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Universidade Católica d de Goiás Instituto Goiano de Pré é-História e Antropologia Disciplina: Antropologia Período: 2009-1 Número de créditos: 04 Carga horária: 68 horas-aula Antropologia Econômica Professor: Marcelo o Rodrigues Souza Ribei iro À maneira de uma epígrafe: O que é a economia? Entre seus predicados ou seus valores semânticos irredutíveis, a economia comporta sem dúvida os valores de lei (nomos) e de casa (oikos, é a casa, a propriedade, a família, a lareira., o fogo de dentro). Nomos não significa apenas a lei em geral, mas também a lei de distribuição (nemein), a lei da partilha, a lei como partilha (moira), a parte dada ou atribuída, a participação. Um outro tipo de tautologia implica desde já o econômico no nômico como tal. Desde que há lei, há partilha: desde que há nomia, há economia. Além dos valores de lei e de casa, de distribuição e de partilha, a economia implica a idéia de troca, de circulação, de retorno. A figura do círculo está evidentemente no centro, se se pode ainda dizê-lo de um círculo. Ela se mantém no centro de toda problemática da oikonomia, como de todo o campo econômico: troca circular, circulação de bens, de produtos, de signos monetários ou de mercadorias, amortização de despesas, rendas, substituição de valores de uso e de valores de troca. Esse motivo da circulação pode dar a pensar que a lei da economia é o retorno – circular – ao ponto de partida, à origem, à casa também. Ter-se-ia que seguir a estrutura odisséica do relato econômico. A oikonomia emprestaria sempre o caminho de Ulisses. Jacques Derrida – Donner les temps (1991, p. 17-18 – Tradução minha [MRSR]) Ementa: Discussão das sociedades ditas sem mercado. Formas primitivas de dinheiro. O Escambo. Análise de sistemas econômicos das chamadas sociedades arcaicas: indígena e camponesa. Objetivos: Traçar um panorama de algumas das principais abordagens e teorias antropológicas do econômico. Numa perspectiva transversal, a partir de uma perspectiva antropológica e do diálogo entre diferentes formas de abordagem, construir marcos para a compreensão e a análise de diferentes economias ou sistemas econômicos. Conteúdo programático: O conceito de economia A etimologia e suas leituras: oikos + nomos Introdução à antropologia econômica Histórico da formação do campo: do evolucionismo à antropologia moderna Formações sociais e sistemas econômicos Sociedades de caçadores/coletores Economias tribais e os sistemas econômicos pré-coloniais Economias coloniais e a escravidão transatlântica

Antropologia econômica

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Plano de Ensino da disciplina Antropologia Econômica, do curso de graduação em Antropologia na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Goiânia, GO).

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Page 1: Antropologia econômica

Universidade Católica de GoiásUniversidade Católica de Goiás Instituto Goiano de Pré-História e AntropologiaInstituto Goiano de Pré-História e AntropologiaDisciplina:Antropologia Econômica

Período: 2009-1 Número de créditos: 04 Carga horária: 68 horas-aulaDisciplina:Antropologia Econômica Professor: Marcelo Rodrigues Souza RibeiroProfessor: Marcelo Rodrigues Souza RibeiroProfessor: Marcelo Rodrigues Souza Ribeiro

À maneira de uma epígrafe:O que é a economia? Entre seus predicados ou seus valores semânticos irredutíveis, a economia comporta sem dúvida os valores de lei (nomos) e de casa (oikos, é a casa, a propriedade, a família, a lareira., o fogo de dentro). Nomos não significa apenas a lei em geral, mas também a lei de distribuição (nemein), a lei da partilha, a lei como partilha (moira), a parte dada ou atribuída, a participação. Um outro tipo de tautologia implica desde já o econômico no nômico como tal. Desde que há lei, há partilha: desde que há nomia, há economia. Além dos valores de lei e de casa, de distribuição e de partilha, a economia implica a idéia de troca, de circulação, de retorno. A figura do círculo está evidentemente no centro, se se pode ainda dizê-lo de um círculo. Ela se mantém no centro de toda problemática da oikonomia, como de todo o campo econômico: troca circular, circulação de bens, de produtos, de signos monetários ou de mercadorias, amortização de despesas, rendas, substituição de valores de uso e de valores de troca. Esse motivo da circulação pode dar a pensar que a lei da economia é o retorno – circular – ao ponto de partida, à origem, à casa também. Ter-se-ia que seguir a estrutura odisséica do relato econômico. A oikonomia emprestaria sempre o caminho de Ulisses.

Jacques Derrida – Donner les temps (1991, p. 17-18 – Tradução minha [MRSR])

Ementa: Discussão das sociedades ditas sem mercado. Formas primitivas de dinheiro. O Escambo. Análise de sistemas econômicos das chamadas sociedades arcaicas: indígena e camponesa.

Objetivos: Traçar um panorama de algumas das principais abordagens e teorias antropológicas do econômico. Numa perspectiva transversal, a partir de uma perspectiva antropológica e do diálogo entre diferentes formas de abordagem, construir marcos para a compreensão e a análise de diferentes economias ou sistemas econômicos.

Conteúdo programático: O conceito de economia A etimologia e suas leituras: oikos + nomos

Introdução à antropologia econômica Histórico da formação do campo: do evolucionismo à antropologia moderna

Formações sociais e sistemas econômicos Sociedades de caçadores/coletores Economias tribais e os sistemas econômicos pré-coloniais Economias coloniais e a escravidão transatlântica

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Economias camponesas Capitalismo, aquém e além: a questão dos modos de produção A cultura do consumo e a condição pós-moderna no capitalismo tardio Teorias etnográficas e problemas conceituais Economia e ideologia Utilitarismo, materialismo histórico e a cultura como organização simbólica da experiência humana A dádiva como paradigma teórico e o M.A.U.S.S. A moeda e sua história, a moeda falsa e a economia

Bibliografia básica:

CARVALHO, Edgard Assis (org.). Antropologia Econômica. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1978.

______ (org.). Godelier: antropologia. São Paulo: Ática, 1981.

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MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.

SAHLINS, Marshall. Cultura e razão prática. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.

WOLF, Eric. Sociedades camponesas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1976.

Bibliografia complementar:

BAPTISTA, José Renato de Carvalho. Os deuses vendem quando dão: os sentidos do dinheiro nas relações de troca no camdomblé. Mana, v. 13, n. 1, p. 7-40, Rio de Janeiro, abr., 2007.

______. Não é meu, nem é seu, mas tudo faz parte do axé: algumas considerações preliminares sobre o tema da propriedade de terreiros de candomblé. Religião e Sociedade,

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v. 28, n. 2, p. 138-155, Rio de Janeiro, 2008.

BATAILLE, Georges. A parte maldita: precedida de "A noção de despesa". Rio de Janeiro: Imago, 1975.

BENVENISTE, Émile. O vocabulário das instituições indo-européias: I. Economia, parentesco, sociedade. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1995.

BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas, SP: Papirus, 1996.

CAILLÉ, Alain. Nem holismo nem individualismo metodológicos: Marcelo Mauss e o paradigma da dádiva. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 13, n. 38, São Paulo, out. 1998.

CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1996.

CARRIER, James G. (ed.). A Handbook of Economic Anthropology. Cheltenham, UK; Northampton, MA, USA: Edward Elgar Publishing, 2005.

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GREGORY, C. A. Savage money: the anthropology and politics of commodity exchange. Harwood Academic Publishers, 1997.

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POLANYI, Karl. A grande transformação. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1980.

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SOUZA, José Otávio Catafesto de. O sistema econômico nas sociedades indígenas Guarani pré-coloniais. Horizontes Antropológicos, ano 8, n. 18, p. 211-253, Porto Alegre, dez., 2002.

STRATHERN, Marilyn. O gênero da dádiva: problemas com as mulheres e problemas com a sociedade na Melanésia. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2006.

THÉRET, Bruno. Os três estados da moeda: abordagem interdisciplinar do fato monetário. Economia e sociedade, v. 17, n. 1 (32), p. 1-28, Campinas, abr., 2008.

THORNTON, John. A África e os africanos na formação do mundo atlântico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1994.

*Edições em espanhol disponíveis:HERSKOVITS, Melville. Antropología económica. Ciudad de México: Fondo de Cultura Económica, 1954.

DERRIDA, Jacques. Dar (el) tiempo: 1. La moneda falsa. Barcelona: Ediciones Paidos Iberica, 1995.

Filme utilizado:

The CorporationDireção: Mark Achbar, Jennifer Abbott e Joel BakanPaís: Estados UnidosAno: 2003