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S UINOCULTURA S UINOCULTURA D INÂMICA D INÂMICA Ano V – N o 19 – Dezembro/1996 – Periódico técnico-informativo elaborado pela EMBRAPA–CNPSA Utilização de vacinas em produção de suínos David Emílio S. N. de Barcellos 1 Jurij Sobestiansky 2 Itamar Piffer 2 Introdução O objetivo da utilização de vacinas em suinocul- tura é o de melhorar as condições de defesa dos animais contra os agentes patogênicos aos quais estão expostos continuamente no ambiente em que são criados. Além da imunidade, out- ros fatores podem interferir nessa resistência às doenças, tais como o estado nutricional dos ani- mais, microbismo ambiental, qualidade do manejo em uso e diversas variáveis relacionadas com o ambiente e com situações estressantes. As vacinas são usadas principalmente de maneira preventiva. Eventualmente, são administradas durante o curso de uma infecção, com a finalidade de proteger aqueles animais do rebanho que estejam expostos ao risco de infecção, e com fins terapêu- ticos, para aqueles já infectados. 1 Prof. Adj. Fac. Vet. UFRGS, Porto Alegre (RS) 2 Pesquisador da EMBRAPA–CNPSA, Cx. Postal 21, CEP 89700-000, Concórdia-SC. Características de uma boa vacina Os fatores desejáveis numa vacina incluem custos compatíveis com os prejuízos da doença problema, administração fácil, forma de apre- sentação adequada às condições de manejo a campo, inocuidade total e eficiência na proteção dos animais vacinados. As características de uma vacina ideal são as seguintes: Para os leitões Evitar o desencadeamento da doença após a infecção inicial. Prevenir ou reduzir a replicação do agente infeccioso no local de entrada ou em outros tecidos. Promover a eliminação do agente do animal doente. Prevenir ou reduzir a persistência e a possível reativação da infecção. Prevenir o desenvolvimento ou reduzir a se veridade da doença após a infecção. Prevenir ou reduzir as perdas econômicas. Suínos e Aves

Vacinação nos suinos

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SUINOCULTURASUINOCULTURA

DINÂMICADINÂMICAAno V – N o 19 – Dezembro/1996 – Periódico técnico-informativo elaborado pela EMBRAPA–CNPSA

Utilização de vacinas em produção desuínos

David Emílio S. N. de Barcellos1 Jurij Sobestiansky2 Itamar Piffer2

Introdução

O objetivo da utilização de vacinas em suinocul-tura é o de melhorar as condições de defesados animais contra os agentes patogênicos aosquais estão expostos continuamente no ambienteem que são criados. Além da imunidade, out-ros fatores podem interferir nessa resistência àsdoenças, tais como o estado nutricional dos ani-mais, microbismo ambiental, qualidade do manejoem uso e diversas variáveis relacionadas com oambiente e com situações estressantes.

As vacinas são usadas principalmente demaneira preventiva.

Eventualmente, são administradas durante ocurso de uma infecção, com a finalidade deproteger aqueles animais do rebanho que estejamexpostos ao risco de infecção, e com fins terapêu-ticos, para aqueles já infectados.

1Prof. Adj. Fac. Vet. UFRGS, Porto Alegre (RS)2Pesquisador da EMBRAPA–CNPSA, Cx. Postal 21, CEP

89700-000, Concórdia-SC.

Características de uma boa vacina

Os fatores desejáveis numa vacina incluemcustos compatíveis com os prejuízos da doençaproblema, administração fácil, forma de apre-sentação adequada às condições de manejo acampo, inocuidade total e eficiência na proteçãodos animais vacinados. As características de umavacina ideal são as seguintes:

Para os leitões

• Evitar o desencadeamento da doença após ainfecção inicial.

• Prevenir ou reduzir a replicação do agenteinfeccioso no local de entrada ou em outrostecidos.

• Promover a eliminação do agente do animaldoente.

• Prevenir ou reduzir a persistência e a possívelreativação da infecção.

• Prevenir o desenvolvimento ou reduzir a severidade da doença após a infecção.

• Prevenir ou reduzir as perdas econômicas.

Suínos e Aves

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• Prevenir a difusão do agente a contatos não-vacinados.

Para as porcas

• Proteger os leitões contra a infecção.

• Proteger a leitegada através de anticorposcolostrais durante as primeiras semanas devida.

Duração da imunidade

• Durar por toda a vida econômica do animalou, pelo menos, por seis meses.

Critérios a serem consideradospara uso de vacinas

A utilização das vacinas recomendadas emnosso meio varia de uma criação para outra,abrangendo desde a utilização de um único pro-duto (específico) até programas de vacinação emque se utilizam quase todas vacinas disponíveisno Brasil para a indústria suinícola.

Existem presentemente no mercado brasileirovacinas contra uma série de doenças, tais comofebre aftosa, peste suína clássica, leptospirose,parvoviros, doença de Aujeszky, salmonelose,rinite atrófica progressiva, erisipela, colobacilose,enterotoxemia, pleuro-pneumonia, doença deGlasser e pneumonia enzoótica. Os critérios quevão indicar ou não a conveniência do uso dessesprodutos são vários:

Incidência da doença na região ou nagranja e relação custo/benefício

Para decidir sobre a necessidade de usar ounão uma vacina, deve-se considerar o nível dedifusão da doença numa determinada área ge-ográfica, bem como o nível de vulnerabilidade dagranja. Baseado nessas variáveis, a granja podeser classificada em:

a. bem protegida;

b. corre o risco de ser contaminada;

c. altamente susceptível a ser contaminada.

Deve ser cuidadosamente avaliada a relaçãoentre o custo da vacina, os gastos com mão-de-obra, os eventuais problemas que possamestar associados com a vacinação e o possívelbenefício obtido através de seu uso.

Fatores ligados ao tipo de criação

Granjas de suínos isoladas de outros rebanhose que têm um trânsito mínimo de visitantes, deveículos, de outros animais, que possuam insta-lações de quarentena e que sigam um programade limpeza e desinfecção eficientes, teoricamente,não necessitam de um programa de vacinaçãomuito abrangente. Para criações abertas, con-stantemente expostas a fontes de contaminaçãoexternas tais como visitantes, caminhões de raçãoque sirvam a várias granjas e reprodutores oriun-dos de diferentes fornecedores, recomenda-se umprograma de vacinação mais amplo.

Orientação do veterinário

Existe uma tendência, especialmente entreaqueles criadores que não têm assistência vet-erinária direta, de implantar programas de vaci-nação seguindo a orientação de vendedoresde produtos biológicos ou mesmo de outroscriadores. Esses nem sempre possuem umahabilitação técnica adequada para estabelecer umprograma eficiente de imunização ou podem tersua decisão orientada por motivos comerciais,de forma que suas recomendações podem influ-enciar negativamente nos índices técnicos e/oueconômicos da granja.

Para evitar que isso ocorra, recomenda-se queo criador procure um médico veterinário que es-teja familiarizado com as doenças prevalentes naregião e diagnosticadas no rebanho em questão,para que ele estabeleça um programa de vaci-nação adequado.

Período de validade da vacina

As vacinas comerciais, em geral, têm seuperíodo de validade estabelecido considerandoa conservação do produto em condições ideais.Esse prazo varia entre diferentes vacinas e mes-mo naquelas contra o mesmo agente etiológicoproduzidas por distintos laboratórios. Não existeuma regra absoluta para estabelecer um períodode validade. Ele deve ser determinado através detestes rigorosos realizados pelos fabricantes decada tidpo de produto, de modo que, ao final do

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prazo de validade, a vacina ainda seja capaz deinduzir uma defesa imunitária adequada.

Programas de combate a determinadasdoenças

A utilização de programas de vacinação pre-ventivos tem sido reconhecida como uma medidade grande importância no combate de algumasdoenças infecto-contagiosas. Em certas circun-stâncias e obedecendo a critérios e legislaçõesregionais ou nacionais, os órgãos governamentaispodem obrigar os criadores a realizar uma vaci-nação sistemática.

No Brasil, por exemplo, o programa de er-radicação da peste suína clássica está sendoapoiado pela vacinação estratégica compulsóriaem algumas áreas, associada com as medidas dedefesa sanitária animal vigentes.

Principais vacinas utilizadas emsuínos

Colibacilose

A Escherichia coli (E. coli) causa em suínos adiarréia neonatal, diarréia pós-desmame, disente-ria (diarréia sanguinolenta) e doença do edema.

As vacinas disponíveis no nosso meio sãoinativadas, contendo diferentes antígenos de E.coli – os mais comuns são as fimbrias dos tiposF4 (K88), F5 (K99) e F6(P987) e baixos níveis deantígenos derivados de toxinas. Algumas dessasvacinas são resultantes da utilização de técnicasde engenharia genética.

De um modo geral, todas essas vacinas foramtestadas em laboratórios e a campo, mostrandoser eficientes em gerar anticorpos e reduzir ainfecção em rebanhos com problemas de col-ibacilose causados por amostras contendo an-tígenos homólogos àqueles presentes nas vaci-nas.

Doença de Aujeszky

Atualmente são encontradas vacinas contra adoença de Aujeszky de três tipos: inativadas,vivas modificadas e vivas deletadas. As maisusadas são as deletadas, que são preparadasatravés da retirada de uma ou mais porçõesdo genoma viral (dessa forma, o vírus retém

Tabela 1: Vacina para Colibacilose

Leitoas(reposição)

1a dose entre 60 a 70 dias degestação2a dose entre 90 a 100 dias degestação

Porcas entre 90 a 100 dias de gestação1

Machos não são vacinadosLeitões não são vacinados

1Em algumas granjas tem sido adotado um programa devacinação exclusivamente para as leitoas, uma vez quesuas leitegadas são as mais suscetíveis à infecção natural.A baixa exposição à bactéria que sofrem, de maneira geral,resulta numa baixa imunidade e, consequentemente, eminsuficiente transmissão de imunidade aos leitões.

funções essenciais para sua replicação, perdea capacidade de infectar e causar doença). Aausência das glicoproteínas deletadas torna pos-sível diferenciar os anticorpos produzidos com ouso da vacina daqueles induzidos pela infecçãocom o vírus de campo.

No Brasil, a doença existe de forma endêmi-ca. O uso das vacinas comerciais só podeser realizado através de uma permissão especialemitida pelo Ministério da Agricultura. Para tal, énecessário que tenha havido previamente o isola-mento, em laboratório credenciado, de amostra dovírus Aujeszky em material coletado na granja quesolicitou a permissão para vacinação.

Doença de Glasser

A Doença de Glasser (DG) é uma doençainfecciosa que se caracteriza por inflamaçãoserofibrinosa das serosas, podendo ocasionarpleurite, pericardite, artrite e, ocasionalmente,meningite. O agente etiológico é uma bactéria, oHaemophilus parasuis.

A utilização de vacinas inativadas tem demon-strado bons resultados no controle da Doença deGlasser. A vacinação é um meio efetivo paraprevenir o aparecimento da DG, especialmentequando se utiliza uma vacina autóctone.

Pesquisadores brasileiros já desenvolveramtecnologia para a produção de vacinas autógenascontra a DG, sendo que a via de aplicaçãoé a intramuscular. O esquema de vacinaçãorecomendado por um dos laboratórios produtoresdesse tipo de imunógeno no Brasil (IPEVE, s.d.) éo seguinte:

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Tabela 2: Vacina para Doença de Aujeszky

Leitões filhos de porcas não vacinadas:- 1a dose aos cinco dias de idade- 2a dose aos 15 ou 20 dias deidadefilhos de porcas vacinadas- vacinar entre 60 e 70 dias deidade

Fêmeas dereposição

1a dose – um mês antes daprimeira cobertura2a dose – entre 90 e 100 dias degestaçãorevacinar a cada 6 meses entre 90e 100 dias de gestação

Machos dereposição

2 doses com intervalo de 3 a 4semanasrevacinar a cada 6 meses

Porcas1 1a dose entre 60 e 70 dias degestação2a dose entre 90 e 100 dias degestaçãorevacinar a cada 6 meses entre 90e 100 dias de gestação

Machos 2 doses com intervalo de 3 a 4semanasrevacinar a cada 6 meses

1não vacinar nos primeiros 21 dias após a cobertura.

Tabela 3: Vacina para Doença de Glässer

Para uso em sur-tos em leitões commenos de 6 sem-anas

Porca:1a dose 6-8 semanasantes do parto (ap)2a dose 2 a 3 semanas apgestações subsequentes:2/3 sem. apDose: 4 ml

Para uso em sur-tos ocorrendo emleitões com 8 a 12semanas

Leitões:1a dose às 5 semanas deidade2a dose às 7-8 semanasde idadeDose: 2 ml

Para uso em sur-tos ocorrendo em re-banhos não infecta-dos e não vacinados

Vacinar todos os animaisRevacinar 2 semanasapósDose:animais com menos de50Kg: 2 mlanimais com mais de50Kg: 4 ml

Vacinação de suínosde reprodução des-tinados à reposiçãoou repovoamento degranjas

1a dose: 4 a 6 semanasantes da entrega2a dose: 2 a 3 semanasantes da entregaDose:animais com menos de50Kg: 2 mlanimais com mais de50Kg: 4 ml

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Tabela 4: Vacina para Enterotoxemia

Fêmeas 1a dose aos 70 dias de gestação2a dose 100 dias de gestação

Leitões Não são vacinados

Tabela 5: Vacina para Erisipela

Leitoas(reposição)

1a dose aos 70 dias de gestação2a dose aos 90 dias de gestação

Porcas 1a dose aos 80 dias de gestação2a dose aos 100 dias de gestação

Machos na época da seleção, aplicar duasdoses, com intervalo de 21 dias. Apartir daí, revacinar anualmente.

Leitões 1a dose aos 21 dias de idade2a dose aos 42 dias de idade

Enterotoxemia causada por Clostridiumperfringens tipo C

As vacinas conhecidas constam de cultivosbacterianos totais inativados, acrescidos de umadjuvante. Os antígenos presentes são o corpobacteriano, produtos metabólicos e toxinas. Avacinação visa, primariamente, a produção deanticorpos contra a toxina beta da bactéria.

Existem no mercado brasileiro vacinas mistascontra as clostridioses animais que incluem, emsua formulação, o C. perfringens tipo C. Uma outraalternativa seria a fabricação de uma bacterinaautógena pelos laboratórios que fizeram o isola-mento do agente etiológico.

Erisipela Suína

A erisipela suína é causada por Erysipelothrixrhusiopathiae.

A imunização contra a doença pode ser efetu-ada através do uso de vacinas vivas, inativadasou lisadas, administradas parenteralmente ou porvia oral. Em nosso meio, as vacinas disponíveisconsistem de crescimentos bacterianos inativados(bactérinas), adicionadas de adjuvante (hidróxidode alumínio).

Os programas de vacinação contra erisipelacom as vacinas existentes hoje no mercado pro-tegem com eficiência contra a ocorrência de sur-tos de eisipela na sua forma aguda. Porém, paracombater a forma crônica da doença, torna-senecessário um grau de imunização mais elevado,o que poderia ser conseguido através de umprograma de vacinação mais intensivo.

Tabela 6: Vacina para Febre Aftosa

Programa PreventivoReprodutorese animais dereposição

Na primeira aplicação, vacinar erevacinar 3 a 6 meses após. Apartir daí, revacinar anualmente.

Leitões aplicar uma dose aos 2 mesesde idade

Vacinação Focal ou PerifocalTodos osleitões commais de 21dias de idadee reprodutores

Uma dose da vacina; revacinar 6meses após apenas nos casosem que permaneça o risco deinfecção

Febre Aftosa

A vacina de eleição para uso em suínos deveser trivalente, contendo os tipos de vírus A, O eC, com vírus inativados e com adjuvante oleosode dupla emulsão. Com o uso dos adjuvantesoleosos de emulsão simples, podem ocorrerlesões ganglionares em frigorífico, passíveis deserem confundidas com as da tuberculose.

Existem atualmente no mercado de produtosveterinários do Brasil uma série de vacinas dedupla emulsão, com recomendação de uso parasuínos.

Gastroenterite Transmissível

Essa doença até hoje não foi diagnosticada comcerteza em nosso País. Ele provoca uma formagrave de diarréia em leitões na maternidade,podendo afetartambém animais com maior idade.Existem várias vacinas que podem ser utilizadasna sua profilaxia. Elas são produzidas com vírusvivos modificados ou inativados e são injetadaspor diferentes vias de aplicação (parenteral, oral,nasal). Essa vacina não está disponível no mer-cado brasileiro. Daí o fato de não se recomendarsua aplicação em rebanhos brasileiros, bem comodevido à falta de diagnóstico definitivo.

Leptospirose

A vacinação oferece uma proteção eficientecontra a leptospirose quando aliada a outrasmedidas preventivas, especialmente em granjasem que as condições ambientais favorecem ainfecção com leptospiras (muita umidade, criaçõesextensivas e presença de animais silvestres ouroedores, que poderiam infectar os suínos). En-tretanto, segundo Ellis (1992), a proteção induzida

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Tabela 7: Vacina para Leptospirose

Leitões 1a dose aos 21 dias de idade2a dose aos 42 dias de idade

Leitoas dereposição

1a dose 42 dias antes da 1a cober-tura2a dose 21 dias antes da 1a cober-tura

Porcas 1 dose 10 a 15 dias após o partoMachos 1 dose a cada 6 meses

pela vacinação nunca alcança 100% e, provavel-mente, não dura mais que 3 meses. A imunidadeà infecção natural permanece por um períodomaior. A duração precisa não é conhecida.

As vacinas contra a leptospirose são produzidasa partir de cultivos de bactéria em meios líquidosinativados por produtos químicos, contendo umadjuvante. As vacinas disponíveis para uso emnosso meio incluem entre 1 a 6 sorovares emsua composição (Leptospira (L.) pomona, L. gripp-typhosa, L. canicola, L. icterohaemorrhagiae, L.hardjo e L. bratislava), só ou associados a outrosantígenos (p. ex, o parvovírus). A imunidadeé específica em relação ao sorovar utilizado emsua fabricação. Deve oferecer proteção específicacontra os tipos de leptospiras predominantes naregião.

Meningite Estreptocócica

Em função da grande diversidade de tipos cap-sulares da bactéria, os resultados obtidos até omomento com o uso de vacinas contra a infecçãopelo Streptococcus suis têm sido inconsistentes.

Não existem até o momento, no Brasil vacinascomerciais contra esse tipo de infecção. Noentanto, para controle de alguns surtos de menin-gite estreptocócica têm sido elaboradas vacinasautógenas, variando o esquema de vacinaçãoutilizado. Pesquisadores franceses e americanos,utilizando o esquema de vacinação abaixo, con-stataram uma queda na taxa de mortalidade pormeningite estreptocócica.

Parvovirose

A infecção de fêmeas suínas antes dos 80 diasde gestação com o parvovírus causa mortalidadedos embriões e fetos. Essa patologia é muitocomum em nosso meio. Existem vacinas vivase inativadas para a prevençãao do problema,eficientes em prevenir a ocorrência de sintomasnos animais infectados.

Tabela 8: Vacina para Meningite Estreptocócica

Leitõesdesmama-dos

1a dose logo após o desmame2a dose 3 semanas após

Animais dereprodução

primíparas: 2 doses, com 3 sem-anas de intervalo, antes da cober-turaprimíparas e multíparas: 2 doses, 6e 3 semanas antes de cada partocachaços: cada 6 meses, 2 dosescom intervalo de 3 semanas

Terminação aplicar uma dose no início da termi-nação

Tabela 9: Vacina para Parvovirose

Leitões(reposição)

1a dose aos 170-180 dias de idade2a dose aos 190-200 dias de idade

Machos 1a dose 5 a 6 semanas antes de serutilizado pela primeira vez2a dose 15 a 20 dias após aprimeira vacinação.A partir daí, revacinar anualmente

Porcas 10 a 15 dias após o 1o, 2o, 3o, 5o,7o e 9o parto.

As vacinas disponíveis no Brasil consistem desuspensões inativadas do crescimento do vírusem cultivos celulares, adicionadas de um adju-vante.

Peste Suína Clássica

A peste suína clássica é uma doença que afetaexclusivamente os suínos. Ocorre numa formaaguda (com mortalidade muito alta), ou em formasmenos graves (quadros crônicos ou em formasque afetam negativamente a reprodução dos an-imais contaminados). As vacinas disponíveis parauso em nosso meio são produzidas com amostrasde vírus vivo modificado (“cepa chinesa”). Confer-em uma imunidade bem mais sólida e duradourado que aquela induzida pelas vacinas à base devírus inativado.

Essa vacina gera anticorpos que não podem serdiferenciados – com o uso de técnicas conven-cionais de laboratório – daqueles presentes emanimais doentes ou mesmo em portadores. Daí asua contra-indicação para uso em áreas livres dovírus. No Brasil, está sendo usada presentementeapenas nas áreas ainda não declaradas livres daPSC.

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Tabela 10: Vacina para Peste suína clássica

Leitões filhos de porcas não vacinadas:vacinar aos 14 dias de idadefilhos de porcas vacinadas: vacinaraos 60 dias de idade

Leitoas durante a primeira quarentena ou30 a 45 dias antes da primeiracobrição

Porcas emgestação

vacinar entre 90 a 97 dias degestação na 3a, 5a, 7a, 9a, 11a

gestaçõesMachos vacinar uma vez ao ano

Tabela 11: Vacina para Pleuropneumonia

Leitões 1a dose aos 28 dias de idade2a dose aos 50 dias de idade

Leitoas eporcas emgestação

1a dose aos 70 dias de gestação2a dose aos 90 dias de gestação

Machos dereposição

2 doses, com intervalo de 3 sem-anas, na época de seleção; após,revacinar semestralmente

Pleuropneumonia

O agente etiológico é o Actinobacillus pleurop-neumoniae. A doença causa pleuropneumoniaem suínos. Existem vários tipos sorológicos debactéria. A gravidade da infecção com cursosubclínico pode variar, dependendo dos sorotipose da imuunidade natural do rebanho.

Existem dois tipos básicos de vacinas: as queprotegem contra todos os sorotipos e vacinas desorotipos específicos (vacinas autógenas). Sãoconsideradas eficazes em reduzir quase total-mente as manifestações clínicas graves e a mor-talidade causada pela doença, não conseguindo,entretanto, prevenir a ocorrência de infecção. Aoabate, é observado uma redução das lesões depneumonia e aderências pleurais nos animaisvacinados.

No Brasil, a maioria das amostras isoladastêm sido classificadas como sorotipo 5. Asvacinas comerciais disponíveis em nosso país sãoadequadas para proteger nesse caso, pois, entreos sorotipos nelas incluídos, consta o 5 (em geralcontêm os sorotipos 1, 3, 4 e 5).

Pneumonia Enzoótica

A doença é causada pelo Mycoplasma hyop-neumoniae, que provoca um quadro pneumônico,

Tabela 12: Vacina para Pneumonia Enzoótica

Leitões 1a dose aos 7 ou 14 dias de idade2a dose aos 21 ou 35 dias de idade

Leitoas emgestação

1a dose aos 60 ou 67 dias degestação2a dose aos 90 ou 97 dias degestação

Porcas emgestação

Aos 90 ou 97 dias de gestação

Machos Por ocasião da seleção, duas dos-es com 21 dias de intervalo. Apartir daí, revacinar anualmente.

cuja gravidade pode ser aumentada pela presençade fatores de risco nas granjas tais como ambi-ente desfavorável, falta de higiene, excesso delotação, má nutrição e ocorrência de infecçõessecundárias.

Os trabalhos sobre vacinas e vacinações contraa pneumonia enzoótica ainda estão num estágiode franca evolução. Só recentemente forampublicados trabalhos sobre vacinas capazes deproteger eficientemente os leitões após a exe-cução de um programa de vacinação. Nos últimostrês anos, foram lançadas algumas vacinas com-erciais, inclusive no Brasil. São produzidas a partirda inativação do crescimento do Mycoplasma hy-opneumoniae, em caldo acrescido de adjuvante.

Existe uma escassa casuística com relação aouso desse tipo de vacina em nosso meio, porsua introdução recente no mercado de produtosveterinários no Brasil. Assim, deve-se avaliar pre-liminarmente a relação custo/benefício em cadacaso, antes do uso desses produtos, para concluirsobre a viabilidade econômica e técnica de suautilização.

Rinite Atrófica Progressiva

A infecção nasal com Bordetella bronchiseptica(Bb) e/ou Pasteurella multocida (Pm), quandoassociada com alguns estressores (como errosde manejo, deficiências ambientais, má nutriçãoe má higiene ambiental), causa um quadro derinite. A principal consequência dessa infecçãono nariz é a redução da resistência dos animaisdoentes às pneumonias. Porém, pelo menos nocaso da infecção com a Pm, se reconhece queexiste também um efeito sistêmico da toxina queé liberada pela bactéria, causando uma reduçãode crescimento do animal.

Existem vacinas disponíveis no nosso meiopara controlar a doença. De maneira geral, a

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Tabela 13: Vacina para Rinite Atrófica Progressiva

Leitões 1a dose no 7o ou 14o dias de vida2a dose no 28o ou 35o dias de vida

Leitoas 1a dose entre 60 a 70 dias degestação2a dose entre 90 a 100 dias degestação

Porcas entre 90 a 100 dias de gestação.Machos 1a dose entre 180 a 190 dias de

idade. Após, uma dose a cada 6meses.

sua utilização não evita a infecção, mas servepara reduzir de forma muito significativa os efeitosnegativos causados pela doença. Esses produtosconsistem de cultivos totais da bactéria inativados(bacterinas), em alguns casos adicionados deuma suspensão inativada de toxinas produzidaspela Pm (toxóide).

Salmonelose

Existem duas formas clínicas de salmoneloseimportantes para os suínos: uma entérica e outrasepticêmica. No nosso meio, a maioria dos surtoscom manifestações clínicas da doença têm sidocausados por apenas dois sorotipos (Salmonellacholeraesuis e Salmonella typhimurium). Mas ex-istem abundantes relatos da associação de outrossorotipos com a doença nessa espécie. Apesarde haver evidências de imunidade cruzada entresorotipos, para que se estabeleça uma imunidadesólida é necessário que a vacina contenhaaa tipossorológicos homólogos àqueles que causam asinfecções a campo.

Caso for decidido o uso da vacina, existemvários produtos desse tipo no mercado brasileiro.Todas são constituídas de bactérias inativadas(bacterinas), a maioria contendo a Salmonellacholeraesuis, outras associando essa espéciecom a Salmonella typhimurium.

Apesar de não haver uma uniformidade depensamento entre os veterinários brasileiros, arecomendação corrente consiste em vacinar ape-nas aqueles rebanhos que venham a apresentarproblemas clínicos de salmonelose.

Tabela 14: Vacina para Salmonelose

Leitões 1a dose aos 21 dias de idade2a dose aos 60 dias de idade

Leitoas 1a dose aos 70 dias de gestação2a dose aos 90 dias de gestação

Fêmeas uma dose aos 90 dias de gestação;repetir uma vez ao ano

Machos dereposição

2 doses com intervalo de 3 sem-anas, na época da seleção. Após,revacinar anualmente

Falhas na vacinação

Em condições normais, a vacinação produzuma resposta imune no animal ou no reban-ho capaz de protegê-los, de formama evitar aocorrência de doenças. Nos casos em quechegarem a aparecer sinais clínicos nos animaisvacinados, a gravidade tende a ser menor e, emgeral, ocorre interferência significativa nos índiceseconômicos da criação. No entanto, em algumascircunstâncias, a resposta à vacinação não ésatisfatória. As causas dessas falhas podem estarrelacionadas com os seguintes componentes:

Condições dos animais a serem vacinados

O sistema imunológico de um animal ou de umlote de animais está sujeito a alterações em suasfunções e, consequentemente, na capacidade deresposta estímulo induzido por uma vacina. Aqueda na capacidade de defesa pode se associara aspectos do sistema imunológico, bem comoa fatores inespecíficos. Como exemplo, pode-secitar o funcionamento inadequado do sistema dedefesa mucociliar dos pulmões e da traquéia.

Concorre para o mau funcionamento do sistemaimunológico a desnutrição causada, por exem-plo, por falta de proteínas e má qualidade dadieta. Isso pode levar a uma indisponibilidade deaminoácidos essenciais, indispensáveis para umasuficiente síntese de anticorpos. Situação similaré observada no caso da ocorrência de doençascrônicas ou subclínicas, que podem não alteraro aspecto exterior dos animais, mas podem com-prometer a resposta imunológica. Como exemplo,são citadas as endo e ectoparasitoses, Doençade Aujeszky, Peste suína clássica (forma crônica),Síndrome reprodutiva e respiratória dos suínos,toxoplasmose, pneumonia enzoótica, brucelose ea forma crônica da salmonelose.

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O estresse também exerce efeitos negativosdiretos sobre o sistema imunitária. A maioria dosfatores que interferem no conforto dos animaispode levar à manifestação de sintomas de es-tresse. Quando vacinas são aplicadas em animaisnessas condições, pode ocorrer uma interferêncianegativa no processo de imunização.

Além destes fatores, a resposta à vacinaçãopode estar comprometida nas seguintes situ-ações:

• se por ocasião da vacinação o animal estiverincubando uma doença;

• caso se trate de uma doença para qual apresença de anticorpos circulantes não sejacapaz de proteger o animal. Isso podeocorrer para as doenças em que a imunidadecelular é o principal mecanismo de defesa, ounos casos em que os anticorpos gerados nãosejam específicos contra o agente causadorda doença (p. ex., uma vacina que estejasendo produzida com um sorotipo diferentedaquele que está causando o surto a campo);

• no caso da vacinação de leitões lactentesou recém-desmamados, pode ocorrer que apresença de anticorpos maternos adquiridosatravés do colostro venha a neutralizar oantígeno vacinal, mesmo antes de ele tertido a oportunidade de provocar uma respostaimune;

• ciclo da população suína em um rebanho émuito rápido, envolvendo duas ou mais leite-gadas por porca a cada ano. Um programa devacinação numa propriedade deve ser aplica-do de uma forma muito rígida, pois essa é aúnica maneira de garantir um grau eficientede imunidade no rebanho. grande númerode criadores, por comodidade, não segue oesquema prescrito. No caso de falha, tendema culpar a vacina ou o técnico responsável.Nesse contexto, já foram registrados surtosde erisipela, parvovirose e de peste SuínaClássica em granjas com rebanho vacinado,sendo que a causa real foi o não-seguimentodo esquema de vacinação prescrito ou o usode vacinas fora das específicações;

• se ocorrer uma ingestão de baixa quantidadede colostro: isso pode coincidir com casos dedesconforto ambiental ou quando estiveremocorrendo doenças que afetam a qualidadeda lactação da fêmea;

• uma preocupação atual e crescente comrelação à eficiência das vacinas e programasde vacinação em granjas de suínos se refereaos possíveis efeitos negativos que as afla-toxinas (AT) apresentam no desenvolvimentoda imunidade em animais vacinados. A maiscomum e mais potente é a AT B1 e seu efeitoimunosupressivo seria mediado pela ação nainvolução do timo e dos linfócitos derivadosdo timo, interferindo, dessa forma, na respos-ta imune do hospedeiro. A constatação dapresença significativa de contaminação comaflatoxinas nas rações fornecidas aos animaisindica um risco potencial de interferêncianos programas de vacinação que vêm sendousados.

Capacitação dos funcionários

A vacinação é um procedimento que exigeconhecimentos técnicos, e, nesse contexto, ofuncionário responsável por sua aplicação deveser treinado. Vacinas mal conservadas, malmanejadas ou incorretamente aplicadas podemresultar numa falha na indução de imunidade.Por exemplo, a aplicação de uma vacina fora dolocal ou via recomendada pode prejudicar suaabsorção e metabolização. E uma aplicaçãocom a ocorrência de refluxo pode resultar nu-ma disponibilidade insuficiente de antígeno paragarantir uma adequada indução de imunidade.

Manejo e aplicação da vacina

Os principais problemas relacionados com apli-cação das vacinas que podem interferir no proces-so de formação de anticorpos são:

• utilização de vacinas com prazos de validadevencidos.

• má conservação da vacina: alguns antígenospresentes na maioria das vacinas são ter-molábeis. Dessa forma, perdem a capaci-dade de induzir a formação de anticorposquando mantidas fora da temperatura con-siderada ideal. Da mesma forma, vacinascongeladas perdem a capacidade imunogêni-ca. As vacinas devem ser estocadas, trans-portadas até o local de aplicação e mantidasaté o momento do uso conforme a prescriçãodo fabricante. Após o uso, as vacinas devemretornar imediatamente à geladeira. O idealseria usar a totalidade da vacina dos frascos,eliminando o volume não usado.

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Page 10: Vacinação nos suinos

• utilização de seringas e agulhas sujas para aaplicação das vacinas.

• existência de alta pressão infectiva na granjaem que se vai usar a vacina: em geralresulta da falta de higiene. Após a vaci-nação, o animal necessita de alguns dias,antes que ocorra uma resposta imune capazde defendê-lo contra uma eventual infecção.Quando for vacinado e simultaneamente ex-posto a uma alta pressão infectiva, podeapresentar sinais clínicos da doença, antesde ter tempo de gerar imunidade. Além disso,sabe-se que a imunização pode auxiliar oanimal a suportar até um determinado nívelde agressão por um agente microbiano. Emcasos de superagressão, pode haver umafalha imunitária.

Considerações finais

Um programa de vacinação exige esforçoscoordenados entre o veterinário e o proprietárioda granja. A vacina representa um recurso paraprevenir o surto de determinada doença. Elafornece ao animal o antígeno que estimula seuorganismo para que produza anticorpos.

Um programa de vacinação é facilmente aceitopor qualquer criador de suínos. No entanto, oresultado obtido pelo seu uso varia de rebanhopara rebanho, em função da qualidade de suautilização.

Muitos criadores acreditam que, uma vez im-plantado um programa de vacinação, sempre seráalcançado o controle de determinadas doenças.Quando isso não acontece, eles tendem a respon-sabilizar o veterinário que recomendou a vacinaou decidem desconfiar da qualidade do produtoutilizado. Essa é uma posição muito cômoda. Emgeral, o produtor não aceita a responsabilidadepor falhas nos programas de aplicação de vacinas.

Dessa forma, fica evidente que o estado deimunidade de um animal ou de um rebanhonão depende exclusivamente do veterinário eda qualidade da vacina aplicada. Depende,primordialmente, de uma série de ações queestão ligadas diretamente ao manejo, que são deresponsabilidade do proprietário da granja.

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