1. Editora Fiel MARTINHO LUTERO Verso condensada e de fcil
leitura do clssico A Escravido da Vontade (Martinho Lutero),
publicado inicialmente em 1525 Preparado por Cliffor Pond Editor
Geral: J.K.Davies, B.D., Th.D.
2. Ttulo do Original: Born Slaves Copyright 1984 Grace
Publication Trust Primeira Edio em Portugus: 1992 Segunda Edio em
Portugus: 2007 Todos os direitos em lngua portuguesa reservados por
Editora Fiel da Misso Evanglica Literria Proibida a reproduo deste
livro por quaisquer meios, sem a permisso escrita dos editores,
salvo em breves citaes, com indicao da fonte. Editor: Pr. Richard
Denham Coordenao Editorial: Tiago Santos Traduo: Editora Fiel
Reviso: Laura Macal; Tiago Santos Capa e diagramao: Edvnio Silva
Direo de arte: Rick Denham ISBN: 978-8599145-30-2 Editora Fiel
Misso Evanglica Literria Av. Cidade Jardim, 3978 Bosque dos
Eucaliptos So Jos dos Campos-SP PABX.: (12) 3936-2529
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3. Sumrio Prefcio Edio em
Portugus...................................................... 7
Prefcio: A
Questo.............................................................
11 Apresentao: O Pano de Fundo do Livro e a Controvrsia com
Erasmo.................................... 13 Captulo 1: O Que
Ensinam as Escrituras............................... 17 Captulo 2:
O Que Erasmo ensinava....................................... 43
Captulo 3: O Que Lutero Pensava Sobre o Ensino de
Erasmo.................................... 67 Captulo 4: Comentrio
de Lutero .......................................... 87 Post
Scriptum: Histria Posterior da Controvrsia e sua Importncia
Atual........................................ 99
4. Prefcio Edio em Portugus
MartinhoLutero,aovenervelD.ErasmodeRotterdam, com os votos de Graa
e Paz em Cristo. assim que Lutero introduz a sua obra De Servo
Arbtrio, A Escravido da Vontade, resposta famosa Diatribe sobre o
Livre Arbtrio, que Erasmo publicou em 1524. Desidrio Erasmo (c.
1466-1536) e Martinho Lutero (1483-1546) permanecem como dois nomes
precursores do esprito moderno, e entre eles h algumas semelhanas.
Esses dois gigantes intelectuais europeus protagonizaram no
contexto explosivo, destinado a dissolver a unidade do mundo
medieval. Havendo passado pela Ordem agostiniana, ambos vieram a
rejeitar mtodos hermenuticos da Igreja Romana, bem como muitas de
suas supersties e crendices. Ambos ofereceram grande con- tribuio
disseminao do texto bblico em sua poca. Detentores de enorme
capacidade para o debate acadmico, erudito, e partilhando de
talento literrio, ambos escreveram acerca do livre arbtrio, embo-
ra com uma diferena diametral: Erasmo, o humanista, defendendo; e
Lutero, o reformador, condenando. Isto marcou uma ruptura
definitiva entre os dois homens, que, anteriormente, ofereciam-se
mtuo enco- rajamento. Desde o debate de Leipzig (1519), os caminhos
de ambos vinham conduzindo a rumos diferentes.
5. Nascido Escravo Publicado inicialmente em 1525, A Escravido
da Vontade um primor de composio polmica. Nesta obra transparecem
com bastante evidncia a personalidade e a franqueza dos sentimentos
de Lutero. A fora lgica e persuasiva de seus argumentos revelam a
mente treinada na disciplina da escolstica medieval. O estilo
polmico de Lutero era o da poca em que viveu e traduz o vapor
existente na atmosfera aca- dmica de ento. Na obra original (tanto
mais do que no sumrio aqui apresentado), h ironias, asperezas, ad
hominems e aluses indiretas. No obstante, o leitor deve comparar o
texto luterano muito mais com o bisturi de um resoluto cirurgio do
que com a pena de um clnico em seu receiturio. Na estima de Lutero,
o tratado erasmiano era uma obra da carne. Contendo uma anamnese
mal feita, partia de um princpio falso e oferecia um placebo para
uma ferida mortal. Lutero repudia a Diatribe de Erasmo expondo a
doutrina bblica do pecado original. Sem um diagnstico preciso
acerca da enfermidade humana, no h como discernir de maneira
apropriada o valor das boas-novas do evangelho da graa de Cristo.
Em sua rplica, Lutero procede a um honesto e rigoroso exame das
Escrituras Sagradas, evidentemente preterido por Erasmo. Foi com a
compreenso do puro evangelho que se abriu para Lutero a noo do
cativeiro radical da vontade. Sem nenhuma dvida, na dou- trina da
depravao do homem situa-se a pedra angular da Reforma. No corao da
teologia de Lutero e da doutrina da justificao, est a sua
compreenso da depravao original e da pecaminosidade do ho- mem que
ele conheceu muito bem, mesmo como um monge asceta na Ordem
agostiniana. O reformador est muito bem qualificado para tratar do
assunto da impiedade e da depravao. O que a verdadeira liberdade?
Neste caso, v-se tambm que o discurso sobre a condio servil da
vontade no visa a outra coisa, se no ao discurso correto sobre a
liberdade. Para Lutero, a livre vontade um termo divino, e no cabe
a ningum, a no ser unicamente ma- jestade divina. Conceder ao ser
humano tal atributo significaria nada menos do que atribuir-lhe a
prpria divindade, usurpando a glria do
6. Prefcio Edio em Portugus Criador. Lutero, assim, compreende
que a pergunta pela liberdade da vontade no fundo a pergunta pelo
poder da vontade. Por isso mesmo, a livre vontade predicado de
Deus. poder essencialmente especfico do prprio Deus. Lutero
considerava A Escravido da Vontade a sua melhor e mais til
publicao. O valor deste tratado inestimvel realmente, e poucos
livros h que sejam to necessrios no presente momento. O atual
ensino de muitos que se denominam protestantes est em maior acordo
com os dogmas papistas, ou com as idias de Erasmo, do que com os
princ- pios dos Reformadores; analisado criticamente, tal ensino
est em maior harmonia com os Cnones e Decretos do Conclio de Trento
do que com as Confisses de F Protestantes e Reformadas. O que o
leitor tem em mos uma verso condensada e adaptada, facilitando o
acesso ao clssico texto luterano. Oramos sinceramente que o Senhor
abenoe o leitor e que este, abraando com f o Eleito de Deus, Jesus
Cristo, batalhe por manter sua Causa e sua Verdade nestes dias em
que muito tem sido perdido. Que o livro seja um meio de edifi- cao
e fortalecimento para todos quantos desejam ser instrudos pelos
orculos de Deus! Gilson Santos Maio, 2007 So Jos dos Campos SP
7. 10 Nascido Escravo
8. Prefcio A Questo A questo : Possui o homem algo chamado li-
vre-arbtrio? Pode um ser humano, voluntariamente e sem qualquer
ajuda, voltar-se para Cristo a fim de ser salvo de seus pecados?
Erasmo respondia com um Sim!. Lutero, com um ressoante No! Lutero
estava convencido de que o conceito do livre-arbtrio fere no mago a
doutrina bblica da salvao exclusivamente pela graa. Precisamos ter
a mesma convic- o. Devemos combater o livre-arbtrio to
vigorosamente quanto o fazia Lutero. Erasmo, o seu opositor, dizia:
Posso conceber o livre-arbtrio como um poder da vontade huma- na,
mediante o qual um homem pode aplicar-se quelas coisas que conduzem
eterna salvao, ou pode afastar-se delas. A isso devemos replicar
com um resoluto No! O homem j nasce escravo do pecado! O homem no
livre.
9. 12 Nascido Escravo
10. MartinhoLuteroescreveuAEscravidodaVontadecomo reao aos
ensinamentos de Desidrio Erasmo. Nascido em Rotterdam, na Holanda,
entre 1466 e 1469, Erasmo foi monge agostiniano durante sete anos,
antes de viajar para a Inglaterra, onde foi motivado a aprofun- dar
seu conhecimento do grego, chegando a produzir um texto crtico do
Novo Testamento Grego (1516). Ele rejeitava os mtodos fantasiosos
de interpretao das Escrituras, bem como as muitas supersties dos
mestres da Igreja Catlica Romana. Rebelou-se contra a preguia e o
vcio, comuns nos mosteiros, mas, apesar disso, no foi um crente no
evangelho. Ele era um humanista, pois acreditava que os homens
podem conquistar a salvao, ao invs de dependerem exclusivamente de
Jesus Cristo em sua morte e ressurreio. Erasmo acertadamente prefe-
apresentao O Pano de Fundo do Livro e a Controvrsia com Erasmo
11. 14 Nascido Escravo ria uma abordagem simples do ensinamento
cristo aos complicados e pormenorizados mtodos dos telogos
profissionais. Ele evitava as con- trovrsias e, por longo tempo, no
procurou tratar publicamente sobre o conceito do livre-arbtrio. No
entanto, ao faz-lo, constituiu um desa- fio que Martinho Lutero no
pde ignorar. Martinho Lutero nasceu na Saxnia (hoje parte da
Alemanha) e era cerca de catorze anos mais jovem do que Erasmo.
Enquanto ainda era monge, passou por uma dramtica experincia com o
evangelho da graa de Deus. A partir de ento, compreendeu que cada
crena e expe- rincia precisa ser testada atravs da autoridade das
Escrituras Sagradas. Ele entendeu que a salvao recebida como uma
graa divina, me- diante a f; e isto no vem de vs, dom de Deus; no
de obras, para que ningum se glorie (Ef 2.8,9). A sua prpria
experincia confirmou sua convico. Lutero era professor, telogo e
tambm pastor. Os membros de sua igreja sabiam que ele sentia o que
pregava. Ele no era um erudito seco e indiferente. Ele sentia a
presso da eternidade cada vez que pregava. Isso o compelia, algumas
vezes, a fazer coisas impopulares e, por vezes, at perigosas. Era
algum disposto a defender a verdade de Deus, ainda que fosse contra
o mundo inteiro. A princpio, Erasmo parecia ser um dos aliados de
Lutero, visto que ambos rejeitavam muitos dos erros e falhas da
Igreja de Roma. Todavia, Lutero desafiava cada vez mais o
ensinamento romanista da salvao mediante as obras, insistindo que o
justo viver por f (Rm 1.17). Entrementes, Erasmo continuava na
Igreja de Roma, e, como era um erudito, cedeu presso de sua igreja
para defender o ensino do li- vre-arbtrio. Desafiando a solicitao
de Lutero para que no fizesse tal coisa, Erasmo publicou sua
Discusso Sobre o Livre-Arbtrio, em 1524, tendo escrito a Henrique
VIII nestes termos: Os dados foram lanados. O livrete sobre o
livre-arbtrioacaba de ver a luz do dia. O livro agradou ao Papa e
ao Sacro Imperador Romano, e foi elo-
12. Introduo 15 giado por Henrique VIII. Este fato levou Lutero
a declarar que Erasmo era um adversrio da f evanglica. Deus
controlou soberanamente a intensa luta entre esses dois homens,
para benefcio de seu reino. O conflito produziu uma grandiosa
declarao da doutrina evanglica que tem, desde ento, enriquecido a
Igreja de Cristo a obra de Lutero, A Escravido da Vontade.
Oferecemos aqui uma edio abreviada dessa grande obra. Pudemos reter
muito do estilo de Lutero, embora no tenhamos segui- do sua ordem
de apresentao. Comeamos por onde Lutero terminou, sumariando a sua
posio doutrinria sobre a escravido da vontade humana. Seguimos com
outras sees, onde Lutero apresenta e, em se- guida refuta os
argumentos de Erasmo. O estilo de Lutero normalmente nos impeliria
a acrescentar cer- tas palavras, toda vez que ele emprega a
expresso livre-arbtrio. Por exemplo: o livre-arbtrio que voc supe
que existe. Entretanto, temos preferido refletir o sentido
tencionado por Lutero usando aspas livre-arbtrio. E, nos captulos
dois, trs e quatro, retivemos o discurso direto de Lutero,
conservando, tanto quanto possvel, a at- mosfera de sua obra. No
inclumos cada argumento utilizado por Lutero, porque, se o
fizssemos, isso ampliaria indevidamente este sumrio.
13. c aptulo 1 O Que Ensinam as Escrituras Argumentos: l: A
culpa universal da humanidade prova que o livre-arbtrio
falso.............19 2: O domnio universal do pecado prova que o
livre-arbtrio falso................21 3: O livre-arbtrio no pode
obter aceitao diante de Deus atravs da observncia da lei moral e
cerimonial..............................................23 4: A lei
tem o propsito de conduzir os homens a Cristo, dando-lhes o
conhecimento do
pecado.............................................................25
5: A doutrina da salvao pela f em Cristo prova que o livre-arbtrio
falso....................................................................................26
6: No h lugar para qualquer idia de mrito ou recompensa pelas boas
obras.................................................................................................28
7: O livre-arbtrio no tem valor porque as obras nada tm a ver com a
justia do homem diante de
Deus...........................................................29
8: Uma srie de
refutaes....................................................................................30
9: Paulo absolutamente claro ao refutar o
livre-arbtrio.................................31 10: O estado do
homem sem o Esprito de Deus mostra que o livre-arbtrio nada pode
fazer de natureza espiritual..................................32
11: Aqueles que chegam a conhecer a Cristo no pensavam previamente
sobre Cristo, nem O buscavam, nem se prepararam para
conhec-Lo.............33
14. 18 Nascido Escravo Argumentos: 12: A salvao para o mundo
pecaminoso pela graa de Cristo, exclusivamente mediante a
f...........................................................................33
13: O caso de Nicodemos, no terceiro captulo de Joo, ope-se ao
livre-arbtrio.................................................................................35
14: O livre-arbtrio no tem utilidade, pois a salvao vem somente por
meio de
Cristo.......................................................................36
15: O homem incapaz de crer no evangelho, por isso todos os seus
esforos no podem
salv-lo.......................................................37
16: A incredulidade universal prova que o livre-arbtrio
falso........................38 17: O poder da carne, mesmo em
verdadeiros crentes, mostra a falsidade do
livre-arbtrio................................................................39
18: Saber que a salvao no depende do livre-arbtrio pode ser muito
reconfortante.............................................................................39
19: A honra de Deus no pode ser
maculada..........................................................40
As Escrituras so como diversos exrcitos que se opem idia de que o
homem tem um livre-arbtriopara escolher e receber a
salvao.Porm,basta-me trazer frente de batalha dois generais Paulo e
Joo,com algumas de suas foras.
15. O Que as Escrituras ensinam 19 argumento 1 A culpa
universal da humanidade prova que o livre-arbtrio falso. Em Romanos
1.18, Paulo ensina que todos os homens, sem qualquer exceo, merecem
ser castigados por Deus. A ira de Deus se revela do cu contra toda
impiedade e perverso dos homens que detm a verdade pela injustia.
Se todos os homens possuem livre-arbtrio, ao mesmo tempo em que
todos, sem qualquer exceo, esto debaixo da ira de Deus, segue-se da
que o livre-arbtrio os est conduzindo a uma nica direo da impiedade
e da iniqidade. Portanto, em que o poder do livre-arbtrio os est
ajudando a fazer o que certo? Se existe realmente o livre-arbtrio,
ele no parece ser capaz de ajudar os homens a atingirem a salvao,
porquanto os deixa sob a ira de Deus. Algumas pessoas, no entanto,
acusam-me de no seguir bem de perto a Paulo. Eles afirmam que as
palavras dele, contra toda impie- dade e perverso dos homens que
detm a verdade pela injustia no significam que todos os seres
humanos, sem exceo, esto culpados aos olhos de Deus. Eles
argumentam que o texto d a entender que algumas pessoas no detm a
verdade pela injustia. Entretanto, Paulo estava usando uma construo
de frase tipicamente hebraica, que no deixa dvida de que ele se
referia impiedade de todos os homens. Alm do mais, notemos o que
Paulo escreveu imediatamente antes dessas palavras. No versculo 16,
Paulo declara que o evangelho o po- der de Deus para a salvao de
todo aquele que cr. Isso significa que, no fosse o poder de Deus
conferido atravs do evangelho, ningum teria foras, em si mesmo,
para voltar-se para Deus. Paulo prossegue, asseverando que isso tem
aplicao tanto aos judeus quanto aos gen- tios. Os judeus conheciam
as leis divinas em seus mnimos detalhes,
16. 20 Nascido Escravo mas isto no os poupou de estarem debaixo
da ira de Deus. Os gentios desfrutavam de admirveis benefcios
culturais, mas isto em nada os aproximava de Deus. Havia judeus e
gentios que muito se esforavam por acertar a sua situao diante de
Deus, mas, apesar de todas as suas vantagens e de seu
livre-arbtrio, eles fracassaram totalmente. Paulo no hesitou em
condenar a todos eles. Observemos igualmente que, no versculo 17,
Paulo diz que a jus- tia de Deus se revela. Assim, Deus mostra a
sua retido aos homens. Mas Ele no um tolo. Se os homens no
precisassem da ajuda divina, Ele no desperdiaria o seu tempo
prestando-lhes tal ajuda. A converso de qualquer pessoa acontece
quando Deus vem at ela e vence-lhe a ignorncia ao revelar-lhe a
verdade do evangelho. Sem isso, ningum jamais poderia ser salvo.
Ningum, durante toda a histria humana, concebeu por si mesmo a
realidade da ira de Deus, conforme ela nos ensinada nas Escrituras.
Ningum jamais sonhou em estabelecer a paz com Deus por intermdio da
vida e da obra de um Salvador singular, o Homem-Deus, Jesus Cristo.
De fato, o que ocorre que os judeus rejeitaram a Cristo, apesar de
todo o ensino que lhes foi ministrado por seus profetas. Parece que
a justia prpria alcanada por alguns judeus ou gentios os levou a
deixarem de buscar a justia divina atravs da f, para fazerem as
coisas sua prpria maneira. Portanto, quanto mais o livre-arbtrio se
esfora, tanto piores tornam-se as coisas. No existe um terceiro
grupo de pessoas, que se situe em algum ponto entre os crentes e os
incrdulos um grupo de homens capazes de salvarem-se a si mesmos.
Judeus e gentios constituem a totalidade da humanidade, e todos
eles esto debaixo da ira de Deus. Ningum tem a capacidade de
voltar-se para Deus. Deus precisa tomar a iniciativa e revelar-Se a
eles. Se fosse possvel descobrir a verdade por meio do
livre-arbtrio, certamente algum judeu, em algum lugar, t-lo-ia
feito! Os mais elevados raciocnios dos gentios e os mais intensos
esforos dos melhores dentre os judeus (Rm 1.21; 2.23,28,29) no
conseguiram aproxim-los nem um pouco sequer da f em Cristo. Eles
eram pecado-
17. O Que as Escrituras ensinam 21 res condenados juntamente
com todo os demais homens. Ora, se todos os homens so possuidores
de livre-arbtrio, e todos os homens so culpados e esto condenados,
ento esse suposto livre-arbtrio im- potente para conduzi-los f em
Cristo. Por conseguinte, a vontade dos homens, afinal, no livre.
argumento 2 O domnio universal do pecado prova que o livre arbtrio
falso. Precisamos permitir que Paulo explique o seu prprio
ensinamen- to. Diz ele em Romanos 3.9: Que se conclui? Temos ns [os
judeus] qualquer vantagem [sobre os gentios]? no, de forma nenhuma;
pois j temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, esto
debaixo do pecado. No somente so todos os homens, sem qualquer
exceo, consi- derados culpados vista de Deus, como tambm so
escravos desse mesmo pecado que os torna culpados. Isso inclui os
judeus, os quais pensavam que no eram escravos do pecado porque
possuam a lei de Deus. Mas, visto que nem judeus nem gentios tm se
mostrado capazes de desvencilharem-se dessa servido, torna-se
evidente que no homem no h poder que o capacite a praticar o bem.
Esta escravido universal ao pecado inclui at mesmo aqueles que
parecem ser os melhores e mais retos. No importa o grau de bondade
que um homem possa alcanar; isso no a mesma coisa que possuir o
conhecimento de Deus. O que h de mais admirvel sua razo e sua
vontade, contudo, foroso reconhecer que esta mais nobre poro dos
homens est corrompida. Diz Paulo, em Romanos 3.10-12: No h justo,
nem um sequer, no h quem entenda, no h quem busque a Deus; todos se
extraviaram, uma se fizeram inteis; no h quem faa
18. 22 Nascido Escravo o bem, no h nem um sequer. O significado
dessas palavras perfei- tamente claro. Deus conhecido atravs da
razo e da vontade humana. Porm, nenhum ser humano, somente por sua
natureza, conhece a Deus. Precisamos concluir, portanto, que a
vontade humana est corrompida e que o homem totalmente incapaz, por
si mesmo, de conhecer a Deus ou de agrad-Lo. Talvez alguma pessoa
audaciosa atreva-se a dizer que somos ca- pazes de fazer mais do
que de fato fazemos; porm, o que aqui nos interessa o que somos
capazes de fazer, e no o que estamos ou no estamos fazendo. O
trecho das Escrituras citado por Paulo, em Romanos 3.10-12, no nos
autoriza a fazer tal distino. Deus condena tanto a incapacidade
pecaminosa dos homens quanto os seus atos corruptos. Se os homens
fossem capazes, ainda que o mnimo possvel, de movimen- tarem-se na
direo de Deus, no haveria mais qualquer necessidade de Deus
salv-los. Deus permitiria que os homens salvassem-se a si mes- mos.
Porm, nenhum capaz de ao menos tentar faz-lo. Em Romanos 3.19,
Paulo declara que toda boca se calar diante de Deus, porque ningum
poder argumentar contra o julgamento divino, visto que nada existe,
em pessoa alguma, digno de ser elo- giado pelo Senhor nem ao menos
um arbtrio livre para voltar-se espontaneamente para Ele. Se algum
disser: Tenho uma capacida- de prpria, ainda que pequena, de
voltar-me para Deus, esse algum deve estar querendo dizer que pensa
que nele h alguma coisa a qual Deus possa elogiar e no condenar.
Sua boca no est calada! Mas tal idia contradiz as Escrituras. Deus
ordenou que toda boca ficasse calada. No apenas certos gru- pos de
pessoas que so culpados diante de Deus. No apenas os fariseus,
dentre o povo israelita, esto condenados. Se isso fosse verdade,
ento os demais judeus teriam tido alguma capacidade prpria para
guardar a lei e evitar tornarem-se culpados. Porm, at mesmo os
melhores dentre os homens esto condenados por sua impiedade. Esto
espiritualmente mortos, da mesma forma que aqueles que, de maneira
alguma, procuram
19. O Que as Escrituras ensinam 23 guardar a lei de Deus. Todos
os homens so mpios e culpados, e mere- cem ser punidos por Deus.
Essas coisas so to evidentes que ningum pode nem mesmo sussurrar
uma palavra que as contrarie! argumento 3 Olivre-arbtriono pode
obter aceitao diante de Deus atravs da observncia da lei moral e
cerimonial. Eu argumento que quando Paulo disse em Romanos 3.20,21:
...ningum ser justificado diante dele por obras da lei, pensou na
lei moral (os dez mandamentos), bem como na lei cerimonial. Tem-se
generalizado a idia de que Paulo tinha em mente apenas a lei
cerimonial o ritual de sacrifcios de animais e a adorao no templo.
espantoso que chamem Jernimo, que criou essa idia, de santo! Eu o
classificaria de forma bem diferente! Jernimo declarou que a morte
de Cristo ps fim a qualquer possibilidade de algum ser justificado
(ou declarado justo) por meio da observncia da lei ceri- monial.
Mas deixou inteiramente aberta a possibilidade de algum ser
justificado mediante a observncia da lei moral, contando apenas com
as suas prprias foras, sem a ajuda de Deus. Minha resposta a isso
que se Paulo referiu-se somente a lei ce- rimonial, ento seu o
argumento no tem qualquer significado. Paulo estava afirmando que
todos os homens so injustos e necessitados da graa especial de Deus
o amor, a sabedoria e o poder de Deus por intermdio dos quais Ele
nos salva. O resultado da idia de Jernimo seria que a graa de Deus
necessria para salvar-nos da lei cerimonial, mas no da lei moral.
Todavia, ns no podemos observar a lei moral parte da graa divina.
Voc pode intimidar as pessoas para que observem as cerimnias, mas
nenhum poder humano pode for-las a guardar a
20. 24 Nascido Escravo lei moral. Paulo estava argumentando que
no podemos ser justificados diante de Deus mediante a tentativa de
guardar a lei moral, ou mesmo a lei cerimonial. Comer e beber, e
fazer outras coisas semelhantes, em si mesmas, nem nos justifica
nem nos condena. Irei ainda mais longe, afirmando que Paulo queria
dizer que a tota- lidade da lei, e no alguma poro particular dela,
obrigatria a todos homens. Se a lei no se aplicasse mais aos homens
devido a morte de Cristo, tudo quanto Paulo precisava dizer era
isto e nada mais. Em Glatas 3.10, Paulo escreveu: Todos quantos,
pois, so das obras da lei, esto debaixo de maldio; porque est
escrito: Maldito todo aquele que no permanece em todas as coisas
escritas no Livro da lei, para pratic-las. Nesse texto, Paulo busca
apoio em Moiss para afirmar que a lei im- posta sobre todos os
homens, e que o fracasso na obedincia lei sujeita todos os homens
maldio divina. Nem os homens que procuram obedecer lei, nem aqueles
que no tentam guard-la esto justificados diante do Senhor,
porquanto todos esto espiritualmente mortos. O ensinamento de Paulo
que h duas classes de pessoas no mundo aquelas que esto
espiritualmente vivas e aquelas que no esto. Isto est em harmonia
com o ensinamento de Jesus Cristo em Joo 3.6: O que nascido da
carne, carne; e o que nascido do Esprito, esprito. Para as pessoas
que no possuem o Esprito Santo, a lei sem utilidade. No importa o
quanto procurem guardar a lei, no sero justificadas exceto pela f.
Finalmente, ento, se existe tal coisa como o livre-arbtrio, deve
ser a mais nobre das capacidades humanas, porque, mesmo sem o
Esprito Santo, o livre-arbtrio afirma possibilitar ao homem guardar
a lei intei- ra! Entretanto, Paulo assevera que aqueles que so das
obras da lei no esto justificados. Isso significa que o
livre-arbtrio, mesmo considerado por seu melhor ngulo, incapaz de
corrigir a situao do homem diante de Deus. De fato, em Romanos
3.20, Paulo afirma que a lei necessria para mostrar-nos no que
consiste o pecado: Pela lei vem o pleno conheci- mento do pecado.
Aqueles que so das obras da lei no so capazes de
21. O Que as Escrituras ensinam 25 reconhecer o que o pecado
realmente .Alei no foi dada a fim de mostrar aos homens o que eles
podem fazer, mas para corrigir as suas idias sobre o que o certo e
errado aos olhos de Deus. O livre-arbtrio cego, pois precisa ser
ensinado atravs da lei. E tambm impotente, pois no con- segue
justificar ningum diante de Deus. argumento 4 A lei tem o propsito
de conduzir os homens a Cristo,dando-lhes o conhecimento do pecado.
O argumento a favor do livre-arbtrio que a lei no nos teria sido
dada se no fssemos capazes de obedec-la. Erasmo, por repetidas
vezes voc tem dito: Se nada podemos fazer, qual o propsito das
leis, dos preceitos, das ameaas e das promessas? A resposta que a
lei no foi dada para mostrar-nos o que podemos fazer. Nem mesmo a
fim de aju- dar-nos a fazer o que correto. Paulo diz em Romanos
3.20: ...pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. O propsito da
lei foi o de mostrar-nos no que consiste o pecado e ao que ele nos
conduz mor- te, ao inferno e ira de Deus. A lei s pode destacar
essas coisas. No pode livrar-nos delas. O livramento nos chega
exclusivamente atravs de Cristo Jesus, que nos revelado atravs do
evangelho. Nem a razo, nem o livre-arbtrio podem conduzir os homens
a Cristo, visto que a razo e o livre-arbtrio precisam da luz da lei
para mostrar-lhes sua enfermidade. Paulo faz esta indagao em Glatas
3.19: Qual, pois, a razo de ser da lei? Entretanto, a resposta de
Paulo sua prpria per- gunta o contrrio da resposta que voc e
Jernimo do. Voc diz que a lei foi dada a fim de provar a existncia
do livre-arbtrio. Jernimo diz que ela tem o propsito de restringir
o pecado. Mas Paulo no diz nada disso. Todo seu argumento que os
homens precisam de graa especial para lutar contra o mal que a lei
revela. No pode haver cura
22. 26 Nascido Escravo enquanto a enfermidade no for
diagnosticada. A lei necessria para fazer os homens perceberem a
perigosa condio em que esto, a fim de que anelem pelo remdio que se
encontra somente na pessoa de Cristo. Portanto, as palavras de
Paulo em Romanos 3.20, podem parecer muito simples, mas elas tm
poder suficiente para fazer com que o livre-ar- btrio seja total e
completamente inexistente. Diz Paulo em Romanos 7.7: ...pois no
teria eu conhecido a cobia, se a lei no dissera: No cobiars. Isto
significa que o livre-arbtrio nem mesmo reconhece o que o pecado !
Como, pois, poderia chegar a conhecer o que certo? E, se no sabe
reconhecer o que certo, como poderia esforar-se por fazer o que
certo? argumento 5 A doutrina da salvao pela f em Cristo prova que
olivre-arbtrio falso. Em Romanos 3.21-25, Paulo proclama com toda a
confiana: Mas agora, sem lei, se manifestou a justia de Deus
testemunhada pela lei e pelos profetas; justia de Deus mediante a f
em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que crem; porque no h
dis- tino, pois todos pecaram e carecem da glria de Deus, sendo
justificados gratuitamente, por sua graa, mediante a redeno que h
em Cristo Jesus; a quem Deus props, no seu sangue, como pro-
piciao, mediante a f... Essas palavras so como raios contra a idia
do livre-arbtrio. Paulo faz distino entre a justia conferida por
Deus e a justia que vem mediante a observncia da lei. O li-
vre-arbtrio s poderia ser uma realidade se o homem pudesse ser
salvo mediante a observncia da lei. No obstante, Paulo demonstra
claramente que somos salvos sem dependermos, em absoluto, das obras
da lei. No importa o quanto possamos imaginar um suposto
23. O Que as Escrituras ensinam 27 livre-arbtrio, capaz de
praticar boas obras ou de tornar-nos bons cidados, Paulo continua
asseverando que a justia dada por Deus de natureza inteiramente
diferente. impossvel que o livre-arb- trio consiga resistir a
assaltos de versculos como esses. Estes versculos desfecham ainda
outro raio contra o livre-arbtrio. Neles, Paulo traa uma linha
distintiva entre os crentes e os incrdulos (Rm 3.22). Ningum pode
negar que o suposto poder do livre-arbtrio bem diferente da f em
Jesus Cristo. Mas sem f em Cristo, conforme Paulo esclarece, ningum
pode ser aceito por Deus. E se alguma coisa inaceitvel para Deus,
ento pecado. No pode ser algo neutro. Por conseguinte, o
livre-arbtrio, se existe, pecado, visto que se ope f e no redunda
em glria a Deus. Romanos 3.23 constitui-se em mais outro raio.
Paulo no diz: to- dos pecaram, exceto aqueles que praticam boas
obras mediante seu prprio livre-arbtrio. No h excees. Se fosse
possvel nos tornar- mos aceitveis diante de Deus atravs do
livre-arbtrio, ento Paulo seria um mentiroso. Ele deveria ter dado
margem a excees. No entan- to, Paulo afirma, categoricamente, que
em face do pecado ningum pode realmente glorificar e agradar a
Deus. Todo aquele que agrada ao Senhor deve saber que Deus est
satisfeito com ele. Porm, a nossa experincia nos ensina que coisa
alguma em ns agrada a Deus. Pergunte queles que defendem o
livre-arbtrio se existe neles alguma coisa que agrada a Deus. Eles
sero forados a admitir que no existe. E isto que Paulo claramente
afirma. At mesmo aqueles que acreditam no livre-arbtrio precisam
con- cordar comigo que no podem glorificar a Deus, contando apenas
com seus prprios recursos. A despeito de seu livre-arbtrio, eles tm
dvida se podem agradar a Deus. Assim, eu provo, com base no
testemunho da prpria conscincia deles, que o livre-arbtrio no
agrada a Deus.Apesar de todos os seus esforos e de seu empenho, o
livre arbtrio culpado do pecado de incredulidade. Portanto, vemos
que a doutrina da salvao pela f completamente contrria a qualquer
idia de livre-arbtrio.
24. 28 Nascido Escravo argumento 6 No h lugar para qualquer
idia de mrito ou recompensa pelas boas obras. Aqueles que pregam o
livre-arbtrio afirmam que se no h livre- arbtrio, ento tambm no h
lugar para o mrito ou para a recompensa. O que diro os defensores
do livre-arbtrio a respeito da palavra gratuitamente, em Romanos
3.24? Paulo diz que os crentes so justifi- cados gratuitamente, por
sua graa. Como interpretam por sua graa? Se a salvao gratuita e
oferecida pela graa divina, ento no se pode conquist-la ou
merec-la. No entanto, Erasmo argumenta que a pessoa deve ser capaz
de fazer alguma coisa a fim de merecer a sua salvao, ou ela no
merecer ser salva. Erasmo pensa que a razo pela qual Deus jus-
tifica uma pessoa e no outra, que uma delas usou de seu
livre-arbtrio, e tentou tornar-se justa, enquanto que a outra no o
fez. Ora, isso transfor- ma Deus em algum que diferencia pessoas,
ao passo que a Bblia ensina que Deus no faz acepo de pessoas (At
10.34). Erasmo e algumas outras pessoas, como ele, admitem que os
homens conseguem fazer muito pou- co, atravs de seu livre-arbtrio,
para obterem a salvao. Afirmam que o livre-arbtrio tem apenas um
pouco de merecimento no digno de muita recompensa. E, no obstante,
ainda pensam que o livre-arbtrio torna possvel s pessoas tentarem
encontrar a Deus. Imaginam, igual- mente, que se as pessoas no
tentam encontr-Lo, cabe exclusivamente a elas a culpa, se no
recebem a graa divina. Portanto, sem importar se esse livre-arbtrio
tem grande ou pe- queno mrito, o resultado o mesmo. A graa de Deus
seria obtida por meio do livre-arbtrio. Todavia, Paulo nega toda a
noo de mrito quando afirma que somos justificados gratuitamente.
Aqueles que dizem que o livre-arbtrio possui apenas um pequeno
mrito, erram tanto como aqueles que dizem que ele possui muito
mrito, pois ambos ensinam que o livre-arbtrio tem mrito suficiente
para obter o favor
25. O Que as Escrituras ensinam 29 de Deus. Portanto, em quase
nada diferem um do outro. Na verdade esses defensores da idia do
livre-arbtrio nos do um perfeito exemplo do que significa saltar da
frigideira para dentro do fogo. Quando dizem que o livre-arbtrio
tem apenas um pequeno m- rito, pioram a sua posio, ao invs de
melhor-la. Pelo menos aqueles que dizem que o livre-arbtrio envolve
um grande mrito (os chama- dos pelagianos) conferem um elevado preo
graa divina, porquanto concebem que um grande mrito necessrio para
algum obter a sal- vao. Todavia, Erasmo barateia a graa divina,
dizendo ser possvel obt-la por meio de um dbil esforo. No entanto,
Paulo transforma em nada essas duas idias usando apenas uma palavra
gratuitamente (Rm 3.24). Mais adiante, em Romanos 11.6, ele declara
que a nossa aceitao diante de Deus depende apenas da graa de Deus:
E, se pela graa, j no pelas obras; do contrrio, a graa j no graa. O
ensino paulino perfeitamente claro. No existe tal coisa como mrito
humano aos olhos de Deus, sem importar se esse mrito grande ou pe-
queno. Ningum merece ser salvo. Ningum pode ser salvo atravs das
obras. Paulo exclui todas as supostas obras do livre-arbtrio,
estabele- cendo em seu lugar apenas a graa divina. No podemos
atribuir a ns mesmos a menor parcela de crdito para nossa salvao;
ela depende inteiramente da graa divina. argumento 7
Olivre-arbtriono tem valor porque as obras nada tm a ver com a
justia do homem diante de Deus. Passarei agora a considerar os
argumentos de Paulo, em Romanos 4.2,3: Porque se Abrao foi
justificado por obras, tem de que se gloriar, porm no diante de
Deus. Pois que diz a Escritura? Abrao creu em
26. 30 Nascido Escravo Deus, e isso lhe foi imputado para
justia. Ora, Paulo no nega que Abrao era um homem justo. Mas o
ponto em questo que essa justia no lhe outorgou a salvao. Ningum
discorda que as obras ms no so aceitveis diante de Deus. Isso bvio.
O argumento paulino, entre- tanto, que nem mesmo as boas obras nos
tornam aceitveis diante de Deus. Elas merecem somente a sua ira,
jamais o seu favor. Em Romanos 4.4,5, Paulo contrasta a pessoa que
trabalha com aquela que no tra- balha. A justificao, que equivale a
aceitao diante de Deus, no atribuda ao que trabalha, mas quele que
no trabalha, mas cr no Senhor. No h posio intermediria. argumento 8
Uma srie de refutaes. Preciso mencionar, de passagem, mais alguns
argumentos contra o livre-arbtrio. Mas me referirei a eles apenas
de modo breve, embora cada um deles, de per si, pudesse destruir
completamente a idia do livre- arbtrio. Por exemplo, a fonte da
graa mediante a qual somos salvos o propsito eterno de Deus. Isso,
sem dvida, anula a sugesto de que Deus gracioso para conosco por
causa de alguma coisa que possamos fazer. Um outro argumento
fundamenta-se sobre o fato de que Deus pro- meteu a salvao por meio
da graa (a Abrao), antes mesmo de haver dado a lei. Paulo
argumenta, em Romanos 4.13-15 e Glatas 3.15-21, que se somos salvos
mediante a observncia da lei, atravs do livre- arbtrio, isso
significaria que a promessa da salvao pela graa foi cancelada. E a
f, igualmente, perderia o seu valor. Paulo tambm nos diz que a lei
pode apenas revelar o pecado, sen- do incapaz de remov-lo. Visto
que o livre-arbtrio s pode operar com base na observncia da lei, no
pode haver retido aceitvel diante de Deus obtida pelo
livre-arbtrio.
27. O Que as Escrituras ensinam 31 Em ltimo lugar, estamos
todos debaixo da condenao divina, em face da pecaminosa
desobedincia de Ado. Estamos todos sujeitos a esta condenao, desde
o nosso nascimento, incluindo aqueles que so possuidores do
livre-arbtrio se que pessoas assim existem! De que outra forma ento
poderia o livre- arbtrio nos ajudar, seno a pecar e a merecer a
condenao? Eu poderia ter deixado de lado esses argumentos,
apresentando to- -somente um comentrio geral sobre os escritos de
Paulo. Todavia, quis demonstrar quo ignorantes mentalmente so os
meus oponentes, por deixarem de perceber com clareza estas simples
questes. Deixo que meditem sozinhos a respeito desses argumentos.
argumento 9 Paulo absolutamente claro ao refutar o livre- arbtrio.
Os argumentos usados por Paulo so to claros que de admirar que
algum possa compreend-los mal. Diz ele: ... todos se extravia- ram,
uma se fizeram inteis; no h quem faa o bem, no h nem um sequer...
Estou admirado do fato que certas pessoas afirmam: Algumas pessoas
no se extraviaram, no se fizeram inteis, no so ms e nem pecadoras.
H alguma coisa no homem que o inclina para o bem. Ora, Paulo no fez
essas declaraes em apenas algumas passagens isola- das. Algumas
vezes ele as fez em termos positivos, em outras vezes, em termos
negativos, usando palavras diretas ou utilizando contrastes. O
sentido literal de suas palavras, todo o contexto e escopo de seu
ar- gumento, resumem-se neste pensamento: parte da f em Cristo nada
existe seno pecado e condenao. Meus oponentes esto derrotados,
ainda que no queiram se render! Porm, no est ao meu alcance con-
venc-los disto. Deixo isto operao do Esprito Santo.
28. 32 Nascido Escravo argumento 10 O estado do homem sem o
Esprito de Deus mostra que olivre-arbtrionada pode fazer de
natureza espiritual. Em Romanos 8.5, Paulo divide a humanidade em
duas categorias aqueles que so da carne (ou da natureza pecaminosa)
e aqueles que so do Esprito (ver tambm Joo 3.6). Isto s pode
significar que aqueles que no tm o Esprito esto na carne e
continuam presos uma natureza pecaminosa. Paulo insiste que ...se
algum no tem o Esprito de Cristo, esse tal no dEle (Rm 8.9). Isto
significa, obviamente, que aqueles que esto sem o Esprito pertencem
a Satans. O livre-arbtrio no os tem beneficiado muito! Paulo afirma
que os que esto na carne no podem agradar a Deus (Rm 8.8). Ele diz
que pendor da carne inimizade contra Deus, pois no est sujeito lei
de Deus, nem mesmo pode estar (Rm 8.7). impossvel que tais pessoas
possam fazer qual- quer esforo, por conta prpria, para agradar a
Deus. Orgenes sugeriu que cada pessoa tem uma alma dotada da ca-
pacidade de voltar-se para a carne ou para o Esprito. Mas isto
apenas produto de sua imaginao. Ele sonhou com tal idia, e no tinha
qualquer meio de provar o que afirmava. Na verdade, no h posio
intermediria. Tudo que no provm do Esprito carnal; e as melhores
atividades da carne so hostis a Deus. Trata-se do mesmo ensinamento
ministrado por Cristo, em Mateus 7.18, de que uma rvore m no pode
produzir bom fruto. E tambm est em harmonia com a dupla declarao de
Paulo O justo viver por f (Rm 1.17), e tudo o que no provm de f
pecado (Rm 14.23). Aqueles que no tm f no esto justi- ficados; e
aqueles que no esto justificados so pecadores, nos quais qualquer
suposto livre-arbtrio s pode produzir o mal. Portanto, o li-
vre-arbtrio nada seno um escravo do pecado, da morte e de Satans.
Tal liberdade, enfim, no liberdade alguma.
29. O Que as Escrituras ensinam 33 argumento 11 Aquelesque
chegam a conhecer aCristono pensavam previamente sobre Cristo,nemO
buscavam,nem se prepararam paraconhec-Lo. Em Romanos 10.20, Paulo
cita de Isaas 65. l: Fui buscado pelos que no perguntavam por mim;
fui achado por aqueles que no me bus- cavam; a um povo que no se
chamava do meu nome eu disse: Eis-me aqui, eis-me aqui. Paulo
reconhecia, por sua prpria experincia, que ele no buscara a graa de
Deus, mas a recebera apesar de sua furio- sa clera contra ela. Ele
diz, em Romanos 9.30,31, que os judeus, que envidavam grandes
esforos para observar a lei, no foram salvos por esses esforos, mas
que os gentios, que eram totalmente mpios, foram alvos da
misericrdia de Deus. Isso demonstra claramente que todos os esforos
do livre-arbtrio do homem so inteis para a sua salvao. O zelo dos
judeus no os conduziu a parte alguma, ao passo que os mpios gentios
receberam a salvao. A graa gratuitamente ofertada a quem no a
merece, nem digno; no conquistada por qualquer esforo que o melhor
e mais justo dentre os homens tenha tentado empreender. argumento
12 Asalvao para o mundo pecaminosopela graadeCristo,exclusivamente
medianteaf. Voltemo-nos agora para Joo, que tambm escreveu com
eloqn- cia contra o livre-arbtrio. Ele diz, em Joo 1.5: A luz
resplandece nas trevas, e as trevas no prevaleceram contra ela. E,
em Joo 1.10,11: O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por
intermdio dele, mas o mundo no o conheceu. Veio para o que era seu,
e os seus no o re-
30. 34 Nascido Escravo ceberam. Por mundo, Joo d a entender a
humanidade inteira. Visto que o livre-arbtrio seria uma das mais
excelentes faculdades do ho- mem, deve ser includo em qualquer
coisa em que Joo diz acerca do mundo. Assim sendo, de acordo com
esses textos, o livre-arbtrio no reconhece a luz da verdade, mas
antes, odeia a Cristo e ao seu povo. Muitas outras passagens, como
Joo 7.7; 8.23; 14.7; 15.19; e l Joo 2.16; 5.19, proclamam que o
mundo (o que inclui, especialmente, o livre- arbtrio) est debaixo
do controle de Satans. O mundo inclui tudo quanto no foi separado
para Deus por meio do Esprito Santo. Ora, se tivesse havido algum
neste mundo que, por meio de seu livre-arbtrio, tivesse chegado a
conhecer a verdade e que, por intermdio do livre-arbtrio, no
tivesse odiado a Cristo, ento Joo teria alterado o que escreveu.
Entretanto, ele no o fez. Torna-se eviden- te, portanto, que o
livre-arbtrio to culpado quanto o mundo. Em Joo 1.12,13, o mesmo
apstolo prossegue: Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o
poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que crem no seu
nome; os quais no nasceram do sangue, nem da von- tade da carne,
nem da vontade do homem, mas de Deus. As palavras no nasceram do
sangue significam que intil algum depender de sua origem familiar
ou do local do seu nascimento. As palavras nem da vontade da carne
apontam para a insensatez de se depender das obras da lei. E as
palavras nem da vontade do homem mostram que nenhum esforo humano
pode conseguir tornar algum aceitvel a Deus. Se que o livre-arbtrio
tem alguma utilidade, ento Joo no deveria ter rejeitado a vontade
do homem, porquanto, de outro modo, estaria em perigo conforme
Isaas 5.20: Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal. No h
margem para dvida de que a origem fa- miliar intil para que algum,
atravs dela, venha a obter a salvao, porque em Romanos 9.8 Paulo
escreve: Isto , estes filhos de Deus no so propriamente os da
carne, mas devem ser considerados como descendncia os filhos da
promessa. Alm disso, Joo tambm afirma, em Joo 1.16: Porque todos
ns
31. O Que as Escrituras ensinam 35 temos recebido da sua
plenitude, e graa sobre graa. Isto posto, rece- bemos bnos
espirituais exclusivamente atravs da graa derivada de Outrem, e no
atravs de nossos prprios esforos. Duas idias contr- rias no podem
ser ambas verdadeiras. impossvel que a graa divina seja to sem
valor que qualquer um, em qualquer lugar, seja capaz de obt-la, ao
mesmo tempo que essa graa to valiosa que s podemos receb-la atravs
dos mritos de um nico homem, Jesus Cristo. Como eu gostaria que os
meus opositores percebessem que quando advogam a causa do
livre-arbtrio, esto negando a Cristo. Se podemos obter graa divina
mediante o nosso livre-arbtrio, ento no temos necessidade de
Cristo. E, se temos a Cristo, no precisamos do livre- -arbtrio.
Aqueles que defendem o livre-arbtrio atestam sua nega- o a Cristo
por meio de suas aes, porquanto alguns deles chegam ao extremo de
apelar para a intercesso de Maria e de santos, no depen- dendo de
Cristo como o nico mediador entre Deus e o homem. Todos esses tm
abandonado a Cristo em sua obra como mediador e gracioso salvador,
considerando os mritos de Cristo de menor valor do que seus prprios
esforos. argumento 13 O caso de Nicodemos,no terceiro captulo de
Joo,ope-se aolivre-arbtrio. Consideremos as virtudes de Nicodemos
(Jo 3.1,2). Ele confessa que Cristo era idneo e que viera da parte
de Deus. Faz aluso aos milagres realizados por Cristo e procura-O a
fim de ouvir algo de sua prpria boca.
Porm,aoouvirfalarsobreonovonascimento(Jo3.3-8),porventuraNico-
demos admite que era isso o que ele vinha buscando? No! Ele ficou
atnito e confuso, repelindo a idia, a princpio, como uma
impossibili- dade (Jo 3.9). Porventura os maiores filsofos chegaram
a mencionar o
32. 36 Nascido Escravo novo nascimento? Eles nem ao menos
podiam buscar aquelas realidades pertencentes salvao, antes da
chegada do evangelho. Ora, quando admitem isso, esto admitindo que
o seu livre-arbtrio ignorante e incapaz! Por certo, aqueles que
ensinam o livre-arbtrio esto loucos; porm no se calaro nem daro
glrias a Deus. argumento 14 Olivre-arbtriono tem utilidade,pois a
salvao vem somente por meio de Cristo. Torna-se claro, em Joo 14.6,
onde se l que Jesus Cristo o ca- minho, e a verdade, e a vida, que
a salvao s pode ser encontrada em sua pessoa. Sendo esta a verdade,
tudo quanto est fora de Cristo s pode ser trevas, falsidade e
morte. Qual necessidade haveria da vinda de Cristo a este mundo, se
os homens, naturalmente, pudessem compreen- der o caminho de Deus,
entender a verdade de Deus e compartilhar da vida de Deus? Nossos
opositores dizem que os homens perversos possuem li- vre-arbtrio,
embora abusem dele. Se isso fosse realmente assim, ento haveria
algo de bom no pior dos homens. E se isso fosse realmente ver-
dade, ento Deus seria injusto ao conden-los. Entretanto, Joo diz
que aqueles que no crem em Jesus Cristo j esto condenados (Jo
3.18). Contudo, se os homens fossem possuidores dessa coisa boa
chamada livre-arbtrio, ento Joo deveria ter dito que os homens s
esto con- denados por causa de sua parte m, e no devido quela boa
parte neles existente. As Escrituras dizem: O que, todavia, se
mantm rebelde con- tra o Filho no ver a vida, mas sobre ele
permanece a ira de Deus (Jo 3.36). Sem dvida est em pauta todo o
homem. Pois, se assim no fosse, ento haveria uma parte no homem
capaz de impedi-lo de ser con- denado, e ele poderia continuar
pecando sem o menor temor, firmado no
33. O Que as Escrituras ensinam 37 conhecimento de que no
poderia ser condenado. Tambm lemos em Joo 3.27 que o homem no pode
receber coisa alguma se do cu no lhe for dada. Isto se refere
especialmente capa- cidade da pessoa cumprir a vontade de Deus.
Somente aquilo que vem do alto pode ajudar um homem a cumprir a
vontade do Senhor. Mas o livre- arbtrio no vem do alto, o que
significa que o livre-arbtrio intil. Em Joo 3.31, diz ainda o mesmo
apstolo: ...quem vem da terra terreno e fala da terra; quem veio do
cu est acima de todos. Ora, por certo o livre-arbtrio no tem origem
celestial. Pertence terra, no lhe havendo outra possibilidade. E,
assim sendo, isso s pode significar que o livre-arbtrio nada tem a
ver com as realidades celestiais; cogi- ta somente das coisas
terrenas. O Senhor Jesus afirma, em Joo 8.23: Vs sois c de baixo,
eu sou l de cima; vs sois deste mundo, eu deste mundo no sou. Se
esta afirmativa de Jesus quisesse dizer apenas que os corpos de
seus ouvintes eram terrenos, tal declarao seria desneces- sria,
pois eles j sabiam disso. O que Jesus quis dizer que aos seus
ouvintes faltava, absolutamente, qualquer poder espiritual, e que
este s poderia ser recebido de Deus. argumento 15 Ohomem incapaz de
crer no evangelho,por issotodos os seus esforos no podemsalv-lo. Na
passagem de Joo 6.44, Jesus Cristo diz: Ningum pode vir a mim se o
Pai que me enviou no o trouxer. Isto no deixa qualquer espao para o
livre-arbtrio. E o Senhor Jesus passou a explicar como algum
trazido pelo Pai: Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem
ouvido e aprendido, esse vem a mim (v. 45). A vontade humana, por
si mesma, incapaz de fazer qualquer coisa para vir a Cristo em
busca de salvao. A prpria mensagem do evangelho ouvida em vo,
34. 38 Nascido Escravo a menos que o prprio Pai fale ao corao e
traga a pessoa a Cristo. Erasmo pretende suavizar o sentido claro
desse texto ao comparar os homens a ovelhas, que atendem ao pastor
quando este lhes estende o cajado. Argumenta que nos homens h
alguma coisa que responde ao chamado do evangelho. Porm isso no
acontece, porque quando Deus exibe o dom de seu prprio Filho a
homens mpios, estes no reagem favoravelmente antes que Ele opere em
seus coraes. De fato, sem a operao interna do Pai, os homens
inclinam-se mais a odiar e perseguir ao Filho, do que a segui-Lo.
Entretanto, quando o Pai mostra aos homens quo maravilhoso seu
Filho, queles a quem tem dado entendimento espiritual, eles so
atrados a Cristo. Essas pessoas j so ovelhas e conhecem a voz do
pastor! argumento 16 A incredulidade universal prova que
olivre-arbtrio falso. Em Joo 16.8, Jesus afirma que o Esprito Santo
viria para convencer o mundo do pecado... E no versculo seguinte,
Ele explica que o pecado consiste no fato de que os homens no crem
em mim. Ora, esse pecado de incredulidade no se acha na pele ou nos
cabelos, mas na mente e na vontade. Todos os homens, sem exceo, so
to ignorantes do fato de sua culpa de incredulidade quanto ignoram
o prprio Jesus Cristo. A culpa da incredulidade precisa ser-lhes
revelada pelo Esprito Santo. Portanto, tudo quanto existe no homem,
incluindo o livre-arbtrio, est condenado aos olhos de Deus,
contribuindo apenas para aumentar a culpa acerca da qual ele
ignorante, enquanto Deus no a revelar. A totalidade das Escrituras
proclama Cristo como o nico meio de salvao. Todo aquele que estiver
fora de Cristo est debaixo do poder de Satans, do pecado, da morte
e da ira divina. Somente Cristo pode resgatar os homens do reino de
Satans.
35. O Que as Escrituras ensinam 39 No somos libertos por
qualquer poder que em ns mesmos exista, mas to-somente pela graa de
Deus. argumento 17 Opoder da carne,mesmo em verdadeiros
crentes,mostra a falsidade dolivre-arbtrio. Por alguma razo,
Erasmo, voc ignorou os meus argumentos base- ados em Romanos 7 e em
Glatas 5. Esses dois captulos mostram-nos que at mesmo nos
verdadeiros crentes a fora da carne tanta que eles no podem fazer
aquilo que sabem que devem e querem fazer. A natureza humana to m,
que mesmo as pessoas que so dotadas do Esprito de Deus, no somente
falham em fazer o que direito, como at mesmo lutam contra isso.
Portanto, que possibilidade h de que aque- les que so destitudos do
novo nascimento venham a praticar o bem? Conforme diz Paulo, em
Romanos 8.7: O pendor da carne inimizade contra Deus. Eu gostaria
de conhecer o homem que capaz de fazer cair por terra tal
argumento! argumento 18 Saber que a salvao no depende dolivre-
arbtriopode ser muito reconfortante. Confesso que eu no gostaria de
possuir livre-arbtrio ainda que o mesmo me fosse concedido! Se a
minha salvao fosse deixada ao meu encargo, eu no conseguiria
enfrentar vitoriosamente todos os perigos, dificuldades e demnios
contra os quais teria de lutar. Porm, mesmo que no houvesse
inimigos a combater, eu jamais poderia ter a certeza do sucesso. Eu
jamais poderia ter a certeza de haver agradado a Deus,
36. 40 Nascido Escravo ou se haveria ainda mais alguma coisa
que precisaria fazer. Posso pro- var isso mediante a minha prpria
dolorosa experincia de muitos anos. Porm, a minha salvao est nas
mos de Deus, no nas minhas. Ele ser fiel sua promessa de salvar-me,
no com base no que eu fao, mas em conformidade com a sua grande
misericrdia. Deus no mente, e no permitir que o meu adversrio, o
diabo, me arranque de suas mos. Por meio do livre-arbtrio, ningum
poder ser salvo. Mas, por meio da livre graa, muitos sero salvos. E
no somente isso, mas tambm alegro-me por saber que, como um cristo,
agrado a Deus, no por causa daquilo que fao, mas por causa de sua
graa. Se trabalho muito pouco ou errado demais, Ele, graciosamente,
me perdoar e me far melhorar. Essa a glria de todo cristo.
argumento 19 A honra de Deus no pode ser maculada. Talvez algum
fique preocupado, pensando que difcil defender a honra de Deus em
meio a tudo isso. E talvez diga: Afinal de contas, Deus condena
aqueles que no podem deixar de ser pecaminosos, e que so forados a
permanecer dessa maneira porque Ele no os escolheu para a salvao.
Como Paulo diz: ramos por natureza filhos da ira, como tam- bm os
demais (Ef. 2.3). Porm, voc poder ver essas questes por um outro
ngulo. Deus deveria ser reverenciado e respeitado por ser miseri-
cordioso para todos quantos Ele justifica e salva, embora sejam
totalmente indignos. Sabemos que Deus divino. Ele tambm sbio e
justo. A sua justia no da mesma categoria que a justia humana. Ela
est acima de nosso poder de apreenso plena, conforme Paulo exclama,
em Romanos 11.33: profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como
do conheci- mento de Deus! Quo insondveis so os seus juzos e quo
inescrutveis os seus caminhos! Se concordamos que a natureza, o
poder, a sabedoria e
37. O Que as Escrituras ensinam 41 o conhecimento de Deus esto
muito acima dos nossos, ento tambm de- veramos acreditar que a sua
justia maior e melhor do que a nossa. Ele nos fez a promessa de que
quando chegar a revelar para ns a sua glria, ento veremos
claramente aquilo no que agora devemos acreditar que Ele justo,
sempre o foi e sempre o ser. Eis um outro exemplo. Se voc usar da
razo humana para consi- derar a maneira como Deus governa os
acontecimentos do mundo, ser forado a dizer que Deus no existe, ou
que Ele injusto. Os mpios prosperam e os piedosos sofrem (J 12.6 e
SI 73.12), e isso parece ser injusto. Por esse motivo, muitos
homens negam a existncia de Deus e dizem que as coisas acontecem
movidas pelo acaso. A resposta que damos a essa questo que h uma
vida aps a vida presente, e que tudo quanto no tiver sido castigado
e corrigido nesta vida, ser castigado e corrigido na vida futura. A
vida terrena nada mais que uma preparao para, ou, ainda melhor, o
comeo da vida que vir. Esse problema tem sido debatido por toda a
Histria, mas a soluo no tem sido encontra- da, exceto pela crena no
evangelho, conforme ele se acha nas pginas da Bblia. Trs raios de
luz brilham sobre a questo: a luz da natureza, da graa divina e da
glria celestial. Mediante a luz da natureza, Deus parece ser
injusto, porquanto os piedosos sofrem e os mpios prosperam. A luz
da graa divina ajuda-nos a compreender melhor as coisas, embo- ra
ainda no explique como Deus pode condenar algum que, por suas
prprias foras, nada pode fazer seno pecar e ser culpado. Somente a
luz da glria celeste explicar isso plenamente, naquele dia
vindouro, quando Deus revelar a Si mesmo como inteiramente justo,
embora os seus juzos ultrapassem a nossa limitada compreenso de
seres huma- nos. Um homem piedoso cr que Deus conhece de antemo e
pr-ordena todas as coisas, e que nada acontece, seno pela sua
soberana vontade. Nenhum homem, ou anjo, ou qualquer outra
criatura, em vista de tais fatos, dotado de livre-arbtrio. Satans o
prncipe deste mundo e conserva cativos todos os homens, a menos que
eles sejam libertos pelo poder do Esprito Santo.
38. 42 Nascido Escravo
39. c aptulo 2 O Que Erasmo ensinava Argumentos: l: Definio de
Erasmo do
livre-arbtrio...........................................................45
2: Argumento de Erasmo baseado em um livro
apcrifo......................................47 3: Trs pontos de
vista de Erasmo a respeito do
livre-arbtrio..........................48 4: Voltando ao argumento
de Erasmo baseado em Sracides (Eclesisticos)
15.14-17...............................................................49
5: Exame posterior do uso que Erasmo fez de Sracides (Eclesisticos)
15.14-17................................................................50
6: Os argumentos de Erasmo devem significar que a vontade do homem
completamente
livre.....................................................51 7:
Gnesis 4.7 outro texto que prova que receber um mandamento no
significa ter a capacidade de
obedec-lo....................................................52 8:
Deuteronmio 30.19 a lei designada para nos dar conhecimento do
pecado...................................................................................53
9: Confuso de Erasmo acerca da lei e do
evangelho...........................................54 10: A
vontade revelada de Deus e a vontade secreta de
Deus.................................56 11: A obrigao no evidncia
de capacidade para obedecer...............................57 12: O
homem no deve intrometer-se na vontade secreta de
Deus..........................59
40. 44 Nascido Escravo Argumentos 13: A lei mostra a fraqueza
humana e o poder salvador de Deus............................60 14:
O Novo Testamento prov instrues para guiar os
justificados......................61 15: A base para o galardo do
crente a promessa de Deus e no o mrito do
homem.................................................62 16: A
soberania de Deus no anula a nossa
responsabilidade.................................64
41. O Que Erasmo ensinava 45 argumento 1 Definio de Erasmo
dolivre-arbtrio. Para ser justo, terei de citar a sua prpria
definio de livre- arbtrio. Voc diz: Compreendo o livre-arbtrio como
o poder da vontade humana mediante o qual uma pessoa pode aplicar
ou afastar-se das coisas que conduzem eterna salvao. Voc pode
realmente chamar isso de definio? Uma definio precisa ser clara, e
cada aspecto dessa declarao precisa ser explicado para tornar-se
claro. Alm disso, voc comea definindo uma coisa, mas termina
definindo algo inteiramente diferente. Quero dizer que somente Deus
tem a liberdade de vontade que voc descreve e ainda supe que
pertence aos homens. Entretanto, o homem como um escravo, cuja nica
liberdade consiste em obedecer a seu senhor. Os seres humanos s
agem de acordo com as determinaes de Deus. Ser isso liberdade de
arbtrio como voc a descreve?
Porconseguinte,tereideconsideraressasupostadefinioemseus vrios
aspectos.Alguns deles so suficientemente claros, mas tenho de
realar outros aspectos, antes que possa mostrar onde eles erram.
Eles parecem ter medo da luz, como se fossem culpados de alguma
coisa. Comearei supondo que o poder da vontade humana, a respeito
do qual voc fala, seja o de aceitar ou rejeitar alguma coisa, o po-
der de aprovar ou desaprovar. Essa realmente a funo da vontade
humana. Mas, em seguida, voc acrescenta: ...mediante o qual uma
pessoa pode aplicar-se.... O que voc est fazendo separar o ho- mem
de sua vontade. Est dando pessoa o poder de dirigir a sua vontade.
Entretanto, a vontade de um homem faz parte dele a parte dele que
faz essas escolhas. Obviamente, separar o homem de sua vontade e
conferir-lhe poder sobre ela, absurdo! Se, porventura, entendi mal
a questo, a culpa sua, Erasmo, por no haver escrito com mais
clareza!
42. 46 Nascido Escravo Em seguida, quais so as coisas que
conduzem eterna salva- o? Elas tm de ser as palavras e as obras de
Deus. Nenhuma outra coisa pode conduzir-nos salvao eterna. Alis, a
mente humana incapaz de apreender o significado da salvao. Paulo
diz: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em
corao humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam (l Co
2.9). Paulo passa ento a dizer como podemos tomar conhecimento
dessas realidades: Mas Deus no-lo revelou pelo Esprito... (l Co
2.10). Isso sem dvida significa que sem o Esprito Santo jamais
tomaramos conhecimento dessa salvao, e assim sendo, no pode- ramos
nos dedicar a busc-la. Alguns dos homens mais bem instrudos deste
mundo tm consi- derado as verdades espirituais como bobagem. De
fato, quanto mais brilhantes tm sido as suas mentes, mais ridculas
lhes parecem ser as verdades espirituais. Os homens s podem chegar
a reconhecer as realidades dos valores espirituais em seus coraes
quando o Esprito Santo os ilumina. Em seguida, voc assevera que o
livre-arbtrio a capacidade que a vontade humana tem, por si mesma,
de decidir se aceita ou no a palavra e as obras de Deus. Isso
equivale a fazer com que a vontade hu- mana seja capaz de escolher
entre o cu ou o inferno. Isso significa que no h espao para a atuao
do Esprito Santo ou para a graa divina, colocando a vontade humana
no mesmo nvel de Deus. Os pelagianos tambm fizeram isso. Mas voc os
ultrapassa! Eles distinguiam em duas partes o livre-arbtrio o poder
de com- preender a diferena entre as coisas e o poder de escolher
entre elas. Porm, para voc o livre-arbtrio tem o poder de escolher
coisas eternas, embora seja totalmente incapaz de entend-las. Desse
modo, voc criou um meio livrearbtrio. Alm disso, voc contradiz a si
mesmo, visto que afirmou que a vontade humana nada pode fazer sem a
graa divina. No entanto, quando voc escreveu uma definio do
livre-arbtrio, concedeu total liberdade para a vontade
43. O Que Erasmo ensinava 47 humana. Voc um homem muito
estranho! Prefiro at mesmo o ensinamento de alguns dos antigos
filsofos aos seus. Eles diziam que um homem entregue a si mesmo s
faria o que errado. O homem s poderia escolher o bem com a ajuda de
graa divina. Eles diziam que os homens so livres para cair, mas
precisam de ajuda para elevarem-se! Porm, risvel chamar isso de
livre-arbtrio. Com base em tais conceitos, eu poderia afirmar que
uma pedra tem livre-arbtrio, pois s pode cair, a menos que seja
erguida por algum! O ensino daqueles filsofos, porm, ainda melhor
do que o seu, pois a sua pedra, Erasmo, pode escolher se sobe ou
desce! argumento 2 Argumento de Erasmo baseado em um livro apcrifo.
Voc alicera a sua defesa do livre-arbtrio no livro apcrifo de
Sracides (Eclesisticos) 15.14-17: No princpio ele fez o homem e o
deixou entregue ao seu prprio arbtrio. O escritor desse livro
apcrifo ainda adiciona as seguintes palavras sobre os mandamentos e
preceitos de Deus: Se queres, guardars os mandamentos, e fars
fielmente a sua vontade. Diante de ti foi colocado o fogo e a gua,
podes estender a mo para onde quiseres. Diante dos homens esto vida
e morte; a cada um ser dado o que lhe agradar. Eu poderia eliminar
esse suposto texto de prova asseverando que o livro de Sracides
(Eclesisticos) nunca foi includo pelos judeus como poro integrante
do Antigo Testamento; porm, basta-me dizer que voc mesmo afirmou
que tal livro obscuro e ambguo. Levaria uma eternidade, para voc ou
para qualquer outro apresentar uma passagem que diga claramente no
que consiste o livre-arbtrio.
44. 48 Nascido Escravo argumento 3 Trs pontos de vista de
Erasmo a respeito do livre-arbtrio. Voc apresenta trs pontos de
vista acerca de um mesmo livre- arbtrio. Examinemo-los! O primeiro
a idia que o homem no pode querer fazer o bem; ele no pode tomar
tal iniciativa, progredir nessa direo ou consumar o bem, sem a graa
especial. A esse ponto de vista, voc chama de rgido, mas
suficientemente provvel. O segundo ponto de vista, que voc reputa
ainda mais rgido, o de que o livre-arbtrio s pode conduzir o homem
ao pecado, e que somente a graa divina pode conduzi-lo bondade. O
terceiro ponto de vista, que voc considera como o mais rgido de
todos, que o livre-arbtrio no tem qualquer sentido, e que Deus a
causa tanto do bem quanto do mal que em ns existe. Voc se declara
disposto a aceitar o primeiro desses trs pontos de vista, porquanto
permite que o homem faa algum esforo. E afirma que ope-se aos dois
outros. Voc parece no saber o que est dizendo! Esses no so,
realmente, trs diferentes pontos de vista. So um nico ponto de
vista, expresso mediante diferentes palavras, em ocasies diferentes
por seus oponentes. Sua definio de livre-arbtrio em coisa alguma
assemelha-se ao primeiro ponto de vista, o qual voc declara
aceitvel. A sua definio assegura que o livre-arbtrio pode fazer
tanto o bem quanto o mal. No entanto, o ponto de vista que voc
aceita, afirma que a vontade humana no pode escolher o bem sem a
ajuda da graa divina. Assim, voc j conta com duas vontades humanas
em desacordo. Ao aceitar o primeiro ponto, voc concorda que o
livre-arbtrio no pode praticar o bem. Voc mesmo disse, um pouco
antes: A vontade humana to maligna que perdeu a sua liberdade,
sendo forada a servir ao pe- cado, no podendo retomar a um estado
melhor. No obstante, quando eu digo exatamente a mesma coisa, voc
diz: Nunca se ouviu coisa
45. O Que Erasmo ensinava 49 to absurda. O que voc escreve
significa que tentar ser bom, est e ao mesmo tempo no est no poder
do livre-arbtrio. Se isso no um absurdo, eu gostaria de saber o que
! As suas afirmativas so de tal modo contrrias umas s outras que no
h qualquer possibilidade delas permanecerem coesas. No h meio termo
entre ser capaz de fazer o bem e no ser capaz de fazer o bem. No
que concerne ao segundo e ao terceiro pontos de vista que voc
delineou, nada h neles que j no se encontre no primeiro. Os trs
pontos de vista concordam plenamente uns com os outros. Voc diz que
se ope ao segundo e ao terceiro, mas todos os trs afirmam que a
vontade humana perdeu a sua liberdade, sendo forada a servir ao
pecado, no podendo pr o bem em prtica. Ora, se isso verdade, se-
gue-se que quando o ser humano pratica algum mal, assim age porque
forado. Ele no pode evit-lo. argumento 4 Voltando ao argumento de
Erasmo baseado em Sracides (Eclesisticos) 15.14-18. Retornemos
quela passagem do livro apcrifo de Sracides (Eclesistico), a fim de
compar-la com o primeiro dos trs pontos de vista que acabamos de
aludir. Esse ponto de vista, que voc afirma ser provavelmente
correto, declara que o livre-arbtrio no pode querer pra- ticar o
bem. No entanto, aquela passagem extrada do livro de Sracides
(Eclesisticos) foi citada a fim de provar que o livre-arbtrio pode
fazer algo de bom. Segundo a sua opinio, essa passagem deveria
apoiar o pri- meiro ponto de vista, no entanto ela no diz nada a
respeito do assunto. Seria como algum citar uma passagem qualquer
sobre Pilatos, como go- vernador da Sria, a fim de provar que
Cristo foi o Messias! Mas para sermos justos, consideraremos o
trecho de Sracides
46. 50 Nascido Escravo (Eclesisticos) 15.14-17. Esse trecho
comea dizendo: No princpio ele fez o homem e o deixou entregue ao
seu prprio arbtrio. At essa altura, no h qualquer referncia aos
mandamentos. O homem era dotado de uma vontade inteiramente livre
quando o Senhor Deus o tornou senhor de todas as coisas. Mas, ento
lemos que Deus acrescentou seus mandamen- tos e preceitos: Se
queres, guardars os mandamentos, e fars fielmente a sua vontade...
E isso tambm exprime uma verdade. Deus tirou o ho- mem de sua posio
de domnio, e, dali por diante, ele ficou debaixo dos mandamentos.
No era mais livre. Portanto, voc pode ver que possvel compreender
essa passagem de Sracides (Eclesisticos) de uma maneira que
concorda comigo e no com voc!Aminha compreenso desse trecho
concorda com a totalidade das Escrituras. A sua maneira de
compreend- lo faz esse texto voltar-se contra as Escrituras em sua
inteireza. argumento 5 Exame posterior do uso que Erasmo fez de
Sracides (Eclesisticos) 15.14-17. Voc, Erasmo, sugere que as
palavras Se queres, guardars os mandamentos mostram que o homem
capaz de escolher com liber- dade. Argumentar assim avaliar o que
seriam as palavras de Deus de acordo com a razo humana. Porm, eu
posso provar que, mesmo de conformidade com a razo humana, as
palavras Se queres, guardars os mandamentos nem sempre significam
uma capacidade para obedecer. Por exemplo, os pais com freqncia
dizem a seus filhos para fazerem algo, no para provarem o que eles
podem fazer, mas a fim de provar que eles no podem fazer, para que
aprendam a pedir ajuda. tambm assim que Deus lida conosco. Ele d a
sua lei a fim de mostrar-nos a nossa total incapacidade de
observ-la. Esse o ensina- mento de Paulo em Romanos 3.20 e 5.20 e
em Glatas 3.19,24.
47. O Que Erasmo ensinava 51 argumento 6 Os argumentos de
Erasmo devem significar que a vontade do homem completamente livre.
H uma contradio bsica em seu argumento. Por um lado, voc diz que as
palavras de Sracides (Eclesisticos) 15.14-17 Se queres, guardars os
mandamentos... significam que o homem pode livremente escolher. Mas
voc tambm diz que o primeiro dos trs possveis pontos de vista
provavelmente verdadeiro. No entanto, esse ponto de vista afirma
que o livre-arbtrio no pode fazer bem algum. Voc no pode manter
essas duas posies! Ora, o livro de Sracides (Eclesisticos) no diz
Se queres, e tentares, guardars os mandamentos, diz: Se queres,
guardars os mandamentos. Por conseguinte, se o livro de Sracides
(Eclesisticos) favorece o livre-arbtrio, em algum sentido, deve
estar em pauta uma liberdade total, no apenas parcial. Essa foi a
concluso a que chegaram os pelagianos acerca dessas palavras.
Qualquer um que deseje discordar dos pelagianos enfrentar um grande
problema. Tal pessoa talvez queira apenas conceber um livre-
arbtrio parcial, a exemplo do que voc faz. O que significa que um
homem livre meramente para desejar e tentar obedecer a Deus. Os
pelagianos retrucariam dizendo que essa passagem ensina um comple-
to livre-arbtrio ou uma completa servido da vontade. E levariam
esse argumento ainda mais adiante, para o trecho que diz: ...Se
queres, guardars os mandamentos, e fars fielmente a sua vontade.
Como re- sultado disso, os pelagianos ensinavam que o homem livre
para crer. No obstante, na Bblia, Paulo enfaticamente argumenta
contra tal idia, ao dizer que a f um dom especial conferido por
Deus (Ef 2.8). Contudo, cumpre-me retornar ao meu argumento de que
o livro de Sracides (Eclesisticos) no prega o livre-arbtrio.
Constitui um
48. 52 Nascido Escravo grande erro argumentar que as palavras
Se queres, guardars os man- damentos, devem significar portanto, tu
podes. O primeiro homem, Ado, era assistido pela graa de Deus e, no
entanto, desobedeceu. Se Ado desobedeceu, o que podemos ns fazer,
antes de havermos recebido qualquer graa divina? O livre-arbtrio
completamente im- potente. Se pusermos a situao de Ado ao lado do
trecho de Sracides (Eclesisticos) 15.14-17, voc ver que esse
trecho, longe de manifes- tar-se em favor do livre-arbtrio
fortssimo argumento contra tal idia. Essa passagem, pelo contrrio,
ensina o nosso dever de cumprir a vontade de Deus e no a nossa
capacidade de obedecer a Deus. argumento 7 Gnesis 4.7 outro texto
que prova que receber um mandamento no significa ter a capacidade
de obedec-lo. Erasmo, voc cita as palavras de Gnesis 4.7: ...eis
que o pecado jaz porta; o seu desejo ser contra ti, mas a ti cumpre
domin-lo, para provar que maus pensamentos podem ser controlados,
no levando, necessariamente, ao pecado. Uma vez mais voc contradiz
a si mesmo. Voc j havia dito que o ponto de vista que provavelmente
verdadeiro aquele que afirma que a vontade humana no pode querer o
que bom. No entanto, aqui voc diz que o homem pode dominar os maus
desejos, sem fazer qualquer aluso ajuda de Cristo ou do Esprito
Santo. Esse texto bblico, na verdade, no est ensinando nada disso.
um outro exemplo de que ao homem mostrado o que ele deve fazer, e
no o que ele pode fazer. Outro exemplo disso o primeiro mandamento:
No tersoutrosdeusesdiantedemim....Ostextoscitadossomandamentos,e
mandamentosnoimplicamacapacidadedeobedecer.Pelocontrrio,de-
monstramincapacidadedeobedecer,como,porexemplo,nocasodeCaim.
49. O Que Erasmo ensinava 53 argumento 8 Deuteronmio 30.19 a
lei designada para nos dar conhecimento do pecado. Essa a terceira
passagem que voc cita a favor do livre-arbtrio. No texto se l: Te
propus a vida e a morte, a bno e a maldio: es- colhe, pois, a
vida.... Voc diz: O que poderia ser mais claro, do que dizer que o
homem tem liberdade de escolha? Entretanto, replico que voc est
cego! Quando Moiss disse escolhe, pois, a vida, porventura o povo
israelita escolheu a vida? Se eles tivessem feito essa escolha, no
teria havido necessidade das operaes do Esprito Santo. Voc diz:
ridculo dizer a um homem, diante de dois caminhos, para ele ir pelo
que lhe agrada, se apenas um dos caminhos estiver livre sua frente.
Que ilustrao tola! verdade que ns estamos diante de uma bifurcao;
porm os dois caminhos e no somente um esto fechados para ns. Somos
incapazes de tomar o caminho que conduz ao bem, sem a graa de Deus.
E nem mesmo podemos tomar o outro cami- nho, sem a permisso de
Deus! Em Romanos 3.20, Paulo no diz: Pela lei vem o pleno
conhecimento da bondade, nem: Pela lei vem o pleno conhecimento da
vontade. Ele diz: Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. A
lei no ensina o que os homens podem fazer, mas o que os homens
devem fazer. Em seguida, voc cita Deuteronmio 3 acerca de escolher,
de desviar-se e de observar.Voc diz que se as pessoas no tm
realmen- te poder para fazer essas coisas, ento os mandamentos so
destitudos de significado. Uma vez mais, porm, todos esses
mandamentos dizem o que as pessoas devem fazer e no o que podem
fazer. No so destitudos de significao. Tm por desgnio ensinar ao
homem orgulhoso o quo impotente ele . Voc tenta ridicularizar essa
posio, comparando-a a um homem que esteja totalmente amarrado,
menos o seu brao esquer- do. Ento lhe dito que h um bom vinho sua
direita e veneno sua
50. 54 Nascido Escravo esquerda. -lhe ento ordenado que escolha
um deles. O que voc est tentando provar com essa ilustrao? Estar
tentando provar a liberdade absoluta da vontade humana? Mas quo
esquecido voc ! Voc j tinha dito que o livre-arbtrio nada pode
fazer sem a graa de Deus. Voc tentou ridicularizar a minha posio
com a sua ilustrao, porm deixe- me expor a minha posio com uma
ilustrao melhor. Imaginemos um homem com ambos os braos amarrados!
Esse homem gaba-se de que livre para mover seus braos para a
direita e para a esquerda. Ordena-se, ento, a ele que mova um brao
em uma certa direo no a fim de divertir-se com ele, mas a fim de
provar que ele incapaz de obedecer. Nas Escrituras aprendemos que o
homem no apenas est amarrado por Satans, mas tambm iludido na crena
de que livre para fazer o que direito. A lei de Moiss foi dada para
mostrar aos homens que eles esto iludidos com sua liberdade
imaginria. argumento 9 Confuso de Erasmo acerca da lei e do
evangelho. Voc se vale de inmeras passagens para provar a sua
posio, mas fracassa completamente em sua tentativa de mostrar a
diferena entre a lei e o evangelho. Deixe-me mostrar como o
evangelho ensinado em passagens que voc pensa que dizem respeito
lei. Para exemplificar, consideremos o texto de Jeremias 15.19: Se
tu te arrependeres, eu te farei voltar e estars diante de mim...; e
Zacarias 1.3: Tornai-vos para mim, diz o Senhor dos Exrcitos, e eu
me tornarei para vs outros... Porventura, tornai-vos prova que o
homem tem a capacidade de vol- tar? E amars, pois, o Senhor teu
Deus de todo o teu corao, de toda a tua alma, e de toda a tua fora
(Dt 6.5), prova que ele tem capacidade para amar a Deus? Essas
palavras no provam que os homens possam
51. O Que Erasmo ensinava 55 voltar-se para Deus contando
apenas com a sua prpria capacidade. Mas, quando os homens entendem
o que devem fazer, ento eles perguntaro aonde podero encontrar a
capacidade para obedecer. As palavras tor- nai-vos para mim no
significam tentai tornar-vos para mim. Voc diz que a graa divina
posta disposio quando os homens tentam voltar-se para Deus. Mas
isso faria tambm a segunda parte desse ver- sculo significar eu
tentarei tornar-me para vs! Isso seria espantoso! Talvez a graa
tambm esteja disposio do Senhor! Longe de ns os argumentos vazios!
A palavra tornar utilizada nas Escrituras tanto em sentido legal
como em sentido evanglico. Quando ela usada em sentido legal,
trata-se de um mandamento obriga- trio, no apenas uma tentativa do
homem de obedecer, mas uma completa mudana em sua vida (Jr 4. l;
25.5 e 35.15). E quando a palavra tornar empregada em seu sentido
evanglico, ela proferida por Deus como um consolo e uma promessa,
quando coisa alguma exigida de ns, mas, antes, a graa de Deus nos
oferecida (SI 14.7; 116.7 e 126.1). Zacarias exibe-nos tanto a
mensagem da lei quanto a mensagem da graa. A totali- dade da lei
resumida nas palavras tornai-vos para mim; a totalidade da graa,
nas palavras e eu me tornarei para vs outros. Voc interpreta de
igual maneira Ezequiel 18.23: Acaso tenho eu prazer na morte do
perverso? diz o Senhor Deus; no desejo eu antes que ele se converta
dos seus caminhos, e viva? Uma vez mais, voc interpreta as palavras
que ele se converta como a capacidade de faz- lo. Voc faz desse
trecho lei, ao invs de evangelho. Faz dele uma ordem para que ns no
pequemos. Isso lei. No entanto, o Senhor declara: Porque no tenho
prazer na morte de ningum... (Ez 18.32), e alude claramente ao
castigo do pecado que o pecador merece e o sabe. Deus est dando a
tal pessoa esperana do perdo e salvao. As palavras da lei pesam
sobre aqueles que no sentem nem reconhecem os seus peca- dos. A
esses mostrado o que devem fazer. Entretanto, o evangelho dirigido
queles que so afligidos pelo senso de pecado e so tentados a cair
no desespero.
52. 56 Nascido Escravo Portanto, essas palavras em Ezequiel, no
tenho prazer na morte de ningum, longe de provarem o livre-arbtrio,
provam exa- tamente o contrrio. Elas mostram quo impotentes somos
parte das promessas de Deus. De fato, vamos nos tornando cada vez
piores, en- quanto a graa de Deus no nos dada. Essas palavras de
misericrdia so necessrias para salvar pecadores (a menos que voc
imagine que Deus diz essas coisas s por dizer). Ningum aceitar essa
promessa divina se- no aquele a quem a lei houver mostrado seu
pecado. Aqueles que ainda no sentiram o poder da lei de Deus e no
temem o julgamento e a morte eterna, no tm interesse pelas
promessas misericordiosas de Deus. argumento 10 A vontade revelada
de Deus e a vontade secreta de Deus. Na passagem do livro de
Ezequiel que acabamos de considerar, o profeta no trata, de forma
alguma, da questo por que algumas pessoas so convencidas do pecado
atravs da lei e outras no. Tambm no trata de por que algumas
pessoas recebem a graa de Deus e outras no. Precisamos estabelecer
clara distino entre a vontade revelada de Deus e a vontade secreta
de Deus. Deus, de acordo com a sua vontade secreta, planejou que
aqueles aos quais escolheu receberiam sua miseri- crdia. No nos
compete inquirir a questo, mas adorar reverentemente ao Senhor.
Devemos nos interessar por aquilo que Deus nos tem revela- do e no
por aquilo que Ele reserva para Si mesmo. Aplicados ao nosso texto,
esses pensamentos significam que Deus, oculto em sua majestade, no
lamenta pela morte do pecador. Mas Deus, como nos revelado, lamenta
sobre a morte que v em seu povo, e tem agido de modo tal que o
pecado e a morte sejam eliminados. imposs- vel sermos orientados
pela vontade secreta de Deus, pois no sabemos
53. O Que Erasmo ensinava 57 no que ela consiste. Basta-nos
saber que a vontade secreta de Deus exis- te, de modo que venhamos
a tem-Lo e ador-Lo. Se estamos falando de Deus, da maneira como Ele
nos revelado, absolutamente certo dizer que a culpa nossa se
perecermos, porque, na verdade, a falha encontra-se na vontade do
homem (Mt 23.27). Mas por que Deus no remove essa falha de cada ser
humano, ou por que nos considera responsveis pelo erro que no
podemos evitar, no nos compete indagar a respeito. E mesmo que
indagssemos, no obtera- mos resposta, conforme diz Paulo, em
Romanos 9.20: Quem s tu, homem, para discutires com Deus? argumento
11 A obrigao no evidncia de capacidade para obedecer. Voc prossegue
com o argumento: Se no est dentro da capacidade de cada indivduo
obedecer ao que ordenado, ento todo encorajamen- to nas Escrituras,
todas as promessas, ameaas, repreenses, bnos, maldies e tantos
exemplos so inteis. Porm, conforme j tenho esclarecido por vrias
vezes, as passagens bblicas que impem o senso de dever no podem ser
utilizadas para provar a existncia de um livre- arbtrio, conforme
voc sugere. Uma das ltimas passagens que voc emprega em respaldo
sua posio Deuteronmio 30.11-14, que diz: Porque este mandamento,
que hoje te ordeno, no demasiado difcil, nem est longe de ti. No
est nos cus, para dizeres: Quem subir por ns aos cus, que no-lo
traga, e no-lo faa ouvir, para que o cumpramos? Nem est alm do mar,
para dizeres: Quem passar por ns alm do mar, que no-lo traga, e
no-lo faa ouvir, para que o cumpramos? Pois esta palavra est mui
perto de ti, na tua boca e no teu corao, para a cumprires.
54. 58 Nascido Escravo Voc diz que essas palavras no somente
mostram que nos pos- svel cumprir aquilo que elas nos ordenam, mas
que algo to fcil quanto cair de uma pinguela. Porm, se realmente
esse o sentido da passagem, ento temos de concluir que Jesus Cristo
foi um tolo por des- perdiar seu tempo. Ele derramou o seu sangue,
a fim de nos garantir o Esprito Santo, embora, o tempo todo, no
tivssemos qualquer necessi- dade dEle, porquanto todos podemos
fazer, fcil e naturalmente, aquilo que Deus requer de ns. Mas, se
esse o caso, como isso se harmoniza com o seu prprio argumento de
que provavelmente seja verdadeiro o ponto de vista de que o
livre-arbtrio no pode fazer o bem sem a gra- a divina? Voc j se
esqueceu de que escreveu isso? Portanto, quase nem preciso
referir-me explicao de Paulo sobre Deuteronmio 30.11-14, em Romanos
10.8. Preciso apenas examinar essa passagem, para ver que nenhuma
palavra dita a res- peito do livre-arbtrio. Por exemplo, o que
significam para voc expresses como: no demasiado difcil, nem est
longe de ti, nos cus e alm do mar? Elas to-somente aludem a coisas
que devemos tentar fazer. Mas nada dizem quanto nossa capacidade de
fazer essas coisas. Elas meramente referem-se noo de distncia. Eu
sei que tudo isso uma lgica infantil, mas, que posso fazer quan- do
me deparo com argumentos to tolos? Nesta passagem, Moiss mostrou,
de forma patente, ser legislador fiel. Ele deixou o povo sem a
desculpa de desconhecer a lei de Deus. Eles no precisavam olhar em
lugar algum a fim de tomar conhecimento do que Deus exige. Eles no
podiam alegar ignorncia, como desculpa por no observar lei. Eles no
podiam dizer que tudo era um mistrio. Tudo estava claro para que
todos vissem. Ento, do livre-arbtrio so retiradas todas as
desculpas para desobedecer. Repito que esses textos bblicos
mostram-nos somente aquilo que Deus requer. Mostram-nos o que
devemos fazer, mas que no podemos fazer. Seu intuito mostrar-nos
quo impotentes e quo pecaminosos ns somos.
55. O Que Erasmo ensinava 59 argumento 12 O homem no deve
intrometer-se na vontade secreta de Deus. Agora chegamos aos seus
textos comprobatrios do Novo Testamento. Voc destaca o texto de
Mateus 23.37: Jerusalm! Jerusalm!... quantas vezes quis eu reunir
os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das
asas, e vs no o quisestes! Voc argumenta que, se tudo acontece
precisamente conforme Deus deseja, ento Jerusalm poderia replicar
com justa causa: Por que desperdias as tuas lgrimas? Se no tinhas a
inteno que dssemos ouvidos aos profetas, ento por que os enviaste?
Por que nos consideras respons- veis, quando Tu decidiste aquilo
que deveramos fazer? Porm, conforme eu j disse, no nos compete
intrometermo-nos na vontade secreta de Deus, pois as coisas
secretas de Deus esto intei- ramente fora do nosso alcance (l Tm
6.16). Devemos dedicar o nosso tempo considerando o Deus encarnado,
o Senhor Jesus Cristo, em quem Deus tornou claro para ns o que
deveramos e o que no deveramos saber (Cl 2.3). verdade que o Deus
que se tornou carne exclamou: Quantas vezes quis eu... e vs no o
quisestes! Cristo veio a este mun- do a fim de realizar, sofrer e
oferecer a todos os homens tudo quanto necessrio sua salvao. Mas
alguns homens, endurecidos por causa da vontade secreta do Senhor,
rejeitam-nO (Jo 1.5,11). O mesmo Deus encarnado, entretanto, chora
e lamenta-se em face da destruio eterna dos mpios, ainda que, em
sua divina vontade, propositalmente Ele os tenha deixado perecer.
No nos cabe perguntar por qu, mas antes, nos prostrarmos admirados
diante de Deus. Neste instante alguns diro que logo que sou
empurrado para um canto, evito enfrentar frontalmente a questo,
dizendo que no devemos nos intrometer na vontade secreta de Deus.
Entretanto, isso no in- veno minha. Foi dessa maneira que Paulo
argumentou em Romanos
56. 60 Nascido Escravo 9.19,21; e Isaas, antes de Paulo (Is
58.2). evidente que no devemos procurar sondar a vontade secreta de
Deus, sobretudo quando observa- mos que so justamente os mpios que
so fortemente tentados a faz-lo. Ns devemos adverti-los a ficar
calados e reverentes. Se algum quiser levar avante essa forma de
inquirio, bem-vindo a faz-lo; porm, des- cobrir-se- lutando contra
Deus. Quanto a ns ficaremos observando para ver quem vencer!
argumento 13 A lei mostra a fraqueza humana e o poder salvador de
Deus. Um outro trecho que voc cita Mateus 19.17: Se queres, porm,
entrar na vida, guarda os mandamentos. Voc indaga como que as
palavras se queres poderiam ter sido dirigidas a algum cuja vontade
no livre. No entanto, voc j havia concordado que o livre-arbtrio no
pode querer nenhuma coisa boa e que, sem a graa divina, pode so-
mente servir ao pecado. Como, ento, pode querer provar que a
vontade humana inteiramente livre? Ser realmente verdade que a cada
vez em que dizemos a algum se quiseres, ou se desejas, significa
que exis- te a capacidade de se fazer aquilo? Suponha que digamos o
seguinte: Se voc quiser comparar-se a Davi, ter de produzir salmos
como os dele. No estaramos dizendo que isso nos seria impossvel, a
menos que Deus nos capacitasse para tanto? Assim, nas Escrituras
encontramos ex- presses similares a essa, para nos mostrar o que
pode ser feito no poder de Deus e o que no podemos fazer por ns
mesmos. Essas expresses no somente mostram coisas que no podemos
fazer com nossos pode- res naturais, mas tambm revelam uma promessa
do tempo em que essas coisas sero realizadas atravs do poder de
Deus. Poderamos exprimir o sentido das Escrituras assim: Se
chegares a manifestar a vontade de
57. O Que Erasmo ensinava 61 guardar os mandamentos (o que
ters, no por ti mesmo, mas atravs de Deus, que a d a quem Ele
deseja), ento, eles te preservaro. Dessa maneira, podemos perceber
que no podemos fazer nenhuma daquelas coisas que nos so ordenadas,
ao mesmo tempo em que pode- mos fazer todas elas; pois, nossas
fraquezas pertencem a ns mesmos e a nossa capacidade nos dada
atravs da graa de Deus. argumento 14 O Novo Testamento contm
instrues para guiar os justificados Voc emprega um argumento
alicerado em muitas referncias do Novo Testamento a respeito de
boas e ms obras. Por exemplo: Regozijai-vos e exultai, porque
grande o vosso galardo nos cus; pois assim perseguiram aos profetas
que viveram antes de vs (Mt 5.12). Voc diz que, se tudo feito
porque assim Deus o deseja, no pode haver qualquer mrito nas boas
obras. Isto posto, voc quer que o texto signifique que o homem pode
fazer, sem a ajuda divina, boas obras que merecero recompensas no
cu. Ora, vejam s! O livre-arbtrio tem sofrido algumas distores,
medida em que o seu livro avana! No somente o livre-arbtrio capaz
de querer e de realizar o bem, mas agora voc tambm quer que o mesmo
merea a vida eterna! Nesse caso, que necessidade temos de Cristo ou
do Esprito Santo? Homens espertos podem ser cegos para as coisas
que so per- feitamente claras s pessoas comuns! Voc no consegue
perceber a diferena entre o Antigo e o Novo Testamento. No Antigo
Testamento, h leis e ameaas cujo propsito fazer-nos avanar para as
promessas encontradas no Novo Testamento. No Novo Testamento
encontramos o evangelho, onde achamos a graa e o perdo dos pecados,
que nos foram obtidos pelo Cristo crucificado. Alm disso, h
encorajamento
58. 62 Nascido Escravo e instrues cujo intuito despertar
aqueles que forem justificados, aps haverem recebido a graa e
perdo, para que produzam o fruto do Esprito e para que carreguem
ousadamente a cruz. Voc est cego com respeito a total operao
regeneradora do Esprito de Deus, vendo nas Escrituras somente leis
por meio das quais os homens deveriam viver. Isto surpreendente, em
algum que tem pas- sado tanto tempo estudando as Escrituras. O
texto de Mt 5.12 tem tanto a ver com o livre-arbtrio como a luz tem
a ver com as trevas, tendo por nico desgnio encorajar os apstolos,
que j estavam debaixo da graa divina, a fim de perseverarem diante
das dificuldades do mundo. argumento 15 A base para o galardo do
crente a promessa de Deus e no o mrito do homem O galardo, referido
em Mateus 5.12, uma espcie de promessa. Uma promessa, entretanto,
no prova que podemos fazer coisa algu- ma. Prova apenas que, se
fizermos certas coisas, seremos galardoados. A questo se realmente
podemos fazer as coisas em razo das quais o galardo dado. Alguns
dizem: O prmio posto perante todos os que correm, assim