiares - Módulo de Formação destinado a Técnicos de Extensão Agrícola em África tem como finalidade a formação de técnicos de extensão rural, de economia doméstica, de nutrição, de saúde e de outros agentes de desenvolvimento que trabalhem com famílias e comunidades. As hortas familiares existem em muitas zonas húmidas e sub-húmidas de África. Essas hortas, tendo uma funda tradição, constituem um enorme potencial de melhoria do aprovisionamento alimentar das famílias, podendo ser usadas para cultivar diversas espécies vegetais, frutos, cereais, plantas medicinais e especiarias, bem como para criar animais, incluindo peixes. Se devidamente tratada, mesmo uma pequena porção de terra pode contribuir substancialmente para aumentar o nível nutricional familiar, indo ao encontro das suas necessidades alimentares. Este módulo de formação abrange a produção de alimentos e questões nutricionais, fornecendo um vasto leque de materiais para a formação de técnicos de campo que desejem ajudar as famílias e respectivas comunidades a melhorarem a produção alimentar e a aumentarem o valor nutritivo das suas dietas.