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Centro Universitário Adventista de São Paulo Seminário Latino-Americano de Teologia Programa de Mestrado em Teologia Revelação e Inspiração Uma Perspectiva Fernando Beier UNASP 2011

Beier revelação e inspiração

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Centro Universitário Adventista de São Paulo Seminário Latino-Americano de Teologia

Programa de Mestrado em Teologia

Revelação e Inspiração Uma Perspectiva

Fernando Beier

UNASP 2011

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Introdução A matéria de Teologia da Revelação, do programa de mestrado em Teologia, sob a supervisão do Dr. Roberto Pereyra, trouxe-me a tona o interesse em conhecer melhor os aspectos da Revelação-Inspiração no contexto da teologia bíblica e sistemática. Nos últimos séculos, centenas de sinceros estudiosos cristãos buscaram na Bíblia a origem do conhecimento sobre Deus e a vida. Desde a honesta fé na Bíblia como a exata Palavra de Deus até o ceticismo declarado (passando pelo agnosticismo e misticismo), o ser humano percorreu um longo caminho, e dezenas de métodos de interpretação foram propostos para depois serem abandonados. No que diz respeito a revelação e inspiração das Escrituras, teólogos e filósofos sempre margearam em torno de três modelos de compreensão da origem bíblica: o clássico, o moderno e o evangélico. Histórico No modelo clássico, a influência foi a cultura e filosofia grega, principalmente os escritos de Platão – uma interpretação atemporal do mundo natural. O modelo moderno, baseado principalmente nas idéias filosóficas de Emmanuel Kant, impôs a razão uma incapacidade de compreender o atemporal. Por sua vez, o modelo evangélico partiu para uma batalha apologética contra o modernismo, e pousou sobre a crença na inerrância da Bíblia. Foi então que aconteceu uma virada inesperada. Enquanto a maioria dos teólogos – os que ainda trabalhavam com o tema da revelação-inspiração – ocupava-se com conceitos que visitava os modelos clássico, moderno e evangélico, um jovem filósofo alemão optou por outro caminho. Em 1927, Martin Heidegger publica sua obra O Ser e o Tempo, e lança as raízes do pós-modernismo. Este movimento cultural acabou afetando também a filosofia e a teologia, pois o “relativismo cultural substituiu a visão unificada da sociedade, predominante no período clássico e moderno”.1 Ao afirmar que a realidade não é atemporal, mas sim temporal, Heidegger rompeu com os modelos anteriores, oferecendo a oportunidade para o desenvolvimento de um novo modelo de interpretação da revelação-inspiração. Um modelo que extrai suas pressuposições hermenêuticas diretamente do pensamento bíblico e não mais da dogmática filosófica. O Novo Modelo O novo modelo, chamado de “histórico-cognitivo”, parte do princípio que a natureza temporal de Deus é auto-evidente na Bíblia; ou seja, Ele age dentro do tempo, sem estar preso ao tempo. Isso acontece para que a mensagem divina atinja a capacidade cognitiva do homem, que é uma criatura temporal. Tendo tal princípio em vista, podemos crer que Deus se revela de maneira invisível (interferindo no fluxo normal das causas históricas e naturais), ou de forma visível, tendo na vida de Jesus o exemplo mais contundente. Um Processo Divino-Humano

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Tudo isso me faz pensar na maneira como a Palavra de Deus chegou até nós. Em resumo, Deus primeiro escolhia o veículo humano para receber a mensagem. Em seguida transmitia tal verdade através de sonhos ou visões. Esta revelação era então codificada em linguagem humana pelo processo de inspiração, onde a atuação do profeta era transmitir a mensagem ao povo dentro de sua capacidade intelectual e cultural. Foi interessante perceber o quanto nossas pressuposições interferem na maneira como compreendemos a revelação-inspiração de Deus. Nossa hermenêutica acaba sendo afetada. Mas o modelo histórico-cognitivo resgata a Bíblia como a base inconteste da verdadeira teologia cristã. Pude compreender melhor, através do modelo histórico-cognitivo, a verdadeira realidade quanto a Bíblia – ela é de fato a Palavra de Deus. Sem dúvidas, o Dr. Fernando Canale, com sua obra O Princípio Cognitivo da Teologia Cristã, realizou um grande trabalho. Um trabalho que vai além dos meios acadêmicos e atinge o coração espiritual do leitor. 1 CANALE, Fernando, O Princípio Cognitivo da Teologia Cristã, Engenheiro Coelho: SP, Unaspress, 2011,

p. 207.