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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO DISCIPLINA: PRODUÇÃO E RECEPÇÃO DE TEXTO DOCENTE: IONELI BESSA FERREIRA ELIETE CRISTINA OLIVEIRA DA CUNHA MEYSE LEAL DE ABREU WENDEL LEAL TRINDADE WILLIAM TEIXEIRA GONÇALVES O BUDISMO E SUAS PRÁTICAS

O budismo e suas práticas

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Page 1: O budismo e suas práticas

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

DISCIPLINA: PRODUÇÃO E RECEPÇÃO DE TEXTO

DOCENTE: IONELI BESSA FERREIRA

ELIETE CRISTINA OLIVEIRA DA CUNHA

MEYSE LEAL DE ABREU

WENDEL LEAL TRINDADE

WILLIAM TEIXEIRA GONÇALVES

O BUDISMO E SUAS PRÁTICAS

BELÉM-PARÁ

2010

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ELIETE CRISTINA OLIVEIRA DA CUNHA

MEYSE LEAL DE ABREU

WENDEL LEAL TRINDADE

WILLIAM TEIXEIRA GONÇALVES

O BUDISMO E SUAS PRÁTICAS

Trabalho apresentado à disciplina, Produção e Recepção de Texto como requisito parcial da 4ª avaliação, orientado pela docente Ioneli Bessa Ferreira.

BELÉM-PARÁ

2010

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RESUMO

Dentre as várias religiões que existem no mundo, o budismo se destaca como uma das cinco maiores, junto com o Cristianismo, o Judaísmo, o Islamismo e o Hinduísmo. Em nosso trabalho procuramos abordar quatro dos grandes pensamentos budistas como parte integrante de sua doutrina.

O pensamento comum do Budismo como religião sacerdotal, a prática leiga no budismo, sua difusão no ocidente, mas especificamente no Brasil e o exotismo da doutrina/filosofia Budista, foram os que nos levaram a realização desse trabalho.

Este artigo visa discutir acerca da religião budista onde as questões que nortearam essa pesquisa foram: no que se baseia a filosofia budista? Como se dá a prática budista no ocidente? E que diferenças podemos encontrar entre o budismo praticado no Japão para o praticado no Brasil. Em seguida nossos objetivos dentro destas perguntas foram verificar os pontos mais destacados e importantes dentro da filosofia budista; analisar a influência budista na sociedade brasileira; e verificar as especificidades que diferem o budismo japonês do budismo brasileiro. Visto que devido às justificativas e aos objetivos era se necessário fazer uma pesquisa de campo como grande fonte de informação como metodologia. Visitamos um centro budista no município de Ananindeua onde entrevistamos o seu diretor e conseguimos grande parte do conhecimento produtor deste artigo.

Como referenciais teóricos nos detivemos em livros que abordam cada um desses pontos importantes da religião budista juntamente com outras obras que complementaram este artigo. Nossos resultados, a serem mais trabalhados no final desta produção, nos ajudaram a ter uma nova visão de como esta filosofia/religião se molda e a faz ser uma doutrina tão admirada no mundo das religiões.

Palavras-Chave: Filosofia; Influência; Prática; Budismo; Difusão

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1. INTRODUÇÃO

Mas por que estudar o Budismo? Eis uma pergunta que nos fez ter um foco dentro deste trabalho de pesquisa e como pesquisadores do universo religioso. É comum, ao se fazer um estudo prévio do Budismo, pensar que esta religião apresenta apenas uma doutrina sacerdotal, no sentido de formar sacerdotes/monges budistas. Através deste artigo, podemos mostrar que há uma forte, e talvez mais intensa, prática leiga dentro deste movimento religioso tão difundido no ocidente e no oriente. Fomos motivados a tentar conhecer essas práticas leigas e obtivemos mais uma justificativa que seria a difusão do budismo no ocidente. Visto que sua difusão se dá de uma forma muito ampla, foi-se preciso especificar sua difusão dentro do território brasileiro. Mas foi o grande exotismo doutrinal/filosófico do budismo que nos fez ter o interesse de montar este artigo científico.

Dentro do processo de conhecimento das religiões, este trabalho teve como relevâncias o próprio conhecimento do Budismo e tentar, através do processo de pesquisa, formular hipóteses que serão analisadas nos resultados, mas como indagações procuramos: verificar no que se baseia a filosofia budista? Como se dá a prática budista no ocidente? E que diferenças podemos encontrar entre o budismo praticado no Japão pra o praticado no Brasil. Essas perguntas são de total importância para o trabalho no sentido de nos encaminhar no universo da religião budista e sua difusão.

Os objetivos, dentro da análise do parágrafo anterior, foram verificar os pontos mais destacados e importantes dentro da filosofia budista. Visto que as quatro grandes verdades do budismo serem um marco de sua filosofia, tivemos a preocupação de identificar cada uma dessas verdades e o que as faz terem tanto respaldo dentro da religião. Analisar a influência budista na sociedade brasileira visto que esta religião imigrante passou a fazer das religiões que mais se destacam quando se implantaram no Ocidente. E verificar as especificidades que diferem o budismo japonês do budismo brasileiro no sentido que, como o Budismo está no Brasil à quase 100 anos foi-se necessário verificar se algo mudou dentro de sua doutrina ao se deparar com outra cultura.

Como referencial teórico, nos baseamos em documentos escritos que dão grande destaque a religião/filosofia, tanto em questões doutrinais quanto estatísticas e geográficas, como:

SMITH, Huston – As Religiões do Mundo. 2005

PIAZZA, Pe. Waldomiro O. – Religiões da Humanidade, 2005

PECÍLIA, Eliene. Budismo - Religião Budista. 2006

Como metodologia, procuramos fazer um trabalho de pesquisa de campo no centro budista paraense BSGI (Brasil Soka Gakkai Internacional) situado na rodovia BR 316, em Ananindeua, onde fizemos duas entrevistas com o senhor Aristides Pereira da Silva Neto, dirigente da BSGI Pará em 16 de junho de 2010 e em 24 de agosto de 2010. Devido às atividades do centro, só foi possível haver a entrevista com o senhor Aristides, o que não desmereceu a entrevista visto que este tinha amplo conhecimento da história e da doutrina do Budismo. Como instrumentos da entrevista tivemos a preocupação de gravar a entrevista e escrever os principais pontos que o senhor Aristides nos apresentava sobre o Budismo e sua difusão

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2. NO QUE SE BASEIA A FILOSOFIA BUDISTA

Como já foi mencionada, grande parte da filosofia budista está nos acontecimentos fora do palácio de Siddhartha Gautama. Ele se deparou com muitos estados sentimentais do ser humano como a miséria, a pobreza, a tristeza e o sofrimento. Disto ele começa a fazer sua própria “revolução humana” e inovando mais análises do processo que é a vida. Dentro seus principais ensinamentos destacam-se:

2.1- O SOFRIMENTO

Primeiramente, no Budismo o sofrimento é visto como algo inerente ao ser humano, algo que já nasce inseparavelmente com cada pessoa. Buda Sakyamuni afirmava que tudo é sofrimento, porém não deve se levar “ao pé da letra”.

“[...] Buda entende que a existência é sofrimento. Ele não nega que possam haver momentos de alegria, mas eles não são perenes nem definitivos. Na verdade, eles são instáveis e esta é a origem da fragilidade e do sofrimento do ser.[...]” (SMITH,2005)

O Budismo consiste no ensinamento de como superar o sofrimento e atingir o nirvana (estado total de paz e plenitude) por meio da disciplina mental e de uma forma correta de vida. Também crêem na lei do carma, segundo a qual, as ações de uma pessoa determinam sua condição na vida futura. A doutrina é baseada nas Quatro Grandes Verdades de Buda:

A- A Natureza da Existência: É um estado de existência imperfeito e por isso deve ser transcendido. De uma forma ou outra a vida como a conhecemos é finalmente levada ao sofrimento e/ou mal-estar. É o estado de quase dor física e angústia mental causado pelo sentimento de falta de liberdade.

B- A natureza da Causa: o sofrimento é ligado pelo desejo que apresenta um aspecto negativo. Isso é, muitas vezes, expressado como um engano agarrado a um certo sentimento de existência, a individualidade, ou para coisas ou fenômenos que consideramos causadores da felicidade e infelicidade;

C- A Liberdade Final na Existência Perfeita o sofrimento acaba quando termina o desejo. Isso é conseguido através da eliminação da ilusão para assim alcançamos um estado de libertação do iluminado. . É a "libertação", que possibilita ao homem o poder despedaçar as algemas que o prendem ao círculo do nascimento, mortes e renascimentos sucessivos, origem de todas as misérias desta vida, e inverter o processo, praticando no cotidiano e a cada instante as virtudes mais exemplares ensinadas pelo budismo.

D- O Caminho do Meio e a Trilha Óctupla: É o meio pelo qual o Primeiro Princípio é percebido e reconhecido, o Segundo Princípio é conhecido e compreendido, e o Terceiro Princípio é efetivado, e com isso o Nirvana é atingido. É o caminho que conduz à destruição da dor. Esse estado é conquistado através dos caminhos ensinado pelo Buda.

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2.2- A FELICIDADE

Quando as necessidades de uma pessoa são realizadas, ela sente felicidade, mas a simples realização dos desejos não pode sustentar este sentimento de felicidade. Mesmo apesar de não estar totalmente satisfeita com sua vida atual, pode sentir que é mais feliz do que outrora. Porém, ninguém é constantemente feliz. Sempre haverá situações difíceis, por melhor que seja o momento.

Tal felicidade é essencialmente relativa. Uma felicidade mais profunda e duradoura não depende do objeto do desejo ou da necessidade, nem do próprio passado, nem da vida do vizinho, tampouco de qualquer outro fator externo. O principal ingrediente para essa felicidade encontra-se na própria vida. A felicidade está diretamente relacionada ao grau em que se pode extrair a própria força vital e à esperança no futuro. De maneira contrária, se uma pessoa não tem essas qualidades, ela compara o seu presente com o passado ou com o seu ambiente. A felicidade por comparação é, na verdadeira essência do termo, a “felicidade relativa”.

Para compreender a diferença que pode fazer a própria força vital, imaginemos dois alpinistas. Escalar um pico escarpado infligiria uma dor insuportável a uma pessoa comum, mas pode proporcionar um prazer inesquecível a um alpinista. Quanto mais alto, escarpado e difícil for o penhasco, maior a alegria e satisfação de desafiá-lo e conquistá-lo. As dificuldades na vida são como uma montanha escarpada. Se a pessoa encontra a felicidade apenas no conforto, evitará muito do que vale a pena na vida. Tal atitude é essencialmente negativista e escapista. Quando chegamos a tal ponto, o conforto é um período de descanso e não é acompanhado por uma grande dor nem por uma profunda alegria.

Todas as atividades humanas objetivam a felicidade. O budismo, assim como as outras religiões, ensina às pessoas como viver para conquistarem uma vida feliz. No entanto, muitas religiões encorajam seus crentes a orarem para que algo místico, uma força transcendental, elimine os problemas da vida. Então, se as pessoas são religiosas ou não, também tentam com frequência evitar as dificuldades e os problemas. O budismo mostra o caminho para uma nova vitalidade e uma profunda sabedoria, ensinando que os seres humanos devem inspirar-se a desafiar, e não a evitar, quaisquer dificuldades que enfrentarem e transformá-las em felicidade com o desenvolvimento de sua própria força vital. Superar o sofrimento em vez de fugir dele é uma atitude criativa de desafio e coragem, e é essa atitude que leva à felicidade absoluta.

2.3- A LEI DA CAUSALIDADE

“Ninguém nos salva a não ser nós mesmos”.“Ninguém pode e ninguém tem permissão”.“Devemos trilhar o Caminho do Meio nós mesmos”.“Os Budas só mostram a direção”.

O budismo ensina que a felicidade humana baseia-se na Lei de Causa e Efeito. Diferentemente do conceito de causalidade nas ciências naturais e sociais, o princípio budista de causa e efeito considera em primeiro lugar a vida da pessoa.

Suponhamos que um aluno estude bastante para um exame e passe com notas altas. O estudo aplicado é a causa e ser aprovado, o efeito. Mas há sempre algum meio

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que liga a causa ao efeito, e neste caso o meio é o ato de prestar o exame. Tal meio funciona de duas formas: produz um efeito e contribui para formar uma nova causa. No entanto, a mesma quantidade de esforço não necessariamente leva aos mesmos resultados. Alguns estudantes têm naturalmente boa memória, ao passo que outros tendem a esquecer as coisas rapidamente. A questão mais importante é o que produz essas diferenças entre os indivíduos. O budismo atribui a causa ao modo de vida nas existências anteriores. A individualidade e as habilidades naturais são os efeitos das causas realizadas em existências anteriores.

Neste sentido, o budismo é muito diferente da doutrina de algumas religiões ocidentais que sustentam que um ser transcendental predetermina o curso de vida das pessoas neste mundo. O budismo afirma que cada indivíduo é responsável por seu próprio destino e tem ao mesmo tempo a prerrogativa para mudá-lo para melhor e desenvolver seu caráter no futuro. Isso significa que a pessoa com memória fraca não tem de se resignar ao seu destino. Sabe-se de seu ponto fraco, pode iniciar os preparativos para um teste bem antes dos outros para que possa memorizar completa e eficazmente as matérias. Assim, poderá superar sua desvantagem. Em vez de depender de sua memória fraca, pode compensá-la aumentando sua compreensão. Estando ciente de seus próprios potenciais, fraquezas e inclinações, é possível desenvolver os pontos fortes e melhorar os fracos. Esta é a maneira correta de superar as limitações do destino. Mesmo assim, deve-se ter força suficiente para desfrutar a liberdade fazendo com que a Lei de Causa e Efeito atue em benefício próprio.

“Algo de interessante dentro do budismo é que ele te dá uma responsabilidade com você mesmo. Responsabilidade com suas ações, com suas atitudes, etc. Tudo isso porque há uma lei de causa e efeito, pois se eu cometo alguma ação, boa ou má, haverá um efeito, seja bom ou mau, no futuro, próximo ou não, mas o que vai fazer desse efeito algo bom ou mau, foi a causa que criou esse efeito. Logo se eu proporciono uma causa boa, eu terei um efeito bom; se eu proporcionar uma causa má, eu receberei de volta um efeito mau. É por isso que costumamos dizer que no budismo ‘é você’; você é o agente do que irá acontecer com você” (Aristides Pereira, diretor da BSGI Pará)

Nitiren Daishonin elucidou a forma de aumentar a própria energia vital e sabedoria para poder atingir a liberdade que está muito além do que se pode atingir apenas com um esforço consciente. Uma vez que o destino é o produto, ou o efeito, dos esforços passados determinados pela lei da causalidade, não se pode evitar seus efeitos. Contudo, a pessoa não deve se resignar. Se permanecer firme no leito do rio da vida, a Lei Mística, que é a entidade da vida, e não apenas as torrentes do carma, ou destino, podem conduzi-lo. Estabelecendo uma base inabalável, pode-se obter a liberdade de agir de acordo com a própria vontade.

2.4- ESTADO DE BUDA

Seguindo o Budismo, cada ser humano é capaz de ser um Buda. Siddhartha Gautama foi o primeiro a alcançar este estado de Buda por provocar uma “revolução humana”. Diferente de outras religiões onde há a presença de um deus ou deuses, o Budismo prega que o caminho para a “iluminação” é através da própria pessoa. Resumindo seria dizer que “é com você” como nos disse o administrador da BSGI Pará, senhor Aristides Pereira.

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A natureza de Buda é estar em um constante estado de não se abalar com o sofrimento. Por isso muitos dizem que o Budismo é a religião sem deus, pelo fato de que quem influencia o ambiente é o ser humano. Seu modo de influenciar o seu ambiente faz com que o próprio ambiente influenciado o influencie. Na Preleção dos Capítulos Hoben e Juryo, consta num trecho do Sutra de Lótus:

“Um buda é aquele que serviu a centenas, a milhares, a dezenas de milhares, a incontáveis budas e executou um número incalculável de práticas religiosas” (Jornal Brasil Seikyo, 1978).

O segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei toda, explicou que, do ponto de vista do Budismo Nitiren, é desnecessário engajarmo-nos nesse tipo de prática por incontáveis kalpas (unidade do tempo) para atingir a iluminação:

“Do ponto de vista dos ensinos de Nitiren Daishonin, o Buda (o Gohonzon) de Nam-myoho-rengue-kyo (principal oração budita), é a Lei fundamental que dá surgimento a cem, a mil, a dez mil ou a um milhão de budas. Portanto, ao recitarmos simplesmente o Nam-myoho-rengue-kyo obtemos mais benefícios do que conseguiríamos servindo pessoalmente a muitos budas por meio de árduas austeridades. O benefício desta única prática equivale ao de um número incalculável de austeridades realizadas por todos os budas”. (PHJ, pág. 66.)

3- COMO SE DEU A DIFUSÃO DO BUDISMO NO OCIDENTE

Após os encontros entre o budismo e o Ocidente representados na arte greco-budista, um conjunto de informações e lendas sobre o budismo chegaram ao Ocidente de maneira dispersa. Durante o século VIII as histórias Jataka budistas foram traduzidas para o siríaco e o árabe como Kaligag e Damnag. Uma biografia do Buda foi traduzida para o grego por João de Damasco, acreditando-se que tenha circulado entre os cristãos como a história de Josafat e Baarlam.

O próximo contato direto entre o budismo e o Ocidente aconteceu na Idade Média quando o monge franciscano Guillaume de Rubrouck foi enviado como embaixador à corte mongol de Mongke pelo rei Luís IX de França. O encontro aconteceu no atual Kazaquistão tendo o monge julgado que os budistas seriam cristãos perdidos.

O budismo começou a despertar um interesse no público ocidental no século XX, após o fracasso de projetos políticos como o marxismo. Nos anos setenta um interesse pela realização pessoal substituiu a importância dos projetos políticos que visavam mudar a sociedade. Neste contexto o budismo tem experimentado uma forte poder de atração devido, entre outros fatores, à falta de deidade e a uma certa centralidade da experiência individual.

No Brasil, como já foi mencionada, esta difusão se deu no século XIX com a entrada dos japoneses na produção do café. Estes, ao virem trabalhar e morar no Brasil, trouxeram consigo sua cultura, suas praticas e suas filosofias, dentre elas, o Budismo. O Budismo praticado no Brasil apresenta uma singularidade que não existe em outros países onde o Budismo se encontra. O país abriga a maior colônia estrangeira de japoneses e descendentes, e essa comunidade trouxe consigo uma variedade de sacerdotes e instrutores budistas, em distribuição significativamente diferente da que

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existe no Japão. No entanto o budismo não é tão difundido entre descendentes de japoneses no Brasil que em sua maioria são católicos.

Inicialmente, a dificuldade da propagação da doutrina estava na dificuldade da língua. Com um problema na comunicação foi necessário um período para haver uma adaptação entre a cultura japonesa e a cultura brasileira. Depois de um certo tempo houve a aceitação brasileira por não apresentar uma rigidez doutrinal.

As escolas ligadas à Nitiren alcançaram enorme difusão, principalmente por ter como objetivo proporcionar o budismo para todas as pessoas, sem restrições, como o: Budismo Primordial HBS e inclusive a Soka Gakkai.

Há uma tendência popular a identificar influência budista em movimentos como a Perfect Liberty, a Igreja Messiânica e a Seicho-No-Ie. Essa impressão é equivocada. Na verdade o que ocorre é que as escolas japonesas do Budismo adquiriram características do xintó (xintoímos), da mesma forma que essas três religiões originadas no Japão.

Templos Budistas são muito raros no Brasil. O que encontramos são sedes de encontros de formação e oração. A Soka Gakkai é a representante destes centros como SGI (Soka Gakkai Internacional) que no Braisl tem a sigla BSGI (Brasil Soka Gakkai Internacional) e tem como base filosófica o Budismo de Nitiren Daishonin, religião da qual seus integrantes são praticantes leigos. Tem uma base de estrutura descentralizada.

Essa ONG tem 50 anos de existência no Brasil e apresenta centros que comportam 500 pessoas. No Sul e Sudeste a Soka Gakkai esta mais presente e sua sede central é em São Paulo. Hoje ela faz muitas obras que ajudam no âmbito social e educacional, porém uma característica deste movimento budista é que ele não tema intenção de divulgar as suas obras beneficentes, por achar que não por que divulgar algo possa parecer como modo de querer “status” na mídia.

4- NO QUE DIFERE O BUDISMO BRASILEIRO DO JAPONÊS?

Como vimos, o Brasil apresenta a escola japonesa budista, o Budismo Nitiren. Mesmo com as dificuldades da língua, da adaptação a uma nova cultura, da socialização das idéias filosóficas, do compartilhamento cultural e do longo tempo de presença no Brasil, o Budismo que foi implantado na terra brasileira não difere do praticado no Japão. Seus ensinamentos permanecem e suas doutrinas ainda estão “cristalizadas”.

Isso é interessante pelo fato de que muitas religiões adentraram no território brasileiro e com o tempo houve certa mudança em suas práticas. Em algumas houve a união de seus dogmas e crenças com outras, como no caso das religiões africanas com o Cristianismo, havendo assim um sincretismo religioso.

Essa estabilidade na filosofia budista se dá pelo fato de muitos de seus integrantes serem de origem oriental o que traz um respeito à tradição. Se há uma diferença entre estes dois países é na questão da linguagem, um âmbito cultural que não influencia na doutrina. Muitos dos brasileiros que freqüentam os centros de oração e formação acabam, sem querer, usando termos japoneses.

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“Podemos dizer que não há uma diferença quanto a questão de doutrina. Só posso dizer que quanto a uma questão cultural nós nos entrosamos e não entrosamos por assim dizer. Nós celebramos algumas feriados do ano, não os religiosos como Natal, Pascoa, etc. Geralmente nós suspendemos as atividades no centro para que as pessoas possam passar o feriado com suas famílias e elas que decidem se celebram ou não. Nós nunca proibimos nada quanto participação de eventos e festas em outras igrejas/religiões. Vai de cada um! [...] Respeitamos as outras religiões assim como queremos ser respeitados por elas!” (senhor Aristides Pereira, diretor da BSGI Pará)

5- CONCLUSÃO

Pretendeu-se neste trabalho verificar no que se baseia uma das religiões mais históricas e fantásticas do mundo e mediante ao trabalho pesquisado e dos dados analisados percebeu-se que o budismo é uma religião muito humana que busca um caminho para a felicidade através da “revolução humana” onde cada ser humano é capaz de fazer uma mudança em seu cotidiano e as mudanças que ele proporciona altera a sua realidade o que influencia o seu modo de agir.

Neste trabalho houve a preocupação de mostrar singularidades que esta religião apresenta no mundo todo. Essas singularidades proporcionaram a difusão desta filosofia que foi bem aceita em muitos países como o Brasil por não apresentar uma estrutura rígida e paradigmática comparada a outras crenças.

É um caminho religioso que demonstra a harmonia que deve ser buscada no “nirvana” que seria o céu cristão. Um modo de vida que busca transformar a sociedade em algo melhor e mais consciente de suas ações.

6- REFERÊNCIAS

SMITH, Huston. As Religiões do Mundo. Editora Cultrix. São Paulo. 2005.

PIAZZA, Pe. Waldomiro O. Religiões da Humanidade. Edições Loyola. São Paulo 2005.

PECÍLIA, Eliene. Budismo - Religião Budista. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/religiao/budismo.ht >. Acesso em 01 dez. 2010.

WIKIPÉDIA. Budismo. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Budismo>. Acesso em 21 jun. 2010.

JESUS SITE. Saiba tudo sobre o Budismo. Disponível em: < http://www.jesussite.com.br/acervo.asp?id=37>. Acesso em 22 jun. 2010.

SILVA, Vania. Budismo. Disponível em: <http://www.sepoangol.org/buda>. Acesso em 21 de jun. 2010.

GUIMARÃES, Carlos Antônio Fragoso. Buda e o Budismo. Artigo. 2006.