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O Evangelho Segundo MARCOS

Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

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O Evangelho Segundo

MARCOS

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O Evangelho Segundo

MARCOS

Introdução

1. Título — Os mais antigos manuscritos existentes ostentam o simples título “Segundo Marcos”. Posteriormente, quando o termo “evangelho" passou a ser aplicado à história da vida e do ministério de Jesus, ele foi incorporado ao título deste livro. O título encontrado na ARA, “O Evangelho Segundo Marcos”, ocorre apenas em manuscritos recentes.

2. Autoria — O testemunho unânime e coerente da tradição cristã aponta para João Marcos como o autor do evangelho que leva seu nome. O nome Marcos vem do latim Marcus, sobrenome do autor (At 12:12, 25). Seu primeiro nome era João (ver At 13:5, 13). O nome de sua mãe era Maria (At 12:12). Ele era primo de Barnabé (Cl 4:10), o qual havia residido na ilha de Chipre (At 4:36). O lar de Marcos em Jerusalém parece ter sido a casa em que estava o “cenáculo” (ver Mt 26:18), onde, pelo menos temporariamente, alguns dos apóstolos moraram após a ressurreição c a ascensão (Jo 20:19; At 1:13) e onde os membros da igreja primitiva em Jerusalém se reuniam (At 12:12). João Marcos participou do início da primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé (At 13:5, 13). Numa viagem posterior, Marcos acompanhou Barnabé à ilha de Chipre (At 15:36-39). Parece que ele trabalhou, mais tarde, sob a direção de Pedro e Paulo (IPe 5:13; Cl 4:10; 2Tm 4:11). O fato de que o evangelho contém o nome de um homem tão desconhecido como Marcos, é uma evidência indireta de sua autenticidade e de sua autoria. Se o livro fosse uma falsificação, o nome de uma pessoa mais conhecida e que havia estado pessoalmente associada com Jesus, como o apóstolo Pedro, teria sido, sem dúvida, incorporado a ele. Não há razão plausível para se duvidar da autenticidade do livro ou de que Marcos tenha sido seu autor. Papias, bispo da cidade de Hierápolis, a mais ou menos 30 km de Colossos e 16 km Laodiceia, na Ásia Menor, é o primeiro escritor conhecido que fala de Marcos como autor deste evangelho. Em Interpretations, conforme citado em Eusébio (Ecclesiastical History, iii.39; ed. Loeb, v. 1, p. 297), ele afirma:

“O presbítero (muito provavelmente o presbítero João), costumava dizer que Marcos se tornou o intérprete de Pedro e escreveu com diligência tudo quanto conseguiu lem­brar, embora não exatamente na mesma ordem das palavras ditas ou das realizações do Senhor. Pois ele não ouvira o Senhor, nem O havia seguido, mas depois, como já disse, 1 seguiu a Pedro, o qual costumava ensinar conforme a necessidade o exigia, mas sem orga­nizar, por assim dizer, as palavras do Senhor. De modo que Marcos não fez nada errado ao descrever alguns pontos à medida que se lembrava deles. Porém, ele tinha um objetivo específico: não omitir nada do que havia ouvido e tampouco acrescentar qualquer infor­mação inverídica.”

Esta declaração está em harmonia com a referência de Pedro a Marcos como “meu filho” (IPe 5:13).

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O relato cie Papias é geralmente interpretado para se inferir que Marcos atuava como tradutor do apóstolo Pedro quando ele se dirigia a ouvintes em cuja língua não era fluente. Possivelmente isso ocorria ao viajar por terras onde o aramaico, língua nativa de Pedro, não era falado (ver, porém, AA, 40). Provavelmente Marcos traduziu o relato de Pedro sobre o evangelho tantas vezes, que se tornou familiarizado com ele e, assim, foi preparado para escrever a narrativa do evangelho sob a inspiração do Espírito Santo. A maioria dos erudi­tos concorda que o registro de Marcos é o mais antigo dos quatro evangelhos.

Os pais da igreja não têm um consenso quanto a ter Marcos escrito antes ou depois da morte de Pedro (c. 64-66 d.C.). Irineu de Lyon (c. 185 d.C.) declarou que o evangelho de Marcos foi escrito depois que Pedro morreu (Contra Heresias, iii.1.1). Clemente de Alexandria (c. 190 d.C.), por outro lado, situa a narrativa de Marcos durante o período de vida de Pedro (Eusébio, op. cit., vi.14.5-7; ed. Loeb, v. 2, p. 47, 49). Este último ponto de vista parece mais de acordo com as informações disponíveis. Mas, seja qual for o caso, a redação deste evan­gelho deve se situar entre os anos 55 e 70 d.C.

Muitas declarações no evangelho de Marcos tornam evidente que ele foi escrito para leitores não judeus. Palavras como kenturiõn (latim, centurio, "centurião”; Mc 15:39) e spekoulator (latim, speculator, “executor”; Mc 6:27) sugerem que, embora escrito em grego, a língua da cultura, ele era dirigido aos romanos. Marcos poderia ter usado as palavras gre­gas comuns para esses oficiais, em vez do latim, mas ele parece ter escolhido repetidas vezes palavras latinas transliteradas em grego, provavelmente porque elas seriam mais familiares aos seus leitores. Ele explica as moedas palestinas (Mc 12:42), obviamente porque seus pre­tendidos leitores não estavam familiarizados com elas. De modo semelhante, ele explica a páscoa judaica (Mc 14:12); háhitos dos fariseus (Mc 7:3, 4); e traduz várias palavras e expres­sões aramaicas (Mc 5:41; 7:34; 15:34). Nada disso seria necessário para leitores palestinos. Ao mesmo tempo, o escritor era obviamente um judeu que conhecia o aramaico e estava familiarizado com o AT, o qual ele cita, entretanto, da LXX.

3. Contexto histórico — Sobre o contexto histórico da vida e missão de Jesus, ver p. 273; 27 a 55.

4. Tema — Marcos é o menor dos evangelhos, mas em alguns aspectos é o mais ágil e vigo­roso de todos. Embora contenha apenas dois terços da extensão de Mateus, ele registra a maioria dos incidentes relatados neste último. Seu estilo é conciso, enérgico, incisivo, vívido, pitoresco e, com frequência, oferece detalhes significativos que os outros evangelistas não mencionam.

Marcos dá ênfase a Jesus como um Homem de ação, enquanto Mateus O apresenta como Mestre. Portanto, Marcos registra quase todos os milagres relatados pelos outros dois

► autores sinóticos. Uma palavra característica de Marcos é eutheõs (ou, euthus), "imediata- mente”, ou “logo”, que ele usa com mais frequência do que todos os outros evangelistas jun­tos (ver com. de Mc 1:10).

Marcos relata a vida de Cristo basicamente em ordem cronológica, não por tópicos como Mateus o faz. Sua ênfase nos milagres assinala claramente seu propósito de destacar o supre­mo poder de Deus evidenciado pelos “sinais” e “maravilhas” operados por Jesus. Este é o obje­tivo primário de Marcos, assim como o de Mateus é assinalar que Ele cumpriu as predições dos profetas do AT. Mateus prova que Jesus é o Messias, baseado no fato de que Ele é Aquele de quem os profetas deram testemunho. Marcos prova que Jesus é o Messias pelo testemu­nho que dá do Seu poder divino, o qual, presumivelmente, seria mais convincente aos leito­res a quem se dirigia - cristãos de origem gentílica, talvez romana (ver p. 178, 179, 273-276).

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5. Esboço — Um esboço cronológico completo do evangelho de Marcos está disponível nas p. 184 a 195, de modo que o esboço apresentado aqui cobre unicamente as fases mais destacadas da vida e ministério de Jesus:

I. Preparo para o ministério, outono, 27 d.C., 1:1-13.II. O ministério na Galileia, de Páscoa a Páscoa, 29-30 d.C., 1:14-7:23.

A. O início do ministério na Galileia, 1:14-34.B. A primeira viagem missionária, 1:35-45.C. O ministério em Cafarnaum e cercanias, 2:l-3:9.D. A segunda viagem missionária, 3:20-5:43.E. A terceira viagem missionária, 6:1—7:23.

III. Retirada do ministério público, da primavera ao outono, 30 d.C., 7:24-9:50.A. O ministério em regiões fronteiriças da Galileia, 7:24-8:10.B. Vislumbres da cruz, 8:11-9:50.

IV. O ministério na Pereia, do outono à primavera, 30-31 d.C., 10:1-52.V. Conclusão do ministério em Jerusalém, Páscoa, 31 d.C., 11:1-15:47.

A. Conflito com escribas e fariseus, 11:1—12:44.B. A profecia de Jesus sobre a queda de Jerusalém e Sua segunda vinda, 13:1-37.C. Prisão e julgamento de Jesus, 14:1-15:20.D. Crucifixão e sepultamento de Jesus, 15:21-47.

VI. Ressurreição e manifestações de Jesus, 16:1-20.

Capítulo 11. O ofício de João Batista. 9 Jesus é batizado e 12 tentado. 14 Ele começa a pregar.

16 Chama a Pedro, André, Tiago e João. 23 Cura um endemoniado, 29 a sogra de Pedro, 32 muitas pessoas enfermas e 40 purifica o leproso.

1 Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho dc Deus.

2 Conforme está escrito na profecia de Isaías: Eis aí envio diante da Tua face o Meu mensagei­ro, o qual preparará o Teu caminho;

3 voz do que clama no deserto: Preparai o ca­minho do Senhor, endireitai as Suas veredas;

4 apareceu João Batista no deserto, pregando ba­tismo de arrependimento para remissão de pecados.

► 5 Saíam a ter com ele toda a província da Judeiae todos os habitantes de Jerusalém; e, confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão.

6 As vestes de João eram feitas de pelos de camelo; ele trazia um cinto de couro e se alimen­tava de gafanhotos e mel silvestre.

7 E pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de, curvando-me, desatar-Lhe as correias das sandálias.

8 Eu vos tenho batizado com água; Ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo.

9 Naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galileia e por João foi batizado no rio Jordão.

10 Logo ao sair da água, viu os céus rasgarem- se e o Espírito descendo como pomba sobre Ele.

11 Então, foi ouvida uma voz dos céus: Tu és o Meu Filho amado, em Ti Me comprazo.

12 E logo o Espírito o impeliu para o deserto,13 onde permaneceu quarenta dias, sendo

tentado por Satanás; estava com as feras, mas os anjos O serviam.

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14 Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galilcia, pregando o evangelho de Deus,

15 dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho.

16 Caminhando junto ao mar da Galileia, viu os irmãos Si mão e André, que lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores.

17 Disse-lhes Jesus: Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens.

18 Então, eles deixaram imediatamente as redes e O seguiram.

19 Pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zchcdcu, c João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes.

20 E logo os chamou. Deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os empregados, segui­ram após Jesus.

21 Depois, entraram em Cafarnaum, e, logo no sábado, foi Ele ensinar na sinagoga.

22 Maravilhavam-se da Sua doutrina, por­que os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.

23 Não tardou que aparecesse na sinagoga um homem possesso de espírito imundo, o qual bradou:

24 Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus!

25 Mas Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te e sai desse homem.

26 Então, o espírito imundo, agitando-o vio­lentamente e bradando em alta voz, saiu dele.

27 Todos se admiraram, a ponto de pergunta­rem entre si: Que vem a ser isto? Uma nova dou­trina! Com autoridade Ele ordena aos espíritos imundos, e eles Lhe obedecem!

28 Então, correu célere a fama de Jesus em todas as direções, por toda a circunvizinhança da Galileia.

29 E, saindo eles da sinagoga, foram, com Tiago e João, diretamente para a casa de Simâo e André.

30 A sogra de Simão achava-se acamada, com febre; e logo Lhe falaram a respeito dela.

31 Então, aproximando-Se, tomou-a pe\a mão; e a febre a deixou, passando ela a servi-los.

32 À tarde, ao cair do sol, trouxeram a Jesus todos os enfermos e endemoninhados.

33 Toda a cidade estava reunida à porta.34 E Ele curou muitos doentes de toda sorte

de enfermidades; também expeliu muitos demô­nios, não lhes permitindo que falassem, porque sabiam quem Ele era.

35 Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto e ali orava.

36 Procuravam-No diligentemente Simão e os que com Ele estavam.

37 Tendo-O encontrado, Lhe disseram: Todos Te buscam.

38 Jesus, porém, lhes disse: Vamos a ou­tros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que Eu pregue também ali, pois para isso é que Eu vim.

39 Então, foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expelindo os demônios.

40 Aproximou-se dele um leproso rogando- Lhe, de joelhos: Se quiseres, podes purificar-me.

41 Jesus, profundamente compadecido, es­tendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: Quero, fica limpo!

42 No mesmo instante, lhe desapareceu a lepra, e ficou limpo.

43 Fazendo-lhe, então, veemente advertên­cia, logo o despediu

44 e lhe disse: Olha, não digas nada a nin­guém; mas vai, mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para servir de testemunho ao povo.

45 Mas, tendo ele saído, entrou a propalar muitas coisas e a divulgar a notícia, a ponto de não mais poder Jesus entrar publicamen­te cm qualquer cidade, mas permanecia fora, em lugares ermos; e de toda parte vinham ter com Ele.

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1. Princípio. Diferentemente de Mateus e Lucas, que narram episódios da infância de Jesus, Marcos inicia seu evangelho com o momento em que Jesus começou o Seu ministério público. A descida do Espírito Santo e o anúncio de João Batista de que Jesus era o Messias, assinalam Seu batismo como o início de Seu ministério público. Segundo Marcos, portanto, o evangelho, a “boa-nova” sobre Jesus Cristo, inicia-se com o cumprimento da profecia do AT em Seu batismo (v. 2-11).

Evangelho. Do gr. euaggelion, “boas- novas”. A palavra “evangelho” se releria origi­nalmente às “boas-novas” de que o Messias havia de fato vindo à Terra, conforme fora predito pelos profetas. Posteriormente, o termo foi aplicado ao relato da vida de Jesus e, mais tarde, aos vários documentos, ou evan­gelhos, nos quais o registro foi preservado. Provavelmente aqui é usado em seu sentido original.

Jesus Cristo. Ver com. de Mt 1:1.Filho de Deus. A evidência textual se

divide (cf. p. 136) entre manter e omitir estas palavras (sobre Jesus como o “Filho de Deus”, ver com. de Lc 1:35).

2. Conforme está escrito. [A prega­ção de João Batista, Mc 1:1-6 = Mt 3:1-6 = Lc 3:1-6. Comentário principal: Mt e Lc]. Ao apresentar a Jesus de Nazaré como o Mes­sias, Marcos assinala a evidencia que con­firma o cumprimento exato da profecia doAT - como o próprio Jesus fez (Lc 24:25, 27, 44) e como o fizeram os escritores do Nd’ em geral. O testemunho da profecia cumprida é apresentado na Bíblia como uma das pro­vas mais fortes da verdade da fé cristã (vei­ls 41:21-23; 44:7; 46:9, 10; ver DTN, 799). As citações de Marcos (Mc 1:2, 3) são extraídas de Malaquias 3:1 e Isaías 40:3, e se aproximam mais da LXX do que do texto hebraico.

Na profecia de Isaías. Ver com. de Mt 3:3. A evidência textual está dividida

(cf. p. 136) entre esta variante e “os profetas”. A citação é de Malaquias e Isaías (comparar com a referência geral de Mateus ao cumpri­mento do “que fora dito, por intermédio dos profetas”, ver com. de Mt 2:23).

Diante da Tua face. Ver com. de Mt 3:3. Semelhantemente, Jesus, mais tarde, enviou os setenta “adiante da Sua face” (ARC) “em cada cidade e lugar aonde Lie estava para ir” (Lc 10:1).

Mensageiro. João Batista foi o men­sageiro predito por Isaías e Malaquias; sua mensagem consistia no anúncio de que o Messias, o “Anjo da aliança” (Ml 3:1), havia surgido.

3. Voz. Ver com. de Mt 3:3; cf. Jo 1:23.4. Arrependimento. Ver com. de Mt 3:2.

O batismo de João era um “batismo de arre­pendimento” porque se caracterizava pelo arrependimento. O ato do batismo não garan­tia o arrependimento nem o perdão. Mas o batismo não seria genuíno a menos que fosse caracterizado por essas experiências.

Remissão. Ou, “perdão” (ver com. de Mt 3:6).

5. No rio Jordão. Um detalhe que somente Marcos apresenta.

7. Pregava. [João dá testemunho de Jesus, Mc 1:7, 8 = Mt 3:11, 12 = Lc 3:15-20 = Jo 1:19-28). O anúncio do Messias era uma característica e componente habitual da pre­gação de João.

Desatar-Lhe. Uma expressão utilizada apenas por Marcos, a fim de destacar a natu­reza servil do ato (ver com. de Mt 3:11).

Correias. O calçado em realidade eram sandálias que protegiam apenas a sola dos pés (ver com. de Mt 3:11). Os cordões, ou “correias” prendiam as sandálias aos pés.

9. Naqueles dias. [O batismo de Jesus, Mc 1:9-11 = Mt 3:13-17 = Lc 3:21, 22 = Jo 1:32-34. Comentário principal: Mt]. Isto é, nos dias do ministério de João.

No rio Jordão. Ver com. do v. 5. Marcos se refere ao fato de que os batismos eram

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realizados “no rio Jordão”, e que, após o ► batismo, os candidatos saíam “da água”

(v. 10). Esta é uma forte evidência de que o batismo de João era por imersão.

10. Logo. Do gr. eutheos, “imediata- mente”, “em seguida”, uma palavra muito utilizada em Marcos. Se Marcos escre­veu seu evangelho com o auxílio de Pedro, como geralmente se pensa (ver p. 611, 612), esta característica pode refletir a maneira vigorosa, descritiva e eloquente de Pedro pregar.

Abertos (ARC). Do gr. schizõ, que é um termo mais forte do que o utilizado pelos outros evangelistas, equivalente a “rasgarem- se” (ARA).

12. O Espírito O impeliu. [A tentação de Jesus, Mc 1:12, 13 = Mt 4:1-11 = Lc 4:1-13. Comentário principal: Mt].

13. Estava com as feras. Tais como lobos, javalis, hienas, chacais e leopardos da Palestina. As feras são mencionadas talvez com o fim de ressaltar o isolamento, a soli­dão e os perigos do deserto.

14. Depois. [Jesus volta para a Gali- leia, Mc 1:14, 15 = Mt 4:12-17 = Lc 4:14, 15. Comentário principal: Mt. Ver Nota Adicio­nal a Lucas 4; gráfico, p. 226].

15. Tempo. Do gr. kairos. Esta palavra se refere a um tempo particularmente aus­picioso (ver Mt 13:30; 16:3; 21:34; 26:18; Lc 19:44; Jo 7:6; Rm 5:6; Ef 1:10). Neste caso, trata-se da vinda do Messias e do esta­belecimento do Seu reino. O termo parece ter sido usado frequentemente com referên­cia particular à vinda do Messias e ao fim do mundo (ver Mc 13:33; Lc 21:8; Ef 1:10; Ap 1:3). O anúncio de Jesus de que “o tempo está cumprido e o reino de Deus está pró­ximo”, foi igual ao da mensagem de João Batista (ver Mt 3:2). O povo entendeu isto como uma declaração de que o reino mes­siânico estava prestes a ser estabelecido. No conceito popular, como também no de João, isto envolvia o estabelecimento de

um reino terreno para os judeus e seu sub­sequente triunfo sobre todos os inimigos (ver DTN, 103). Este equívoco continuou durante todo o ministério de Jesus e só foi corrigido na mente de Seus discípulos após a ressurreição (ver Lc 24:13-32; At 1:6, 7), embora, através de Suas parábolas, repeti­das vezes Jesus houvesse ensinado que o reino que Ele havia vindo estabelecer era, fundamentalmente, espiritual (ver Mt 4:17; 5:3; cf. 13:1-52).

O anúncio de Jesus de que “o tempo está cumprido” se referia à profecia das 70 sema­nas em Daniel 9:24 a 27, próximo ao fim do qual “o Ungido, o Príncipe” “fará firme aliança com muitos” e “será morto” (ver DTN, 233; GC, 327). Nos dias de Cristo, alguns, pelo menos, sabiam que esse período de tempo de Daniel estava quase terminando (DTN, 31, 33, 34). “Vindo, porém, a pleni­tude do tempo, Deus enviou Seu Filho” ao mundo (G1 4:4). Quando Jesus iniciou o Seu ministério, o tempo estava maduro para o estabelecimento do Seu reino (ver DTN, 32, 36, 37).

16. Caminhando. [A vocação de discí­pulos, Mc 1:16-20 = Mt 4:18-22 = Lc 5:1-11. Comentário principal: Lc]. Literalmente, “ao Ele passar”.

Simão. Ver com. de Mc 3:16. Marcos usa o nome Simão (Mc 3:16), ao narrar o fato de que Jesus deu a Simão o nome de Pedro e, então, com uma exceção (Mc 14:37), ele emprega o último nome.

17. Eu vos farei. Transformar pesca­dores comuns em pescadores de homens envolveria um longo e demorado processo de treinamento. Pedro, André, Tiago e João eram pescadores experimentados, porém, a partir de então, deveriam adquirir novas habilidades.

20. Empregados. Zebedeu não foi dei­xado só em seu trabalho. Aceitar o cha­mado para se tornar um dos discípulos de Jesus não significava que os quatro homens

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negligenciariam suas obrigações filiais. A presença de “empregados” implica um negócio amplo e bem-sucedido. Somente Marcos registra esse interessante detalhe da narrativa.

21. Entraram. [A cura de um ende- moniado em Cafarnaum, Mc 1:21-28 = Lc 4:31b-37. Comentário principal: Mc. Ver mapa, p. 215; gráfico, p. 228; sobre mila­gres, ver p. 204-210]. Literalmente, “eles vão". Marcos, frequentemente, usa o verbo no presente a fim de dar um toque de reali­dade vívida a sua narrativa. O plural “entra­ram” inclui Jesus e os quatro discípulos aos quais Ele havia chamado.

Cafarnaum. Ver com. de Lc 4:31.No sábado. Ver com. de Lc 4:16, 31. Não

se deve inferir dessa narrativa em que Marcos se move com rapidez, que os discípulos esti­vessem pescando no sábado. “Logo”, neste caso, simplesmente indica o sábado seguinte

► ao incidente narrado em Marcos 1:16 a 20.Na sinagoga. Sobre a antiga sinagoga e

suas cerimônias, ver p. 44, 45.22. Maravilhavam-se. Ver com. de

Mt 4:13.Sua doutrina. Isto é, “Seus ensinos".Autoridade. Esta característica punha

os ensinos de Cristo em acentuado contraste com os dos escribas e era comentada repe­tidas vezes por aqueles que O ouviam (ver Mt 7:29; Mc 1:27; etc.). Em vez de apoiar-se no que os homens do passado haviam pen­sado e escrito, e apelar para isso como fonte autorizada, Jesus falava como sendo Ele pró­prio a autoridade recebida diretamente do Pai. Os escribas tinham o costume de dizer que determinado rabino havia dito isto e aquilo, ao passo que Jesus declarava: “Eu, porém, vos digo” (Mt 5:22). E verdade hoje, como o era no passado, que unicamente a apresentação de verdades espirituais pode proporcionar cura aos pecadores.

Escribas. Professores oficiais da lei e da tradição. A maioria deles era fariseu.

Esses expositores profissionais da lei oral e escrita estavam em constante controvér­sia com Jesus (ver Mt 22:34-46; 23:13, 14). Frequentemente revelavam um legalismo extremado que procurava determinar se eram apropriados até mesmo os atos mais insignifi­cantes da vida. Muitas vezes, explicavam as Escrituras de modo a lançar dúvidas quanto ao seu significado, em vez de torná-la clara, e se ocupavam com as tradições dos patriar­cas, os quais consideravam iguais ou supe­riores às Escrituras, invalidando assim a lei de Deus (Mc 7:9, 13). Desse modo, sobre­carregavam os homens com “fardos supe­riores às suas forças”, mas eles próprios nem mesmo com um dedo os tocavam (Lc 11:46; ver p. 43; ver com. de Mt 2:4).

23. Espírito imundo. Do gr. pneuma akatharton. Nos evangelhos esta expres­são é usada como sinônimo de daimonion (cf. Mt 10:1 com Lc 9:1), uma palavra que indica um espírito superior aos homens e que, no NT, sempre se aplica a um espí­rito maligno, demônio ou diabo. Os evange­lhos registram seis ocorrências específicas de possessão demoníaca: (1) O homem na sinagoga de Cafarnaum (Mc 1:12-28); (2) um homem não identificado que era mudo e tam­bém endemoniado (Mt 9:32-34); (3) os dois endemoniados gerasenos (Mc 5:1-20); (4) a filha de uma mulher Cananeia (Mt 15:21-28); (5) o filho de um homem não identifi­cado (Mc 9:14-29); e (6) Maria (Mc 16:9). Além desses casos específicos, os evange­lhos mencionam com frequência que Jesus e Seus discípulos curaram pessoas ator­mentadas por espíritos malignos (para um exame da possessão demoníaca no período neotestamentário, ver Nota Adicional a Marcos 1).

Bradou. Isto aconteceu no momento em que Cristo estava falando de Sua missão para libertar os que eram escravos do pecado e de Satanás (ver CBV, 91; cf. Lc 4:18). Nessa experiência, Cristo foi novamente colocado

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lace a face com o inimigo que havia derro­tado no deserto da tentação (ver DTN, 256). Os ouvintes estavam ouvindo atentamente a mensagem que Cristo transmitia, e Satanás pretendeu, dessa maneira, fazer com que o povo desviasse sua atenção da verdade que estava encontrando terreno fértil, em pelo menos alguns dos corações presentes.

24. Que temos nós contigo [...]? Literalmente, “Que há entre nós e Tu?” Este modo peculiar dc expressão hebraica (ver Jz 11:12; 2Sm 16:10) ocorre na LXX na mesma forma em que está aqui. Significa “o que temos nós em comum?” Posterior­mente, os endemoniados gerasenos utiliza­ram as mesmas palavras (ver Mt 8:29; Jo 2:4). Parece que apenas um espírito maligno havia se apossado do homem (ver Mc 1:23, 25, 26). O pronome “nós”, neste versículo, provavelmente se retere aos demônios em geral, com cujos seres esse espírito maligno se identificava.

Jesus. Os demônios que se apossavam das pessoas geralmente confessavam que Jesus era o Filho de Deus (ver Mc 3:11, 12; 5:7). Segundo Tiago, "os demônios creem, e tremem” (Tg 2:19), e seu conhecimento da vontade e propósito divinos devem exceder em muito ao do ser humano.

Perder-nos. Esse demônio, evidente- mente, contemplava com horror o grande dia do juízo de Deus (ver Ez 28:16-19; Mt 8:29). Ele certamente tinha conhecimento do “fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" (Mt 25:41), e estava apreensivo de que Cristo estivesse prestes a executar o juízo divino sobre ele (ver 2Pe 2:4; Jd 6).

O Santo de Deus. O espírito maligno reconheceu em Jesus Aquele que tinha estreita relação com Deus. Em outras oca­siões, os demônios O chamaram de “Filho de Deus” (Mt 8:29; Lc 8:28), o próprio título que levou os líderes judaicos a desejarem Sua morte (Jo 5:17, 18) e, finalmente, a condená- Lo (ver Mt 26:63-68; cf. Jo 10:30-36).

25. Repreendeu. Do gr. epitimaõ, lite- ralmentc, “afixar preço em”, no NI’, “acusar de falta”, “repreender”, “admoestar”, “cen­surar”. Jesus “censurou” o espírito maligno sem, entretanto, proferir “juízo infamatório” contra ele (jd 9). A repreensão parece ter sido administrada porque o espírito se diri­giu a ele como o Messias. Jesus hem sabia que reivindicar abertamente Sua messia- nidade nessa ocasião somente despertaria o preconceito de muitos contra Ele. Além disso, a turbulenta situação política na Palestina originava muitos falsos messias, que se propunham a levar seus compatriotas a se revoltar contra Roma (ver At 5:36, 37; cf. DTN, 30, 733), e Jesus procurava evitar o ser considerado um messias político no sentido popular. Isso teria cegado o povo para a verdadeira natureza de Sua missão e daria às autoridades um pretexto para silen­ciar Seus labores.

Uma razão adicional pela qual Jesus evi­tava declarar ser o Messias é que Ele desejava que as pessoas O reconhecessem como tal por meio de experiência pessoal, ao observarem Sua vida perfeita, ao ouvirem Suas palavras dc verdade, ao testemunharem Suas podero­sas obras e ao reconhecerem em tudo isso o cumprimento das profecias do AT. Foi, evi­dentemente, com esse pensamento que Ele respondeu aos discípulos de João Batista da maneira como o fez (Mt 11:2-6).

Cala-te. Literal mente, “fique em silêncio”.26. Agitando-o. Do gr. sparassõ, um

termo usado por antigos autores médicos para descrever a ação convulsiva do estô­mago com ânsia de vômito. Aqui o termo poderia ser traduzido como “acometendo-o”, ou “convulsionando-o”, e pode indicar que o homem foi jogado ao chão. A mesma palavra é usada várias vezes para os acessos convulsi­vos sofridos por pessoas possuídas por demô­nios (Mc 9:20, 26; Lc 9:39). O ataque pode ter sido uma tentativa, por parte do demônio, de matar a vítima infeliz. Esta manifestação

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MARCOS 1:32

revelou um impressionante contraste entre a possessão demoníaca e o estado normal de autocontrole que se seguiu.

27. Com autoridade. Jesus não apenas pregava com autoridade (Mt 7:29; Mc 1:22); Ele também agia com autoridade. Os exorcis­tas judaicos utilizavam encantamentos, feiti­ços, e outros procedimentos supersticiosos, em seu esforço para expulsar espíritos malig­nos. Jesus falava apenas uma palavra, e os demônios saíam imediatamente. Os espíri­tos, bem como os homens, reconheciam a autoridade do Filho de Deus.

A cura do filho de um oficial do rei havia agitado a cidade de Cafarnaum (ver com. de Jo 4:53). Nesse momento, seus habitan­tes testemunharam uma manifestação ainda maior do poder de Deus.

28. Fama. Do gr. akoê, "o que é ouvido”. Esta palavra tem mais ou menos o mesmo sentido que “informação”, “notícia”. Jesus rapidamente Se tornou muito conhecido na Galileia (ver também Lc 4:14, 15, 37; 5:15, 17).

29. Logo (ARC). [A cura da sogra de Pedro, Mc 1:29-34 = Mt 8:14-17 - Lc 4:38-41, ver Comentário principal: Mc. Ver mapa, p. 215; gráfico, p. 228; sobre milagres p. 204- 210]. Do gr. eutheõs; ver com. do v. 10.

A casa de Simão. Durante o ministé­rio na Galileia, Jesus, muitas vezes, ficou na casa de Simão Pedro (cf. DTN, 259, 267). Seu conselho aos doze, para permanecer em uma casa durante sua estada numa cidade (Mc 6:10), sem dúvida, era coerente com a Sua própria prática.

30. A sogra de Simão. Pedro é o único dos doze do qual se menciona especifica­mente como sendo casado, embora, em vista do fato de que os judeus em sua maioria eram casados, pensa-se que, provavelmente, a maioria, senão todos os outros discípulos, também tinham esposa.

Este é o primeiro milagre registrado pelos três autores sinóticos. O relato de Marcos

fornece vários detalhes que não são mencio­nados nos outros.

Acamada, com febre. Do gr. puressõ, da palavra pur, que significa "fogo", Lucas, que era médico, diagnosticou essa enfer­midade como uma “febre muito alta” (ver Lc 4:38). A existência de pântanos não muito longe de Cafarnaum, cujo clima era subtropi­cal, sugere que pode ter sido malária.

Logo. Do gr. eutheõs (ver com. do v. 10). Os discípulos de Jesus demonstraram sua confiança nElc ao se voltarem para Ele ime­diatamente num momento de aflição física.

31. Tomou-a pela mão. Este ato foi um< toque pessoal de compaixão amorosa frequen­temente empregado por Jesus (ver Mt 9:25; Mc 5:41; 8:23; 9:27). O contato com o poder divino, por meio da fé, curou a mulher. A pes­soa enferma pelo pecado também precisa sen­tir o cálido toque de uma mão compassiva.

Imediatamente (ACF). Evidências tex­tuais favorecem (cf. p. 136) a omissão desta palavra. Entretanto, Lucas 4:39 afirma que a sogra de Pedro logo se levantou, e isto é indicado pelo fato de que todos os três rela­tos concluem que ela foi capaz de servir aos presentes antes do pôr do sol. Uma febre pro­longada geralmcntc deixa sua vítima fraca e é necessário um período de repouso para que as forças vitais do corpo recobrem seu vigor normal, porém a cura da mulher foi instantânea.

32. Ao cair do sol. [Muitas outras curas, Mc 1:32-24 = Mt 8:16, 17 = Lc 4:40, 41], Aparentemente, ao perceber que o termo "tarde” não era suficientemente definido entre os judeus para localizar o momento que tinha em mente, Marcos acrescenta essa explicação adicional. Alguns comentaris­tas têm considerado esta expressão adicio­nal como um vício de linguagem, mas não é assim, pois o termo traduzido “tarde” é indefinido.

O motivo da precisão de Marcos quanto ao horário em que os enfermos da cidade

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1:33 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

foram levados à porta da casa de Pedro tal­vez se deva ao fato de que a lei rabínica proi­bia toda e qualquer atenção aos enfermos no sábado, salvo alguma emergência (ver Jo 5:10; 7:23; 9:14). Além disso, operações de cura, exceto em casos de extrema urgência, em que a própria vida estivesse em perigo, eram consideradas trabalho e, consequente­mente, inapropriadas para o dia de sábado (ver Lc 13:10-17).

O fato de que todos os três autores sinó- ticos descrevem este episódio com riqueza de detalhes implica que esta foi uma ocasião memorável para todos os discípulos. Os doze haviam ficado amargamente desapontados pela recepção até então dada ao ministério de Jesus, especialmente na Judeia e em Nazaré. Essa demonstração de confiança pública em Seu Mestre deve ter fortalecido muito a fé dos discípulos.

33. Toda a cidade. Um detalhe vívido mencionado apenas por Marcos. Isto não sig­nifica necessariamente que cada pessoa que morava em Cafarnaum tivesse ido à casa de Pedro. E antes uma descrição hiperbólica da multidão que foi.

34. Demônios. Do gr. daimonion (ver com. de Mc 1:23; ver Nota Adicional ao fim deste capítulo).

Não lhes permitindo que falassem. Ver a razão no com. de Mc 1:25.

35. Alta madrugada. [Jesus Se retira para orar, Mc 1:35-39 = Mt 4:23-25 = Lc 4:42-44. Comentário principal: Mc. Ver mapa, p. 215; gráfico, p. 228]. Do gr. prõi, “cedo no dia”. Este termo era geral mente usado em referência à última vigília da noite, das 3 às 6 horas da madrugada (ver Mc 16:2, 9; Jo 20:1). Como era o início do verão, a manhã nasceria mais ou menos às 5 horas, e os primeiros raios de sol seriam visíveis por volta das 3h30 na lati­tude de Cafarnaum (ver p. 38).

Ainda escuro (ARC). A expressão grega indica que era alta noite, o que, neste caso, corresponderia à primeira parte da vigília

matinal. Jesus deve ter dormido pouco, pois era tarde da noite quando se dispersou a mul­tidão que havia levado seus enfermos à porta da casa de Pedro (ver DTN, 259).

Um lugar deserto. Jesus procurou ficar sozinho, onde a multidão não poderia encon- trá-Lo (cf. DTN, 363).

Orava. Ver com. de Mc 3:13. Uma das características marcantes e significativas de Cristo é o fato de que Ele orava, com fre­quência e eficácia. Muitas vezes, durante Sua vida terrena Jesus salientou que “o Filho nada pode fazer de Si mesmo” (Jo 5:19; cf. Mc 1:30). As ohras maravilhosas que Ele rea­lizou foram feitas mediante o poder do Pai (ver DTN, 143). As palavras que Ele falou Lhe foram ensinadas pelo Pai (Jo 8:28). Antes que Jesus viesse a este mundo, Ele conhecia cada detalhe do plano para a Sua vida. “Ao andar entre os homens, porém, era guiado passo a passo pela vontade do Pai” (DTN, 147; ver com. de Lc 2:49). O plano para Sua vida Lhe era desdobrado dia a dia (ver DTN, 208).

36. Procuravam. Do gr. katadiõkõ, “perseguir”, “procurar”. Esta não foi uma mera busca eventual para encontrar Jesus. Seus discípulos estavam, sem dúvida, ansio­sos para trazer de volta Seu mestre operador de milagres para junto da multidão, para que Ele pudesse aumentar ainda mais Sua fama. Parece que eles achavam que Jesus estava perdendo preciosas oportunidades de atrair seguidores e ampliar a popularidade da Sua causa. Porém, os motivos deles não estavam em harmonia com o propósito pelo qual os milagres foram realizados (ver p. 205, 206; ver com. do v. 38).

Simão. Pedro é mencionado pelo nome porque era o líder reconhecido do grupo ou porque, como se crê geralmente, Marcos registra a narrativa conforme lhe foi contada por Pedro (ver p. 611).

Com ele. Talvez incluísse, pelo menos, André, irmão de Pedro, Tiago e João, os

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quatro homens até este momento chama­dos oficialmente para ser discípulos. Eles são mencionados pelo nome como estando na casa de Pedro no dia anterior (v. 29).

37. Todos. Isto é, o povo de Cafarnaum (ver com. de Mc 1:33).

38. Vamos. Jesus propôs que se retiras­sem antes que a repentina onda de popu­laridade fizesse naufragar os verdadeiros objetivos de Seu ministério. Ceder ao inculto clamor do povo resultaria em mais mal do que bem, e Ele Se recusou a deixar-Se enga­nar. Jesus considerava Seus milagres como um meio de levar os homens a ter consciên­cia de sua necessidade de cura espiritual, mas as multidões nada enxergavam além dos milagres em si. Com falta de visão, eles confundiram os meios com os fins, mas os meios sem os fins tenderiam unicamente a levá-los para ainda mais longe do reino que Cristo viera proclamar. Se essas falsas con­cepções de Sua obra não fossem banidas, todos os esforços de Cristo seriam em vão (ver com. do v. 36).

Para isso é que Eu vim. Ou, “para isso é que Eu saí”. Aqui, parece que Jesus Se refere a Sua ida da cidade de Cafarnaum “para um lugar deserto” (v. 35), e não a Sua vinda do Céu para a Terra. Entretanto, a pas­sagem paralela em Lucas 4:43 implica que Jesus nesse momento Se referia a Sua missão na Terra. Em outras ocasiões, Ele fez men­ção especificamente à Sua vinda do Pai, em relação com a Sua missão em forma global (verjo 10:10; 18:37; Lc 19:10).

39. Por toda a Galileia. Mateus 4:23 a 25 descreve mais detalhadamente o alcance e a influência da primeira viagem missionária.

Jesus realizou ao todo três viagens mis­sionárias na Galileia entre a Páscoa dos anos 29 d.C. e 30 d.C., o período do ministério na Galileia (ver gráfico, p. 228). Na primeira via­gem é incerto se Jesus estava acompanhado por alguém mais, além dos quatro discípu­los que Ele acabara de chamar junto ao mar

da Galileia (ver Mc 1:16-20). Eles são os úni­cos mencionados pelo nome como estando com Jesus no dia anterior a Sua partida de Cafarnaum (v. 29). Outros podem ter come­çado a segui-Lo no decurso da primeira viagem, considerando que a eleição formal dos doze ocorreu antes do início da segunda viagem (Mc 3:13-19).

Nessa primeira viagem, Cristo procla­mou o estabelecimento iminente do “reino de Deus” (Lc 4:43), o que foi fundamental para todo o Seu ensino posterior.

Pregando. Assim Marcos inicia sua narrativa da primeira viagem missionária à Galileia, iniciada, provavelmente, no começo do verão do ano 29 d.C. (ver MDC, 2, 3; ver Nota Adicional a Lucas 4). Em seus escri­tos, Josefo cita mais de 200 cidades e vilas na Galileia, e essas ofereciam grande opor­tunidade para desenvolver uma campanha ampla e prolongada longe das cidades maio­res agrupadas ao longo da margem ociden­tal do Lago da Galileia. Assim como sucedeu no início do ministério na Judeia, a respeito do qual os autores sinóticos pouco ou nada dizem, é provável que a primeira viagem mis­sionária tenha sido mais extensa e se prolon­gado por um período maior do que parece indicar a pouca atenção que lhe foi dada (ver com. de Mc 2:1). Marcos registra apenas uma ocorrência específica na primeira viagem (Mc 1:40-45), mas seu resumo dos resulta­dos da viagem (v. 45) denota que houve um período de ministério bem-sucedido, abran­gendo várias semanas e, talvez, até dois ou três meses.

Nas sinagogas deles. Ver p. 44, 45. Como Jesus era um rabi visitante popu­lar, foi convidado a participar do culto e a falar, como fez em Nazaré (Lc 4:16-27) e em Cafarnaum (Mc 1:21, 22).

40. Um leproso. [A cura de um leproso, Mc 1:40-45 = Mt 8:1-4 = Lc 5:12-16. Comentário principal: Mc. Ver mapa, p. 215; gráfico, p. 228; sobre milagres, ver

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p. 204-210J. As opiniões diferem quanto a esse milagre ter ocorrido após o Sermão do Monte, como Mateus indica, ou durante a primeira viagem na Galileia, conforme regis­trado aqui. Marcos, geralmente, segue o que parece ser uma ordem mais cronológica dos

► eventos, enquanto Mateus, com frequência, evita essa sequência para produzir uma har­monia temática. Portanto, a ordem seguida por Marcos é preferível. Por essa razão, a cura do leproso talvez seja a única ocorrência específica registrada em relação com a pri­meira viagem que Jesus realizou pela Galileia (ver p. 178-180, 275, 276).

Este milagre também é registrado cm Mateus 8:2 a 4 e em Lucas 5:12 a 16, mas a narrativa de Marcos é mais vívida e deta­lhada. Posteriormente, Jesus curou outros leprosos (Mt 26:6; Lc 7:22; 17:12-14; cf. DTN, 557) e enviou Seus discípulos para fazerem o mesmo (Mt 10:8; sohre o diagnós­tico da lepra e as leis de segregação e purili- cação ritual, ver Lv 13 e 14).

O conceito popular dos judeus era que a lepra sobrevinha como um castigo divino sobre o pecado (ao que eles também atri­buíam a cegueira de nascença; ver Jo 9:2). Eles haviam absorvido uma velha ideia pagã. Um antigo texto babilónico sobre prog­nóstico (Archiv für Orientforshung, 18:62) denomina certos sintomas, aparentemente de lepra, como indicativo do abandono de Deus e do homem. Por isso eles não faziam esforço em busca de alívio ou cura; na ver­dade, eles não conheciam remédio para a lepra verdadeira — a não ser o isolamento. Mesmo após a metade do século 20, a qua­rentena continuou sendo um procedimento padrão em toda parte; desde então, novas drogas têm possibilitado o tratamento de pacientes externos e tornado o isolamento desnecessário.

Se quiseres. Três grandes obstáculos, provavelmente, apresentavam-se à mente do homem aflito, sendo que qualquer um deles

poderia ter sido suficiente para tornar remota e talvez impossível a perspectiva de cura. Em primeiro lugar, tanto quanto se saiba, não havia registro de cura de leproso desde o tempo de Naamã, cerca de 800 anos antes. Um segundo obstáculo, ainda mais temível, era a crença popular de que ele estava sob a maldição de Deus. Jesus estaria disposto a curá-lo? O terceiro obstáculo apresentava um problema de cunho prático. Como ele pode­ria se aproximar de Jesus para apresentar seus pedidos? A lei cerimonial proibia estri­tamente que ele se aproximasse ou se mistu­rasse com os outros, e onde quer que Jesus fosse o povo se aglomerava em torno dElc. Isso efetivamente impedia o homem sofredor de se acercar da presença de Jesus.

Purificar-me. Do gr. katharizõ, “lim­par”, em vez de therapeuõ, “sarar”, “curar”. Tanto nos tempos do AT como do NT as vítimas da lepra eram tidas como “imundas”, necessitadas de “purificação”, e não “doen­tes”, necessitadas de “cura". Essa distinção na terminologia reflete a ideia de purifica­ção cerimonial.

41. Tocou-o. Jesus frequentemente tocava os enfermos para curá-los (Mt 8:15), mas, às vezes, não o fazia (Jo 4:49, 50). Ele sahia que tocar o homem leproso significaria impureza; no entanto Ele o fez sem temor.

Quero, fica limpo! Uma vez que nenhum ser humano podia curar a lepra, o fato de que Jesus o fez significava que Ele possuía poder divino. Esse milagre levou o povo a crer que Ele também era capaz de purificar a alma do pecado. Jesus havia vindo a Terra com o propósito específico de puri­ficar os pecadores, cuja enfermidade espiri­tual era ainda mais mortal do que a lepra.

42. No mesmo instante. Este foi um detalhe importante do milagre. Tudo suce­deu diante dos olhos da multidão. A carne do sofredor foi restaurada, seus músculos se tor­naram firmes, os nervos recobraram a sensi­bilidade (ver DTN, 263).

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43. Veemente advertência. Do gr.embrimaomai, “advertir urgentemente”. Esta palavra é traduzida como “agitou-Se” em João 11:33 e “murmuravam” em Marcos 14:5, e sempre indica forte emoção. Os escritores dos evangelhos a usam a respeito de Cristo apenas em duas outras ocasiões (ver Mt 9:30; Jo 11:33, 38). Só em raras situações Jesus assumiu uma atitude severa (Mt 23:13-33; Jo 2:13-17; cf. DTN, 353). As razões da evi­dente severidade de Jesus aqui são esclare­cidas no v. 45.

44. Não digas nada. Vários fatores pro­vavelmente influíram para Jesus ordenar ao homem curado que nada dissesse sobre o que havia acontecido, e "logo o despediu (Mc 1:43) a fim de que ele se mostrasse aos sacerdotes. Em primeiro lugar, foi neces­sária uma ação rápida para que o homem fosse aos sacerdotes antes que eles soubes­sem quem o havia curado. Somente assim ele poderia esperar uma decisão imparcial, pois se os sacerdotes soubessem que fora Jesus quem curara o homem, eles provavelmente se recusariam a certificar que estava limpo. Os próprios interesses de Jesus faziam que se necessitasse silêncio e ação imediata.

E também, se as muitas vítimas da lepra na região ouvissem a respeito do poder de Jesus para libertá-las da doença, eles sem dúvida afluiriam a Ele e dificultariam Seu ministério em favor do povo em geral. Além disso, Jesus exigia como requisito prévio um sincero senso de necessidade por parte da pessoa aflita e pelo menos uma medida de fé (ver Mc 5:34; Jo 4:49, 50; cf. DTN, 264, 267, 268).

Outra razão para o silêncio é que Ele não queria criar a reputação de ser tão somente um operador de milagres. Os evangelhos dei­xam claro que Ele considerava os milagres como secundários; Seu primeiro e grande objetivo era a salvação do ser humano. Cristo sempre apelou às pessoas que buscassem pri­meiramente o reino dos Céus, tendo plena

confiança de que seu Pai celestial lhes acres­centaria as bênçãos materiais à medida que delas necessitassem (Mt 6:33).

Em Mateus 9:30; 12:16; Marcos 5:43; 7:36; 8:26 se encontram vários exemplos em que Jesus, por essas e outras razões, proi­biu dar publicidade aos milagres que operou.

Mostra-te. Segundo a lei mosaica, os sacerdotes que atuavam como oficiais de saúde pública diagnosticavam a lepra e ordenavam o isolamento. Uma vez que, pelo menos no AT, outras doenças da pele eram descritas pelo termo lepra, os examinadores, às vezes, devem ter sido incapazes de distin­guir os tipos curáveis. Os que se recupera­vam de sua doença podiam voltar para casa após reexame, cerimônias de purificação e, provavelmente, um atestado (Lv 14).

Ao receber tal atestado do sacerdote, o leproso obtinha o reconhecimento oficial de que havia ocorrido uma cura miraculosa (ver DTN, 265). O próprio homem seria uma testemunha viva do que havia ocorrido. Dessa forma, muitos sacerdotes ficaram con­vencidos da divindade de Cristo por esta e por outras evidências (ver DTN, 266). Após a ressurreição, muitos dos sacerdotes profes­saram sua fé nEle (ver At 6:7) e se uniram à igreja nascente.

O fato de Jesus ter dito ao homem curado que seguisse as determinações da lei demonstra que Ele não Se opunha às leis de Moisés. Ele próprio havia nascido “sob a lei” (G1 4:4; ver Mt 23:2, 3). Porém, mani­festou categórica oposição às tradições que os escribas haviam criado em torno dos pre­ceitos mosaicos, mediante as quais eles haviam anulado tanto a letra como o espí­rito do que Deus havia comunicado a Moisés (ver Mt 15:3; Mc 7:8, 9; cf. DTN, 395-398). Ao Cristo enviar esse homem aos sacerdo­tes, sem dúvida tinha por objetivo demons­trar a eles e ao povo Seu reconhecimento das leis que Ele próprio havia comuni­cado a Moisés muito antes. Dessa maneira,

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1:45 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Ele esperava desmentir as falsas acusações feitas pelos sacerdotes, os guardiões oficiais da lei. Assim, os que eram honrados de cora­ção dentre eles poderiam perceber que a acusação de deslealdade à lei de Moisés era falsa, o que poderia levá-los a reconhecê-Lo como o Messias (ver DTN, 265).

Oferece pela tua purificação. Ver vol. I, p. 761, e com. de Lv 14.

Servir de testemunho. Isto é, um tes­temunho do poder divino que Jesus mani­festou, de Seu compassivo interesse pelas necessidades da humanidade, de Seu res­peito pelas leis de Moisés e pelos líderes judaicos como guardiões e executores da lei, e, acima de tudo, de Seu poder para libertar as pessoas do pecado e da morte.

Ao povo. Não está totalmente claro se esta é uma referência aos sacerdotes ou ao povo em geral, inclusive aos sacerdotes. Entretanto, o contexto parece ser uma refe­rência aos sacerdotes. As coisas que Moisés ordenou deveriam ser oferecidas a eles para “servir de testemunho’’. O povo havia visto a evidência manifestada diante dos seus olhos; porém os sacerdotes não haviam visto. Se o leproso curado cumprisse com a lei cerimo­nial, testificaria a respeito das coisas que Cristo desejava que os sacerdotes prestassem atenção. Obviamente, a decisão sacerdotal constituiria um testemunho legal perma­nente perante todo o povo, quando fosse registrada oficialmente.

45. Propalar muitas coisas. Ou, “falar abertamente sobre isso”. Não compreen­dendo como a sua falha em cumprir a severa recomendação para se calar poderia atrapa­lhar a obra de Cristo, e consolando-se com a ideia de que a modéstia de Cristo era a única razão envolvida, o homem agradecido falou abertamente sobre o poder dAquele que o havia curado.

Divulgar a notícia. Ou, “tornar público o fato” (NVI).

Não mais poder. Isto é, “já não podia”. Esse milagre, ou melhor, o seu resultado,« parece ter assinalado o término da primeira viagem missionária de Cristo às cidades e vilas da Galileia. Ele Se viu obrigado a interromper Sua obra por algum tempo (ver DTN, 265).

Em lugares ermos. Ou, “desertos” (ARC). Não há indicação quanto ao lugar para onde Jesus Se retirava. Cristo, pro­vavelmente, ficava perto das partes mais populosas da região, indo talvez para os mon­tes alguns quilômetros a oeste do Mar da Galileia. Alguns dias depois, Ele estava nova­mente em Cafarnaum (Mc 2:1), na casa de Pedro (ver DTN, 267).

Vinham ter com Ele. A forma do verbo grego indica que o povo continuava a ir a Ele. Sua imaginação estava inflamada, mas, infelizmente, seu zelo era sem entendimento, e eles não compreenderam bem o propó­sito de Cristo ao realizar Seus milagres (ver p. 205, 206).

NOTA ADICIONAL A MARCOS 1

Aqueles que negam a inspiração das Escrituras e rejeitam a ideia de um diabo e espí­ritos malignos literais, atribuem o que a Bíblia chama de possessão demoníaca a causas naturais, especialmente às várias desordens físicas e nervosas como epilepsia e insani­dade. Outros, que aceitam como verdadeiras as declarações dos evangelhos com res­peito à possessão demoníaca, nem sempre têm levado em conta a natureza e relação das desordens físicas e nervosas que a acompanham. Este comentário procurará explicar o problema no que diz respeito tanto ao controle satânico da vida de todos os ímpios em geral, como ao sentido mais restrito da possessão demoníaca com as manifestações físi­cas associadas.

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MARCOS

Controle pelo Espírito Santo - Devido à ação do Espírito Santo (ICo 3:16; 6:19; 2Co 6:16;Ef 2:22) Cristo habita no coração daqueles que, por sua livre e espontânea vontade, deci­dem servi-Lo (2Co 5:14; G1 2:20; Cl 1:27; etc.; cf. MDC, 142). Assim, com a coopera­ção deles Deus efetua neles “tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade”,(Fp 2:13) e, então, um poder do alto toma posse, conduzindo as tendência naturais em har­monia com os princípios divinos (Rm 8:29; Cl 5:22, 23; 2Ts 2:14). Unicamente os que desta maneira submetem o controle de sua mente a Deus podem, no sentido completo da pala­vra, ter “moderação” e desfrutar completa estabilidade mental e emocional (ver 2Tm 1:7; cf. is 26:3, 4). Ninguém que escolha servir a Deus será deixado sob o poder de Satanás (CBV, 93; cf. DTN, 38). Fortalecidos pelo poder divino, eles se tornam invulneráveis aos ataques de Satanás (DTN, 209, 324).

Controle por um espírito maligno - Por outro lado, todos os que rejeitam ou ignoram a verdade declaram sua sujeição ao maligno (CBV, 92; DTN, 322, 341). Os que persisten­temente se recusam a obedecer às sugestões do Espírito Santo ou as negligenciam, entre­gando-se ao controle de Satanás, desenvolvem um caráter que mais e mais se assemelha ao dele (Jo 8:34, 41, 44; DTN, 338, 429). A consciência e a capacidade de escolha estabelecem um padrão de conduta baseado nos princípios de Satanás (Rm 6:12-16; DTN, 256). Deste modo, à medida que os homens se separam progressivamente da influência e do controle do Espírito Santo (ver Ef 4:30; ver com. de Ex 4:21), acabam ficando totalmente à mercê do diabo (DTN, 256, 323, 324; cf. 645, 696; Jo 6:70). Aprisionados por uma vontade mais forte do que a sua própria, eles não podem, de si mesmos, escapar desse poder maligno (CBV, 93). Automaticamente, pensam e agem conforme Satanás lhes ordena. Onde quer que a Palavra de Deus indique a causa, ela declara que a possessão demoníaca ocorre como resultado de um viver errôneo (ver DTN, 256). A fascinante carreira de prazeres terrenos “termina nas trevas do desespero ou na loucura de uma alma arruinada” (DTN, 256).

Graus de controle demoníaco - O processo de formação do caráter é gradual, e há, por­tanto, graus de controle ou possessão, seja do Espírito Santo ou de espíritos malignos (ver Rm 12:2). Todos os que não se entregam sem reservas à habitação do Espírito de Deus estão, portanto, em maior ou menor grau, sob o controle - ou possessão - de Satanás (ver Lc 11:23; Rm 6:12-16; 2Pe 2:18, 19; DTN, 324, 341). Tudo o que não está em harmonia com a von­tade de Deus - toda intenção de ferir os outros, toda manifestação de egoísmo, todo esforço «;3 para promover princípios errôneos - é, em certo sentido da palavra, evidência de um grau de controle demoníaco ou possessão (ver DTN, 246, 341). Toda concordância com o mal “enfraquece o corpo, obscurece o intelecto e corrompe a alma" (DTN, 341). Não obstante, em qualquer ponto no processo de formação do caráter, “o caráter se revela, não por boas ou más ações ocasionais, mas pela tendência das palavras e atos costumeiros” (CC, 57).A principal diferença entre os que respondem ocasionalmente e os que respondem sempre às sugestões de Satanás é, portanto, uma diferença de grau e não de espécie. A vida do rei Saul é um exemplo patente da experiência daqueles que se submetem ao controle dos demô­nios (lSm 13:8-14; 15:10-35; 16:14-23; 28:1-25; PP, 679-681).

Formas de controle demoníaco. Não apenas o grau de controle demoníaco ou possessão varia, mas também a forma em que se manifesta. Às vezes. Satanás pode realizar seus obje­tivos sinistros mais eficazmente, permitindo que a sua vítima retenha intactas suas faculda­des mentais e físicas e tenha aparência de piedade. Outras vezes, o diabo perverte a mente e o corpo e induz a vítima a condutas evidentemente pecaminosas. Os que se acham apenas

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

parcialmente sob o controle de demônios, ou que não manifestam os sintomas popularmente associados com a possessão demoníaca, são frequentemente mais úteis ao príncipe do mal do que aqueles que podem estar mais obviamente sob o seu controle. O mesmo espírito maligno que possuiu o maníaco de Cafarnaum também eontrolou os judeus descrentes (ver Jo 8:44; DTN, 256; cf. 323, 733, 746, 749, 760). Judas foi “possuído” de modo semelhante (DTN, 294, 645; Lc 22:3; Jo 6:70, 71; 13:27; cf. Mt 16:23). Em casos como esses a dife­rença está principalmente na forma em que os demônios manifestam sua presença e poder.

Possessão demoníaca e o sistema nervoso humano — Em qualquer grau ou forma em que os demônios obtêm controle de um ser humano, eles o fazem através do sistema nervoso senso­rial. Através das faculdades superiores da mente — a consciência, o poder de escolha e a von­tade - é que Satanás se apossa do indivíduo. Por meio do sistema nervoso motor o maligno exerce controle de seus súditos. A possessão demoníaca não pode ocorrer a não ser através do sistema nervoso, pois por meio dele Satanás obtém acesso à mente e, por sua vez, controla o corpo (cf. Lc 8:2; DTN, 568). Visto que o próprio sistema nervoso é a primeira parte do ser humano a ser afetada, várias desordens nervosas, eomo epilepsia e psicoses de vários tipos devem ser esperadas em conexão com a possessão demoníaca. Tais desordens são, com fre­quência, o resultado de ceder, de uma maneira ou outra, à influência e sugestões de Satanás. Entretanto, essas desordens não acompanham necessariamente a possessão demoníaca, nem são necessariamente uma característica maior de possessão demoníaca do que a surdez e a mudez, as quais também, às vezes, acompanham a possessão.

Todos os casos de possessão demoníaca descritos em O Desejado de Iodas as Nações são mencionados especificamente como tendo envolvido algum tipo de desarranjo mental, popularmente descrito como insanidade, e esta condição é indicada como sendo o resultado de possessão demoníaca. Por exemplo, o endemoniado na sinagoga de Cafarnaum é des­crito como “louco”, e sua aflição como “insanidade” e “loucura” (DTN, 256). Os endemo- niados de Gadara são semelhantemente mencionados como “loucos” e “lunáticos", e tendo “mente transtornada” (DTN, 341; GC, 514). O jovem possesso ao pé do monte da transfi­guração também é chamado de “lunático” (DTN, 429; ver Mc 9:18). Os sintomas de desor­dem nervosa mencionados especificamente são fisionomia contorcida, guinchos, mutilação do corpo, olhos chamejantes, ranger de dentes, boca espumejante e convulsões muito seme­lhantes às da epilepsia (ver Mc 1:26; 9:18-26; Le 4:35; 8:29; DTN, 256, 337, 429). Em cada caso, a expulsão dos espíritos malignos foi acompanhada de uma mudança instantânea e evi­dente - houve uma restauração do equilíbrio mental e da saúde física onde estas haviam sido prejudicadas. A inteligência voltou (DTN, 256, 338), os aflitos se vestiram em perfeito juízo (Mc 5:15; Lc 8:35; DTN, 338) e recobraram a razão (DTN, 429, 568).

O caso do jovem possesso de Marcos 9:14 a 29 merece atenção especial. A descrição ► do caso se assemelha de modo impressionante à de um ataque epilético (ver v. 18-20). Mas

afirmar que este era simplesmente um caso de epilepsia significa rejeitar as declarações explícitas das Escrituras de que o jovem estava possesso. Os autores dos evangelhos são igualmente claros cm descrever um caso que certamente parecia ser epilepsia e atribuí-lo a possessão demoníaca.

Possessão demoníaca e desordens/ísicas - Em certos casos dc possessão demoníaca havia também desordens físicas associadas (ver Mt 9:32; 12:22; Mc 9:17). E digno de nota que as desordens físicas mencionadas especificamente - cegueira e mudez - aparentemente estavam relacionadas aos nervos sensoriais e motores das partes afetadas. Outros distúrbios físicos

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MARCOS

também podem ter resultado da possessão demoníaca. Os que se entregaram, em maior ou menor grau, à influência e controle dc Satanás pensaram e viveram de modo a degradar o corpo, a mente e a alma (ver DTN, 256, 341, etc.).

Características distintivas da possessão demoníaca - Pelo que Ellen G. White mostra, as várias manifestações de desordens físicas e mentais que caracterizavam os endemoniados não eram, em si, diferentes das manifestações atribuíveis a causas naturais. Aparentemente, a diferença não estava nos sintomas nervosos e físicos manifestados, mas no agente que os causava. Ela atribui esses sintomas à presença e ação direta de espíritos malignos (ver GC, 514). Mas as várias desordens físicas e mentais não constituíam em si mesmas o que os evangelhos descrevem como possessão demoníaca. Elas eram o resultado da possessão demoníaca.

Sem dúvida, a mente popular identificava os resultados da possessão demoníaca com a própria possessão. Mas a alegação dc que, por ignorância, os autores dos evangelhos atribuí­ram erroneamente as várias desordens físicas e nervosas à ação de espíritos malignos é des­mentida pelo fato de que eles elaramente fizeram distinção entre sintomas físicos comuns e possessão demoníaca (ver Mt 4:24; Ec 6:17, 18; 7:21; 8:2). A realidade da possessão demo­níaca é ainda atestada pelo fato de que Cristo Se dirigia aos demônios como demônios e que eles respondiam como demônios, por intermédio de suas vítimas (Mc 1:23, 24; 3:11, 12; 5:7; etc.). Por seu reconhecimento da divindade dc Cristo e do juízo final, fatos então não entendidos pelo povo em geral, os demônios deram provas de conhecimento sobrenatural (Mt 8:29; Mc 1:24; 3:11, 12; 5:7; etc.).

E razoável concluir que a possessão demoníaca, embora fosse com frequência acom­panhada por desordens nervosas ou físicas, exibisse seus sintomas característicos, mas as Escrituras não especificam quais eram esses sintomas.

Por que a possessão demoníaca era comum. - Há razão para crer que a possessão demo­níaca, no sentido limitado dos autores dos evangelhos, era muito mais comum durante o tempo do ministério terreal dc Cristo do que é agora (ver DTN, 257). Talvez, durante algum tempo, Deus tenha permitido que Satanás tivesse mais liberdade para demonstrar os resultados de seu controle pessoal dos seres humanos que voluntariamente escolheram servi-lo. No monte da transfiguração, os discípulos contemplaram a humanidade transfigu­rada à imagem de Deus, e no sopé da montanha, a humanidade degradada à semelhança dc Satanás (DTN, 429).

Através dos séculos, o diabo tem procurado obter ilimitado controle do corpo e da alma dos homens, para afligi-los com pecado e sofrimento e, finalmente, arruiná-los (DTN, 257; PP, 688). Assim, quando nosso Senhor apareceu andando como homem entre os homens, “o corpo de criaturas humanas, feito para habitação de Deus, tornara-se morada de demô­nios. Os sentidos, os nervos, as paixões, os órgãos dos homens eram, por meio de agentes sobrenaturais, levados a condescender com a concupiscência mais vil. O próprio selo dos demônios se achava impresso na fisionomia dos homens” (DTN, 36). A própria semelhança da humanidade parece ter sido obliterada de muitas faces humanas, as quais refletiam, em vez disso, a expressão das legiões malignas pelas quais eram possuídas (cf. Le 8:27; DTN, 337; GC, 514). De modo muito real, a possessão demoníaca representa as profun­dezas da degradação a que descem os que se aliam a Satanás e ilustra graficamente o que todos os que rejeitam a misericórdia de Deus se tornariam se fossem totalmente abando­nados à jurisdição de Satanás (DTN 341).

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2:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-8 - DTN, 97-1082, 3-T9, 647 - T5, 22410-DTN, 11112, 13-DTN, 11414, 15 - DTN, 231; GC, 32715-DTN, 233; GC, 345,

351; PR, 699; TM, 64; T8, 20

16-20-DTN, 244-25123- 25 - PE, 2924 - DTN, 467, 579; CBV,

91; T8, 20824- 26 - DTN, 255

27 - DTN, 256; CBV, 92 30, 32 - CBV, 29 35 - DTN, 259, 362; CBV,

30, 52 37, 38 - DTN, 260 40-45 - DTN, 262-266 43, 44 - DTN, 264

Capítulo 21 Cristo cura um paralítico, 14 chama Mateus da coletoria, 15 come com

publicanos e pecadores, 18 justifica Seus discípulos por não jejuarem e 23 por colherem espigas no sábado.

1 Dias depois, entrou Jesus de novo em Cafarnaum, e logo correu que Ele estava em casa.

2 Muitos afluíram para ali, tantos que nem mesmo junto à porta eles achavam lugar; e anun­ciava-lhes a palavra.

3 Alguns foram ter com Ele, conduzindo um paralítico, levado por quatro homens.

4 E, não podendo aproximar-se dele, por causa da multidão, descobriram o eirado no ponto correspondente ao em que Ele estava e, fazen­do uma abertura, baixaram o leito em que jazia o doente.

5 Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados.

6 Mas alguns dos escribas estavam assenta­dos ali e arrazoavam em seu coração:

7 Por que fala Ele deste modo? Isto é blas­fêmia! Quem pode perdoar pecados, senão um, que é Deus?

8 E Jesus, percebendo logo por seu espí­rito que eles assim arrazoavam, disse-lhes: Por que arrazoais sobre estas coisas em vosso coração?

9 Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda?

10 Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para per­doar pecados - disse ao paralítico:

11 Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa.

12 Então, ele se levantou e, no mesmo ins­tante, tomando o leito, retirou-se à vista de todos, a ponto de se admirarem todos e darem glória a Deus, dizendo: Jamais vimos coisa assim!

13 De novo, saiu Jesus para junto do mar, e toda a multidão vinha ao Seu encontro, e Ele os ensinava.

14 Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria e disse-lhe: Segue- Me! Ele se levantou e O seguiu.

15 Achando-sc Jesus à mesa na casa de Levi, estavam juntamente com Ele e com Seus discípu­los muitos publicanos e pecadores; porque estes eram em grande número e também O seguiam.

16 Os escribas dos fariseus, vendo-O comer em companhia dos pecadores e publicanos, per­guntavam aos discípulos dEle: Por que come e bebe Ele com os publicanos e pecadores?

17 Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doen­tes; não vim chamar justos, e sim pecadores.

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MARCOS 2:1

18 Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando. Vieram alguns e Lhe pergun­taram: Por que motivo jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os Teus discípulos não jejuam?

19 Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquan­to o noivo está com eles? Durante o tempo em que estiver presente o noivo, não podem jejuar.

20 Dias virão, contudo, em que lhes será ti- ► rado o noivo; e, nesse tempo, jejuarão.

21 Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo novo tira parte da veste velha, e fica maior a rotura.

22 Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos.

23 Ora, aconteceu atravessar Jesus, em dia de sábado, as searas, e os discípulos, ao passa­rem, colhiam espigas.

24 Advertiram-no os fariseus: Vê! Por que fazem o que não é lícito aos sábados?

25 Mas Ele lhes respondeu: Nunca lestes o que fez Davi, quando se viu em necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros?

26 Como entrou na Casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da proposição, os quais não é lícito comer, senão aos sacerdotes, e deu também aos que estavam com ele?

27 E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado;

28 de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado.

1. Dias depois. [A cura de um paralí­tico em Cafarnaum, Mc 2:1-12 = Mt 9:1-8 = Lc 5:17-26. Comentário principal: Mc. Ver mapa, p. 215; gráfico, p. 228; sobre mila­gres, ver p. 204-210]. Do gr. di’ hêmerõn. Esta frase é considerada por alguns como referência ao período completo da primeira viagem de Jesus à Galileia, entre a data de Sua partida de Cafarnaum (Mc 1:35-38) e Seu retorno àquela cidade. Entretanto, visto que essa viagem provavelmente se estendeu por algumas semanas, poderá ser mais apro­priado entender os “dias" aqui mencionados como aqueles em que Jesus Se retirou para o deserto por causa das multidões, ao ponto de não mais poder “entrar publicamente em qualquer cidade” (Mc 1:45). Assim enten­dido, o período em questão seria entre os eventos narrados no fim do cap. 1 e os do início do cap. 2.

Entrou Jesus de novo. Ou, “Jesus vol­tou” (BLH). Marcos usa de maneira caracte­rística a palavra gr. palin, “de novo”, ao se referir a lugares que ele já mencionara ante­riormente, ou a circunstâncias semelhantes

(ver Mc 2:13; 3:1, 20; 4:1; 5:21; 8:13). Em contraste, Mateus geralmente usa palin para iniciar um novo trecho de sua narra­tiva. Tanto Mateus como Marcos registram o fato de que Jesus havia recentemente vol­tado de Sua primeira viagem pelas cida­des e vilas da Galileia (ver Mt 9:1). Mateus acrescenta a informação de que o retorno de Cristo para Cafarnaum foi de barco. Evidentemente, ou a Sua primeira viagem terminou na margem oriental do mar da Galileia, ou quando a publicidade que o leproso curado fez a Seu respeito O levou a Sc retirar temporariamente do ministério público (ver com. de Mc 1:45).

Cafarnaum. Ver com. de Mt 4:13. Mateus se refere a Cafarnaum como “a Sua própria cidade” (9:1), isto é, a sede de onde Ele conduzia Seu ministério na Galileia e a qual Ele parece ter considerado Seu lar.

Correu. Literalmente, “ouviu-se”.Que. Do gr. hoti, este “que”, significa que

as palavras seguintes, “Ele estava em casa”, são uma citação direta do que estava sendo divulgado pelo povo em geral.

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2:2 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Em casa. Apenas Marcos menciona especificamente este tato, como acontece com os numerosos detalhes da narrativa que os outros escritores sinóticos omitem. Isto equivalia a dizer “no lar”, sem dúvida, uma referência ao lar de Pedro (ver D IN, 267, 271; ver com de Mc 1:29).

2. Logo (ARC). A saída de Cristo de Cafarnaum para a Sua primeira viagem mis­sionária foi ocasionada pela agitação popular c o grande número de pessoas que foi a Sua procura (ver Mc 1:33, 37). Porém, a Sua ausên­cia de Cafarnaum não abateu o entusiasmo do povo. Tão logo se soube que Jesus estava nova­mente na cidade, o povo afluiu a Ele.

3. Paralítico. Do gr. paralutikos.Levado por quatro homens. Um deta­

lhe mencionado apenas por Marcos. Este e outros detalhes não apenas refletem a veraci­dade da narrativa, mas também indicam que se trata do relato de uma testemunha ocular, neste caso, provavelmente Pedro (ver p. 611).

4. Descobriram o eirado. Literalmente, ► “destelharam o telhado”. Lucas 5:19 registra

que eles “por entre as telhas, o baixaram” (ARC). Como é comum no Oriente Médio, a casa tinha um terraço plano e uma escada externa no pátio lhe dava acesso (ver At 10:9; cf. Dt 22:8). Certamente o telhado era cons­truído colocando-se telhas ou ladrilhos sobre os caibros.

Esse método incomum de se aproximar de Jesus foi a sugestão desesperada do pró­prio paralítico, o qual temia que, embora tão perto de Jesus, pudesse perder sua oportu­nidade (ver DTN, 268). A maneira inespe­rada como Jesus havia saído de Cafarnaum (Mc 1:37, 38), permanecera ausente por várias semanas e, finalmente, Se retirara para o deserto (Me 1:45), provavelmente aumentara o desespero desse homem, que enfrentava a perspectiva de uma morte pre­matura (ver DTN, 267).

Leito. Do gr. krabbatos, o “sofá” ou a “cama” de um homem pobre. A cama tosca

na qual o homem jazia provavelmente era pouco mais do que uma esteira de palha ou uma padiola almofadada.

5. Vendo-lhes a fé. Isto é, do paralítico e dos quatro carregadores da padiola. O lato de abrirem um buraco através do telhado era uma prova eloquente do seu urgente senso de necessidade, e de sua fé, que somente Jesus poderia satisfazer. Tal senso de neces­sidade e fé é essencial para que o poder curador de Jesus possa ser aplicado tanto ao aspecto físico quanto ao espiritual, (ver com. de Lc 5:8).

Lilho. Do gr. teknon, literalmente, “criança” ou “menino”. Quando utilizado no trato pessoal, como aqui, significa "meu filho”. Considerando que ele havia contraído essa doença como resultado direto de uma vida pecaminosa (DTN, 267), parece que a sua história deve ter sido muito semelhante à do filho pródigo (Lc 15:13, 14). O mesmo havia, aparentemente, ocorrido no caso do paralí­tico curado em Betesda meses antes (Jo 5:14).

Teus pecados estão perdoados. Ver com. do v. 10. A aflição lhe havia dado tempo para refletir, e ele compreendeu que seu sofrimento se devia aos seus pecados. Jesus Se referiu aos pecados, que pesavam tanto sobre a mente desse homem. O paralítico fora cm busca de saúde espiritual, bem como de cura física (ver DTN, 267, 268). Ele esti­vera fisicamente desamparado e espiritual- mente desesperado enquanto não apresentou seu caso a Jesus, o qual lhe providenciou ajuda e esperança (ver com. de Jo 9:2).

6. Alguns dos escribas. Ver p. 43 e com. de Mc 1:22. Segundo Lucas 5:17, esses “fariseus e mestres da lei” haviam vindo “de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém". A vinda de representantes de tantos lugares diferentes sugere que sua presença nessa ocasião específica foi mais do que casual. O fato de que esses líderes religiosos eram exatamente das regiões em que Jesus havia trabalhado até então, parece

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MARCOS 2:10

indicar que eles estavam em Cafarnaum para investigar Aquele que havia Se tornado o cen­tro desse intenso interesse público. A situa­ção lembra a delegação que os líderes em Jerusalém enviaram ao Jordão para investigar a obra de João Batista (Jo 1:19-28) dois anos antes. Essa delegação proveniente da Judeia, onde Jesus havia trabalhado anteriormente, pode ter sido convocada para avisar os líde­res na Galileia a respeito de Sua forma de atuar em vista das atividades mais recentes de Jesus por lá.

Esses homens eram espiões (DTN, 267; cf. p. 210), e Jesus como que para lembrá- los vividamente da cura do paralítico de Betesda (Jo 5:1-9), então curou outro homem que sofria da mesma doença. Eles não pre­cisaram esperar muito para encontrar o que estavam procurando - supostas evidências de que Jesus era blasfemador. Sua declaração anterior perante os líderes judaicos havia sido considerada como blasfêmia (Jo 5:18); nesta ocasião Ele exerceu publicamente uma prer­rogativa divina que eles também tomaram como blasfêmia. Esse episódio assinala o pri­meiro dos vários conflitos com as autoridades judaicas durante Seu ministério na Galileia.

Arrazoavam. Do gr. dialogizomai, “avaliar os relatos”, “conversar”, “debater”, “argumentar”.

7. Ele. Do gr. hontos, "este”, com sen­tido depreciativo. Eles pensaram que haviam apanhado Jesus no ato de blasfemar, mas estranhamente, a evidência não foi sufi­ciente para que eles a apresentassem contra Ele em Seu julgamento um ano e meio mais tarde (Mt 26:59, 60; Mc 14:55, 56). A difi­culdade deles consistia no fato de que Jesus os confrontou com a operação prática do poder da divindade, perdoando os pecados

^►e curando doenças, e não através de afirma­ções específicas de pretensões messiânicas (ver p. 205, 206).

Blasfêmia. Do gr. blasphêmiai, "declara­ções injuriosas”, "calúnias”, isto é, quaisquer afirmações ofensivas. Os escribas alegavam

que, ao perdoar os pecados do paralítico, Jesus, um simples homem, como eles O consideravam, havia usurpado as prerroga­tivas da divindade. Segundo o ritual ceri­monial, o sacerdote presidia a confissão de um homem, porém não pronunciava pala­vras de perdão. Sua aceitação do sacrifício simplesmente simbolizava que Deus havia aceitado a confissão (ver Mb 10:1-12). Por sua recusa em reconhecer as evidências da presença c operação da divindade, os escri­bas estavam cometendo o próprio pecado do qual, em seu coração, acusavam a Cristo (ver Mt 12:22-32). A penalidade levítica para a blasfêmia era morte por apedrejamento (Lv 24:16), embora os judeus no tempo de Jesus geralmente não tivessem liberdade para executá-la.

Quem pode perdoar [...]? Quanto a sua teologia, os escribas tinham razão, pois o AT claramente salientava que Deus é o único que perdoa pecados (ís 43:25; Jr 31:34; cf. Jo 10:33). Seu erro consistia em não reco­nhecer que o Homem que estava diante deles era Deus (ver p. 205, 206).

8. Percebendo. Do gr. epiginoskõ, “saber exatamente”, “reconhecer". Jesus lia os pen­samentos dos homens (Mc 12:15; Lc 6:8; 9:47; 11:17; cf. Jo 4:16-19; 8:7-9), e isso os deixava furiosos.

9. Qual é mais fácil? Aparentemente, os escribas estavam pensando: “E fácil dizer que os pecados de uma pessoa estão per­doados, pois ninguém realmente pode saber se estão." Jesus imediatamente aceitou seu desafio não pronunciado e lhes perguntou: “O que vocês acham mais fácil: perdoar os pecados de um homem ou curá-lo de para­lisia?" A resposta era óbvia.

10. Para que saibais. Jesus realizou um milagre que todos puderam ver como evidência da realidade de um milagre muito maior que eles não podiam ver (cf. Rm 1:20).

O Filho do Homem. Neste relato, pela primeira vez, os três autores dos sinóticos

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2:11 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

usam este título distintivo (Mt 9:6; Mc 2:10; Lc 5:24). Esta era a forma com a qual Cristo Se referia a Si mesmo, encontrada cerca de 80 vezes nos evangelhos. Ninguém, entre­tanto, se dirigia a Ele por este título, nem qualquer dos autores dos evangelhos se refere a Ele deste modo. Este título era entendido, pelo menos entre alguns judeus, como um nome para o rei messiânico do novo reino a ser estabelecido. Exceto sob juramento (Mt 26:63, 64; Mc 14:61, 62) e em parti­cular àqueles que estavam dispostos a crer nEle como o Cristo (Mt 16:16, 17; jo 3:13- 16; 4:25, 26; 16:30, 31), Jesus não afirmou diretamente Seu caráter messiânico. Era Seu objetivo que os homens reconhecessem atra­vés de Sua vida, de Suas palavras e obras, as evidências de que as profecias a respeito do Messias haviam se cumprido nEle (ver p. 205, 206).

Jesus era literalmente “o Filho do homem”, tanto num sentido puramente histórico (ver Lc 1:31-35; Rm 1:3, 4; Cl 4:4) como em um sentido mais elevado. O título, Filho do Homem, designa Jesus como o Cristo encar­nado (ver Jo 1:14; Fp 2:6-8). Indica o mila­gre através do qual o Criador e a criatura Se uniram em uma pessoa divino-humana. Testifica da verdade de que os filhos dos homens podem realmente se tornar filhos de Deus (Jo 1:12; Cl 4:3-7; ljo 3:1, 2). A divindade Se identificou com a humani­dade de modo que a humanidade pudesse ser recriada segundo a imagem da divin­dade (DTN, 25; sobre Jesus como o Filho de Deus, ver Le 1:35; Jo 1:1-3; e como Filho do homem, ver Lc 2:49, 52; Jo 1:14; ver Nota Adicional a João 1).

Autoridade. Do gr. exousia. A pala­vra grega usual para “poder”, no sentido de “força”, é dynamis. Operar um milagre requeria poder, mas o perdão de pecados era uma questão de autoridade. Neste ver­sículo, a palavra exousia ocorre no início da frase, o que salienta a autoridade de Cristo

para perdoar pecados. Os líderes judeus desafiaram tal autoridade muitas vezes (ver Mc 11:28).

Perdoar pecados. A causa da doença precisava ser removida antes que o sofre­dor pudesse ser libertado da doença da qual sofria (ver com. de Mc 2:5). Curar o corpo sem curar o espírito poderia resultar em uma repetição da conduta que havia provocado a enfermidade do jovem. Assim, Cristo, que deu ao homem um novo corpo, primeiro lhe proporcionou um novo coração.

Disse. A declaração entre parênteses (na ARC) está inserida no meio do pronun­ciamento de Jesus para indicar que nesse •< ponto Ele deixou de Se dirigir aos escribas e falou ao paralítico. Ela ocorre na mesma posição nas três versões do relato (ver Mt 9:6; Lc 5:24). Exemplos semelhantes de lingua­gem idêntica podem ser encontrados em Marcos 1:16 e Mateus 4:18; Marcos 5:28 e Mateus 9:21; Marcos 14:2 e Mateus 26:5; Marcos 15:10 e Mateus 27:18 (ver p. 164- 166; cf. p. 311-313).

11. Eu te mando. Do gr. soi legõ, “a ti Eu digo”. A ordem das palavras em grego realça a quem Jesus estava falando. Ele diri­giu as palavras do v. 10 aos escribas incré­dulos; então, como uma prova para eles, Ele Se voltou para o paralítico e disse: “A ti Eu digo, levanta-te.” O poder para curar fisica­mente era uma confirmação da autoridade para curar espiritualmente.

Toma o teu leito. O sofredor havia sido carregado até Jesus em seu leito; por fim ele se retira da presença de Jesus carregando seu leito - uma evidência da grande transforma­ção que havia ocorrido.

12. Jamais vimos coisa assim! O ho­mem que fora à presença de Jesus com um profundo senso de necessidade, partiu com uma alegria triunfante, enquanto aqueles que se aproximaram com presunção, orgulho e malícia, foram embora “mudos de espan­to e esmagados pela derrota” (DTN, 270).

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MARCOS 2:15

O espírito com o qual os homens vão a Jesus determina se encontrarão nEle uma esca­da para o Céu ou uma pedra de tropeço para a destruição (ver Mt 21:44; Lc 2:34; IPe 2:8).

13. De novo, saiu Jesus. [A vocação de Levi, Mc 2:13, 14 = Mt 9:9 = Lc 5:27,28. Comentário principal: Mc. Ver mapa, p. 215; gráfico, p. 228]. Aparentemente esta foi uma viagem breve pelas redondezas de Cafarnaum, e não uma viagem importante de pregação pela Galileia. A segunda via­gem, que foi precedida pela nomeação dos doze e o Sermão do Monte, só começou um pouco mais tarde.

14. Viu. Ver com. de Lc 5:27.Levi. Lucas também usa este nome

(Lc 5:27), mas Mateus na mesma história prefere o nome Mateus (Mt 9:9). Os dois nomes se referem ao mesmo homem, pois Mateus também é chamado “o publicano [coletor de impostos]” (Mt 10:3) e porque em suas listas dos doze, os outros evange­lhos citam Mateus e não Levi (Mc 3:18; Lc 6:15; cf. At 1:13). Era comum para os judeus ter mais de um nome, como no caso de Simão Pedro e de João Marcos (ver Mc 3:14).

Filho de Alfeu. Alguns têm identificado “Levi o filho de Alfeu” com “Tiago, filho de Alfeu” (Mc 3:18). Entretanto, em vista da evi­dência dada acima para identificar Levi com Mateus, fica claro que Levi e Tiago eram pessoas diferentes; se eram irmãos é impos­sível dizer (ver com. de Mc 3:18).

Coletoria. Isto é, a repartição onde se pagavam os impostos. Este lugar aparente­mente ficava “junto do mar” (Mc 2:13) e era provavelmente uma repartição em que Herodes Antipas cobrava impostos de cara­vanas e viajantes que passavam ao longo da estrada principal que vinha de Damasco e do oriente rumo a Ptolemaida (Aco), junto ao Mediterrâneo (ver com. de Is 9:1), ou de um lado a outro do Mar da Galileia,

procedentes do território de Herodes Filipe (quanto à localização estratégica e comer­cial de Cafarnaum, ver com. de Mt 4:13; Lc 4:31).

Na opinião popular, os publicanos eram considerados de má reputação. Com fre­quência eram não apenas instrumentos da opressão romana, mas extorquiam por sua própria conta, aproveitando-se de sua autori­dade oficial para oprimir e defraudar as pes­soas. Eram odiados e desprezados por todos, como proscritos sociais e religiosos (ver p. 53, 54; ver com. de Lc 3:12).

Segue-Me! Linguagem costumeira que Cristo usava ao estender Seu convite para o discipulado (ver Mt 4:19; Jo 1:43). Convidado a tomar a grande decisão de sua vida em um instante, Mateus estava pronto. Tal decisão pressupõe que ele pre­viamente tivera contato com Jesus. Em seu coração já devia existir um desejo de seguir o Mestre. Porém, como conhecia muito bem a atitude dos rabis para com os publicanos, sem dúvida não lhe ocorria que este grande Rabi Se dignaria a aceitá-lo como um de Seus discípulos. Lucas 5:28 acrescenta que Mateus “deixou tudo” (NTLH) para seguir a Jesus; ele abando­nou uma ocupação lucrativa para servir sem nenhuma remuneração.

15. Sentado (ARC). [Jesus come com pecadores, Mc 2:15-17 = Mt 9:10-13 = Lc 5:29-32. Comentário principal: Mc. Ver mapa, p. 216; gráfico, p. 228]. Do gr. katakei- mai, “recostar-se”. Embora nos tempos do AT o costume judaico habitual era se assentar para comer, no tempo de Jesus, pelo menos nas casas mais luxuosas, as pessoas geral­mente se reclinavam para comer numa pla­taforma baixa ou sofá, ficando inclinadas em relação à mesa. Eles se assentavam em almofadas e se apoiavam no braço esquerdo. A mesa habitual era equipada em três lados com essas plataformas inclinadas, sendo que o quarto lado era mantido aberto para que os

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criados servissem o alimento. O fato de a casa de Mateus ser equipada com esse tipo de mesa sugere que ele era um homem de posses e cultura.

O banquete na casa de Mateus teve lugar algumas semanas, talvez meses, após seu chamado (ver DTN, 342; ver com. de Mc 5:21). Está registrado aqui provavelmente para completar, em um só contexto, o relato das experiências de Mateus.

A mesa. Esta expressão foi acrescentada pelos tradutores para completar a ideia implí­cita no contexto (cf. Mc 2:16).

Casa de Levi. O contexto deixa claro que esta era a casa de Mateus e que Jesus era o convidado de honra (ver também Lc 5:29; cf. DTN, 274).

Publicanos. Do gr. telõnai, “cobradores de impostos”, “fiscais da receita” (ver com. de Mc 2:14; Lc 3:12).

Pecadores. Ver com. de Mc 2:17. Relacionamentos como este, que poderiam parecer infrutíferos, na ocasião, sem dúvida contribuíram para produzir a colheita daque­les que se colocaram ao lado dos seguido­res de Jesus e se tornaram testemunhas da verdade, quando o Espírito Santo foi derra­mado sobre os crentes no Pentecostes (ver DTN, 274, 275).

Estes. Isto é, os que aceitaram os Seus ensinos. Alguns, além de Mateus, evidente­mente se decidiram a favor de Jesus nesse momento; outros, sem dúvida, o fizeram mais tarde, especialmente após a ressurrei­ção (ver DTN, 275).

16. Escribas e fariseus (ARC). Evi­dencias textuais (cf. p. 136) apoiam a variante “escribas dos fariseus” (ARA), isto é, escribas que eram fariseus. Embora alguns dos escri­bas fossem saduceus, a maioria deles era fari­seu, pois eram estes últimos que tinham um interesse especial nas minúcias da lei (ver p. 39, 40, 43). Podemos considerá-los mais como “escribas fariseus” do que como “escri­bas saduceus”.

Discípulos. Do gr. matkêtai, “aprendi­zes”, “alunos”. Nos evangelhos esta palavra é geralmente usada para identificar o grupo que acompanhava Jesus e O auxiliava em Seu ministério. Os discípulos eram mathêtai; Cristo era seu didaskalos, “mestre” ou "pro­fessor” (ver com. de Jo 3:2).

Ao reclamarem aos discípulos, os escri­bas esperavam diminuiu o respeito que tinham por Seu Mestre. Lucas diz que os escribas “murmuravam” contra os discípulos (Lc 5:30), evidentemente, percebendo que um ataque direto contra Jesus não os ajuda­ria cm nada, assim como haviam se provado infrutíferas outras tentativas para silenciá- Lo (ver Mc 2:6-11; Jo 2:18-20; 5:16-47).

Come [e bebe]. Comer e beber com gen­tios era uma transgressão da lei cerimonial e envolvia contaminação cerimonial (At 11:3). Por motivos práticos os publicanos eram clas­sificados como gentios e, portanto, contados entre os rejeitados socialmente (ver Mc 2:14; Lc 3:12, 13).

17. Os sãos. Do gr. hot ischuontes, “os que têm vigor”. Lucas usa a expressão hoi hu- giainontes, “os que são sadios”. A expressão de Lucas é um termo mais exato, derivado de hugiês, a palavra grega habitual para “saúde”. Paulo repetidas vezes usa a mesma palavra, a exemplo de Lucas, e a aplica à "sã” doutri­na (lTm 1:10), às “sãs” palavras (2Tm 1:13) e a ser “sadios” na fé (Tt 1:13).

Não vim. Ao declarar a profunda ver­dade do objetivo de Sua missão na Terra, Cristo revelou a hipocrisia e o raciocínio capcioso dos fariseus e sua atitude diante do relacionamento de Cristo com os publi­canos. Se esses homens eram tão pecadores como os fariseus alegavam, deviam estar em maior necessidade do que as outras pes­soas. Não deveriam ser eles, então, prcci- samente aqueles aos quais Cristo dedicaria Seus melhores esforços? Ele viera para "sal­var” o povo (Mt 1:21), mas se Ele pudesse salvar apenas os que já eram justos,

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MARCOS 2:18

não poderia ser um verdadeiro Salvador. A prova de Sua missão como Salvador do mundo dependia do que Ele podia fazer pelos pecadores.

Justos. Os fariseus pretendiam ser capa­zes de alcançar a justiça mediante estrita observância das exigências da lei cerimo­nial. Posteriormente, Jesus esclareceu que esse tipo de “justiça” era uma falsificação e não tinha valor no reino que Ele viera pro­clamar (Mt 5:20; cf. 23:1-33). Porém, nessa ocasião, devido às circunstâncias, Ele acei­tou sua suposta justiça própria (Mc 2:16, 17), porque assim procedendo pôde deixar clara a razão pela qual devia ministrar às necessi­dades espirituais dos publicanos.

Em realidade, às vezes, os fariseus eram culpados dos mesmos pecados que eles tão implacavelmente detestavam nos cobradores de impostos. Jesus declarou que eles devora­vam “as casas das viúvas” (Mt 23:14) e absol­viam a um filho avarento que não cuidava des seus pais idosos (ver Mc 7:11), se desta maneira pudessem se enriquecer. Assim sendo, os fariseus, ao colocarem ênfase na retidão legal, com demasiada frequência agiam como hipócritas. Por outro lado, os publicanos, que não faziam alarde dc respei­tar as leis cerimoniais e, apesar de seus peca­dos, às vezes, estavam em melhor condição de aceitar os ensinos de Jesus (ver com. de Lc 18:9-14).

18. Os discípulos de João. [Do jejum, Mc 2:18-22 = Mt 9:14-17 = Lc 5:33-39. Co­mentário principal: Mc. Ver mapa, p. 216; sobre as parábolas, ver p. 197-204].

Estavam jejuando. Sem dúvida, os dis­cípulos de João partilhavam, ao menos até certo ponto, do seu estilo de vida abstêmio (ver Mt 3:4), como é evidenciado aqui por seu jejum. Parece claro que eles estavam jejuando no momento em que formularam sua pergunta a Jesus.

Uma antiga obra judaica sobre o jejum, datada do primeiro século d.C., intitulada

Megillath Taanith, menciona os judeus que naquele tempo jejuavam regularmente no segundo e quinto dias da semana, isto é, na segunda e na quinta-feira (ver Lc 18:12). A tradição judaica atribui este costume à lenda de que Moisés iniciou o jejum de 40 dias no monte Sinai (ver Ex 34:28) numa quinta-feira e o concluiu numa segunda- feira. Contudo, é provável que a observân­cia desses dois dias para jejuar tenha surgido do desejo de manter os dias de jejum o mais longe possível do sábado e, ao mesmo tempo, o mais distante possível um do outro (ver Strack and Billerbeck, Kommentar zum Neuen Testament, vol. 2, p. 241-243).

Strack e Billerbeck, principais autori­dades em judaísmo antigo, indicam que os motivos reais por trás desses jejuns bis­semanais não são totalmente claros, mas parece provável que tenham surgido graças ao desejo de pessoas especialmente zelosas que procuravam fazer expiação pelo munda- nismo da nação, que, segundo eles, estava provocando rapidamente sua destruição. Em geral, entre os antigos judeus, o jejum era praticado pelos indivíduos para com­pensar um delito ou para assegurar uma resposta favorável a uma oração ou cum­primento de um desejo. Certamente, que muitos jejuavam porque acreditavam que esse ato conquistava um mérito especial perante Deus.

Essas práticas de jejuar se baseavam, logicamente, num conceito errôneo do cará­ter de Deus e da natureza da justificação. Com frequência o jejum se degenerava num meio de justificação pelas obras, mediante as quais as pessoas esperavam aplacar um Deus austero e obter Seu favor, indepen- dentemente da condição de seu coração. Séculos antes da época de Jesus, os profetas haviam denunciado essas ideias, ao decla­rar que Deus passara a abominar os jejuns e outros ritos religiosos de Israel (Is 58:3-5; Zc 7:5, 6).

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Há ocasiões em que o cristão neces­sita de agudeza de espírito e discernimento; ele pode ter importantes decisões a tomar, ou pode precisar discernir mais claramente a vontade de Deus. Sob tais circunstâncias o jejum pode se provar uma bênção. Tal jejum não significa necessariamente completa abs­tinência de alimento, mas uma dieta limitada ao que é essencial para manter a saúde e o vigor. O cristão pode como Daniel, se abster de usar “manjar desejável” (Dn 10:3). Deus não é honrado e a experiência cristã de uma pessoa não é promovida por qualquer prá­tica que enfraqueça o corpo ou prejudique a saúde (ver Mt 6:16).

Vieram alguns e Lhe perguntaram. As pessoas mencionadas aqui não são clara­mente identificadas, e o evangelho de Lucas também não é mais claro a este respeito (ver Lc 5:33). Entretanto, Mateus afirma com toda certeza que foram os discípulos de João Batista que importunaram a Jesus com a pergunta concernente ao jejum (Mt 9:14).

Segundo a cronologia experimental ado- *>► tada neste Comentário, João havia sido apri­

sionado no começo da primavera daquele ano, 29 d.C. e, provavelmente, tenha sido executado pouco antes da Páscoa de 30 d.C. (ver Mt 4:12; Mc 6:14-29; Lc 3:19, 20). Seus discípulos levantaram a questão do jejum provavelmente não mais do que alguns pou­cos meses antes de ele ter morrido.

Teus discípulos não jejuam. Assim, os escribas aparentemente esperavam afastar de seu Mestre o crescente grupo de discípulos.

19. Convidados. A comparação que Jesus usou aqui tem suas raízes na pro­fecia do AT, em que o relacionamento de Yahweh com o Seu povo é retratado como o do noivo com a noiva (ls 62:5; cf. Os 1:2). João Batista já havia usado a mesrna figura para explicar a identificação de Cristo com o Messias (Jo 3:25-30), na ocasião em que os líderes judaicos haviam procurado intro­duzir uma ponta de rivalidade entre ele e

Jesus, provavelmente um ano antes dessa ocasião. Parece significativo, portanto, que Jesus tivesse usado essa breve figura na pre­sença dos discípulos de João Batista.

Jesus não Se desviou em nenhum deta­lhe dos requisitos religiosos que Ele próprio havia ordenado mediante Moisés. A con­tenda entre Ele e os fariseus girava em torno das tradições dos anciãos, dos “far­dos pesados” que eram “difíceis de carre­gar” (Mt 23:4). Esses requisitos tradicionais haviam sido alçados a uma posição de tanta honra e importância que, às vezes, permitia- se que eles anulassem o verdadeiro espírito da lei de Moisés (Mc 15:3-6; cf. DTN, 395). Assim, a forma de religião que os escribas e fariseus procuravam impor aos demais tor­nava sua adoração a Deus “vã” e sem sentido (Mc 7:7; ver com. de Mt 23:2, 3).

A seguir, o que Jesus demonstrou, em três breves figuras, foi a incompatibilidade de Seus ensinos com os dos escribas. Os dis­cípulos de João, embora aceitassem Cristo como o Messias (ver Jo 1:35-37), praticavam pelo menos alguns dos regulamentos ceri­moniais impostos pelos escribas e fariseus (Mc 2:18). Na parábola dos convidados para o casamento, “os filhos das bodas”, Cristo defendeu Seus discípulos contra a acusa­ção de que eles também não se sujeitavam à tradição. Ele quis dizer que as práticas cerimoniais deveriam estar subordinadas a questões de maior importância. Então, atra­vés dos exemplos do vinho novo (Mc 2:22) e da veste velha (Mc 2:21), Jesus explicou melhor o princípio fundamental envolvido: a diferença irreconciliável entre os novos ensinos e os velhos. Aqui Ele explicou por que considerava como inúteis as observân­cias cerimoniais rabínicas. Em conjunto, essas três parábolas tinham por objetivo esclarecer aos discípulos de João Batista que, se eles verdadeiramente cressem nos ensinos de seu mestre, eles também acei­tariam os de Jesus.

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Não podem jejuar. Seria considerado um insulto aos noivos se os convidados do casamento ficassem pesarosos e tristes e se recusassem a participar da festa.

20. Dias virão. Aqui, pela primeira vez, Cristo, de maneira pública, deu a entender que finalmente seria tirado de Seus discí­pulos, assim como o noivo é retirado à força das festividades nupciais. Mais de um ano antes Ele havia dito a Nicodemos em parti­cular que seria “levantado” (Jo 3:14).

Tirado. Do gr. apairõ, “erguer”, “levar embora”. Nesse contexto, a palavra pode sig­nificar separação forçada e dolorosa, o que realmente aconteceu com a morte violenta de Jesus. Ele “foi tirado” deles na cruz e lhes foi devolvido depois da ressurreição.

21. Ninguém costura. Ver com. de Lc 5:36. Nesta metáfora ampliada, ou breve parábola, Cristo destaca a insensatez de ten­tar remendar o velho manto do judaísmo com o tecido novo de Seus ensinos.

Remendo. Os ensinos de Jesus não eram simplesmente um remendo a ser colocado no velho sistema religioso judaico.

Novo. Do gr. agnaphos, “sem cardar”, consequentemente, “novo” aqui significa “sem branquear” ou “sem encolher”.

Veste velha. Aqui o judaísmo é compa­rado a um manto gasto, que se tornou inútil e está a ponto de ser descartado. O espírito original da religião judaica havia se perdido muito tempo antes pela maioria daqueles

«►que haviam aderido a ela, e em seu lugar se desenvolvera um sistema formal. Através desta figura, Cristo procurou esclarecer aos discípulos de João Batista a futilidade de ten­tar entrelaçar as boas novas do reino do Céu com as desgastadas observâncias da tradi­ção judaica.

Fica maior a rotura. Isto é, quando a roupa é molhada após a aplicação do remendo. O que se pretende melhorar no velho manto apenas serve para tornar seus defeitos ainda mais evidentes.

22. Vinho novo. Ver com. de Lc 5:39. “Vinho novo” é o vinho no qual os elemen­tos da fermentação ainda não começaram a agir, ou no qual a ação já começou, mas ainda não foi completada. A comparação do evangelho com “vinho novo” e sua ação pelo processo de fermentação se assemelha, em essência, à parábola do fermento, mas des­taca um resultado diferente (ver com. de Mt 13:33). O vinho novo representa a verdade essencial de Deus operando no coração dos homens.

Odres. Na Antiguidade, esses reci­pientes eram feitos de couro de ovelhas ou bodes, sendo o couro das pernas costurado, e o gargalo, servindo como boca da vasilha. Os “odres velhos” perdiam sua elasticidade original e se tornavam secos e duros. Esta era a condição do judaísmo no tempo de Cristo.

Romperá os odres. Os ensinos revolu­cionários de Jesus não podiam se harmoni­zar com os dogmas reacionários do judaísmo. Seria inútil qualquer esforço para acomodar o cristianismo dentro do formalismo morto do judaísmo, isto é, unir os dois forçando o cristianismo a tomar a forma e se harmoni­zar com ele. Jesus ensinava que os princípios do reino do Céu aplicados ao coração dos homens conduziriam à prática desses prin­cípios na vida através de uma religião ativa e radiante (ver com. de Mt 5:2).

Tanto se perde o vinho. A tentativa de unir o novo com o velho resultaria numa dupla destruição. O “vinho” do evangelho seria “entornado” e os “odres” do judaísmo se “estragariam”.

Odres novos. Provavelmente, uma referência às pessoas prontas para receber o evangelho, ou a um novo tipo de organiza­ção eclesiástica através da qual o evangelho deveria ser promovido.

23. Aconteceu. [Jesus é senhor do sábado, Mc 2:23-28 = Mt 12:1-8 = Lc 6:1-5. Comentário principal: Mc. Ver mapa, p. 215]. E provável que esse episódio tenha ocorrido

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num dia de sábado no fim da primavera do ano 29 d.C., pois está narrado junto com os eventos daquele período de tempo.

Atravessar [...] as searas. Ou, “ao lado das lavouras de cereal”. Sem dúvida, os dis­cípulos não estavam caminhando entre os cereais pisoteando-os, mas por uma trilha que cruzava os campos.

Em dia de sábado. Visto que os fari­seus não fizeram objeção quanto a distância percorrida, a impressão é que esta não exce­dia a jornada de um sábado (At 1:12), isto é, mais ou menos um quilômetro (ver p. 38).

Searas. Literalmente, “de cereal ; nesse caso é quase certo que se tratava de trigo ou cevada. Lucas 6:1 acrescenta que os discí­pulos começaram a debulhar a cevada ou o trigo com as mãos, a fim de tirar as cascas.

24. Advertiram-No os fariseus. Esse foi o quarto encontro de Cristo com os escri­bas e fariseus que se registra desde o início de Seu ministério na Galileia (ver v. 6, 16, 18; com. de Lc 6:6).

Não é lícito. O ato dos discípulos não teria sido contestado cm nenhum outro dia da semana, exceto no sábado. A lei do AT estipulava especificamente que uma pessoa faminta podia comer do fruto ou cercal dc um campo ao passar por ele (ver Dt 23:24, 25).

O consentimento dc Cristo ao que os discípulos fizeram, assim como Seus pró­prios milagres de cura no sábado, são fre­quentemente mal compreendidos por intérpretes modernos. Argumentam que o próprio Jesus não observava nem ensinava Seus discípulos a observar as leis e regula­mentos do AT com relação à observância do sábado. Alguns até afirmam que a posição que Cristo tomou eom relação a esses as­suntos deve ser interpretada como Sua re­jeição ao quarto mandamento. A realidade é que Jesus pessoalmente respeitava os re­quisitos da lei de Moisés e do decálogo em todos os aspectos e ensinou Seus seguido­res a fazer o mesmo. Ele afirmou a natureza

eterna da vigência da lei moral (ver com. de Mt 5:17, 18; Jo 15:10; etc.) e reconheceu também a validade da lei cerimonial de Moisés como aplicável aos judeus daque­le tempo (ver Mt 23:3). •<«

Durante todo o Seu ministério, Cristo esteve em conflito com os líderes judaicos no tocante à validade das leis e tradições humanas (ver com. de Mc 7:2, 3, 8). Cristo assumiu uma atitude de inflexível oposição (ver com. de Mc 2:19) com relação a esses requisitos, cjue muitos dos Seus eontem- porâneos haviam passado a considerar até mesmo como mais importantes para a pie­dade do que as leis de Moisés e do decálogo.O exame mais superficial de muitos desses requisitos torna evidente seu caráter absurdo.No entanto, os fariseus ensinavam rigorosa- mente que a salvação só poderia ser obtida mediante a estrita observância de todas essas regras. A vida de um judeu piedoso tendia a se tornar um infindável e inútil esforço para evitar a contaminação cerimonial, em que se incorria quando o mínimo detalhe desses requisitos puramente humanos tivesse sido inadvertidamente desobedecido. Esse siste­ma de justiça pelas obras estava em eonflito mortal com a justiça pela fé.

A Mishnah enumera 39 tipos prineipais de trabalho proibidos no sábado (Shabbath, 7.2, ed. Soncino, p. 348, 349). Os primeiros onze eram etapas prévias à produção e pre­paro do pão: plantar, arar, colher, amarrar os molhos, debulhar, limpar, escolher (separan­do o que era adequado como alimento daquilo que não era), moer, peneirar, amassar, e cozer.Os doze seguintes se aplicam a etapas seme­lhantes no preparo de roupas, desde a tosquia das ovelhas até a costura das vestes. Estes são seguidos por sete passos no preparo da carca­ça de um veado para uso como alimento ou confecção de couro. Os itens restantes enu­merados têm a ver com escrever, construir, acender ou apagar fogo, e com o transporte de utensílios de um lugar para outro.

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Esses requisitos gerais eram explicados com minuciosos detalhes. Além desses regu­lamentos principais, havia outras incontá­veis cláusulas concernentes à observância do sábado. A mais conhecida, talvez, é a assim chamada “jornada de um dia de sábado” (At 1:12) de 2000 cúbitos ou cerca de um quilômetro (ver p. 38). Também era consi­derada transgressão do sábado o olhar para um espelho pendurado na parede (Shabbath, 149a, ed. Soncino, p. 759), ou mesmo acen­der uma vela. No entanto, os mesmos regu­lamentos permitiam vender a um gentio um ovo posto no sábado e contratar um gen­tio para acender uma vela ou fogo. Não era lícito cuspir no chão, pois uma folha de grama poderia assim ser irrigada. Não era permitido carregar um lenço no sábado, a menos que uma ponta dele estivesse cos­turada à roupa, o que nesse caso não mais era um lenço, tecnicamente, mas uma parte da roupa. Semelhantemente, o regulamento quanto à distância que alguém poderia cami­nhar no sábado podia ser contornado escon- dendo-se porções de alimento em intervalos apropriados ao longo do trajeto planejado. Dessa maneira, o lugar em que esse ali­mento havia sido colocado poderia ser con­siderado como outra “casa” do dono. Assim, de cada esconderijo de alimento seria possí­vel perfazer mais uma jornada de sábado até o seguinte esconderijo. Esses eram apenas alguns dos “fardos pesados e difíceis de car­regar” (Mt 23:4) que haviam sido colocados sobre os judeus piedosos dos dias de Cristo.

Desta maneira, ao coarem um mosquito e engolirem um camelo, os fariseus utiliza­vam a letra de regulamentos humanos para destruir o espírito da lei de Deus. O sábado, original mente designado para oferecer ao homem uma oportunidade de conhecer seu Criador através do estudo das obras cria­das, e refletir sobre Seu amor e bondade, tornou-se, em vez disso, um lembrete do caráter egoísta e arbitrário dos escribas e

fariseus. Ele passou efetivamente a repre­sentar mal o caráter de Deus, retratando-O como um tirano.

A natureza declara a sabedoria, o poder c o amor de Deus. No princípio, o sábado se releria a essas coisas para que o homem se ocupasse delas, a fim de que não ficasse tão absorto em suas próprias atividades e se esquecesse dAquele que o criou e que constantemente exercia poder divino para a sua felicidade e bem-estar. O problema que alguns cristãos atuais encontram para deci­dir o que pode ou não ser apropriado como atividade sabática é prontamente resolvido quando se tem um conceito claro do propó­sito do sábado. A verdadeira observância do sábado consiste em fazer tudo aquilo que nos aproxime mais de Deus, nos ajude a entender melhor Sua vontade para conosco e a forma que Ele nos trata, e nos induza a cooperar mais eficazmente com Ele em nossa vida e a contribuir para a felicidade e bem-estar dos 4 outros (ver com. de Is 58:13; Mc 2:27, 28).

25. Nunca lestes [...]? Jesus deu a entender que, ao estudarem as Escrituras, eles não compreenderam a lição implí­cita no incidente que Ele mencionaria a seguir.

Quando se viu em necessidade. Asleis sagradas e as coisas pertinentes ao san­tuário haviam sido ordenadas para o bem do ser humano e, se alguma vez estivessem em conflito com os seus melhores interesses, deveriam estar subordinadas àquilo que lhe era mais necessário.

26. Casa de Deus. O templo ainda não havia sido construído por ocasião do episódio referido aqui. A “casa de Deus” ainda con­sistia apenas do tabernáculo, que naquele tempo estava localizado em Nobe.

Abiatar. Abiatar era o filho de Aimeleque, que era o sumo sacerdote titular quando este episódio ocorreu (ver ISm 21:1, 6). As pala­vras de Jesus parecem sugerir que Abiatar representava seu idoso pai, de maneira que,

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2:27 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

em realidade, executava pelo menos algu­mas das funções do ofício sacerdotal, mesmo enquanto ainda vivia Aimeleque, e sob a sua supervisão. Quando Aimeleque foi morto, Abiatar fugiu para Davi, levando consigo a estola sagrada, símbolo do ofício sumo sacer­dotal (ver ISm 22:20). Uma situação análoga ocorreu nos dias de Cristo, quando Caifás era sumo sacerdote, mas Anás era reconhe­cido por todos como sendo um tipo de sumo sacerdote emérito (ver At 4:6; ver com. de Lc 3:2).

Pães da Proposição. Ver com. de Ex 25:30. Regras minuciosas para o preparo e uso do “pão da proposição” o separavam como santo. O pão velho, removido da mesa da proposi­ção no lugar santo, devia ser comido pelos sacerdotes dentro do recinto sagrado do san­tuário (ver com. de Lv 24:5-8).

Não é lícito comer. Somente os sacer­dotes podiam comer o pão consagrado (ver Lv 24:9).

27. Sábado. Ver com. de Gn 2:1-3; Êx 20:8-11.

Homem. Do gr. anthrõ-pos, literalmente, “uma pessoa”, um termo genérico que inclui homens, mulheres e crianças (ver com. de Mc 6:44). “Humanidade” refletiria mais acuradamente o significado de anthrõpos. O sábado foi planejado e estabelecido por um amoroso Criador, para o bem-estar da huma­nidade. Seria preciso forçar até o extremo o raciocínio para uma pessoa poder considerar o sábado “contra” o homem em algum sen­tido (ver com. de Cl 2:14).

Não o homem por causa do sábado. Deus não criou o homem porque Ele tinha um sábado e precisava de alguém para guardá- lo. Mais apropriadamente, um Criador onis­ciente sabia que o homem, a criatura de Suas mãos, necessitava de uma oportunidade para crescimento moral e espiritual e para desen­volver o caráter. Ele precisava de um tempo no qual os seus próprios interesses e ocupa­ções estivessem subordinados ao estudo do

caráter e da vontade de Deus, revelados na natureza e, mais tarde, por meio da reve­lação bíblica. O sábado do sétimo dia foi determinado por Deus para preencher essa necessidade. Alterar de alguma maneira as especificações do Criador com relação a quando e como o dia deve ser observado é a mesma coisa que negar que Deus sabe o que é melhor para as Suas criaturas.

Deus queria que o sábado fosse uma bên­ção, não um fardo, e que sua observância fosse para o bem do ser humano e não para o seu mal. Foi planejado para aumentar sua felicidade, e não para lhe trazer sofrimento.A guarda do sábado não consiste essencial­mente na observância mesquinha de certas formalidades e na abstenção de certas ati­vidades. Pensar dessa maneira é compreen­der mal o verdadeiro espírito e propósitos da observância do sábado e envolver-se na busca de justificação baseada em obras. Devemos nos abster de certas tarefas, de certos assun­tos e conversas, não porque ao assim fazer­mos pretendamos obter o favor divino. Devemos nos abster dessas coisas a fim de dedicar nosso tempo, energias e pensamen­tos para outros propósitos que aumentem nossa compreensão de Deus, a apreciação por Sua bondade, a capacidade para coo­perar com Ele e a habilidade para servi- Lo e ao nosso próximo mais eficazmente.A guarda do sábado que consiste apenas, ou meramente, no aspecto negativo de não fazer certas coisas, de nenhuma maneira é obser­vância do sábado. Somente quando se pra­tica o aspecto positivo da guarda do sábado, é que se pode esperar obter de sua obser­vância o benefício planejado por um sábio e amoroso Criador (ver com. de Is 58:13). «g

Os inumeráveis requisitos dos rabinos relativos à meticulosa observância do sábado se baseavam no conceito de que, à vista de Deus, o sábado era mais importante do que o próprio homem. De acordo com o raciocí­nio desses cegos expositores da lei divina,

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MARCOS 2:28

o homem fora feito para o sábado — feito para guardá-lo mecanicamente. Os rabinos reduziram o sábado a um absurdo por sua distinção rígida e insensata quanto ao que podia e o que não podia ser feito nesse dia (ver Mc 2:24). Eles enfatizavam o aspecto negativo da observância do sábado, isto é, de se abster de certas coisas. As formas da religião eram mostradas como sendo a sua essência.

28. De sorte que. Depois de destacar o propósito do sábado (Mc 2:27), Cristo dirige a atenção ao seu Autor e, dessa maneira, ao Seu próprio direito de decidir qual a melhor forma de cumprir esse propósito.

Filho do Homem. Ver com. de Mt 1:1; Mc 2:20; ver Nota Adicional a João 1.

Senhor. O próprio Salvador tem o direito de decidir o que é apropriado para esse dia. Consequentemente, os fariseus estavam se excedendo em suas prerrogativas (ver v. 24).

A igreja não tem o direito de sobrecarregar o sábado de restrições opressivas - como fize­ram os judeus - ou tentar transferir sua san­tidade de um dia para outro. Ambos são ardis do maligno que têm o propósito de afastar as pessoas do verdadeiro espírito da obser­vância do sábado. Ninguém tem o direito de alterar o dia escolhido por Deus, seja ele um fariseu ou clérigo cristão.

Também. Ou, “até”. A linha completa de raciocínio que Cristo desenvolveu perante os capciosos fariseus é mais claramente apresen­tada no relato feito por Mateus, da seguinte maneira: (1) A necessidade humana é mais importante do que os requisitos cerimo­niais ou tradições humanas (ver Mt 12:3, 4). (2) O trabalho que se realizava em conexão com o serviço do templo estava de acordo com os requisitos da observância do sábado (ver v. 5). (3) Cristo é maior do que o templo (ver v. 6) e do que o sábado (ver v. 8).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-12 -DTN, 262-271 3-5-T3, 1685 -Pj, 125; CBV, 174;

T6, 232 5-11 - T6, 2346 -T8, 202

7 - DTN, 269; CBV, 76 10 - DTN, 27012-DTN, 269; CBV, 7714-22 - DTN, 272-280 17 - PJ, 58; FEC, 252; TM,

230, 351; T2, 74; T3, 49;

T4, 42; T5, 219 20 - DTN, 277 27-T1, 533; T2, 582; T4,

24727, 28 - DTN, 285, 288 28 - GC, 447

Capítulo 31 Cristo cura o homem com uma mão ressequida e 10 a muitos outros enfermos.

11 Repreende espíritos imundos, 13 escolhe os doze apóstolos e 22 reprova os escribas pela blasfêmia de atribuir a Belzebu a expulsão dos demônios.

31 Ele indica quem são Seus irmãos, irmãs e mãe.

1 De novo, entrou jesus na sinagoga e es­tava ali um homem que tinha ressequida uma das mãos.

2 E estavam observando a Jesus para ver se o curaria em dia de sábado, a fim de O acusarem.

3 E disse Jesus ao homem da mão ressequi­da: Vem para o meio!

4 Então, lhes perguntou: É lícito nos sába­dos fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou tirá-la? Mas eles ficaram em silêncio.

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3:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

5 Olhando-os ao redor, indignado e condoído com a dureza do seu coração, disse ao homem: Estende a mão. Estendeu-a, e a mão lhe foi restaurada.

6 Retirando-se os fariseus, conspiravam logo com os herodianos, contra Ele, em como Lhe ti-

► rariam a vida.7 Retirou-Se Jesus com os Seus discípulos

para os lados do mar. Seguia-0 da Galilcia uma grande multidão. Também da judeia,

8 de Jerusalém, da Idumeia, dalém do Jordão e dos arredores de Tiro e de Sidom uma grande multidão, sabendo quantas coisas Jesus fazia, veio ter com Ele.

9 Então, recomendou a Seus discípulos que sempre Lbe tivessem pronto um barquinho, por causa da multidão, a fim de não O comprimirem.

10 Pois curava a muitos, de modo que todos os que padeciam dc qualquer enfermidade se ar­rojavam a Ele para O tocar.

11 Também os espíritos imundos, quando O viam, prostravam-se diante dEle e exclamavam: Tu és o Filho de Deus!

12 Mas Jesus lhes advertia severamente que O não expusessem à publicidade.

13 Depois, subiu ao monte e chamou os que Ele mesmo quis, e vieram para junto dEle.

14 Então, designou doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar

15 c a exercer a autoridade de expelir demônios.16 Eis os doze que designou: Simão, a quem

acrescentou o nome de Pedro;17 Tiago, filho dc Zebedcu, c João, seu irmão,

aos quais deu o nome de Boanerges, que quer dizer: filhos do trovão;

18 André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o Zclotc,

19 e Judas Iscariotes, que foi quem O traiu.20 Então, Ele foi para casa. Não obstante, a

multidão afluiu de novo, de tal modo que nem podiam comer.

21 E, quando os parentes dc Jesus ouviram isto, saíram para O prender; porque diziam: Está fora dc Si.

22 Os escribas, que haviam descido de Je­rusalém, diziam: Ele está possesso de Belzebu. E: E pelo maioral dos demônios que expele os demônios.

23 Então, convocando-os Jesus, lhes disse, por meio de parábolas: Como pode Satanás ex­pelir a Satanás?

24 Se um reino estiver dividido contra si mes­mo, tal reino não pode subsistir;

25 se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir.

26 Se, pois, Satanás se levantou contra si mes­mo e está dividido, não pode subsistir, mas pe­rece.

27 Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá- lo; e só então lhe saqueará a casa.

28 Em verdade vos digo que tudo será perdoa­do aos filhos dos homens: os pecados e as blasfê­mias que proferirem.

29 Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno.

30 Isto, porque diziam: Está possesso de um espírito imundo.

31 Nisto, chegaram Sua mãe e Seus ir­mãos e, tendo ficado do lado de tora, manda­ram chamá-Lo.

32 Muita gente estava assentada ao redor dEle e Lhe disseram: Olha, lua mãe, Teus ir­mãos e irmãs estão lá fora à Pua procura.

33 Então, Ele lhes respondeu, dizendo: Quem é Minha mãe e Meus irmãos?

34 E, correndo o olhar pelos que estavam as­sentados ao redor, disse: Eis Minha mãe e Meus irmãos.

35 Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é Meu irmão, irmã e mãe.

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MARCOS 3:7

1. De novo, entrou. [O homem da mão ressequida, Mc 3:1-6 = Mt 12:9-14 = Lc 6:6-11. Comentário principal: Mc e Lc. Ver mapa, p. 215; sobre milagres, p. 204- 210]. Esse sábado não deve ser o mesmo que o mencionado em Marcos 2:23. E citado aqui como outro exemplo no qual os escribas e fariseus fizeram objeção à atitude de Jesus com respeito ao sábado.

Ressequida uma das mãos. Ou, “uma das mãos atrofiada” (NV1). O grego indica que a mão ressequida era devido a acidente ou ao resultado de doença e não a um defeito congênito.

2. Estavam observando. Ver com. de Lc 6:7. Está claro aqui o que os fariseus pre­tendiam (ver Mc 3:6).

4. Vida. Do gr. psuchê (ver com. de Mt 10:28).

Ficaram em silêncio. Seu silêncio raivoso foi um reconhecimento de derrota. Encontros anteriores com Jesus lhes ha­via mostrado que nada poderiam obter ao desafiá-Lo publicamente, pois Ele sempre

► conseguia voltar contra eles seus próprios argumentos, de uma forma que revelava a verdade e tornava evidente ao povo que a po­sição dos rabinos era insustentável.

5. Indignado. Frequentemente se diz que a única ira que não implica pecado é a ira contra o pecado. Deus odeia o pecado, porém ama o pecador. Os falíveis mortais, com demasiada frequência cometem o erro de odiar o pecador e amar o pecado. A ira contra o mal por ser mal, sem maus desejos ou maus propósitos contra os outros, certa­mente se pode considerar um traço louvá­vel de caráter.

Condoído. Somente Marcos registra os sentimentos pessoais de Jesus. Ele ficou “condoído” porque os líderes judaicos utili­zavam seus elevados cargos para desfigurar o caráter e os requisitos divinos. Ele certa­mente também ficou condoído por causa dos resultados que isso teria sobre esses mesmos

líderes e sobre aqueles que seguiam suas ideias enganosas. O texto grego implica que a indignação inicial de Jesus foi momentâ­nea, mas permaneceu Sua preocupação por esses filhos ignorantes da verdade, alienados dc seu Pai celestial e que interpretavam mal Seu amor por eles.

6. Logo. Desta expressão, talvez se possa concluir que os fariseus se retiraram da sina­goga imediatamente, mesmo antes do encer­ramento da reunião.

Herodianos. Os herodianos eram um partido político judaico que favorecia a casa dc Herodcs (ver p. 42). Normalmente, os fa­riseus odiavam Herodes e tudo aquilo que ele representava (ver p. 27, 29). O fato de que cies agora buscavam ajuda de seu inimigo decla­rado, demonstra que estavam fora de si para encontrar uma maneira dc silenciar a Jesus (ver Mt 22:16). Talvez os obstinados fariseus esperassem que Herodes estivesse disposto a prender Jesus, como havia feito com João Batista alguns meses antes (ver Mt 4:12; Lc 3:20). Alguns têm sugerido que esse episó­dio ocorreu na cidade de Séforis, a capital de Herodes, cerca de 6 km ao norte de Nazaré.

7. Retirou-Se. [Jesus Se retira. A cura de muitos à beira-mar, Mc 3:7-12 = Mt 12:15-21. Comentário principal: Mc]. Marcos destaca diversas vezes que Jesus Se mudava de um lugar para outro, para evitar uma populari­dade inconveniente ou oposição indevida (ver Mc 1:45; 7:24; etc.). Evidentemente, neste caso, Seu retiro foi motivado pelo desejo de evitar mais conflitos com as autoridades reli­giosas e, talvez, também políticas. Por isso, Marcos interrompe seu relato da série dc epi­sódios dc conflito, a fim de comentar acerca da crescente popularidade de Jesus, que era acompanhada proporcionalmente pelo ódio crescente e oposição dos líderes judaicos (ver com. de Mt 12:15).

Para os lados do mar. Parece que a cura do homem da mão ressequida ocor­reu numa cidade do interior da Galileia,

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

possivelmente Séforis (ver com. do v. 6). Os relatos paralelos quase iguais dos auto­res dos sinóticos sugerem, além disso, que quando Jesus saiu do interior da Galileia Ele foi “para o mar” da Galileia, possivelmente nos arredores da planície de Genesaré, ao sul de Cafarnaum. Sem dúvida, Ele encontrou uma extensão costeira relativamente reti­rada, longe das cidades (ver com. de Lc 5:1).

Uma grande multidão. Ver com. de Mt 5:1. Dois dos três autores dos sinóticos dão destaque à grande multidão que seguia a Jesus nessa ocasião. A situação demons­trava a necessidade de uma organização mais eficiente e de mais testemunhas que dedicassem todo o seu tempo para atender às demandas que as multidões impunham a Jesus. É significativo que dois dos três auto­res dos evangelhos chamam a atenção para a “grande multidão” que seguia a Jesus e a Ele se apegava, pouco antes da nomeação dos doze e do Sermão do Monte (ver com. de Mt 5:1; Lc 6:17).

8. Idumeia. Isto é, a terra de Edom. A palavra “Idumeia” ocorre apenas aqui, no NT. Josefo (Antiguidades, xiii.9.1 [257, 258]) diz que a Idumeia foi conquistada por João Hircano mais de um século antes do tempo de Cristo, e seu povo foi obrigado a aceitar, pelo menos nominalmente, os ritos e as prá­ticas da religião judaica (ver p. 18, 21).

Tiro e de Sidom. Ver vol. 1, 107; vol. 2, 52, 53; ver com. de Gn 10:15. Somente res­salta-se a ausência de Samaria da lista feita aqui das várias regiões da Palestina e suas proximidades.

9. Sempre Lhe tivessem pronto. Isto é, à Sua disposição para qualquer momento em que precisasse utilizá-lo.

Um barquinho. Ou, “bote”. Somente Marcos registra este detalhe da narrativa evangélica. Parece que durante os meses res­tantes do ministério na Galileia o barquinho que Jesus pediu esteve sempre à disposição para quando precisasse dele (ver Mc 4:35, 36;

6:32; 8:10, 13). Talvez o barco pertencesse a Pedro (ver Lc 5:3).

Multidão. Pela terceira vez em três ver­sículos consecutivos Marcos destaca a pre­sença de multidões que seguiam a Cristo aonde quer que fosse (ver v. 7, 8).

10. Todos [...] se arrojavam. As pes­soas não eram hostis, mas estavam ansiosas, para ter suas necessidades atendidas.

Para O tocar. Evidentemente, os que estavam doentes ou endemoniados acredi­tavam que havia um poder mágico neste ato (ver com. de Mc 5:23, 28).

Qualquer enfermidade. Literalmente, “flagelos”. Talvez esses “flagelos” fossem comparáveis às epidemias ou a outras doen­ças graves.

11. Espíritos imundos. Ver com. de Mc 1:23.

Quando O viam. O texto grego diz que “O viam”, “prostravam-se” e “exclamavam”. O uso do pretérito imperfeito indica ações contínuas e repetidas com frequência.

Prostravam-se. Alguns consideram a possibilidade de que os demônios com essa atitude desejavam dar a impressão de que reconheciam a Jesus como seu líder, o que significaria que Ele estava associado a eles. Nesse caso, o fato de Cristo recusar o teste­munho deles se torna significativo.

Filho de Deus. Ver Nota Adicional a João 1; com. de Lc 1:35; Jo 1:1-3.

12. Advertia severamente. Isto é, “energicamente”, “intensamente”, ou “estri­tamente”.

Que. Ou melhor, “a fim de que".Não O expusessem. Nesta altura do

relato, Mateus menciona em acréscimo, uma citação profética do AT sobre o ministério de Jesus às necessidades da humanidade (ver com. de Mt 12:20).

13. Subiu ao monte. [A escolha dos doze apóstolos. Os seus nomes, Mc 3:13-19 = Mt 10:1-4 = Lc 6:12-16. Comentário princi­pal: Mc. Ver mapa, p. 215; gráfico, p. 228].

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MARCOS 3:14

Ele estava na região montanhosa a oeste do mar da Galileia (ver com. de Mc 1:45). Dei­xando Seus seguidores para que passassem a noite no sopé do monte (ver DTN, 292), o próprio Jesus passou a noite em oração em algum local retirado nos montes (Lc 6:12). Devia ser o fim do verão do ano 29 d.C. (ver com. de Mt 5:1).

Com frequência Jesus dedicava toda a noite para orar (ver DTN, 419). Geralmente esses exemplos mencionados pelos escrito­res dos evangelhos precediam momentos de decisão ou crises na vida ou no ministério do Salvador (ver com. de Mc 1:35). Ele procurava meditar e orar no início de Seu ministério (ver com. de Mt 4:1). A oração assinalou também o início de Seu ministério na Galileia e ime­diatamente precedeu a Sua primeira viagem missionária pelos povoados e vilas da Galileia (ver com. de Mc 1:35). Nessa ocasião, a noite que Ele passou em oração, precedeu a orde­nação dos doze, o Sermão do Monte e o início da segunda viagem pela Galileia. Outra vez se menciona especificamente que Ele orou em relação com a grande crise na Galileia (ver Mt 14:22, 23; cf. Jo 6:15, 66). O mesmo aconteceu na transfiguração, quando Jesus apresentou a três dos Seus discípulos o tema dos Seus sofrimentos e morte (Lc 9:28-31). Dedicou à oração a noite inteira que se seguiu à Sua entrada triunfal (ver DTN, 581). A ora­ção mais extensa de Jesus que se tem regis­trado precedeu a Sua entrada no Jardim do Getsêmani (ver Jo 17). E apenas algumas horas antes da crucifixão, Jesus ofereceu a Sua oração mais fervorosa e agonizante no horto (ver Mt 26:36-44).

Chamou. Havia um grupo maior de seguidores, dentre os quais os doze foram escolhidos. Nenhum dos doze foi escolhido devido à sua perfeição de caráter ou mesmo de capacidade. Cristo escolheu homens que estavam dispostos a aprender, eram capazes para isso e cujo caráter poderia ser transfor­mado. Todos tinham graves defeitos ao serem

chamados. Porém, pela graça de Cristo, esses defeitos foram removidos (exceto no caso de Judas) e, em seu lugar, Jesus plantou as pre­ciosas sementes do caráter divino, que ger­minaram, cresceram até amadurecer e, mais tarde, produziram o fruto de um cará­ter semelhante ao de Cristo (G1 5:22, 23). Cristo aceita as pessoas onde elas estão e, se estiverem dispostas e forem submissas, Ele as transforma naquilo que deseja se tornar. Ele designa homens e mulheres para cargos de responsabilidade, não porque os considere totalmente preparados para as demandas que esses cargos exigem deles, mas porque, ao ler seu coração, discerne habilidades laten­tes que, sob a orientação divina, podem ser incentivadas e desenvolvidas para a glória de Deus e para o avanço de Seu reino.

Os que Ele mesmo quis. O chamado não se baseou tanto no desejo deles, mas no Seu. Posteriormente, Ele lembrou aos doze: “Não fostes vós que Me escolhestes a Mim; pelo contrário, Eu vos escolhi a vós outros” (Jo 15:16).

Para junto dEle. Isso ocorreu quando os convocou para se encontrarem com Ele, ao amanhecer (ver DTN, 292; MDC, 4), na encosta de algum dos montes com vista para as aprazíveis águas do mar da Galileia.

14. Designou. Do gr. poieõ, literal­mente, “constituir”, neste caso, “nomear”. Embora seja verdade que Jesus “ordenou” os doze nessa ocasião (ver DTN, 296), este sig­nificado não está implícito no verbo gr. poieõ.

Doze. A evidência textual se inclina (cf. p. 136) para acrescentar a expressão de Lucas 6:13, “aos quais deu também o nome de apóstolos”. Nenhuma razão específica é dada para explicar por que foram escolhi­dos doze - não mais, nem menos. Entretanto, isto faz pensar imediatamente nos doze filhos de Jacó, originadores das doze tribos de Israel. Cinco dos homens agora convoca­dos haviam sido discípulos de Jesus desde o início de Seu ministério, cerca de dois anos

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Page 37: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

3:14 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

antes; estes eram João, André, Pedro, Pilipe, e Natanael, ou Bartolomeu (ver Jo 1:40-49). Os três primeiros deste grupo, juntamente com Tiago, irmão de João, haviam aceitado o chamado junto ao mar alguns meses antes desta ocasião (ver com. de Lc 5:11). Antes, Mateus havia se unido ao grupo.

A nomeação e a ordenação dos doze foi um evento de grande importância na mis­são de Jesus. João Batista havia proclamado o iminente estabelecimento do “reino dos Céus” (Mt 3:2) e Jesus havia repetido esta mensagem no início de Seu ministério (ver Mt 4:17), especialmente durante a primeira viagem pela Caldeia, recentemente comple­tada (MDC, 2, 3). O reino que Cristo esta­beleceu em Seu primeiro advento foi o reino da graça divina (ver com. de Mt 3:2; 5:2), cujo Rei era Ele mesmo. Seus súditos eram aqueles que O receberam e creram no Seu nome (ver jo 1:12). Seu domínio era o cora­ção deles (ver com. de Lc 17:21).

A escolha dos doze pode muito bem ser considerada como a inauguração formal do reino da graça que Cristo havia vindo esta­belecer. O Sermão do Monte, que Ele pro­nunciou em seguida, pode ser visto como o discurso inaugural de Cristo como Bei do

reino da graça e também como a carta consti­tucional do novo reino. Logo depois de pregar este sermão, Cristo e os doze, partiram para a segunda viagem pela Galileia, durante a qual Jesus demonstrou, por preceito e exem­plo, a natureza do reino e o alcance de seu valor para o ser humano.

São fornecidas quatro listas dos doze, uma por Mateus (Mt 10:2-4), uma por Marcos e duas por Lucas, uma em seu evan­gelho (Lc 6:14-16) e outra em Atos (At 1:13), as quais são dadas a seguir.

O método mais natural de agrupar os doze é dividi-los em grupos de dois. Quando Jesus os enviou na terceira viagem pela Galileia, Ele os enviou de dois em dois (ver Mc 6:7), irmão com irmão, e amigo com amigo (DTN, 350). A lista de Mateus prova­velmente se baseou nesse agrupamento, pois depois de nomear os dois pares de irmãos, Pedro e André, Tiago e João, ele enumera os restantes dos doze em grupos de dois, cada dupla unida pela palavra “e”. Assim, Filipe está junto com Bartolomeu (ver Jo 1:45), Tomé, com Mateus, Tiago (filho de Alfeu), com Tadeu, e Simâo (o cananita), com Judas Iscariotcs. Além disso, a lista de Mateus é dada em relação com o envio dos doze.

Os Doze ApóstolosMt 10:2-4 Mc 3:16-19 Lc 6:14-16 Atos 1:13

Simão Pedro Simão Pedro Simão Pedro Pedro

André Tiago Andrc João

Tiago e (filhos de João Tiago TiagoZebedeu)João André João André

Filipe Filipe Filipe FilipeBartolomeu Bartolomeu Bartolomeu Tomé

Tomé Mateus Mateus Bartolomeu

Mateus Tomé Tomé Mateus

Tiago (filho dc Alfeu) Tiago Tiago Tiago

Lebeu Tadeu (ARC) Tadeu Simão Simão

Simão (o zelote) Simão judas Judas

Judas Iscariotes Judas Iscariotes Judas Iscariotes

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MARCOS 3:16

Outra forma natural de agrupá-los ocorre quando cada uma das quatro listas se divide em três grupos de quatro. Embora a ordem dos doze varie ligeiramente de uma lista para a outra, os membros de cada um desses gru­pos estão em todas as quatro listas (exceto no terceiro grupo em At 1:13, no qual falta Judas Iscariotes).

Do ponto de vista humano os doze homens nomeados e ordenados nessa oca­sião eram pobres e iletrados, um grupo de rudes e simples galileus. O desdém com que os líderes judaicos consideravam os seguido­res de Jesus em geral, provavelmente levou o Mestre, algumas semanas depois disto, a contar a parábola do fermento (ver Mt 13:33; PJ, 95). O fermento da transformadora graça de Deus já havia começado sua obra no cora­ção desses doze homens comuns e pouco promissores. Ao concluírem o período de seu discipulado, eles não mais eram rudes, incultos ou iletrados (ver Lc 5:11). Três deles se tornaram háheis escritores. João era um profundo teólogo. Tanto quanto se saiba, nenhum dos doze havia se graduado nas escolas rahínicas; aparentemente nenhum deles era membro da aristocracia judaica. Porém, como resultado de sua união com o Mestre, eles foram libertos dos preconceitos que quase sempre cegavam os escribas e fari­seus às reivindicações de Jesus.

Estarem com Ele. Isto é, para serem Seus discípulos, ou alunos em Sua escola e ajudá-Lo em Sua obra. Havia outros “discí­pulos”, a quem Ele, pelo menos nessa oca­sião, não nomeou nem ordenou para serem “apóstolos” (ver com. do v. 13). Como “discí­pulos” os homens iam a Cristo para apren­der d Ele; Ele os enviava como “apóstolos”, para ensinar a outros. A palavra “apóstolo” é derivada do grego apóstolos, que vem de duas palavras: apo, “de”, estellõ, “despachar”, ou “enviar". Um “apóstolo" é, portanto, um “enviado” (ver com. de Mt 10:2). O termo “apóstolos" a partir de então distinguiu os

doze dos “discípulos” em geral, não porque os doze tivessem deixado de ser discípulos, mas porque também se tornaram apóstolos.

Num sentido mais amplo, com frequência, Paulo se refere a si mesmo como “apóstolo” (iCo 4:9; Cl 1:1; etc.; cf. Hb 3:1). É evidente, porém, que Paulo baseava seu direito ao apos­tolado, no fato de que Cristo lhe havia apare­cido (ICo 15:8) e lhe havia dado instruções (Cl 1:11, 12). Contudo, ele falava de si mesmo como "o menor dos apóstolos” (ICo 15:9), e declarava “em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos” (2Co 11:5). Noutra parte, ele harmoniza esses dois pensamentos aparen­temente excludentes (ver 2Co 12:11). Num sentido ainda mais amplo, homens como Rarnabé, Timóteo e Silas também foram cha­mados apóstolos (At 14:14; lTs 1:1; 2:6, ARC). Possivelmente o termo também se aplicava a qualquer delegado ou mensageiro enviado por uma igreja cristã como seu representante (2Co 8:23; Fp 2:25).

Pregar. Aqui e no v. 15 se apresentam os dois aspectos principais do ministério pes­soal de Cristo como também os propósitos dos doze: pregar e curar, para promover tanto a cura espiritual como a física. Jesus mesmo dedicou mais tempo para ministrar às neces­sidades físicas da humanidade do que para pregar, e os doze, sem dúvida, seguiram o Seu exemplo.

15. Autoridade. Do gr. exousia, “poder” (ARC; ver com. de Mc 2:10; Lc 1:35).

Expelir demônios. A capacidade de libertar os homens de possessão demoníaca, geralmente considerada incurável, implicava poder sobre outros males menores (ver Nota Adicional a Marcos 1).

16. Pedro. Este apóstolo ocupa o pri­meiro lugar em todas as quatro listas dos doze no NT (ver p. 646). Com frequên­cia assumia o papel de porta-voz do grupo (Mt 14:28; 16:16; 17:24; 26:35; etc.). Logo após o batismo de Jesus, André levou seu irmão Pedro perante o Mestre. O primeiro

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3:17 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

cristão converso resultou do que poderia se chamar de esforço leigo (ver Jo 1:40-42). Nessa ocasião, Pedro havia respondido ao convite para reconhecer a Jesus como o Messias e havia se associado ao Senhor em Seu ministério. Cerca de dois anos mais tarde, provavelmente no fim da primavera

► ou no início do verão do ano 29 d.C. (ver Mt 4:12, 18, 19), Cristo o chamou para que fosse seu discípulo, junto com seu irmão André e seus companheiros de profissão, Tiago e João (Lc 5:1-11; ver com. de Mc 3:7).

Possivelmente por acordo mútuo, Pedro atuava como administrador do trabalho pes­queiro que ele conduzia em sociedade com os outros. De qualquer modo, seu ardor, impetuosidade, dedicação, coragem, leal­dade, vigor e capacidade de organização, sem dúvida o destacaram para a liderança entre os discípulos desde o início. Pedro era notadamente um homem de ação; sua entu­siástica disposição era o seu traço de cará­ter predominante. Era um homem que ia aos extremos e, de sua forte personalidade nas­ciam virtudes marcantes e graves defeitos. Lado a lado, existiam nele diversos e con­traditórios traços de caráter. Ele parecia ser sempre impaciente, ardente, amável, gene­roso, arrojado, destemido e corajoso, porém, com demasiada frequência, impulsivo, incoe­rente, inconstante, precipitado, inseguro, arrogante, com excesso de autoconfiança e, até mesmo, negligente. Em um momento de crise, ele poderia ser fraco, covarde e vaci­lante, e ninguém seria capaz de prever que aspecto de seu caráter e personalidade pre­valeceria em determinada situação.

Pedro era natural de Betsaida (Jo 1:44), na margem nordeste do mar da Galileia, em frente a Cafarnaum, cidade para onde ele provavelmente se mudou mais tarde (ver com. de Mc 1:29). Pedro e seus com­panheiros de pesca, André, Tiago e João, parecem ter sido discípulos de João Batista (Jo 1:35-42; DTN, 138).

17. Tiago. Do gr. Iakõbus, do heb. Ydaqob, o nome do patriarca Jacó (ver com. de Gn 25:26, 27). Tiago é geralmente mencio­nado antes de seu irmão João, quando os dois são citados juntos, o que indica que João era o mais moço dos dois (cf. DTN, 292). 'Tiago foi o primeiro dos doze que morreu como mártir, aproximadamente no ano 44 d.C. (ver com. de At 12:1, 2), enquanto seu irmão João foi o último dos doze a morrer, aproximada­mente no ano 96 d.C. O fato de que ’Tiago foi considerado suficientemente importante para ser escolhido por Herodes Agripa para ser martirizado tão cedo, indica que ele era um dos destacados líderes da igreja de Jerusalém. O registro do NT apresenta, inicial mente, Tiago como tendo sido um homem um tanto egoísta, ambicioso e franco (Mc 10:35-41), mas, depois, mostra-o como um líder sereno e capaz. Muitos têm identificado a mãe de Tiago e João, e esposa de Zebedeu, como Salomé (cf. Mt 27:56; Mc 15:40). Há tam­bém a possibilidade, embora remota, de que Salomé seja identificada como a irmã de Maria, mãe de Jesus, se em João 19:25 são mencionadas quatro mulheres em vez de três (ver com. de João 19:25).

João. Este era um homem de profundo discernimento espiritual, que se desenvol­veu ao contemplar em Jesus aquele que é “totalmente desejável”. João não apenas amava seu Mestre, mas era também o discí­pulo “a quem Jesus amava” (Jo 20:2; 21:7, 20). Por natureza, ele era orgulhoso, arrogante, ambicioso de honras, impetuoso, ofendia-se facilmente e sempre estava pronto a se vin­gar (ver Mc 10:35-41; AA, 540, 541), João se rendeu mais do que qualquer outro ao poder transformador da perfeita vida de Jesus e che­gou a refletir a semelhança do Salvador mais plenamente do que qualquer dos outros dis­cípulos. Tiago foi o primeiro dos doze a dar a sua vida como mártir do evangelho; e João foi o último a morrer. Jesus teve razão quando chamou Tiago e João de “filhos do trovão”

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MARCOS 3:18

(Mc 3:17; ver com. cie Lc 9:54). Segundo uma antiga tradição cristã, João serviu como pas­tor da igreja de Éfeso e supervisor das igre­jas da província romana da Ásia durante os últimos anos de sua vida.

Boanerges. Provavelmente, a transi ite­ração de uma expressão aramaica que sig­nifica “filhos do tumulto”, ou “filhos da ira” e traduzida como “filhos do trovão”. O tem­peramento veemente e colérico de Tiago e João foi manifestado numa ocasião (Lc 9:49, 52-56).

18. André. Do gr. Andreas, que signi­fica “varonil”, um nome grego derivado de anêr, “um homem”. Embora fosse um dos primeiros seguidores de Jesus (Jo 1:35-40), André não fazia parte do círculo íntimo (DTN, 292) e é raramente mencionado no relato evangélico. A maior parte do que sabe­mos dele provém de João (Jo 1:40, 41, 44; 6:8; 12:22). Mateus e Lucas situam André como o segundo dos doze discípulos, prova-

► velmente para relacioná-lo com seu irmão Pedro. Os antecedentes familiares de André podem ser vistos no com. de Marcos 3:16. André parece ter sido um obreiro diligente, embora talvez não tão bem dotado de quali­dades de liderança como seu irmão. Segundo a tradição, ele foi martirizado na Grécia, numa cruz com o formato da letra “X”. Em consequência disso, uma cruz com este for­mato é conhecida popularmente como a cruz dc Santo André.

Filipe. Do gr. Philippos, “aficionado por cavalos”, um genuíno nome grego, como André. Filipe era natural de Betsaida (Jo 1:44), perto do extremo norte do mar da Galileia. A maior parte do que sabemos sobre Filipe antes da ascensão de Cristo nos vem pelo relato do evangelho de João (1:43-48; 6:5-7; 12:21, 22; 14:8, 9).

Ele foi o primeiro a quem Jesus disse: “Segue-Me” (Jo 1:43). Ele se caracteriza como um sincero indagador da verdade, mas, aparentemente, foi mais vagaroso do

que os outros para reconhecer a Jesus como o Messias e perceber o significado de Sua mis­são na Terra (Jo 6:7; 14:8, 9). Parece que, às vezes, ele parecia indeciso quanto ao cami­nho a seguir (Jo 12:21, 22). Contudo, ele era fervoroso e, quando achou o Messias, ime­diatamente começou a trazer outros a Ele (Jo 1:45).

Bartolomeu. Literalmente, “filho de Talmai” (cf. Nm 13:22; 2Sm 3:3; 13:37). Natanael era seu nome pessoal. Os evan­gelhos sinóticos não mencionam Natanael, e o evangelho de João não diz nada de Bartolomeu. João menciona a Natanael junto com os outros doze num amhiente em que parece que ninguém mais além dos discípu­los do círculo íntimo dos doze, estava pre­sente (Jo 21:2). Portanto, não há nenhuma razão válida para se duvidar de que os dois nomes, Bartolomeu e Natanael, se referem à mesma pessoa. Foi Filipe quem apresen­tou seu amigo Natanael a Jesus (Jo 1:45); aparentemente, os dois eram amigos íntimos (cf. DTN, 293).

Mateus. Marcos e Lucas se referem a Mateus como Levi (ver com. de Mc 2:14). Parece improvável que Alfeu, pai de Mateus, deva ser identificado com Alfeu que era o pai de Tiago. Os dois discípulos nunca são apresentados juntos nos evangelhos como se fossem irmãos, como é o caso de Pedro com André e Tiago com João. Mateus demonstrou ser um obreiro capaz. Segundo a tradição, após a ressurreição ele dedicou suas ener­gias para trabalhar em favor de seus compa­triotas, e pode ter trabalhado na Etiópia ou na região do Mar Negro.

Tomé. Também chamado Dídimo (Jo 11:16; 20:24; 21:2). Ambos os nomes significam “gêmeo”. A tradição afirma que seu primeiro nome era Judas (nome comum entre os hebreus). Tudo o que se sabe de Tomé está registrado no evangelho de João (11:16; 14:5; 20:24-29; 21:2). Embora ele, às vezes, tenha se mostrado indeciso e egoísta

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3:19 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

(ver Jo 20:24, 25), em outras ocasiões, foi corajoso e leal (jo 11:16). E-nos dito que ele trabalhou na Partia e na Pérsia. Uma tradi­ção menos confiável apresenta Tomé como missionário na índia e na China.

No sul da índia, há um grupo de cristãos nativos que são conhecidos há séculos como cristãos de São Tomé. Eles possuem uma ver­são dos evangelhos que, segundo dizem, lhes foi entregue pelo apóstolo Tomé. Afirmam que Tomé foi martirizado no alto de um monte conhecido como monte de São Tomé, perto de Madras. Também houve um mis­sionário judeu com o nome de Tomé, o qual trabalhou na China, e cujo retrato foi pre­servado em pedra, junto com uma inscrição que, numa tradução livre, diz: “Tomé veio e trabalhou com sinceridade de coração c grande zelo. Se todo o bem que ele fez losse registrado, seria necessário molhar a pena no Lago Tungting (um grande lago na China) até que o lago secasse [de modo a ter água suficiente para formar a quantidade neces­sária de tinta]." Esse interessante quadro de Tomé possui características judaicas incon­fundíveis, mas provavelmente não se trata de Tomé o apóstolo.

Tiago. Deve-se distinguir entre Tiago filho de Zebedeu e Tiago filho de Alfeu. Parece haver boas razões para se crer que ele é o Tiago mencionado em Mateus 27:56; Marcos 15:40; 16:1; Lucas 24:10. A expressão “Tiago, o menor”, ou, literalmente, “Tiago, o pequeno” (Mc 15:40), provavelmente se refira a ele no sentido de “Tiago, o mais jovem” (ver com. de SI 115:13), ou, talvez, a expressão tenha sido usada por ser ele de pequena estatura.

► Alguns têm procurado identificar Tiago, o filho de Alfeu, com Tiago, o irmão de nosso Senhor, (Mt 13:55), porém esta opi­nião é tão improvável que quase não merece ser considerada. Tiago, o discípulo, foi um seguidor de Cristo, pelo menos a partir do momento em que os doze foram escolhidos,

por volta do verão de 29 d.C. Porém, uns seis meses antes da crucifixão, os irmãos de Jesus não haviam crido nEle (Jo 7:5). Também o cenário de Mateus 13:55 e Marcos 6:3 implica que o episódio ali referido ocorreu por ocasião da terceira viagem pela Galileia, certamente após a escolha dos doze (ver com. de At 12:17).

Tadeu. Identificado por Mateus como “Lebeu” (Mt 10:3, ARC). Uma antiga tra­dição, contra a qual não se apresentaram provas, equipara Tadeu com Judas, filho de Tiago (ver Lc 6:16; At 1:13). E bastante claro, com base em outros exemplos, que este Judas não era o irmão, mas o filho de um homem chamado Tiago, embora o texto em grego de Lucas 6:16 registre ape­nas “Judas de Tiago". E quase certo que este Tiago, pai de Tadeu ou Judas, não deve ser identificado com qualquer outro Tiago do NT, pois o nome era muito comum (ver Mc 3:17). Quando João (Jo 14:22) se refere a este Judas, ele claramentc o distingue de Judas Iscariotes. Tadeu não se destaca tanto nos registros do NT como a maioria dos outros apóstolos.

Simão. Chamado “o cananeu" (AA, ACF), para distingui-lo de Simão Pedro (sobre o nome Simão, ver com. do v. 16). A designação “cananeu” não indica neces­sariamente que Simão fosse descendente de alguma das nações cananeias que habi­tavam na Palestina antes da chegada dos hebreus (ver com. de Gn 10:6). Muitos outros manuscritos antigos se referem a ele como “o zelote”, isto é, membro de um partido judaico nacionalista (ver Lc 6:15; p. 42; cf. DTN, 296).

19. Judas Iscariotes. O nome judas no NT é equivalente a Judá no AL (ver com. de Gn 29:35; Mt 1:2). Muitas explicações têm sido dadas sobre o nome Iscariotes, sendo que a mais provável é que ele seja prove­niente do heb. ‘ish Qeriyyoth, que significa "homem de Queriote”, uma aldeia ao sul da

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MARCOS 3:22

Judeia, perto da Idumeia (Js 15:25; ver com. de Mc 3:8). Se esta identificação do nome Iscariotes for correta, judas foi, provavel­mente, o único dos doze que não nasceu na Galileia. Ele era filho de um homem cha­mado Si mão (ver com. de Jo 6:71).

Jesus não havia convidado Judas para que se unisse ao grupo de discípulos den­tre os quais Ele selecionou os doze (ver com. de Mc 3:13), porém Judas se uniu a eles e pediu um lugar. Sem dúvida, Judas acredi­tava que Jesus era o Messias, como os outros discípulos, em termos do conceito popular judaico de um libertador político do jugo romano, e desejou ser admitido como mem­bro no círculo íntimo dos discípulos a fim de assegurar um elevado cargo no "reino" a ser estabelecido em breve. Talvez ele tenha se oferecido voluntariamente para o cargo de tesoureiro, esperando ser nomeado para esse posto no novo reino. Entretanto, Jesus percebeu desde o início que Judas não pos­suía as características básicas que o qualifi­cariam para se tornar um apóstolo do reino que seria estabelecido.

Apesar de todo o mal latente no coração de Judas, ele era em muitos aspectos mais promissor do que os outros que Jesus cha­mou. Ao ser admitido como membro entre os doze, havia esperança para Judas. Se ele cultivasse certos traços desejáveis de cará­ter, e eliminasse os maus traços, permitindo que Jesus transformasse seu coração, pode­ria ter sido um obreiro aceitável na causa do reino. Mas, ao contrário de João (ver com. do v. 17), Judas manteve o coração insen­sível aos preceitos e ao exemplo de Jesus. Apesar disso, Jesus lhe deu todo o incen­tivo e oportunidades possíveis para que ele desenvolvesse um caráter celestial. Jesus não esmagaria "a cana quebrada" do caráter de Judas, nem apagaria “a torcida que fumega” das suas boas intenções (ver com. de Mt 12:20).

Quem O traiu. Ver com. de Lc 6:16.

20. Então, Ele foi para casa. [A blas­fêmia dos escribas, Mc 3:20-30 = Mt 12:22- 45 = Lc 11:14-32. Comentário principal: Mt]. Provavelmente a casa de Pedro em Cafarnaum (ver com. de Mc 1:29). Al­guns têm observado que o evangelho de Marcos aborda principalmente o que Je­sus fez, e não Seus ensinos. Diferente de Mateus, que dedica três capítulos ao Sermão do Monte, Marcos o omite por completo, nem mesmo menciona que de­pois da ordenação dos doze, Jesus pro­nunciou esse sermão (ver Mt 5:1). Quase no fim do dia, Jesus e Seus discípulos vol­taram para Cafarnaum.

A multidão afluiu. Marcos não men­ciona a cura do endemoniado cego e mudo, mas apenas registra a acusação dos escribas tie que Jesus expulsava demônios pelo poder do príncipe dos demônios, e Sua resposta a eles (ver v. 22; DTN, 321; com respeito ao lugar deste episódio na sequência cronoló­gica e a correlação do registro do aconteci­mento nos vários evangelhos, ver com. de Mt 12:22). Deve-se notar que Marcos situa o fato registrado nos v. 20 a 35 na sequên­cia cronológica, entre a escolha dos doze (Mc 3:14-19) e o sermão à beira-mar (Mc 4).

21. Os parentes. Do gr. hoi ■par’ autou, literalmente, "os de Seu lado”. Embora esta expressão possa indicar apenas que as pes­soas mencionadas eram amigos íntimos de Jesus, os antigos papiros gregos provam que estas palavras podem se referem a parentes. Assim, é provável que a declaração do v. 21 anteceda o episódio dos v. 31 a 35.

Fora de Si. Isto é, “mentalmente dese­quilibrado". A estreita semelhança entre este temor da parte dos familiares de Jesus e a acusação feita pelos escribas de que Jesus tinha pacto com o demônio (v. 22) pode explicar a afirmação do v. 21 como uma introdução da acusação de que Jesus agia como representante de Belzebu (v. 22-30).

22. Os escribas. Ver p. 43.

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3:29 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Que haviam descido de Jerusalém.Ver Lc 5:17. Estes eram provavelmente alguns dos espias que seguiram os passos de Jesus, durante todo o Seu ministério na Galileia, em obediência às ordens do Sinédrio (ver com. de Mc 2:6).

Possesso de Belzebu. Ver com. de Mt 12:24.

29. Blasfemar. Ver com. de Mt 12:31.

Eterno juízo (ARC). A evidência tex­tual (cf. p. 136) favorece a versão “pecado eterno” (ARA).

31. Sua mãe e Seus irmãos. [A família de Jesus, Mc 3:31-35 = Mt 12:46-50 = Lc 8:19-21. Comentário principal: Mt]. Com respeito à posição cronológica deste fato e sua rela­ção com os diversos relatos que os sinóticos fazem dele, ver com. de Mateus 12:22 e 46.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-5 - DTN, 286 8 - DTN, 298; MDC, 4 13, 14-AA, 18; DTN, 290

13-19-DTN, 290-297 14, 15-CS, 55717-AA 540; DTN, 295;

Ed, 87

20-35 -DTN, 321-327 21 - DTN, 321 25-T5, 244

Capítulo 41 A parábola do semeador e 14 seu significado. 21 Deve-se transmitir a luz a outros.

26 A parábola da semente que cresce secretamente e 30 a do grão de mostarda. 35 Cristo acalma a tempestade no mar.

1 Voltou Jesus a ensinar à beira-mar. E reu- niu-se numerosa multidão a Ele, de modo que entrou num barco, onde Se assentou, afastando- Se da praia. E todo o povo estava à beira-mar, na praia.

2 Assim, lhes ensinava muitas coisas por pa­rábolas, no decorrer do Seu doutrinamento.

3 Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear.4 E, ao semear, uma parte caiu à beira do ca­

minho, e vieram as aves e a comeram.5 Outra caiu em solo rochoso, onde a terra

era pouca, e logo nasceu, visto não ser profun­da a terra.

6 Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque =*► não tinha raiz, secou-se.

7 Outra parte caiu entre os espinhos; e os es­pinhos cresceram e a sufocaram, e não deu fruto.

8 Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu, produzindo a trinta, a sessenta e a cem por um.

9 E acrescentou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

10 Quando Jesus ficou só, os que estavam junto dEle com os doze O interrogaram a res­peito das parábolas.

11 Ele lhes respondeu: A vós outros vos é dado conhecer o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas,

12 para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a convcrter-se, e haja perdão para eles.

13 Então, lhes perguntou: Não entendeis esta parábola e como compreendereis todas as parábolas?

14 O semeador semeia a palavra.15 São estes os da beira do caminho, onde

a palavra é semeada; e, enquanto a ouvem, logo vem Satanás e tira a palavra semeada neles.

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MARCOS 4:19

16 Semelhantemente, são estes os semeados em solo rochoso, os quais, ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria.

17 Mas eles não tem raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração; em lhes che­gando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam.

18 Os outros, os semeados entre os espinhos, são os que ouvem a palavra,

19 mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições, concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera.

20 Os que foram semeados em boa terra são aqueles que ouvem a palavra e a recebem, fru­tificando a trinta, a sessenta e a cem por um.

21 Também lhes disse: Vem, porventura, a can­deia para ser posta debaixo do alqueire ou da cama? Não vem, antes, para ser colocada no velador?

22 Pois nada está oculto, senão para ser manifes­to; e nada se faz escondido, senão para ser revelado.

23 Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.24 Então, lhes disse: Atentai no que ouvis.

Com a medida com que tiverdes medido vos me­dirão também, e ainda se vos acrescentará.

25 Pois ao que tem se lhe dará; e, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.

6 Disse ainda: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse a semente à terra;

27 depois, dormisse e se levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse e crescesse, não sabendo ele como.

28 A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga.

29 E, quando o fruto já está maduro, logo se lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa.

30 Disse mais: A que assemelharemos o reino de Deus? Ou com que parábola o apresentaremos?

31 E como um grão de mostarda, que, quan­do semeado, é a menor de todas as sementes sobre a terra;

32 mas, uma vez semeada, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças e deita grandes ramos, a ponto de as aves do céu poderem ani­nhar-se à sua sombra.

33 E com muitas parábolas semelhantes lhes expunha a palavra, conforme o permitia a capa­cidade dos ouvintes.

34 E sem parábolas não lhes falava; tudo, porém, explicava em particular aos Seus próprios discípulos.

35 Naquele dia, sendo já tarde, disse-lhes Jesus: Passemos para a outra margem.

36 E eles, despedindo a multidão, O leva­ram assim como estava, no barco; e outros bar­cos O seguiam.

37 Ora, levantou-se grande temporal de vento, e as ondas se arremessavam contra o barco, de modo que o mesmo já estava a encher-se de água.

38 E Jesus estava na popa, dormindo sobre o travesseiro; eles O despertaram e Lhe disseram: Mestre, não Te importa que pereçamos?

39 E Ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança.

40 Então, lhes disse: Por que sois assim tími­dos?! Como é que não tendes fé?

41 E eles, possuídos de grande temor, diziam uns aos outros: Quem é este que até o vento e o mar Lhe obedecem?

1. À beira-mar. [O sermão junto ao mar. A parábola do semeador; Mc 4:1-34 = Mt 13:1- 52 = Lc 8:4-18; 13:18-21. Comentário princi­pal: Mt. Sobre as parábolas, ver p. 197-204],

2. Sua doutrina (ARC). Literalmente, “Seus ensinos”.

13. Como compreendereis [...]? A pa­rábola do semeador, da semente e dos solos

era a mais simples das parábolas. Seu signi­ficado deveria ter ficado claro para os discí­pulos. Se eles haviam tido dificuldade com esta, o que fariam com as outras?

19. Ambições. Do gr. epithumia, “dese­jo ardente”, “anelo”, “anseio”. Foi “com desejo [gr. epithumia]” que Jesus desejou celebrar a última Páscoa com os doze (Lc 22:15).

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4:21 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

O desejo é errado apenas quando é dirigi­do às coisas más. Aqui se trata de interesses mundanos, tais como o desejo de riquezas, que torna o "desejo” um mal.

21. Candeia. [A parábola da candeia, Mc 4:21-25 = Lc 8:16-18]. Do gr. luchnos, “lam­parina”. Cristo repetiu a parábola da candeia de maneiras diferentes em diversas ocasiões, para ensinar várias verdades. Quando Ele a contou como parte do Sermão do Monte (Mt 5:14-16), utilizou-a para ilustrar a res­ponsabilidade dos cristãos fiéis em ser um exemplo para o mundo e deixar brilhar sua luz individual. Neste caso, é uma ilustração da luz da verdade revelada nos próprios ensi­nos de Jesus, especialmente mediante o uso de parábolas. Em Lucas 11:33 a 36 ela ilus­tra a forma em que os indivíduos percebem e recebem a verdade.

Alqueire. Do gr. modios. Uma medida de capacidade para secos, de aproximada­mente 9 litros (ver p. 38). A “candeia”, o “alqueire” e a “cama” eram peças do mobi­liário encontradas em cada casa, tornando assim a ilustração bastante vívida.

Velador. Literalmente, “suporte de lâm­pada” (ver com. de Mt 5:15).

22. Nada está oculto. Ver com. de Lc 8:17.23. Ouvidos para ouvir. Ver com. de

Mt 11:15.24. No que ouvis. Lucas diz “como

ouvis” (Lc 8:18). Há certas coisas que é melhor o cristão não ver nem ouvir; há outras coisas que é sábio “ouvir”.

Com a medida com que. Ver com. de Mt 7:2.

26. O reino de Deus. [A parábola da semente, Mc 6:26-29], Ver com. de Mt 3:2; 4:17; 5:2; Lc 4:19.

Lançasse a semente. Somente Marcos registra a parábola da semente. Ela ilustra a mesma verdade dita a Nicodemos com res­peito à operação do Espírito Santo (Jo 3:8). Nesta parábola, Cristo diz que se for dada uma oportunidade na vida para a semente

do reino, ela produzirá uma boa colheita. Os homens podem não ser capazes de expli­car como se dá o processo de crescimento cristão e transformação do caráter, mas ele ocorre assim mesmo.

27. Dormisse e se levantasse. Tendo plantado a semente, o agricultor se ocupará de outros afazeres. Porém, o processo de crescimento prossegue independentemente de sua presença ou ausência, quer ele durma ou fique acordado. Ele pode cultivar e irri­gar a semente enquanto ela cresce até ficar madura, mas não pode fazê-la crescer.

28. A terra. A planta cresce da terra e a terra contribui para o seu crescimento, mas é a própria planta que produz fruto.

Por si mesma. Do gr. automate, “movida por seu próprio impulso”; de onde se deriva a nossa palavra “automático”.

Depois, a espiga. Isto é, a espiga de grãos quando ela começa a se formar, em contraste com a espiga madura.

Grão. Ver com. de Lv 2:14.29. O fruto já está maduro. Isto é,

quando o grão está maduro.Mete a foice. Do gr. apostellõ, “enviar”,

de onde se origina a palavra “apóstolo”, que significa “enviado” (ver com. de Mc 3:14). Em outra passagem, a obra dos apóstolos é com­parada à dos ceifeiros (jo 4:35-38).

Ceifa. Ver com. de Mt 3:12; 13:30.30. A que. [A parábola do grão de mos­

tarda, Mc 6:30-34 = Mt 13:31-35 = Lc 13: 18, 19]. Ver com. de Mt 13:3.

Reino de Deus. Ver com. de Mt 3:2; 4:17; 5:2; Lc 4:19.

Com que parábola [...]? Cristo con­sulta os Seus ouvintes, por assim dizer. Sua audiência foi convidada a participar na busca da verdade.

31. Grão de mostarda. Ver com. de Mt 13:31, 32.

33. Muitas parábolas semelhan­tes. Marcos provavelmente se refere ape­nas às parábolas pronunciadas nessa ocasião,

654

009

Page 46: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

MARCOS 4:41

embora o mesmo também fosse verdade sobre todas as parábolas de Cristo.

Segundo o que podiam compreen­der (ARC). Cristo não falava por parábolas para ocultar a verdade, mas para revelá-la.

34. Sem parábolas. Até aqui Cristo havia usado poucas parábolas em Seus ensi­nos. O sermão junto ao mar assinala o iní­cio de Seus ensinos por parábolas como um método habitual de proclamar o evangelho (ver p. 197-200).

35. Naquele dia. [Jesus acalma uma tempestade, Mc 4:35-41 = Mt 8:23-27 — Lc 8:22-25. Comentário principal: Mt]. Aquele havia sido um dia cheio de acon­tecimentos na vida de Jesus (ver com. de Mt 8:18). O relato dc Marcos sobre a tempes­tade no mar inclui alguns detalhes dramá­ticos do ocorrido que não são mencionados nem por Mateus nem por Lucas.

36. Outros barcos. Estes estavam lota­dos de pessoas que ainda seguiam ansiosa- mente a Jesus (cf. DTN, 334).

38. Travesseiro. Provavelmente esta era uma peça comum do equipamento do barco, pois se tratava de uma almofada rústica de couro para o timoneiro, que se assentava na popa do barco.

Mestre. Literalmente, "Professor’'.Não Te importa [...]? A súplica deles

reflete uma impaciência que chegava ao limite do desespero.

39. Acalma-te. Literalmente, “cala-te”.Emudece. Os elementos deveriam não

apenas silenciar, mas permanecer assim. Alguns têm sugerido que Jesus aqui repreen­deu os elementos como se eles fossem mons­tros furiosos.

41. Cheios de medo (BLH). Literal­mente, “possuídos de grande temor” (ARA).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-20-PJ, 33-61 14 - PJ, 37, 41 19-PJ, 51, 53; Tl, 352 21 -T5, 84, 588; T6, 145;

T8, 76 24-T5, 694 26-28-CPPE, 140-144;

Ed, 104-107 26-29 - PJ, 62-69; CPPE,

142; T6, 186 28 - OC, 27, 58; PJ, 67,

81, 82; CPPE, 125, 252; DTN, 367; Ed, 106; Ev, 579; LS, 298; MS, 7; CC, 67; TM, 243, 506;

T6, 187; T8, 327 29 - PJ, 69; CPPE, 144 30-AA, 12 30-32 - PJ, 76-7935- 41 - DTN, 333-33736- 38 - DTN, 334 39-41 - DTN, 335

Capítulo 51 Cristo liberta o endemoniado de uma legião de demônios, e

13 eles entram nos porcos. 25 Ele cura a mulher que sofria de uma hemorragia 35 e ressuscita afilha deJairo.

1 Entrementes, chegaram à outra margem do mar, à terra dos gerasenos.

2 Ao desembarcar, logo veio dos sepulcros, ao Seu encontro, um homem possesso de espí­rito imundo,

3 o qual vivia nos sepulcros, e nem mesmo com cadeias alguém podia prendê-lo;

4 porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram que­bradas por ele, e os grilhões, despedaçados.

655

Page 47: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

601

5:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

E ninguém podia subjugá-lo.5 Andava sempre, de noite e de dia, claman­

do por entre os sepulcros e pelos montes, ferin­do-se com pedras.

6 Quando, de longe, viu Jesus, correu e O adorou,7 exclamando com alta voz: Que tenho eu

contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro- Te por Deus que não me atormentes!

8 Porque Jesus lhe dissera: Espírito imundo, sai desse homem!

9 E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião é o meu nome, porque somos muitos.

10 E rogou-Lhe encarecidamente que os não mandasse para fora do país.

11 Ora, pastava ali pelo monte uma grande ► manada de porcos.

12 E os espíritos imundos rogaram a Jesus, dizendo: Manda-nos para os porcos, para que en­tremos neles.

13 Jesus o permitiu. Então, saindo os espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada, que era cerca de dois mil, precipitou-sc despenhadei­ro abaixo, para dentro do mar, onde se afogaram.

14 Os porqueiros fugiram e o anunciaram na cidade e pelos campos. Então, saiu o povo para ver o que sucedera.

15 Indo ter com Jesus, viram o endemoninha­do, o que tivera a legião, assentado, vestido, em perfeito juízo; e temeram.

16 Os que haviam presenciado os fatos con- taram-lhes o que acontecera ao endemoninhado e acerca dos porcos.

17 E entraram a rogar-Lhe que Se retirasse da terra deles.

18 Ao entrar Jesus no barco, suplicava-Lhe o que fora endemoninhado que o deixasse estar com Ele.

19 Jesus, porém, não lho permitiu, mas orde­nou-lhe: Vai para tua casa, para os teus. Anuncia- lhes tudo o que o Senhor te fez e como teve compaixão de ti.

20 Então, ele foi e começou a proclamar em Decápolis tudo o que Jesus lhe fizera; e todos se admiravam.

21 Tendo Jesus voltado no barco, para o outro lado, afluiu para Ele grande multidão; e Ele es­tava junto do mar.

22 Eis que se chegou a Ele um dos principais da sinagoga, chamado Jairo, e, vendo-O, pros­trou-se a Seus pés

23 e insistentemente Lhe suplicou: Minha iilhinha está à morte; vem, impõe as mãos sobre ela, para que seja salva, e viverá.

24 Jesus foi com ele. Grande multidão O se­guia, comprimindo-O.

25 Aconteceu que certa mulher, que, havia doze anos, vinha sofrendo de uma hemorragia

26 e muito padecera à mão de vários mé­dicos, tendo despendido tudo quanto possuía, sem, contudo, nada aproveitar, antes, pelo con­trário, indo a pior,

27 tendo ouvido a fama de Jesus, vindo por trás dEle, por entre a multidão, tocou-Lhe a veste.

28 Porque, dizia: Se eu apenas Lhe tocar as vestes, ficarei curada.

29 E logo se lhe estancou a hemorragia, e sen­tiu no corpo estar curada do seu flagelo.

30 Jesus, reconhecendo imediatamente que dEle saíra poder, virando-Se no meio da mul­tidão, perguntou: Quem Me tocou nas vestes?

31 Responderam-Lhe Seus discípulos: Vês que a multidão Te aperta e dizes: Quem Me tocou?

32 Ele, porém, olhava ao redor para ver quem fizera isto.

33 Então, a mulher, atemorizada e tremen­do, cônscia do que nela se operara, veio, prostrou- se diante dEle e dcclarou-Lhe toda a verdade.

34 E Ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz e fica livre do teu mal.

35 Falava Ele ainda, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, a quem disseram: Tua filha já morreu; por que ainda incomodas o Mestre?

36 Mas Jesus, sem acudir a tais palavras, disse ao chefe da sinagoga: Não temas, crê somente.

37 Contudo, não permitiu que alguém O acompanhasse, senão Pedro e os irmãos Tiago e João.

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602

MARCOS 5:2

38 Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu Jesus o alvoroço, os que choravam e os que pranteavam muito.

39 Ao entrar, lhes disse: Por que estais em alvo­roço e chorais? A criança não está morta, mas dorme.

40 E riam-se dEle. Tendo Ele, porém, manda­do sair a todos, tomou o pai e a mãe da criança e os que vieram com Ele e entrou onde ela estava.

41 Tomando-a pela mão, disse: Talitá cumil, que quer dizer: Menina, Eu te mando, levanta-te!

42 Imediatamente, a menina se levantou e pôs-se a andar; pois tinha doze anos. Então, fi­caram todos sobremaneira admirados.

43 Mas Jesus ordenou-lhes expressamente que ninguém o soubesse; e mandou que dessem de comer à menina.

1. A outra margem. [A cura do ende- moniado geraseno, Mc 5:1-20 = Mt 8:28- 34 = Lc 8:26-39. Comentário principal: Mc.

► Ver mapa, p. 216; gráfico, p. 228; sobre mila­gres, ver p. 204-210]. Dos três relatos deste milagre, o de Marcos é o mais vívido e o de Mateus, o mais resumido. “A outra margem” do lago da Galileia se aplica ao lado oriental, na região de Decápolis (ver p. 33, 34; ver com. de Mt 4:25). No dia anterior, Jesus havia pre­gado o sermão junto ao mar, que consistiu principalmente de parábolas (ver Mt 13), em algum ponto ao longo da margem do mar da Galileia fronteiriça à planície de Genesaré (ver com. de Mt 13:1). A distância através do lago neste ponto era de mais ou menos 11 km. Foi nessa travessia que Jesus acal­mou a tempestade (ver com. de Mt 8:18). Ao atravessar para a margem oriental, com uma população menos densa, o objetivo era usufruir uma breve pausa das multidões que O pressionavam a ponto de Ele nem poder comer ou dormir (ver Mc 3:20).

Gadarenos (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a variante “gerasenos” (ARA). Em Mateus 8:28, as evidências favo­recem “gadarenos”, mas também podem ser citados como “gergesenos” e "gerasenos”. Os esforços de copistas e editores para har­monizar os nomes nos três relatos são úteis. O consenso das evidências favorece a versão “gerasenos”, embora haja evidências para as outras duas.

Embora não haja uma prova conclu­siva, geralmente se pensa que o encontro

de Cristo com o endemoniado gadareno ocorreu a uma curta distância abaixo do que é hoje a vila de Kursi, identificada com a antiga Gergesa. Gadara era uma cidade 19 km ao sul deste lugar e a 10 km da extre­midade sul do lago da Galileia. Fora ante- riormente a capital de Decápolis (ver com. de Mt 4:25; Mc 5:20). Provavelmente, nessa ocasião, ela era a principal cidade do distrito e, possivelmente, deu esse nome ao distrito. A cidade de Gerasa, 56 km a sudeste do lago da Galileia, dificilmente poderia ser o lugar descrito no relato deste milagre. Também pode ser que tivesse havido uma vila com o mesmo nome perto de Gergesa, ou que tanto Gerasa como Gergesa se refiram à mesma vila, hoje chamada Kursi.

2. Ao desembarcar. Bem próximo ao sul da vila de Kursi (ver no v. 1) há uma costa íngreme que desce abruptamente para uma praia estreita (ver no v. 13). Jesus e os discí­pulos podem muito bem ter desembarcado ao sul desse penhasco, onde a praia se alarga e os montes recuam do lago.

Sepulcros. Os morros de pedra calcá­ria na região de Kursi são abundantes em cavernas e cavidades cortadas nas rochas. Escavadas na pedra calcária relativamente mole, cavidades como essas eram geralmente usadas como sepulcros na antiga Palestina.

Um homem. Mateus fala de dois homens (Mt 8:28). Aparentemente, um deles era muito violento. De modo seme­lhante, Mateus fala de dois cegos em Jericó (Mt 20:30) enquanto Marcos (Mc 10:46)

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5:3 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

e Lucas (Lc 18:35) mencionam apenas um, provavelmente pela mesma razão. L digno de nota que Mateus, sem dúvida, uma tes­temunha ocular dos dois eventos, mencione dois homens em cada caso (sobre as diferen­ças entre as narrativas dos mesmos inciden­tes nos evangelhos, ver Nota Adicional 2 a Mateus 3; comparar com Mc 10:46; Lc 5:2; 7:3; ver Nota Adicional a Lucas 7).

Espírito imundo. Com relação à pos­sessão demoníaca, ver Nota Adicional a Marcos 1.

3. Sepulcros. Ver com. dov. 2. Segundo a lei levítica, um cadáver era imundo (ver com. de Lv 21:2) e essa impureza se esten­dia ao sepulcro. Obviamente os endcmonia- dos não tinham essa preocupação.

Nem mesmo com cadeias. A declara­ção de Mateus de que “ninguém podia passar por aquele caminho” (Mt 8:28) dá a enten­der que o lugar frequentado por esse ende- moniado não era longe de uma via pública, provavelmente a que conduzia à margem oriental do lago (cf. DTN, 338).

Cadeias. Do gr. halusis, “cadeias” ou “gri­lhões”, usado para designar algemas.

4. Grilhões. Do gr. pede, "cadeia para os pés”, provem de uma palavra que significa “pé” ou "dorso do pé”. Eram cadeias de ferro terminadas por duas argolas largas com que se prendiam os condenados pelas pernas.

5. Ferindo-se. Com fúria, ele muitas vezes feria o corpo, sendo provavelmente

► cheio de cicatrizes c feridas.6. Quando, de longe, viu Jesus. Ele

poderia estar numa parte mais baixa da encosta do monte que se precipitava abrup­tamente para o mar e, assim, podia observar os barcos se aproximando.

Correu. Talvez com a intenção de atacar Jesus e quem O acompanhava, gritando de maneira selvagem enquanto se dirigia para a praia.

Adorou. Quando o endemoniado che­gou onde Jesus estava, os discípulos fugiram

aterrorizados. No entanto, o Salvador ficou sozinho com o possesso (DTN, 337). Ele deve ter percebido que ali estava um amigo, não um inimigo (ver DTN, 337, 338), e se prostrou aos pés de Jesus. A presença de Jesus parecia impressionar mesmo os piores inimigos (ver Mt 21:12, 13; Jo 2:15).

7. Que tenho eu contigo [...]? O desa­fio à autoridade de Jesus (ver Mc 1:27; ver com. de 2:10) realmente significava: “Que direito tens Tu de interferir em mim?” (ver com. de jo 2:4).

Filho. Ver com. de Lc 1:35; Jo 1:1-3.Deus Altíssimo. Ver At 16:17; ver com.

de Gn 14:18, 22. Parece que os espíritos fala­vam diretamente a Jesus por meio do ende­moniado, pois Jesus Se dirigiu ao "espírito imundo" e não ao homem (ver Mc 5:8). Portanto, o reconhecimento de Jesus como o “Filho do Deus Altíssimo” vem dos espíri­tos, não do endemoniado.

Conjuro-Te. Do gr. horkizõ, "fazer um juramento a". Em Lucas, a palavra é menos vívida: “Rogo-Te” (Lc 8:28).

Atormentes. Do gr. basanizõ, que origi­nalmente significa “testar [metais] por meio de pedra de toque”. No NT, a palavra é usada no sentido de infligir dor ou tortura.

8. Jesus lhe dissera. Ou, "estava lhe dizendo”. Enquanto Jesus ordenava ao espí­rito para sair do homem, o espírito ousada­mente O interrompeu e desafiou.

9. Qual é o teu nome? Não se sabe por que Cristo perguntou o nome do espírito que possuía o homem, ou do porta-voz da legião. Tem sido sugerido que isto foi para benefício dos discípulos, de modo que pudessem ava­liar a magnitude do milagre e compreender a natureza e o poder das forças contra as quais eles precisariam lutar.

Legião. Divisão do exército romano, cujo número consistia de cerca de 6 mil sol­dados de infantaria e 700 de cavalaria, 6,7 mil homens. Geralmente, porém, como nos exércitos atuais, a legião não era mantida

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MARCOS 5:14

cm sua capacidade máxima. Embora o nome Legião, usado pelo demônio, possa ser inter­pretado literalmente, não há como determi­nar o número exato. A expressão é melhor compreendida no sentido geral de que havia muitos demônios (ver Lc 8:30).

10. Rogou-Lhe encarecidamente. O demônio assumiu então a atitude de um suplicante por misericórdia. É possível que temesse por sua vida (ver com. de Mc 1:24).

Para fora do país. Lucas diz “sair para o abismo” (Lc 8:31). A palavra grega tra­duzida por “abismo” é abussos (ver com. de Ap 20:1). Na LXX, em Gênesis 1:2 e 7:11, abussos equivale ao heb. tehom, traduzido em português como "abismo” (ver com. de Cn 1:2). Na LXX, em Jó 28:14, o termo equivale a "mar”, e em Deuteronômio 8:7 (ARC) e Salmo 71:20, a “abismos” da terra. Em Romanos 10:7, “abismo” é utilizado para descrever o lugar dos “mortos”, espe- cialmcnte cm referência à morte dc Cristo. Em Apocalipse 9:2, 11; 11:7; 17:8; 20:1 e 3, abussos é traduzido como “poço do abismo” ou, simplesmente, “abismo”. Usado como adjetivo no grego clássico, a palavra signi­fica “sem fundo” ou “infinito”. Quando usada com referência a seres inteligentes, abussos parece significar isolamento de outros seres e a incapacidade de escapar da situação, como a de um ser humano na morte ou con­finado a uma cela solitária.

11. Ali pelo monte. Isto é, no declive do monte, a certa distância da praia, onde Cristo e o endemoniado estavam (ver Mt 8:30). Sempre que estavam naquela região, os por- queiros ficavam de sobreaviso quanto ao endemoniado e, assim, eles o viram quando correu em direção a Cristo, ouviram seus guinchos sinistros e testemunharam a glo­riosa transformação ocorrida nele.

Porcos. Embora alguns judeus crias­sem porcos por lucro, não há evidên­cia de que os donos desta manada fossem judeus. Com certeza, porém, eles estavam

absortos em negócios e lucros, alheios às coi­sas espirituais.

12. Os espíritos imundos rogaram.Ver com. do v. 10.

Manda-nos. O objetivo de Satanás era fazer com que o povo da região se vol­tasse contra o Salvador, dando a impressão de que Ele era responsável pela destruição de suas propriedades. O resultado imediato pareceu justificar as expectativas malignas. Mas o ministério do homem transformado, que antes era conhecido por todo o dis­trito como endemoniado, juntamente com a notícia da manada de porcos que pereceu no mar para confirmar sua história, foi útil como nada o poderia ter sido em levar o povo da região a se voltar para Jesus (ver com. dos v. 19, 20).

13. Jesus o permitiu. Comparar com a experiência de Jó (Jó 1:12; 2:6). A proposta que levou prejuízo a Jó foi feita pelo diabo, e Deus consentiu com ela, mas fez com que a mesma resultasse em benefício e encoraja­mento para os cristãos ao longo dos séculos.

Despenhadeiro abaixo. Literalmente, “precipício abaixo”. A uma curta distância da vila de Kursi, que se imagina ter sido a antiga Gergesa (ver com. do v. 1), há uma costa escarpada onde os montes se precipi­tam abaixo até perto da água, o único lugar em toda a costa onde isso ocorre. O declive é tão acentuado que poderia ser considerado um penhasco, embora não uma saliência. Ao sopé deste precipício, a praia é tão estreita que os porcos não conseguiriam deter a sua corrida desenfreada.

14. Campos. Literal mente, “nas lavou­ras”, em contraste com “cidade” (ver v. 10). No caminho para a vila de Gergesa, prova­velmente a curta distância para o norte do precipício (ver com. do v. 13), seria de espe­rar que os porqueiros contassem a todos que encontrassem o que havia acontecido.

Estão. [Os gerasenos rejeitam a Jesus, Mc 5:14b-20 = Mt 8:34 = Lc 8:35-39],

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Page 51: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

5:15 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

15. Assentado. O homem estava calmo, tranquilo e descansando, um contraste com o estado agitado em que vivera antes.

Vestido. O princípio conhecido como “a economia do milagre” indica que Deus em geral não opera milagres em que o resul­tado pode ser conseguido por meios natu­rais nem faz o que pode ser realizado através do esforço humano. Em harmonia com esse princípio, é improvável que as vestes que o homem então usava tivessem sido providen­ciadas miraculosamente. É mais provável que os discípulos tivessem compartilhado roupas com o homem.

Em perfeito juízo. Nos casos de pos­sessão demoníaca registrados no NT, a mente da pessoa atormentada havia fi­cado enlouquecida (ver Nota Adicional a Marcos 1).

Temeram. O problema da perda dos por­cos dominou, nessas circunstâncias, a mente das pessoas daquela região. Sem dúvida, eles se preocuparam acerca do que poderia resultar de mais uma demonstração de poder sobrenatural e, aparentemente, temeram pre­juízos materiais ainda maiores.

16. Os que haviam presenciado. Estes seriam os porqueiros, que já haviam contado sua versão do incidente (ver v. 14), e os discípulos. Estes últimos também con­taram a experiência de como a tempestade no lago foi aquietada na noite anterior, mas o povo não os quis ouvir (ver DTN, 339).

17. Rogar. Ou, “suplicar”, “implorar”.Que Se retirasse. A escolha deles foi

feita com base cm considerações materiais. Eles se privaram de quaisquer bênçãos pos­síveis como as derramadas sobre o endcmo- niado curado, com receio de que sofressem novas perdas de propriedade. Em harmo­nia com o conselho que logo daria aos doze, ao enviá-los a pregar e curar (ver Mt 10:14, 23), Jesus não protestou, mas simplesmente Se moveu para deixar o lugar. Muitos ainda hoje seguem o exemplo do povo de Gadara,

temerosos de que a presença do Salvador possa contrariar seus planos.

Terra. Do gr. horia, “território”, "região”.18. Ao entrar. Quando Jesus estava

entrando no barco, o homem curado supli­cava para ir com eles.

Que fora endemoninhado. O curto espaço de tempo que o homem passou com Jesus deve ter sido para ele a maior emo­ção da vida. Ao ver Jesus entrar no barco para sair, ele sentiu que estava se separando dAquele que lhe havia restaurado a saúde mental. No momento, ele deve ter temido •« que Sua ausência pudesse provocar o retorno dos demônios, o que seria algo terrível. Assim, ele queria permanecer com Jesus.

Suplicava. Ver com. do v. 17.19. Não lho permitiu. Jesus fez o que

era melhor para todos os envolvidos. Os habi­tantes de Decápolis precisavam do minis­tério daquele homem. Além disso, havia a probabilidade de que ele, como gentio (ver Mt 4:25; cf. DTN, 339), se tornasse um obs­táculo para a obra de Jesus na Galileia.

Para os teus. Isto é, aos familiares dele.Anuncia-lhes. As razões de Jesus em

advertir alguns que eram curados a não rela­tar o que havia sido feito por eles (ver com. de Mc 1:44, 45), não se aplicavam à situação em Decápolis. Provavelmente havia poucos escribas e fariseus em Decápolis que pudes­sem dar um falso relatório das atividades de Jesus. Além disso, Ele não pretendia per­manecer na região e não haveria um levante popidar em Seu favor que ameaçasse Sua obra. E mais, um milagre como este prova­velmente não criaria ali falsas esperanças em relação ao Messias (ver com. de Mt 3:2; 4:17; 5:2).

20. Proclamar. Do gr. kêrussõ, literal­mente “anunciar”, “divulgar”. Grandes coi­sas ocorreram no intervalo de mais ou menos uma hora, em que Jesus havia permanecido com os dois homens. Eles tinham uma his­tória inspiradora para contar; e, antes que

660

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Page 52: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

MARCOS 5:23

as pessoas saíssem da cidade, Jesus sem dúvida os instruiu nas verdades fundamen­tais do evangelho. Quando eles passaram a proclamar a mensagem por toda a região de Decápolis, o que ele dizia era confirmado pela narrativa dos porqueiros, a qual deve ter se espalhado rapidamente por toda a vizi­nhança de Gergesa (ver com. do v. 1). Pessoas por toda parte devem ter ouvido com grande interesse quando este, que fora alcançado pelo milagre, surgiu com a mensagem do evangelho. Sua própria reputação anterior como louco também era, com certeza, ampla­mente conhecida (ver Mt 8:28).

Decápolis. Ver p. 34. As várias cidades de Decápolis haviam sido helenísticas desde o tempo de Alexandre, o Grande, mas foram conquistadas pelos judeus durante a revolta dos macabeus. Elas foram liberta­das do domínio judaico pelo general romano Pompeu, o qual distribuiu a terra entre os veteranos de seu exército.

Todos se admiravam. Quando o homem, então sob o controle do Espírito de Deus, contou sua história, o povo da região ouviu com surpresa e espanto. Os resulta­dos do ministério dele devem levar grande incentivo aos que pensam que sua própria capacidade seja insuficiente para um efe­tivo testemunho em favor de Cristo. Os que amam sinceramente a Cristo e cuja vida foi transformada pelo Seu poder precisam sim­plesmente contar a outros “quão grandes coi­sas o Senhor fez” por eles (v. 19), e pessoas serão ganhas para Cristo.

Este evento deve ter ocorrido no fim do outono do ano 29 d.C. (ver com. de Lc 8:1). Quando Jesus voltou a Decápolis, nove ou dez meses depois (ver em Mt 15:32), milha­res afluíram para vê-Lo e ouvi-Lo (cf. DTN, 340, 341). Os que foram ouvir Jesus nessa ocasião posterior eram quase todos gentios.

21. Tendo Jesus voltado. | ü pedido de Jairo, Mc 5:21-24a = Mt 9:18-19 = Lc 8:40-42. Comentário principal: Mc. Ver mapa, p. 216;

gráfico, p. 228; sobre milagres, ver p. 204- 210]. A cura da mulher enferma e a res­surreição da filha de Jairo ocorreram logo após a cura do endemoniado (ver com. de Mt 8:18; 12:22; 13:1). A travessia do lago referida aqui foi da vizinhança de Gergesa, do lado oriental (ver com. de Mc 5:1), para Cafarnaum, 8,5 km a noroeste.

Afluiu para Ele grande multidão. Isso ocorria onde quer que Jesus fosse durante este período de Seu ministério (ver Mc 3:7, 20, 32; 4:1).

Junto ao mar. Uma multidão começou a se ajuntar na praia logo que o povo reco­nheceu Jesus Se aproximando em um dos barcos. Por algum tempo, Ele ficou perto de onde havia ancorado, ensinando e curando, como era Seu costume quando o povo se reu­nia. Então, juntamente com alguns dos discí­pulos, Jesus foi para a casa de Levi Mateus, a fim de participar de uma festa oferecida em Sua homenagem (ver com. de Mc 2:15- 17). Eoi ali que Jairo encontrou Jesus (ver Mt 9:10, 14, 18; DTN, 342).

22. Um dos principais. O chefe de uma sinagoga era o encarregado da adoração pública (ver p. 44). Não se sabe se Marcos « quis dizer que Jairo era um dos vários che­fes dessa sinagoga específica, ou um inte­grante de uma classe conhecida por esse nome, sendo um para cada sinagoga.

Jairo. Deve ser derivado do heb. Yair, o Jair do AT (ver Nm 32:41).

Prostrou-se a Seus pés. Como se pro­cedia diante de um príncipe ou de alguém de grande autoridade (ver com. de Et 3:2; cf. com. de Mt 2:11; 8:2). Se assim ele pudesse salvar a única filha, este orgulhoso doutor da lei estava disposto a se humilhar diante de Jesus e ser desprezado e odiado pela maio­ria dos membros de sua classe.

23. Suplicou. Ou, “rogou” (ver com. do v. 17).

Filhinha. Dos três evangelhos que nar­ram este incidente, apenas Marcos registra

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Page 53: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

5:24 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

a idade exata da menina (ver v. 42) e, por isso, ele usa aqui a forma diminutiva da pala­vra “filha”.

À morte. A doença, não identificada pelos evangelhos, estava em fase terminal. A morte seria certa, a menos que Jesus interviesse.

Rogo-Te (ARC). Estas palavras não ocorrem no original grego.

Impõe as mãos. O toque pessoal de Jesus parece ter sido uma característica de Seu interesse pessoal pelos sofredores (ver com. de Mc 1:31).

E viverá. Na mente do pai, não havia dúvida de que Jesus tinha o poder de res­taurara saúde da menina. Certamente havia um grande número, talvez centenas de pes­soas em Cafarnaum e nas redondezas, cujas vidas podiam testemunhar do poder de Jesus. Dentre estas, estavam o filho de um oficial do rei (Jo 4:46-54) e o servo de um centu- rião (Lc 7:1-10).

24. Comprimindo-O. Do gr. sunthilibõ, “comprimir” ou “comprimir de todos os lados”. Lucas usa uma palavra mais descri­tiva, sunpnigõ, “sufocar”. No caminho para a casa de Jairo, Jesus estava cercado de uma multidão tão compactada que a Sua marcha era literalmente “sufocada”. Ele mal podia Se mover.

Multidão. [A cura de uma mulher enfer­ma, Mc 5:24b-34 = Mt 9:20-22 = Lc 8:43-48. Comentário principal: Mc].

25. Certa mulher. Sobre o contexto deste milagre, ver com. do v. 21. Este é um dos pou­cos milagres registrados pelos três evangelhos sinóticos. O relato de Marcos é mais vívido e detalhado do que os de Mateus e Lucas.

26. Indo a pior. A medida que a situa­ção crônica da doença se tornava mais e mais visível, com o passar do tempo, e os recursos se esgotaram na vã tentativa de obter alívio, a mulher ficava mais e mais desesperançada.

27. De Jesus. Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem a variante “as coisas concer­nentes a Jesus”, isto é, “os relatos sobre Ele”.

Como era de se esperar, a notícia havia se espalhado rapidamente (ver com. de Mc 1:28; Lc 7:17, 18; 4:14).

Por entre a multidão. A mulher deve ter planejado durante algum tempo ir a Jesus, mas a ausência d Ele na segunda viagem pela Calileia parece ter tornado isso impossível, naquele momento. Quando soube que Jesus havia voltado a Cafarnaum, ela foi apressa­damente para a margem do lago, onde Ele estava ensinando e curando (ver com. do v. 21). A procura, porém, foi infrutífera. Posteriormente, ela soube que Ele estava na casa de Mateus (ver com. do v. 21) e se enca­minhou para lá na esperança de encontrá- Lo, mas novamente chegou tarde (ver DTN, 343). Então, ao Jesus marchar vagarosamente na direção da casa de jairo, ela finalmente O alcançou.

Mas a sua enfermidade havia reduzido a quantidade necessária de sangue em seu corpo, e ela, além de estar muito fraca fisi­camente, estava também desanimada com as muitas tentativas frustradas de conseguir a cura por meio de médicos. Além disso, a natureza dessa doença, juntamente com a contaminação cerimonial envolvida, era constrangedora. Pode ser que ela hesitasse em apresentar seu pedido a Jesus, especial- mente na presença de tantos estranhos, com receio de que Ele indagasse a respeito da natureza de seu mal, o que Ele fez algumas vezes (cf. Mc 10:51).

Tocou-Lhe a veste. Segundo Lucas, a mulher tocou “na orla" da veste de Jesus (ver Lc 8:44). Muitos que tocaram apenas “a orla” da veste de Jesus “ficaram sãos” (Mt 14:36; cf. At 5:15; 19:12).

28. Tocar. O toque que trouxe cura à mulher, segundo os doutores da lei teria ocasionado contaminação cerimonial sobre Cristo.

Curada. Literalmente, “salva”, isto é, curada de sua enfermidade.

29. Logo. Isto é, “imediatamente”.

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Page 54: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

MARCOS 5:35

Sentiu. Literal mente, “soube”. A mulher percebeu a corrente de poder (ver com. do v. 30) que fluiu de Cristo para ela no momento em que tocou as vestes dEle e teve certeza de que esse poder havia entrado em seu débil corpo e a curara.

Flagelo. Do gr. mastix, “açoite”, “castigo” ou “praga”. Tormentos incuráveis eram nor­malmente considerados como castigos divi­nos pelos pecados cometidos (ver com. dc Mc 1:40; Jo 9:2).

30. Reconhecendo. Do gr. epiginõskõ, “conhecer plenamente”, “reconhecer” ou “per­ceber”. Jesus estava ciente do que havia acon­tecido no momento em que a mulher tocou Suas vestes. O relato não diz se Jesus sabia de antemão que a mulher iria tocá-Lo. A von­tade do Pai atendeu ao não pronunciado rogo da mulher através dEle. Deve-se lembrar que todos os milagres de Cristo foram “operados pelo poder dc Deus através do ministério dos anjos” (DTN, 143).

Poder. Do gr. dynamis, literalmente, “poder” (ver com. de Mc 2:10; Lc 1:35). Dynamis é muitas vezes traduzido como “milagre” (Mc 9:39), “maravilhas” (6:2) e “for­ças miraculosas” (6:14; sobre os diferentes termos usados no NT para se referir a mila­gres, ver p. 204, 205).

Quem Me tocou nas vestes? Mais tarde, possivelmente como resultado desse incidente, muitos tocavam “na orla da Sua veste; e quantos a tocavam saíam curados”(Mc 6:56).

31. Aperta. Do gr. sunthlibõ (ver com. do v. 24).

32. Olhava ao redor. Ou, “continuou olhando”. Jesus pode não ter visto logo a mulher, provavelmente para lhe dar a opor­tunidade de falar primeiro. Várias razões podem ser sugeridas para Jesus não deixar a mulher sair quietamente, sem ninguém notar: (1) A exemplo da fé do centurião (ver com. de Lc 7:9), Jesus queria que a fé desta mulher fosse um modelo que outros

pudessem imitar. (2) Ele desejava que ela levasse consigo a alegria de saber que fora pessoalmente notada e reconhecida por Jesus. (3) Ele queria apagar da mente da mulher a ideia supersticiosa de que a cura fora resultado de um simples toque (ver com. dc Mc 5:34). (4) Para o próprio bene­fício dela, Ele desejava que reconhecesse a bênção recebida. Ser “curada" (ver com. do v. 28) da doença, sem ser “curada” da doença do pecado, seria apenas um bene­fício temporário.

33. Tremendo. Provavelmente ela então concluiu que seus temores anteriores tinham razão de ser.

34. Tua fé. Jesus queria fazer a mulher entender que a fé é que havia promovido a cura a seu torturado corpo e não o toque secreto. Jesus sabia que se as pessoas ali­mentassem um temor supersticioso acerca dos milagres, isso seria um obstáculo ao pro­pósito dos mesmos (ver com. de Mc 1:38). Uma afirmação pública por parte de Jesus dc que fora a fé que levara a cura evitaria efi­cazmente os rumores de que o milagre podia ser conseguido por meio de mágica. Por mais imperfeita que fosse a fé da mulher, ainda assim era uma fé genuína, proporcional a seus limitados conhecimento e compreensão da vontade e dos caminhos de Deus.

Vai-te em paz. Ver com. de Jr 6:14. A mulher deveria partir em “paz” de corpo e alma (ver com. de Mc 2:5, 10), na alegria de ser aceita por Deus conforme testificado por sua recente recuperação.

Fica livre. Isto é, “continue sã”. Não se deve supor que a cura tenha ocorrido nesse momento, como alguns concluem, pois a mulher já sabia que estava curada (ver v. 29), e Jesus já havia sentido que o poder curador saíra dEle (ver v. 30).

35. Falava Ele ainda. [A ressurreição da filha de Jairo, Mc 5:35-43 = Mt 9:23-26 = Lc 8:49-56], Aqui Marcos retoma a narrativa da ressurreição da filha de Jairo, interrompida

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5:36 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

pela história cia mulher enferma (v. 25-34; sobre o cenário da narrativa, ver com. do v. 21).

Tua filha já morreu. Se a filha de Jairo já estava morta, como se pode dedu­zir de Mateus 9:18, não haveria necessidade de mensageiros para informá-lo do fato (ver com. de Mt 9:18). Aparentemente Marcos dá a entender que a notícia trágica foi dada em voz baixa a Jairo na presença da multi­dão (ver com. de Mc 5:24).

36. Sem acudir. Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem a variante “tendo ouvido” (ARC). As palavras faladas em voz baixa a

► Jairo “foram ouvidas por Jesus” (DTN, 343).Não temas. Onde há temor há pouca fé.

A fé expulsa o temor. Jairo havia sido sufi­cientemente forte na fé, de modo que não teve dificuldade em acreditar que Jesus podia curar sua filha (ver com. do v. 23). Então, ele foi obrigado a exercer uma fé ainda maior, a de que as garras da própria morte poderiam ser quebradas. Quando o temor nos alcança e a fé parece débil, devemos fazer o que Jesus ordenou a Jairo: “Crê somente”, pois “tudo é possível ao que crê” (Mc 9:23).

37. Não permitiu que alguém. Ver com. de Mt 19:14. Além dos três discípu­los aqui mencionados, só os pais da menina acompanharam Jesus ao quarto onde ela jazia (ver Mc 5:40). O tumulto dos pranteadores (ver com. do v. 38, 39) e a incredulidade da multidão reunida na casa (ver v. 40) seriam um obstáculo à solene majestade do poder divino que estava para se manifestar por meio dAquele que tinha “vida em Si mesmo” (Jo 5:26; cf. 1:4).

Pedro e os irmãos Tiago e João. Literalmente, “o Pedro e Tiago e João”. O uso do artigo definido no grego mostra que os três discípulos são aqui tratados como uma unidade. Este é o primeiro exemplo em que estes três foram selecionados dentre os doze para participar com Jesus de algumas das mais poderosas experiências de Sua vida na Terra (ver com. de Mt 17:1). Pode ser também

que o quarto fosse pequeno demais para aco­modar os doze.

38. Alvoroço. Mateus menciona os flau­tistas (do gr. aulêtai, traduzido como “ins­trumentistas” [ARC]; ver Mt 9:23), os quais ainda hoje comparecem aos funerais orien­tais e tocam suas tristes melodias, que eram e ainda são consideradas essenciais. O famoso rabi Judá indicou o dever de um israelita nes­tas palavras: “Mesmo o homem mais pobre em Israel [para o funeral de sua esposa] deve providenciar no mínimo duas flautas e uma pranteadora” (Mishnah Kethuboth, 4.4, ed. Soncino, Talmude, p. 266).

Choravam. Isto se refere ao pranto monótono dos pranteadores contratados, os quais seriam numerosos se a família fosse rica, como provavelmente era o caso aqui.

39. Alvoroço. Do gr. thorubeõ, “fazer barulho”, “perturbar”, “lançar em confusão” ou “prantear tumultuosamente”. Em Atos 17:5, thorubeõ é traduzido como “alvoroçaram”.

Dorme. Nenhuma comparação é mais apropriada para a morte do que o sono, que muitas vezes significa libertação de cansaço, labuta, desapontamento e dor. Os olhos de uma criança cansada se fecham para o sono da noite, assim também os olhos daqueles que amam a Deus e esperam confiantes o dia em que Sua voz os despertará para a vida imortal se fecham para o sono da morte (ver ICo 15:51-55; lTs 4:16, 17). A metáfora con­fortadora em que o “sono” significa “morte” parece ter sido a maneira predileta de Cristo Se referir a essa experiência (ver com. de Jo 11:11-15). A morte é um sono, mas é um sono profundo do qual unicamente o grande Doador da vida pode nos despertar, pois somente Ele tem as chaves da morte (ver Ap 1:18; cf. Jo 3:16; Rm 6:23).

40. Riam-se. Do gr. katagelaõ, “escar­necer”. Foi mais do que um simples riso. Não é de admirar que Jesus os fez sair do quarto antes de despertar a menina do sono da morte.

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Page 56: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

MARCOS 5:43

Os que vieram com Ele. Isto é, Pedro, Tiago e João (ver com. do v. 37).

41. Talitá cumi! Estas palavras em aramaico devem ser as mesmas que Cristo proferiu nesta ocasião. O uso delas tes­tifica que Jesus falava o aramaico. Jesus usou outras expressões em aramaico, como “Efatá” (Mc 7:34) e “Eloí, Eloí, lamá sabac- tâni” (Mc 15:34).

42. Imediatamente. Ver com. de Mc 1:10.

A menina se levantou. Este é o único caso de ressurreição relatado nos três evan­gelhos sinóticos. A ressurreição do jovem da cidade de Nairn é narrada apenas por Lucas (ver Lc 7:11-15), e a de Lázaro, apenas em João (ver Jo 11:1-45). Nos três casos, a res­tauração foi imediata e completa.

Doze anos. Detalhe registrado apenas por Marcos.

Assombraram-se com grande espan­to (ARC). Isto reflete um método de ex­pressão hebraico (e aramaico) usado para intensificar o verbo. Neste caso, significa simplesmente “admiraram-se (ou maravilha­ram-se) sobremaneira” (ver ARA).

43. Ordenou-lhes expressamente. Isto é, deu-lhes ordens rigorosas (cf. Mc 1:43). Não é muito clara a razão pela qual Jesus impôs silêncio aos pais. A ordem, porém, estava em harmonia com as tentativas de Cristo, a essa altura de Seu ministério, dc evitar publicidade indevida (ver com. de Mc 1:43, 44; cf. Mt 8:4; 9:30).

Que dessem de comer à menina. Uma evidência do zelo de Jesus. Esta ordem significa também que a menina estivera sofrendo de uma doença que exauria sua força física. Possivelmente, ela não havia se alimentado durante alguns dias.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-20-DTN, 337-341, 404;GC, 514, 515

4 - DTN, 337 9-DTN, 338; GC, 51415-DTN, 33818-20-DTN, 339

19- DTN, 341;CBV, 98

21-24 - DTN, 342 21-43 - DTN, 342-348 23 - CBV, 59 26 - DTN, 343

29 - CBV, 60 30-34-MCH, 13;

T5, 228 35 - DTN, 342 39-DTN, 343, 539 41 - DTN, 343

Capítulo 61 Cristo é desprezado por Seus compatriotas. 7 Ele concede poder aos discípulos sobre

espíritos imundos. 14 Opiniões a respeito de Cristo. 27 João Batista é decapitado e 29 enterrado. 30 Os apóstolos retornam da pregação. 34 O milagre dos pães

e peixes. 48 Cristo anda sobre as águas e 53 cura a todos que O tocam.

1 Tendo Jesus partido dali, foi para a Sua terra, e os Seus discípulos O acompanharam.

2 Chegando o sábado, passou a ensinar na si­nagoga; e muitos, ouvindo-O, se maravilhavam dizendo: Donde vêm a este estas coisas? Que sa­bedoria é esta que Lhe foi dada? E como se fazem

tais maravilhas por Suas mãos?3 Não é este o carpinteiro, filho de Maria,

irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E não vivem aqui entre nós Suas irmãs? E escandalizavam- se nEle.

4 Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta

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Page 57: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

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6:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

sem honra, senão na sua terra, entre os seus pa­rentes e na sua casa.

5 Não pôde fazer ali nenhum milagre, senão curar uns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos.

6 Admirou-Se da incredulidade deles. Contudo, percorria as aldeias circunvizinhas, a ensinar.

7 Chamou Jesus os doze e passou a enviá-los dc dois a dois, dando-lhes autoridade sobre os es­píritos imundos.

8 Ordenou-lhes que nada levassem para o ca­minho, exceto um bordão; nem pão, nem alfor­je, nem dinheiro;

9 que fossem calçados de sandálias e não usassem duas túnicas.

10 E recomendou-lhes: Quando entrardes nalguma casa, permanecei aí até vos retirardes do lugar.

11 Se nalgum lugar não vos receberem nem vos ouvirem, ao sairdes dali, sacudi o pó dos pés, em testemunho contra eles.

12 Então, saindo eles, pregavam ao povo que sc arrependesse;

13 expeliam muitos demônios e curavam nu­merosos enfermos, ungindo-os com óleo.

14 Chegou isto aos ouvidos do rei Herodcs, porque o nome de Jesus já se tornara notório; e alguns diziam: João Batista ressuscitou den­tre os mortos, e, por isso, nEle operam forças miraculosas.

15 Outros diziam: E Elias; ainda outros: E profeta como um dos profetas.

16 Elerodes, porém, ouvindo isto, disse: E João, a quem eu mandei decapitar, que ressurgiu.

► 17 Porque o mesmo Herodes, por causa deHerodias, mulher de seu irmão Filipe (porquan­to Herodes se casara com cia), mandara prender a João e atá-lo no cárcere.

18 Pois João lhe dizia: Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão.

19 E Herodias o odiava, querendo matá-lo, e não podia.

20 Porque Herodes temia a João, sabendo que era homem justo e santo, e o tinha em segurança.

E, quando o ouvia, iicava perplexo, escutando-o de boa mente.

21 E, chegando um dia favorável, em que Herodes no seu aniversário natalício dera um banquete aos seus dignitários, aos oficiais mili­tares e aos principais da Galileia,

22 entrou a filha de Herodias e, dançando, agradou a Herodes e aos seus convivas. Então, disse o rei à jovem: Pede-me o que quiseres, e eu to darei.

23 E jurou-lhe: Se pedires mesmo que seja a metade do meu reino, eu ta darei.

24 Saindo ela, perguntou a sua mãe: Que pe­direi? Esta respondeu: A cabeça de João Batista.

25 No mesmo instante, voltando apressada­mente para junto do rei, disse: Quero que, sem demora, me dês num prato a cabeça de João Batista.

26 Entristeceu-se profundamente o rei; mas, por causa do juramento e dos que estavam com ele à mesa, não lha quis negar.

27 E, enviando logo o executor, mandou que lhe trouxessem a cabeça de João. Ele foi, e o de­capitou no cárcere,

28 e, trazendo a cabeça num prato, a entregou à jovem, e esta, por sua vez, a sua mãe.

29 Os discípulos de João, logo que souberam disto, vieram, levaram-lhe o corpo e o deposita­ram no túmulo.

30 Voltaram os apóstolos à presença de Jesus e Lhe relataram tudo quanto haviam feito e ensinado.

31 E Ele lhes disse: Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto; porque eles não tinham tempo nem para comer, visto serem numerosos os que iam e vinham.

32 Então, foram sós no barco para um lugar solitário.

33 Muitos, porém, os viram partir c, rcconhc- cendo-os, correram para lá, a pé, de todas as ci­dades, e chegaram antes deles.

34 Ao desembarcar, viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-Se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E passou a en- sinar-lhes muitas coisas.

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Page 58: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

MARCOS 6:1

35 Em declinando a tarde, vieram os discípu­los a Jesus e lhe disseram: Ê deserto este lugar, e já avançada a hora;

36 despede-os para que, passando pelos cam­pos ao redor e pelas aldeias, comprem para si o que comer.

37 Porém Ele lhes respondeu: Dai-lhes vós mesmos de comer. Disseram-lhe: Iremos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de comer?

38 E Ele lhes disse: Quantos pães tendes? Ide ver! E, sabendo-o eles, responderam: Cinco pães e dois peixes.

39 Então, Jesus lhes ordenou que todos se as­sentassem, em grupos, sohre a relva verde.

40 E o fizeram, repartindo-se em grupos de cem em cem e de cinquenta cm cinquenta.

41 Tomando Ele os cinco pães e os dois pei­xes, erguendo os olhos ao céu, os abençoou; e, partindo os pães, deu-os aos discípulos para que os distribuíssem; e por todos repartiu também os dois peixes.

42 Todos comeram e se fartaram;43 e ainda recolheram doze cestos cheios dc

pedaços de pão e de peixe.44 Os que comeram dos pães eram cinco mil

homens.45 Logo a seguir, compeliu Jesus os Seus

discípulos a embarcar e passar adiante para o outro lado, a Betsaida, enquanto Ele despedia a multidão.

46 E, tendo-os despedido, subiu ao monte para orar.

47 Ao cair da tarde, estava o barco no meio do mar, e Ele, sozinho em terra.

48 E, vendo-os em dificuldade a remar, por­que o vento lhes era contrário, por volta da quar­ta vigília da noite, veio ter com eles, andando por sobre o mar; e queria tomar-lhes a dianteira.

49 Eles, porém, vendo-O andar sobre o mar, pensaram tratar-se dc um fantasma e gritaram.

50 Pois todos ficaram aterrados à vista dEIe. Mas logo lhes falou e disse: Tende bom ânimo! Sou Eu. Não temais!

51 E subiu para o barco para estar com eles, e o vento cessou. Ficaram entre si atônitos,

52 porque não haviam compreendido o mi­lagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido.

53 Estando já no outro lado, chegaram a terra, em Genesaré, onde aportaram.

54 Saindo eles do barco, logo o povo reco­nheceu Jesus;

55 e, percorrendo toda aquela região, traziam em leitos os enfermos, para onde ouviam que Ele estava.

56 Onde quer que Ele entrasse nas aldeias, cidades ou campos, punham os enfermos nas praças, rogando-Lhe que os deixasse tocar ao menos na orla da Sua veste; e quantos a toca­vam saíam curados.

I. Tendo Jesus partido dali. [Jesus prega em Nazaré. E rejeitado pelos Seus, Mc 6:1-6 = Ml 13:53-58 = Lc 4:16-30. Comentário principal: Mc. Ver mapa, p. 217; ver gráfico, p. 218J. De acordo com Mateus, a segunda rejeição de Jesus pelo povo dc Nazaré ocorreu após o sermão junto ao mar, embora não seja indicado quanto tempo depois (ver Mt 13:53, 54; cf. DTN, 241). Mateus liga estreitamente a segunda rejei­ção em Nazaré com a morte de João Batista (ver Mt 13:53-14:12). Marcos a apresenta em conexão com os eventos da terceira viagem

pela Galileia e com a morte de João Batista (ver Mc 6:1-30; cf. DTN, 360). A morte de João Batista deve ter ocorrido pouco antes ou pouco depois do início da viagem, pois foi o trabalho dos doze durante a terceira viagem pela Galileia que levou Hcrodcs a pensar que João Batista tinha ressuscitado (ver com. do v. 14). Assim, é provável que esta última visita a Nazaré (ver D TN, 241) tenha ocorrido no inverno de 30/31 d.C.

Sua terra. Para uma discussão sobre a provável data da primeira visita de Jesus à Nazaré, durante o período de Seu ministério

667

Page 59: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

6:2 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

na Galileia, ver Nota Adicional a Lucas 4. Aparentemente, o único meio para que o registro do evangelho esteja harmonizado é ter como base duas visitas. Mateus e Marcos não mencionam Nazaré pelo nome em relação a isto (a segunda visita), mas não pode haver dúvida de que Nazaré é, aqui, apropriada­mente chamada de “Sua terra”, em virtude do fato de Ele ter crescido ali (ver Lc 4:16; 2:51), por estar morando lá na época em que assu­miu Seu ministério (ver Mc 1:9) e de estar na casa de Seus pais (cf. Lc 2:1-5). Depois de deixar Nazaré para assumir o ministério, Jesus não voltou ali até iniciar o ministério pela Galileia. O tempo decorrido foi de cerca de 18 meses (ver com. de Lc 4:16), provavel­mente, a partir do outono de 27 d.C. até a primavera de 29 d.C. (ver com. de Mt 4:12). O ministério pela Galileia como um todo con­tinuou da primavera de 29 d.C. até a prima­vera de 30 d.C. Desse modo, foi próximo ao fim desse período que ocorreu a segunda e última visita a Nazaré (cf. DTN, 241).

2. Sábado. Como na visita anterior (Lc 4:16).

Na sinagoga. Como na ocasião anterior (ver com. de Lc 4:16; para uma descrição de uma sinagoga e de seu culto, ver p. 44, 45).

Maravilhavam. Evidentemente parecia inacreditável para os habitantes de Nazaré que Aquele que vivera entre eles poderia ser o Filho de Deus.

Este homem (NTLH). Literalmente, “este [companheiro]”, uma expressão que, muitas vezes, denota desprezo.

Que sabedoria é esta [...]? Ver com. de Is 11:2, 3; 50:4. Nem os líderes judeus, nem os habitantes de Nazaré devem ter pensado em negar a superioridade infinita da inteli­gência, do entendimento e da sabedoria de Jesus. Isso era muito evidente; na verdade, foi isso que os perturbou.

Tais maravilhas. Ver p. 204, 205. O povo de Nazaré não podia negar os grandes milagres que Jesus realizava como não podia negar

Sua sabedoria. Se Ele ensinava e operava milagres, o povo seria obrigado a admitir que “tudo Ele tem feito esplendidamente bem” (Mc 7:37).

3. O carpinteiro. Mateus diz: “o filho do carpinteiro” (Mt 13:55). Mesmo sendo uma expressão idiomática em hebraico e ara- maico, “filho do carpinteiro” pode ser apenas uma perífrase para “o carpinteiro”; e parece não haver razão para se duvidar de que José tenha sido um carpinteiro por profissão, e que, antes de iniciar Sua missão, Jesus teve « essa profissão (cf. DTN, 109). Essa, aliás, é uma das poucas informações registradas no NT sobre a vida de Cristo entre a visita ao templo quando era um juvenil e a época de Seu batismo (ver com. de Lc 2:51, 52).

Filho de Maria. O fato de o povo se referir a Jesus, aqui, como o “filho de Maria” e não “filho de José” sugere que José havia mor­rido (cf. DTN, 109; a respeito de José como o “pai” de Jesus, ver com. de Mt 1:21; Lc 2:33).

Irmão de Tiago. Quanto aos irmãos de Jesus, ver com. de Mt 1:18, 25; 12:46. Muitos confundem este Tiago com o Tiago filho de Alfeu, geralmente por causa dos registros ilegíveis dos pais da igreja, ou por suas pró­prias conclusões baseadas em Gálatas 1:19 e 2:9. A única menção incontestável deste Tiago, após a conversão dos irmãos de Jesus (ver At 1:14; cf. Jo 7:5), está em Gálatas 1:19, possivelmente, também em Judas 1. Tiago, “o irmão do Senhor”, não deve ser confun­dido com Tiago filho de Alfeu (ver com. de Mc 3:18).

Judas. Provavelmente o autor da epís­tola de Judas, pois ele é identificado como “irmão” de Tiago, o único indivíduo no NT chamado Judas, cuja identificação é segura (ver Jd 1; ver com. de Me 3: 18).

Suas irmãs. O plural indica pelo menos duas e abre a possibilidade de mais.

Escandalizavam-se nEle. Do gr. skandalizõ, literal mente, “tropeçavam” (ver com. de Mt 5:29).

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MARCOS 6:14

4. Profeta. Ver com. de Gn 20:7; Dt 18:15.

Sem honra. A declaração de Cristo devia ser um provérbio conhecido. Se os pró­prios irmãos de Jesus não acreditavam que Ele era o Messias (ver Jo 7:5), como espe­rar que os antigos vizinhos acreditassem?

Sua terra. O povo de Nazaré O conhe­cia bem (ver com. de Lc 2:52). A convi­vência diária com eles testemunhava de Sua perfeição de caráter, e eles se ressen­tiram porque isso os colocava em condi­ção desfavorável. Em Seu caráter exemplar eles nada viam que particularmente os atraísse, nada que apreciassem ou consi­derassem de valor no alcance dos objetivos de sua vida.

Seus parentes. Mesmo um ano depois, Seus irmãos não acreditavam nEle (ver com. de jo 7:5), entretanto, eles foram convertidos após Sua morte e ressurreição (ver com. de At 1:14).

5. Nenhum milagre. Jesus deixou de fazer milagres ali não por falta de poder, mas devido à incredulidade das pessoas envolvi­das (ver Mt 13:58).

Uns poucos enfermos. Alguns foram curados de males menores. Mas não houve milagres notáveis, como Jesus havia feito em outros lugares.

6. Admirou-Se. Poucos meses antes, Jesus ficara “maravilhado” com a fé de um centurião (ver Mt 8:10).

Percorria. Provavelmente enquanto os doze faziam o percurso pelas cidades e aldeias da Galileia. Marcos registra as atividades evangelísticas pessoais de Jesus antes de mencionar as deles (ver v. 7), en­quanto Mateus segue a ordem inversa (ver Mt 11:1).

7. Chamou Jesus os doze. [As instru­ções para os doze, Mc 6:7-13 = Mt 10:5-15 = Lc 9:1-6. Comentário principal: Mt]. Sobre o chamado original e a nomeação dos doze, ver com. de Mc 3:13-19.

De dois a dois. Ver com. de Mc 3:14.Autoridade. Do gr. exousia, “poder” (ver

com. de Mc 2:10; Lc 1:35).8. Cinto (ARC). Literalmente, “cintu­

rão” (ver com. de Mt 10:9).9. Túnicas. Ou, “camisas” (ver com. de

Mt 10:10).11. Em verdade (ARC). Ver com.

de Mt 5:18. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a omissão do restante do v. 11, como o faz a ARA.

12. Que se arrependesse. A mesma mensagem que João e Jesus pregavam (ver Mt 3:2; Mc 1:15). Os doze ofereciam tanto cura espiritual como física.

13. Ungindo-os com óleo. O azeite de oliva era comumente ministrado como medi­cação na antiga Palestina (cf. Lc 10:34); era usado interna e externamente. O uso lite­ral do azeite como medicamento pode ter sido a base para seu uso simbólico aqui e, mais tarde, na igreja cristã. A unção com óleo como um ato de fé é mencionada somente aqui e em Tiago 5:14.

14. Chegou isto aos ouvidos. [A morte de João Batista, Mc 6:14-29 = Mt 14:1-12 = ◄ Lc 9:7-9. Comentário principal: Mc. Ver gráfico, p. 228]. O extensivo trabalho dos doze durante o transcurso da terceira via­gem pela Galileia foi suficiente para cha­mar a atenção geral para Jesus e Sua obra, bem como para atemorizar Herodes de que Jesus fosse João ressuscitado dos mortos. Enquanto nas duas expedições evangelís­ticas anteriores houve um grupo indo de vila em vila, desta vez eram sete. Os rela­tos chegaram a Herodes de todas as regiões, revelando uma rápida expansão do evange­lho. Antes Jesus pode ter sido considerado pelas autoridades como apenas um prega­dor itinerante e isolado, acompanhado por um grupo heterogêneo de seguidores, mas então se tornou evidente que Ele represen­tava um movimento hem maior. Herodes não podia mais ignorá-Lo.

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6:15 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Herodes. Mateus menciona Herodes Antipas, filho de Elerodes, o Grande, e governador da Galileia e Pereia, sob jurisdi­ção de Roma (ver com. de Mt 2:22; Lc 3:1). Tanto Mateus (14:1) quanto Lucas se refe­rem a Herodes Antipas por seu título oficial, “tetrarca” (ver com. de Lc 3:1). Ele era o “rei” apenas por nomeação romana, c o título de “rei” era permitido só como uma cortesia. Ele governou seu território a partir da morte do pai, Herodes, o Grande, desde 4 a.C., até 39 d.C. Sua mãe era Maltace, uma samari- tana, que também foi a mãe de Arquelau (ver com. de Mt 2:22). Sua residência oficial era, provavelmente, em Tiberíades, cidade que ele construiu na costa sudoeste do lago da Galileia e que a nomeou assim em homena­gem ao então imperador César Tibério (ver p. 51, 52; e gráficos, p. 28, 231).

João Batista ressuscitou. Provavel­mente uma superstição associada à consciên­cia culpada foram os motivos que levaram Herodes a esta conclusão.

Forças miraculosas. Ver p. 204, 205. João não tinha realizado milagres (Jo 10:41).

15. Outros diziam. Ver Mc 8:27, 28; Lc 9:19.

Elias. Isto é, o profeta Elias (a respeito das profecias do AT sobre o retorno de Elias, ver com. de Is 40:3-5; Ml 3:1; 4:5, 6).

Profeta como um dos profetas. De acordo com os boatos, Jesus era um dos antigos profetas ressuscitados ou era como um deles. Apesar de João não ter realizado milagres (Jo 10:41), mesmo os líderes em Jerusalém, sem mencionar o povo em geral (ver com. de Mt 14:5; 21:26), haviam cogi­tado que Ele fosse um profeta (ver com. de Jo 1:19-27).

16. E João. Ver com. do v. 14.17. Herodias. Ver com. de Lc 3:19.

A princípio casada com Filipe, ela se divor­ciara dele para se casar com Herodes Antipas. Herodes, por sua vez, havia se divorciado da filha de Aretas, rei da Arábia. Assim,

Herodes e Herodias tinham ex-cônjuges vivos. Como resultado de Herodes se divor­ciar, seu ex-sogro, Aretas, fez guerra contra Herodes e o derrotou. Esta derrota foi enca­rada pelos judeus como um juízo divino sobre Herodes por causa de sua aliança indes­culpável com Herodias (Josefo, Antiguidades, xviii.5.1, 2).

Mulher de seu irmão Filipe. Não Filipe, o tetrarca (ver com. de Lc 3:1, 19), mas um outro filho de Herodes, o Grande, com Mariamne II. Herodes Antipas, era filho de Herodes, o Grande, com Maltace e, por­tanto, um meio-irmão de Filipe. Herodias era neta de Herodes, o Grande, por meio do filho de Mariamne 1, outra mulher de Herodes, o Grande. Herodias se casara, anterior­mente, com Filipe, meio-irmão de seu pai, em seguida, tornou-se esposa de Antipas, outro meio-irmão de seu pai; portanto, dois tios dela (ver gráfico, p. 28).

Atá-lo no cárcere. Ver com. de Lc 3:19, 20. João, provavelmente, tinha sido preso na fortaleza de Macaeros (ver com. de Lc 3:20) antes da Páscoa de 29 d.C. até o inverno seguinte, pouco menos de um ano (ver Nota Adicional a Lucas 4).

18. João lhe dizia. Sem dúvida, Herodes ouvira a pregação de João pessoalmente e, por um momento, pareceu que cederia (ou: atenderia) ao apelo por arrependimento (ver v. 20; DTN, 214).

Não te é lícito. A lei moisaica proibia estritamente casamentos como o de Herodes e Herodias (Lv 18:16; 20:21) e, de acordo com Josefo, os judeus desaprovavam comple­tamente essa união (Antiguidades, xviii.5.4).

19. Herodias o odiava. A NTLH diz: "estava luriosa com João”. Llerodias odiava João e esperava o momento oportuno para matá-lo. Sabendo da influência que João-* exercia sobre Herodes Antipas (ver com. do v. 20), Herodias, provavelmente, temia queo tetrarca pudesse se divorciar dela, como João o havia aconselhado (cf. DTN, 214).

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MARCOS 6:25

20. Homem justo. João era como seus pais: “ambos eram justos diante de Deus” (ver com. de Lc 1:6).

E o tinha em segurança. Do gr. suntêreõ, “preservar [para não perecer]”. Herodes impe­dia Herod ias de realizar seu intento de matar o profeta (ver v. 19). Ele tinha intenção de libertá-lo, quando sentisse que era conve­niente fazê-lo (ver DTN, 220, 221).

Ficava perplexo. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a leitura: “ele ficava muito perplexo”, que se assemelha à decla­ração em Lucas 9:7.

De boa mente. A mensagem de João carregava as credenciais divinas e, exceto pela influência de Herodias, Herodes teria se pronunciado abertamente cm favor de João.

21. Em dia favorável. Isto é, “um momento oportuno” para a vingativa Herodias frustrar a intenção de Herodes de proteger João e, finalmente, libertá-lo (ver com. do v. 20). Os planos de Herodias, sem dúvida, estavam bem definidos.

Dera um banquete. No palácio ou pró­ximo à fortaleza de Macaeros (ver com. do v. 17, 27).

Dignitários. Estes eram altos funcioná­rios do governo civil.

Oficiais militares. Do gr. chiliarchoi, “comandantes de milhares”, isto é, os "ofi­ciais” das forças militares de Herodes. Além de líderes civis e militares, sem dúvida, Herodes convidou pessoas de destaque social e econômico, os “dirigentes da Galilcia”.

22. Filha. Esta era Salome, filha de Herodias, de um casamento anterior (ver com. do v. 17).

De Herodias. Litcralmente, "da pró­pria Herodias”. Marcos enfatiza aqui o fato de que Herodias mandou a própria filha dançar, em vez de uma dançarina profis­sional. Mesmo para os padrões da corte de Herodes, nenhuma jovem mulher respei­tável teria empreendido uma dança volup­tuosa como essa. De qualquer ponto de vista,

essa ação ultrapassou os limites da decên­cia. Salomé nada mais era do que um fanto­che no esquema de sua mãe para matar João.

Dançando. Herodias calculou exata­mente que a beleza sedutora de Salomé fas­cinaria Herodes e seus convidados.

Aos seus convivas. Isto é, os convida­dos (ver com. do v. 21).

23. E jurou-lhe. O enfático juramento de Herodes foi feito na presença de todos os convidados. Herodes estava fora de si diante da honra sem precedentes de ter uma nobre princesa dançando para o prazer dele c dos convidados. Por meio de Herodias e Mariamne I (ver com. do v. 17; ver p. 51, 52), Salomé era descendente direta da casa real dos hasmoneus, linhagem ilustre de sacer­dotes e príncipes judeus.

Metade do meu reino. Isto represen­tava, em figura hiperbólica, o auge da gene­rosidade (ver Et 5:3; 7:2).

24. Saindo ela. A afirmação de que Salomé foi “instruída previamente por sua mãe” (Mt 14:8, ARC) indica antes que ela pedisse, não antes que dançasse. Salomé nada sabia sobre o plano da mãe no momento em que ela estava dançando diante de Herodes e dos convidados. Ela simples­mente se tornou um instrumento nas mãos ímpias da mãe.

Que pedirei? Ou, “o que devo pedir para mim?” Não haveria nenhum propósito nesta pergunta se Salomé soubesse antes o que deveria pedir; tampouco seria necessá­rio que ela saísse da presença do rei.

25. No mesmo instante. Instigada por Herodias, Salomé não perdeu tempo em apresentar a exigência a Herodes a fim de que, mesmo em seu estado de embriaguez, ele não refletisse sobre a inconsequente promessa e mudasse de ideia. A insistên­cia de Herodias na ação imediata pode implicar que Herodes tendesse a vacilar ou que sua grande admiração por João fosse conhecida.

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6:26 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Sem demora. Do gr. exautês, “de uma vez”, “imediatamente”.

Num prato. Isto é, “uma escudela” (ou, prato de madeira).

26. Entristeceu-se. Mesmo embria­gado, Herodes sentiu o peso da responsa­bilidade para com João (ver com. do v. 20), mas Herod ias o apanhara em um momento de fraqueza resultante da bebida e ele se sen-

► tiu impotente para agir em harmonia com o que sabia ser o certo. Não fosse pelo vinho, Herodes, provavelmente, teria se recusado a ordenar a execução (ver com. de Mt 4:3).

Por causa [...] dos que estavam com ele. O juramento (ver com. do v. 23) feito diante dos convidados de honra (ver com. do v. 21) pareceu a Herodes impossível de ser quebrado.

Não lha quis negar. Ou seja, rejeitar o pedido dela.

27. Logo. De acordo com Josefo (Antiguidades, xviii.5.2), João fora preso na fortaleza de Macaeros (ver com. de Lc 3:19, 20). A prontidão com que João foi decapi­tado estabelece como quase certo que a festa de aniversário foi realizada perto da prisão.

Decapitou. Herodes temia João (v. 20), temia o povo (Mt 14:5) e temia Herodias. Era um escravo de seus temores, mesmo que fossem contraditórios. Supersticiosamente, Herodes continuou a temer João quando este estava morto tanto quanto antes (ver Mc 6:14, 16, 20).

28. Entregou [...] a sua mãe. Salomé não tinha utilidade para o presente maca­bro. Mas nada poderia ter sido mais gra- tificante para a mãe sanguinária. Josefo diz que, cerca de nove anos depois, em 39 d.C., Herodes Antipas, acompanhado por Herodias, foi exilado por aspirantes às honras reais (Antiguidades, xviii.7; Guerra dos Judeus, ii.9.6 [183]).

29. Os discípulos de João [...] soube­ram. Eles não estavam com João na forta­leza, embora, provavelmente, estivessem nas

imediações de onde podiam vê-lo de vez em quando e auxiliá-lo oportunamente. Depois disso, os discípulos de João foram a Jesus com o relatório do que havia ocorrido (ver Mt 14:12), provavelmente, pouco antes ou durante o percurso da terceira viagem pela Galileia (ver com. de Mc 6:1).

30. Voltaram. [A primeira multiplicação de pães e peixes, Mc 6:30-44 = Mt 14:13- 21 = Lc 9:10-17 = jo 6:1-15. Comentário principal: Mc e Jo. Ver mapa, p. 217; e grá­fico, p. 228; sobre os milagres, p. 204-210]. “Voltaram”, isto é, da terceira viagem pela Galileia (ver com. de Mt 9:36). Eles, prova­velmente, estiveram separados por algumas semanas, durante o inverno de 29-30 d.C. e, então, era o início da primavera de 30 d.C., não muito tempo antes da Páscoa (Jo 6:4; cf. DTN, 364, 388). Houve então uma “reunião” (NVI), em momento e lugar predeterminados.

Apóstolos. Esta é a única vez que Marcos emprega a palavra “apóstolos” (ver com. de Mt 10:2; Mc 3:14). Talvez Marcos e Lucas (ver Lc 9:10), pelo uso da palavra “apóstolos”, neste ponto da narrativa, pre­tendessem enfatizar a nova responsabilidade deles, em virtude de serem enviados para ensinar e curar.

E Lhe relataram tudo. Jesus enviara os doze em duplas, para terem a oportuni­dade de pôr em prática os princípios obser­vados anteriormente em Seu ministério. Ao retornar, eles prestaram um relatório com­pleto do que havia ocorrido durante o itine­rário percorrido.

31. Vinde [...] à parte. Os doze, indivi­dualmente, necessitavam de descanso e ins­trução. Até mesmo Jesus sentia necessidade de alívio das multidões que O procuravam e assediavam onde quer que Ele fosse, desde a madrugada até a noite. O isolamento dos dis­cípulos com Jesus na vizinhança de Betsaida e a alimentação milagrosa dos 5 mil são os únicos incidentes da vida dc Jesus entre o

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batismo e a entrada triunfal relatados pelos quatro evangelhos.

Repousar um pouco. Seja qual for a ocupação, uma mudança ocasional não apenas produz descanso, mas concede novo vigor.

Num lugar deserto. Ou seja, um lu­gar isolado, solitário ou remoto (ver com. de Mt 3:1; Lc 1:80). O local escolhido para este afastamento das estradas movimentadas da Galileia ficava na vizinhança de Betsaida (ver Lc 9:10), no extremo norte do lago da Gali­leia, a leste do ponto onde o Jordão deságua no lago e, portanto, dentro do território de Herodes Filipe (ver com. de Mt 11:21). A pe­quena planície em que se encontra Betsaida é El Batiha, local tradicional da alimenta­ção dos 5 mil.

Não tinham tempo nem para comer. Tal como ocorrera havia vários meses (ver Mc 3:20).

32. Foram sós. Eles se esforçaram para escapar de Cafarnaum sem serem notados.

Um lugar solitário. Ver com. do v. 31.33. Muitos, porém, os viram. Apesar

das precauções, algumas pessoas percebe­ram a partida deles e observaram a direção para a qual se dirigiram ao atravessarem

► o lago.Correram para lá, a pé. A distância de

Cafarnaum até a planície conhecida como El Batiha, em que se situava Betsaida (ver com. do v. 31), seria de 6,4 km. A rota direta pelo lago seria de cerca de 5 km.

34. Ao desembarcar, viu Jesus. Os que íoram a pé sabiam do local aproximado onde o barco atracaria na costa. Jesus ficou a sós com os discípulos por um tempo na encosta (ver Jo 6:3; cf. v. 5). Eles conversa­ram sobre os problemas encontrados em seu roteiro pelas cidades e aldeias da Galileia, e Jesus lhes deu os conselhos necessários para corrigir erros e prepará-los para um ministério mais elicaz nas ocasiões seguin­tes (ver DTN, 361, 364).

Compadeceu-Se deles. Jesus deixou o local isolado na encosta no qual Ele e os dis­cípulos haviam passado algum tempo e, ama­velmente, saudou a multidão (cf. Lc 9:11).

Passou a ensinar-lhes. De acordo com o grego, Jesus continuou a ensinar o povo.

35. Em declinando a tarde. Lucas diz que “o dia começava a declinar” (Lc 9:12), literalmente, “curvar-se” (ver com. do v. 12). Isso seria entre três horas da tarde e o pôr do sol. O registro sugere que Jesus, os discí­pulos e as pessoas ficaram sem alimento ou descanso durante o dia inteiro.

E deserto este lugar. Ver com. do v. 31.Já avançada a hora. O texto grego

aqui é praticamente idêntico ao início do versículo, traduzido como “em declinando a tarde”.

36. Despede-os. Os discípulos não viam solução alguma para o problema, a não ser despedir as pessoas. Mas a “compaixão” de Jesus (ver v. 34) previa tanto o bem-estar físico das pessoas quanto o espiritual.

O que comer. Ou seja, alimentos em geral, qualquer coisa comestível.

Não têm o que comer (ARC). Evidên­cias textuais favorecem (cf. p. 136) a omissão destas palavras (como na ARA), que estão, contudo, implícitas no contexto.

37. Dai-lhes vós mesmos de comer. Em grego, o pronome “vós” é enfático, como se Jesus dissesse: “Dai vós de comer a eles.” Todas as ordens de Deus contêm o poder necessário para executá-las. De um ponto de vista humano, era absurdo pensar em encon­trar pão, a uma curta distância e antes do anoitecer, para satisfazer as necessidades de tal multidão. A exigência feita por Jesus aos discípulos, aparentemente, era tão ilógica quanto Sua ordem anterior de pescar nas águas claras do lago durante o dia (ver com. de Lc 5:5). Essa experiência anterior pode ter vindo à mente deles, e refletiram sobre a lição que Jesus, então, pretendia que eles aprendessem. Deus sempre trabalha com os

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seres humanos para satisfazer as necessida­des físicas e espirituais de seus semelhantes. Este princípio é fundamental para a comis­são evangélica.

Duzentos denários. Ou seja, 200 dená- rios romanos (ver p. 37). Mesmo nos tempos atuais, o salário médio diário dc um traba­lhador comum (200 denários) seria conside­rado suficiente apenas para comprar comida o bastante para uma refeição escassa a uma multidão com essa dimensão.

38. Quantos pães tendes? Jesus já havia falado a Filipe a respeito de prover ali­mento para a multidão (ver Jo 6:5, 6; 1:43, 44). Da mesma forma que Pedro e André, Filipe era natural de Betsaida, e como a cidade estava a curta distância de onde os eventos desse dia memorável acontece­ram, Filipe devia saber onde adquirir ali­mento. Ele era sincero, mas tardio para crer, como ficou evidente mais de uma vez em sua estada com Cristo como discípulo (ver Jo 14:8-12; cf. DTN, 292). Foi, sem dúvida, para dar a Filipe a oportunidade de forta­lecer a fé que Cristo lhe dirigiu a pergunta (ver eom. de Jo 6:5, 6). Foi Filipe, na ver­dade, que afirmou que 200 denários roma­nos não seriam suficientes para alimentar tanta gente (ver jo 6:7).

No entanto, deve ter sido André, talvez mais prático e predisposto, que acreditou no que Cristo disse e partiu para descobrir que alimento estava disponível (ver Jo 6:8, 9). A hesitação de Filipe e a prontidão de André para dar um passo de fé se contrastam notavelmente.

Ide ver. Jesus “sabia bem o que estava para fazer” (ver Jo 6:6) desde o princípio. Mas, enquanto os enviava, Ele levou os pró-

-► prios doze a analisar o problema e a desco­brir uma solução.

Responderam. André foi quem desco­briu acerca do modesto almoço que um rapaz levara para si e transmitiu o relatório a Jesus (ver Jo 6:8, 9).

Cinco pães e dois peixes. Os cinco “pães” eram feitos de farinha de cevada (Jo 6:9) e, provavelmente, tinham forma re­donda e achatada. A cevada era bem mais ba­rata do que o trigo, sendo o principal alimento dos pobres. Os peixes deviam estar desidra­tados e prontos para se comer, como ainda é costume nas regiões orientais. Eram comi­dos com pão, como uma espécie de iguaria.

39. Todos se assentassem. Do gr. anaklinõ, “deitar-se” ou “reclinar-se”. Esta era a posição habitual à mesa, pelo menos por pessoas de classes superiores (ver com. de Mc 2:15).

Em grupos. O fato de as pessoas terem se reclinado em grupos pode sugerir que Cristo lhes pediu para ficar como o fariam ao redor de uma mesa em suas respectivas casas, com um espaço para permitir que os discí­pulos entrassem no círculo e servissem cada grupo, como um servo o faria em uma casa.

Relva verde. Esta informação é regis­trada apenas por Marcos. Devido ao fato de as chuvas serem escassas na Palestina, de maio a setembro (ver voi. 2, p. 94), a grama esta­ria verde somente no inverno ou na prima­vera. Isto ocorreu, então, apenas poucos dias antes da Páscoa de 30 d.C., e a grama, portanto, estaria na sua melhor forma (ver Jo 6:4). Assim, o relato de Marcos é com­plementado perfeitamente pelo de João (ver Nota Adicional a Mateus 15).

40. Em grupos. O v. 39 se refere à orga­nização das pessoas “em grupos”, enquanto aqui a referência é ao arranjo ordenado dos grupos entre si. A ordem era aparente tanto na disposição dos indivíduos em cada grupo como no arranjo dos grupos.

De cem em cem e de cinquenta em cinquenta. O arranjo ordenado de tão grande multidão, provavelmente, fora neces­sário a fim de que todos pudessem testemu­nhar o milagre, apreciar sua importância e ser alcançados com o “pão do céu” que eles estavam prestes a receber.

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MARCOS 6:42

41. Ele [...] os abençoou. Do gr.eulogeõ, "louvar” ou "invocar bênçãos”. João usa a palavra eucharisteõ, “ser grato”, “dar graças” (cf. Jo 6:11). Parece que havia algo característico na maneira como Cristo clava graças (ver Mt 15:36; 26:26), algo que os discípulos sem dúvida testemunhavam dia­riamente enquanto estavam com Ele. Em Emails, Jesus “fora por eles reconhecido no partir do pão” (Lc 24:35). Nota-se também que, em cada caso, Jesus tomava o pão cm Suas mãos antes de dar graças. Mas a parte essencial da "bênção” consistia no reconhe­cimento de que a comida é um dom de Deus e deve se dar graças por isso.

Partindo. Literalmente, "para quebrar completamente”, ou “partir em pedaços”.

Pães. Ver com. do v. 38.Deu-os. Literalmente, “continuou a

entregar”. O contexto sugere que o milagre ocorria enquanto o pão estava nas mãos de Jesus, entre o ato de parti-lo e o de entregá- lo aos discípulos. Jesus só realizou milagres para atender a uma necessidade genuína (ver p. 205, 206). Enquanto havia a necessidade de alimento, Ele continuou a multiplicá-lo em Suas mãos (cf. lRs 17:16; 2Rs 4:4-6).

Para que os distribuíssem. Uma expressão comum ao servir uma refeição. Cada um dos doze carregava os pães do mila­gre em sua própria cesta (ver com. do v. 43) e servia a certo número de grupos organi­zados “em filas” (ACF), sobre a relva (ver com. do v. 40). Com os cestos vazios, os dis­cípulos voltavam a Cristo para buscar mais e, cada vez que voltavam, Ele continuava dando-lhes mais pães e peixes. O arranjo ordenado dos grupos, o serviço dos discí­pulos e o suprimento inesgotável de pães e peixes proporcionou aos homens, mulheres e crianças tudo o que podiam comer, em pouco tempo.

Dois peixes. Ver com. do v. 38.42. Todos comeram. Entre os judeus,

as alegrias do reino messiânico eram,

frequentemente, retratadas sob a figura de um banquete (ver com. de Lc 13:29; 14:15). Naturalmente, como a multidão foi alimen­tada milagrosamente, alguns voltaram seus pensamentos para as perspectivas messiâ­nicas. No mesmo dia em que comeram os pães e os peixes, as pessoas concluíram que < Jesus era “o profeta” (ver com. de Jo 6:14; cf. Dl 18:15; Mt 11:3; jo 4:25) que havia de vir ao mundo. O milagre as levou à conclusão de que Jesus devia ser aquele predito por todos os profetas (ver Lc 24:27; Jo 1:45), o Rei que viria para Israel (ver Is 9:6, 7; ver com. de Lc 1:32, 33). Assim, tentaram coroá-Lo rei imediatamente (ver jo 6:15). Aquele que podia ressuscitar os mortos, curar os doentes e fornecer alimento para as multidões, obvia­mente, possuía poder para libertar Israel da sujeição a Roma. Sob Sua liderança, os exér­citos de Israel seriam invencíveis, e as mais acariciadas expectativas dos que esperavam um messias político seriam concretizadas (ver com. de Mt 3:2; 4:17; 5:2; Lc 4:19).

A alimentação de 5 mil pessoas foi o mila­gre culminante do ministério pela Galileia, testemunhado por vasta multidão, e que não pôde ser explicado por céticos do tempo de Cristo nem pelos de hoje. Como resultado desse milagre, o ministério pela Galileia che­gou repentinamente a um clímax (ver com. de Lc 2:49). A cura do homem no tanque de Betesda, um ano antes (ver com. de Jo 5), levara o ministério da judeia a uma conclu­são prematura.

E se fartaram. O pão multiplicado mila­grosamente, evidenciando a autenticidade do milagre, foi distribuído a cada pessoa da vasta multidão, não em quantidade pequena, mas o suficiente para satisfazer o apetite. Esta abundância comprovou o poder ilimi­tado de Jesus. Somente quando as necessida­des de todos foram plena mente satisfeitas, o fornecimento foi interrompido. Jesus estava tão atento às necessidades físicas dos que foram a Ele como às necessidades espirituais.

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6:43 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

No entanto, a provisão assim feita para as necessidades físicas devia direcionar as pes­soas às suas muito mais importantes necessi­dades espirituais e ao “pão da vida , como o meio para satisfazê-las (ver Jo 6:26-51).

O tipo de alimento fornecido era a comida simples de pescadores e camponeses e teste­munhou contra a ostentação. A maneira em que foi fornecido provou o poder de Deus capaz de suprir todas as necessidades huma­nas. A abundância testificou a respeito dos recursos infinitos de Deus e de Sua capa­cidade de prover “infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos” (Ef 3:20). A coleta das sobras testemunhou que nenhuma das bênçãos de Deus deve ser desperdiçada. A participação dos discípulos na distribuição dos alimentos comprovou que as bênçãos do Céu são disponibilizadas por meio da atividade dos que estão dispostos a cooperar com o Onipotente. Os discípulos eram, simplesmente, canais de bênçãos, eles deviam receber antes que pudessem dar.

O fato de a alimentação dos 5 mil ser o único milagre registrado pelos quatro evan­gelistas o caracteriza como de grande impor­tância (para uma comparação deste milagre com o da alimentação dos 4 mil, ver a Nota Adicional a Mateus 15).

43. Cestos. Do gr. kóphinos, geralmente uma pequena cesta de vime, como a que um judeu levaria consigo ao empreender uma viagem por regiões na quais os alimentos não seriam obtidos facilmente e, especial­mente, para evitar a compra de alimentos dos gentios (ver com. do v. 41). O tipo de cesta a qual se faz alusão em Marcos 8:8 (gr. spuris) é um grande cesto de vime usado para transportar vários tipos de cargas, como provisões para um grupo de pessoas, um conjunto de ferramentas de operário, etc. Paulo foi transportado por cima do muro de Damasco, em um spuris. Mais tarde, Jesus distinguiu cuidadosamente (em grego) entre o tipo de cesta, do gr. kóphinos, usada na

ocasião em que os 5 mil foram alimentados (ver Mt 16:9; Mc 8:19), e o tipo de cesta, gr. spuris, usada quando foram alimentados 4 mil (ver Mt 16:10; Mc 8:20).

Pedaços. Do gr. klasma, literalmente, “o que está partido”; consequentemente, “um frag­mento” ou “um bocado”. O contexto deixa claro que esses “pedaços” não eram restos parcial­mente comidos, mas as porções originalmente deixadas com os grupos que estavam além das necessidades do grupo (ver com. do v. 41) e, por isso, não haviam sido utilizadas. São “pedaços” no sentido de que foram “partidas” dos cinco pães originais (ver com. do v. 41).

44. Homens. Do gr. andres, “homens adultos”, em contraste com as mulheres, em vez do gr. anthrõpoi, “seres humanos”, isto é, “pessoas”, em contraste com os animais (ver com. de Mc 2:27). Assim, fica claro que havia 5 mil homens presentes, “além de mulhe­res e crianças” (ver Mt 14:21). Pode-se fazer uma estimativa de que um número igual de« mulheres e crianças estaria presente, aumen­tando o total para mais de 10 mil pessoas.

45. Logo. [Jesus anda por sobre o mar, Mc 6:45-52 = Mt 14:22-33 = Jo 6:16-21. Comentário principal: Mt e Jo],

A Betsaida. Isto é, "adiante dEle a Betsaida”.

46. Tendo-os despedido. Ou, “despe- diu-Se deles”. A expressão grega era comum para uma despedida cortês.

47. Ao cair da tarde. Ver com. de Mt 14:23.

51. Atônitos. Isto é, muito admirados.52. Não haviam compreendido. Sua

atenção não estava no milagre que tinham acabado de presenciar, mas na própria desi­lusão por Jesus não Se permitir ser coroado rei (ver com. do v. 42).

Endurecido. Ver com. de Ex 4:21. O co­ração dos discípulos estava “endurecido” no sentido de que não entenderam o signifi­cado do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes.

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MARCOS 6:56

Estado. [Jesus em Genesaré, Mc 6:53- 56 = Mt 14:34-36].

55. Leitos. Ver com. de Mc 2:4.56. Onde quer que Ele entrasse. Esta

declaração parece sugerir a passagem de um período; também pode ser um resumo das experiências durante as semanas preceden­tes ou do que aconteceu por vários dias ou semanas após a alimentação dos 5 mil.

O milagre que alimentou os 5 mil ocorreu pouco antes da Páscoa (ver Jo 6:4; cf. DTN, 364, 388). Então, é mais provável que esta passagem se refira ao ministério de Jesus entre a ocasião desse milagre e Sua partida para a Siro-Fenícia.

Praças. Literalmente, "lugares de comér­cio”, que ficavam nas ruas das cidades e vilas (ver com. de Mt 11:16).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

7 - DTN, 350; Ev, 72 7-11 - DTN, 349-35816- DTN, 728 17, 18-HR, 19717- 28 - DTN, 214-225 20 - DTN, 214 23-26-DTN, 221

25, 26-Te, 51 30, 31 - DTN, 359 31 - SC, 249; DTN, 362,

363; OE, 243, 246; CRV, 56, 58;MCH, 133; MS, 287; TM, 34;

T7, 244, 292 32-44-DTN, 364-371 34 - DTN, 364 35, 36 - DTN, 365 45-52 - DTN, 377-382 46 - CBV, 58 55 - DTN, 384

Capítulo 71 Os fariseus acusam os discípulos por comer sem lavar as mãos. 8 Eles invalidam o

mandamento de Deus pelas tradições humanas. 14 0 comer sem lavar as mãos não contamina o homem. 24 Jesus cura afilha da mulher siro-fenícia

de um espírito imundo 31 e um homem que era surdo e gago.

1 Ora, reuniram-se a Jesus os fariseus e al­guns escribas, vindos de Jerusalém.

2 E, vendo que alguns dos discípulos dEle comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar

3 (pois os fariseus e todos os judeus, obser­vando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar cuidadosamente as mãos;

4 quando voltam da praça, não comem sem se aspergirem; e há muitas outras coisas que rece­beram para observar, como a lavagem de copos, jarros e vasos de metal e camas),

5 interpelaram-No os fariseus e os escribas: Por que não andam os Teus discípulos de confor­midade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar?

6 Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim.

7 E em vão Me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.

8 Negligenciando o mandamento de Deus, « guardais a tradição dos homens.

9 E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa pró­pria tradição.

10 Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte.

11 Vós, porém, dizeis: Se um homem dis­ser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que poderias

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7:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta para o Senhor,

12 então, o dispensais de fazer qualquer coisa em favor de seu pai ou de sua mãe,

13 invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição, que vós mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes.

14 Convocando Ele, de novo, a multidão, disse-lhes: Ouvi-Me, todos, e entendei.

15 Nada há fora do homem que, entran­do nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina.

16 Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.17 Quando entrou cm casa, deixando a mul­

tidão, os Seus discípulos O interrogaram acer­ca da parábola.

18 Então, lhes disse: Assim vós também não entendeis? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar,

19 porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso? E, assim, consi­derou Ele puros Lodos os alimentos.

20 E dizia: O que sai do homem, isso é o que o contamina.

21 Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios,

22 a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura.

23 Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.

24 Levantando-Se, partiu dali para as ter­ras de Tiro e Sidom. Tendo entrado numa casa, queria que ninguém o soubesse; no entanto, não pôde ocultar-Se,

25 porque uma mulher, cuja filhinha estava possessa de espírito imundo, tendo ouvido a res­peito dEle, veio e prostrou-se-Lhe aos pés.

26 Esta mulher era grega, de origem siro- fenícia, e rogava-Lhe que expelisse de sua filha o demônio.

27 Mas Jesus lhe disse: Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos.

28 Ela, porém, Lhe respondeu: Sim, Senhor; mas os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem das migalhas das crianças.

29 Então, Lhe disse: Por causa desta palavra, podes ir; o demônio já saiu de tua filha.

30 Voltando ela para casa, achou a menina sobre a cama, pois o demônio a deixara.

31 De novo, Se retirou das terras de Tiro e foi por Sidom até ao mar da Galileia, através do território de Decápolis.

32 Então, Lhe trouxeram um surdo e gago e Lhe suplicaram que impusesse as mãos sobre ele.

33 Jesus, tirando-o da multidão, à parte, pôs- lhe os dedos nos ouvidos e lhe tocou a língua com saliva;

34 depois, erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse: Efatál, que quer dizer: Abre-te!

35 Abriram-se-lhe os ouvidos, e logo se lhe soltou o empecilho da língua, e falava desembaraçadamente.

36 Mas lhes ordenou que a ninguém o disses­sem; contudo, quanto mais recomendava, tanto mais eles o divulgavam.

37 Maravilhavam-se sobremaneira, dizendo: Tudo Ele tem feito esplendidamente bem; não so­mente faz ouvir os surdos, como falar os mudos.

1. Ora, reuniram-se. [Jesus e a tradi­ção dos anciãos. O que contamina o homem, Mc 7:1-23 = Mt 15:1-20. Comentário princi­pal: Mc. Ver mapa, p. 217; cf. p. 3, 4, 83-871. Neste ponto da narrativa, tanto Mateus como Marcos passam por alto o incidente signifi­cativo na sinagoga de Cafarnaum, quando, no final do discurso sobre o “Pão da Vida”,

a opinião popular na Galileia se voltou contra Jesus (ver Jo 6:25—7:1; ver com. de Mt 15:21). Contrariamente ao costume, Jesus permane­ceu na Galileia durante a época da Páscoa (ver jo 7:1; cf. DTN, 395), sem dúvida, aten­dendo às necessidades das pessoas discreta- « mente (ver com. de Mc 6:56). Logo após a festa, provavelmente durante a última parte

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MARCOS 7:3

de abril ou início dc maio, ocorreu o encontro com os escribas e fariseus, que havia pouco tinham voltado de Jerusalém.

Fariseus. Ver p. 39, 40.Escribas. Ver p. 43; ver com. de Mc 1:22.De Jerusalém. Os líderes judeus fica­

ram alarmados com a rápida expansão do evangelho evidenciada pela então recente terceira viagem pela Galilcia (ver com. de Mt 15:21; Mc 6:14). As pessoas aqui referidas eram, sem dúvida, membros de uma delega­ção mais ou menos oficial do Sinédrio, envia­das com a finalidade específica de obter uma alegação para levar o ministério dc Jesus ao fim (cf. DTN, 395).

2. E, vendo. Os fariseus e os escribas sabiam que os discípulos estavam simples­mente seguindo o costume de Jesus (cl. com. de Lc 11:38). Indiretamente, esta foi uma provocação pessoal a Jesus. Os escribas e os fariseus pretendiam atribuir a Ele a negli­gência em relação às suas leis. Ao proceder de forma indireta, provavelmente, eles tam­bém evitariam otender aqueles que pensa­vam bem dc Jesus. Os líderes em Jerusalém olhavam para as pessoas analfabetas e sim­ples da Galileia com desprezo e, geralmente, se referiam a elas como 'amine haarets, lite­ralmente, "as pessoas da terra” (ver p. 43). E foi na companhia de uma multidão desses sinceros galileus que este encontro ocorreu.

Pão. Literalmente, “pães”, mas aqui pro­vavelmente indique ‘comida" cm geral.

Impuras. Do gr. koinos, originalmente significa “comum”, isto é, compartilhado por muitas pessoas. Mais tarde, passou a signi­ficar “vulgar” ou “profano" c é neste sentido que Marcos usa a palavra aqui (cf. com. de At 10:14).

Por lavar. Como escrevia para não judeus (ver p. 611, 612), que poderiam não compreender a natureza da provocação que os espiões apresentavam, Marcos descreveu o que ele queria dizer com “impuras”. Mateus, provavelmente, escrevendo principal mente

para os judeus (ver p. 272, 275), não faz tal declaração explicativa. A purificação aqui referida era estritamente ritual, não sani­tária. Este rito consistia em verter uma pequena quantidade de água sobre a palma de uma mão, depois na outra, com a mão em tal posição que a água passasse da palma da mão para o punho, mas não mais além, cuidando-se o tempo todo para que a água corresse de volta para a palma da mão e, depois, alternadamente esfregando as duas mãos. A quantidade mínima de água pres­crita era a que caberia em uma casca e meia de ovo. No entanto, onde não houvesse água disponível, uma ablução a seco era permi­tida, na qual uma pessoa poderia simples­mente simular o lavar das mãos da forma prescrita.

3. Tradição. Do gr. paradosis, literal­mente, “uma entrega”, ou “uma transferência", por isso, "uma tradição”, que é transferida a outros oralmente ou por escrito. Como usado nos evangelhos, paradosis se refere ao pesado fardo de regras orais rabínicas que haviam se desenvolvido em torno da Torah (ver com. de Dt 31:9; Pv 3:1). As tradições dos douto­res da lei eram o alvo específico dos ataques dc Jesus sobre o sistema religioso judaico de Sua época. Em português, a palavra "tradi­ção” significa “transmissão oral [...] de gera­ção em geração”.

Com o tempo, essa tradição oral, origi- nalmente destinada a proteger a lei escrita do AT, chegou a ser considerada mais sagrada do que a própria lei (ver DTN, 395). Por uma obediência mecânica às exigências da tradição oral, a pessoa automaticamente estaria guardando a lei escrita, incluindo os dez mandamentos. Em outras palavras, se uma pessoa cumprisse com o sentido exato da interpretação tradicional da lei, ela não precisaria se preocupar com o espírito da lei escrita. Esse sistema legalista reduziu a reli­gião a uma questão dc forma c baniu o espí­rito da verdadeira adoração e obediência,

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7:4 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

sem a qual a pessoa serve a Deus em vão (ver Jo 4:23, 24; cf. Mc 7:7). Um sistema de jus­tiça obtido por meio das “obras” da lei subs­tituiu o plano da salvação, por intermédio

► do qual Deus desejava que as pessoas alcan­çassem a justiça cjue é pela fé (cf. Rm 9:31, 32; 10:3).

Cristo procurou restaurar todas as ins­truções de Deus reveladas ao seu lugar de direito no pensamento e na vida de Seu povo. Ele procurou conferir às palavras de Deus prioridade sobre as palavras humanas. Ele tentou acabar com meras formas exteriores da religião e cultivar o verdadeiro espírito da religião no coração.

Anciãos, isto é, os rabis mais velhos ou intérpretes da lei.

Não comem sem lavar. Ver com. do v. 2.Cuidadosamente. Do gr. pugmê, lite­

ralmente, “punho”, sob a forma usada aqui, “com o punho”. Sugere-se que pugmê sig­nifica aqui “um punho cheio [de água]”. Evidência textual também pode ser citada (cf. p. 136) para a leitura pukna, signifi­cando “vigorosamente”, “diligentemente”, ou “habitualmente”.

4. Praça. Ou seja, o mercado em plena rua, onde o produto era comprado e vendido (ver com. de Mt 11:16). O pensamento rabí- nico considerava inevitável que uma pessoa, ao se misturar com a multidão no mercado, entrasse em contato com pessoas ou coi­sas que estivessem impuras e, assim, “se contaminasse”.

Aspergirem. Evidências textuais tam­bém favorecem (cf. p. 136) a leitura “purificar”

Outras coisas. Talvez incluindo vasi­lhas, roupas (ver Lv 11:32), mãos e pés (cf. Êx 30:19-21).

Receberam para observar. A tradição é “transmitida” por uma geração e “recebida” para ser mantida pela seguinte. E dada pelo instrutor e recebida pelo discípulo.

Copos. Do gr. xestai, singular xestês, uma medida romana (sextarius), contendo cerca

de meio litro (ver p. 38). Xestês é uma das diversas palavras de derivação latina encon­tradas no evangelho de Marcos.

Metal. Literalmente, "bronze” ou “cobre”.Camas. Literalmente, “sofás" ou “leitos”.

Entretanto, a evidência textual se divide (cf. p. 136) entre manter ou excluir a expressão.

5. Andam. Em sentido figurado, "viver”. Comparar com o “andar” de Enoque com Deus (ver Gn 5:24). Era o modo de vida dos discípulos, ou a maneira de viver, que per­turbava fariseus e escribas.

6. Profetizou Isaías. Ver com. de Is 29:13. As palavras de Isaías descreviam o Israel de seus dias, como o contexto deixa claro, mas eram igualmente verdadeiras a res­peito dos judeus nos dias de Cristo (ver com. de Dt 18:15). Assim, quando Cristo disse: “Profetizou Isaías a respeito de vós”, Ele não quis dizer que Isaías profetizou algo verda­deiro particularmente e exclusivamente a respeito dos judeus do tempo de Cristo, mas que a descrição que Isaías fizera de Israel em seus dias também se aplicava às pessoas dos dias de Cristo (ver Mc 7:6).

Hipócritas. Ver com. de Mt 6:2.Honra-Me. Aparentemente obedecendo

a vontade de Deus, na realidade, os “anciãos” (v. 3) estavam “ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (v. 7). Era uma ques­tão de salvação pela fé ou pelas obras. Jesus afirmou que aqueles que adoram a Deus devem fazê-lo “em espírito e em verdade” (ver jo 4:23, 24). A ênfase sobre essa ver­dade levou Cristo a um amargo conflito com os líderes judeus. O perigo de se exaltarem preceitos humanos e mesmo interpreta­ções humanas das exigências divinas acima dos “preceitos mais importantes da Lei” (Mt 23:23) não é menor hoje do que naque­les dias.

7. Ensinando doutrinas. Literalmente, “preceito [por] preceito”.

8. Mandamento de Deus. A forma sin­gular, usada aqui, se refere a tudo o que Deus

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MARCOS 7:14

ordenou, toda a vontade divina revelada (ver com. de Mt 22:37, 39). O “mandamento” de Deus “é ilimitado” (SI 119:96); isto abrange “o dever de todo homem” (Ec 12:13). O ideal apresentado aqui é o de ser “perfeito”, assim como “perfeito” é o Pai celeste (ver com. de Mt 5:48).

Tradição. A “tradição dos homens” se mostra em claro contraste com o “manda­mento de Deus”.

O lavar (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a omissão do restante do v. 8, começando com estas palavras, como o faz a ARA. De todo modo, a declaração é inquestionavelmente verdadeira, pois o mesmo pensamento é expresso nos v. 4 e 13.

9. Jeitosamente. Nota-se uma ironia implícita nas palavras de Cristo.

10. Moisés disse. A primeira parte da citação de Cristo vem do quinto manda­mento, e a segunda, das leis do código civil (ver Êx 21:17).

Seja punido de morte. Esta expressão grega é um reflexo da forma hebraica que sig­nifica “certamente morrerás”; que seria, lite­ralmente, “morrer você morrerá” (ver com. de Gn 2:17). Em outras palavras, a morte devia ser a pena inevitável pela violação do quinto mandamento.

11. Vós, porém, dizeis. Jesus então dá uma ilustração específica do que Ele quis dizer com a expressão: “Vocês estão sem­pre encontrando uma boa maneira para pôr de lado os mandamentos de Deus, a fim

► de obedecer às suas tradições” (v. 9, NV1). Com isso, Jesus esclarece que os judeus esta­vam adorando a Deus em vão (ver v. 7). Eles acusaram Cristo de revogar a lei, mas Ele deixou claro que, por meio da interpreta­ção tradicional da lei, de fato, eles faziam a mesma coisa de que O acusavam falsamente (ver com. de Mt 5:17-19, 21, 22).

Corbã. Do gr. korban, que provém do heb. qorban, “uma dádiva”, “uma oferta”, literalmente, “o que é levado para perto”.

Nas regiões orientais, ninguém pensaria em abordar um superior ou “aproximar-se” sem apresentar um “presente”. Qualquer coisa sobre a qual uma pessoa pronunciasse as pala­vras “é corbã” era dedicada a Deus e ao templo.

Oferta. Escrevendo, principalmente, para leitores não judeus (ver p. 611, 612), Marcos interpreta aqui uma palavra que tinha pouco ou nenhum significado para eles.

12. Dispensais. Ou, “consentir" (ver com. de Mt 19:14).

Fazer qualquer coisa. Uma pes­soa poderia, assim, enganar seus pais, em nome da religião, com a aprovação dos sacer­dotes e sob o pretexto de que Deus exigia isso dela.

Qualquer coisa sobre a qual a palavra “Corbã” fosse pronunciada seria, desse modo, dedicada a uso sagrado, ou seja, do templo (ver com. do v. 11). Os pais não tinham per­missão para tocar qualquer coisa assim “con­sagrada”, mas o filho desleal era autorizado a fazer uso dela enquanto vivesse. Ele se exi­mia de seu dever filial por uma profissão de devoção superior. Por esse procedimento desonesto, os sacerdotes eram complacen­tes com seus paroquianos, a fim de aliviar estes últimos da obrigação solene de susten­tar os pais.

13. Invalidando. Isto é, para todos os efeitos práticos, eles anulavam o quinto man­damento. Jesus estava diante da multidão reunida como o defensor de seus direitos, enquanto os escribas e fariseus eram expos­tos como verdadeiros hipócritas (ver v. 6) e inimigos de Deus e de seus semelhantes.

Muitas outras coisas semelhantes. O exemplo que Cristo citou não era um caso isolado, como os escribas e fariseus bem sabiam.

14. De novo. Do gr. panta. Entretanto, evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a lei­tura palin, “mais uma vez”. Esta leitura impli­caria que Jesus se dirigia à multidão quando os escribas e fariseus O interromperam

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7:15 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

com sua queixa (ver v. 2). Assim que silen­ciou os críticos, Jesus novamente Se dirigiu ao povo com o objetivo de deixar clara a ver­dadeira natureza do problema envolvido no conflito sobre a tradição (ver com. do v. 3).

Ouvi-Me. As pessoas deviam prestar atenção diligente a fim de perceber a hipo­crisia daqueles líderes religiosos.

15. Nada há fora do homem. Os comentaristas geralmente se desviam do ponto principal, nos v. 15 a 23, aplicando a dicussão ao problema dos alimentos cárneos puros e impuros diferenciados em Levítico 11. O contexto deixa claro que Jesus não estava colocando em dúvida qualquer preceito do AT, mas negando a validade da tradição oral (ver com. de Mc 7:3). Aqui, especifica­mente, trata-se da tradição que declarava que o alimento ingerido com as mãos não devi­damente lavadas, no sentido ritualístico, tor­nava-se a causa da contaminação, (ver com. do v. 2). Era sempre, e exclusivamente, con­tra “os preceitos de homens” (v. 7) que Jesus protestava, em nítida distinção do "manda­mento de Deus” (v. 8), conforme estabele­cido nas Escrituras. Aplicar os v. 15 a 23 à questão de carnes puras e impuras é ignorar completamente o contexto. Se Jesus, nesse momento, eliminasse a distinção entre ali­mentos puros e impuros é evidente que Pedro, mais tarde, não teria reagido à ideia de comer alimentos cárneos imundos como o fez (ver com. de At 10:9-18, 34; 11:5 -18).

Deve-se ressaltar que o problema em dis­cussão entre Jesus e os fariseus nada tinha a ver com o tipo de alimento a ser consumido, mas apenas com o modo com que era inge­rido, se com ou sem o ritual da purificação das mãos (ver com. dos v. 2, 3). Segundo os regulamentos judaicos, a carne, mesmo que limpa de acordo com Levítico 11, ainda pode­ria ser considerada contaminada pelo contato

► com pessoas impuras (ver com. de Mc 6:43).O que sai. Para obter uma lista das "coi­

sas” às quais Cristo se refere, ver os v. 21

a 23. Cristo afirma então que a corrupção moral de quebrar “o mandamento de Deus” é mais importante do que a impureza ritual, especialmente quando a última se baseia na “tradição dos homens” (ver com. dos v. 7, 8). A profanação da alma, Jesus diz, é uma questão muito mais grave do que a corrup­ção ritual do corpo, ocasionada pelo contato com pessoas ou coisas impuras.

Que o contamina. Verv. 21-23. Mesmo no AT, Deus afirma especificamente que Ele não Se agrada com as meras formas de ado­ração cerimonial (ver Is 1:11-13; Mq 6:6-8), praticadas como um fim em si mesmas.

16. Tem ouvidos. A evidência tex­tual permanece dividida (cf. p. 136) quanto a incluir ou eliminar o v. 16. No entanto, Cristo usou frequentemente esta expressão (ver Mt 11:15, etc.) e, certamente, c apro­priada para o contexto em questão.

17. Em casa. "Uma casa”, possivelmente a casa de Pedro, em Cafarnaum (ver com. de Mc 1:29; 2:1). O restante deste discurso foi dirigido aos discípulos, em particular (Mc 7:17-23).

Seus discípulos. De acordo com Mateus, foi Pedro, como de costume, que atuou como porta-voz do grupo (ver com. de Mt 14:28).

Parábola. Ver p. 197-204. Uma parábola pode ser apenas uma declaração expressiva, porém breve. Aqui, refere-se à figura empre­gada no v. 15, sobre as coisas que entram e as que saem pela boca. Se esta “parábola” provou ser um mistério mesmo para os dis­cípulos, a multidão dificilmente poderia ter compreendido seu significado pleno (ver com. do v. 14).

18. Também não endendeis? Isto é, assim como a multidão a quem a “parábola” fora contada. Era razoável esperar que os discípulos estivessem à frente das pessoas comuns quando se tratava de compreender as verdades da salvação.

19. No coração. Ou seja, a mente (ver com. de Mt 5:8). Em outras palavras, comer

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MARCOS 7:23

sem lavar as mãos não teria qualquer efeito moral sobre o ser humano.

No ventre. Alimentos cerimonialmente imundos (ver com. do v. 15) iriam para o estô­mago, e não havia nenhum meio pelo qual a impureza cerimonial supostamente atribuída a eles pudesse ser absorvida pelo corpo.

Lugar escuso. Do gr. aphedrõn, “uma latrina” ou “uma privada”. O termo não se refere, como frequentemente se supõe, a uma parte do corpo humano.

Puros todos os alimentos. Literal- mente, “julgar limpos todos os alimentos”, do gr. bromata (ver com. de Lc 3:11). Na ARC, esta declaração é uma parte da instru­ção de Cristo, sugerindo que o processo de digestão e eliminação implicaria purificação em relação ao que se ingeriu. No grego, no entanto, está claro que estas não são palavras de Cristo, mas, sim, de Marcos, e que cons­tituem seu comentário sobre o significado das palavras de Cristo. Jesus teria declarado “puros” todos os alimentos, em relação ao tema discutido que tinha que ver com o ritual de purificação (ver com. do v. 2).

Deve-se notar que a palavra gr. bromata, traduzida como “alimentos”, significa sim­plesmente “o que é comido" e inclui qual­quer comida; mas nunca denota a carne de animais como distinguida de outros tipos de alimentos. Limitar as palavras “puros todos os alimentos” para alimentos cárneos e concluir que Cristo, aqui, aboliu a distin­ção entre carnes puras e impuras utilizadas como alimento (ver Lv 11) é ignorar o sen­tido do texto.

Além disso, o contexto (v. 1-14, 20-23) não trata da impureza biológica, mas da impureza cerimonial à qual, supostamente, as pessoas se expunham a partir da omissão da lavagem ritual (ver com. do v. 15). O tipo de comida que os discípulos ingeriam (v. 2, 5) não é referido, mas apenas a forma como eles o faziam (ver com. dos v. 2, 5, 15). Do começo ao fim, Cristo lida com a difícil questão do

contraste entre o “mandamento de Deus” e a “tradição dos homens” (ver com. dos v. 5-15, 19; ver também com. dos v. 21-23).

20. Sai. Ver com. dos v. 15, 19.21. De dentro. Jesus conclui a questão

com uma declaração das coisas que “con­taminam o homem" (v. 23). A corrupção, < segundo Ele, é moral, não cerimonial (ver com. do v. 15). Afeta a alma, não o corpo.

Maus desígnios. Jesus enumera 13 coi­sas diferentes que “contaminan” (comparar a lista dada aqui com a de Rm 1:29-31 e Cl 5:19-21).

Prostituição. Do gr. porneiai, um termo que inclui todas as formas de rela­ções sexuais ilícitas.

22. Avareza. Do gr. pleonexiai, signi­ficando “desejos gananciosos de ter mais”, portanto, “cobiça”, “avidez” ou “avareza”.O desejo de Ler mais e mais é uma obsessão entre pessoas desta natureza.

Malícias. Do gr. ponêriai, maldade em geral, também, mas especificamente, como provavelmente é o caso aqui, “malignidade”.

Lascívia. Ou, "licenciosidade".Inveja. Tradução grega de uma expres­

são idiomática hebraica (ver Dt 15:9), pro­vavelmente com o sentido de “cobiça”, que significa “ciumento” ou de “espírito ran­coroso".

Blasfêmia. Do gr. blasphêmia, que sig­nifica “irreverência” a Deus, mas “calúnia” quando dirigida contra os semelhantes, como aqui (sobre o uso desta palavra no sentido de "blasfêmia”, ver com. de Mt 12:31).

Loucura. Isto é, a qualidade da pessoa “sem juízo”. "Insensatez” seria outra possibi­lidade de tradução.

23. Estes males. Ver com. dos v. 2-4, 15, 19; sobre os traços positivos de caráter com os quais o cristão pode substituir esses traços negativos, ver GI 5:22 e 23; 2Pe 1:4-8; sobre o perigo de tentar remover os maus tra­ços sem cultivar os bons em seu lugar, ver com. de Mt 12:43-45.

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7:24 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

24. Levantando-se, partiu dali.[A mulher siro-fenícia, Mc 7:24-30 = Mt 15:21-28. Comentário principal: Mt].

26. Grega. Isto é, “uma gentílica”, não necessariamente uma pessoa grega por descendência ou nascimento (cf. Rm 1:16; DTN, 399).

31. De novo, Se retirou. [A cura de um surdo e gago, Mc 7:31-37. Ver mapa, p. 218; gráfico, p. 228; sobre milagres, p. 204-210]. A respeito da região à qual Marcos se refere, da qual Cristo, “Se retirou”, ver com. de Mt 15:21. Mateus não diz nada sobre a rota seguida por Jesus na viagem de regresso da Fenícia.

Terras. Literalmente, “fronteiras”; aqui, significa “território”.

Sidom. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a leitura “através de Sidom”, o que significa que, a partir da vizinhança de Tiro, Jesus foi mais longe em direção ao norte, antes de Se dirigir a leste e ao sul na dire­ção de Decápolis (cf. DTN, 404).

Mar da Galileia. Provavelmente pros­seguindo para o sul ao longo da costa orien­tal do lago.

Decápolis. Ver p. 34; ver com. de Mt 4:25.

32. Então, Lhe trouxeram. O homem afligido não deve ter ido por sua própria von­tade, uma vez que não tinha ouvido falar de Cristo. Pela fé de seus amigos ele fora conduzido a Jesus. Decápolis era a região em que Cristo curara os endemoniados de Gadara, que haviam cumprido fiel c zelo­samente sua comissão de contar aos vizi­nhos pagãos a respeito de Jesus (ver com. de Mc 5:19, 20). Possivelmente, como resul­tado do trabalho desses outrora endemonia­dos é que os amigos do surdo decidiram levá-lo a Cristo.

Surdo. Do gr. kõ-phos, literalmente, “insensível", “mouco”; usado aqui em refe­rência ao sentido da audição (ver com. de Lc 1:22).

Gago. Este homem não era absoluta­mente mudo, pois, quando curado, “falava desembaraçadamente” (v. 35). Isso sugere que antes de ser curado ele podia falar, embora não perfeitamente. Sua incapacidade de falar com nitidez pode ter resultado de sua surdez.

33. Tirando-o [...] à parte. Assim como fez, mais tarde, com o cego de Betsaida (ver Mc 8:22-26). Ambos os distritos eram basicamente povoados por pagãos (ver com. de Mt 4:25) e, por isso, parece provável que esse homem também fosse um gentio. Talvez Jesus tenha levado o surdo à parte pelo fato de o procedimento seguido na cura ser inco- mum, o que poderia ser mal compreendido pela multidão precipitada e interpretado como uma forma de mágica semelhante aos encantamentos de mágicos pagãos.

Pôs-lhe os dedos. Literalmente, “intro­duziu os dedos” nos ouvidos do homem. Tem-se sugerido que, por este gesto, Jesus procurou transmitir ao homem aflito a ideia de que Ele estava interessado em sua des­venturada condição. <

Tocou a língua. O homem não era apenas surdo, mas, por consequência, também gago (ver com. do v. 32). Assim, Cristo tocou ambos os órgãos que tinham necessidade de cura.

Saliva. A literatura antiga preserva exemplos do uso de saliva por médicos e curandeiros que acreditavam que isso era capaz de transmitir cura, de seus corpos para os de seus pacientes, como se possuísse pro­priedades curativas. Mas não há uma razão por que Jesus aqui escolheu curar dessa maneira incomum. Alguns acham que esse gesto tenha sido simplesmente uma conces­são à ignorância e ao embotamento da per­cepção do homem. Mas, independente de qual tenha sido o motivo, o procedimento seguido se assemelha ao da cura do cego de Betsaida (ver Mc 8:22-26).

34. Erguendo os olhos ao céu. Esta é a única ocasião de cura em que Jesus ergueu o olhar ao céu. Ele fizera isto na alimentação

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MARCOS 7:37

dos 5 mil, quando abençoou os pães e os pei­xes (ver Mc 6:41), na ressurreição de Lázaro (ver Jo 11:41) e no momento da oração inter- cessória por Seus discípulos (cf. jo 17:1). Aparentemente, na ocasião desta cura, o obje­tivo do gesto era dirigir os pensamentos do surdo a Deus e ao céu, a fim de tornar claro que a cura viria somente pelo poder divino.

Suspirou. Do gr. stenazõ, “suspirar” ou “gemer”. Isto não foi parte da comunicação com o homem afligido, mas uma expressão da reação do próprio Jesus como ser humano ao sofrimento e fraqueza das pessoas (ver com. dejo 1:14). Na surdez do homem, Ele viu uma imagem enternecedora da surdez dos cora­ções humanos à mensagem que Ele trans­mitia; e, na fraqueza daquela pessoa, Ele viu outras que levavam vidas sem sentido.

Efatá! Uma expressão aramaica preser­vada por Marcos (ver com. de Mc 5:41), sem dúvida, a própria palavra que Jesus usou na ocasião.

Abre-te. Referindo-se, naturalmente, aos ouvidos do homem e à restauração de sua audição. Marcos traduz a expressão ara­maica para benefício de seus leitores.

35. Empecilho. Do gr. desmos, “amarra" ou “atadura”. Isso não significa, necessa­riamente, um defeito no órgão da fala do homem, embora isso não seja descartado.

Desembaraçadamente. Do gr. orthõs, “continuamente”, “perfeitamente” ou “cor­retamente”. isto implica que o homem era

COMENTÁRIOS DE

11 - DTN, 397, 13-T7, 287 24-30-AA, 19

capaz de falar, mas de forma embaraçada, a ponto de ser compreendido apenas com dificuldade.

36. A ninguém o dissessem. Jesus ordenou isso muitas vezes àqueles a quem foram realizados milagres incomuns de cura (ver Mt 8:4; 9:30; 12:16; cf. 17:9; Mc 5:43; etc.; ver com. de Mc 1: 44). Nesta região predominantemente gentílica a razão para o silêncio pode ter sido o desejo de evitar despertar a espectativa popular de que o ministério do qual, até então, muito tinham ouvido, seria repetido ali de forma ampla. Os pagãos também não estavam preparados para compreender a verdadeira natureza da mensagem de Cristo. Mas, onde encontrou gentios que deram provas de grande fé, Jesus os honrou.

Quanto mais. O contraste entre o pedido de Jesus e a reação das pessoas mos­tra a profunda impressão causada pelos mila­gres. Certamente seria muito difícil para eles manter silêncio a respeito desses gran­des eventos testemunhados na história de Israel. Esses eventos evidenciavam a divin­dade de Cristo.

37. Tudo Ele tem feito esplendida- mente bem. Este foi o veredito dos pagãos que aprenderam algo sobre Jesus por inter­médio dos dois ex-endemoniados de Gadara (ver com. de Mc 5:20). Como as pessoas comuns da Galileia, os pagãos O “ouvia[mj com prazer” (ver com. de Mc 12:37).

ELLEN G. WHITE

408

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1-23 - DTN, 395-398 7-PJ, 110; PE, 124 9-12-DTN, 396

24-36 - DTN, 399-403 26-30-GC, 515 31-37 - DTN, 404

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Capítulo 8

I Cristo ali menta as pessoas milagrosa mente. 10 Ele Se recusa a dar um sinal aos fariseus, 14 admoesta Seus discípulos a tomar cuidado com o fermento dos

fariseus e de Herodes e 22 devolve a visão a um homem cego. 27 Ele confessa ser o Cristo que deveria sofrer e ressuscitar e 34 aconselha a

ter paciência frente à perseguição por professar o evangelho.

1 Naqueles dias, quando outra vez se reuniu grande multidão, e não tendo eles o que comer, chamou Jesus os discípulos e lhes disse:

2 Tenho compaixão desta gente, porque há três dias que permanecem comigo e não têm o que comer.

3 Se Eu os despedir para suas casas, em jejum, desfalecerão pelo caminho; e alguns deles vieram de longe.

4 Mas os Seus discípulos lhe responderam: Donde poderá alguém fartá-los de pão neste deserto?

5 E Jesus lhes perguntou: Quantos pães ten­des? Responderam eles: Sete.

6 Ordenou ao povo que se assentasse no chão. E, tomando os sete pães, partiu-os, após ter dado graças, e os deu a Seus discípulos, para que estes os distribuíssem, repartindo entre o povo.

7 Tinham também alguns peixinhos; e, aben­çoando-os, mandou que estes igualmente fossem distribuídos.

8 Comeram c se fartaram; c dos pedaços res­tantes recolheram sete cestos.

9 Eram cerca de quatro mil homens. Então, Jesus os despediu.

10 Logo a seguir, tendo embarcado junta­mente com Seus discípulos, partiu para as re­giões de Dalmanuta.

11 E, saindo os fariseus, puseram-se a dis­cutir com Ele; e, tentando-O, pediram-Lhe um sinal do céu.

12 Jesus, porém, arrancou do íntimo do Seu espírito um gemido e disse: Por que pede esta ge­ração um sinal? Em verdade vos digo que a esta geração não se lhe dará sinal algum.

13 E, deixando-os, tornou a embarcar e foi para o outro lado.

14 Ora, aconteceu que eles se esqueceram de levar pães e, no barco, não tinham consigo senão um só.

15 Preveniu-os Jesus, dizendo: Vede, guar­dai-vos do fermento dos fariseus e do fermen­to de Herodes.

16 E eles discorriam entre si: E que não temos pão.

17 Jesus, percebendo-o, lhes perguntou: Por que discorreis sobre o não terdes pão? Ainda não considerastes, nem compreendestes? Tendes o coração endurecido?

18 Tendo olhos, não vedes? E, tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais

19 de quando parti os cinco pães para os cinco mil, quantos cestos cheios de pedaços re­colhestes? Responderam eles: Doze!

20 E de quando parti os sete pães para os qua­tro mil, quantos cestos cheios de pedaços reco­lhestes? Responderam: Sete!

21 Ao que lhes disse Jesus: Não compreen­deis ainda?

22 Então, chegaram a Betsaida; e Lhe trouxe­ram um cego, rogando-Lhe que o tocasse.

23 Jesus, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia e, aplicando-lhe saliva aos olhos e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe: Vês alguma coisa?

24 Este, recobrando a vista, respondeu: Vejo os homens, porque como árvores os vejo, andando.

25 Então, novamente lhe pôs as mãos nos olhos, e ele, passando a ver claramente, ficou res­tabelecido; e tudo distinguia de modo perfeito.

26 E mandou-o Jesus embora para casa, re­comendando-lhe: Não entres na aldeia.

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MARCOS

27 Então, Jesus e os Seus discípulos parti­ram para as aldeias de Cesareia de Filipe; e, no caminho, perguntou-lhes: Quem dizem os ho­mens que sou Eu?

28 E responderam: João Batista; outros: Elias; mas outros: Algum dos profetas.

29 Então, lhes perguntou: Mas vós, quem di­zeis que Eu sou? Respondendo, Pedro Lhe disse: Tu és o Cristo.

30 Advertiu-os Jesus de que a ninguém dis­sessem tal coisa a Seu respeito.

31 Então, começou Ele a ensinar-Lhes que era necessário que o Filho do Homem sofres-

► se muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que, depois de três dias, ressus­citasse.

32 E isto Ele expunha claramente. Mas Pedro, chamando-O à parte, começou a reprová-Lo.

33 Jesus, porém, voltou-Se e, fitando os Seus discípulos, repreendeu a Pedro e disse: Arreda, Satanás! Porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens.

34 Então, convocando a multidão e junta- mente os Seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz c siga-Mc.

35 Quem quiser, pois, salvar a sua vida per­dê-la-á; e quem perder a vida por causa de Mim e do evangelho salvá-la-á.

36 Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?

37 Que daria um homem em troca de sua alma?38 Porque qualquer que, nesta geração adúl­

tera c pecadora, se envergonhar de Mim e das Minhas palavras, também o Filho do Homem Se envergonhará dele, quando vier na glória de Seu Pai com os santos anjos.

I. Naqueles dias. [A segunda multi­plicação de pães e peixes, Mc 8:1-10 - Mt 15:32-39. Comentário principal: Mt].

Outra vez. Evidências textuais favore­cem (cf. p. 136) a variante “de novo”. Isto sugere que aqui se faz referencia, indireta­mente, à alimentação dos 5 mil (ver com. de Mt 15:32).

II. Saindo os fariseus. [Os fariseus pedem um sinal do céu, Mc 8:11-13 = Mt 16:1-4. Comentário principal: Mt].

12. Suspirando profundamente (ARC). Um detalhe mencionado apenas por Marcos. Jesus estava decepcionado com a lentidão do povo para compreender a verdade espiritual (ver com. de Mt 16:9; Mc 7:34).

14. Um só. |ü fermento dos fariseus e o de Herodes, Me 8:14-21 = Mt 16:5- 12]. Outro detalhe mencionado apenas por Marcos.

15. Fermento de Herodes. Ou seja, a má influencia de Herodes, particular- mente seu mundanismo e caráter irresoluto

(ver com. de Mt 13:33; 16:6). A passagem paralela em Mateus 16:6 menciona os sadu- ceus em vez de Herodes. Uma vez que os saduceus procuravam o favor do poder domi­nante e eram apegados às coisas mundanas (ver p. 40), seus principais interesses esta­vam estreitamente identificados com os de Herodes, e eles transmitiam as diretrizes dele para a nação judaica. Portanto, como se laia a respeito da influência, as infor­mações usadas em Mateus e Marcos são intercambiáveis.

22. Então, chegaram. [A cura de um cego em Betsaida, Mc 8:22-26. Ver mapa, p. 218; e gráfico, p. 228; sobre os mila­gres, ver p. 204-210]. Jesus e os discípu­los tinham acabado de chegar de Magdala (ver com. de Mt 16:1, 5.) e, depois deste incidente, continuaram o caminho rumo a Cesareia de Filipe (ver Mc 8:27; ver com. de Mt 16:13). Para chegar a Betsaida (ver com. de Mt 11:21), mais uma vez, Jesus deixou a Galileia, pelos mesmos moti­vos que levaram a Sua retirada para a

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Fenícia algumas semanas antes (ver com. de Mt 15:21; 16:13). O milagre realizado nesta ocasião se assemelha em muitos aspectos ao operado em favor do surdo em Decápolis, não muito tempo antes (ver com. de Mc 7:31-37).

E Lhe trouxeram. Como também no caso do surdo de Decápolis (ver com. de Mc 7:32).

23. Levou-o para fora. Provavelmente havia pelo menos duas razões para isto: (1) evitar a publicidade (ver com. do v. 26) e (2) ajudar o cego a se concentrar e com­preender o que Cristo estava prestes a fazer por ele (cf. com. de Mc 5:37, 40; 7:33). Jesus parece ter realizado comparativamente pou­cos milagres durante Seu ministério público e, na maioria dos casos, Ele estava cercado por pessoas, em grande medida, pagãs.

Vês alguma coisa? Esta é a única oca­sião registrada em que Jesus fez esta pergunta que deve ter sido feita com o objetivo de for­talecer a fé do homem (ver com. do v. 24).

24. Os homens [...] como árvores. Este é o único caso registrado em que Jesus realizou a cura em duas etapas. Não há uma razão evidente para o uso deste método. No entanto, deve-se notar que, quando a visão foi parcialmente restaurada ao homem, sua fé aumentou e ele estava pronto a acredi­tar que Jesus poderia curá-lo completamente (ver com. do v. 23).

25. Novamente lhe pôs as mãos. Ver com. de Mc 7:33; 8:23.

Claramente. Do gr. têlaugõs, literal­mente, “muito brilhante”, isto é, “à distância e claramente”. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a leitura ddaugõs, “radiante” ou “em plena luz”.

► Tudo. Ou, “a todos” (ARC).26. Na aldeia. Ou seja, Betsaida (ver

com. do v. 22). Aparentemente, a casa do

homem não era nesta cidade, na qual Jesus lhe disse para não entrar. Essa restrição se destinava a impedir que a notícia do mila­gre se espalhasse e, assim, auxiliaria Jesus em Sua intenção de garantir a discrição (ver com. do v. 22).

27. Jesus e os Seus discípulos par­tiram. [A confissão de Pedro, Mc 8:27-30 = Mt 16:13-20 = Lc 9:18-21]. Comentário principal: Mt.

31. Começou Ele a ensinar-lhes. [Jesus prediz Sua morte e ressurreição, Mc 8:31-33 = Mt 16:21-23 = Lc 9:22], Ver com. de Mt 16:21.

32. Claramente. Isto é, “abertamente” ou “sem reservas”. Marcos não quis dizer que Jesus fez um anúncio público do ensi­namento que, naquele momento, apresentou aos discípulos, mas que discutiu o assunto com eles abertamente.

34. Multidão. [O discípulo de Jesus deve levar a sua cruz, Mc 8:34—9:1 = Mt 16:24-28 = Lc 9:23-27]. Devia haver outros com Jesus, além dos discípulos regu­lares, talvez judeus moradores da região que tinham ouvido falar dEle (ver com. de Mt 16:24).

35. Evangelho. Ver com. de Mc 1:1. Apenas Marcos relata este detalhe da histó­ria. Aqui, Jesus Se identifica com Sua men­sagem (ver Jo 6:51, 63).

38. Geração adúltera e pecadora. Ver com. de Mt 11:16; 12:39. Outro detalhe desta ocasião mencionado apenas por Marcos (ver com. do v. 35).

Qualquer que [...] se envergonhar. Ver com. de Mt 10:32; cf. Rm 1:16.

Na glória. Uma referência à segunda vinda de Cristo (ver com. de Mt 25:31), da qual o evento seguinte, a transfiguração, foi uma demonstração em miniatura (ver com. de Mt 16:28).

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MARCOS 9:1

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

36, 37-CG, 329; CS, 593; PJ, 267; CM, 74, 84;

1-21 - DTN, 405-409 12-DTN, 406, 407 18 -T5, 464 24 - Ev, 594; MS, 98;

Tl, 462 27-DTN, 418 27-38 - DTN, 410-418

31 - HR, 20534 - CS, 590; Ev, 90;

FEC, 511; T2, 178;T4, 521, 632;T8, 209

36 - AA, 366; PJ, 374; CM, 213, 217; T4, 46, 53

Ed, 145; Ev, 559;PR, 274; Tl, 706;T2, 59; T3, 250;T6, 78

38 - DTN, 422; T5, 588

Capítulo 92 Jesus é transfigurado. 11 Ele instrui os discípulos sobre a vinda de Elias, 14 expulsa

um espírito surdo-mudo, 30 prediz Sua morte e ressurreição, 33 exorta os discíptáos à humildade e 38 ordena-lhes a não proibir quem

não é contra eles nem ofender a qualquer dos fiéis.

1 Dizia-lhes ainda: Em verdade vos afirmo que, dos que aqui se encontram, alguns há que, de maneira nenhuma, passarão pela morte até que vejam ter chegado com poder o reino de Deus.

2 Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, Tiago e João e levou-os sós, à parte, a um alto monte. Foi transfigurado diante deles;

3 as Suas vestes tornaram-se resplandecen­tes e sobremodo brancas, como nenhum lavan- deiro na terra as poderia alvejar.

4 Apareceu-lhes Elias com Moisés, e esta­vam falando com Jesus.

5 Então, Pedro, tomando a palavra, disse: Mes­tre, bom é estarmos aqui e que façamos três tendas: uma será Tua, outra, para Moisés, e outra, para Elias.

6 Pois não sabia o que dizer, por estarem eles aterrados.

7 A seguir, veio uma nuvem que os envol- ► veu; e dela uma voz dizia: Este é o Meu Filho

amado; a Ele ouvi.8 E, de relance, olhando ao redor, a ninguém

mais viram com eles, senão Jesus.9 Ao descerem do monte, ordenou-lhes Jesus

que não divulgassem as coisas que tinham visto, até o dia em que o Filho do Homem ressuscitas­se dentre os mortos.

10 Eles guardaram a recomendação, pergun­tando uns aos outros que seria o ressuscitar den­tre os mortos.

11 E interrogaram-No, dizendo: Por que dizem os escribas ser necessário que Elias venha primeiro?

12 Então, Ele lhes disse: Elias, vindo primei­ro, restaurará todas as coisas; como, pois, está es­crito sobre o Filho do Homem que sofrerá muito e será aviltado?

13 Eu, porém, vos digo que Elias já veio, e fi­zeram com ele tudo o que quiseram, como a seu respeito está escrito.

14 Quando eles se aproximaram dos discípu­los, viram numerosa multidão ao redor e que os escribas discutiam com eles.

15 E logo toda a multidão, ao ver Jesus, to­mada de surpresa, correu para Ele e O saudava.

16 Então, Ele interpelou os escribas: Que é que discutíeis com eles?

17 E um, dentre a multidão, respondeu: Mestre, trouxe-Te o meu filho, possesso de um espírito mudo;

18 c este, onde quer que o apanha, lança-o por terra, e ele espuma, rilha os dentes c vai de­finhando. Roguei a Teus discípulos que o expe­lissem, e eles não puderam.

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Page 81: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

9:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENT!STA

19 Então, Jesus lhes disse: Ó geração incré­dula, ate quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-Mo.

20 E trouxeram-Lho; quando ele viu a Jesus, o espírito imediatamente o agitou com violência, e, caindo ele por terra, revolvia-se espumando.

21 Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde a inlân- cia, respondeu;

22 c muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar; mas, se Tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.

23 Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê.

24 E imediatamente o pai do menino excla­mou com lágrimas: Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé!

25 Vendo Jesus que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, Eu te ordeno: Sai deste jovem c nunca mais tornes a ele.

26 E ele, clamando c agitando-o muito, saiu, deixando-o como se estivesse morto, a ponto de muitos dizerem: Morreu.

27 Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu, e ele se levantou.

28 Quando entrou cm casa, os Seus discípu­los Lhe perguntaram em particular: Por que não pudemos nós expulsá-lo?

29 Respondeu-lhes: Esta casta não pode sair senão por meio de oração e jejum.

30 E, tendo partido dali, passavam pela Galileia, e não queria que ninguém o soubesse;

31 porque ensinava os Seus discípulos c lhes dizia: O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e O matarão; mas, três dias depois da Sua morte, ressuscitará.

32 Eles, contudo, não compreendiam isto e temiam interrogá-Lo.

33 Tendo eles partido para Cafarnaum, es­tando Ele em casa, interrogou os discípulos: De que é que discorríeis pelo caminho?

34 Mas eles guardaram silêncio; porque, peio caminho, haviam discutido entre si sobre quem era o maior.

35 E Ele, assentando-se, chamou os doze e lhes disse: Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos.

36 Trazendo uma criança, colocou-a no meio deles e, tomando-a nos braços, disse-lhes:

37 Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em Meu nome, a Mim Mc recebe; e qualquer que a Mim Me receber, não recebe a Mim, mas ao que Me enviou.

38 Disse-lhe João: Mestre, vimos um homem que, em Teu nome, expelia demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não se­guia conosco.

39 Mas Jesus respondeu: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em Meu nome e, logo a seguir, possa falar mal de Mim.

40 Pois quem não é contra nós é por nós.41 Porquanto, aquele que vos der de beber

um copo de água, em Meu nome, porque sois de Cristo, cm verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.

42 E quem fizer tropeçar a um destes peque­ninos crentes, melhor lhe fora que se lhe pendu­rasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado no mar.

43 E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o fogo inextinguível

44 onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.

45 E, se teu pé te faz tropeçar, corta-o; é me­lhor entrares na vida aleijado do que, tendo os dois pés, seres lançado no inferno

46 onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.

47 E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, ar­ranca-o; é melhor entrares no reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois seres lançado no inferno,

48 onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.

49 Porque cada um será salgado com fogo.50 Bom é o sal; mas, se o sal vier a tornar-se

insípido, como lhe restaurar o sabor? Tende sal em vós mesmos e paz uns com os outros.

Page 82: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

MARCOS 9:17

1. Alguns. Este primeiro versículo per­tence, mais propriamente, ao final do cap. 8 (cf. Mt 16:28; Lc 9:27).

2. Seis dias depois. [A transfigura­ção, Mc 9:2-13 = Mt 17:1-13 = Lc 9:28-36. Comentário principal: Mt].

3. Como a neve (ARC). Evidências tex­tuais favorecem (cf. p. 136) a omissão destas palavras, como o faz a ARA.

Alvejar. Ou, “branquear”.9. Ao descerem. [A vinda de Elias,

Mc 9:9-13 = Mt 17:9-13],10. Guardaram a recomendação.

Apesar de eles perderem muito do que pode­riam ter aprendido com aquela experiência, os discípulos ficaram impressionados com a declaração de Cristo de que ressuscitaria dos mortos. No entanto, eles não podiam com­preender a ideia de um Messias sofredor. Ainda estavam cegos pelo conceito popular do Messias como poderoso conquistador (ver com. de Lc 4:19).

Ressuscitar dentre os mortos. Os discípulos estavam confusos quanto à rela­ção que tal evento poderia ter com Aquele a quem eles consideravam ser o Messias.

12. Está escrito. Ver SI 22; Is 53; etc.; ver com. de Lc 24:26.

Filho do Homem. Jesus usa aqui a designação familiar pela qual Ele frequen­temente Se referia a Si mesmo (ver com. de Mt 1:1; Mc 2:10).

Aviltado. Ou, “tratado com escárnio”.14. Quando eles se aproximaram.

[A cura de um jovem possesso, Mc 9:14-29 = Mt 17:14-21 = Lc 9:37-43a. Comentário principal: Mc. Ver mapa, p. 218; gráfico, p. 228; sobre os milagres, ver p. 204-210]. No dia seguinte à transfiguração, Jesus e os três discípulos desceram do monte até a planície logo abaixo, onde os outros nove os aguardavam (ver Lc 9:37; cf. DTN, 426). Qualquer uma das duas “planícies” gali- leias mencionadas na Bíblia, a planície de Genesaré (ver com. de Lc 5:1) ou o vale

de Esdraclom, é considerada uma área pro­vável como adjacente ao monte da transfi­guração. Provavelmente esse monte, cujo nome não é mencionado, não ficava longe dc uma ou de outra dessas “planícies” (ver com. de Mt 17:1).

Escribas. Ver p. 43.Discutiam com eles. Ou seja, eles os

interrogavam, como o contexto deixa claro. A atitude dos escribas era hostil. Este detalhe é mencionado apenas por Marcos. Os escri­bas podem ter sido alguns dos que “vieram de Jerusalém” com o objetivo de desviar a atenção das pessoas de Jesus e apresentar um relatório sobre o que Ele dizia e fazia (ver com. de Mc 7:1; Mt 16:1). Como em outras ocasiões, eles atacavam Jesus por meio de Seus discípulos (ver Mc 2:16, 18, 24; 7:5). Nesta ocasião, eles procuravam expor Jesus e os discípulos como impostores, explo­rando o fato de que ali estava um demônio diante do qual os discípulos eram impoten­tes (cf. DTN, 427).

15. Tomada de surpresa. A razão da surpresa com a aproximação de Jesus, pos­sivelmente, seja melhor explicada como a reação da multidão diante dos traços de gló­ria que sem dúvida permaneceram na face « dos que testemunharam a transfiguração (cf. Êx 34:29-35; DTN, 427).

16. Ele interpelou os escribas. Os escribas podem ter ficado em silêncio ao Jesus Se aproximar. Sem dúvida, o clima tenso que prevalecia e que era derivado da própria presença dos escribas tornou evi­dente que eles estiveram ridicularizando os nove discípulos.

17. Um, dentre a multidão. Uma vez que eles foram silenciados e contrariados por Jesus quando se esforçaram por desacreditá- Lo anteriormente, os escribas se retiraram do debate (ver com. de Mc 2:19; 7:11-13; Mt 16:1-4; cf. DTN, 427). Isso deu ao pai do pobre rapaz endemoniado a oportunidade de apresentar seu pedido pessoalmente.

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9:18 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Trouxe-Te. Lucas 9:38 diz que o pai pediu a Jesus para “ver” seu filho. No grego, esta era uma expressão comum para um exame médico.

Um espírito mudo. Sobre a possessão demoníaca, ver Nota Adicional a Marcos 1.

18. Vai definhando. Do gr. xêrainõ, “secar” ou “debilitar”. Em Tiago 1:11, xêrainõ é usado para a grama seca. Talvez o pai, aqui, estivesse descrevendo a piora progressiva da condição física do rapaz, ou um estágio da doença em que o corpo do rapaz ficavaenrijecido.

Eles não puderam. A evidência textual apoia (cf. p. 136) o acréscimo das palavras “expulsá-lo” (comparar a experiência dos dis­cípulos com a de Ceazi, em 2Rs 4:31).

19. Incrédula. Isto é, “sem fé” ou "des­crente” (comparar com a avaliação de Deus sobre Israel no tempo de Moisés, ver Nm 14:27; Hb 3:17-19). Não é provável que Jesus Se referisse ao pai do menino possuído pelo demônio quando disse estas palavras, pois a fé do pai não era o único obstáculo no cami­nho da cura de seu filho. Uma vez que os pró­prios discípulos, principal mente, estavam em falta (ver com. de Mc 9:29), pode ser que o Salvador os tivesse em mente. Mas Ele não desejava censurá-los em público, por­tanto, não faria deles o objeto imediato de Suas observações. No entanto, se os discípulos esta­vam “descrentes”, quanto mais a multidão!

Até quando [...]? Estas palavras suge­rem que Jesus, aqui, fala como um ser divino, que, temporariamente, estava em meio à con­dição humana.

Sofrerei. Literalmente, “suportar” ou “tolerar”. Moisés teve a mesma experiência com Israel no deserto (ver Nm 20:10).

20. Revolvia-se. Ou, “rolava-se”. O rapaz estava em situação lamentável.

21. Perguntou Jesus ao pai do meni­no. Detalhe registrado apenas por Marcos.

Há quanto tempo [...]? Este é o único caso registrado em que Jesus fez uma

pergunta específica sobre os antecedentes de alguém que Ele curou. Suas razões para fazer isto não são claras. Possivelmente, E\e tenha recorrido ao pai para uma descrição da doença e seus efeitos, a fim de que os obser­vadores fossem pelo menos sensíveis à grave condição do menino (ver com. do v. 18). Pode ter sido por essa razão que Cristo permi­tiu que o espírito convulsionasse o menino quando saiu dele (ver com. do v. 26).

22. Para o matar. O caso era crônico e, por essa razão, do ponto de vista humano, era mais difícil de lidar. No texto grego, a expres­são “sofre muito” (ver Mt 17:15) era geral­mente usada para descrever doenças que a habilidade humana era incapaz de aliviar.

Se Tu podes alguma coisa. Ver com. de Mc 1:40.

Ajuda-nos. O pai faz do caso do filho o seu próprio (cf. Mt 15:22, 25).

24. Minha falta de fé. O pai não teria levado o filho se já não possuísse certa medida de fé (cf. com. de Jo 4:43-54).

25. Multidão. Este incidente provavel­mente ocorreu durante o período de encerra­mento do ministério público, durante o qual Jesus procurou Se desvencilhar da publici­dade e evitar despertar o entusiasmo ao qual Ele não pretendia satisfazer (ver com. de Mt 15:21). Jesus, portanto, passou a efe­tuar a cura sem demora.

Repreendeu o espírito imundo. O de­mônio tinha causado a limitação física do garoto. A consequência desapareceria com a causa (ver Lc 9:42).

26. Agitando-o muito. Isto é, “o con­vulsionou” ou “agitou-o intensamente”. Jesus pode ter permitido a manifestação linal do poder do demônio para que o contraste entre a condição lamentável do menino e < a condição de libertado ficasse ainda mais evidente.

Como se estivesse morto. O menino estava completamente exausto pela violência do espasmo que se manifestara nele.

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Page 84: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

MARCOS 9:31

27. Jesus, tomando-o. O demônio o tinha deixado e, então, o toque de Jesus restabeleceu a força do jovem (ver com. de Mc 5:27).

28. Em casa. Esta expressão em portu­guês indica que esta era uma casa particular que Cristo considerava como Sua, possivel­mente, a casa de Pedro, em Cafarnaum (ver com. de Mc 1:29; 2:1), um lar temporário para Jesus durante o restante de Sua estada na Galileia (cf. DTN, 432).

Por que não pudemos [...]? Os doze haviam expulsado demônios durante a ter­ceira viagem pela Galileia (ver Mc 6:13). Eles não entendiam por que o poder que Jesus lhes concedera tinha sido tirado deles.

29. Esta casta. Os escribas tinham atribuído o desamparo dos nove discípulos a um suposto poder superior daquele demô­nio, afirmando que a autoridade de Jesus estava limitada a demônios menos podero­sos (cf. DTN, 427). O verdadeiro problema, porém, não estava no poder do demônio, mas na impotência espiritual dos discípulos.

Senão por meio de oração. Cristo não se referia à oração feita em relação à expulsão de demônios. Ele não estava falando da ora­ção momentânea, mas de uma vida impulsio­nada pela oração. Durante a transfiguração, os nove discípulos haviam dado lugar a desâ­nimos e queixas pessoais, com espírito de ciúmes devido ao favor mostrado a seus com­panheiros ausentes (Pedro, Tiago e João; ver DTN, 431). A condição mental e espiritual deles tornou impossível que Deus operasse por seu intermédio.

E jejum. A evidência textual favorece a omissão (cf. p. 136) desta palavra, entre colchetes na ARA (ver com. de Mt 6:16; Mc 2:18).

30. E tendo partido dali. [De novo Jesus prediz a Sua morte e ressurreição, Mc 9:30-32 = Mt 17:22, 23 = Lc 9:43b-45. Comentário principal: Mc. Ver mapa, p. 218]. Ou seja, a partir da planície ao lado do monte

da transfiguração, onde Jesus curou o menino (ver com. do v. 14).

Passavam pela Galileia. Talvez por um caminho sinuoso que levava até Cafarnaum (ver com. de Mt 17:24). Esta jornada secreta pela Galileia, provavelmente, tenha tomado vários dias durante a última parte do verão de 30 d.C., cerca de sete ou oito meses antes da crucifixão.

Não queria. Se Jesus permanecesse por muito tempo numa localidade, a notícia logo se espalharia, e uma multidão se reuniria. Assim, a chegada dela interromperia a impor­tante instrução que Ele procurava transmitir aos discípulos. Por essa razão, Jesus pode ter passado de um lugar para outro na Galileia, provavelmente, evitando cidades e aldeias que tinham testemunhado Seus milagres meses antes. Contornando cidades e vilas, seria uma forma eficaz de evitar que as pes­soas soubessem de Seu paradeiro. Mesmo os discípulos não conseguiriam aproveitar inte­gralmente a instrução que Ele tinha para eles e, se o círculo de fiéis estivesse necessitado de percepção espiritual, as pessoas comuns não se beneficiariam com o que Cristo tinha para dizer naquele momento.

31. Ensinava. Literalmente, “Ele estava ensinando”, isto é, Ele continuou a ensi­nar. Esta é a segunda, de pelo menos três ocasiões específicas, em que Jesus falou aos discípulos claramente acerca dos sofri­mentos e da morte iminentes (cf. com. de Mt 16:21; 20:17-19). Não havia dúvida sobre outras ocasiões, quando Jesus lhes dera instrução semelhante, conforme indi­cado em Mateus 16:21. A intenção de estar a sós com os discípulos, a fim de transmitir essas mensagens, aparentemente explica o sigilo com que Jesus então andava para lá e para cá na Galileia (ver com. de Mc 9:30; cf. DTN, 432).

Filho do Homem. Ver com. de Mt 1:1; Mc 2:10.

Três dias depois. Ver com. p. 246-248.

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9:32 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

32. Eles [...] não compreendiam.Apesar de tudo que Jesus tinha dito, em lin­guagem simples (ver com. do v. 31), os dis­cípulos ainda não compreendiam (ver com. de Le 9:45). A principal razão pela qual não conseguiam entender é que eles não queriam aceitar ser necessário que o Messias sofresse e morresse (ver com. de Mt 16:22, 23). Essa ideia era um desafio às suas opiniões precon­cebidas sobre o Messias (ver com. de Lc 4:19). Eles esperavam que, afinal, Cristo reinaria como um príncipe temporal e não estavam dispostos a abandonar as expectativas entu-

► siástieas da honra que eles esperavam com­partilhar com Ele quando o tempo chegasse (cf. DTN, 415, 417; ver com. de Lc 4:19).

Temiam interrogá-Lo. Cientes de que compartilhavam do ponto de vista havia pouco apresentado por Pedro e de que, se falassem naquele momento, seria apenas para expressar os mesmos pensamentos (ver com. de Mt 16:22, 23), permaneceram em silêncio. De acordo com Mateus 17:23, eles estavam “muito tristes” (NTLH), isto é, “muito angustiados”.

33. Partido para Cafarnaum. [O maior no reino dos céus, Mc 9:33-37 = Mt 18:1-5 = Lc 9:46-48. Comentário principal: Mt e Mc. Ver mapa, p. 218; e gráfico, p. 228]. Sobre as circunstâncias cm que este regresso a Cafarnaum ocorreu e para uma compara­ção entre os relatos de Marcos e de Mateus sobre o discurso, ver com. de Mateus 18:1.

34. Eles guardaram silêncio. Literal­mente, “eles permaneceram em silêncio”, ou “eles continuaram em silêncio”. Persistente- mente eles se recusavam a responder à per­gunta de Jesus (v. 33).

Discutido. Do gr. dialegomai, “debater” ou “disputar”.

35. Quer ser o primeiro. Aqui, Jesus chega ao centro do problema, cada um dos doze desejava ser o “primeiro” no reino. Todos esperavam prontamente que o Senhor assumisse o poder (ver com. de Mt 18:1).

Esqueceram-se de que a verdadeira gran­deza consiste na renúncia ao poder como um objetivo de vida. No momento em que uma pessoa se propõe a ser grande, dá provas de pequenez espiritual (comparar com Mt 23:8- 12; Mc 10:43, 44; Lc 22:24-26).

Servo. Do gr. diakonos, do qual se ori­gina a palavra portuguesa “diácono” (ver Fp 1:1; lTm 3:8, 12). Um diakonos é aquele que atende às necessidades dos outros e pode ser um “escravo" ou uma pessoa livre, embora a palavra implique serviço pres­tado voluntariamente. Outra palavra grega comumente traduzida como “servo”, doidos, significa um “escravo”, no sentido comum da palavra. No NT, diakonos é comumente usado para um “ministro” do evangelho (ver ICo 3:5; Ef 3:7; iTs 3:2). O reino dos céus é essencial mente uma questão de se pres­tar serviço a Deus e aos semelhantes, não de receber isso deles. O verdadeiro amor consiste em dar amor e não em exigi-lo (ver com. de Mt 5:43). O maior é aquele que ama mais a Deus c aos semelhantes e que melhor os serve.

37. Não recebe a Mim. Ver com. de Jo 12:44, 45.

38. Disse-Lhe João. [Jesus ensina a tolerância e caridade, Mc 9:38-41 = Lc 9:49, 50]. Não no sentido de “responder” (ARC) a uma pergunta específica de Jesus, mas de comentar observações anteriores. Essas observações levaram João a conside­rar como inapropriada a repreensão que ele e seu irmão Tiago tinham dirigido a alguém que agia em nome de Jesus (cf. DTN, 437).

Vimos um. O fato de o incidente aqui referido envolver apenas João e Tiago sugere a possibilidade de que tenha ocorrido durante a terceira viagem pela Galilcia, quando os dois irmãos haviam saído juntos (ver com. de Mt 10:05; Mc 3:14).

O qual não nos segue. Não se tratava de um dos discípulos regulares, reconheci­dos por Jesus.

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MARCOS 9:48

E nós lho proibimos. Ou, “nós o impe­dimos”. Tiago e João tomaram semelhante atitude de intolerância em outra ocasião, pouco depois disto (ver com. de Lc 9:54). Na ocasião aqui relatada, eles justifica­ram sua conduta com base na preocupação deles com a honra de seu Mestre; na reali­dade, a preocupação com sua própria honra havia motivado a ação (ver DTN, 437). Eles repreenderam o homem por fazer o que eles julgavam ter o direito exclusivo de fazer (ver com. de Mt 10:8). Mas, apesar de Tiago e João serem discípulos e terem as “chaves” do reino em suas mãos (ver com. de Mt 16:19; 18:18), eles não tinham direito à soberania sobre os outros. A comissão dada a eles era positiva em vez de negativa. Eles eram zelo­sos no cumprimento das ordens que lhes foram dadas, mas não tinham o direito de dar ordens aos outros. E a maldade que leva líderes religiosos a pensar que é seu dever coagir outros ao padrão de conduta e crença que eles entendem como o correto.

39. Não lho proibais, isto é, deixem de impedi-lo. Não temos o direito de for­çar as pessoas a estar de acordo com as nossas ideias e opiniões, ou a seguir os nos­sos métodos de trabalho (ver DTN, 438; cf. Nm 11:27-29).

Milagre. Do gr. dynamis (ver p. 204, 205).Em Meu nome. Pedro (ver At 3:6-8),

Paulo (ver At 16:16-18) e, provavelmente, todos os outros discípulos, quando realiza­vam milagres, o faziam em “nome” de Jesus.

Logo a seguir. Do gr. tachu, “logo”, “rapi­damente”, “imediatamente” ou “sem demora”. Ao realizar algo em nome de Jesus, a pessoa reconhece Seu poder e autoridade. Aquele que fez um milagre em nome de Cristo não contestaria, imediatamente, o próprio poder do qual dependeu para o desempenho do milagre.

40. Não é contra nós. 1 lá uma decla­ração oposta à mesma verdade em Mateus (ver com. de Mc 12:30). As duas não são

excludentes, mas complementares. Obvia­mente, uma pessoa não pode estar a favor e contra Jesus ao mesmo tempo. Se o homem que Tiago e João repreenderam fora encon­trado fazendo o mesmo trabalho que Jesus fazia, e realizava isso em nome de Jesus, era por que Deus trabalhava com e por meio dele.

Por nós. Isto é, ao nosso lado.41. Um copo. Ver com. de Mt 10:42.Porque sois. Ver com. de Mt 5:11; 10:18,

42. O caráter da ação é determinado pelo motivo que a determina.

Em verdade. Do gr. amên (ver com. de Mt 5:18).

De modo algum perderá o seu galar­dão. Ver com. de Mt 5:12; 19:29.

42. Quem fizer tropeçar. [Os trope­ços, Mc 9:42-48 = Mt 18:6-9 = Lc 17:1, 2], Ver com. de Mt 18:6.

43. Se a tua mão te faz tropeçar. Ver com. de Mt 5:29, 30; 18:8.

Inextinguível. Ver com. de ls 66:24; Mt 3:12. “O fogo inextinguível” é equiva­lente ao “fogo eterno”, na passagem paralela em Mateus (Mt 18:8; ver com. de Mc 5:22).

44. Não lhes morre o verme. A evi­dencia textual apoia (cf. p. 136) a omissão dos v. 44 e 46, como tendo sido inseridos em repetição ao v. 48 (ver com. ali).

45. Se o teu pé te faz tropeçar. Ver com. de Mt 5:29, 30; 18:8.

46. Não lhes morre o verme. Ver com. dos v. 44, 48.

47. Se um dos teus olhos te faz tro­peçar. Ver com. de Mt 5:29, 30; 18:8, 9.

Reino de Deus. Ver com. de Mt 3:2; 4:17; 5:3; Lc 4:19.

48. Verme. Do gr. skõlêx, “larva” ou “verme”. A ilustração de “o verme não mor­rer não é indicação de uma alma que não pode ser aniquilada, mas é símbolo da cor­rupção que não pode ser removida” (H. D. A. Major, T. W. Manson, e C. J. Wright, The Mission and the Message of Jesus, p. 123).

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Page 87: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

9:49 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

No v. 43, “vida” é mostrada em contraste com “o fogo que nunca se apaga”. Em muitas pas­sagens das Escrituras, “vida eterna” se con­trasta com a “morte” (ver Rm 6:23). Em João 3:16, o contraste é entre “vida eterna” e “pere­cer”. É óbvio que Jesus pretendia, aqui, o mesmo contraste. “O fogo nunca se apaga (ARC) está em paralelo a “seu verme não morre” (NVI), sendo uma expressão equiva­lente. Contudo, parece incoerente que as lar­vas continuassem seu trabalho na presença do fogo. Mas não há nada na palavra skõlêx, “verme”, que, mesmo remotamente, justi­fique a explicação que compara o “verme” à “alma” (ver com. de Is 66:24), abordagem defendida por muitos comentaristas, ao refle­tir sua própria compreensão sobre o estado da morte.

49. Salgado com fogo. [Os discípu­los, o sal da terra, Mc 9:49, 50 = Mt 5:13 = Lc 14:34, 35]. O sal é agente de preserva­ção (ver com. de Mt 5:13). O fogo pode ser considerado como agente purificador ou como símbolo do juízo final (ver com. de Mt 3:10). O significado desta misteriosa declaração não está claro e depende do

contexto imediato para ser explicado satis­fatoriamente. Ser “salgado com logo”, prová­vel mente, signifique que “cada um” passará pelo fogo da aflição e da purificação nesta vida (ver com. de Jó 23:10) ou pelo fogo do último dia. O fogo removerá as impurezas da vida presente ou destruirá a própria vida no último dia. O sal preservará o que é bom (ver com. de Mc 9:50).

Cada sacrifício (ARC). No ritual do antigo santuário, o sal era adicionado a todos os sacrifícios (ver com. de Lv 2:13). Seu uso significava que somente a justiça de Cristo pode tornar a oferta aceitável a Deus (cf. DTN, 439).

50. Bom é o sal. Ver com. de Mt 5:13.Tende sal em vós mesmos. Se os dis­

cípulos tivessem o “sal da aliança” (Lv 2:13), este reprimiria as tendências impróprias que os levaram à discutir sobre quem seria o maior no reino dos Céus.

Paz. Um clímax apropriado para o dis­curso, uma admoestação para reprimir outro argumento sobre o assunto e uma advertência contra a inveja e o espírito de rivalidade.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1- 9 - PE, 162-1642- 8 - DTN, 419-4253- AA, 33; DTN, 739 5 - DTN, 4227 - HR, 207 9-29 - DTN, 426-43114-16 - DTN, 427 17-27-DTN, 428;

GC, 515 22, 23 - DTN, 429

23 -OP, 108; FEC, 341; CBV, 65; MCI I, 9; PR, 157; T2, 140

24-TM, 51829- T1, 34430, 31 - DTN, 43230- 50 - DTN, 432-442 33 - DTN, 43434, 35 - San, 55; T4, 226 35 - DTN, 435

36- 40 - San, 56 37 - MCH, 20237- 39 - DTN, 43738- CES, 8539- AA, 54340- CES, 85 42-T5, 244, 48342- 45 - DTN, 43843- 45 -A A, 312 49, 50 - DTN, 439

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Page 88: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

MARCOS 10:1

Capítulo 102 Cristo debate com os fariseus acerca do divórcio, 13 abençoa crianças que são

levadas a Ele e 17 diz a um rico como herdar a vida eterna. 23 Ele adverte os discípulos sobre o perigo das riquezas, 28 promete recompensas àqueles

que abandonam qualquer coisa em favor do evangelho e 32 prediz Sua morte e ressurreição. 35 Admoesta os dois discípulos ambiciosos

a pensar, primeiramente, em sofrer com Ele e 46 restaura a visão a Bartimeu.

1 Levantando-se Jesus, foi dali para o territó­rio da Judeia, além do Jordão. E outra vez as mul­tidões se reuniram junto a Ele, e, de novo, Ele as ensinava, segundo o Seu costume.

2 E, aproximando-se alguns fariseus, O ex­perimentaram, perguntando-Lhe: E lícito ao ma­rido repudiar sua mulher?

3 Ele lhes respondeu: Que vos ordenou Moisés?

4 Tornaram eles: Moisés permitiu lavrar carta de divórcio e repudiar.

5 Mas Jesus lhes disse: Por causa da dure­za do vosso coração, ele vos deixou escrito esse mandamento;

6 porém, desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher.

7 Por isso, deixará o homem a seu pai e mãe e unir-se-á a sua mulher,

8 e, com sua mulher, serão os dois uma só carne. De modo que já não são dois, mas uma só carne.

9 Portanto, o que Deus ajuntou não sepa­re o homem.

10 Em casa, voltaram os discípulos a interro- gá-Lo sobre este assunto.

11 E Ele lhes disse: Quem repudiar sua mu­lher e casar com outra comete adultério contra aquela.

12 E, se ela repudiar seu marido e casar com outro, comete adultério.

13 Então, lhe trouxeram algumas crian­ças para que as tocasse, mas os discípulos os repreendiam.

14 Jesus, porém, vendo isto, indignou-Se e disse-lhes: Deixai vira Mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus.

15 Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele.

16 Então, tomando-as nos braços e impondo- lhes as mãos, as abençoava.

17 E, pondo-Se Jesus a caminho, correu um homem ao Seu encontro e, ajoelhando-se, per- guntou-Lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

18 Respondeu-lhe Jesus: Por que Me cha­mas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus.

19 Sabes os mandamentos: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso teste­munho, não defraudarás ninguém, honra a teu pai e tua mãe.

20 Então, ele respondeu: Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude.

21 E Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só uma « coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, veme segue-Me.

22 Ele, porém, contrariado com esta pala­vra, retirou-se triste, porque era dono de mui­tas propriedades.

23 Então, Jesus, olhando ao redor, disse aos Seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!

24 Os discípulos estranharam estas palavras; mas Jesus insistiu em dizer-lhes: Filhos, quão di­fícil é para os que confiam nas riquezas entrar no reino de Deus!

25 E mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.

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Page 89: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

10:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

26 Eles ficaram sobremodo maravilhados, dizendo entre si: Então, quem pode ser salvo?

27 Jesus, porém, fitando neles o olhar, disse: Para os homens é impossível; contudo, não para Deus, porque para Deus tudo é possível.

28 Então, Pedro começou a dizer-Lhe: Eis que nós tudo deixamos e Te seguimos.

29 Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de Mim e por amor do evangelho,

30 que não receba, já no presente, o cêntu­plo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e cam­pos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna.

31 Porém muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros.

32 Estavam de caminho, subindo para Jerusalém, e Jesus ia adiante dos Seus discípu­los. Estes se admiravam c O seguiam tomados de apreensões. E Jesus, tornando a levar à parte os doze, passou a revelar-lhes as coisas que Lhe deviam sobrevir, dizendo:

33 Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos principais sacerdo­tes c aos escribas; condená-Lo-ão à morte e O entregarão aos gentios;

34 hão de escarnecê-Lo, cuspir nEle, açoi- tá-Lo e matá-Lo; mas, depois de três dias, ressuscitará.

35 Então, se aproximaram dele Tiago e João, filhos de Zcbcdcu, dizcndo-Lhc: Mestre, que­remos que nos concedas o que Te vamos pedir.

36 E Ele lhes perguntou: Que quereis que vos faça?

37 Responderam-Lhe: Permite-nos que, na Tua glória, nos assentemos um à Tua direita e o outro à Tua esquerda.

38 Mas Jesus lhes disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que Eu bebo ou receber o batismo com que Eu sou batizado?

39 Disseram-lhe: Podemos. Tornou-lhes Jesus: Bebereis o cálice que Eu bebo e recebe­reis o batismo com que Eu sou batizado;

40 quanto, porém, ao assentar-se à Minha direita ou à Minha esquerda, não Me compete concedê-lo; porque é para aqueles a quem está preparado.

41 Ouvindo isto, indignaram-se os dez con­tra Tiago e João.

42 Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade.

43 Mas entre vós não é assim; pelo contrá­rio, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva;

44 e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos.

45 Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida cm resgate por muitos.

46 E foram para Jericó. Quando Ele saía de Jerico, juntamente com os discípulos e numero­sa multidão, Bartimeu, cego mendigo, filho de Ti meu, estava assentado à beira do caminho

47 e, ouvindo que era Jesus, o Nazareno, pôs-se a clamar: Jesus, Filho de Davi, tem com­paixão de mim!

48 E muitos o repreendiam, para que se ca­lasse; mas ele cada vez gritava mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!

49 Parou Jesus e disse: Chamai-o. Chamaram, então, o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; le­vanta-te, Ele te chama.

50 Lançando de si a capa, levantou-se de um salto e foi ter com Jesus.

51 Perguntou-lhe Jesus: Que queres que Eu te faça? Respondeu o cego: Mestre, que eu torne a ver.

52 Então, Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te sal­vou. E imediatamente tornou a ver e seguia a Jesus estrada fora.

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MARCOS 10:34

1. Foi dali. [Jesus atravessa o Jordão, Mc 10:1 = Mt 19:1, 2 = Lc 9:51-56. Comen­tário principal: Mt e Lc]. Isto é, partindo dc Cafarnaum (ver com. de Mc 9:33).

Além do Jordão. Ou seja, Pereia (ver com. de Mt 19:1).

Segundo o Seu costume. Ele estava acostumado a fazer isso durante Seu minis­tério na Galileia.

2. Fariseus. [A questão do divórcio, Mc 10:2-12 = Mt 19:3-12 = Lc 16:18. Comen­tário principal: Mt].

12. Se ela repudiar seu marido. A lei mosaica não fazia nenhuma provisão para uma mulher se divorciar do marido. A antiga literatura judaica, no entanto, revela que algu­mas mulheres judias fizeram isso. Na socie­dade romana, esse procedimento era comum.

13. Crianças. [Jesus abençoa as crian­ças, Mc 10:13-16 = Mt 19:13-15 = Lc 18:15- 17. Comentário principal: Mt].

14. Indignou-Se. Do gr. aganakteõ, “muito indignado”.

15. Em verdade. Ver com. de Mt 5:18.Receber o reino. Ver com. de Mt 18:3.

Jesus apresenta uma criança como modelo para os adultos. A confiança e a amorosa obediência de uma criança representam tra­ços de caráter de grande valor no reino dos Céus. Jesus chama de “pequenas” as crian­ças que ainda não aprenderam do exemplo negativo dos adultos os pecados da dúvida e da desobediência.

16. Tomando-as nos braços. Ele cha­mou as crianças para junto de Si, como uma repreensão silenciosa aos discípulos que ten­tavam mantê-las longe dEle. Este gesto cari­nhoso revela o cálido interesse pessoal que Jesus sentia pelos pequeninos (Mt 18:2; Lc 9:47).

17. Correu um homem. [O jovem rico, Mc 10:17-22 = Mt 19:16-22 = Lc 18:18-23. Comentário principal: Mt].

19. Não defraudarás. Apenas Marcos menciona isto.

21. Toma a tua cruz (ACF). Evidência textual favorece a omissão desta frase (cf. p. 136), como o faz a ARA.

23. Olhando ao redor. [O perigo das riquezas, Mc 10:23-31 = Mt 19:23-30 = Lc 18:24-30. Comentário principal: Mt]. Um quadro vívido descrito por Marcos. Jesus deve Ler olhado para os discípulos um após o outro para ver como reagiram à decisão do jovem rico.

26. Dizendo entre si. A evidência tex­tual se divide (cf. p. 136) entre esta variante e “dizendo a Ele”.

29. Mulher (ARC). Evidências tex­tuais favorecem a omissão desta palavra (cf. p. 136), como na ARA.

32. Subindo para Jerusalém. [Jesus ainda outra vez prediz Sua morte e ressurrei­ção, Mc 10:32-34 = Mt 20:17-19 = Lc 18:31- 34. Comentário principal: Mt].

Ia adiante dos Seus discípulos. A solenidade desta aproximação final de Jerusalém se refletiu na atitude dc Jesus. Contrariamente ao Seu costume, Ele cami­nhou deliberadamente adiante dos discípu­los, porque certamente queria estar sozinho.

Estes se admiravam. O comporta­mento de Jesus surpreendeu os discípu­los e encheu dc ansiedade o coração deles (cf. DTN, 547).

Tornando a levar à parte os doze. Os doze sabiam dos planos em andamento para tirar a vida do Mestre (ver com. de Lc 13:31; cf. Jo 11:7, 8), mas não acredita­vam que, por fim, esses esforços teriam êxito (ver Lc 18:34). Mateus e Marcos têm pouco a dizer sobre o fato de os doze não captarem a importância da explicação de Jesus, porém, cm vez disso, registram um incidente que mostra quão pouco entendiam do assunto (Mt 20:20-28; Mc 10:35-45).

34. Depois de três dias. Importante evidência textual (cf. p. 136) favorece esta variante (ver p. 246-248). As versões ARC e ACF dizem “ao terceiro dia”.

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10:35 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

35. Tiago e João. [O pedido de Tiago e João, Me 10:35-45 = Mt 20:20-28. Comentário principal: Mt].

43. Será esse o que vos sirva. Do gr.diakonos (ver com. de Mc 9:35).

44. Servo. Do gr. doulos (ver com. de Mc 9:35).

46. E foram para Jericó. [A cura do cego de Jericó, Mc 10:46-52 = Mt 20:29-34 =

► Lc 18:35-43. Comentário principal: Mc. Ver mapa, p. 220; e gráfico, p. 228; sobre os mila­gres, ver p. 204-210]. Eles chegaram a Jericó, uma das últimas etapas da viagem da Pereia a Jerusalém, a fim de assistir à Páscoa (ver com. de Mt 20:17; 21:1). Alguns incidentes ocorreram ao longo do caminho imediata­mente antes da chegada a Jericó (ver com. de Mt 20:17-28).

Um dos importantes vaus para cruzar o rio Jordão está a 9,5 km a leste de jericó. A cidade propriamente está localizada na borda ocidental do vale do Jordão, perto das colinas, no sopé das montanhas que se elevam a oeste (ver com. de Lc 10:30). A cidade de Jericó do NT estava situada mais ou menos 1,6 km ao sul das ruínas da cidade de Jericó do AT. Herodes, o Grande, havia embelezado a cidade e tinha um palácio de inverno lá. Jericó ficou conhe­cida por suas fontes termais, para onde Herodes, o Grande, se dirigiu na espe­rança de obter cura durante o período de sua enfermidade fatal. Embora esta seja a única visita de Jesus a Jericó registrada, há razões suficientes para se supor que o Mestre havia visitado a cidade em via­gens anteriores a Jerusalém para assis­tir às festas e, provavelmente, passou por ela quando saiu da Pereia, para ressusci­tar Lázaro.

Quando Ele saía de Jericó. Mateus (20:29) e Marcos concordam que este epi­sódio ocorreu quando Jesus e os doze esta­vam saindo da cidade, enquanto Lucas diz que eles estavam se aproximando de

Jericó (Lc 18:35). Várias opiniões têm sido dadas na tentativa de harmonizar essa apa­rente discrepância.

Alguns têm dito que o significado comum das palavras gregas traduzidas como “ao aproximar-se” (Lc 18:35) seria “aproximar-se” ou “se aproximar de”, mas que seria possível que Lucas quisesse dizer que Jesus estava nas proximidades de Jericó no momento do evento. E também possível Jesus ter encon­trado os mendigos na estrada entre a nova e a antiga Jericó, situada 1,6 km ao norte, a caminho de Jerusalém. No entanto, há pelo menos duas dificuldades principais com esta explicação. Primeiramente, a antiga cidade de Jericó estava em ruínas nesta ocasião, e não é provável que Lucas chamaria de “Jericó” a um monte de ruínas nem que igno­raria a cidade existente com esse nome tão perto dali. Além disso, o caminho da cidade de jericó do NT a Jerusalém não passava pela Jericó do AT, mas sim pelas colinas ao pé das montanhas a oeste, de onde seguia pelo Wadi Qelt até as montanhas (ver com. de Lc 10:30).

Talvez a explicação mais provável seja que Lucas registrou o evento a respeito de Zaqueu imediatamente depois de nar­rar a cura de Bartimeu (cf. Lc 18:35-19:10). Aparentemente, Zaqueu e Bartimeu viviam em Jericó, e Jesus encontrou um deles não muito tempo depois do outro. De acordo com a ordem da narrativa de Lucas, Jesus esteve como convidado na casa do cobra­dor de impostos, depois de curar os cegos. Muito provavelmente, devido à dificuldade de Zaqueu de enxergar a Jesus nas ruas da cidade, ele se viu obrigado a correr à frente da multidão a fim de encontrar uma árvore adequada para subir, talvez nos arredores da cidade (ver com. de Lc 19:4), onde aguardou a chegada de Jesus. De acordo com Lucas 19:1, “atravessava Jesus a cidade” antes de Se encontrar com Zaqueu. Quando Se encon­trou com ele, Jesus regressou com Zaqueu

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MARCOS 10:52

para passar o resto do dia em sua casa, e pode muito bem ter ocorrido que os cegos conseguiram chamar a atenção de Jesus em Seu caminho de volta para a cidade. Nessas circunstâncias, Lucas teria razão em dizer que Jesus estava entrando na cidade, e Mateus e Marcos também estariam corretos em afirmar que ele estava saindo.

Numerosa multidão. Poucos dias antes da Páscoa, havia uma multidão nas estradas que conduziam a Jerusalém.

Bartimeu. O nome vem do aramaico Bar-Timai, que Marcos traduz para seus leitores. Mateus fala de dois cegos (ver Mt 20:30). A razão pela qual Marcos men­ciona apenas um deles pode ser que algum fato relativo a um dos cegos o impressionou, sendo de interesse especial para seus leitores (ver com. de Mc 5:2). Possivelmente, mais tarde, Bartimeu tenha se convertido em um dos mais conhecidos seguidores de Jesus (ver Nota Adicional 2 a Mateus 3).

Caminho. Do gr. hodos, “estrada” (ver com. de Mc 11:4). É provável que os mendi­gos estivessem assentados fora do portão da cidade, onde esperavam despertar a compai­xão dos transeuntes.

47. Ouvindo que era Jesus. Multidões passavam constantemente ao longo da estrada para Jerusalém. Os mendigos, sem

► dúvida, ouviram dizer que Jesus estava nesse grupo particular.

Filho de Davi. O uso deste título estri­tamente messiânico implica algum grau de reconhecimento de Jesus como o Messias prometido (ver com. de Mt 1:1; 9:27).

Tem compaixão. Comparar com Mt 9:27; 15:22.

48. E muitos o repreendiam. Ou, “o re­provavam”. Provavelmente, eles procuravam

evitar algum incidente público, que as auto­ridades judaicas ou romanas poderiam apro­veitar como pretexto para prender o Mestre (ver com. de Mt 19:1, 3; 20:18).

Para que se calasse. Literalmente, “ficasse quieto”.

Gritava mais. Bartimeu compreendeu que aquela poderia ser sua única oportuni­dade de ser curado por Jesus. Sua persistên­cia era um testemunho de sua fé no poder de Jesus.

50. Capa. Do gr. himation, "manto”, isto é, uma vestimenta externa (ver com. de Mt 5:40).

Levantou-se. A evidência textual favo­rece a leitura “saltou” (cf. p. 136).

51. Que queres que Eu te faça? Eraóbvio que o cego procurava recobrar a visão. No entanto, como era Seu costume, Jesus desejava que o suplicante apresentasse um pedido específico, como reconhecimento de sua necessidade e como demonstração de fé. Não foi somente a Bartimeu que Jesus fez esta pergunta. Ele queria que todos os que testemunhavam o evento entendes­sem o significado do milagre (ver com. de Mc 5:32, 34).

Que eu torne a ver. Literalmente, “recuperar a minha visão”. O texto grego deixa claro que Bartimeu não nasceu cego, mas que se tornou um.

52. A tua fé. Ver com. de Mc 5:34; Lc 7:50.

Seguia a Jesus. Era natural que os que haviam sido curados por Jesus desejassem permanecer com Ele. O mesmo pedido foi feito pelos endemoniados gadarenos (ver com. de Mc 5:18-20). Pode ser que Jesus estivesse a caminho da casa de Zaqueu (ver com. de Mc 10:46) ou de Jerusalém.

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1 - DTN, 48813- 16-AA 273; DTN, 511-

517; CBV, 41; T3, 42214- LA, 274, 275; OC, 253;

CPPE, 118; DTN, 512, 517; Ev 349; EEC, 161; OE, 207; CBV, 42

15, 16 -T4, 141; T5, 421 16-OE, 188; CBV, 41;

MS, 19

17, 18 -DTN, 518 17-22-DTN, 518-523 17-31 - PJ, 390-39620, 21 -T2, 67921 - DTN, 519; T4, 50521, 23-PJ, 393 23 - T4, 46824, 26 - DTN, 555 24-27 - PJ, 394 28-30-T2, 495

29, 30-PJ, 395; Tl, 510 30-T5, 42 32 - DTN, 547 32-45 - DTN, 547-551 36 - DTN, 548 38, 39 - HR, 407 38-45 -San, 57 44-PE, 102 45 - MCH, 225 51 - Ev, 553; PR, 435

Capítulo 11I Cristo entra triunfante em Jerusalém. 12 Ele amaldiçoa a figueira infrutífera,

15 -purifica o templo e 20 exorta os discípulos a crer, orar com fé e a perdoar aos inimigos. 27 Ele defende a legalidade de Seus atos por meio do

testemunho de João, um enviado por Deus.

1 Quando sc aproximavam de Jerusalém, de Betfagé e Betânia, junto ao monte das Oliveiras, enviou Jesus dois dos Seus discípulos

2 e disse-lhes: Ide à aldeia que aí está diante de vós e, logo ao entrar, achareis preso um jumen- tinho, o qual ainda ninguém montou; despren- dei-o e trazei-o.

3 Se alguém vos perguntar: Por que fazeis ► isso? Respondei: O Senhor precisa dele e logo o

mandará de volta para aqui.4 Então, foram e acharam o jumentinho

preso, junto ao portão, do lado de fora, na rua, e o desprenderam.

5 Alguns dos que ali estavam reclamaram: Que fazeis, soltando o jumentinho?

6 Eles, porém, responderam conforme as ins­truções de Jesus; então, os deixaram ir.

7 Levaram o jumentinho, sobre o qual puse­ram as suas vestes, e Jesus o montou.

8 E muitos estendiam as suas vestes no ca­minho, e outros, ramos que haviam cortado dos campos.

9 Tanto os que iam adiante dEle como os que

vinham depois clamavam: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!

10 Bendito o reino que vem, o reino de Davi, nosso pai! Hosana, nas maiores alturas!

11 E, quando entrou cm Jerusalém, no tem­plo, tendo observado tudo, como fosse já tarde, saiu para Betânia com os doze.

12 No dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome.

13 E, vendo de longe uma figueira com fo­lhas, foi ver se nela, porventura, acharia alguma coisa. Aproximando-Se dela, nada achou, senão folhas; porque não era tempo de figos.

14 Então, lhe disse Jesus: Nunca jamais coma alguém fruto de ti! E Seus discípulos ouviram isto.

15 E foram para Jerusalém. Entrando Ele no templo, passou a expulsar os que ali vendiam e compravam; derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas.

16 Não permitia que alguém conduzisse qual­quer utensílio pelo templo;

17 também os ensinava e dizia: Não está es­crito: A Minha casa será chamada casa de oração

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MARCOS 11:11

para todas as nações? Vós, porém, a tendes trans­formado em covil de salteadores.

18 E os principais sacerdotes e escribas ou­viam estas coisas e procuravam um modo de Lhe tirar a vida; pois O temiam, porque toda a multi­dão se maravilhava de Sua doutrina.

19 Em vindo a tarde, saíram da cidade.20 E, passando eles pela manhã, viram que

a figueira secara desde a raiz.21 Então, Pedro, lembrando-se, falou: Mestre,

eis que a figueira que amaldiçoaste secou.22 Ao que Jesus lhes disse: Tende fé em Deus;23 porque em verdade vos afirmo que, se al­

guém disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele.

24 Por isso, vos digo que tudo quanto em ora­ção pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco.

25 E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas.

1. Quando se aproximavam. ( A entra­da triunfal de Jesus em Jerusalém, Mc 11:1-11 = Mt 21:1-17 = Lc 19:28-40 = Jo 12:12-19. Comentário principal: Mt].

2. Ninguém montou. Era considerada uma qualidade essencial que as coisas des­tinadas a uso sagrado ou real fossem novas

► (ver Êx 13:2; 23:19, Lv 21:13, 14; Num 19:2; ISm 6:7).

4. Do lado de fora. Muitas habitações orientais eram construídas em forma qua­drangular, com um pátio aberto no centro. A partir desse pátio havia uma passagem para a rua. De acordo com o costume, o asno e o jumentinho estariam amarrados no pátio em vez de no portão da rua.

Na rua. Ou, “entre dois caminhos” (ARC). A palavra grega amphodon, “um caminho em volta”, ou “um grupo de casas”, é de significado incerto aqui. Ela consta de duas partes: amphi, “dc ambos os lados”, e hodos, “caminho”.

26 Mas, se não perdoardes, também vosso Pai celestial não vos perdoará as vossas ofensas.

27 Então, regressaram para Jerusalém. E, an­dando Ele pelo templo, vieram ao Seu encontro os principais sacerdotes, os escribas e os anciãos

28 e Lhe perguntaram: Com que autoridade lazes estas coisas? Ou quem Te deu tal autorida­de para as fazeres?

29 Jesus lhes respondeu: Eu vos farei uma pergunta; respondei-Me, e Eu vos direi com que autoridade faço estas coisas.

30 O batismo de João era do céu ou dos ho­mens? Respondei!

31 E eles discorriam entre si: Se dissermos: Do céu, dirá: Então, por que não acreditastes nele?

32 Se, porém, dissermos: dos homens, é de temer o povo. Porque todos consideravam a João como profeta.

33 Então, responderam a Jesus: Não sabemos. E Jesus, por sua vez, lhes disse: Nem Eu tampou­co vos digo com que autoridade faço estas coisas.

Alguns têm sugerido que amphodon pode se referir aqui a uma estrada lateral, ou talvez a uma estrada sinuosa (ver mapa, 221).

11. No templo. Este era o centro da vida nacional e religiosa judaica, o lugar natural para o Messias-Rei ser coroado; o primeiro lugar onde Sua autoridade deveria ser reco­nhecida e dc onde deveria sair a convoca­ção oficial para que o povo reconhecesse a Sua soberania (ver vol. 4, p. 14-17). Os sacer­dotes e anciãos de Israel deveriam ter sido os primeiros a reconhecer a autoridade do Messias. No entanto, é dito que Ele “veio para o que era Seu, e os Seus não O rece­beram" (ver com. de Jo 1:11).

Tendo observado tudo. Como o tem­plo era Sua casa, Jesus andou por seus átrios, inspecionando o que era Seu por direito. Porém, aqueles a quem o templo fora con­fiado, tinham se apropriado dele para seus próprios fins egoístas (ver Mt 21:33-39).

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Page 95: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

11:12 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Saiu para Betânia. Quando a multi­dão finalmente chegou a Jerusalém já era demasiado tarde e, em vão, procurou a Jesus para que pudesse coroá-Lo como rei (ver DTN, 581). Porém, assim como em ocasiões anteriores, quando Sua missão foi coniron- tada com uma crise, Jesus passou a noite inteira em oração (ver com. de Mc 3:13; cf. DTN, 581).

12. No dia seguinte. [A figueira sem fruto; O poder da fé Mc 11:12-14, 20-26 = Mt 21:18-22. Comentário principal: Mc. Ver mapa, p. 221; e gráfico, p. 230; sobre os milagres, ver p. 204-210]. Este foi o dia seguinte”, depois da entrada triun­fal (ver v. 1-11), portanto, uma manhã de segunda-feira. Seguindo uma ordem estrita- mente cronológica, Marcos registra a purifi­cação do templo (v. 15-19) entre a maldição da figueira (v. 12-14) e a descoberta de que ela havia secado (v. 20-26). Mateus, que fre­quentemente segue uma ordem temática em vez de cronológica (ver p. 276), narra todo o episódio da figueira estéril como uma uni­dade, sem mencionar que se passaram umas 24 horas entre a maldição e a descoberta de que a árvore havia secado.

Saíram de Betânia. Onde Ele tinha passado a noite (ver com. do v. 11).

Teve fome. Talvez as circunstâncias desde a entrada triunfal (ver com. do v. 11) impediram Jesus de fazer pelo menos uma refeição. O fato de não se mencionar que os discípulos também estariam famintos sugere que eles não estavam.

13. Vendo de longe uma figueira. Jesus viu a árvore antes de Se aproximar dela. Aparentemente a árvore crescera perto da estrada (ver com. de Mt 21:19). Como na ocasião da entrada triunfal no dia anterior, Jesus provavelmente seguiu uma rota mais ou menos direta de Betânia a Jerusalém. Eles subiram a encosta branda ao leste do monte das Oliveiras, desceram a inclinação oci­dental relativamente acentuada e cruzaram

o vale de Cedrom, a fim de entrar em Jerusalém (ver com. de Mt 21:1; Lc 19:41).A figueira chamava a atenção por ser a única das árvores do pomar totalmente cheia de folhas (cf. DTN, 581).

Com folhas. Uma figueira frondosa pro­metia frutos bem desenvolvidos, embora não necessariamente maduros. Por outro lado, as árvores sem folhas, como era o caso de outras do pomar, não levantavam falsas expectativas de frutos, portanto não causavam decepção.

Nesta parábola viva (ver com. do v. 14), a figueira frondosa representava a nação judaica, e as outras árvores, as nações gen­tílicas. É verdade que os gentios não produ­ziam frutos, porém nada se esperava deles, pois não tinham a pretensão de produzi- los (ver vol. 4, p. 13, 14). Essa figueira precoce, no entanto, tinha folhas que indi­cavam figos.

Senão folhas. Era uma promessa sem cumprimento. De todos os defeitos não* havia um mais ofensivo a Jesus do que a hipocrisia (ver com. de Mt 6:2; 23:13). Como a figueira estéril, a religião judaica estava destituída de frutos. Ela estava repleta de forma e cerimônias, mas lhe faltava a ver­dadeira piedade (ver com. de Mc 7:2, 3; ver vol. 4, p. 17-20).

Não era tempo de figos. No clima da Palestina, a primeira colheita de figos geral­mente amadurece em junho, e a última, em setembro. O incidente ocorreu perto da Páscoa, provavelmente em abril, portanto, apenas algumas semanas antes da primeira colheita. Embora fosse incomum esperar figos tão prematuros, no entanto, uma árvore cheia de folhas poderia ter frutos a ponto de amadurecer. Deve-se também conside­rar que nas regiões orientais se apreciam fru­tos verdes ou por amadurecer (ver com. de Is 28:4).

14. Então, lhe disse Jesus. Ele perso­nifica a planta, que na circunstância repre­sentava a nação judaica.

704

643

Page 96: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

MARCOS 11:21

Nunca jamais. No texto grego, o duplo negativo torna a maldição ainda mais enfá­tica. A esterilidade da árvore representava a improdutividade de Israel, e a maldição, o juízo que Jesus pronunciaria no dia seguinte: “Eis que a vossa casa vos ficará deserta” (ver com. de Mt 23:38). Foi também no dia seguinte que Jesus censurou severamente os escribas e fariseus por suas pretensões hipó­critas (ver Mt 23:13-33).

O propósito da parábola era preparar os discípulos para as cenas dos dias seguin­tes, quando os líderes judeus confirma­riam a rejeição a Jesus. Com frequência, esse tipo de parábola induz as pessoas a pensar de forma mais eficaz do que meras palavras podem fazer. Há outras parábolas transformadas em realidade (ver Is 20:2-6; Ez 4:1-5:17).

15. E foram para Jerusalém. [A purifi­cação do templo, Mc 11:15-19 = Mt 21:12- 17 = Lc 19:45-48. Comentário princi­pal: Mt].

16. Pelo templo. Ou seja, através dos átrios do templo. A palavra usada aqui para templo é hieron, que se refere a todos os átrios e edifícios dentro da área do templo, e não o vocábulo naos, que é templo ou san­tuário propriamente dito. Ao entrar nos recintos sagrados do templo, as pessoas deviam deixar de lado, como um sinal de reverência, qualquer carga que estivessem conduzindo. Aparentemente, os que leva­vam cargas estavam usando os átrios do tem­plo como um atalho para evitar um trajeto mais longo (ver Mishnah, Berakoth, 9.5, ed. Soncino, Talmude, p. 328).

17. Casa [...] para todas as nações. Jesus provavelmente Se encontrava na parte do templo reservada aos gentios que criam no verdadeiro Deus. Os funcionários do templo haviam transformado esse recinto em uma espécie de mercado.

Salteadores. Isto é, assaltantes organi­zados, e não apenas ladrões.

18. Pois O temiam. Especialmente devido à grande influência que Ele exercia sobre o povo, que havia se manifestado de maneira impressionante na entrada triunfal no dia anterior.

Doutrina. Literalmente, “ensino” (ver com. de Mt 7:28).

20. Pela manhã. Ou seja, na manhã de terça-feira, um dia depois da purifica­ção do templo. Desde a manhã de segunda- feira, os discípulos puderam novamente testemunhar a animosidade dos líderes judeus contra Jesus. Eles ainda veriam muito mais, antes do anoitecer. Para Jesus e os doze, o primeiro acontecimento desse dia sinistro foi constatar que a figueira havia secado.

Desde a raiz. Um detalhe observado apenas por Marcos. Este é único milagre de Jesus que se pode dizer ter causado algum dano. Alguns críticos sugerem que Jesus pro­nunciou a maldição com ira sobre a figueira estéril. No entanto, em toda a vida terrena de Jesus, Ele nunca provocou por maldade algum dano ou sofrimento a pessoas, ani­mais ou outras criaturas, obra de Suas mãos, nem procedeu movido por motivos indignos. As circunstâncias em que Jesus fez secar a figueira mostram uma explicação satisfató­ria de Seu propósito. Nesse mesmo dia, os líderes da nação confirmariam sua decisão de rejeitar a Jesus como o Messias, que, por Sua vez, anunciaria que o Céu os havia rejei­tado (ver com. de Mt 23:38). Os discípulos não compreendiam bem essas coisas, e foi, sem dúvida, com o objetivo de prepará-los para o acontecimento trágico que Jesus fez a figueira secar.

21. Pedro [...] falou. Apenas Marcos identifica Pedro aqui como o porta-voz do grupo (ver com. de Mt 14:28).

Secou. O processo de secamento ocor­reu durante as 24 horas anteriores e foi tão completo que era perceptível desde as raí­zes (ver v. 20).

705

Page 97: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

11:22 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

22. Tende fé em Deus. Como se pode­ria esperar, a reação dos discípulos foi de surpresa diante da natureza sobrenatural dessa parábola viva. Eles pareciam não per­ceber ainda a sua importância. Enquanto a atenção deles estava concentrada no mila­gre em si e não em seu significado, Jesus aproveitou o interesse deles para destacar a dimensão que a verdadeira fé pode alcançar (v. 22-24). Acrescentou ainda uma advertên­cia em relação a um pré-requisito impor­tante para que as orações sejam respondidas (Mc 11:25; ver com. de Mt 17:20).

23. Em verdade. Ver com. de Mt 5:18.Este monte. Nesse momento, Jesus e os

discípulos estavam na encosta do monte das Oliveiras. Exceto o vale de Cedrom, o monte das Oliveiras ocupava a maior parte da área entre Jerusalém e Betânia (ver com. de Mt 21:1; ver mapas, p. 221, 589).

Ergue-te e lança-te no mar. Ver com. de Mt 17:20. Jesus mesmo nunca moveu montanhas literais, nem pretendia que Seus seguidores vissem qualquer necessidade de fazê-lo. Aqui as montanhas são metáforas das dificuldades.

Duvidar. Do gr. diakrinõ, “separar [um do outro]”, “discriminar”, ou “distinguir”. O verbo diakrinõ é traduzido também como “duvidar”, no sentido de “vacilar” (ver Tg 1:6; ver com. de Tg 1:6-8).

24. Crede. Ver com. de Mt 7:7.25. Quando estiverdes orando. Quan­

to à postura adequada na oração, ver com. de Lucas 18:11. Talvez se faça referência a estar “de pé” (BJ, KJV) nos átrios do templo na hora da oração matutina ou vespertina.

Perdoai. Ver com. de Mt 6:14, 15.26. Se não perdoardes. A evidên­

cia textual (cf. p. 136) favorece a omissão do v. 26, embora a maioria dos manuscri­tos apresente o mesmo pensamento em Mateus 18:35. A falta de vontade de per­doar faz com que Deus não ouça e atenda as orações.

27. Regressaram para Jerusalém. [A autoridade de Jesus e o batismo dc João, Mc 11:27-33 = Mt 21:23-27 = Lc 20:1-8. Comentário principal: Mt].

29. Respondei-Me. Apenas Marcos registra a pergunta como uma resposta nes­tas palavras diretas (ver com. de Mt 21:24).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

I- 10 - DTN, 569-579 9 - T6, 203II- 14, 20, 21 - DTN,

580-58813-DTN, 581, 583;

MCH, 93;

T4, 155; T5, 250, 403 13, 14-T5, 25715-19-DTN, 589-593 21 - DTN, 582

24-PJ, 148; Ed, 258; PE, 72; MCH, 16; SC, 51, 96; T2, 140, T8, 23

24-26-TM, 48722-PR, 164; T6, 465; T7,211; T8, 175, 177; T9, 213 27-33 - DTN, 593, 594

706

Page 98: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

645

MARCOS 12:1

Capítulo 121 Coma parábola da vinha arrendada, Cristo prediz a rejeição final da nação judaica

e o chamado dos gentios. 13 Ele evita a armadilha dos fariseus e herodianos quanto a pagar tributo a César, 18 convence os saduceus do erro de negar a

ressurreição e 28 responde a um escriba sobre o principal dos mandamentos. 35 Ele refuta a opinião dos escribas sobre

o Messias, 38 alerta as pessoas contra a ambição e a hipocrisia e 41 louva a viúva por

sua oferta de sacrifício.

1 Depois, entrou Jesus a falar-lhes por pará­bola: Um homem plantou uma vinha, cercou-a de uma sebe, construiu um lagar, edificou uma torre, arrendou-a a uns lavradores e ausentou-se do país.

2 No tempo da colheita, enviou um servo ► aos lavradores para que recebesse deles dos fru­

tos da vinha;3 eles, porém, o agarraram, espancaram c o

despacharam vazio.4 De novo, lhes enviou outro servo, e eles o

esbordoaram na cabeça e o insultaram.5 Ainda outro lhes mandou, e a este mata­

ram. Muitos outros lhes enviou, dos quais espan­caram uns e mataram outros.

6 Restava-lhe ainda um, seu filho amado; a este lhes enviou, por fim, dizendo: Respeitarão a meu filho.

7 Mas os tais lavradores disseram entre si: Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo, e a he­rança será nossa.

8 E, agarrando-o, mataram-no e o atiraram para fora da vinha.

9 Que fará, pois, o dono da vinha? Virá, ex­terminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros.

10 Ainda não lestes esta Escritura: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular;

I I isto procede do Senhor, e é maravilhoso aos nossos olhos?

12 E procuravam prcndê-Lo, mas temiam o povo; porque compreenderam que contra eles proferira esta parábola. Então, desistindo, retiraram-se.

13 E enviaram-Lhc alguns dos fariseus e dos herodianos, para que O apanhassem em algu­ma palavra.

14 Chegando, disseram-lhe: Mestre, sabe­mos que és verdadeiro e não Te importas com quem quer que seja, porque não olhas a apa­rência dos homens; antes, segundo a verdade, ensinas o caminho de Deus; é lícito pagar tri­buto a César ou não? Devemos ou não deve­mos pagar?

15 Mas Jesus, percebendo-lhes a hipocrisia, respondeu: Por que Me experimentais? Trazei- Me um denário para que Eu o veja.

16 E eles Lho trouxeram. Perguntou-lhes: De quem é esta efígie e inscrição? Responderam: De César.

17 Disse-lhes, então, Jesus: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. E muito se admiraram dEle.

18 Então, os saduceus, que dizem não haver ressurreição, aproximaram-se dEle e Lhe per­guntaram, dizendo:

19 Mestre, Moisés nos deixou escrito que, se morrer o irmão de alguém e deixar mulher sem filhos, seu irmão a tome como esposa e suscite descendência a seu irmão.

20 Ora, havia sete irmãos; o primeiro casou e morreu sem deixar descendência;

21 o segundo desposou a viúva e morreu, tam­bém sem deixar descendência; e o terceiro, da mesma forma.

22 E, assim, os sete não deixaram descen­dência. Por fim, depois de todos, morreu tam­bém a mulher.

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Page 99: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

12:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

23 Na ressurreição, quando eles ressuscita­rem, de qual deles será ela a esposa? Porque os sete a desposaram.

24 Respondeu-lhes Jesus: Não provém o vosso erro de não conhecerdes as Escrituras, nem o poder de Deus?

25 Pois, quando ressuscitarem de entre os mortos, nem casarão, nem se darão cm casamen­to; porém, são como os anjos nos céus.

26 Quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido no Livro de Moisés, no trecho re­ferente à sarça, como Deus lhe falou: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó?

27 Ora, Ele não é Deus de mortos, e sim de vivos. Laborais em grande erro.

28 Chegando um dos escribas, tendo ouvi­do a discussão entre eles, vendo como Jesus lhes houvera respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o principal de todos os mandamentos?

29 Respondeu Jesus: O principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor!

30 Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força.

31 O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.

32 Disse-lhe o escriba: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que ele é o único, e não há outro senão ele,

33 e que amar a Deus de todo o coração e de todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios.

34 Vendo Jesus que ele havia respondi­do sabiamente, declarou-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E já ninguém mais ousava interrogá-Lo.

35 Jesus, ensinando no templo, perguntou: Como dizem os escribas que o Cristo é filho de Davi?

36 O próprio Davi falou, pelo Espírito Santo: Disse o Senhor ao Meu Senhor: Assenta-Te à Minha direita, até que Eu ponha os Teus inimi­gos debaixo dos Teus pés.

37 O mesmo Davi chama-Lhe Senhor; como, pois, é Ele seu filho? E a grande multidão O ouvia com prazer.

38 E, ao ensinar, dizia Ele: Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestes tala­res e das saudações nas praças;

39 e das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos primeiros lugares nos banquetes;

40 os quais devoram as casas das viúvas e, para o justificar, fazem longas orações; estes so­frerão juízo muito mais severo.

41 Assentado diante do gazofilácio, obser­vava Jesus como o povo lançava ali o dinheiro. Ora, muitos ricos depositavam grandes quantias.

42 Vindo, porém, uma viúva pobre, deposi­tou duas pequenas moedas correspondentes a um quadrante.

43 E, chamando os Seus discípulos, disse- lhes: Em verdade vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram todos os ofertantes.

44 Porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento.

1. Entrou Jesus a falar-lhes. [A pará­bola dos lavradores maus, Mc 12:1-12 = Mt 21:33-46 = Lucas 20:9-18. Comentário principal: Mt]. Marcos omite as parábo­las dos dois filhos e a das bodas. Ambas se encontram em Mateus e Lucas neste contexto. Aparentemente, Marcos esco­lheu o que mais o impressionou como uma

representação das verdades que Cristo procurava ilustrar nessas parábolas finais.

Lagar. Do gr. lwpolênion, a vasilha ou o recipiente sobre o qual se espremia o suco das uvas (ver com. de Mt 21:33).

2. Dos frutos. Literalmente, “a parte dos frutos” (BJ), isto é, alguns dos frutos (ver com. de Mt 21:34).

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Page 100: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

MARCOS 12:35

3. Eles [...] o agarraram. Há variações desta parábola nos relatos dos evangelhos, acerca dos servos enviados e do tratamento dado a eles (ver com. de Mt 21:35).

4. Apedrejando-o (ARC). A evidência textual (cf. p. 136) favorece a omissão des­tas palavras e também de “e o mandaram embora” (ARC). A versão ARA diz: “e eles o esbordoaram e o insultaram”.

6. Seu filho amado. É provável que Jesus pensasse nas palavras do Pai por oca­sião do Seu batismo (ver com. de Mt 3:17).

12. Desistindo, retiraram-se. Ver Mt 22:15. Isto é, depois de Jesus ter apre­sentado a parábola do homem sem a veste nupcial.

13. Enviaram-Lhe. [A questão do tri­buto, Mc 12:13-17 = Mt 22:15-22 = Lc 20:19-26. Comentário principal: Mt].

Para que O apanhassem. Do gr. agreuõ, “pegar”, isto é, “caçar”. Provém de agra, “aquilo que se caça ou pesca”.

18. Os saduceus. [Os saduceus e a ressurreição, Mc 12:18-27 = Mt 22:23-33 = Lc 20:27-40. Comentário principal: Mt].

23. Quando eles ressuscitarem. A evi­dência textual se divide (cf. p. 136) entre manter e omitir estas palavras.

24. Não provém o vosso erro [...]? A forma interrogativa em grego significa que Jesus esperava uma resposta afirmativa.

26. Dos mortos. Isto é, quanto a sua ressurreição dentre os mortos.

Sarça. Ver Êx 3:2, 6.27. Laborais em grande erro. Esta

declaração enfática ocorre nesta forma vigo­rosa apenas em Marcos.

28. Um dos escribas. [O grande man­damento, Mc 12:28-34 = Mt 22:34-40 = Lc 10:25-28. Comentário principal: Mc].

Vendo. O escriba escolhido para este complô final dos fariseus a fim de prender Jesus (ver com. de Mt 22:34, 35) parecia ser de coração sincero. Ele foi justo em reconhe­cer que “Jesus lhes houvera respondido bem”.

29. O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Ver com. de Dt 6:4. A passagem das Escrituras aqui citada tem sido a senha sagrada de Israel através de sua extensa his­tória. Ela reflete a crença distintiva dos judeus no Deus único e verdadeiro, em con­traste com os múltiplos deuses das outras nações. Estas palavras eram pronunciadas para iniciar o serviço de oração pela manhã e à tarde no templo, e são uma parte regular « das reuniões nas sinagogas até o dia de hoje.

32. Muito bem, Mestre. Isto é, “Você falou bem, Mestre”, ou “muito bem, Mestre; tens razão ao dizer” (BJ), ou ainda “Você está certo, Mestre” (RSV).

Com verdade disseste. O escriba reco­nheceu que as respostas de Jesus eram preci­sas e adequadas (ver com. do v. 28) e, então, honestamente elogia a Jesus.

33. Holocaustos. Comparar com ISm 15:22. Esta admissão voluntária por parte do escriba demonstra sua percepção da importância relativa e do significado do ritual do templo.

34. Sabiamente. Do gr. nounechõs, “com entendimento”, isto é, “com sensa­tez” (BJ).

Do reino. O escriba discernia a verdade (ver v. 33) e sinceramente a reconhecia como verdade (ver v. 32). Ele estava no limiar do reino (comparar com a reação de Jesus ante o jovem rico, em Mc 10:20, 21; ver também com. de Mt 19:20, 21).

35. Ensinando no templo. [O Cristo, filho de Davi, Mc 12:35-37 = Mt 22:41-46 = Lc 20:41-44. Comentário principal: Mt]. Somente Marcos assinala que Jesus ainda estava ensinando no templo.

Como dizem os escribas [...]? Outro detalhe que se encontra apenas em Marcos. Jesus adverte que os escribas proclamavam o Messias como o Filho de Davi, como algo preliminar para chamar mais uma vez a aten­ção para o fato de Ele mesmo ser o verda­deiro Messias.

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Page 101: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

12:37 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

37. A grande multidão. Ou seja, a grande massa do povo, ou a multidão em geral. Este é outro detalhe observado ape­nas por Marcos.

38. Ao ensinar. [Jesus censura os escri­bas, Mc 12:38-40 = Ml 23:1-7, 14 = Lc 20:45- 47. Comentário principal: Mtj. Literalmente “em seu ensino”, “instrução” (BJ; ver com. de Mt 7:28).

Guardai-vos dos escribas. Marcos apresenta somente um resumo do que foi um discurso bastante longo sobre a hipo­crisia dos escribas e dos fariseus (ver Mt 23). No Sermão do Monte (ver Mt 5-7) e no sermão junto ao mar da Galileia (ver Mt 13), Mateus registra os discursos de Jesus mais extensamente do que os outros evangelhos.

Vestes talares. Estas vestes longas che­gavam até os pés e faziam parte da vesti­menta geralmente usada pelos doutores da lei como uma identificação de sua profissão.

Saudações. Ver com de Mt 23:7.Praças. Ver com. de Mt 11:16.39. Primeiras cadeiras. Ver com. de

Mt 23:6.40. Devoram as casas das viúvas. Ver

com. de Mt 23:14.41. Assentado. [A oferta da viúva pobre,

Mc 12:41-44 = Lc 21:1-4. Comentário princi­pal: Mc]. Este incidente provavelmente tenha ocorrido ao entardecer da terça-feira (ver com. de Mt 23:1, 38, 39; gráfico 9, p. 230). Jesus tinha acabado de Se sair vitorioso de um longo e amargo conflito com líderes da nação e estava prestes a deixar os recintos sagrados do templo.

Diante. Jesus Se encontrava numa posi­ção em que podia observar os adoradores lan­çarem suas contribuições.

Gazofilácio. Marcos não se refere aqui ao quarto forte onde o tesouro do templo era armazenado e guardado, mas às arcas das ofertas que se encontravam no amplo átrio das mulheres.

Lançava ali. Possivelmente, um rico após o outro passava e depositava a oíerta.

42. Viúva pobre. Do gr. ptõchos, "men­digo” ou “indigente”. Lucas usa penichros, uma forma poética tardia de penes, que indica aquele que vive apenas com o essen­cial e que precisa trabalhar cada dia a fim de ter alimento para o dia seguinte (cf. Lc 21:2). Penes deriva do verbo penomai, “trabalhar para viver”. Talvez Jesus quisesse destacar o espírito desta viúva em nítido contraste com a atitude dos fariseus para com as viúvas.A pobreza dela poderia ser devida, em parte, à avareza de escribas e fariseus presentes nessa ocasião (ver com. de Mt 23:14). Cristo disse que eles “devoram as casas das viúvas" (Mc 12:40). Porém, ali estava uma viúva que, com seu coração transbordante de amor a Deus “deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento” (v. 44).

Moedas. Do gr. lepton, uma moeda de cobre que pesava menos de um grama e valia poucos centavos (ver p. 37). O lep­ton era a menor moeda judaica de cobre em circulação.

Quadrante. Do gr. kodrantês, que equi­vale a dois lepta, ou “moedas” (ver p. 37), e que equivalia a 1/64 de um denário romano, « o salário de um dia no tempo de Cristo (ver com. de Mt 20:2). Com frequência se tem dado ênfase à pequenez intrínseca da oferta da viúva, mas se deveria dar mais ênfase à comparativa grandeza de seu sacrifício (ver com. do v. 44).

43. Seus discípulos. Ver com. de Mt 24:1.

Em verdade. Ou, “verdadeiramente” (ver com. de Mt 5:18; Jo 1:51).

Mais do que [...] todos. Significa que ela deu mais do que todos os doadores ricos juntos. Em realidade, à vista de Deus não é realmente a extensão da dádiva que conta, e sim o motivo que a impulsiona. Deus está interessado na magnitude do amor e da con­sagração que a dádiva representa, não em

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Page 102: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

MARCOS 12:44

seu valor monetário. Esta é a única base que Deus emprega para recompensar as pessoas, como Jesus ilustrou na parábola dos trabalha­dores na vinha (ver com. de Mt 20:15). O lou­vor de Jesus a essa viúva estava baseado no espírito que impulsionou sua oferta.

44. Sobrava. Do gr. perisseuma, que significa “abundância”, mas também “o que sobra” ou “o excesso”. Os ricos tinham dinheiro de sobra; tinham mais do que neces­sitavam. Eles deram de seu excedente, e isso não lhes custava nada. O valor de suas ofertas

em termos de amor e consagração era pequeno ou nada, porque elas não repre­sentavam abnegação.

Pobreza. Do gr. husterêsis, “deficiência”, “indigência”, "miséria”.

Tudo quanto possuía. Uma evidência do máximo amor possível e da consagração a Deus.

Sustento. Do gr. bios, “subsistência”, não zoe, que significa “vida” em si mesma. Com toda segurança, a viúva não sabia de onde proviria sua próxima refeição.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-12-DTN, 596-600 13-40 -DTN, 601-60916-CE, 10; T7, 156 24-PJ, 110; GC, 599;

T5, 388 28-33 - DTN, 607 30 - PJ, 348; CM, 35;

CPPE, 32, 360; FEC, 314, 315, 324; ES, 352,

MCI I, 117; T2, 45, 70, 168, 504; T3, 39; T4,119; T5, 536; T6, 477

30, 31 -T2, 55033 - LA, 349; T3, 39234 - DTN, 60837 - CES, 109; CPPE, 240,

260; Ev, 565; EEC, 242; CBV, 443; T8, 308

41, 42-DTN, 61441- 44- DTN, 614-62042- DTN, 616; Ed, 109;

OE, 467; T2, 198; T3, 398; T6, 103, 310; T9, 55

42-44-AA, 342; CM, 178, 294; Tl, 177; T5, 733;T9, 224; BS, 203

43, 44-T2, 667

Capítulo 131 Cristo prediz a destruição do templo, 9 as perseguições por cansa do evangelho,

10 a pregação do evangelho a todas as nações e 14 as grandes calamidades que cairiam sobre os judeus. 24 Ele fala da maneira como virá para

fazer o julgamento e 32 que todos devem vigiar e orar a fim de não ser apanhados de surpresa.

1 Ao sair Jesus do templo, disse-lhe um de Seus discípulos: Mestre! Que pedras, que construções!

2 Mas Jesus lhe disse: Vês estas grandes construções? Não ficará pedra sobre pedra, que não seja derribada.

3 No monte das Oliveiras, defronte do tem­plo, achava-Se Jesus assentado, quando Pedro, Tiago, João e André Lhe perguntaram em particular:

4 Dize-nos quando sucederão estas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para cumprir-sc.

5 Então, Jesus passou a dizer-lhes: Vede que ninguém vos engane.

6 Muitos virão em Meu nome, dizendo: Sou eu; e enganarão a muitos.

7 Quando, porém, ouvirdes falar de guerrase rumores de guerras, não vos assusteis; é ne- M

cessário assim acontecer, mas ainda não é o fim.

711

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Page 103: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

13:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

8 Porque se levantará nação contra nação, e reino, contra reino. Haverá terremotos em vários lugares e também (ornes. Estas coisas são o prin­cípio das dores.

9 Estai vós de sobreaviso, porque vos entrega­rão aos tribunais e às sinagogas; sereis açoitados, e vos farão comparecer à presença de governa­dores e reis, por Minha causa, para lhes servir de testemunho.

10 Mas é necessário que primeiro o evange­lho seja pregado a todas as nações.

11 Quando, pois, vos levarem e vos entre­garem, não vos preocupeis com o que haveis de dizer, mas o que vos for concedido naquela hora, isso falai; porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo.

12 Um irmão entregará à morte outro irmão, e o pai, ao filho; filhos haverá que se levantarão contra os progenitores e os matarão.

13 Sereis odiados de todos por causa do Meu nome; aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo.

14 Quando, pois, virdes o abominável da de­solação situado onde não deve estar (quem lê en­tenda), então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes;

15 quem estiver em cima, no eirado, não desça nem entre para tirar da sua casa alguma coisa;

16 e o que estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa.

17 Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias!

18 Orai para que isso não suceda no in­verno.

19 Porque aqueles dias serão de tamanha tri­bulação como nunca houve desde o princípio do mundo, que Deus criou, até agora e nunca ja­mais haverá.

20 Não tivesse o Senhor abreviado aqueles dias, e ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que Ele escolheu, abreviou tais dias.

21 Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis;

22 pois surgirão falsos cristos e falsos profe­tas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos.

23 Estai vós de sobreaviso; tudo vos tenho predito.

24 Mas, naqueles dias, após a referida tri­bulação, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade,

25 as estrelas cairão do firmamento, e os po­deres dos céus serão abalados.

26 Então, verão o Filho do Homem vir nas nuvens, com grande poder e glória.

27 E Ele enviará os anjos e reunirá os Seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu.

28 Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam, e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão.

29 Assim, também vós: quando virdes aconte­cer estas coisas, sabei que está próximo, às portas.

30 Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.

31 Passará o céu e a terra, porém as Minhas palavras não passarão.

32 Mas a respeito daquele dia ou da hora nin­guém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai.

33 Estai de sobreaviso, vigiai e orai; porque não sabeis quando será o tempo.

34 É como um homem que, ausentando-se do país, deixa a sua casa, dá autoridade aos seus servos, a cada um a sua obrigação, e ao porteiro ordena que vigie.

35 Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã;

36 para que, vindo ele inesperadamente, não vos ache dormindo.

37 O que, porém, vos digo, digo a todos: vigiai!

712

Page 104: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

650

MARCOS 13:35

I. Ao sair. [O sermão profético; A des­truição do templo, Mc 13:1-37 = Mt 24:1-51 = Lc 21:5-38. Comentário principal: Mt].

8. Tribulações (ACF). A evidência textual (cf. p. 136) favorece a omissão desta palavra.

9. Estai vós de sobreaviso. Mateus 24 omite esta parte do discurso de Jesus regis­trado em Marcos 13:9 a 12, provavelmente por que ele já havia relatado praticamente as

► mesmas coisas no discurso anterior (ver com. de Mt 10:17-21).

Tribunais. Sem dúvida, uma referência ao sinédrio judaico local, ou tribunais, que se reuniam nas diversas sinagogas (ver p. 44).

Governadores e reis. Principalmente, uma referência aos governantes gentios.

Para lhes servir de testemunho. Ou, “testemunho diante deles” (ver com. de Mt 10:18).

10. Pregado. Do gr. kêrussõ, “proclamar” ou “anunciar”, portanto, “pregar”.

II. Quando, pois, vos levarem. Com o sentido de que eles seriam “levados ante tribunais, a um magistrado, ou para serem punidos” (ver Mt 10:18; Lc 21:12; 22:54; At 25:17).

Não vos preocupeis. Isto é, “não andeis ansiosos” (ver com. de Mt 6:25; 10:19).

Nem premediteis (ACF). Ver com. de Mt 10:19, 20. A evidência textual permite (cf. p. 136) a omissão destas palavras.

14. Situado onde não deve estar. Ou, “erigido onde não deve” (BJ).

21. Cristo. Literalmente, o Messias. A palavra é usada aqui como um título e não como um nome pessoal (ver com. de Mt 1:1).

24. Naqueles dias. Marcos é ainda mais preciso do que Mateus quanto à loca­lização desses sinais nos céus (ver com. de Mt 24:29).

25. Cairão. Ver com. de Mt 24:29. O tex­to grego ressalta o sentido de continuida­de, como de uma chuva de estrelas cadentes (ver com. de Ap 6:13).

34. Ausentando-se do país. Marcos aqui omite a maior parte do discurso regis­trado em Mateus 24:37 a 25:46.

35. Não sabeis. Ver com. de Mt 24:36, 44. Esta é a razão para ficar vigilante ou alerta.

À tarde. Os quatro termos aqui utiliza­dos se referem às quatro vigílias da noite, de acordo com o sistema romano que se empre­gava na Palestina.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

I -GC, 251-37-DTN, 627-636 9-AA, 81; HR, 256;

T5, 102, 717II -CES, 40 13-DTN, 35522 - GC, xi; T5, 746 24-GC, 306 24-26 - GC, 37, 304 33 - DTN, 634;

GC, 490;

T2, 199, 321; T3, 572;T4, 306; T5, 102, 115;T6, 128; T7, 238

34-CM, 302; SC, 13; PJ, 326; CM, 83, 117, 119; CPPE, 513; DTN, 362; Ed, 138; Ev, 91,95; FEC, 48; MCH, 218, 276; MJ, 301; SC, 82; TM, 165, 183; T2 250, 255, 667;T4, 397; T5, 182, 184,

395, 462, 463, 564, 736; T6, 243, 245, 427, 433, 481; T7, 58; T8 56, 246; T9, 221

34- 37-T8, 3735- GC, 38; T2, 191 35, 36-GC, 491;

T2, 20535- 37-T2, 190, 19236- T6, 41037- GC, 57

713

Page 105: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

651

14:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Capítulo 141 A conspiração contra Cristo. 3 Um precioso unguento é derramado sobre Sua cabeça por uma mulher. 10 Judas trai o Mestre. 12 Cristo prediz a traição por

um dos discípidos. 22 Ele institui a Santa Ceia depois de preparar e comer a Páscoa com os discípulos e 26 prediz que esses O abandonarão e que

Pedro O negará. 43 judas entrega a Jesus com um beijo. 46 Cristo é preso no Getsêmani, 53 é falsamente acusado e condenado

injustamente pelo concílio dos judeus. 65 Eles zombam dEle. 66 Pedro O nega três vezes.

1 Dali a dois dias, era a Páscoa e a Festa dos Pães Asmos; e os principais sacerdotes e os es­cribas procuravam como O prenderiam, à trai­ção, e O matariam.

2 Pois diziam: Não durante a festa, para que ► não haja tumulto entre o povo.

3 Estando Ele em Betânia, reclinado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher trazendo um vaso de alabastro com preciosíssimo perfume de nardo puro; e, quebrando o alabas­tro, derramou o bálsamo sobre a cabeça de Jesus.

4 Indignaram-se alguns entre si c diziam: Para que este desperdício de bálsamo?

5 Porque este perfume poderia ser vendido por mais de trezentos denários e dar-se aos po­bres. E murmuravam contra ela.

6 Mas Jesus disse: Deixai-a; por que a moles­tais? Ela praticou boa ação para comigo.

7 Porque os pobres, sempre os tendes convos­co c, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem, mas a Mim nem sempre Me tendes.

8 Ela fez o que pôde: antecipou-se a ungir- Me para a sepultura.

9 Em verdade vos digo: onde for pregado cm todo o mundo o evangelho, será também conta­do o que ela fez, para memória sua.

10 E Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os principais sacerdotes, para lhes entre­gar Jesus.

11 Eles, ouvindo-o, alegraram-se e lhe pro­meteram dinheiro; nesse meio tempo, buscava ele uma boa ocasião para O entregar.

12 E, no primeiro dia da Festa dos Pães Asmos, quando se fazia o sacrifício do cordeiro

pascal, disseram-Lhc Seus discípulos: Onde que­res que vamos fazer os preparativos para come­res a Páscoa?

13 Então, enviou dois dos Seus discípu­los, dizendo-lhes: Ide à cidade, e vos sairá ao encontro um homem trazendo um cântaro de água;

14 segui-o e dizei ao dono da casa onde ele entrar que o Mestre pergunta: Onde é o Meu aposento no qual hei de comer a Páscoa com os Meus discípulos?

15 E ele vos mostrará um espaçoso cenáculo mobilado e pronto; ali fazei os preparativos.

16 Saíram, pois, os discípulos, foram à cida­de e, achando tudo como Jesus lhes tinha dito, prepararam a Páscoa.

17 Ao cair da tarde, foi com os doze.18 Quando estavam à mesa e comiam, disse

Jesus: Em verdade vos digo que um dentre vós, o que come comigo, Me trairá.

19 E eles começaram a entristecer-se e a dizer-Lhe, um após outro: Porventura, sou eu?

20 Respondeu-lhes: E um dos doze, o que mete comigo a mão no prato.

21 Pois o Filho do Flomem vai, como está es­crito a Seu respeito; mas ai daquele por intermé­dio de quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido!

22 E, enquanto comiam, tomou Jesus um pão e, abençoando-o, o partiu e lhes deu, dizen­do: Tomai, isto é o Meu corpo.

23 A seguir, tomou Jesus um cálice e, tendo dado graças, o deu aos Seus discípulos; e todos beberam dele.

714

Page 106: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

652

MARCOS 14:1

24 Então, lhes disse: Isto é o Meu sangue, o san­gue da nova aliança, derramado cm favor de muitos.

25 Em verdade vos digo que jamais beberei do fruto da videira, até àquele dia em que o hei de beber, novo, no reino de Deus.

26 Tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras.

27 Então, lhes disse Jesus: Todos vós vos es­candalizareis, porque está escrito: Ferirei o pas­tor, e as ovelhas ficarão dispersas.

28 Mas, depois da Minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galileia.

29 Disse-Lhe Pedro: Ainda que todos se es­candalizem, eu, jamais!

30 Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que duas vezes cante o galo, tu Me negarás três vezes.

31 Mas ele insistia com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo Te negarei. Assim disseram todos.

32 Então, foram a um lugar chamado Gctscmani; ali chegados, disse Jesus a Seus dis­cípulos: Assentai-vos aqui, enquanto Eu vou orar.

33 E, levando consigo a Pedro, Tiago c João, começou a sentir-Se tomado de pavor e de angústia.

34 E lhes disse: A Minha alma está profun­damente triste até à morte; ficai aqui e vigiai.

35 E, adiantando-Se um pouco, prostrou-Se em terra; e orava para que, se possível, Lhe fosse poupada aquela hora.

36 E dizia: Aba, Pai, tudo Te é possível; passa de Mim este cálice; contudo, não seja o que Eu quero, e sim o que Tu queres.

> 37 Voltando, achou-os dormindo; e disse aPedro: Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora?

38 Vigiai e orai, para que não entreis em ten­tação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.

39 Retirando-Se de novo, orou repetindo as mesmas palavras.

40 Voltando, achou-os outra vez dormindo, porque os seus olhos estavam pesados; c não sa­biam o que Lhe responder.

41 E veio pela terceira vez e disse-lhes: Ainda dormis e repousais! Basta! Chegou a hora; o Filho do 11 ornem está sendo entregue nas mãos dos pecadores.

42 Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima.

43 E logo, falava Ele ainda, quando chegou Judas, um dos doze, e com ele, vinda da parte dos principais sacerdotes, escribas e anciãos, uma turba com espadas e porretes.

44 Ora, o traidor tinha-lhes dado esta senha: Aquele a quem eu beijar, é esse; prendei-o c le­vai-o com segurança.

45 E, logo que chegou, aproximando-se, dis- se-Lhe: Mestre! E O beijou.

46 Então, Lhe deitaram as mãos e O prenderam.

47 Nisto, um dos circunstantes, sacando da espada, feriu o servo do sumo sacerdote e cor­tou-lhe a orelha.

48 Disse-lhes Jesus: Saístes com espadas e porretes para prender-Me, como a um salteador?

49 Todos os dias Eu estava convosco no tem­plo, ensinando, e não Me prendestes; contudo, é para que se cumpram as Escrituras.

50 Então, deixando-O, todos fugiram.51 Seguia-0 um jovem, coberto unicamente

com um lençol, e lançaram-lhe a mão.52 Mas ele, largando o lençol, fugiu desnudo.53 E levaram Jesus ao sumo sacerdote, e reu­

niram-se todos os principais sacerdotes, os an­ciãos e os escribas.

54 Pedro seguira-O de longe até ao interior do pátio do sumo sacerdote e estava assentado entre os serventuários, aquentando-se ao fogo.

55 E os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho contra Jesus para O condenar à morte e não achavam.

56 Pois muitos testemunhavam falsamcn- te contra Jesus, mas os depoimentos não eram coerentes.

57 E, levantando-se alguns, testificavam fal­samente, dizendo:

58 Nós o ouvimos declarar: Eu destruirei este santuário edificado por mãos humanas e,

715

Page 107: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

14:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENT1STA

em três dias, construirei outro, não por mãos humanas.

59 Nem assim o testemunho deles era coerente.

60 Levantando-se o sumo sacerdote, no meio, perguntou a Jesus: Nada respondes ao que estes depõem contra Ti?

61 Ele, porem, guardou silêncio e nada respon­deu. Tornou a interrogá-Lo o sumo sacerdote e Lhe disse: És Tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito?

62 Jesus respondeu: Eu sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu.

63 Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes e disse: Que mais necessidade temos de testemunhas?

64 Ouvistes a blasfêmia; que vos parece? E todos O julgaram réu de morte.

65 Puseram-se alguns a cuspir nEle, a co- brir-Lhe o rosto, a dar-Lhc murros e a dizer-Lhe: Profetiza! E os guardas o tomaram a bofetadas.

66 Estando Pedro embaixo no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote

67 e, vendo a Pedro, que se aquentava, fi­xou-o e disse: Tu também estavas com Jesus, o Nazareno.

68 Mas ele o negou, dizendo: Não O conhe­ço, nem compreendo o que dizes. E saiu para o alpendre. E o galo cantou.

69 E a criada, vendo-o, tornou a dizer aos cir­cunstantes: Este é um deles.

70 Mas ele outra vez o negou. E, pouco depois, os que ali estavam disseram a Pedro: Verdadeiramente, és um deles, porque também Lu és galileu.

71 Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais!

72 E logo cantou o galo pela segunda vez.Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que duas vezes cante o galo, tu Me negarás três vezes. E, caindo em si, desa­tou a chorar. <

I. Dali a dois dias. [O plano para tirar a vida de Jesus, Mc 14:1, 2, 10, 11 = Mt 26:1-5, 14-16 = Lc 22:1-6. Comentário principal: Mt].

3. Estando Ele em Betânia. [Jesus ungido em Betânia, Mc 14:3-9 = Mt 26:6-13 = Lc 7:36-50 = Jo 12:1-8. Comentário princi­pal: Mt e Lc].

8. Ela fez o que pôde. Ou seja, a mulher fez o melhor uso possível do que tinha nas mãos. Isso é o que Deus espera de todos, nada mais e nada menos.

10. Judas. [O pacto da traição, Mc 14:10, 11 = Mt 26:14-16 = Lc 22:3-6].

II. Eles [...] alegraram-se. Talvez o oferecimento de Judas tenha ocorrido justo no momento em que eles estavam prestes a desistir de colocar em prática seus planos (ver com. de Mt 26:15).

Boa ocasião. Ver com. de Mt 26:5, cf. Mc 14:2.

12. Sacrifício do cordeiro pascal. [Osdiscípulos preparam a Páscoa, Mc 14:12-16 =

Mt 26:17-19 = Lc 22:7-13. Comentário prin­cipal: Mt].

13. Um homem. Aparentemente, um servo, e não o dono da casa (ver v. 14). Era incomum a um homem carregar água em um “cântaro” ou em outro recipiente de barro; geralmente isso era feito por mulhe­res. Os homens geralmente transportavam água em odres.

14. Dono da casa. Do gr. despotês (ver com. de Lc 2:29).

Aposento. Do gr. kataluma, palavra uti­lizada nos papiros para descrever qualquer local de hospedagem (ver com. de Lc 2:7).

15. Um espaçoso cenáculo. Do gr. anagaion, literalmente, qualquer quarto acima do nível do solo, portanto, um quarto na parte superior da casa. Outro termo grego, huperõon significa estrita­mente “sala superior” (cf. At 1:13; sobre a identificação desta sala, ver com. de Mt 26:18).

716

£S9

Page 108: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

MARCOS 14:61

Mobilado. Literalmente “espalhado”. Aqui, a referência deve ser à disposição dos solas ou almofadas na sala (ver com. de Mc 2:15).

Pronto. Talvez em antecipação da Páscoa.17. Ao cair da tarde. [O traidor é indi­

cado, Mc 14:17-21 = Mt 26:20-25. Comentá­rio principal: Mt]. Isto é, à noite do “primeiro dia da Festa dos Pães Asmos” (v. 12; sobre a cronologia da Última Ceia, ver Nota Adicional 2 a Mateus 26; ver com. de Jo 13:21-30).

18. Quando estavam à mesa. Ou, “assen­tados a comer” (ARC; ver com. de Mc 2:15).

22. Enquanto comiam. [A Ceia do Senhor, Mc 14:22-26 = Mt 26:26-30 = Lc 22:19-23 = ICo 11:23-25. Comentário principal: Mt].

26. Tendo cantado um hino. Ver com. de Mt 26:30.

27. Todos vós vos escandalizareis. [Pedro é avisado, Mc 14:27-31 = Mt 26:31- 35 = Lc 22:31-34 = Jo 13:36-38. Comentário principal: Mt].

Em mim (ARC). A evidência textual favorece a omissão (cf. p. 136) destas pala­vras, porém as estabelece em Mateus 26:31.

30. Hoje. Segundo o cômputo judaico, ao pôr do sol já havia começado o sexto dia da semana, e o julgamento e a crucifixão ocor­reriam antes do pôr do sol seguinte.

Duas vezes. Apenas Marcos observa este detalhe.

32. Então, foram. [Jesus no Getsêmani, Mc 14:32-42 = Mt 26:36-56 = Lc 22:39-46. Comentário principal: Mt].

35. Aquela hora. Ou seja, os eventos daquela hora.

40. Não sabiam. Detalhe observado apenas por Marcos. Há outra situação

semelhante em que os discípulos fica­ram sem palavras (ver Mc 9:6).

41. Basta! Nos papiros, a palavra grega assim traduzida ocorre em recibos para indi­car que o pagamento integral fora efetuado (ver com. de Mt 6:2). Jesus quis dizer que os discípulos haviam dormido o suficiente ou que o debate desse assunto específico estava terminado.

51. Um jovem. [Jesus, seguido por um jovem, Mc 14:51, 52]. Este incidente aparen­temente trivial não parece ter relação com os acontecimentos da noite, contudo deve haver algum motivo para sua inclusão na narrativa. Alguns sugerem que o autor do evangelho, João Marcos (ver At 12:12), aqui se refere enigmaticamente à sua própria ligação com a prisão de Jesus. Esse “jovem” dificilmente pode ter sido um dos discípulos, pois todos eles já haviam abandonado Jesus e fugido (Mc 14:50). Deve-se salientar, no entanto, que qualquer sugestão sobre a identidade do t jovem é apenas uma conjectura, mesmo que pareça plausível. Por parte de João, houve uma omissão intencional de sua identidade (ver Jo 21:20-24).

52. Desnudo. O mais provável é que ele estivesse vestido apenas com a roupa de baixo, ou túnica (ver com. de Mt 5:40; Jo 21:7).

53. Levaram Jesus. [Jesus perante o Sinédrio, Mc 14:53-65 = Mt 26:57-68 = Lc 22:63-71. Comentário principal: Mt].

54. Fogo. Literalmente, “luz”. Foi, sem dúvida, a luz do fogo, que revelou Pedro.

61. Bendito. Uma forma de designar a Divindade, a fim de evitar o uso do sagrado nome de Yahweh (ver vol. 1, p. 149, 150).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

3 - MCF1, 80; T6, 310 3-11 - DTN, 557-568 6-8 - DTN, 560 6 - T4, 550

7 - CM, 161; CBV, 201, 205; 17-25 - DTN, 652-661 PR, 652; T4, 552 27, 29 - PJ, 152; DTN, 688

9- T4, 551 29-31 - DTN, 67310- DTN, 564 30-DTN, 712

Page 109: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

15:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

32-50 - DTN, 685-697 34-38 - T8, 100 37, 38 - DTN, 689 38-DTN, 126; PE, 167;

OE, 163; PP, 689; Te,

192; T2, 49, 89, 101, 490, 53-72 - DTN, 698-715 511; T3, 476; T5, 34, 115, 56 -TM, 71 146; T6, 410 58, 60 - DTN, 706

40-DTN, 690 70-DTN, 71250-DTN, 697 72-PJ, 152

Capítulo 151 Jesus é atado e levado diante de Pilatos. 15 Barrabás é posto em liberdade pelo

clamor da multidão e Jesus é entregue para ser crucificado. 17 Ele é coroado com espinhos, 19 cuspido e escarnecido. 21 Ele desmaia ao carregar a cruz.

27 É crucificado entre dois ladrões, 29 sofre os insultos dos judeus, mas 39 é reconhecido como o Filho de Deus pelo centurião.

43 É honrosamente sepidtado por José de Arimateia.

1 Logo pela manhã, entraram em conselho os principais sacerdotes com os anciãos, os es­cribas e todo o Sinédrio; e, amarrando a Jesus, levaram-No c O entregaram a Pilatos.

2 Pilatos O interrogou: És Tu o rei dos ju­deus? Respondeu Jesus: Tu o dizes.

3 Então, os principais sacerdotes O acusa­vam de muitas coisas.

4 Tornou Pilatos a interrogá-Lo: Nada respon­des? Vê quantas acusações Tc fazem!

5 Jesus, porém, não respondeu palavra, a ponto de Pilatos muito se admirar.

6 Ora, por ocasião da festa, era costume soltar ao povo um dos presos, qualquer que eles pedissem.

7 Havia um, chamado Barrabás, preso com amotinadores, os quais cm um tumulto haviam cometido homicídio.

8 Vindo a multidão, começou a pedir que lhes fizesse como de costume.

9 E Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que eu vos solte o rei dos judeus?

10 Pois ele bem percebia que por inveja os principais sacerdotes lho haviam entregado.

11 Mas estes incitaram a multidão no senti­do de que lhes soltasse, de preferência, Barrabás.

12 Mas Pilatos lhes perguntou: Que larei, então, deste a quem chamais o rei dos judeus?

13 Eles, porém, clamavam: Crucifica-O!

14 Mas Pilatos lhes disse: Que mal fez Ele?E eles gritavam cada vez mais: Crucifica-O!

15 Então, Pilatos, querendo contentar a mui- « tidão, soltou-lhes Barrabás; e, após mandar açoi­tar a Jesus, entregou-0 para ser crucificado.

16 Então, os soldados O levaram para den­tro do palácio, que é o pretório, e reuniram todo o destacamento.

17 Vestiram-No de púrpura e, tecendo uma coroa de espinhos, Lha puseram na cabeça.

18 E O saudavam, dizendo: Salve, rei dos judeus!

19 Davam-Lhe na cabeça com um caniço, cuspiam nEle e, pondo-se de joelhos, O adoravam.

20 Depois de O terem escarnecido, despiram- Lhe a púrpura e O vestiram com as suas próprias vestes. Então, conduziram Jesus para fora, com o fim de O crucificarem.

21 E obrigaram a Simão Cireneu, que passa­va, vindo do campo, pai de Alexandre e de Rufo, a carregar-Lhe a cruz.

22 E levaram Jesus para o Cólgota, que quer dizer Lugar da Caveira.

23 Deram-Lhe a beber vinho com mirra; Ele, porém, não tomou.

24 Então, o crucificaram e repartiram entre si as vestes dElc, lançando-lhes sorte, para ver o que levaria cada um.

718

SS9

Page 110: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

656

MARCOS 15:21

25 Era a hora terceira quando O crucificaram.26 E, por cima, estava, em epígrafe, a sua

acusação: O Rei dos Judeus.27 Com Ele crucificaram dois ladrões, um à

Sua direita, e outro à Sua esquerda.28 E cumpriu-Se a Escritura que diz: Com

malfeitores foi contado.29 Os que iam passando, blasfemavam dEle,

meneando a cabeça e dizendo: Ah! Tu que des­tróis o santuário e, em três dias, o reedificas!

30 Salva-Te a Ti mesmo, descendo da cruz!31 De igual modo, os principais sacerdotes

com os escribas, escarnecendo, entre si diziam: Salvou os outros, a Si mesmo não pode salvar-Se;

32 desça agora da cruz o Cristo, o rei de Israel, para que vejamos e creiamos. Também os que com Ele foram crucificados O insultavam.

33 Chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até a hora nona.

34 À hora nona, clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Que quer dizer: Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?

35 Alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Vede, chama por Elias!

36 E um deles correu a embeber uma espon­ja em vinagre c, pondo-a na ponta de um cani­ço, dcu-Lhe de beber, dizendo: Deixai, vejamos se Elias vem tirá-Lo!

37 Mas Jesus, dando um grande brado, expirou.

38 E o véu do santuário rasgou-se em duas partes, dc alto a baixo.

39 O centurião que estava em frente dEle, vendo que assim expirara, disse: Verdadeira mente, este homem era o Filho de Deus.

40 Estavam também ali algumas mulhe­res, observando de longe; entre elas, Maria Madalena, Maria, mãe de I iago, o menor, e dc José, e Salomé;

41 as quais, quando Jesus estava na Caldeia, O acompanhavam e serviam; e, além destas, muitas outras que haviam subido com Ele para Jerusalém.

42 Ao cair da tarde, por ser o dia da prepara­ção, isto é, a véspera do sábado,

43 vindo José de Arimateia, ilustre membro do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus, dirigiu-se resolutamente a Pilatos e pediu o corpo de Jesus.

44 Mas Pilatos admirou-se de que Ele já ti­vesse morrido. E, tendo chamado o centurião, perguntou-lhe se havia muito que morrera.

45 Após certificar-se, pela informação do co­mandante, cedeu o corpo a José.

46 Este, baixando o corpo da cruz, envolveu-o em um lençol que comprara e o depositou em um túmulo que Linha sido aberto numa rocha; e rolou uma pedra para a entrada do túmulo.

47 Ora, Maria Madalena e Maria, mãe de José, observaram onde Ele foi posto.

1. Logo pela manhã. [Jesus perante Pilatos, Mc 15:1-15 = Mt 27:1, 2, 11-26 = Lc 23:1-7, 13-25; Jo 18:28-19:16. Comentário principal: Lc],

2. Pilatos O interrogou. Ver com. de Lc 23:1-5.

3. Ele nada respondia (ARC). A evi- ► dcncia textual favorece a omissão (cf. p. 136)

destas palavras, como na ARA.6. Por ocasião da festa. Ver com. dc

Mt 27:1, 2, 11-31.Era costume soltar. Era prática habitual. 15. Querendo contentar a multidão.

Era mais do que um simples desejo dc Pilatos; ele estava ansioso de agradar o povo, se pos­sível, para que as descontroladas paixões da turba não desencadeassem uma revolta.

16. Então, os soldados. [Jesus entregue aos soldados, Mc 15:16-20 = Mt 27:27-311.

20. Conduziram Jesus para fora. [A crucifixão, Mc 15:20-41 = Mt 27:31-56 = Lc 23:26-49 = Jo 19:17-37. Comentário principal: Mt e Jo],

21. Pai de Alexandre e de Rufo. [Simão leva a cruz de Jesus, Mc 15:21 = Mt 27:32 = Lc 23:26]. Apenas Marcos registra isto.

719

Page 111: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

657

15:22 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

22. Gólgota. [A crucifixão, Mc 15:22-41 = Mt 27:33-49 = Lc 23:33-49 = Jo 19:17-30. Comentário principal: Mt e Jo.]

28. A Escritura. Uma citação de Isaías 53:12. A evidência textual (cf. p. 136) tende a omitir esta citação de Isaías, que, no entanto, é confirmada em Lucas 22:37.

37. Expirou. Ver com. de Mt 27:50.40. Maria, mãe. Nada mais se sabe a

respeito desta Maria, a não ser a menção feita a ela pelos evangelistas em relação com a morte, o sepultamento e a ressurreição de Jesus. Alguns têm identificado esta Maria com a esposa de Cleopas (ou Clopas; ver com. de Jo 19:25; cf. com. de Mc 3:18).

Salomé. Uma comparação com Mateus 27:56 indica que Salomé era, possivelmente, a mãe de Tiago e João, filhos de Zebedeu. Também tem-se sugerido que ela era irmã de Maria, mãe de Jesus (ver com. de Jo 19:25).

42. Preparação. [O sepultamen­to de Jesus, Mc 15:42-47 = Mt 27:57-61 = Lc 23:50-56 = Jo 19:38-42. Comentário

principal: Mt e Mc; ver mapa, p. 222; e grá­ficos 8 e 9, p. 229, 230]. Do gr. paraskeuê, “preparação”, palavra cujo uso no NT deve se aplicar tanto ao dia anterior a um sába­do quanto ao dia que precedia a um dia de festa (ver p. 93, 94).

Véspera do sábado. Era o sábado sema­nal (ver Nota Adicional 1 a Mateus 26). A pre­cisa afirmação de Marcos, juntamente com a sequência de dias em Lucas 23:54 a 24:1, torna claro que a sexta-feira foi o dia da crucifixão.

45. Corpo. Do gr. ptõma, termo que só pode se referir a um corpo morto, “cadáver”. Esta é a única ocorrência de ptõma no NT. A palavra grega usual para “corpo” é sõma (ver Mt 27:59; Lc 23:52; Jo 19:40).

47. Observaram. No texto grego, isto significa que as mulheres observavam aten­tamente o sepultamento de Jesus, fazendo planos para embalsamar Seu corpo depois que as horas sagradas do sábado tivessem passado (ver Lc 23:55-24:1).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-20 - DTN, 723-740 2, 4, 5 - DTN, 726 9 - DTN, 733 16-19 - DTN, 734

20-38 - DTN, 741-757 26 - PE, 179 31 - HR, 222 31, 32-DTN, 749

32-PE, 179 34 - PJ, 196;

HR, 226 44 - DTN, 773

Capítulo 16I Um anjo anuncia a ressurreição de Cristo a três mulheres. 9 O próprio Cristo Se

apresenta a Maria Madalena, 12 a dois outros no caminho para o campo e,14 em seguida, aos apóstolos, 15 a quem envia para pregar

o evangelho. 19 Depois, Ele ascende ao Céu.

1 Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem embalsamá-Lo.

► 2 E, muito cedo, no primeiro dia da semana,ao despontar do sol, foram ao túmulo.

3 Diziam umas às outras: Quem nos remo­verá a pedra da entrada do túmulo?

4 E, olhando, viram que a pedra já estava re­movida; pois era muito grande.

5 Entrando no túmulo, viram um jovem

720

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MARCOS 16:9

assentado ao lado direito, vestido de braneo, e ficaram surpreendidas e atemorizadas.

6 Ele, porém, lhes disse: Não vos atemori­zeis; buscais a Jesus, o Nazareno, que foi cruci­ficado; Ele ressuscitou, não está mais aqui; vede o lugar onde O tinham posto.

7 Mas ide, dizei a Seus discípulos e a Pedro que Ele vai adiante de vós para a Galileia; lá O vereis, como Ele vos disse.

8 E, saindo elas, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de temor e de assombro; e, de medo, nada disseram a ninguém.

9 Havendo Ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual expelira sete demônios.

10 E, partindo ela, foi anunciá-lo àqueles que, tendo sido companheiros de Jesus, se achavam tristes e choravam.

11 Estes, ouvindo que Ele vivia e que fora visto por ela, não acreditaram.

12 Depois disto, manifestou-Se em outra forma a dois deles que estavam de caminho para o campo.

13 E, indo, eles o anunciaram aos demais, mas também a estes dois eles não deram crédito.

14 Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incre­dulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que O tinham visto já ressuscitado.

15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pre­gai o evangelho a toda criatura.

16 Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.

17 Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em Meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas;

18 pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuse­rem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados.

19 De fato, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-Se à destra de Deus.

20 E eles, tendo partido, pregaram cm toda parte, cooperando com eles o Senhor e con­firmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam.

1. Passado o sábado. [A ressurrei­ção de Jesus, Mc 16:1-8 = Mt 28:1-10 = Lc 24:1-12 = Jo 20:1-10. Comentário principal: Mt e Jo]. Ou, "havia transcorrido”, isto é, entre os acontecimentos de Marcos 15 e os de Marcos 16. Desse modo, fica claro que a ressurreição ocorreu no primeiro dia da semana, e não antes, como alguns têm pro­posto (ver com. de Mt 28:1).

Miaria Madalena. Ver Nota Adicional a Lucas 7.

Compraram aromas. Estas especia­rias devem ter sido compradas depois do pôr do sol, na noite de sábado mas que já era domingo para elas; às quais foram acres­centadas aquelas que as mulheres tinham preparado na sexta-feira (ver Lc 23:56) e as que Nicodemos proveu (ver jo 19:39).

2. Muito cedo. Ver com. de Mt 28:1.7. Pedro. Apenas Marcos se refere a

Pedro por nome aqui (cf. p. 611). O fato de Jesus o mencionar nominalmente, era uma indicação de que, apesar de seus erros, Pedro ainda era reconhecido e incluído entre os mais próximos de Jesus, porque ele havia se arrependido sinceramente (ver Mt 26:75; Mc 14:72; DTN, 713).

8. Nada disseram. Ou seja, eles não disseram nada para aqueles com quem se encontraram ao entrar na cidade. Alguns interpretam mal essa declaração para indi­car que as mulheres não disseram nada aos discípulos, e que, portanto, Marcos aqui contradiz os outros evangelhos. Mas esta conclusão não tem fundamento.

9. Havendo Ele ressuscitado. [Jesus aparece a Maria Madalena, Mc 16:9-11 = Jo 20:11-18]. A evidência textual favorece (cf. p. 136) a omissão dos v. 9 a 20, e a conclusão do evangelho de Marcos seria,

721

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658

16:1 1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

portanto, no v. 8. Os comentaristas favorá­veis à omissão desses versículos mencionam alguns fatores como diferenças de estilo literário e idioma, com o uso de palavras e frases nesses versículos que não são carac­terísticas de Marcos, além da transição abrupta entre os v. 8 e 9. Esses versos são chamados de “final longo” de Marcos. Em vez desse final mais longo, alguns manuscri­tos antigos têm o que é chamado de linal

► mais curto”: “Mas eles relataram breve­mente a Pedro e aos que com ele estavam tudo o que tinha sido dito. E depois disso, o próprio Jesus enviou por meio deles, de leste a oeste, a proclamação sagrada e impe­recível de salvação eterna” (RSV). Tomada como um todo, contudo, a evidência textual favorece o final chamado “mais longo” (ver com. do v. 14).

11. Não acreditaram. Este registro da incredulidade dos discípulos, mesmo em face de testemunhos que afirmavam a res­surreição de Cristo, constitui uma forte evi­dência em favor da precisão e confiabilidade do relato histórico da ressurreição, inclusive cm seus mínimos detalhes.

12. Depois disto. IJesus aparece a dois de Seus discípulos, Mc 16:12, 13 = Lc 24:13-35. Comentário principal: Lc].

Em outra forma. Possivelmente uma referência ao corpo ressuscitado de Jesus em contraste com Seu corpo antes da res­surreição, ou ao fato de que Jesus não loi reconhecido pelos discípulos no caminho de Emaús.

13. Eles não deram crédito. Ver com. de Lc 24:34, 35, 41.

14. Finalmente. [A ordem para a evan­gelização, Mc 16:14-18 = Mt 28:16-20 = Jo 20:24-29. Comentário principal: JoJ. Quanto à sequência cronológica das mani­festações posteriores à ressurreição, ver Nota Adicional a Mateus 28.

Aos onze. Um termo tecnicamente correto, pois o grupo de doze seguidores

especiais de Jesus havia se reduzido a onze, após a traição e o suicídio de judas. Ainda assim, eram chamados pelo termo familiar “os doze” (ver Jo 20:24).

Quando estavam à mesa. Parece que os discípulos transformaram em sua habita­ção temporária o aposento superior cm que tinham participado juntos da Ultima Ceia.

Censurou-lhes. A incredulidade me­rece reprovação quando persiste apesar de haver evidências suficientes contra ela.

Dureza de coração. Ver com. de Êx 4:21. Um antigo manuscrito, o Códice Freeriano (ver p. 105), também conhecido como o Washingtonense, acrescenta ao v. 14 o que, às vezes, é chamado de “Freer Logion”. Este acréscimo tem indícios incon­fundíveis de ser uma interpolação posterior, e só tem interesse como uma curiosidade textual.

15. Ide. Aqui não há nada no relato que indique uma mudança de tempo ou de lugar diferentes do v. 14. No entanto, estes versí­culos são, provavelmente, um breve relato de parte das amplas instruções que Jesus deu a cerca de 500 pessoas reunidas em uma montanha na Galileia (ver com. de Mt 28:16, 19; cf. DTN, 818, 821). “Várias vezes foram as palavras repetidas, a fim de que os discípulos lhes apreendessem o signi­ficado” (DTN, 818). Este fato pode explicar as diversas versões da comissão evangélica apresentadas pelos evangelistas.

16. Será salvo. Aqui se apresentam dois requisitos para os que aceitam os ensi­nos do evangelho: fé em Jesus e batismo. O primeiro é a aceitação íntima da salva­ção proporcionada pela morte vicária do Redentor do mundo; o segundo é a demons­tração externa de uma mudança interior da vida (ver com. de Rm 6:3-6).

Não crer. Deve-se notar que, se alguém é condenado, é por causa da incredulidade. Aqui não se faz referência ao batismo em sentido positivo ou negativo, pois a realidade

722

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659

MARCOS 16:20

interior da salvação transcende amplamente em importância ao sinal exterior. A falta do batismo simplesmente significaria uma demonstração externa de descrença inte­rior, a qual, por si mesma, é suficiente para impedir que a pessoa desfrute as bênçãos da salvação. Talvez aqui, Jesus previa que, à semelhança do ladrão na cruz, haveria casos em que homens e mulheres verdadei­ramente convertidos não poderiam receber o rito do batismo.

17. Estes sinais. Isto é, as demonstra­ções sobrenaturais e miraculosas do poder divino (ver p. 204, 205). No entanto, mesmo que os milagres sejam valiosos, não é impos­sível fasificá-los ou fazer circular notícias de supostos milagres. Essas notícias tendem a confundir o incauto e atrair o crédulo. Em realidade, os milagres não constituem a evi­dência mais poderosa de que seja genuína a manifestação do evangelho (DTN, 406, 799).

► Deve-se lembrar que Jesus Se recusou a rea­lizar milagres como sinais.

Expelirão demônios. Ver Nota Adi­cional a Marcos 1.

Novas línguas. Ver At 2:4; 10:46; 19:6; JCo 12:28; 14:2-5. Durante o ministério de Cristo não havia sido dado o dom de línguas aos doze, pois não era necessário. Este dom lhes foi concedido quando se tornou neces­sário (ver com. de ICo 14).

18. Serpentes. Ver com. de Lc 10:19.Coisa mortífera. Jesus aqui usa como

ilustrações casos que normalmente resul­tam em danos graves ou morte e promete que os mensageiros do evangelho, em muitas

ocasiões, receberão um proteção especial, de acordo com a vontade do Pai.

impuserem as mãos. Ver com. de Mc 1:31.

19. Depois de lhes ter falado. [A as­censão de Jesus, Me 16:19, 20 = Le 24:50- 53 - At 1:6-11. Comentário principal: Lc]. Esta frase de transição sugere que a ascen­são ocorreu imediatamente após a comissão dos v. 15 a 18. Contudo, não parece ter sido o caso. E mais provável que aqui se faça re- ferência a um intervalo mais prolongado (ver com. de Mc 16:15).

À destra. A posição de honra e autori­dade. A exaltada posição de Cristo no Céu frequentemente é o tema de vários escrito­res do NT (ver At 7:55; Rm 8:34; Ef 1:20; Cl 3:1; Hb 1:3; 8:1; 10:12; 1 Pc 3:22; Ap 3:21).

20. Eles, tendo partido. Somente em Marcos se descreve, ousadamente, os triun­fos do evangelho realizados pelo Espírito Santo mediante os apóstolos, durante os primeiros anos após a ascensão de Cristo.

Pregaram em toda parte. Esta foi e continua sendo a missão dos seguidores de Cristo (ver Mc 16:15).

Cooperando com eles. Na providên­cia de Deus, o poder divino sempre se unirá ao esforço humano.

Confirmando a palavra. Parcialmente, mediante a evidência do poder divino mani­festado pelos “sinais”, a que se faz referên­cia nos v. 17 e 18.

Amém (ARC)! A evidência textual favo­rece (ef. p. 136) a omissão desta palavra, como na ARA.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1 - DTN, 7691 . 2 - PE, 1861-8 - DTN, 788-7942 . 3 - DTN, 7887 - P J , 156; DTN, 793; Ed,

90; T4, 488

9 - DTN, 568 15 - AA, 174; SC, 9, 23; PJ,

300, 303, 371; CPPE, 466; DTN, 369, 818; Ed, 264; Ev, 301; FEC, 199, 201; GC, 351; OE, 115;

CBV, 106; MCH, 226; MS, 327; TM, 401; T3, 406, 408; T4, 472; T5, 391, 456; T6, 89, 273, 447, 480; T7, 39; T8, 15, 16, 119, 215; T9, 39, 136,

723

Page 115: Comentário Bíblico Adventista - Evangelho de Marcos

16:20 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

255; BS, 187 CPPE, 466; CBV, 148,17, 18 - CS, 497; DTN, 821, 226; MCI I, 226;

823; PE, 29 T4, 22518 - CS, 34, 391; 19, 20 - CS, 553; T7, 114

2 0 - A A , 599; CS, 498;CE, 20; DTN, 827;CBV, 139; MS, 319;T6, 480; T8, 15; T9, 141 <

724

660