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2011
Leonardo Delgado
29/10/2011
Meus Estudos de Capoeira em Barra do Corda/MA
Sumário
UNIDADE I: CAPOEIRA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Problema Objetivo Geral Conteúdos de Aprendizagem
Dimensão Conceitual Dimensão Procedimental Dimensão Atitudinal
Sugestões Metodológicas Avaliação
UNIDADE II: HISTÓRIA DA CAPOEIRA Origem da Capoeira Capoeira das raízes africanas à origem brasileira Capoeiristas Históricos Cronologia CAPOEIRA NO MARANHÃO
1° Mestre Mestre Patinho
CAPOEIRA EM BARRA DO CORDA Mestre Marreta GABA (Grupo Angoleiros da Barra) Irapuru Iru Pereira
UNIDADE III: ESTILOS DE CAPOEIRA Capoeira Angola
Mestre Pastinha Capoeira Regional Capoeira Contemporânea Uniforme dos Angoleiros Uniforme dos Capoeiras da Regional Graduação A ginga e alguns golpes de ataque e defesa Roda de Capoeira Curiosidade
UNIDADE IV: INSTRUMENTOS E MÚSICA NA CAPOEIRA Instrumentos
Berimbau Pandeiro Atabaque Agogô
Confecção dos Instrumentos Vocabulário Básico da Capoeira
REFERENCIAL
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UNIDADE I: CAPOEIRA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Leonardo Delgado
Este material tem como objetivo analisar e discutir a proposta da utilização do tema Capoeira na Educação Física Escolar para a disciplina de Educação Física no ensino fundamental no município de Barra do Corda/MA. A partir de nossa pesquisa bibliográfica, encontramos alguns pontos importantes a serem tratados nesse trabalho sobre a capoeira. É importante salientar que a Capoeira inicialmente foi inserida na escola como uma atividade extracurricular, ganhou seu espaço nos currículos escolares mediantes publicações como a metodologia do ensino de educação (Coletivos de Autores) e através dos parâmetros curriculares nacionais da educação física (PCN), como parte dos conteúdos de lutas presentes na Educação Física Escolar. Nossa proposta ao trabalhar o conteúdo capoeira na educação física escolar vem da necessidade de estarmos contribuindo para a ampliação dos conhecimentos dos alunos, partindo do pressuposto de que a capoeira não é apenas um saber que se traduz num saber fazer, num realizar "corporal", sendo a Educação Física a disciplina que estuda pedagogicamente a cultura corporal do movimento e suas manifestações, só isso já coloca a capoeira como conteúdo obrigatório, pois não se pode negar que a capoeira e suas diferentes modalidades fazem parte da cultura do Brasil. A capoeira nasceu nas senzalas, como luta de libertação da classe dominada contra o regime de escravidão existente na época. Foi perseguida, e, no plano de resistência ideológica, agrediu, por muitos anos, os códigos das culturas dominantes. Hoje, encontra‐se presente em diversos segmentos sociais do mundo, sendo realidade sua prática no ensino fundamental, médio e superior. Entretanto, trata‐se de um conteúdo pedagógico pouco estudado e fundamentado em sua estrutura técnica e cultural para o cotidiano escolar. Com essa temática de pesquisa, junto ao problema proposto, buscamos legitimar a importância de sua prática na escola, enquanto conteúdo da educação física e componente da cultura corporal de movimento, por se tratar de um tema também presente nos PCNs da educação física. Soares et al. (1992) argumenta que a Educação Física brasileira precisa resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural, ou seja, trabalhar a sua historicidade, não desencarná‐la do movimento cultural e político que a gerou. Vamos ao encontro, novamente, das novas metodologias, nas quais solicitam‐se novos conteúdos para a Educação Física escolar, conteúdos estes que estejam relacionados ao cotidiano do brasileiro e que possuam significações histórico‐sociais. Já não há mais dúvidas de que a capoeira difundiu‐se por todas as camadas e classes sociais e também já não é um jogo exclusivamente de rua, levando milhões de pessoas a praticá‐la em escolas, academias, ginásios e centros de Educação Física. Isso faz com que os profissionais que ensinam a capoeira tenham o máximo cuidado em não ensiná‐la apenas como luta, mostrando também os aspectos positivos que se pode conseguir com a sua prática,
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e isso só será conseguido com professores especializados e atualizados com os avanços da sociedade. A capoeira é um conteúdo que pode ser contemplado na escola pelos seus múltiplos enfoques, que possibilitam, a luta, a dança e a arte, o folclore, o esporte, a educação, o lazer e o jogo. A mesma deve ser ensinada globalizadamente, deixando que o aluno identifique‐se com os aspectos que mais lhe convier. A sua prática na escola possibilita o desenvolvimento de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, como autonomia, cooperação e participação social, postura não preconceituosa, entendimento do cotidiano pelo exercício da cidadania, historicidade etc. No aspecto motor, especificamente, a capoeira deve ser reconhecida como uma alternativa rica para o desenvolvimento das estruturas da criança, como esquema corporal, lateralidade, equilíbrio, orientação espaço‐temporal, coordenação motora etc.
Problema Quais os benefícios do ensino do conteúdo capoeira para a comunidade escolas?
‐ A Capoeira resgata o processo de construção da formação do homem brasileiro;
‐ A Capoeira simboliza a resistência do homem negro, o qual entrincheirado nos Quilombos resiste bravamente iniciando a fermentação do longo processo de construção da cidadania no país.
‐ A Capoeira representa um poderoso instrumento pedagógico capaz de contribuir de forma efetiva para formação de um homem criativo, autônomo, dotado de perspicácia e espírito de iniciativa;
‐ As aulas de Capoeira estimulam não só a prática corporal, mas também o gosto pela música e manipulação de instrumentos musicais tipicamente brasileiros, contribuindo assim para a valorização da cultura brasileira;
‐ Visto a Capoeira estar propagando‐se nacionalmente, ocupando a cada dia mais e mais a vida de milhares de brasileiros e com isso tendo um lugar tanto na mídia televisiva, como nas revistas, jornais e outros meios de comunicação. E gerando com isso a necessidade da prática da Capoeira com profissionais competentes. Isto para que a essência desta dança guerreira não seja desvirtuada e não possa comprometer o bem estar dos praticantes e da sociedade. Para isso deve‐se buscar essa conscientização nas escolas através da Educação.
‐ A Capoeira como prática desportiva, proporciona uma melhor saúde corporal, conseqüentemente ocorre uma melhora em termos de qualidade de vida, agindo inclusive como método profilático.
‐ Estimula o afetivo, principalmente a auto‐estima, além de integrar os seus participantes, de modo que o indivíduo passa a se sentir aceito nesse grupo e com isso a respeitar seus semelhantes, fator fundamental para um bom convívio social.
‐ Como meio de recreação, a capoeira auxilia na catarse, ou seja, na liberação das tensões diárias. Com isso vem contribuir para diminuir um dos focos da violência, que são as tensões e o estresse que estão sujeitos não só os adultos, mas também as crianças.
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‐ Finalmente podemos dizer que capoeira contribui para interação do ser e a formação de um sentimento de amor e respeito a nossa cultura.
Objetivo Geral Fazer a reflexão teórico‐metodológica sobre a Capoeira enquanto manifestação da cultura corporal brasileira, seu histórico, desenvolvimento, seus rituais, seus fundamentos de jogo, dança, luta e ginástica, suas implicações sociais contemporâneas e seus limites e possibilidades de ensino no contexto escolar.
Conteúdos de Aprendizagem Coll et. al (2000) definem conteúdos como uma seleção de formas ou saberes culturais, conceitos, explicações, raciocínios, habilidades, linguagens, valores, crenças, sentimentos, atitudes, interesses modelos de conduta etc. cuja assimilação é considerada essencial para que se produzam um desenvolvimento e uma socialização adequados ao aluno. Dessa forma, quando nos referimos a conteúdos, estamos englobando conceitos, idéias, fatos, processos, princípios, leis científicas, regras, habilidades cognoscitivas, modos de atividade, métodos de compreensão e aplicação, hábitos de estudos, de trabalho de lazer e de convivência social, valores, convicções e atitudes. É preciso levar em conta ás seguintes questões: o que se deve saber? (dimensão conceitual), o que se deve saber fazer? (dimensão procedimental), e como se deve ser? (dimensão atitudinal), com a finalidade de alcançar os objetivos propostos.
Dimensão Conceitual - Conhecer as transformações pelas quais passou a capoeira em relação a
sociedade e relacioná‐las com o contexto histórico da época; - Conhecer as mudanças pelas quais passaram a capoeira em função da
marginalização; - Conhecer os estilos de capoeira e alguns dos vários fundamentos técnicos,
toques e músicas.
Dimensão Procedimental - Vivenciar e adquirir alguns fundamentos básicos da capoeira, golpes, musicas e
toques. Por exemplo, praticar a ginga e a roda da capoeira; - Vivenciar diferentes ritmos e movimentos relacionados a capoeira, como
angola, regional e contemporânea; - Vivenciar situações de brincadeiras e jogos.
Dimensão Atitudinal
- Valorizar o patrimônio cultural da capoeira em seus diferentes contextos e estilos,
- Respeitar os adversários, os colegas e resolver os problemas com atitudes de diálogo e não‐violência.
- Predispor‐se a participar de atividades em grupos, cooperando e interagindo;
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- Reconhecer e valorizar atitudes não‐preconceituosas relacionadas a habilidade, sexo, religião e outras.
- Adotar o hábito de praticar atividades físicas visando à inserção em um estilo de vida ativo.
Com base nisso iremos abordar Na Unidade I: os fatores que justificam a presença desse conteúdo na escola; Na Unidade II: Os elementos que deram origem a capoeira, no Brasil, no Maranhão e em Barra do Corda; Na Unidade III: os estilos de capoeira, uniformes, graduações, fundamentos, rodas e curiosidades; Na Unidade IV: será estudado a musicalidade da capoeira, com seus instrumentos, toques e musicas
Sugestões Metodológicas
- Projeção de vídeos e filmes; - Pesquisa e discussão dos resultados. - O movimento de ginga, no ritmo de Angola. - Exercícios específicos: aú, cocorinha e negativa (demonstração prática); - Movimentos de ataque e defesa, executando golpes individualmente ou em
duplas. - Movimentos de golpes de defesa e contra ataque. - Exercícios em duplas.
Utilização de vídeos O vídeo ‐ filmes, documentários, reportagens especiais ‐ é um recurso importante no ensino da educação física, desde que permita estabelecer relações com os temas que estão sendo abordados em aula. A utilização desse suporte exige, entretanto, alguns cuidados por parte do professor:
- Primeiramente, é indispensável que assista ao vídeo com antecedência, para destacar os aspectos a levantar na discussão do filme com a turma.
- Ao assistir ao programa, será útil que elabore um roteiro de observações e, inclusive, selecione as passagens mais relevantes, que poderão ser re‐exibidas durante o debate.
- Antes de iniciar a exibição do vídeo, ele deve conversar com os alunos sobre as questões a serem observadas, facilitando, pela roteirização, a compreensão dos objetivos da atividade e sua realização.
Coleta de Informações na Internet e na Mídia Impressa As práticas da cultura corporal podem constituir‐se em objetos de estudo e pesquisa sobre o homem e sua produção cultural. Alem de proporcionar fruição corporal, a aula de educação física pode propiciar reflexão sobre o corpo, a sociedade, a ética, a estética e as relações inter e intrapessoais. Assim, a vivência das práticas corporais pode ser ampliada pelo conhecimento sobre o que se pratica, buscando respostas mais complexas para questões especificas.
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Avaliação Os alunos podem ser avaliados:
- De forma sistemática por meio da observarão das situações de vivência, de perguntas e respostas formuladas durante as aulas.
- De forma específica, em provas, pesquisas, relatórios, apresentações ele. Para que os alunos com dificuldades em algumas formas de expressão não sejam prejudicados pelo tipo de avaliação, e muito importante que as formas de verificação do conhecimento sejam as mais diversificadas possíveis.
O emprego da observação no processo de avaliação apresenta uma série de vantagens. Ela é, por exemplo, diagnostica, como preconiza Resende (1995); as aulas não precisam ser interrompidas; o ambiente continua o mesmo; e, finalmente, ela permite a avaliação do comportamento na sua totalidade. A avaliação em educação física deve considerar a observação, a analise e a conceituação de elementos que compõem a totalidade da conduta humana, ou seja, a avaliação deve estar voltada para a aquisição de competências, habilidades, conhecimentos e atitudes dos alunos. Ela deve abranger as dimensões cognitiva (competências e conhecimentos), motora (habilidades motoras e capacidades físicas) e atitudinal (valores), verificando a capacidade de o aluno expressar sua sistematização dos conhecimentos relativos à cultura corporal em diferentes linguagens ‐ corporal, escrita e falada. Embora essas três dimensões apareçam integradas no processo de aprendizagem, nos momentos de formalização a avaliação pode enfatizar uma ou outra delas, Esse é outro motivo para a diversificação dos instrumentos, de acordo com as situações e os objetivos do ensino.
Mãos à Obra Agora que o leitor já conhece um pouco de nossa concepção da educação física escolar, passamos a apresentar uma proposta de desenvolvimento do conteúdo Capoeira para o segundo segmento do ensino fundamental. A proposta não teve como preocupação sistematizar a capoeira de forma hierárquica e gradativa, que distribuiria os conteúdos por ciclos e/ou séries. Essa tarefa fica a cargo do professor que poderá se pautar em nossas sugestões e ir além delas. No momento procuraremos oferecer aos professores sugestões didático‐metodológicas para o tratamento dos conteúdos, por meio de vivências, leituras, discussões pesquisas e outras estratégias que possibilitem uma re‐significação da cultura da capoeira nas aulas de educação física.
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UNIDADE II: HISTÓRIA DA CAPOEIRA Leonardo Delgado
INTRODUÇÃO A capoeira é um esporte, uma luta, uma dança, um jogo. Afinal de contas, o que é a capoeira? Na verdade, é um pouco de tudo isso. A capoeira é uma manifestação genuinamente brasileira, criada pelos escravos africanos trazidos para o país. A capoeira é uma manifestação da cultura brasileira e é caracterizada por golpes e movimentos ágeis e complexos, utilizando primariamente chutes e rasteiras,
além de cabeçadas, joelhadas, cotoveladas, acrobacias em solo ou aéreas muito peculiares: trata‐se de um misto de luta‐jogo‐dança praticada ao som de instrumentos musicais (berimbau, pandeiro e atabaque), palmas e cânticos. Outras expressões culturais, como o maculelê e o samba de roda, são muito associadas à capoeira, embora tenham origem e significados diferentes. Por tudo isso a capoeira vem obtendo cada vez mais espaço nas instituições educacionais como escolas de primeiro e segundo graus e universidades e sendo cada vez mais reconhecida em todas as instâncias da sociedade brasileira. A palavra capoeira é originária do tupi‐guarani, refere‐se às áreas de mata rasteira do interior do Brasil. Foi sugerido que a capoeira tenha obtido o nome a partir dos locais que cercavam as grandes propriedades rurais de base escravocrata. Capoeiristas fugitivos da escravidão e desconhecedores do ambiente ao seu redor, freqüentemente usavam a vegetação rasteira para se esconderem da perseguição dos capitães‐do‐mato. Há uma grande controvérsia em torno da história da capoeira, sobretudo no que se refere ao período compreendido entre o seu surgimento ‐ provavelmente no século XVII e o século XIX, quando aparecem registros confiáveis, com descrições mais detalhadas desta manifestação.
ORIGEM DA CAPOEIRA Uma das discussões que mais envolveram os estudiosos da arte‐luta brasileira girou em torno da questão: a capoeira surgiu na África ou no Brasil? Atualmente considera‐se uma questão já resolvida, pois a grande maioria dos autores que escrevem sobre a história da capoeira concordam com a tese de que ela teria sido criada no Brasil pelos negros africanos trazidos pelos portugueses a partir do início da colonização para o trabalho escravo na lavoura, na pecuária, mineração e em atividades urbanas. Não pretendemos aprofundar aqui o debate sobre o surgimento da capoeira, mas convém observar que a questão é realmente complexa. Os que defendem que a capoeira surgiu no Brasil, apoiavam‐se no argumento de não existir atualmente (nem há registros históricos conhecidos) qualquer forma de luta criada e desenvolvida pelos escravos nas outras ex‐colônias do continente americano, que também receberam grandes quantidades de negros
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africanos vindos das mesmas regiões, em alguns casos, daqueles trazidos para o Brasil. Na realidade, esse não é um argumento suficiente para provar a origem brasileira da luta, pois várias manifestações culturais bastante próximas da capoeira, reunindo características de luta e dança, já foram identificadas em outros países da América Latina. A idéia de que a capoeira seria uma luta africana, trazida pelos cativos, apoiava‐se no fato de que ainda hoje, no continente africano, existem danças rituais com características de luta (denominadas, entre outras, Cujuinha, Uianga, Cuissamba e Dança da Zebra) Para alguns autores, a capoeira praticada em terras brasileiras seria simplesmente uma variação dessas danças, que teria se tornado extremamente útil em situações de luta corporal contra o branco colonizador. Assim, de acordo com a organização que as comunidades negras conseguiam constituir no Brasil nos primórdios da colonização (seja nos quilombos, ou nas próprias senzalas, preparando os movimentos de rebeldia e as fugas) seriam recuperados os elementos dessas danças‐lutas ancestrais. Na verdade, a controvérsia se justifica pela complexidade da questão e pela dificuldade na obtenção de documentos que relatem a vida dos escravos durante os primeiros séculos de escravidão no Brasil. É sabido que em 15 de dezembro de 1890 o então Ministro das Finanças Ruy Barbosa mandou incinerar, no âmbito do Ministério da Fazenda, os documentos que se referiam à escravidão, alegando que se deveria apagar da memória brasileira essa lamentável instituição. Os historiadores atribuem tal ordem a uma estratégia que procurava evitar que os ex‐proprietários de escravos buscassem junto ao governo uma compensação dos prejuízos que tiveram com a abolição da escravatura, em 1888. Provavelmente esses documentos nos trariam muitas informações sobre a vida dos escravos, suas fugas, suas formas de resistência à escravidão. Mas sua destruição não pode ser tomada, como se faz habitualmente nos debates sobre a capoeira, como obstáculo intransponível à reconstituição da história da resistência à escravidão. A historiografia sobre o tema tem nos mostrado isso constantemente. Muito embora seja suficientemente esclarecido que a capoeira, como a conhecemos hoje, é uma luta surgida no Brasil, é preciso considerá‐la como parte da dinâmica constante da cultura afro‐brasileira. Assim, a capoeira surgiu de um conjunto de aspectos pré‐existentes nas culturas das comunidades africanas (rituais, danças, jogos, cultura musical etc.). O aparecimento da capoeira deve ser pensado, de certa forma, como as próprias artes marciais tradicionais do Oriente, que são a expressão da filosofia de seus povos criadores e que estão integradas às outras instâncias da vida social, como a religião e o trabalho. Sabe‐se, por exemplo, que diversas armas utilizadas nessas artes marciais derivam de instrumentos de trabalho agrícola, e algumas cerimônias ou simbologias se referem às tradições religiosas dos orientais. É assim que devemos compreender a questão: a capoeira surgiu no Brasil como luta de resistência de uma comunidade que trazia uma imensa bagagem cultural de sua terra de origem e que precisou desenvolver um conjunto de técnicas de ataque e defesa em virtude da situação de opressão em que vivia durante a escravidão. Aliás, devemos considerar que a capoeira faz parte de todo um processo de resistência dos negros no Brasil, que também se expressou na religião, na arte, na culinária etc. Em outras palavras: era necessário aos negros
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não só permanecerem vivos e lutarem pela sua liberdade era preciso também preservar aspectos de sua cultura ancestral.
Dessa forma, o surgimento da capoeira se confunde com a história da resistência dos negros no Brasil. Eis porque a maioria dos autores que escreveram sobre a questão associam o aparecimento da capoeira ao surgimento dos primeiros quilombos no Brasil. Alguns chegam a se referir especificamente ao Quilombo dos Palmares (que foi o que reuniu um número maior de pessoas, cerca de 25 mil, e foi destruído em 1694) como sendo o berço da capoeira. Já em 1928, Annibal
Burlamaqui, no livro Gymnastica Nacional (Capoeiragem) Methodizada e Regrada, destaca a superioridade do quilombola no combate com os capitães do mato, devido a um "jogo estranho de braços, pernas, cabeça e tronco" utilizado pelos fugitivos. (Annibal Burlamaqui não indica a fonte dessa informação, o que a torna duvidosa). Desta primeira publicação até hoje, muitos têm repetido a afirmação de que a capoeira surgiu nos quilombos sem, no entanto, apresentar provas mais concretas. Do ponto de vista científico, apenas se pode sustentar essa idéia como uma hipótese a ser comprovada por estudos futuros. Porém, é verdade inquestionável que os quilombos representavam uma atmosfera de liberdade, de recuperação dos rituais e danças africanas e de convívio social que, somadas à situação de opressão podem ter dado origem à capoeira. Os estudos históricos sobre o Quilombo dos Palmares desenvolvidos por pesquisadores renomados como Édison Carneiro, Clóvis Moura, Décio Freitas e Joel Rufino dos Santos, embora não se refiram especificamente à capoeira, descrevem detalhadamente (e sobre isso há vasta documentação) as violentas guerras travadas ao longo de quase cem anos na Serra da Barriga (que à época se localizava em território da capitania de Pernambuco, atual estado de Alagoas) entre os fugitivos e as tropas enviadas para a destruição do quilombo. Dificilmente terá existido, em toda a história do Brasil, um ambiente mais propício para o surgimento de uma modalidade de luta como a capoeira. Um quadro de Johan Moritz Rugendas intitulado "Jogar Capoeira ou Danse de la Guerre", de 1835, é considerado o primeiro registro preciso sobre a capoeira. Neste quadro dois negros se situam em posição de luta enquanto um outro, sentado, toca um atabaque que segura com as pernas. Outros negros, homens e mulheres, assistem à luta (ou jogo) que se realiza. Ao longo do século XIX a capoeira torna‐se uma nítida expressão da situação vivida pelo negro no Brasil. As mudanças ocorridas na economia e na política do Império vinham gerando um intenso processo de desescravização. Lembremo‐nos de que a Lei Eusébio de Queirós, de 1850, já havia proibido o tráfico negreiro para o Brasil. A lógica do sistema econômico mundial e brasileiro impunha a substituição do negro pelo trabalhador imigrante, e isso gerava uma inevitável situação de marginalidade. A capoeira floresceu dessa forma, e são inúmeros os relatos de jornais do século passado que narram as aventuras dos capoeiras (esse nome, até meados deste século, era utilizado para designar o lutador; a luta era denominada capoeiragem).
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Naquela época, a capoeira reunia não só ex‐escravos e seus filhos, mas também figuras importantes da sociedade. Aos poucos a capoeira foi se envolvendo com a vida política e chegou a ser amplamente utilizada como arma na luta entre as facções que se enfrentavam nos tempos do Império e nos primórdios da República, sobretudo nas cidades do Rio de Janeiro, Salvador, Recife e São Paulo. Os capoeiras eram contratados para interferir em comícios, tumultuar eleições e fazer a segurança de figurões da política. O sociólogo José Murilo de Carvalho, analisando as ocorrências policiais do Rio de Janeiro do século passado, calcula em cerca de vinte mil o número de capoeiras cariocas existentes às vésperas da Proclamação da República (1889), o que nos dá uma idéia da importância desse segmento na sociedade da época. Muito tempo se passou até que a capoeira superasse esse estigma de mazela social. Pode‐se afirmar que a história da capoeira nos últimos cem anos tem sido a trajetória de sua inserção e institucionalização na sociedade brasileira. Aos poucos foi sendo reconhecida como expressão do folclore nacional, como técnica eficiente de luta e, mais recentemente, como instrumento educativo importantíssimo para a consciência de nossa cultura. Esse processo de desenvolvimento da capoeira teve como figura chave o capoeirista baiano conhecido como Mestre Bimba, que merecerá nossa atenção especial mais adiante. Mestre Bimba criou por volta de 1930 a Capoeira Regional, uma variação da capoeira tradicional (conhecida como Capoeira Angola) que incluía uma série de inovações e métodos de ensino. O desenvolvimento técnico da capoeira nas últimas décadas foi imenso, e não pára de ocorrer. O contato com outras modalidades de luta e com os métodos científicos de treinamento desportivo têm exigido dos capoeiristas um intenso esforço de atualização e sistematização de seus conhecimentos.
Capoeira das raízes africanas à origem brasileira
Várias sociedades africanas que falavam línguas semelhantes foram chamadas de banto pelos europeus. Acredita‐se que os bantos eram da atual região de Camarões e, em cerca de 1000 a.C, começaram a migrar para o sul. Essa migração se estendeu até os séculos III e IV d.C, levando os bantos a se concentrar no centro‐sul da África, nas atuais regiões de Angola, Congo, República Democrática do Congo, Uganda, Namíbia, Zâmbia, Moçambique, Botsuana Nas novas regiões que ocuparam, os bantos introduziram a metalurgia, a agricultura e a forma de governo centralizada. Formaram sociedades matrilineares, nas quais as terras cultivadas eram consideradas dos antepassados, as florestas eram comunitárias e o trabalho, individual. Nos primeiros séculos do tráfico de escravos, foram trazidos para as Américas, escravizados, muitos negros de grupos bantos. Esses grupos foram maioria na Bahia, em Alagoas, Pernambuco, no Maranhão, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro e, em muitos momentos, reproduziram aqui sua organização social (especialmente nos quilombos), sua arte e sua visão de mundo. A capoeira, a congada, as danças e cerimônias cateretê, caxambu, batuque, samba, jongo, lundu, maracatu e coco de zambê são herança banto.
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O candomblé de angola, com o qual a capoeira angola mantém ligações, também é expressão de origem banto. Capoeira é uma palavra de origem tupi que significa vegetação que nasce após a derrubada de uma floresta. No Brasil Colônia, esse nome foi também dado ao "jogo de angola", que apareceu nas fazendas e cidades desde que os primeiros grupos de negros de origem banto foram escravizados e trazidos para cá. A capoeira praticada em senzalas, ruas e quilombos foi vista como uma ameaça pelos governantes, que, em 1821, estabeleceram medidas de repressão à capoeiragem, incluindo castigos físicos e prisão. Essas medidas policiais contra a capoeira só deixaram de vigorar a partir da década de 1930, mas isso não significou que passasse a ser plenamente aceita e que seus praticantes tivessem a simpatia da sociedade brasileira. O "jogo de angola" não foi aceito como uma forma de expressão corporal de indivíduos e grupos, em sua maioria negros, organizados, pensantes e vigorosos. Foi transformado em folclore, com a diminuição de seu significado grupal para os participantes e, depois, em esporte ou arte marcial. Mas a forma não esportiva da capoeira também permaneceu, ligada a grupos de capoeira angola. Assim, surgiram dois ramos da capoeira nas décadas de 1930 e 1940, que se distinguiram mais efetivamente a partir dos anos 70. Ocorreu, por um lado, a mobilização de grupos de resistência cultural afro‐baiana, que perceberam nos poucos grupos angoleiros a manutenção dos elementos da capoeira trazidos pelos negros bantos, e, por outro lado, a organização da capoeira esportiva (capoeira regional) como arte marcial.
Capoeiristas Históricos
‐ Besouro Mangangá: capoeirista baiano do século XIX, imortalizado nas músicas da capoeira.
‐ Manduca da Praia: temido capoeirista no Rio de Janeiro do século XIX. ‐ Madame Satã: polêmico capoeirista do Rio de Janeiro do século XX, sua vida
foi retratada em filme. ‐ Mestre Pastinha (Vicente Ferreira Pastinha): fundou a primeira escola de
capoeira legalizada pelo governo baiano. ‐ Mestre Bimba (Manuel dos Reis Machado): criador da capoeira regional
Cronologia
‐ 1548 – Iniciam a imigração forçada de escravos africanos para o Brasil. ‐ 1712 ‐ Primeiro registro escrito do termo capoeira, no Vocabulário Português e
Latino, do Padre D. Rafael Bluteau, seu significado, contudo não se refere à luta.
‐ 25 de Abril de 1789 ‐ Primeira menção da capoeira em registros policias na prisão de Adão, pardo, escravo, acusado de ser "capoeira",. [Nireu Cavalcanti, "O Capoeira", Jornal do Brasil, 15/11/1999, citando do códice 24, Tribunal da Relação, livro 10, Arquivo Nacional, Rio de Janeiro]
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‐ 1809 – D. João VI criou a Guarda Real de Polícia, para seu chefe foi nomeado o major Nunes Vidigal. Persegidor notório de capoeristas, o major Vidigal era por si só um exímio capoerista.
‐ 1813 – Antonio de Moraes Silva acrescenta o termo capoeira no Diccionario da Lingua Portugueza composto originalmente pelo Padre D. Rafael Bluteau.
‐ 1821 – Carta da Comissão Militar do Rio de Janeiro enviada para Carlos Frederico de Paula, Ministro da Guerra, requisitando o retorno dos castigos aos capoeiristas.
‐ 1826 ‐ O artista francês Jean Baptiste Debret retrata um tocador de berimbau em "Joueur d'Uruncungo".
‐ 1828 – Os capoeiras sempre tidos como marginais e desordeiros ajudando a
conter a Revolta dos Mercenários. ‐ 1835 – Pela primeira vez é retratado o jogo de capoeira pelo alemão Johann
Moritz Rugendas no livro Voyage Pittoresque dans le Brésil com as gravuras "JOGAR CAPOEIRA ou Danse de la guerre" e "SAN SALVADOR".
‐ 13 de Maio de 1888 ‐ A Princesa Isabel decreta a Lei Áurea abolindo a escravatura no Brasil.
‐ 1890 ‐ Apesar dos capoeristas terem um papel heróico na Revolta dos Mercenários e na Guerra do Paraguai, o Governo Republicano instaurado em 1889 continuou a política de repressão à Capoeira do período Imperial, e em 1890 editou um decreto criminalizando a prática da Capoeira.
‐ 1932 ‐ Mestre Bimba funda a primeira academia oficial de capoeira. ‐ 1941 ‐ Mestre Pastinha funda a primeira academia oficial de Angola. ‐ 1949 ‐ Mestre Bimba leva alguns alunos à São Paulo para competir com outras
lutas. Na década de 1950, Mestre Bimba viajou vários estados apresentando a capoeira. Começa a expansão da capoeira baiana pelo território brasileiro.
‐ 1953 ‐ Em Salvador, Mestre Bimba e seu alunos se apresentam no Palácio do Governo para o governador da Bahia Juracy Magalhães e o presidente da República Getúlio Vargas. Getúlio teria dito então: "a única colaboração autenticamente brasileira à educação física, devendo ser considerada a nossa luta nacional".
‐ 1966 ‐ Mestre Pastinha leva uma comitiva de capoeiristas ao Premier Festival International des Arts Nègres, em Dakar. A capoeira começa a expandir para o mundo.
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CAPOEIRA NO MARANHÃO
O 1º Mestre O Mestre Firmino Diniz ‐ nascido em 1929 ‐ que é considerado o mestre mais antigo de São Luís, teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Lembra ainda de outro capoeirista da época de sua infância, Caranguejo; Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com "Catumbi", um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís, nos anos 30 e 40. Segundo o professor Leopoldo Gil Dulcio Vaz1:
"A Capoeira no Maranhão tem seu inicio ‐ segundo os registros mais antigos encontrados até agora ‐ em 1835! De acordo com depoimentos dos Mestres atuais, teve um recomeço por volta dos anos 60, com a vinda de um grupo ‐ do mestre Canjiquinha, Aberrê ‐ no qual veio junto Mestre Sapo; que retorna depois, se fixando em São Luis. Diz a lenda que fora convidado por Sarney, para ser seu guarda costas. Ganhou emprego público, para ensinar a capoeira, num período em que houve a revitalização do esporte no Maranhão, comandado por Cláudio Vaz dos Santos; a capoeira foi incluída entre os esportes que ganharam escolinha no Ginásio Costa Rodrigues, com Sapo no comando. Naturalmente que a Capoeira tinha seus adeptos, sendo citado como o mestre principal, ou mais importante naquela época ‐ anterior aos anos 60 ‐ Roberval Serejo. No depoimento de Mestre Patinho são citados alguns dos praticantes, com a fundação do primeiro grupo, do qual Roberval já participava".
Em 1966 ‐ Mestre Canjiquinha(Washington Bruno da Silva, 1925‐1994), e seu Grupo Aberrê passaram pelo Maranhão, apresentando‐se na cidade de Bacabal, no teatro de Arena Municipal. E em São Luís do Maranhão, no Palácio do Governador, no Jornal Pequeno, TV Ribamar na Residência do Prefeito da capital e no Ginásio Costa Rodrigues. Acompanhavam Mestre Canjiquinha, o Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues ainda com 17 anos), O Mestre Brasília (Antônio Cardoso Andrade), e Vitor Careca, os três, na época, todos eram menores de idade. 1968 ‐ Mestre Sapo retorna ao Maranhão, diz alguns que fora convidado por Sarney, para ser seu guarda costas. Ganhou emprego público, para ensinar a capoeira, num período em que houve a revitalização do esporte no Maranhão, comandado por Cláudio Vaz dos Santos, a capoeira foi incluída entre os esportes que ganharam escolinha no Ginásio Costa Rodrigues, com Mestre Sapo no comando.
1 O texto é de LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ. Capoeiragem no Maranhão, publicado em 18/04/2005, disponível online via: http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/capoeiragem+no+maranhao
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A partir de 1970, Mestre Sapo começou a formar seu grupo de capoeira, passando a ministrar aulas em uma academia de musculação, localizada na Rua Rio Branco, e no mesmo ano Roberval Serejo vem a falecer, e alguns de seus alunos, passam a treinar com Mestre Sapo. Que logo forma um grupo com muitos alunos, e os que não entraram em seu grupo, treinavam paralelamente, faziam rodas, coisas que o Mestre Sapo não gostava e por muitas vezes ele mesmo chamava a policia, pois a capoeira do maranhão, ainda vivia em repressão, acredita‐se que tal atitude era, para ser o centro das atenções, já que era o único que tinha se organizado, e tido o apoio do governo. O Mestre Sapo em uma de suas viagens, no final dos anos 70, conheceu o Mestre Zulú, em Brasília. Foi quem o graduou Mestre. A partir de então, Mestre Sapo implantou em São Luís o sistema de graduação, através de cordel, seguindo as cores adotadas pelo Mestre Zulú. Mas quem o iniciou na capoeira foi Natalício Neves da Silva, O Mestre Pelé de Salvador. Desta forma o Mestre Sapo se tornou a maior referência da capoeira do Maranhão. Mestre Sapo faleceu no ano de 1982, vítima de acidente de Transito. No Bairro da Cohab. Fonte: http://associaogrupokdecapoeira.blogspot.com/2009/07/capoeira‐do‐maranhao.html
Mestre Patinho2
ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS – Mestre Patinho – nasceu em São Luís, em 14 de setembro de 1953, no Bairro São Pantaleão; filho de Djalma Estafanio Ramos e de Alaíde Mendonça Silva Ramos; Década de 60 ‐ Babalú, um apaixonado pela capoeira, outro amigo que era marinheiro da marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participaram Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando. 1966 ‐ esteve aqui em São Luís o Quarteto Aberrê com o mestre Canjiquinha e seus discípulos: Brasília, hoje Mestre Brasília, que mora em São Paulo; e o nosso querido Mestre Sapo; Vitor Careca. Quando Vitor Careca e seus amigos chegaram aqui em São Luís não foram bem sucedidos. Por sorte do grupo, na Praça Deodoro, na apresentação, estava assistindo o Mestre Tacinho, que era marceneiro e trazia gaiola. Era campeão sul‐americano de boxe no estilo médio ligeiro e gostava da capoeira. Vendo que o grupo tinha um total domínio da capoeira, apresentavam modalidades circenses, mas ligadas a capoeira, como navalha, faca, etc. Tacinho convidou‐os para uma apresentação no Palácio do Governo, pois era motorista do Palácio. O Governador da época era Sarney, gostando muito da apresentação, convida um deles para ministrar aula de capoeira no Maranhão, pois não foi possível porque eram de menor.
2 Mestre Patinho, publicado em 27 de fevereiro de 2009. Disponível on line via: http://sala‐prensa‐internacional‐fica.blogspot.com/2009/02/antonio‐jose‐da‐conceicao‐ramos‐mestre.html
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1968 ‐ Mestre Barnabé (Mestre Sapo), Anselmo Barnabé Rodrigues, volta ao Maranhão.
‐ Está tendo uma roda de capoeira no Olho d´Água com o Mestre Sapo, coincidentemente estando na praia, entrei na roda, conheci o Mestre Sapo e nos tornamos amigos e comecei a estudar com eles. Através do Professor Dimas. ‐ Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do primeiro e segundo Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no peso pesado. Me intensifiquei pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira.
Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio do Rio,Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê. Fonte: RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes
CAPOEIRA EM BARRA DO CORDA
Mestre Marreta3
No dia 14 de fevereiro nasce o filho de José Basílio e Maria
Firmina de Jesus. Ele não sabia, mas a vida deste menino reservava um destino muito especial voltado a uma arte presente nas raízes brasileiras desde o tempo da escravidão: a Capoeira. Nasce então, Edvaldo Jesus dos Santos que mais tarde se tornaria Mestre Marreta!!! Ainda criança, Edvaldo morou no Bairro Periperi na cidade de Salvador – BA, juntamente com seus pais e seis irmãos. Estudou e conclui o Ensino Fundamental e o Ensino Médio na Escola Almirante Barroso. Aos 14 anos trabalhou numa oficina de pintura; três anos depois, alistou‐se no exército, onde ficou de excesso contingente no período de um ano, tendo recebido posse da carteira de reservista em 1982. Ainda com 17 anos de idade, Edvaldo entrou no Grupo de Capoeira Obalafom (seu primeiro contato com o mundo da capoeira), tendo como professor Djalma Marinho de Sá, que o treinava na Escola Castelo Branco em Salvador, no Bairro da Urbes às 2ª, 4ª e 6ª feiras. Aos 18 anos, pôde exercer a função de pintor de auto. No período de 1987 a 1990, trabalhou como coordenador de eventos no Maritim Club Hotel, uma empresa internacional, possuindo 25 hotéis espalhados em toda a Europa. Lá, ele desenvolvia um trabalho de Capoeira, uma capoeira show, unicamente para apresentações ao público turístico; onde havia danças, como Maculelê, Dança dos Cafezais, entre outras muitas danças do folclórico baiano. No mesmo ano, viajou para Brasília tendo permanecido por três anos, onde trabalhou no STJ (Supremo Tribunal de Justiça). Em 1993 a 1996 voltou para Salvador onde trabalhou como segurança de valores da Raimundo Santana S.A.
3 Disponivel On Line: http://www.flogao.com.br/capoeiraflecha/78944277
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Em, 1995, aos 32 anos casou‐se com Joelma Moreira da Silva, sendo que no dia 10 de março de 1997 nasce Éderson Silva Santos, seu filho. Edvaldo ainda trabalhou como segurança no Hotel Só Bahia Atlântico, nos anos de 1996 a 1999. Em julho de 99, recebeu de um amigo a proposta de vir ao Maranhão com o objetivo de desenvolver um trabalho voltado à capoeira. Em 8 de agosto do mesmo ano ele chegou à Barra do Corda. Criou‐se, então, a Escola de Capoeira Flecha, no dia 22 de agosto de 1999, onde pôde desenvolver um trabalho voltado à Capoeira Regional juntamente com um pouco do folclórico baiano. No dia 19 de junho de 2000 e 2001, foi desenvolvido o Projeto Ginga, uma parceria do governo municipal com o Grupo favorecendo 90 alunos da rede municipal de 1º a 8º séries. No mesmo ano Escola de Capoeira Flecha juntamente com o Projeto Ginga, participam dos Jogos Escolares Maranhenses JEM’s, onde conquistaram 12 medalhas para município de Barra do Corda. Em junho de 2001, ao trabalhar 15 dias consecutivos em uma barra de festejos juninos, exaustado, Mestre Edvaldo sentou‐se no para‐peito de sua casa, onde sofreu uma terrível queda fraturando sua coluna cervical, tendo atingido a C.5 – C.6. No dia seguinte foi contatado que o Mestre Marreta havia também quebrado o pescoço. Sendo assim, foi transferido para São Luis e submetido a duas cirurgias, tendo passado 28 dias hospitalizado. Graças a Deus e a seu preparo físico, pela prática da capoeira, Mestre Marreta recuperou‐se rapidamente (por milagre), pois o prazo mínimo que o médico deu para que ele voltasse a praticar o esporte foi de 2 anos. Mas, com apenas quatro meses após a sua saída do hospital, o mestre já estava treinado e dando aulas. A vida nos ensina muitas coisas, e esse é um exemplo que todos nós devemos seguir: não nos deixarmos abalar pelos obstáculos da vida!!! Hoje, além de continuar dando aulas na Escola de Capoeira Flecha e no Projeto Ginga, Mestre Marreta ainda ensina a arte da capoeira regional em três outros projetos com a parceria do governo municipal: Agente Jovem, Resgate e Cidadania e Cacooper (Copaíba). É a capoeira atravessando fronteiras e mostrando sua história à sociedade, tirando os jovens do mundo das drogas, incentivando a educação e a inclusão social.
GABA (Grupo Angoleiros da Barra)4
Fundado em outubro de 2005, o
Grupo Angoleiros da Barra, o GABA CAPOEIRA ANGOLA, nasceu da iniciativa coletiva de vários capoeiristas cordinos que viram na Capoeira Angola importante elemento de aproximação e compreensão da cultura afro‐brasileira. O GABA, de forma pioneira, vem ao longo de seu relativo pouco tempo de existência se dedicando com afinco às
pesquisas e estudos sobre a Capoeira Angola, tanto em seus aspectos práticos quanto em seus aspectos teóricos, e ao longo dessa caminhada já deu várias contribuições para o desenvolvimento da Capoeira Angola em nossa cidade através da realização de seminários, fóruns, encontros e oficinas de Capoeira Angola com a participação de figuras expressivas da Capoeira Angola do Maranhão, do Brasil e do mundo.
4 Fonte: http://www.barradocorda.ma.gov.br/cidade/gaba.php
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Irapuru Iru Pereira5 Começou a praticar Capoeira com mestre Patinho em São Luis‐MA, com quem treinou durante alguns anos. Depois foi para o interior do Estado, mais precisamente na cidade de Barra do Corda‐MA, onde participou de 1999 a 2005 do Grupo Flecha. Atualmente participa da organização do Grupo Angoleiros da Barra, o GABA CAPOEIRA, sendo tal responsabilidade desenvolvida em parceria com SAMUEL BARROSO, um exímio Capoeira da região. Começou capoeira aos 11 anos de idade, na cidade de São Luis, sendo que o que levou‐o à praticar foi um problema de saúde. Na época iniciou‐se com Mestre Patinho. Aos 14 anos de idade foi acometido por doença renal que entre outras restrições proibia‐o de praticar atividades físicas. Depois disso teve alguns, segundo suas próprias palavras, retornos inexpressivos. Em 1999 mudou‐se à Barra do Corda‐MA, onde para manter a saúde (novamente ela), teria impreterivelmente que se tornar um atleta. Retornou à Capoeira através de um grupo local cujo Mestre acabara de chegar de Salvador. Este foi à Barra do Corda para fazer um trabalho com os índios (por lá são muitos duas etnias: Canelas e Guajajaras). O trabalho com os indígenas não vingou, mas ele, o mestre, fixou uma academia de Capoeira "Regional" na cidade, onde Irapuru Iru Pereira passou a participar até meados do ano de 2005. Em paralelo a isso, IRAPURU estava se graduando em História e durante todo o curso a Capoeira se mostrou um riquíssimo objeto de pesquisa, bem como um poderoso instrumento didático‐pedagógico. Tal aproximação com o mundo teórico da Capoeira, que ele mesmo chama de "a Capoeira jogada fora da roda" levou‐o a tentar somar esses elementos, principalmente os de caráter libertários e ideológicos, ao trabalho da Academia. Não deu em outra, por se tratar de uma Capoeira hierarquizada, e com grandes limitações teóricas e acadêmicas, passou a ser alijado e teve que se afastar do grupo, que a essa altura já introduzia agarrões do jiu‐jitsu nas rodas na academia. Irapuru até comenta: nada contra o jiu‐jitsu, mas tudo a favor da Capoeira pura, simples e completa. Antes de Irapuru, vários outros capoeiras também já haviam se afastado do grupo e não tinham para onde ir, sendo então convidado por eles para colaborar na construção de uma alternativa de Capoeira. Optaram por fazer um trabalho de Capoeira Angola, levando em conta principalmente seus aspectos ideológicos e anárquicos. A parada não foi ‐ não está sendo ‐ nada fácil, pois em Barra do Corda as pessoas só conheciam a Capoeira Contemporânea e todo imaginário sobre Capoeira está relacionado com essa expressão da nossa luta‐dança‐luta. Os integrantes do GABA desenvolvem seus trabalhos em uma forma gratificante de autogestão e exercício da democracia, onde todos do grupo procuram de alguma forma suprir suas carências. O GABA foi criado em outubro de 2005, e seus membros não tem a pretensão de fazermos do Trabalho um "negócio",
5 Breve histórico do Grupo Angoleiros da Barra ‐ GABA‐, em Barra do Corda, Maranhão e da vida capoeirística de IRAPURU IRU PEREIRA, um de seus idealizadores. Disponível on line via: http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/angoleiros+da+barra
Figura 1: Professor Irapuru, Vereadora Nilda Barbalho e Mestre Patinho
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funcionamos através de oficinas de Capoeira ministradas em escolas e agrupamos cerca de 40 Capoeiras. Nessa caminhada já tiveram a colaboração do Nelsinho do Laborate e de Mestre Patinho, ambos de São Luis. Para os membros do GABA, o objetivo do "Grupo não é para ensinar Capoeira, mas sim para aprender Capoeira". Com diz o próprio Irapuru, "não temos pressa, como já sabemos: CAPOEIRA ANGOLA É DEVAGAR!!!!"
Como ensinar esse conteúdo para crianças Para dar início ao tema e avaliar o conhecimento que os alunos já possuam, podemos começar fazendo algumas perguntas:
‐ Alguém já assistiu a uma apresentação de capoeira? O que achou? ‐ Quem já jogou ou brincou de jogar capoeira alguma vez? O que achou? ‐ Vamos tentar montar uma lista com os elementos que vocês acham que fazem
parte de uma roda de capoeira?
Nesse momento, é interessante pedir para que os alunos levantem a mão e, um a um, citem os elementos que acham que fazem parte da capoeira. Peça para que um aluno vá anotando tudo na lousa ou em um caderno e, ao final, leia os elementos, perguntando para a turma se são realmente elementos da capoeira.
Discussão Após a vivência da reconstrução da história da capoeira e a leitura do texto, desenvolva com a turma uma reflexão sobre os conhecimentos apresentados. Sugestão de questões para essa reflexão:
‐ A história que a turma inventou tem alguma semelhança com a leitura? ‐ Antes da leitura, alguém tinha algum conhecimento a respeito da origem da
capoeira? Que conhecimento e onde o obteve? ‐ O que são os bantos? ‐ Quando os bantos foram trazidos para o Brasil, trouxeram consigo diversos
costumes, citem alguns deles e falem sobre como esses costumes fazem parte da cultura; brasileira.
‐ Qual a relação da escravidão com a origem da capoeira? ‐ Por que motivos a capoeira chegou a ser proibida no Brasil? ‐ Qual seria a relação entre fugas de escravos, capitães do mato, quilombos e
capoeira? ‐ Quais os tipos de capoeira descritos no texto? Qual dos dois é mais antigo?
Tarefa para casa Para finalizar a discussão, pergunte se os alunos saberiam diferenciar a capoeira angola da regional. Após refletirem e opinarem sobre o tema, proponha que, divididos em grupos (de três ou quatro alunos), pesquisem o tema em diferentes fontes: entrevista com
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algum praticante ou mestre de capoeira, pesquisa na internet, em livros, jornais ou revistas. As fontes de pesquisa não são tão variadas, mas qualquer informação servirá para as discussões das aulas seguintes.
Filmes
"Mestre Bimba – A Capoeira Iluminada", conta, através de depoimentos de seus antigos alunos e de imagens inéditas em cinema, a história deste brasileiro, Manuel dos Reis Machado, o Mestre Bimba (1899 – 1974) um iletrado que recebeu, post morten, o título de Doutor Honoris Causa de uma das mais prestigiadas Universidades do Brasil. De origem humilde, ele foi um grande jogador de capoeira mas antes de tudo um educador, que dedicou a sua vida a dar dignidade e luz à capoeira. Para muitos historiadores foi um dos negros mais importantes do século XX, nas Américas. Seu nome é a primeira referência que um aluno de capoeira aprende, em qualquer país que esteja. A ele são dedicadas milhares e milhares de músicas cantadas em todas as rodas de capoeira nos cinco continentes.
"Pastinha ‐ Uma Vida pela Capoeira", um filme do cineasta e
capoeirista Antônio Carlos Muricy é um documentário filmado no Rio de Janeiro, em Salvador e em Nova Yorque, EUA. Ilustrado com fotos de David Zingg e de Pierre Verger, e por desenhos e pinturas de Capoeira do próprio Pastinha, representa uma rara oportunidade de se conhecer os fundamentos e a história da lendária Capoeira Angola e de seu maior mestre. Pastinha! O documentário “Mandinga em Manhattan” conta como a capoeira se espalhou pelo mundo e hoje se encontra em mais de 160 países, em todos os continentes. Com locações no Brasil e nos EUA, Mandinga em Manhattan traz depoimentos de antropólogos, pesquisadores e dos maiores mestres da atualidade ‐ os verdadeiros
responsáveis pela divulgação mundial da capoeira. Mandinga em Manhattan é dividido em três momentos: a história da capoeira, com relatos dos mestres antigos, entre eles João Grande e João Pequeno, a ida dos capoeiristas para o exterior e o retorno da capoeira para o Brasil. Mandinga em Manhattan é a história da resistência e evolução da capoeira no mundo. Que tem começo, mais não tem fim.
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UNIDADE III: ESTILOS DE CAPOEIRA Leonardo Delgado
Capoeira Angola A Angola é o estilo mais próximo de como os negros escravos jogavam a Capoeira. Caracterizada por ser mais lenta, porém rápida, movimentos furtivos executados perto do solo, como em cima, ela enfatiza as tradições da Capoeira, que em sua raiz está ligada aos rituais afro‐brasileiros, caracterizado pelo Candomblé, sua música é cadenciada, orgânica e ritualizada, e o correto é estar sempre acompanhada por uma bateria completa de 08 instrumentos. A designação "Angola" aparece com os negros que vinham para o Brasil oriundos da África, embarcados no Porto de Luanda que, independente de sua origem, eram designados na chegada ao Brasil de "Negros de Angola", vide ABC da Capoeira Angola escrito pelo Mestre Noronha quando ele cita o Centro de Capoeira Angola Conceição da Praia, criado pela nata da capoeiragem baiana no início dos anos 1920. Mestre Pastinha (Vicente Ferreira Pastinha) foi o grande ícone do estilo. Grande defensor da preservação da Capoeira Angola, inaugurou em 23 de fevereiro de 1941 o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA). Dos ensinamentos do Mestre Pastinha foram formados grandes mestres da capoeiragem Angola, a exemplo dos Mestres: João Pequeno, João Grande, Valdomiro Malvadeza, Albertino da Hora, Raimundo Natividade, Gaguinho Moreno, 45, Pessoa Bá‐Bá‐Bá, Trovoada, Bola Sete, dentre outros que continuam transmitindo seus conhecimentos para os novos angoleiros, como Mestre Morais. É comum a primeira vista ver o jogo de Angola como não perigoso ou não elaborado, contudo o jogo Angola se assemelha ao xadrez pela complexidade dos elementos envolvidos. Por ter uma sistemática estruturada em rituais de aprendizado completamente diferentes da Regional, seu domínio é muito mais complicado, envolvendo não só a parte mecânica do jogo, mas também características como sutileza, o subterfúgio, a dissimulação, a teatralização, a mandinga e/ou mesmo a brincadeira para superar o oponente. Um jogo de Angola pode ser tão ou mais perigoso do que um jogo de Regional.
Mestre Pastinha Na capoeira angola, vale mais a astúcia do que a força muscular. O método de Mestre Pastinha, ensinado regularmente desde 1910, consiste em golpes desferidos quase que em câmera lenta. O capoeirista fica a maior parte do tempo com o corpo arqueado e sua ginga é de braços soltos, relaxados, porque a tática é se fazer de fraco diante do oponente. Os golpes não têm pressa de chegar, mas, quando chegam, têm forma harmoniosa. Muitas pessoas que conhecem a capoeira angola acham que ela é menos violenta, pois os golpes são desferidos em câmera lenta, mas, pode chegar a ser mais perigosa que a capoeira regional. Como Mestre Pastinha dizia: "Capoeira angola é, antes de tudo, luta, e luta violenta".
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Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 1889, filho do espanhol José Senor Pastinha e de Maria Eugenia Ferreira. O pai era comerciante, dono de um pequeno armazém no centro histórico de Salvador, e a mãe, com a qual teve pouco contato, era uma negra natural de Santo Amaro da Purificação, que vivia de vender acarajé e lavar roupa para as famílias mais abastadas da capital baiana. Ainda menino, com apenas 8 anos, Mestre Pastinha conheceu a arte da capoeira, quando um africano a quem chamava carinhosamente de tio Benedito, ao vê‐lo pequeno e magrelo apanhar de um garoto mais velho, resolveu ensinar‐lhe a se
defender. Durante três anos, Mestre Pastinha passou tardes inteiras num velho sobrado da rua do Tijolo, em Salvador, treinando golpes como meia‐lua, rasteira, rabo de arraia e outros. Ali, aprendeu a jogar com a vida e a ser um vencedor. Viveu uma infância feliz, porém modesta. Durante as manhãs, freqüentava aulas no Liceu de Artes e Ofícios, onde também aprendeu pintura. A tarde, empinava pipa e jogava capoeira. Aos treze anos, era o menino mais respeitado e temido do bairro. Mais tarde, foi matriculado na Escola de Aprendizes Marinheiros pelo pai, que não concordava com o que considerava vadiagem do filho. Mestre Pastinha conheceu os segredos do mar e ensinou aos colegas as manhas da capoeira. Aos 21 anos, voltou para o centro histórico, deixando a Marinha para se dedicar à pintura profissionalmente. Suas horas de folga eram dedicadas à prática da capoeira, cujos treinos eram feitos às escondidas, pois, no início do século, essa luta era crime previsto no Código Penal da República. Mestre Pastinha trabalhou muito em prol da capoeira, divulgou a arte o quanto lhe foi possível e foi reconhecido por muitas pessoas famosas que se maravilhavam com suas exibições. Aos 84 anos, muito debilitado fisicamente, deixou a antiga sede da academia para morar num quartinho velho no Pelourinho, com sua segunda esposa, Maria Romélia. A única renda do casal era a da venda de acarajé. No dia 12 de abril de 1981, Mestre Pastinha participou do último jogo de sua vida. Dessa vez, com a própria morte. Ele, que tantas vezes jogou com a vida, acabou derrotado pela doença e pela miséria. Morreu aos 92 anos, cego e paralítico, vítima de uma parada cardíaca, no abrigo D. Pedro II, em Salvador. Pequeno e notável em sua arte, Mestre Pastinha deixou seus ensinamentos de vida em muitas mensagens fortes e inesquecíveis como esta:
Ninguém pode mostrar tudo o que tem. As entregas e revelações têm que ser feitas aos poucos. Isso serve na capoeira, na família e na vida. Há momentos que não podem ser divididos com ninguém e, nesses momentos, existem segredos que não podem ser contados a todas as pessoas. (Mestre Pastinha, 10/10/1980)
A Capoeira Regional O jogo que Mestre Bimba criou é um jogo mais rápido, em que os capoeiristas jogam de pé. Eles não jogam tanto no chão quanto na capoeira angola, os golpes são mais rápidos e precisos. Em 23 de novembro de 1900, no bairro de Engenho Velho, freguesia de Brotas, em Salvador, Bahia, nascia Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba. Esse apelido, ele
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ganhou logo que nasceu, em virtude de uma aposta feita entre a mãe e a parteira. A mãe, Maria Martinha do Bonfim, dizia que daria à luz uma menina. A parteira afirmava que seria homem. Apostaram e perdeu Maria e o filho, Manoel, que ganhou o apelido que o acompanharia pela vida inteira: Bimba, nome popular para o órgão sexual masculino. O pai, Luís Cândido Machado, era citado nas festas de largo como grande "batuqueiro", como campeão de "batuque", "a luta braba, com quedas, em que o sujeito jogava o outro no chão". De 1890 a 1937, como já afirmamos, a capoeira era crime previsto no Código Penal da República. Simples exercícios nas ruas davam até seis meses de prisão. Aos 12 anos, Bimba iniciou‐se na capoeira, na estrada das Boiadas, hoje o grande bairro negro Liberdade. Seu mestre foi o africano Bentinho, capitão da Companhia de Navegação Baiana. Naquele tempo, a capoeira ainda era bastante perseguida e Mestre Bimba conta:
Naquele tempo, capoeira era coisa para carroceiro, trapicheiro, estivador e malandro. Eu era estivador, mas fui um pouco de tudo. A polícia perseguia um capoeirista como se persegue um cão danado. Imagine só que um dos castigos que davam a capoeiristas que fossem pegos brigando era amarrar um punho num rabo de cavalo e o outro em cavalo paralelo; os dois cavalos eram soltos e postos a correr em disparada até o quartel. Comentavam até, por brincadeira, que era melhor brigar perto do quartel, pois houve muitos casos de morte. O indivíduo não agüentava ser arrastado em disparada pelo chão e morria antes de chegar ao seu destino: o quartel de polícia.
Naquela altura, Bimba começou a sentir que a capoeira que praticara e ensinara por um bom tempo tinha se folclorizado, assim como a Bahia, que se degenerou e passou a servir de "prato do dia" para "pseudocapoeiristas", que utilizavam a capoeira unicamente para exibição em praças. Por terem sido eliminados seus movimentos fortes, mortais, essa capoeira deixava muito a desejar como luta. A "pantomima" era altamente necessária nesse tipo de jogo "para inglês ver". O capoeirista se tornou folclórico em demasia, sem a verdadeira malícia e eficiência técnica que uma luta como a capoeira exigia. Foi para reverter esse quadro que Mestre Bimba criou a capoeira regional, aproveitando‐se de golpes do "batuque", luta da qual seu pai fora campeão, do jiu‐jitsu e do boxe, e criou um método de ensino. Para fugir de qualquer pista que lembrasse a origem marginalizada da capoeira, mudou alguns movimentos, eliminou a malícia da postura do capoeirista, colocando‐o em pé. Criou um código de ética rígido, que exigia até higiene, e estabeleceu o uniforme branco e até se meteu na vida privada dos alunos. Teve o cuidado de retirar a palavra capoeira do nome da academia que fundou em 1932 em Salvador, que passou a se chamar "Centro de Cultura Física e Luta Regional". Com isso, Mestre Bimba deu ares atléticos ao jogo e atraiu as mulheres, até então excluídas das rodas. O resultado foi que, a partir daí, a capoeira começou a ganhar alunos da classe média branca e também, a se dividir.
Capoeira Contemporânea Foi criada na década de 70 por rapazes do Rio de Janeiro que certa vez viram um capoeirista brigando numa festa e ficaram fascinados. Tentaram então aprender a arte na periferia carioca, único lugar onde poderiam encontrar capoeiristas, porém não foram aceitos por serem de classe média. Decidiram, então, uma vez por ano, viajar para a Bahia e cada um começou a treinar com um mestre diferente. Na volta passavam os conhecimentos adquiridos
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uns para os outros e criaram um novo estilo conhecido como Contemporâneo. Os rapazes montaram um grupo com nome de Senzala e participaram de um campeonato com vários capoeiristas, vencendo‐o.
Uniforme dos Angoleiros Mestre Pastinha instituiu o uniforme dos angoleiros com as cores do seu time de coração, o Ypiranga, de Salvador. Para ele o capoeira devia jogar calçado.
Uniforme dos capoeiras da Regional Mestre Bimba aboliu os sapatos no treino e instituiu o uniforme branco baseado no costume da domingueira, a roupa elegante que o capoeirista vestia e que permanecia limpa mesmo depois do jogo, provando sua competência.
Graduação O sistema de graduação varia de grupo para grupo. Como um capoeirista se torna um mestre? Depende, se for regional ou angola. Na capoeira regional, o capoeirista começa com um cordão (a cor do cordão vai depender da academia). Com o passar do tempo, vai evoluindo e passa a ter outro cordão até obter o cordão de mestre. O chamado "batizado" de capoeira é quando o aluno vai trocar de cordão e, na roda, joga com diversos alunos e com o mestre, que aplica o golpe que batiza o aluno. Na capoeira angola, a passagem de cordão não existe. O que existe é a graduação de contramestre, uma graduação anterior ao mestre. A passagem do aluno para essa graduação se faz somente pela vontade do mestre. Os critérios utilizados são diferentes entre si, mas o que se sabe é que, normalmente, a experiência, o tempo e o procedimento de vida são fatores determinantes para formar um mestre na capoeira angola. Existem várias entidades (Ligas, Federações e Confederações) que tentam organizar a graduação na capoeira. Atualmente a Confederação Brasileira de Capoeira adota o sistema de graduação feito por cordões e seguindo as cores da bandeira brasileira. Temos então a seguinte ordem do iniciante ao mestre: Sistema oficial de graduação da Confederação Brasileira de Capoeira A ‐ Graduação Infantil (até 14 anos)
‐ 1º iniciante: sem corda ou sem cordão ‐ 2º batizado infantil: cinza claro e verde ‐ 3º graduado infantil: cinza claro e amarelo ‐ 4º graduado infantil: cinza claro e azul ‐ 5º intermediário infantil: cinza claro, verde e amarelo ‐ 6º avançado infantil: cinza claro, verde e azul ‐ 7º estagiário infantil: cinza claro, amarelo e azul ‐ 8º Formado infantil:cinza claro,verde,amarelo e azul
B ‐ Graduação Adulta (a partir de 14 anos)
‐ 9º iniciante: sem corda ou cordão ‐ 10º batizado: verde
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‐ 11º graduado: amarelo ‐ 12º graduado: azul ‐ 13º intermediário: verde e amarelo ‐ 14º avançado: verde e azul ‐ 15º estagiário: amarelo e azul
C ‐ Docente de capoeira
‐ 16º estágio ‐ Formado: verde, amarelo e azul ‐ 17º estágio ‐ Monitor: verde e branco ‐ 18º estágio ‐ Professor: amarelo e branco ‐ 19º estágio ‐ Contra‐mestre: azul e branco ‐ 20º estágio ‐ Mestre: branco
Obs.: Após a 8º graduação o aluno formado infantil passa para a 10º graduação que é a primeira corda adulta, corda verde, em alguns casos (dependendo de seu desempenho) pode pegar a 11º que é a corda amarela, segunda corda adulta.
A ginga e alguns golpes de ataque e defesa A ginga é o movimento básico da capoeira. E um movimento de pernas, no ritmo do toque, que lembra uma dança. A movimentação de pés do capoeira, durante a ginga, segue o traçado de um triângulo imaginário no chão.
Fonte: http://capoeira.kourou.free.fr/Page/Ginga.htm.
Antes de iniciar a vivência da ginga, forneça aos alunos estas dicas:
‐ A ginga é a movimentação mais importante da capoeira, ela deve acompanhar o ritmo dos instrumentos da roda de capoeira;
‐ Lembre‐se sempre de olhar para o companheiro de jogo, nunca tire os olhos dele;
‐ Os braços e as pernas devem seguir uma certa seqüência na hora da ginga. Os braços protegerão a parte da frente do tronco e a cabeça, enquanto as pernas vão se alternar para as diagonais e para frente e para trás, como se fossem um triângulo;
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‐ Lembre‐se sempre de alternar os braços e as pernas durante a ginga, ou seja, quando a perna esquerda está apoiada à frente, o braço direito fica à frente do corpo e vice‐versa;
‐ A ginga da capoeira regional é realizada em pé e a ginga da capoeira angola, na posição agachada.
Vivências Como material, use músicas de capoeira. Você pode dividir os alunos em duplas ou trios. No caso dos trios, enquanto um aluno descansa e observa, os outros realizam a vivência:
‐ Solicite que ginguem um de frente para o outro, procurando ficarem bem próximos, mas sem se tocarem;
‐ Depois de um tempo, aumente o número de pessoas no grupo (três, quatro, cinco etc.) e diminua o espaço da atividade.
Golpes de ataque ‐ Armada ‐ A armada é um movimento de capoeira que pode ser aplicado
pulando com as duas pernas ou apenas com uma. É uma pernada giratória, aplicada com o tronco ereto. O capoeirista, partindo da ginga, executa um giro de todo o corpo, aparentemente dando as costas ao adversário. Posicionando‐se sobre a perna que se encontra à frente e arremessando a outra perna, em um movimento que completa o giro do corpo, varre a horizontal, atingindo o adversário com a parte lateral externa do pé.
Fonte: http://capoeira.kourou.free.fr/Page/Armada.htm.
‐ Meia‐lua de compasso — E um golpe praticado nas duas modalidades de
capoeira. Neste movimento, o capoeirista sai da ginga, abaixa‐se até o solo, onde apóia as duas mãos, e desfere um giro com a perna de trás, arremessando‐a na altura do tronco ou do rosto do adversário, acertando‐o com o calcanhar. Esse giro é executado sobre a perna de base, como se fosse um compasso. Durante todo o movimento, a cabeça se encontra entre os braços, os olhos atentos ao adversário.
Fonte: http://capoeira.kourou.free.fr/Page/Meia lua de compasso.htm.
‐ Cabeçada — Golpe de ataque da capoeira regional e da angola. Em uma
posição semelhante à da esquiva, o capoeirista projeta o tronco para a frente, sobre uma perna flexionada servindo como base, busca atingir o adversário com a cabeça, sempre protegendo o rosto e a nuca com os braços. No caso da
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cabeçada rasteira, não se protege o rosto e a nuca, pois as mãos estão no chão.
Fonte: http://companero.tr.gg/Capoeira_Animasyonlar.htm.
‐ Bênção ‐ A bênção é um movimento da capoeira que visa acertar o adversário
do abdome para cima. A perna de trás é esticada para a frente, em linha reta, visando empurrar ou deslocar o adversário.
Fonte: http://capoeira.kourou.free.fr/Page/Bencao.htm.
‐ Chapa — Neste golpe, o capoeirista se apóia em um dos pés, lateralmente, e
executa uma abertura lateral da outra perna, com a qual atinge o adversário, com a sola do pé, lateralmente, na horizontal (paralelo ao solo).
Fonte: http://capoeira.kourou.free.fr/Page/Chapa.htm.
‐ Chapa de costas ‐ Neste movimento, o capoeirista se abaixa até o solo,
contando com o apoio das duas mãos no solo e, aproveitando‐se do fato de estar de costas para o adversário, estende a perna como um "coice", atingindo o oponente com a planta do pé.
Fonte: http://companero.tr.gg/Capoeira_Animasyonlar.htm.
‐ Martelo ‐ O martelo é um golpe em que o capoeirista impulsiona a perna na
direção da cabeça do adversário. É mais comum na capoeira regional. É um chute lateral, com a ponta ou o peito do pé.
Fonte: http://capoeira.kourou.free.fr/Page/Martelo.htm.
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Vivências Divida os alunos em duplas, para que experimentem praticar os golpes de ataque da capoeira descritos. Antes de iniciar, oriente‐os para o cuidado com a segurança, pois existe grande risco de acidentes com lesões. E interessante apresentar aos alunos a visão de que a capoeira pode ser tratada como uma coreografia, em que os golpes devem manter uma sincronia, evitando o contato. A vivência pode ser realizada individualmente ou em duplas. Quando os alunos estiverem em duplas, lembre‐se de trocá‐las, para garantir maior integração entre todos da turma. Quando a atividade for individual e envolver o uso de cadeiras e bancos, solicite que os alunos tentem não tocar nos objetos quando aplicarem os golpes. Lembre‐se de orientá‐los para não executarem golpes com violência. É interessante realizar a vivência ao som de um CD ou fita com músicas de capoeira, para que os alunos aprendam a executar os movimentos de forma ritmada, sincronizados com a ginga.
‐ Armada ‐ Instrua os alunos a realizarem a armada passando o pé por cima de uma cadeira ou banco. Eles iniciam gingando de frente para a cadeira, no ritmo da música,‐ quando a perna direita ou esquerda estiver atrás, o aluno se prepara para o golpe e passa a perna por cima da cadeira e volta para a ginga. Lembre os alunos de sempre gingar antes de aplicar o golpe e alternar as pernas.
‐ Meia‐lua de compasso ‐ Instrua os alunos a gingarem de frente para a cadeira, agachando, apoiando a mão direita no solo, próxima ao pé esquerdo, e girando o corpo no sentido horário, tendo o pé esquerdo como pivô. Lança‐se a perna direita estendida sobre a cadeira (mantendo uma distância segura da cadeira para evitar acidentes). Em seguida, solicite que executem com a perna contrária, no sentido contrário.
‐ Cabeçada ‐ Solicite aos alunos que iniciem a ginga; quando o colega se aproximar, gingando, um dos capoeiristas aplica a cabeçada, sem encostar no outro. Lembre os alunos de proteger o rosto e a nuca. Os dois membros da dupla realizam o movimento, um de cada vez.
‐ Bênção ‐ Gingando, os alunos devem apoiar o peso do corpo na perna recuada e lançá‐la à frente, aplicando a bênção com a projeção da sola do pé em direção à cadeira.
‐ Chapa ‐ O aluno deve deixar o pé de apoio virado lateralmente, com a parte interna voltada para a cadeira, e estender a perna contrária, projetando a sola do pé, lateralmente, na horizontal, em direção à cadeira.
‐ Chapa de costas ‐ Solicite que os alunos fiquem de costas para a cadeira, a uma distância em que a perna estendida não a toque. Olhando por baixo do corpo, apoiando as mãos no solo, realizam a chapa de costas em direção à cadeira. Repetem com a outra perna.
‐ Martelo ‐ Solicite que os alunos coloquem uma cadeira na sua frente e que comecem a gingar. Quando uma perna estiver atrás, o golpe deve ser realizado pela extensão da outra e pelo movimento de chute, com o peito do pé na horizontal, em direção à cadeira.
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Golpes de defesa ‐ Au ‐ Movimento de deslocamento e fuga, realizado nas duas capoeiras. É um
golpe parecido com a estrela, só que, na estrela, as pernas ficam estendidas para cima. No au, as pernas ficam recolhidas, protegendo o corpo. Pode‐se fazer com as pernas estendidas, mas é mais perigoso, pois expõe o corpo para o oponente.
Fonte: http://capoeira.kourou.free.fr/Page/Au.htm.
‐ Cocorinha ‐ Este movimento é característico da capoeira regional. É um
movimento de defesa ou esquiva. O capoeirista agacha com as pernas paralelas,‐ com um dos braços, vai proteger o rosto, colocando o antebraço à frente; o abdome e o peitoral serão protegidos com os joelhos. A outra mão será utilizada para apoiar no chão, se necessário, no caso de desequilíbrio.
Fonte: http://capoeira.kourou.free.fr/Page/Cocorinha.htm.
‐ Negativa ‐ Movimento de defesa no qual o capoeirista desce sobre uma
perna, que flexionará sob o peso do corpo, ao abaixar‐se. Com isso, temos o corpo sobre uma perna, apoiado no calcanhar, enquanto a ponta do pé (flexionada) firma a base no chão. A outra perna é lançada ao lado ou à frente, estendida. Os braços apóiam as mãos ao solo, garantindo ao capoeirista três pontos de apoio e uma posição que permite locomoção rápida.
Fonte: http://capoeira.kourou.free.fr/Page/Negativa.htm.
Vivências Ao som de músicas de capoeira, divida a turma em duplas, para que os alunos experimentem praticar os golpes de defesa descritos. Lembre‐se de, mais uma vez, advertir quanto aos cuidados com a segurança. Instrua para que os alunos ginguem um de frente para o outro. Após a ginga, um realiza os golpes de ataque, enquanto o outro membro da dupla procura utilizar os golpes de defesa (au, cocorinha e negativas).
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Uma outra vivência é o pega‐pega‐capoeira. Escolha dois alunos para serem os capitães do mato (pegadores). Os demais alunos, que representam os escravos fugitivos, deverão fugir dos capitães e, ao serem pegos, ficarão na posição de cocorinha ou negativa. Para serem salvos, os fugitivos pegos deverão receber algum golpe de capoeira dos colegas que não foram pegos. Comece combinando o golpe que salva e, depois, troque os golpes e os pegadores também.
Roda de Capoeira A Roda de Capoeira é um círculo de pessoas onde é jogada a capoeira. Os capoeiristas se perfilam na roda de capoeira batendo palma no ritmo do berimbau e cantando a música enquanto dois capoeiristas jogam capoeira. O jogo entre dois capoeiristas pode terminar ao comando do capoeirista no berimbau (normalmente um capoeirista mais experiente) ou quando algum capoeirista da roda entra entre os dois e inicia um novo jogo com um deles. O tamanho da roda pode variar de um diâmetro de 3 metros até diâmetros superiores a 10 metros, ao mesmo tempo que pode ter meia dúzia de capoeristas até mais de uma centena deles. O jogo normalmente se inicia ao pé dos berimbaus. A roda de capoeira pode se realizar em praticamente qualquer lugar, em ambientes fechados ou abertos, sobre o cimento, a terra, a areia, o asfalto, na rua, numa praça, num descampado ou em uma academia. Para que a roda seja realizada precisamos de uma orquestra de instrumentos. A orquestra dos grupos de angola é normalmente configurada assim: ao centro da orquestra um berimbau berra‐boi ou gunga (com a maior cabaça) que faz o som grave, do lado direito um berimbau gunga ou médio (com a cabaça média) que faz um som intermediário, do lado esquerdo um berimbau viola (com a cabaça menor) que faz o som agudo. Ao lado do gunga vão por ordem o atabaque, um pandeiro e um agogô, já ao lado do viola vão: mais um pandeiro e um reco‐reco (instrumento comumente feito do bambu). Na capoeira regional temos: 1 berimbau(que podia ser o médio ou o viola) e 2 pandeiros A roda de capoeira é um microcosmo que reflete o macrocosmo da vida e o mundo que nos cerca. Vários elementos permeiam nossas relações com o mundo e no Jogo de Capoeira estes elementos aparecem de maneira intensa. Respeito, malicia, maldade, responsabilidade, provocação, disputa, liberdade, brincadeira, e poder, entre outros, estão presentes em maior ou menor intensidade durante um jogo, e não há um jogo igual ao outro, mesmo com um mesmo oponente. Em geral a capoeira não busca destruir o oponente, porém contusões devido a combates mais agressivos não são raras. Entretanto, de maneira geral o capoerista prefere mostrar sua superioridade "marcando" o golpe no oponente sem, no entanto completá‐lo. Se o seu oponente não pode evitar um ataque lento, não existe razão para utilizar um golpe mais rápido.
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A ginga é o movimento básico da capoeira, é um movimento de pernas no ritmo do toque que lembra uma dança, porém capoeristas experientes raramente ficam gingando, pois estão constantemente atacando, defendendo, e "floreando" (movimentos acrobáticos). Além da ginga são muito comuns os chutes em rotação, rasteiras, golpes com as mãos, cabeçadas (com o objetivo principal de desequilibrar), esquivas, saltos, mortais, giros apoiados nas mãos e na cabeça, movimentos acrobáticos e de grande elasticidade e movimentos próximos ao solo. O jogo de capoeira pode durar de poucos segundos, quando há muitos capoeiristas se revezando dentro da roda, até alguns minutos. Combates longos assim são comuns quando dois capoeiristas resolvem confrontar suas habilidades ao máximo, ou mesmo quando os dois resolvem suas diferenças na roda. Em embates longos é comum a volta ao mundo, que é quando um dos capoeiristas solicita uma pausa no jogo dando algumas voltas na roda com o oponente o seguindo. Depois duas a três voltas os dois saem ao pé do berimbau para continuar o jogo. Cada toque requer uma forma diferente de jogar capoeira, a capoeira Angola pede um jogo mais lento perto do solo e com mais "mandinga" (matreiro, sutil, dissimulado), São Bento Grande de Bimba um jogo rápido e de muitos chutes em rotação, Iúna um jogo com muitos floreios (movimentos acrobáticos) e assim por diante.
Curiosidades ‐ As primeiras mestras de Capoeira Angola surgem somente no início do século
XXI, sendo representadas pelas Mestras Janja e Paulinha, discípulas de Mestre Morais, Cobra Mansa e João Grande e atualmente líderes (junto ao Mestre Poloca) do Grupo Nzinga de Capoeira Angola[2]
‐ Mestre Pastinha começou a treinar capoeira por intermédio de um africano que o viu apanhar de um rival em sua infância.
‐ Mesmo depois de perder a visão mestre pastinha era temido por quem estava jogando com ele.
‐ Foi mestre Pastinha que falou a famosa frase "A capoeira é Mandinga, é manha, é malícia, é tudo o que a boca come"
‐ Dos 50 golpes bem aplicados da capoeira que Mestre Bimba ensinou, 22 eram mortais.
‐ Em 1930, o famoso caratê não era conhecido na Bahia. ‐ Mestre Bimba foi o Capitão da Navegação Baiana. ‐ Mestre Bimba teve sua primeira escola de capoeira Angola, em 1918 com
apenas 18 anos, obtendo apenas em 1937 o alvará da Academia de Capoeira Regional.
‐ Segundo Mestre Noronha, o berimbau em seu tempo, era uma arma maligna e mortal. A verga (o pau do berimbau), era usado como cassetete e a varinha servia para furar os olhos do adversário que tivesse má conduta. Na época em que a capoeira era proibida.
‐ Segundo Luis Edmundo, nos fins do século XVIII, no Rio de Janeiro, as aventuras dos capoeiras eram de tal jeito que o governo, através da portaria de 31 de outubro de 1821, estabeleceu castigos corporais e outras medidas de repressão à prática de capoeira.
‐ Na Bahia, de acordo com Manuel Querino, os capoeiristas se distinguiam dos demais negros porque usavam uma argolinha de ouro na orelha, como insígnia de força e valentia, e o nunca esquecido chapéu à banda.
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‐ Os capoeiristas eram contratados pelos políticos para bagunçar no dia das eleições. Enquanto as pessoas desviavam a atenção para a confusão dos capoeiras um indivíduo colocava um maço de chapas na urna ou na linguagem da época "emprenhava a urna". Vencia as eleições o candidato que dispunha de maior n.º de capoeiras.
‐ Milhares de capoeiristas foram para a Guerra do Paraguai, pois havia sido prometida a liberdade no final do conflito àqueles que participassem da batalha.
‐ Mestre Bimba é o mestre da capoeira regional. ‐ Antes do arame, o "fio" do berimbau era feito de tripas de animais.
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UNIDADE IV: INSTRUMENTOS E MUSICA NA CAPOEIRA
Leonardo Delgado A música é um componente fundamental da capoeira. Ela determina o ritmo e o estilo do jogo que é jogado durante a roda de capoeira. A música é composta de instrumentos e de canções, podendo o ritmo variar de acordo com o Toque de Capoeira de bem lento (Angola) a bastante acelerado (São Bento Grande). Muitas canções são na forma de pequenas estrofes intercaladas por um refrão, enquanto outras vêm na forma de longas narrativas (ladainhas). As canções de capoeira têm assuntos dos mais variados. Algumas canções são sobre histórias de capoeiristas famosos, outras podem falar do cotidiano de uma lavadeira. Algumas canções são sobre o que está acontecendo na roda de capoeira, outras sobre a vida ou um amor perdido, e outras ainda são alegres e falam de coisas tolas, cantadas apenas para se divertir. Os capoeiristas mudam o estilo das canções freqüentemente de acordo com o ritmo do berimbau. Desta maneira, é na verdade a música que comanda a capoeira, e não só no ritmo mas também no conteúdo. O toque Cavalaria era usado para avisar os integrantes da roda que a polícia estava chegando; por sua vez, a letra é constantemente usada para passar mensagens para um dos capoeiristas, na maioria das vezes de maneira velada e sutil.
INSTRUMENTOS Os instrumentos são tocados numa linha chamada bateria. O berimbau é o principal instrumento da capoeira. Diz a lenda africana que uma menina saiu a passeio e, ao atravessar um córrego, abaixou‐se para beber água com as mãos. No momento em que saciava sua sede, um homem deu‐lhe uma pancada na nuca. Ao morrer, seu corpo se converteu na madeira, seus membros na corda, sua cabeça na caixa de ressonância e seu espírito na música dolente e sentimental do berimbau. Esse é talvez um dos instrumentos musicais mais primitivos de que se tem informação. Considerado instrumento de corda e encontrado em várias culturas e lugares do mundo, incluindo o Novo México (nos Estados Unidos), a Patagônia, a África Central, a África do Sul e o Brasil. Ao Brasil, o berimbau chegou pelas mãos dos escravos africanos, por volta de 1538.
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Berimbau
Os berimbaus criam uma corrente e uma vibração que, junto com as palmas, os cantos, o pandeiro e o atabaque, influenciam os jogadores. O berimbau varia de afinação, podendo ser o berra boi (mais grave), viola (médio) e violinha (mais agudo). Existem três tipos de berimbau:
‐ GUNGA: de som mais grosso, faz o papel de contrabaixo: marca o ritmo; ‐ BERIMBAU MÉDIO OU DE CENTRO (BERIMBAU): dobra em cima do ritmo
básico do gunga: é como se fosse o violão, ou guitarra de ritmo; ‐ VIOLA OU VIOLJNHA: é o berimbau de som mais agudo; faz os "contra toques"
e improvisos: equivaleria ao violão ou guitarra‐solo. O berimbau é feito com um arco de madeira (chamada biribá), e com um fio de arame preso nas duas extremidades desse arco. Uma cabaça com uma abertura em um dos lados é presa à parte inferior externa do arco, aproximadamente de 20 a 25 centímetros da ponta do instrumento, com um pedaço de corda. Essa corda é também amarrada em torno do fio de arame, e quando pressionada ela altera o som do mesmo. Os tons do berimbau são modificados pela aproximação e afastamento da cabaça em relação ao corpo músico, assim abrindo ou fechando o buraco. Os outros 3 componentes: o dobrão, que é segurada contra o arame, uma pequena vareta para tocar o fio (baqueta), e o caxixi.
‐ Caxixi: São cestos entrelaçados enchidos com pequenas contas, conchas, pedras, feijões, dentre outras coisas. Por serem feitos à mão eles existem em vários formatos e tamanhos, usado como chocalho pelo tocador de berimbau, o qual segura a peça com a mão direita, juntamente com a Baqueta, executando o toque e marcando o ritmo.
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‐ Baqueta: É uma vareta de madeira de, aproximadamente 30 a 40 centímetros, tendo uma extremidade mais grossa que a outra. A vareta é normalmente feita de biriba.
‐ Dobrão: Usado para auxiliar as variações de toques do berimbau, geralmente é uma pedra, mas também utilizam moeda.
Os diferentes ritmos utilizados na capoeira, como tocados no berimbau, são conhecidos como toques. Existem diversos tipos de toques dentro da capoeira, sendo que cada um é executado de acordo com a situação. São eles:
‐ Toque de Angola: jogo lento, malicioso; ‐ Toque de São Bento Pequeno: jogo médio, embaixo e em cima, jogo de
exibição técnica. Caracteriza‐se por ser um misto do sistema aeróbio(angola) e anaeróbio(São Bento Grande);
‐ Toque de São Bento Grande: jogo dentro, ligeiro, agressivo; ‐ Toque Iúna: é o toque dos mestres e em alguns lugares os formados também
jogam. Pode ser caracterizado pelo jogo onde se usam os chamados "balões cinturados" da regional. Não há canto nem palmas. Além disso, pode ser utilizado como toque fúnebre;
‐ Toque de Amazonas: saudação, quando algum mestre chega na roda; ‐ Toque de Cavalaria: toque de aviso, para debandar quando a polícia montada
chegava, ou seja, a cavalaria; ‐ Toque de Santa Maria: jogo de navalha, no pé ou na mão. ‐ Toque de Benguela: antigamente era jogo de porrete, hoje em dia é usado
como se fosse um jogo malicioso de capoeira regional, jogo técnico, para acalmar os ânimos quando dois capoeiristas se estranhavam.
‐ Toque de Idalina: jogo de faca ou facão. ‐ Toque de Lamento: toque fúnebre. ‐ Toque de Samba de Roda: original da roda de samba, geralmente feito ao final
da roda para descontrair.
Pandeiro
Instrumento de percussão, de origem indiana que requer considerável técnica para ser tocado. Pandeiros podem ter peies de couro ou de plástico. Eles existem em diferentes tamanhos, com os de 10 e 12 polegadas sendo os mais comuns. As peles de couro produzem uma qualidade de som melhor, mas apresentam problemas de afinação causados por alterações climáticas, logo as peles de plástico são mais encontradas. O pandeiro é segurado por uma das mãos, enquanto a ponta dos dedos, o polegar e a base da outra mão são usados para tocar a pele do lado de cima. Os tons abertos e fechados podem ser obtidos através do uso do polegar ou do dedo médio da mão que segura o instrumento. O polegar pode abafar a pele do lado de cima, o dedo médio pode abafar o lado de baixo. Foi introduzido no Brasil pelos portugueses, que o usavam para acompanhar as procissões religiosas que
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faziam. É o som cadenciado do pandeiro que acompanha o som do caxixi do berimbau, dando "molejo" ao som da roda. Ao tocador de pandeiro é permitido executar floreios e viradas para enfeitar a musica.
Atabaque
Instrumento de origem árabe, que foi introduzido na África por mercadores que entravam no continente através dos países do norte, como o Egito. É geralmente feito de madeira de lei como o jacarandá, cedro ou mogno cortada em ripas largas e presas umas às outras com arcos de ferro de diferentes diâmetros que, de baixo para cima dão ao instrumento uma forma cônico‐cilíndrica, na parte superior, a mais larga, são colocadas "travas" que prendem um pedaço de couro de boi bem curtido e muito bem esticado. É o atabaque que marca o ritmo das batidas do jogo. Juntamente com o pandeiro é e!e que acompanha o solo do berimbau.
Agogô Instrumento de origem africana composto de um pequeno arco, uma alça de metal com um cone metálico em cada uma das pontas, estes cones são de tamanhos diferentes, portanto produzindo sons diferentes que também são produzidos com o auxílio de um ferrinho que é batido nos cones. Também faz parte da "BATERIA" da roda de capoeira Angola na Bahia
Pesquisa em grupo Para pesquisar sobre outros instrumentos musicais utilizados na capoeira, divida a turma em grupos e passe a seguinte tarefa:
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‐ Investigar quais são os instrumentos mais freqüentes da capoeira na região,‐ como são fabricados, qual o material de que são feitos, como se toca cada instrumento e qual seu papel na roda de capoeira;
‐ Conseguir alguns dos instrumentos para apresentar aos colegas na aula; ‐ Apresentar a pesquisa para o resto da turma.
Observação: procurar auxílio do professor de artes para realizar algumas dessas atividades em conjunto.
Confecção dos instrumentos Os instrumentos de capoeira têm um custo, ainda que, hoje em dia, sejam facilmente encontrados no comércio, em lojas de instrumentos musicais, de produtos de capoeira, em casas de umbanda ou mesmo em lojas virtuais, nos sites de capoeira. Caso a escola não tenha acesso aos instrumentos musicais da capoeira, uma alternativa é a confecção deles com materiais recicláveis. Sugerimos que uma das atividades da aula seja confeccionar qualquer um dos instrumentos utilizada na capoeira. Esse tipo de atividade, além de fornecer materiais importantíssimos para o desenvolvimento das aulas de capoeira, dá aos alunos a oportunidade de se tornarem agentes na construção do conhecimento, propiciando uma maior valorização da capoeira como elemento da cultura corporal.
Reco-reco Material:
‐ Uma garrafinha de água mineral de 500 ml, com sulcos no corpo; ou ‐ Um cabo de vassoura de 20 a 25 cm de comprimento, com sulcos recortando o
corpo, de 5 mm em 5 mm (feitos com uma serrinha); ou ‐ Um pedaço de cano de PVC, com sulcos feitos também com uma serrinha ou
queimando‐se o PVC com metal incandescente; ou ‐ Um gomo de bambu grosso, com 5 cm a 10 cm de diâmetro, sulcado da
mesma maneira. Como tocar: raspa‐se uma caneta ou baqueta na garrafa ou no cabo de vassoura, por exemplo, com movimentos contínuos, para cima e para baixo, emitindo um som que realmente lembra a palavra reco‐reco.
Agogô Material:
‐ Pequenas latas de achocolatado ou de leite em pó de 400 g; ‐ Latas menores de massa de tomate, de ervilha ou outras, de 200 g, ou
menores; ‐ Cabo de vassoura; ‐ Prego e parafusos pequenos.
O instrumento consiste em duas latas fixadas a um pedaço de cabo de vassoura de 25 cm a 30 cm. A lata deverá estar aberta em um dos lados. Fura‐se o fundo com um prego pequeno.
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Há dois tamanhos de agogô. Para o maior deles, são utilizadas duas latas pequenas, como, por exemplo, lata de achocolatado ou de leite em pó de 400 g e uma lata menor, de massa de tomate de 200 g. Já para o outro agogô, menor, uma lata de 200 g e uma lata menor, de 70 g ou 90 g. A lata deverá estar aberta em um dos lados. Fura‐se o fundo com um prego pequeno. O pedaço de cabo de vassoura de 25 cm serve para o agogô menor e o de 30 cm, para o agogô maior. Aparafusam‐se com um parafuso pequeno (que não atravesse o diâmetro completo do cabo de vassoura), de ponta fina e pontiaguda, as latas no cabo de vassoura. Entre uma lata e outra, deve haver uma pequena distância (de aproximadamente 3 cm a 5 cm). Como tocar: utilizando‐se de uma baqueta, como a do reco‐reco, bate‐se com ela nas laterais das duas latinhas, intercalando batidas em diferentes ritmos.
Atabaque Material:
‐ Recipiente de plástico ou lata, cilíndrico, grande, de 30 cm a 100 cm, como, por exemplo, galões de material para construção ou de alimento, ou um recipiente grande e cilíndrico de papelão.
O plástico e o papelão têm o som mais adequado para o atabaque alternativo. Porém, caso seja difícil encontrar esses materiais, podem ser usados também latas ou latões de tinta. Qualquer que seja o recipiente utilizado, ele deverá ter um dos lados fechado e o outro aberto. Outra orientação é o cuidado com a limpeza. Todo recipiente deve ser bem lavado, até que não tenha mais nenhum odor nem resíduo do produto que continha. Como tocar: acomoda‐se o atabaque no colo ou em algum apoio, de modo que a extremidade aberta fique livre (sem contato com o chão), e bate‐se com as mãos, alternadamente, na extremidade fechada.
Pandeiro Material:
‐ Tampinhas de garrafa,‐ ‐ Arame,‐ ‐ Recipientes de plástico ou metal, circulares, com diâmetro de 15 cm a 25 cm,
aproximadamente. Um recipiente de metal poderia ser uma lata arredondada de goiabada, por exemplo. Latas de tinta também servem, porém, devem ser primeiramente bem lavadas, para retirar o odor e todo o resíduo. É preciso também um cuidado especial com a borda, para que não fique cortante. Para resolver esse problema, dobra‐se de 0,5 cm a 1 cm de borda para o lado de dentro da lata. No caso do recipiente de plástico, quando for cortado e ficar com rebarbas pontiagudas, pode‐se lixar o material, deixando‐o uniforme. Feito o corte, o material se apresentará como uma tampa com laterais. Nessas laterais, deverão ser realizados alguns cortes de aproximadamente 5 cm de comprimento, na
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horizontal, e 2cm de altura, na vertical. Esses cortes deverão ficar a uma distância de 5 cm a 10 cm um do outro, em toda a volta do pandeiro. As tampinhas deverão ser amassadas, de maneira que fiquem abertas, como uma moeda. Em seguida, deverão ser furadas no centro, com um prego pequeno, para que se passe um arame, com folga, nesse orifício. Então, meça o meio da distância entre os cortes e 0,5 cm acima e 0,5 cm abaixo deles, na parede do pandeiro, faça um pequeno furo, para que o arame seja amarrado. Antes de prender as duas pontas, coloque duas tampinhas no arame, de maneira que fiquem nos buracos do pandeiro. Para uma variação do som, também podem ser colocadas três tampinhas. Cuidado para que as pontas do arame não fiquem muito grandes e nem expostas, com perigo de furar a mão de quem manusear o instrumento. Uma fita, um pedaço de papelão ou mesmo plástico deverá revestir essas pontas de arame, como acabamento. Como tocar: segura‐se o pandeiro com uma das mãos e bate‐se com a outra, procurando bater em diferentes pontos, para obter sons variados. Ê possível também chacoalhar o pandeiro, para obter apenas o som do chocalho das tampinhas.
Berimbau Material:
‐ Bambu; ‐ Lata de leite em pó ou achocolatado de 400 g, ou lata de ervilha de 200 g; ‐ Casca de coco,‐ ‐ Barbante,‐ ‐ Pneu de carro.
O corpo do berimbau é composto pelo bambu, cortado entre 80 cm e 100 cm de comprimento. A espessura não deverá ultrapassar a de um cabo de vassoura. Envergam‐se as duas pontas do bambu, de maneira a formar um arco simétrico. Para obter arame de boa qualidade e em quantidade suficiente, podemos utilizar pneus de carro, cujas bordas internas contêm uma quantidade enorme de arame. Para isso, deve ser retirada a borracha, até que o arame fique exposto. Depois de retirado do pneu, o arame deve ser limpo e tratado com uma lixa e palha de aço. O arame deve ter de 15 cm a 20 cm de comprimento além do tamanho do pau do berimbau. Prende‐se uma das pontas do arame na extremidade inferior do bambu, dando uma ou duas voltas e fixando‐a bem forte. Em seguida, duas pessoas arqueiam o bambu, como um arco. Enquanto uma das pessoas mantém o bambu arqueado, a outra prende a outra extremidade do arame na extremidade superior do bambu, de maneira a manter o bambu arqueado. É hora de fixar a cabaça, que será substituída por lata ou casca de coco. Tanto uma como outra deverão ter dois furos pequenos no fundo, feitos com um prego pequeno, no caso da lata, ou com uma furadeira, no caso da casca de coco, para que não rache. Os furos devem ser paralelos e ter uma distância de aproximadamente 1,5 cm a 3 cm entre si. Para fixar a cabaça improvisada no arco do berimbau, deve‐se passar um barbante pelos furos da lata ou da casca de coco e em volta do arame do berimbau, de maneira que o fundo da lata ou da casca de coco fique encostado no bambu e totalmente estabilizado.
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Como tocar: segura‐se o berimbau com uma das mãos pela extremidade inferior, apoiando a cabaça na barriga. Apóia o dedo mínimo abaixo do barbante, para sustentar o berimbau. Os dedos anular e médio envolvem a madeira do berimbau, logo acima do barbante, dando estabilidade. Os dedos indicador e polegar seguram a moeda ou pedra, movimentando‐a para a frente e para trás, encostando‐a e desencostando‐a do arame, mudando assim a nota musical. Na outra mão, segura‐se a baqueta, entre o polegar e o indicador: os outros dedos envolvem o caxixi (quando houver um caxixi com alça, como o convencional).
Caxixi Material:
‐ Garrafas pequenas e grandes de refrigerante; ‐ Fita adesiva ou durex; ‐ Pedrinhas, feijão ou arroz; ‐ Barbante ou grampos de grampeador.
Para este instrumento, que é um pequeno chocalho com uma alça, existem as mais variadas formas de confecção. Mostre a figura do caxixi aos alunos e deixe que cada um crie seu próprio caxixi, desde que fique parecido com o caxixi convencional. Para tocar com o berimbau, deverá ser semelhante no tamanho também, mas para tocar sem o acompanhamento do berimbau, o tamanho pode variar. Como tocar: para se tocar o caxixi com o berimbau, basta dar uma chacoalhada com a mão que o segura, juntamente com a baqueta, após uma sequência de batidas da baqueta no arame do berimbau. Para tocá‐lo separadamente do berimbau, basta segurá‐lo com uma das mãos e realizar movimentos de flexão e extensão do cotovelo, levando o caxixi para a frente e para trás, fazendo com que os feijões, os grãos de arroz ou as pedrinhas do seu interior façam som de chocalho.
Baqueta Material:
‐ Caneta; ‐ Bambu,‐ ‐ Espeto de bambu para churrasco.
Como baqueta de reco‐reco ou berimbau, podemos utilizar uma caneta usada, um espeto de bambu para churrasco ou mesmo cortar várias varetas finas (não mais espessas do que um lápis ou uma caneta) de um gomo de bambu de aproximadamente 30 cm de comprimento.
Vocabulário Básico da Capoeira Abadá – Roupa branca usada pelos capoeiristas regionais. Angola – Modalidade de capoeira codificado por Mestre Pastinha. Angoleiro – Praticante da Capoeira de Angola. Batizado – Cerimônia na qual o capoeira assume o seu papel de praticante da arte, recebendo sua primeira graduação. Berimbau – Principal instrumento da capoeira. O jogo começa e termina a seu pé. E dá o ritmo ao jogo. Batuque – Antigo método de combate, similar a Luta‐livre.
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Bimba – Manoel dos Reis Machado, criador e Mestre da Capoeira Regional. Pastinha – Vicente Ferreira Pastinha, Mestre da Capoeira Angola. Camará – Amigo capoeirista. Capoeira – Clareiras abertas na mata; lugares com mato baixo. Chamada de Angola – É um passo onde um jogador abre os braços em cruz e “chamada” o outro para o combate. Cordão – É trazido amarrado na cintura, as cores representa sua graduação. Corrido – São versos ou palavras cantadas. Iê – Termos utilizados nas cantigas para chamar a atenção dos capoeiristas. Iuna – Toque musical solene utilizado por Mestre Bimba, é característica da Capoeira Regional (luta). Ladainha – Uma cantiga parecida com uma reza, geralmente cantada pelo mestre ou aluno mais graduado, é utilizada para alcançar concentração no jogo. Maculelê – Dança ritual, convertida pelos escravos em técnica de combate. Malícia – Exclusiva da capoeira “manha”. Regional – Modalidade criada pelo Mestre Bimba. Tucum – Árvore espinhosa que se dizia ter poder de combater magias, era usada pelos capoeiristas na forma de uma faca, feita com a sua madeira.
REFERENCIAL ALMEIDA, Raimundo Cesar Alves, A saga do Mestre Bimba. Salvador: Edição do Autor 1994.. ALMEIDA, Raimundo Cesar Alves, Bimba Perfil do Mestre. Salvador: Edição do Autor, 1982. BARBIERI, Cesar Augustus S., Um jeito brasileiro de aprender a ser. Brasília: CIDOCA/DF. 1993. CAMPOS, Helio, Capoeira na escola. Salvador: Presscolor, 1990. CAMPOS, Helio, Capoeira, o método de ginástica brasileiro. Negaça. Salvador, 1992. Ano I. (1): 46‐49. DARIDO, Suraya Cristina & SOUZA JR., Osmar Moreira. Para ensinar educação física: possibilidades de intervenção na escola. Capinas, SP: Papirus, 2007. FALCÃO, José Luiz Cirqueira, A escolarização da capoeira. Brasília: Editora Royal Court, 1996. FALCÃO, José Luiz Cirqueira, Capoeira e/na educação física, Sprint magazine, Rio de Janeiro: 1995. Ano XIV ‐ (79):10‐14. FILHO, Angelo A. Decanio, A herança de Mestre Bimba. Salvador: Edição do Autor, 1996 LOPES, Augusto José Fascio, O maculelê. Revista Capoeira. São Paulo: 1998. Ano 1 (03): 40‐41. LOPES, Augusto José Fascio, Curso de capoeira em 145 figuras. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1979. MARINHO, Inezil Penna, A Ginástica brasileira. Brasília: Edição do Autor, 1982. MOURA, Jair, Jornal o Município, Salvador, 1968. Ano II, (1): 4‐5, MOURA, Jair, Cadernos de cultura, N.º 01, Salvador: Prefeitura Municipal do Salvador, 1979. MOURA, Jair, Mestre Bimba ‐ A Crônica da capoeiragem. Salvador, Edição do Autor, 1993. MUNIZ, Sodré, O Brasil simulado e o real. Rio de Janeiro: Rio Fundo Editora, 1991, p.17‐18. NESTOR, Capoeira, Capoeira os fundamentos da malícia. Rio de Janeiro: Editora Record, 1998. REGO, Waldeloir, Capoeira angola. Salvador: Editora Itapuã,1968. SANTOS, Luis Silva, Educação ‐ educação física ‐ capoeira. Maringá: Fundação Universidade Estadual de Maringá, 1990. SENNA, Carlos, Capoeira Percurso. Salvador: Edição do Autor, 1990. SILVA, Gladson de Oliveira, Capoeira do engenho à universidade. São Paulo: CEPEUSP 1995..
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