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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ATUÁRIA, DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO GESTÃO INTEGRADA NO UNIVERSO COORPORATIVO GLOBALIZADO LUIZA DE AGUIRRE NASSIF SÃO PAULO - SP 2008

Luiza Nassif Tcc (V.F)

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GESTÃO INTEGRADA NO UNIVERSOCOORPORATIVO GLOBALIZADO

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

DE SÃO PAULO

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO,

CONTABILIDADE E ATUÁRIA,

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

GESTÃO INTEGRADA NO UNIVERSO

COORPORATIVO GLOBALIZADO

LUIZA DE AGUIRRE NASSIF

SÃO PAULO - SP

2008

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LUIZA DE AGUIRRE NASSIF

GESTÃO INTEGRADA NO UNIVERSO COORPORATIVO

GLOBALIZADO

Trabalho de Orientação de Estágio II apresentado ao Departamento de Administração, da Faculdade de

Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como pré-

requisito para a obtenção do título de Bacharel em Administração de Empresas, sob orientação do professor

Onésimo de Oliveira Cardoso

SÃO PAULO - SP

2008

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ii

AVALIAÇÃO: ..............................................................................

ASSINATURA DO ORIENTADOR: ...........................................

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iii

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família toda. Especialmente aos meus pais, Luis e Maria Luiza; pessoas que amo de paixão e ternura. As minhas irmãs, Mariana, Beatriz e Dora e minha sobrinha Clara; minhas guias, minhas cúmplices. Dedico também ao meu namorado Gonzalo, amor da minha vida!

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iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família pela paciência nos momentos difíceis do desenvolvimento deste trabalho. A Ruiva querida, pelo apoio de sempre! A minha irmã Mariana, que me ajudou na revisão ortográfica deste trabalho e foi minha conselheira em momentos difíceis ao longo deste. Aos meus pais, que sempre me incentivaram ao longo da faculdade. Agradeço também aos colegas de trabalho da Nestle Brasil, Argentina e Chile e colaboraram muito no Estudo de Caso.

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v

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................. 10

Capítulo 1. Entendendo a Organização ....................................................... 16

1.1 Definição................................................................................................ 16

1.2 Objetivos ............................................................................................... 16

1.3 Recursos ................................................................................................ 16

1.4 Processos em Transformação.............................................................. 17

1.5 Divisões do Trabalho............................................................................ 17

1.6 Estruturas Organizacionais................................................................. 17 1.6.1 Organização Funcional.................................................................... 18 1.6.2 Aplicações do Modelo Funcional.................................................... 20 1.6.3 Características da Organização Funcional....................................... 20 1.6.4 Organização Territorial ................................................................... 20 1.6.5 Aplicação do Modelo Territorial ..................................................... 21 1.6.6 Características do Modelo Territorial.............................................. 22 1.6.7 Estrutura Vertical e Horizontal........................................................ 22

Capítulo 2. Cultura Organizacional............................................................. 25

2.1 Introdução............................................................................................. 25

2.2 Definição................................................................................................ 26

2.3 Elementos da Cultura Organizacional ............................................... 28

2.4 Estruturações da Cultura Organizacional ......................................... 30

2.5 Diagnosticando a Cultura Organizacional......................................... 31

Capítulo 3. Comportamento Organizacional .............................................. 33

3.1 Introdução............................................................................................. 33

3.2 Modelos de Comportamento Organizacional .................................... 33 3.2.1 Variáveis Dependentes .................................................................... 34 3.2.2 Variáveis Independentes.................................................................. 36 3.2.3 Variáveis no Nível do Grupo........................................................... 39 3.2.4 Variáveis no Nível do Sistema Organizacional .............................. 41

3.3 Habilidades e Competências................................................................ 42

3.4 Comunicação......................................................................................... 43 3.4.1 Comunicação Interna....................................................................... 43 3.4.2 Comunicação nas Organizações ...................................................... 44

3.5 Mudanças x Cultura Organizacional ................................................. 45 3.5.1 Resistência a Mudanças................................................................... 46

Capítulo 4. Estudo de Caso: Gestão Integrada na Organização Multicultural .................................................................................................. 49

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vi

CONCLUSÃO................................................................................................ 63

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS......................................................... 66

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vii

LISTA DE FIGURAS

Figura I - Principais Funções da organização e Unidade de Trabalho correspondente .................................................................................................. 19

Figura II - Critério Funcional de Organização.................................................. 19

Figura III - Critério Geográfico de Organização .............................................. 22

Figura IV - Construção da Cultura de uma Organização.................................. 30

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viii

LISTA DE QUADROS

Quadro I - Características gerais de auto-definição de cada grupo .................. 52

Quadro II - Características de cada grupo nacional referente aos demais e ao próprio grupo .................................................................................................... 54

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ix

RESUMO

O avanço tecnológico impulsiona as organizações a busca da inovação.

As corporações estão cada vez mais buscando espaço no mercado

competitivo, mudando sua forma de gerenciamento para estruturas

organizacionais mais flexíveis, integradas e sinérgicas.

Embasada nestas três características fundamentais para o

desenvolvimento de um novo cenário empresarial, apresento

circunstâncias, dados, particularidades e pesquisas relevantes para a

assimilação da cultura organizacional que se forma, atualmente, em

algumas das maiores corporações mundiais.

Características antes consideradas fundamentais para o desenvolvimento

de uma organização, como capacidade técnica e conhecimento específico

são somados a fatores particulares, como conhecimento de diferentes

idiomas, aquisição de culturas diversas, rotatividade entre áreas distintas

de uma mesma empresa e flexibilidade, formando o indivíduo

profissional global.

Foram estudados grupos profissionais distintos inseridos no contexto

multinacional, durante a implantação do sistema SAP na Sede da Nestlé

Argentina. A partir desta vivência é possível atestar e confrontar questões

teóricas e práticas no que diz respeito à eficiência e eficácia do

planejamento e execução de novas tarefas de acordo com a estruturação

organizacional. É possível perceber, por exemplo, que as empresas com

estrutura horizontal são mais propensas à assimilação da flexibilidade

profissional que as de estrutura vertical, onde predomina a hierarquia de

poder decisório concentrado num grupo restrito.

A Gestão Integrada no Universo Corporativo Globalizado é, ainda, um

tema que traz indagações, discussões e palpites dos mais diversos.

Espero, com este trabalho, pontuar de maneira conceitual e efetiva alguns

dos vértices relevantes para a construção desta nova apresentação

empresarial.

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INTRODUÇÃO

Trabalho na Nestlé do Brasil há dois anos, na área de Projetos de

Implantação do Sistema Integrado de Gestão, o SAP. Além de

responsável pela parte técnica da implantação, o Projeto ajuda a unidade

nacional Nestlé se desenvolver e apresenta a possibilidade de adquirir

novas culturas para seus funcionários no novo modelo de trabalho pós-

implantação do sistema.

O Projeto Globe (Global Bussiness Excellence) é um investimento da

Nestlé Matriz, localizada em Vevey, na Suíça. É classificado como um

investimento Top Down, ou seja, definido para ser implantado em todas

as Unidades Nestlé do mundo. Cabe a cada país se adaptar e se estruturar

para essa implantação, orientado pelo suporte de serviços que a matriz do

Projeto disponibiliza.

O projeto é considerado um dos maiores do mundo acerca de

implantação de Sistema de Gestão Integrada - reúne processos, operações

e decisões de todas as unidades Nestlé local e mundialmente, visando

melhorar os níveis de qualidade de seus produtos e serviços, bem como

alavanca a conexão de excelência entre áreas onde o trabalho individual

interfere no conjunto de atividades da empresa, e este reflete a empresa

frente ao mercado externo.

A implantação do projeto Globe é divida por Zonas. A versão 1.0

começou em 2001. Atualmente, a versão 1.5 vem sendo implementada

em diferentes regiões, subdivididas da seguinte maneira:

• Zona América (AMS): Região Austral América (Argentina, Uruguai,

Chile, Peru e Bolívia), Região Bolivariana, Caribe, México, Estados

Unidos, Brasil, Central América.

• Zona Europa (EUR): Frankfurt.

• Zona Ásia, Oceania e África (AOA): Sidney.

Tornei-me colaboradora da Nestlé Brasil em 2006. Desde então, mantive

contato direto com todos os mercados da Zona AMS como responsável

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10

por toda assessoria durante as fases de testes desta implantação. No ano

de 2007, fui convocada para uma transferência para a sede da Nestlé em

Buenos Aires-Argentina para dar suporte à coordenação durante a

implantação do SAP na Região Austral América. Foi a partir desta

experiência pessoal e profissional, com duração de dez meses, que surgiu

o interesse pelo tema desta apresentação: o impacto das diferenças

culturais em um ambiente de trabalho composto por representantes de

diversos países envolvidos em um projeto comum.

A curiosidade acerca da convivência entre culturas diferentes levantou

uma série de questionamentos sobre a relevância dessas diferenças

culturais para o cumprimento dos objetivos comuns.

A miscigenação no ambiente físico de trabalho foi, desde o principio,

levantada pela gerência como fator desafiador na estruturação das

equipes de trabalho. Houve modificações hierárquicas na estrutura pré-

existente com a chegada de estrangeiros nos mais variados cargos, muitas

vezes com salários e padrões oriundos de seus escritórios base,

impregnados pela cultura organizacional de suas sedes.

Foram ao todo quase onze meses de trabalho conjunto. Brasileiros,

chilenos, argentinos, paraguaios, uruguaios, colombianos, peruanos e

americanos fizeram parte desta equipe buscando atingir o mesmo

objetivo: implantar o sistema de gestão de processos integrados,

decomposto por áreas especificas, como finanças, recursos humanos,

vendas, marketing, custos entre outros.

Considero este tema pertinente ao atual cenário empresarial, visto que

estamos em uma Nova Era: a da tecnologia e globalização. Uma

corporação globalizada pede um sistema de gestão integrado, onde exista

troca de valores, experiências, diferentes visões, flexibilidade, culturas,

línguas, comportamentos. Estas trocas muitas vezes geram resistências

(abordarei esta questão em um dos capítulos) que, por sua vez, geram

crise organizacional que podem comprometer o objetivo e eficiência dos

processos. É papel do Gestor gerenciar estas possíveis crises e saber

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11

detectar alternativas que se transformem em possíveis oportunidades de

aprimoramento no ambiente da organização.

A palavra integração esteve presente em todos os momentos, de questões

funcionais básicas às metas do projeto, passando pelas diferentes culturas

dos profissionais envolvidos na implantação. Este trabalho tem como

meta apresentar as razões para sugerir um novo modelo de gestão

integrada num universo globalizado. Espero, sinceramente, explorar de

modo completo e abrangente todos os temas pertinentes a este objetivo.

Objetivo

Como resultado de um estudo de caso, tentarei identificar, primeiro,

elementos universais na gestão do processo assimilados por todos os

integrantes do grupo. Depois, me dedico a identificar o impacto das

culturas organizacionais e das particularidades nacionais de cada grupo

sobre o projeto. Finalmente, irei analisar as vantagens e limitações desses

grupos supranacionais, assim como sugerir medidas capazes de

minimizarem o conflito de culturas.

Referencial teórico

O Trabalho foi estruturado em duas partes:

1- Conceitual: desenvolvimento de conceitos teóricos seguindo a

bibliografia dos principais estudiosos e gestores da área de gestão e

organização;

2 - Estudo de Caso: uma avaliação detalhada e estruturada acerca do

tema deste trabalho será fundamentada a partir de um estudo de caso

realizado baseado em minha experiência profissional no exterior,

entrevistas com gestores da Nestlé e a compilação de um questionário

aberto apresentado a funcionários Nestlé de vários cargos hierárquicos,

nas sedes da Argentina, Chile e Brasil.

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12

Os conceitos foram divididos em três capítulos

Para entrar nos conceitos de Cultura Organizacional, devemos entender

como surge a organização, como ela esta estruturada. Enfocarei somente

dois tipos de estruturas: funcional e territorial, analisando a maneira na

qual se estruturam, verticalmente ou horizontalmente. Com estes

conceitos poderemos analisar o ambiente organizacional do ponto de

vista macro.

Para dar continuidade no projeto como um todo, analisarei o micro

ambiente, aqui apresentando a análise da própria Cultura Organizacional.

Abordarei as características da cultura organizacional e seus elementos

particulares.

É fundamental entender como a organização cultural se estrutura

internamente, ou seja, analisar seu comportamento organizacional e sua

influência sobre os processos de trabalho e relações inter pessoais.

Como o tema do trabalho é o Universo Coorporativo Globalizado, darei

grande ênfase às mudanças no âmbito organizacional. Estas mudanças

vêm sendo impulsionadas pelo avanço tecnológico que busca inovações,

flexibilidade, e nem sempre são bem aceitas pelos indivíduos que têm

que assimilá-las. É função da gerência trabalhar as resistências do grupo

de indivíduos que compõe uma equipe, visando diminuir o impacto das

mudanças frente ao objetivos da organização.

Um sucinto estudo sobre a Formação Social de cada pais em questão

(Brasil, Argentina e Chile) tentará identificar as raízes do comportamento

cultural e social de cada grupo nacional. Discorrerei sobre o impacto

destas características no ambiente do trabalho, analisando a co-relação

entre estes dois aspectos.

Procedimentos metodológicos

O trabalho procurará apresentar uma visão crítica do processo. A partir

de um estudo de caso, discorrei sobre minha experiência pessoal,

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13

observações colhidas no decorrer do processo, conversas com gestores e

colegas e questionário desenvolvido e estudado.

Será um trabalho exploratório, uma vez que foi baseado em um estudo de

caso. Nos questionários, trabalharei com uma amostra pequena, porém

diversificada e representativa, do universo analisado.

No trabalho, a principal intenção é mostrar os alicerces dos aspectos

descritivos com a parte conceitual, levantada com base na bibliografia

apresentada.

Durante o discurso, denomino indivíduo nacional o personagem que

caracteriza sua origem geográfica.

Questões apresentadas na pesquisa

1. Como você acha que os seus colegas de outros países analisam suas

atitudes no trabalho? Você acata todas as ordens ou costuma questioná-

las? Dá-se bem com colegas de outras nacionalidades ou convive melhor

com seus compatriotas?

2. Cite pelo menos três características dos demais colegas de trabalho de

cada um dos países. Entre os três grupos de nacionalidades, quem são os

melhores chefes? Quem são os mais profissionais? Quem tem espírito

mais colaborativo? Quem são mais apaziguadores? Quem são os mais

disciplinados e os menos disciplinados? Dos três grupos de países, qual

você gostaria de ter como chefe? E como subordinado?

Argentinos

Chilenos

Brasileiros

3. Para você, quais são as vantagens e limitações da integração

(interação) de grupos de diferentes países em um projeto que visa atingir

um objetivo único? Teve dificuldades para entender as características dos

funcionários de outros países? Que tipo de dificuldade? Cite algumas

características dos funcionários de outros países que você não entendia,

no começo do projeto, e começou a entender depois. Você acha que,

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14

depois desse projeto, passou a entender melhor os funcionários de outros

países ou aumentou sua resistência a eles?

4. Para você, a convivência entre pessoas de diferentes países em um

projeto aumenta ou diminui as resistências culturais? Exemplifique.

5. a) Quais as principais incompatibilidades entre os três grupos de

funcionários e quais as sugestões para melhorar a convivência entre eles?

Você acredita que essa questão já entrou no cotidiano das empresas

multinacionais?

População e Amostra da Pesquisa Aberta

O campo pesquisado engloba funcionários da Empresa Nestlé de

diferentes paises (Brasil, Argentina e Chile) e cargos hierárquicos

abrangentes, da alta gerência a funcionários administrativos.

Os critérios utilizados na seleção dos entrevistados foram:

Distintos cargos hierárquicos de paises diferentes;

- Pessoas que vivenciaram a experiência em trabalhar em uma empresa

Global com culturas organizacionais diferentes.

Dificuldades encontradas

• Bibliografia: Cultura Organizacional é um tema muito rico em

informações. A dificuldade, à principio, foi escolher quais autores e

visões se encaixavam melhor no cumprimento do meu objetivo.

• Desenvolvimento do Estudo de Caso: faço um breve relato sobre a origem

dos traços culturais do Brasil (Sergio Buarque de Holanda), porém para

os Chilenos e Argentinos não encontrei bibliografia para esta mesma

analise. Utilizei e trabalhei então os relatos, entrevistas e minha

experiência para esta analise.

• Questionário de Pesquisa: a formulação do questionário de pesquisa, por

ser um questionário aberto, deveria ser o mais didático possível e não

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15

indutivo. A tradução ao espanhol foi realizada com muito critério e

passou por uma revisão de um nativo para ficar mais clara possível.

Achei que teria dificuldade em obter as respostas dos questionários pois

mandei por e-mail a pessoas que trabalharam comigo na implantação do

Sistema SAP na Argentina. Para minha surpresa e satisfação, obtive 80%

dos questionários respondidos pelos chilenos, brasileiros e argentinos.

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16

CAPÍTULO 1: ENTENDENDO A ORGANIZAÇÃO

1. 1 Definição

Este capítulo tem por objetivo definir o conceito e tipos de

organização que serão peças chaves para o desenvolvimento deste

trabalho. Segundo Maximiano (2004), “uma organização é um sistema de

recursos que procura realizar algum tipo de objetivo (ou conjunto de

objetivos)”. Além de objetivos e recursos, as organizações têm dois

outros componentes importantes: processos de transformação e divisão

do trabalho.

Sendo assim, podemos considerar organizações toda estrutura

com recursos humanos, materiais, tempo, financeiros, informação e

espaço que passam por um processo de transformação e divisão de

trabalho com o objetivo de gerar produtos ou serviços: centro acadêmico,

prefeitura, padaria, aeroporto, farmácia etc...

1.2 Objetivos

As organizações são grupos sociais orientados para a realização

de objetivos, que, de forma geral, se traduzem no fornecimento de

produtos e serviços. Toda organização existe com a finalidade de

fornecer alguma combinação de produtos e serviços.

Por meio do fornecimento de bens e serviços, as organizações

procuram alcançar outros resultados: proporcionar lucro e subsistência

para seus proprietários e investidores ou cumprir um papel na sociedade,

sem objetivo de lucro.

1.3 Recursos

As pessoas são o principal e mais valioso recurso das

organizações. Em essência, as organizações são grupos de pessoas que

usam recursos: recursos materiais, como espaço, instalação, máquinas,

móveis e equipamentos; e recursos intangíveis, como tempo e

conhecimento.

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17

1.4 Processos de Transformação

Recursos são utilizados por processos para trazer o resultado

esperado das organizações. Um processo é uma serie de atividades

logicamente inter-relacionadas que, quando executadas, produzem o

resultado esperado - é a maneira eficiente que a organização encontra

para transformar insumos em resultados para atender às expectativas de

seus clientes. Segue abaixo, uma lista com três tipos de processos

comuns, que se encontram na maioria das organizações:

• Produção: transformação de matérias-primas por meio da aplicação de

máquinas e atividades humanas, em produtos e serviços.

• Administração de encomendas: transformação de um pedido feito por um

cliente na entrega de uma mercadoria ou prestação de um serviço

• Administração de pessoas: transformação de necessidades de mão-de-obra

em disponibilização de pessoas, desde seu emprego até seu desligamento

da organização.

1.5 Divisão do Trabalho

Agregação de tarefas especifica que um indivíduo ou um grupo de

pessoas realizam contribuem para a realização dos objetivos.

Podemos entender como divisão do trabalho, ou trabalho em

equipe, a somatória dos processos especializados que devem ser

integrados para atingir nosso objetivo final, ou seja, geração de produtos

e serviços.

1.6 Estruturas Organizacionais

O processo de organizar consiste na divisão de tarefas entre blocos

de trabalho chamados departamentos. A seleção das tarefas que serão

atribuídas aos departamentos baseia-se nos critérios de

departamentalização. Um critério de departamentalização é uma forma de

atribuir tarefas e de especializar os blocos de trabalho da organização.

Os principais critérios de departamentalização são os seguintes:

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• Funcional

• Territorial ou geográfico

• Produto

• Cliente

• Áreas do conhecimento

• Projeto – seja funcional, autônomo ou estrutura matricial.

• Processos

• Unidades de negócio

Para este trabalho focarei dois critérios de departamentalização: funcional e

territorial.

1.6.1 Organização Funcional

O modelo de organização funcional é o mais genérico porque se aplica

tanto às organizações de grande como de pequeno porte. A partir de uma

departamentalização funcional, a estrutura pode evoluir para outras

formas mais complexas.

Consiste em atribuir a cada uma das unidades de trabalho a

responsabilidade por uma função organizacional – operações, marketing,

finanças e assim por diante.

Nesta estrutura, existe um administrador principal que comanda o

conjunto todo e, logo abaixo, cada integrante do primeiro escalão

hierárquico é responsável por uma função especifica.

A figura abaixo apresenta as principais funções de qualquer organização

e as unidades de trabalho correspondentes.

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Figura I - Principais Funções da organização e Unidade de

Trabalho correspondente: Maximiano, Introdução à Administração

(2004).

Figura II - Critério funcional aplicado à organização total e a cada

um de seus departamentos: Maximiano, Introdução à Administração

(2004).

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20

1.6.2 Aplicações do Modelo Funcional

O modelo funcional pode ser aplicado a uma vasta gama de

situações para empresas que:

• Estão no começo de sua vida;

• São de pequeno porte;

• Manufaturam apenas um produto ou fornecem apenas um serviço;

• Realizam venda e distribuição dos produtos pelos mesmos tipos de canais;

• Executam operações em uma mesma área geográfica.

Nas organizações estruturadas pelo critério funcional nem sempre

existe um departamento que cobre cada função, nem um gerente

individual para cada departamento.

1.6.3 Características da Organização Funcional

A estrutura funcional apresenta as seguintes características:

• O administrador principal tem pleno controle dos destinos da organização e

segurança de que as atividades se orientam para a missão. É muito mais

fácil atribuir, localizar e cobrar responsabilidades dentro de uma estrutura

onde a divisão de tarefas é cristalina.

• Há pequena confusão em relação às responsabilidades. As tarefas são

nitidamente distintas umas das outras e bem definidas.

• O desenvolvimento da experiência e da competência técnica é facilitado

por causa da concentração de especialistas funcionais, que ficam juntos

dentro dos mesmos grupos.

• Com o aumento da especialização e da competência, torna-se fácil absorver

novas técnicas e conceitos relacionados com as operações de casa área

funcional.

1.6.4 Organização Territorial

Segundo Maximiano (2004), quando se usa o critério geográfico de

departamentalização cada unidade de trabalho corresponde a um

território (ou pedaço do mapa). O critério geográfico ou territorial (ou

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21

regional) pode ser utilizado quando a organização opera numa área

grande ou em locais diferentes, e em cada local é necessário

disponibilizar certo volume de recursos ou certa autonomia. Desde que

seja possível promover algum tipo de agregação de recursos ou de

clientes, de acordo com sua proximidade dentro dos territórios, o critério

geográfico torna-se base da divisão do trabalho.

1.6.5 Aplicação do Modelo Territorial

Pode ocorrer desde o primeiro nível hierárquico, seguido do

administrador principal, quanto em níveis inferiores. O modelo territorial

é usado no primeiro nível hierárquico quando há muita dispersão

geográfica de todas as atividades. Nesse caso, cada território é visto

como uma empresa distinta ou unidade de negócios. As grandes

corporações multinacionais optam por este tipo de critério. Dividem suas

áreas de negócio como independentes, mas que se integram no inicio,

durante e no final da execução do seu processo. Com este modelo pode-

se ter um maior controle das atividades e resultados e dos impactos entre

os processos. No case que abordarei ao final do trabalho, este conceito se

torna mais claro e específico.

A figura 2 mostra a estrutura básica de uma empresa que segue o critério

territorial no primeiro nível e o funcional no nível seguinte.

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22

Figura III - Critério Geográfico de Organização: Maximiano, Introdução

à Administração (2004).

1.6.6 Características do Modelo Territorial

Muitas características do modelo funcional repetem-se no modelo

territorial. Outras são mais específicas:

• A administração geral tem total controle do desempenho em cada

unidade regional e no conjunto. A verificação dos resultados pode ser

tanto individual, quanto integral (regional, funcional, processo).

• Os administradores e funcionários de cada região tornam-se

especialistas em seus respectivos territórios. A organização como um

todo pode operar eficazmente em territórios totalmente distintos uns dos

outros, com características culturais diversificadas.

• Assessorados pelos responsáveis regionais, o administrador

principal pode ter visibilidade micro e macro de todas as regiões.

• Cada região pode operar de forma independente devido suas

diversidades culturais, de produtos, fiscais e governamentais, entre

outras.

1.6.7 Estrutura Vertical x Estrutura Horizontal

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23

Quando falamos de estrutura organizacional podemos considerar dois

tipos de formatos, que variam conforme o nível de concentração. Estas

duas abordagens podem ser encaradas como o processo de

descentralização ou centralização das atividades e responsabilidades na

organização. Desta maneira, têm-se duas estruturas: a estrutura vertical e

a horizontal, sendo a primeira caracterizada por uma forte centralização e

a segunda por uma tendência a descentralização, conforme veremos a

seguir:

Estrutura Vertical: a centralização, ou a descentralização, deve ser

entendida como uma variável contínua: em um extremo, tem-se uma

organização centralizada, quando todo o poder decisório está com uma só

pessoa; em outro extremo, tem-se uma organização descentralizada,

quando o poder está disperso entre várias pessoas. Neste contexto, a

centralização ou descentralização será sempre relativa, ou seja, uma

empresa sempre será mais ou menos centralizada em relação à outra

empresa.

A centralização é considerada, para Mintzberg (1983), como um forte

meio de coordenação da organização e só realiza-se a descentralização

porque com o crescimento da empresa não é possível que todas as

decisões sejam realizadas por uma só pessoa e, além disto, a

descentralização permite que a organização seja mais ágil, respondendo

mais rapidamente as necessidades impostas.

Estrutura Horizontal: a descentralização horizontal refere-se à mudança

do poder dos administradores para os não administradores e pode ser

considerada de duas formas. Uma refere-se ao poder informal que

possuem os não administradores de controlarem parte do processo

decisório mais especificamente: o levantamento de informações, o

aconselhamento e a execução.

A descentralização vertical vai além do conceito de especialização

vertical: a primeira engloba todo tipo de poder ou autonomia e considera

a organização como um todo. A segunda trata apenas do grau de

autonomia operacional que possui um operador. Outra se refere ao poder

formal passado aos não administradores, tanto na função formal para

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24

tomada de decisões específicas e não somente no aconselhamento do

processo decisório.

Na descentralização horizontal, destaca-se o poder dos analistas nas

organizações que utilizam à padronização como principal instrumento de

coordenação, onde parte do poder do nível estratégico e do nível

intermediário vai para os analistas, que têm o papel de definir como fazer

o trabalho.

Este tipo de descentralização horizontal gera um aumento da

centralização vertical, por passar parte do poder do nível intermediário

para poucos analistas que realizam a padronização.

Quanto ao poder operacional, a descentralização horizontal também pode

ser entendida como um conjunto dos mecanismos de coordenação, na

qual a liberdade que os trabalhadores têm para realizarem suas tarefas

varie.

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25

CAPÍTULO 2: CULTURA ORGANIZACIONAL

2.1 Introdução

Nos capítulos anteriores abordei o que é organização e como ela

se estrutura. Estes dois assuntos são base para entrarmos em

determinados detalhes acerca do estudo de caso.

Toda organização,seja ela pequena ou grande, com fins lucrativos

ou sem, possui sua própria historia, e na medida em que se estrutura,

desenvolve sua própria identidade, valores e padrões de comportamento -

criam-se as tradições.

Para entender o que seria cultura organizacional, devemos

entender o conceito de CULTURA.

Em 1952, pesquisadores encontraram mais de 160 definições de

cultura Allaire & Firsirotu (1984) e Tylor (1871), propôs uma das

primeiras definições como “Aquele todo complexo que inclui

conhecimento, crença, arte, moral, leis, costumes e qualquer outra

capacidade ou habito adquirido pelo homem como membro de uma

sociedade”.

Segundo Goodenough (1957), para quem cultura é um sistema de

conhecimento, de padrões de percepção, crenças, avaliação e ação,

cultura é a forma das coisas que as pessoas têm na mente, seu modelo de

percepção, relacionamento e de como as interpreta. Consiste do que quer

que seja que alguém tenha que conhecer, acreditar ou permita operar de

maneira a ser aceito como membro de uma sociedade.

Para Geertz (1989), quanto às organizações, a cultura é o

resultado de sua historia particular e do sistema de símbolos criado e

mantido pela sua liderança no passado e no presente, os quais servem

para serem interpretados e dar significado às experiências subjetivas de

seus membros, assim como para racionalizar e aumentar seus

compromissos com a empresa.

De todas as definições encontradas, podemos concluir que a

cultura consiste nas maneiras com que as pessoas organizaram suas

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26

experiências no mundo real, de forma a lhes permitir um processo

continuo de aprendizado e estruturação pessoal, visando sua

sobrevivência e a de suas gerações futuras. Com o passar do tempo,

formam-se os fundamentos da cultura, ou seja, ideais e crenças sobre o

mundo e a sociedade como um todo, que guiam os pensamentos

compartilhados e ações das pessoas.

Segundo Francesco e Gold (1998) há muitas diferenças entre

cultura geral e organizacional. Primeiramente, cultura organizacional é

menos abrangente do que a geral; a escala de valores e de premissas

básicas das organizações é mais estreita. Em segundo lugar, cultura

organizacional é mais auto contida do que a geral; filosofia gerencial,

estratégia e metas proporcionam limites organizacionais mesmo que

elementos da cultura geral os influenciem. Finalmente, cultura

organizacional é mais administrável do que cultura geral. Por exemplo, a

seleção, treinamento, socialização e estrutura de recompensas para

empregados restringem a variabilidade de seus membros e constrói um

conjunto abrangente de valores e normas que a administração pode

controlar.

A cultura organizacional começou a ser discutida no mundo

apenas no início dos anos 80, quando o Japão passou a prosperar no

panorama econômico mundial e quando o processo de globalização

tomou maior proporção. A diferença cultural entre os povos e

organizações de diferentes países, chamou a atenção de estudiosos e

pesquisadores, que então começaram a abordar a importância da

compreensão da cultura organizacional e sua relação com a gestão das

organizações.

2.2 Definição

Segundo Schein (1986) a cultura organizacional é um padrão de

pressupostos básicos compartilhados os quais o grupo adquiriu à medida

que resolveu seus problemas de adaptação externa e integração interna, e

que funciona suficientemente bem para ser considerada valida.

Page 29: Luiza Nassif Tcc (V.F)

27

Já para L. Smircich, em “Concepts of Culture and Organisational

Analysis”, a cultura organizacional representa o sistema de

comportamentos, normas e valores sociais (padrões de referência que

influenciam a forma como as pessoas agem e avaliam os acontecimentos)

aceitos e partilhados por todos os membros da organização e que de certa

forma a tornam única. É, portanto, um conjunto de características

particulares que permite distinguir a organização de todas as outras.

Corresponde ao que representa a personalidade no indivíduo e transmite

a forma como os membros da organização se comportam de acordo com

o sistema de valores vigente.

Stephen Robbins, em Organizational Behavior, destaca dez

características que, quando agregadas, captam a essência da cultura

organizacional:

• Identificação: até que ponto cada colaborador se identifica mais com a

organização do que com a sua própria profissão;

• Ênfase no Grupo: traduz em que medida o trabalho na organização está

organizado na base de equipes ou na base individual;

• Foco nas Pessoas: até que ponto as decisões de gestão têm em

consideração o impacto nos membros da organização;

• Integração Departamental: em que medida os diferentes departamentos

ou divisões atua de forma coordenada e interdependente;

• Controle: de que forma as regras, os regulamentos e a supervisão direta

são usados para controlar o comportamento individual;

• Tolerância ao Risco: até que ponto os membros da organização são

encorajados a ser agressivos, inovadores e a enfrentar o risco;

• Critérios de Recompensa: de que formas são atribuídas às recompensas e

quais os fatores que as determinam;

• Tolerância de Conflitos: em que medida os membros da organização é

encorajado a encarar os conflitos com espírito de abertura;

• Orientação para os resultados: até que ponto a gestão está mais orientada

para os resultados do que para os meios;

• Sistema Aberto ou Fechado: em que medida a organização está atenta à

sua envolvente externa e atua em resposta às suas alterações.

Page 30: Luiza Nassif Tcc (V.F)

28

A cultura organizacional se manifesta por meio dos comportamentos

individuais e de grupo, símbolos, mitos e normas, e possui total

influência da condução de seus negócios. A comunicação é fator

elementar na transmissão do conhecimento entre os elementos do grupo,

ainda mais quando tratamos de culturas com diferentes idiomas.

Já Johann (1997), afirma que no campo da administração, a cultura de

uma organização é decorrente de um processo complexo que integra os

fatores tangíveis, como tecnologia, regulamentos, marcas e símbolos,

com fatores intangíveis, como crenças, tradições, rituais, atitudes e

preconceitos.

A cultura pode ser preservada quando a organização passar por um

processo de transformação. Para tanto, é necessário distinguir, questionar

e aprimorar constantemente os valores culturais de uma instituição.

2.3 Elementos da Cultura Organizacional

As características da cultura organizacional surgem a partir da definição

dos objetivos e valores que a empresa deve seguir no primeiro instante

que os seus fundadores criam a empresa.

O processo de formação da cultura é de certa forma igual ao da

constituição de qualquer grupo: a experiência e a aprendizagem são

compartilhadas a partir de padrões e valores, sentimentos, crenças e

pensamentos.

Edgar Schein (1991) afirma que é necessário analisar os aspectos

externos e internos das intenções individuais. Os aspectos externos estão

relacionados ao ambiente real em que a organização está inserida e

independe do controle de seus membros. São eles que definem a missão

básica do grupo.

Já os aspectos internos são relacionados à integração dentro da empresa

e, quando alinhada com o sucesso externo, garante a sobrevivência do

grupo ou organização. Esta integração é formada através de uma

linguagem comum, das normas estabelecidas, recompensas e punições,

da intimidade, amizade e ideologia.

Page 31: Luiza Nassif Tcc (V.F)

29

Segundo a Professora Doutora da Fundação Getulio Vargas, Maria Ester

de Freitas, existem oito principais elementos que fazem parte da cultura

organizacional. São eles:

• Valores: representam à essência da filosofia da organização e geralmente

estão muito ligados aos objetivos dela. Os valores significam o que uma

organização considera importante para obter sucesso. O processo de

decisão em uma organização, por exemplo, será influenciado pelos

valores por ela estabelecidos.

• Crenças e pressupostos: na visão de Schein, são os pontos principais da

cultura, pois representam à forma como uma organização resolve seus

problemas coletivos. Para Freitas (1997), crenças e pressupostos são

termos usados como sinônimo para exprimir "aquilo que é tido como

verdade na organização".

• Ritos, rituais e cerimônias: são descritos por Freitas (1997) como

“exemplos de atividades planejadas que têm conseqüências práticas e

expressivas, tornando a cultura organizacional mais tangível e coesa”.

• Histórias: são baseadas nos eventos ocorridos que explicam e informam a

organização, mostrando como os comportamentos se ajustam ao

ambiente organizacional, e mitos são as histórias não fundamentadas

factualmente pelos valores da organização.

• Tabus: definem “o que é permitido e o que não é”, e são considerados

como elementos culturais.

• Heróis: são representados pelos grandes líderes, não são necessariamente

administradores da organização. Freitas (1997) afirma que "os heróis

tornam o sucesso atingível e humano; fornecem modelos; simbolizam a

organização para o mundo exterior; preservam o que a organização tem

de especial; estabelecem padrões de desempenho; e motivam os

empregados, fornecendo uma influência duradoura".

• Normas: podem ser descritas como os comportamentos que são aceitos e

apoiados pelo grupo, e é a partir delas que as pessoas são compensadas

ou punidas.

Page 32: Luiza Nassif Tcc (V.F)

30

• Comunicação: é um instrumento auxiliador da cultura organizacional, útil

tanto internamente quanto externamente para o mercado. É por meio da

interação social que a cultura é sustentada, transmitida e modificada.

2.4 Estruturação da Cultura Organizacional

Conforme afirma Johann (1997), a cultura organizacional se decompõe

em varias camadas que muitas vezes parecem atuar de forma

desordenada.

Figura IV - Construção da cultura de uma organização: Elaborada pelo

autor (2008).

Novos valores adjacentes: são os valores que surgem com as mudanças.

A cultura de alto desempenho exige que a organização sempre busque

sinalizar as mudanças e identificar novos valores que devam ser

integrados à cultura da empresa. Quanto maior a agilidade da absorção

desses valores, maior a capacidade da organização se adaptar às novas

mudanças.

Força matriz organizacional: caracteriza a força da cultura que leva a

forma como funciona a organização. Nem sempre são facilmente

percebidas, porém se refletem nas grandes decisões. Conhecer a força

Page 33: Luiza Nassif Tcc (V.F)

31

matriz de uma empresa permite entender seu processo de

desenvolvimento, a origem de suas crenças e valores.

Ideologia Central: é composta pelos valores culturais mais fortes e

duradouros de uma organização. São aqueles valores que surgiram na

fundação e que perduraram ao longo do tempo, resistindo às mudanças

da organização. Essa camada é considerada um patrimônio valioso para a

empresa, pois possuem forte ligação com a missão e objetivos da

organização: são valores como ética e responsabilidade social, entre

outros.

SELF da Organização: é a interface entre os sistemas consciente e

inconsciente, e serve como regulador da totalidade da cultura. O conjunto

de atitudes proporcionadas pela interação entre as pessoas ao longo do

tempo forma o SELF da organização que, por sua vez, define a forma

como o trabalho deve ser realizado.

Zona de Sombras: área onde residem os medos, tabus e preconceitos

que atuam inconscientemente no ambiente da organização. Eles podem

ou não se tornar defeitos dentro da empresa. As decisões conscientes e

racionais muitas vezes são afetadas por esta zona, sem que as pessoas

realmente o percebam. A zona de sombras geralmente é desvendada em

conseqüência da descoberta do tipo de SELF que a empresa se encaixa, e

permite uma leitura-diagnóstica adequada de algumas características

organizacionais como mecanismo, sistemas políticos e realidade social,

entre outros.

2.5 Diagnosticando a Cultura Organizacional

Segundo Schein (1986), se a organização como um todo vivenciou

experiências comuns, pode existir uma forte cultura organizacional que

prevaleça sobre as várias sub-culturas das unidades. O que se observa

freqüentemente é que grupos com experiência ocupacional semelhantes

tendem a desenvolver culturas próprias no interior das organizações, por

exemplo: a cultura dos gerentes, a dos engenheiros e a do sindicato.

Page 34: Luiza Nassif Tcc (V.F)

32

Para decifrar a cultura de uma organização é preciso aflorar seus

pressupostos.básicos.

O padrão específico que assumem estes pressupostos é denominado pelo

autor de paradigma cultural (geralmente o principal executivo ou

fundador da empresa).

Em termos metodológicos, Schein propõe categorias para o processo de

investigação do universo cultural de uma organização:

1- Analisar o teor e o processo de socialização dos novos membros;

2- Analisar as respostas e incidentes críticos da história da organização;

3- Analisar as crenças, valores e convicções dos criadores ou portadores

da cultura;

4- Explorar e analisar junto a pessoas de dentro da organização as

observações surpreendentes descobertas durante as entrevistas.

Essa investigação conjunta poderá auxiliar no processo de desvendar as

premissas básicas e seu padrão de interação para formar o paradigma

cultural.

A semelhança evidente deste processo de diagnóstico com o de uma

análise psicológica de um indivíduo é abordada por Hofstede (1984),

para quem cultura é para o coletivo humano o que a personalidade é para

um indivíduo. Ela determina a identidade de um grupo humano da

mesma forma que a personalidade determina a de um indivíduo.

Estudando “valores” entendemos indivíduos, estudando “cultura”

entendemos sociedades e organizações.

Page 35: Luiza Nassif Tcc (V.F)

33

CAPÍTULO 3: COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL

3.1 Introdução

Analisar os elementos responsáveis pela formação da cultura

organizacional, a forma como eles funcionam e, ainda, as mudanças que

eles provocam no comportamento de seus colaboradores, parceiros,

fornecedores e clientes é o grande desafio.

O Comportamento Organizacional definido como o estudo das atitudes das

pessoas dentro das empresas e como elas afetam o desempenho da

organização é uma importante ferramenta para esta análise. Este estudo

fornece dados essenciais para a definição das atitudes que a empresa deve

ter frente a seus colaboradores, fornecedores e clientes.

Para Robbins (2002), “o comportamento organizacional é um campo de

estudos que investiga o impacto que indivíduos, grupos e a estrutura têm

sobre o comportamento dentro das organizações, com o propósito de utilizar

esse conhecimento para promover a melhoria da eficácia organizacional”.

Segundo ele, é necessário estudar três determinantes que juntos permitem

um trabalho eficaz: indivíduos, grupos e estrutura.

É difícil pontuar princípios universais para este estudo, já que duas pessoas

reagem de maneiras diferentes a uma mesma situação, o que não significa

que não se possa encontrar algumas reações comuns. Alguns

comportamentos podem ser entendidos através do estudo sistemático que

substitui a intuição - ele geralmente é feito por pesquisas. Por exemplo, em

algumas situações os líderes de uma empresa conseguem melhores

resultados adotando um estilo participativo; em outras, autoritário. Esses

comportamentos geralmente são definidos a partir de um “estudo” da

equipe, do trabalho a ser realizado e do objetivo ser alcançado.

3.2 Modelo de Comportamento Organizacional

Como já mencionado, o Comportamento Organizacional é um campo de

estudo que investiga o impacto que o indivíduo, grupo e a estrutura têm

Page 36: Luiza Nassif Tcc (V.F)

34

sobre o comportamento de uma organização, e o seu modelo é uma

representação simplificada do fenômeno real.

O modelo de Comportamento Organizacional, uma vez identificado, ajuda a

empresa a identificar seus pontos fortes e fracos, e permite traçar estratégias

mais assertivas que minimizam ou até eliminam suas falhas e desenvolvem

seus potenciais.

Para desenvolver este modelo, levamos em consideração variáveis

dependentes e independente:

3.2.1 Variáveis Dependentes

Variáveis Dependentes podem ser entendidas como fatores que são afetados

por outros fatores. São os fatores chaves que se pretende explicar ou prever.

Produtividade: quando uma empresa atinge seus objetivos ela tem duas

preocupações: a eficiência e a eficácia. Quando ela atende as necessidades

de seus clientes com sucesso, por exemplo, ela está sendo eficiente. Porém,

se ela consegue atingir esse resultado a custos menores, ela está sendo

eficaz. Essa análise também pode ser feita por indivíduo ou equipe. O

estudo verifica os fatores que influenciam a eficiência e a eficácia do

trabalho.

Absenteísmo: é a falta de comprometimento do funcionário ao trabalho.

Quando um funcionário falta, ele interrompe o fluxo de trabalho, e acaba

sendo o responsável por adiar decisões importantes. Na produção isso é

ainda mais visível, o absenteísmo pode resultar em uma perda de qualidade,

já que um número menor de funcionários será responsável pelo mesmo

volume de trabalho. O absenteísmo, porém, não pode ser visto apenas de

forma negativa: um funcionário que está doente, por exemplo, com certeza

não desempenhará o seu trabalho com a mesma qualidade - neste caso o

melhor é que ele se recupere e depois retorne ao trabalho.

Rotatividade: é entendida como a entrada e saída permanente de pessoal na

organização, voluntária ou não. Toda empresa possui certo nível de

rotatividade, e esta característica pode ser considerável saudável quando,

Page 37: Luiza Nassif Tcc (V.F)

35

por exemplo, pessoas que têm baixo desempenho deixam a empresa e dão

espaço a novos potenciais dentro da própria empresa ou no mercado. No

entanto se o nível de rotatividade é alto ou se as pessoas que deixam a

empresa são funcionários capazes e que agregam valor à empresa, este fator

pode ser um grande problema. Um alto nível de rotatividade implica em

aumento nos custos de recrutamento, seleção e treinamento. E se esses

profissionais eram experientes podem causar também uma ruptura na

eficiência da organização, já que é necessário um período até localizar um

novo profissional qualificado e treiná-lo para tal cargo.

Cidadania Organizacional: é o comportamento de “bom cidadão” dentro

da empresa. Ela não faz parte das exigências funcionais de um funcionário,

mas é um grande diferencial para ele e para a organização. O funcionário

que faz declarações positivas sobre o trabalho, seu grupo e a empresa ajuda

seus colegas, respeita as leis internas, é voluntário de tarefas extraordinárias,

tenta evitar conflitos, entre outras atitudes que contribuem para o

funcionamento eficaz da organização e ajuda a melhorar o clima no

ambiente de trabalho. Geralmente funcionários que têm esse

posicionamento vão além das expectativas de seus cargos e mostram melhor

desempenho em relação aos outros, além de influenciar o meio onde

trabalham.

Satisfação com o Trabalho: é muito mais uma atitude do que um

comportamento. Robbins (2002) define que “a satisfação com o trabalho é a

diferença entre as recompensas recebidas de fato pelo funcionário e aquilo

que ele acredita merecer”. Para alguns pesquisadores, a satisfação é uma

grande preocupação dentro dessas variáveis: ela está negativamente ligada

ao absenteísmo e à rotatividade e tem relação tanto com desempenho quanto

com preferência. Por essas razões, para as empresas é tão necessário investir

não só na quantidade mas também na qualidade dos trabalhos desenvolvidos

e seus funcionários.

Page 38: Luiza Nassif Tcc (V.F)

36

3.2.2 Variáveis Independentes

São os principais determinantes das variáveis dependentes. Geralmente são

divididos em pequenos blocos ou níveis para facilitar a análise.

Variáveis no Nível do Indivíduo

Dentro das empresas encontramos pessoas com costumes, experiências e

idéias, carregadas de características diferentes. As características mais

óbvias são as pessoais, conhecidas como biográficas (idade, sexo e estado

civil), características de personalidade, sua estrutura emocional, seus valores

e atitudes e nível básico de capacitação. Essas características geralmente são

intactas, ou seja, os esforços de gerenciamento pouco podem mudá-las. As

variáveis no nível do indivíduo que podem afetar o comportamento do

funcionário são a percepção, tomada de decisão individual, aprendizagem e

motivação.

Características Biográficas: uma das mais fáceis a ser analisada, já que

geralmente constam na ficha pessoal do funcionário.

Idade, por exemplo, tem uma relação importante com o desempenho:

primeiro porque entende-se que o desempenho profissional decai com o

passar do tempo, depois porque a mão-de-obra está envelhecendo. Pesquisas

mostram que as pessoas estão se mantendo por mais tempo no trabalho, e

isto vem ocorrendo não só em função do maior tempo de permanência do

funcionário na organização mas também porque grandes executivos, após se

aposentarem, continuam exercendo suas tarefas por meio de consultorias.

O aumento da idade média dos funcionários é um quadro novo para as

organizações, e as opiniões acerca desta realidade ainda são confusas. Se

por um lado funcionários mais velhos possuem mais experiência, bom

senso, forte sentido de ética e compromisso com a qualidade de seu

trabalho, por outro são menos flexíveis e avessos à tecnologia. Quanto mais

velho, menor é a possibilidade de deixar o emprego: não só por ter menos

oportunidades no mercado, mas também porque não é interessante

financeiramente pedir demissão após tanto tempo de trabalho.

Page 39: Luiza Nassif Tcc (V.F)

37

Estudos mostram também que os mais velhos têm um nível superior de

faltas inevitáveis, o que pode ser explicado pela saúde mais frágil que as dos

jovens; porém têm nível inferior de faltas evitáveis. A idade não é

considerada como fator que interfira na produtividade, mesmo se essa exija

esforço físico maior que a média, não sendo uma justificativa para esta

variável.

O sexo, segundo Robbins (2002), deveria ser indiferente. Deveria, mas não

é: apesar de não existir nenhuma diferença comprovada de habilidades de

resolução de problemas, capacidade de análise, espírito competitivo,

motivação sociabilidade ou capacidade de aprendizagem entre homens e

mulheres, estudos mostram que mulheres aceitam mais facilmente a

autoridade e homens se mostram mais agressivos neste aspecto. Este

aspecto, no entanto, vem sendo questionado atualmente, já que a mulher

vem conquistando cada vez mais lugar no mercado de trabalho.

Existem muitos estudos que tentam mostrar diferenças entre homens e

mulheres em relação as variáveis dependentes, porém sabemos que hoje o

papel da mulher mudou muito, e que muitas acabam dando prioridade para a

vida profissional, seja por opção ou por necessidade. Em alguns casos,

mulheres com filhos pequenos preferem funções de apenas meio período ou

com horários flexíveis.

A última característica a ser analisada é a estabilidade no emprego. Muitos

teóricos defendem que a estabilidade no trabalho é entendida como

experiência e tem grande participação na produtividade do funcionário.

Valores e Atitudes: estas características são diretamente ligadas à

satisfação com o trabalho: as pessoas buscam posições compatíveis aos

interesses, valores e habilidades pertinentes a seus princípios.

Valores podem ser definidos como convicções básicas que um indivíduo

acredita serem corretos, bons ou desejáveis. Todos temos uma hierarquia de

valores que formam o nosso sistema de valores (classificação por

importância). Eles costumam ser estáveis e duradouros e geralmente são

definidos durante a nossa infância. Quando chegamos à fase de

questionamento, normalmente no período da adolescência, nossos valores

Page 40: Luiza Nassif Tcc (V.F)

38

podem ser modificados em pouca intensidade. Após essa fase, contudo, os

questionamentos servem apenas para reforçar os valores que já temos.

Os valores estabelecem a base para a compreensão das atitudes e da

motivação no estudo do comportamento organizacional. Alguns estudiosos

acreditam que houve um declínio dos valores éticos no mundo dos negócios.

Isso porque, na década de 70, a classe de executivos era formada pelo tipo

de ética protestante, ou seja, suas decisões eram tomadas de acordo com os

interesses da empresa. Nos anos 80, esta classe passou a defender seus

próprios interesses com atitudes que focalizavam a si mesmo, direcionadas

para sua carreira, deixando de lado os padrões éticos. Recentemente os

executivos estão mudando de foco: hoje sua lealdade é devotada aos

relacionamentos, porém ainda não existem estudos que comprovem que os

padrões éticos tenham mudado para a relação com pessoas ao redor.

Atitudes são afirmações avaliadoras em relação a objetos, pessoas ou

eventos. Refletem como um indivíduo se sente em relação a alguma coisa.

Dentro das organizações, elas são muito importantes, pois afetam o

comportamento no trabalho.

Uma pessoa pode ter milhares de atitudes, mas o estudo do comportamento

organizacional volta sua atenção para apenas um número limitado delas: as

diretamente relacionadas com o trabalho. A maior parte das pesquisas de

comportamento organizacional tem focado três tipos de atitudes:

Satisfação com o Trabalho: se refere à atitude geral de uma pessoa em

relação ao trabalho que realiza. Uma pessoa que possui alto nível de

satisfação com seu trabalho apresenta atitudes positivas em relação a ele.

Envolvimento com o trabalho: definida pelo grau em que uma pessoa se

identifica psicologicamente com seu trabalho e considera seu desempenho

nele algo valioso para si. Altos níveis de envolvimento no trabalho indicam

um índice menor de absenteísmo e demissão voluntária.

Comprometimento Organizacional: situação em que o trabalhador se

identifica com uma empresa e seus objetivos. O comprometimento

organizacional é uma resposta global e duradoura a uma organização como

um todo, e não somente com o trabalho que é exercido.

Page 41: Luiza Nassif Tcc (V.F)

39

Os executivos têm se preocupado cada vez mais com a mudança nas

atitudes dos funcionários em relação a assuntos como raça, sexo, cultura e

outros aspectos de diversidade, já que hoje um comentário entre colegas

pode ser interpretado de diferentes formas, e em alguns casos mal

interpretados. Por esse motivo, empresas têm investido em treinamento para

remodelar as atitudes de seu contingente pessoal.

Outras atividades adicionais para mudar atitudes podem incluir o trabalho

voluntário em institutos de serviços sociais ou comunitários, dentro ou fora

da empresa, para que os participantes possam conviver com representantes

de diversas realidades.

Motivação é definida por Robbins (2002) como ações e processos diversos,

responsáveis pela intensidade, direção e persistência dos esforços de uma

pessoa para o alcance de uma determinada meta.

3.2.3 Variáveis no Nível do Grupo

O comportamento de grupo é muito mais do que a soma das ações dos

indivíduos, já que sabemos que os comportamentos das pessoas são

diferentes em grupo ou individualmente e que alguns esforços de grupo são

mais bem sucedidos que outros.

É importante lembrar que grupos e equipes têm definições distintas: um

grupo de trabalho é aquele que interage basicamente para compartilhar

informações e tomar decisões para ajudar cada membro com seu

desempenho em sua área de responsabilidade. Já a equipe de trabalho gera

uma sinergia positiva por meio de esforços individuais e mútuo,

complementares em busca do mesmo objetivo.

Para entender um pouco o comportamento de um grupo de trabalho, é

preciso vê-lo como um subsistema que faz parte de um sistema maior, já

que os grupos de trabalho não existem isoladamente. Todo grupo é

influenciado por condições externas, como estratégia geral da organização,

estrutura de autoridade, condições físicas de trabalho e pela própria cultura

organizacional.

Page 42: Luiza Nassif Tcc (V.F)

40

A estratégia geral da organização, em sua maioria estabelecida pelos

dirigentes, determina os objetivos da organização e os meios de atingi-los,

como, por exemplo, redução de custos e melhoria de qualidade. A estratégia

adotada determina os recursos que os grupos terão para desenvolver o

trabalho. Por exemplo, quando um grupo trabalha com poucos recursos a

tendência é que os conflitos e ansiedade entre os membros aumentem.

As estruturas de autoridade determinam onde o grupo se localiza

hierarquicamente na organização, ou seja, mesmo que haja um líder, alguém

que se destaque no grupo, é a organização que decide o líder formal e as

relações formais entre os grupos.

Toda organização possui regulamentações formais, regras e procedimentos

que buscam padronizar alguns comportamentos dos colaboradores. Robbins

(2002) afirma que quanto mais regulamentos uma organização tem, mais

previsível e consistente será o trabalho de um grupo.

Um fator externo que influencia no comportamento do colaborador e que

vem sendo cada vez mais aplicado nas organizações é o sistema de

avaliação de desempenho e recompensa. A PLR (Participação nos Lucros ou

Resultados), quando bem implantada, pode resultar no acréscimo de

motivação adicional que conduz os colaboradores a um maior

comprometimento. Outra forma de aumentar a produtividade das equipes é a

de estabelecer sistemas que contemplem a remuneração dos colaboradores

em três setores básicos: salário fixo, salário variável e benefícios.

A cultura organizacional também é considerada um fator que influencia o

comportamento das equipes - é a partir dela que os colaboradores sabem

qual roupa usar, que regras são levadas muito a sério, quais comportamentos

criam problemas e quais são tolerados, a importância da honestidade e

integridade na empresa.

Page 43: Luiza Nassif Tcc (V.F)

41

3.2.4 Variáveis no Nível do Sistema Organizacional

Da mesma forma que os grupos são mais que a soma de seus membros

individuais, a organização também é mais que a soma dos grupos que a

compõe. A forma como a organização é estruturada, os processos do

trabalho e as funções, as políticas e práticas de recursos humanos e a cultura

interna têm impacto sobre as variáveis dependentes.

Uma Estrutura Organizacional, além dos fatores individuais e em grupo,

tem influências sobre as atitudes e os comportamentos dos funcionários.

Analisando os elementos básicos que projetam a estrutura, conforme quadro

abaixo, entenderemos um pouco como as atitudes dos colaboradores são

moldadas, facilitando e motivando-os a obter melhor desempenho.

Durante boa parte do século XX a especialização do trabalho foi vista como

uma fonte inesgotável de aumento da produtividade, porém chegou-se a um

ponto que, em determinados trabalhos, quando realizados repetitivamente

por um longo período, traziam conseqüências como o tédio, fadiga, estresse,

dentre outras conseqüências, diminuindo bruscamente a produtividade.

Hoje, muitas empresas descobriram que dar aos funcionários diversas

tarefas, permitindo que eles realizem uma atividade completa, e colocá-los

em equipes com habilidades intercambiáveis geralmente leva a resultados

melhores e ao aumento da satisfação deles.

A departamentalização nada mais é do que agrupar as atividades comuns,

permitindo e facilitando a coordenação, ela pode ser por produto, região,

serviço, por processo. Uma forte tendência entre as empresas é adoção de

equipes que ultrapassam as divisórias tradicionais, se tornando uma equipe

multifuncional.

A cadeia de comando é como uma linha de autoridade que vai do topo de

uma organização até o escalão mais baixo. Hoje a manutenção desta cadeia

é cada vez mais irrelevante, já que os funcionários ganham autonomia para

tomar decisões que anteriormente eram reservadas aos administradores.

A amplitude de controle que estabelece o número de chefia que uma

organização terá, a exemplo dos últimos tempos, tem sido direcionada a

Page 44: Luiza Nassif Tcc (V.F)

42

amplitudes maiores, pois reduz custos, agiliza o processo decisório, aumenta

a flexibilidade, aproxima dos clientes e dá mais autonomia aos funcionários,

como mencionado anteriormente.

Centralização e descentralização referem-se ao grau em que o processo

decisório está concentrado em um ou mais pontos da organização. Em

grandes empresas, a gerência de baixo escalão tem mais informações sobre

os problemas e poder de ação do que a cúpula dirigente, mostrando a

tendência descentralizadora.

3.3 Habilidades e Competências

Uma organização precisa buscar executivos com habilidades e competências

que se encaixem com seus valores e objetivos, afinal são eles que

propagarão a imagem da empresa.

As habilidades podem ser definidas como o conhecimento necessário para a

realização do seu trabalho, ou seja, a capacidade de cada indivíduo em

desempenhar diversas tarefas dentro de uma função. O nível de habilidade é

avaliado pelo atendimento de cada indivíduo das atividades que constituem

sua carreira, traduzindo o nível de poli valência de cada profissional.

Para Robbins (2002), existem três tipos de habilidades que englobam a

capacidade de aplicação de conhecimentos ou especialidades específicas:

Habilidades Técnicas: define a aplicação do conhecimento, especialidade

específica. Todo trabalho requer algum tipo de habilidade técnica. Na

maioria das vezes, as pessoas adquirirem esta habilidade no exercício de

suas funções. Por exemplo, domínio em Excel ou em desenvolvimento de

planilhas.

Habilidades Humanas: é a habilidade de trabalhar com outras pessoas,

saber se comunicar e se motivar tanto individualmente quanto em grupo. Ser

capaz de entender as necessidades dos outros, lidar com situações de

conflito e saber delegar são algumas característica dessa habilidade.

Habilidades Conceituais: é a capacidade mental de analisar e diagnosticar

situações complexas. Como exemplificado por Robbins (2002), o processo

Page 45: Luiza Nassif Tcc (V.F)

43

de tomada de decisão requer que o executivo seja capaz de localizar os

problemas, identificar alternativas para sua correção, avaliar essas

alternativas e selecionar as melhores.

3.4 Comunicação

A globalização afetou as exigências das habilidades, afinal hoje os

executivos são submetidos a trabalhar e se relacionar com pessoas de

regiões e culturas diferentes. Para que essas diferenças não se tornem

problemas é preciso que cada um compreenda a cultura do outro e saiba

passar seus costumes. Além disso, este indivíduo deve manter uma

comunicação aberta, tentando se adaptar as diferenças, ser flexível e buscar

conciliar os objetivos.

Robbins (2002) afirma, ainda, que não respeitar as diferenças e impor novas

culturas acarreta um aumento do potencial de rotatividade, dificuldade de

comunicação e conflitos interpessoais.

3.4.1 Comunicação Interna

A comunicação interna é extremamente importante para o sucesso dos

negócios, pois é um fator estratégico que ajuda a consolidar a imagem da

organização junto aos seus públicos e a relação de trabalho. As

características da comunicação são determinadas pela cultura organizacional

e pelas mudanças no ambiente.

Com a globalização e o desenvolvimento constante da tecnologia, o

consumidor passou a ser mais exigente e a empresa mais competitiva. Com

isso, freqüentes atualizações e aprimoramentos das novas ferramentas e

processos tornou-se essencial para o público interno. Com essa

preocupação, a comunicação interna se tornou um dos principais meios para

alcançar esse objetivo, integrando empresa e colaborador.

Page 46: Luiza Nassif Tcc (V.F)

44

3.4.2 Comunicação nas Organizações

A comunicação é um processo de extrema importância dentro das

organizações, pois une todos os departamentos da empresa, e desta maneira

definem a missão que a corporação deve seguir.

O sistema organizacional se viabiliza graças ao sistema de comunicação

nele existente, que permite sua contínua realimentação e sua sobrevivência.

Caso contrário entrará num processo de entropia e morte.

Ou seja, sem comunicação, a coordenação dos recursos da empresa são

apenas elementos isolados que não agregam e nem dinamizam os resultados.

Além disso, não se pode deixar de lado o elemento humano e a criação de

relações interpessoais. Cada indivíduo tem uma visão única e diferente das

normas comunicativas da empresa, o que pode causar ruídos em um sistema

que, teoricamente, parece bastante promissor.

Sendo assim, o ambiente ideal em uma organização se dá quando esses

desejos e interpretações individuais são incorporados ao discurso e alma da

empresa.

No entanto, independente do público em questão, Kunsch menciona a

importância do planejamento e da integração das quatro frentes de uma

comunicação organizacional:

- Comunicação Administrativa: torna viável o sistema organizacional por

seus fluxos e redes. São as informações que transformam recursos em

produtos, serviços ou resultados.

- Comunicação Interna: engloba a comunicação entre seus empregados e

colaboradores internos. Ela pode ser formal ou informal, daí a importância

de entender os indivíduos frente a comunicação global da empresa.

- Comunicação institucional: é voltada à sociedade, ou seja, é a construção

da imagem da empresa frente ao grande público. Engloba a personalidade

organizacional e as influencias político-sociais no meio que a empresa se

encontra. As relações públicas, publicidade, assessoria de imprensa,

identidade corporativa, marketing social e cultural são alguns dos principais

instrumentos desse tipo de comunicação.

Page 47: Luiza Nassif Tcc (V.F)

45

- Comunicação Mercadológica: voltada ao cliente final, ou público alvo, a

comunicação mercadológica tem como um de seus objetivos a divulgação

de produtos/serviços, seja pela propaganda, promoção de vendas ou outras

atividades de marketing.

3.5 Mudanças x Cultura Organizacional

Neste tópico irei abordar o fator humano, seu ambiente cultural e como

isso reflete na gestão estratégica dos processos de mudança.

Atualmente as organizações estão enfrentando desafios em suas

estruturas internas. Com o avanço tecnológico, a inovação torna-se uma

ameaça constante para as empresas: se não incentivarem o uso do capital

intelectual inerente de suas forças de trabalho e estruturarem de forma

Integrada sua forma de trabalho, não suportarão a pressão da

concorrência e não sobreviverão.

Segundo Prahalad e Hamel (1995), a competição para o futuro exige o

desenvolvimento de uma nova visão estratégica de dentro para fora. Esta

inovação está fundamentada principalmente no fator humano, e que pode

ser um fator facilitador ou de resistência nos processos de mudança.

Muitos executivos já começam a acreditar que inovações bem sucedidas

incluem mudanças na cultura corporativa - os valores e crenças

tradicionais das empresas e maneira de fazer as coisas. Afirmam que se

deve mudar a cultura e a organização pode ser reformulada.

Nos processos de aquisição, fusão, incorporação de empresas ou

departamentos a cultura tem um impacto importante, especialmente nas

multinacionais, pois as dificuldades de comunicação, excluindo

diferentes idiomas, causam os choques culturais. Abordarei com mais

detalhes este tema no estudo de caso.

Page 48: Luiza Nassif Tcc (V.F)

46

3.5.1 Resistência a Mudanças

A maior disfunção da cultura organizacional é a de criar barreiras às

mudanças.

Se o ambiente cientifico - tecnológico e mercadológico fossem

integrados, as necessidades de mudanças seriam minimizadas.

Em uma cultura forte pode produzir rigidez na organização, dificultando

as necessárias mudanças para as novas condições. As organizações

devem ter flexibilidade para adaptar as mudanças que estão ocorrendo no

meio ambiente no qual opera: as forças internas de desenvolvimento e de

deterioração geram ciclos destrutivos que resultam em problemas

internos, como baixa produtividade e queda na qualidade dos produtos e

serviços, até chegar em ponto crítico.

Por exemplo, um tipo de comportamento disfuncional é o de sub-culturas

que se desenvolvem em velocidades diferentes de outras unidades da

organização. Isto resulta em falta de coordenação interna, que afeta

adversamente as relações externas. Um departamento de Tecnologia da

Informação pode implantar sistemas computadorizados que estejam além

das habilidades da maioria dos empregados médios. Mesmo com

treinamento, trabalhadores podem resistir à nova tecnologia ou vivenciar

um longo período de aprendizado. Relacionado com isto, sub-culturas

orientadas para a mudança podem vivenciar conflitos com sub-culturas

que não valorizam mudanças. Isto os impede de explorar novas soluções

para os problemas da organização, criando uma cultura onde predomina a

indecisão.

A comunicação é um dos instrumentos mais importantes no

gerenciamento destas mudanças no ambiente organizacional, pois auxilia

na assimilação efetiva e eficaz da mudança tanto pelo público interno

quanto pelo externo. Ela é o elemento mediador dos conflitos e crises

causados pelas novas posições e ações adotadas pela organização. É

essencial que os colaboradores sintam-se participativos à mudança.

Segundo Schein (1986), o planejamento de mudanças deve ser mediado

pela cultura organizacional, ou seja, quanto mais importante a ação de

Page 49: Luiza Nassif Tcc (V.F)

47

mudança for para a estratégia, maior deve ser sua compatibilidade com a

cultura da organização.

Para desenvolver o aumento de poder em toda a organização, torna-se

necessário a transformação cultural suficientemente forte para mudar os

paradigmas de confiança, autonomia e compartilhamento de informações

entre a maioria dos indivíduos.

Esta mudança só será possível se houver a transformação cultural em

toda a organização, começando pela alta administração e principalmente

pelo principal executivo. Inicia-se por acreditar que as pessoas em geral

preferem ser pessoas brilhantes a comuns em seu trabalho e que elas já

detém o poder naturalmente, criando-se, então, a base cultural apropriada

para que este poder possa aflorar.

Em uma mudança abrangente como esta, há de se confiar nos processos

de implementação tanto quanto na meta final, e isto só é possível se as

pessoas em toda a organização estiverem dispostas a abandonar crenças

pessoais e inseguranças. Para que as pessoas possam abandonar crenças é

preciso assimilar que a mudança trará vantagens individuais, pois

considera um aumento de sua autonomia, ou seja, um trabalho livremente

organizado, o que, segundo Dejours (1994), proporciona vias de descarga

psíquicas mais adaptadas às suas necessidades inerentes, fazendo então

que o trabalho se torne mais motivador e relaxante. Deve se abrir,

portanto, um espaço para discussão (espaço da palavra) com as pessoas e

fazer com que se sintam parte ativa e importante das mudanças.

As reações durante o processo de mudança devem ser monitoradas por

diversas razões: para se aprender mais sobre a cultura em si, uma vez que

a visão sobre várias premissas culturais só se torna aparente quando o

processo de mudança está em curso; e para se reconhecer como as

mudanças estão sendo interpretadas na organização. Finalmente, uma

recorrente sensibilidade sobre a cultura é importante para assegurar que

os elementos do modelo de liderança executiva estão sendo de fato

integrados na cultura dominante.

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48

As culturas das empresas de alta tecnologia compartilham os seguintes

atributos: elas esperam que as pessoas trabalhem em times, que

expressem suas opiniões e que respondam construtivamente a críticas

baseadas em fatos; elas encorajam um saudável grau de competição

interna, recompensam as inovações que tragam valor ao cliente final e

criam um ambiente de trabalho informal que estimula pessoas criativas.

Como pudemos verificar, a mudança é inevitável, é um processo natural

de uma organização que é flexível e inovadora e, por esta razão, tornou-

se essencial diagnosticar e gerenciar o processo de transformação cultural

decorrente dos processos de mudança e transformação organizacionais

tão necessários.

Segundo Prahalad & Hamel (1995), nesta direção os estudos indicam que

a gestão empresarial deve conter, como parte de sua estratégia, a

transformação organizacional e cultural que, entre outras metas, seja

adequada e receptiva a mudanças, retenha e, se possível, atraia novos

talentos, desaprenda o passado e reinvente o futuro.

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49

CAPÍTULO 4: ESTUDO DE CASO – GESTÃO INTEGRADA NA

ORGANIZAÇÃO MULTICULTURAL

Entrei na Nestlé do Brasil em 2006 para trabalhar no Projeto Globe na

Área de Implantação/ Integração.

Em Agosto de 2007, fui convocada para participar da implementação do

sistema SAP na Nestlé da Argentina, sediada em Buenos Aires. Além da

experiência profissional no exterior, ganhei a oportunidade de ter uma

visão completa de implantação. Até então, reconhecia uma parcela do

trâmite, atendendo mercados como consultora. Faltava, no entanto, a

visão interna do negócio, de como adaptar o sistema aos processos e vice

e versa, entender o real impacto que os possíveis percalços causam no

negócio de maneira efetiva.

Em Buenos Aires, a Nestlé está sediada em um bairro residencial fora da

Capital – Vicente Lopes. O edifício é bem moderno, tal e qual o da

Nestlé do Brasil. Um ambiente confortável, com o ar suíço impregnado,

como em todas das sedes Nestlé - porem com peculiaridades definidas

pela própria cultura organizacional: as pessoas se vestem e se portam de

modo mais informal do que no Brasil.

Logo na primeira semana de trabalho, eu e os outros poucos brasileiros

de áreas diferentes alocados no Projeto tivemos uma reunião com o

Project Manager – um chinês americano, que se comunicava somente em

inglês. Obtivemos informações sobre a estrutura organizacional

desenhada para implantação do Projeto: uma estrutura multicultural,

integrada principalmente por argentinos, uruguaios, paraguaios, chilenos,

brasileiros e, de forma menos intensa, por peruanos e colombianos, entre

outros.

A principal mensagem passada nesta reunião foi a de que nós, brasileiros,

teríamos um papel essencial neste grande desafio de implantação, o de

atuar na integração entre os diversos grupos regionais. E este seria o

grande desafio do Projeto, uma vez que estávamos em uma estrutura

Page 52: Luiza Nassif Tcc (V.F)

50

onde havia grandes choques culturais (exemplo: Chile e Argentina e até

mesmo Brasil e Argentina). Cabia a nós, identificados como

conciliadores e flexíveis, sermos os mediadores. Fomos objetivamente

incumbidos desta missão. Fui compreender seu real significado ao longo

do projeto.

Meu inicio foi um tanto conturbado, pautado pela resistência, até

conquistar o respeito e ser assimilada pela estrutura multicultural que já

estava se formando. Era a mais nova da equipe, mulher, estrangeira,

solteira, buscando meu espaço na organização. Fui aceita imediatamente

por meus colegas brasileiros e por minha chefe argentina. Uma

importante, porém pequena, fração das pessoas que seria meus colegas

dali pra frente.

No primeiro evento que participei, por exemplo, convoquei alguns

argentinos para uma reunião. Durante o encontro, nenhum me deixou

falar: falavam todos ao mesmo tempo, em tom alto, pareciam agressivos

e apelavam para palavrões. Minha primeira impressão foi a de que

estariam bravos e que “não iam com a minha cara”. Levei para o lado

pessoal. Confesso ter saído da reunião me sentindo muito mal.

Foi quando comecei a perceber que não era pessoal, principalmente

quando passei a testemunhar esse mesmo comportamento fora do

ambiente de trabalho. Foi quando me dei conta que, na verdade, eu estava

acostumada ao modelo de Cultura Organizacional do Brasil. A

estranheza, agora, se devia apenas ao fato de estar em um modelo

diferente. Esta constatação me levou a ser mais flexível, a deixar meu

modelo de Organização lá para trás e assimilar a nova formatação do

ambiente de trabalho com a cabeça aberta. Afinal, eu estava na sede

deles, no país deles, dentro de uma organização que já tinha sua própria

maneira de ser, conduzida por valores e costumes diferentes.

Na reunião seguinte, eles falavam alto eu respondia com uma risada

simpática - o típico “gingado brasileiro” - e começava a falar um pouco

mais alto do que antes. Não tanto quanto eles, mas impondo minha voz.

Passei a entender os “palavrões” como forma de expressar enfaticamente

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51

o que pensavam, não como agressão (tal e qual pode-se observar no

Tango). Notei que se valiam desta forma de expressão até quando

conversavam sobre coisas mais triviais como as férias, as refeições, os

planos para o final de semana.

Depois deste dia, confesso, mergulhei naquela cultura, que me faz sentir,

hoje em dia, uma brasileira - argentina em igual proporção.

Outro ponto importante é que, de fato, nós, brasileiros, cumprimos

exemplarmente nosso papel de mediadores, principalmente em situações

de maio estresse, em geral envolvendo argentinos e chilenos. Em uma

das cenas hilárias do projeto, um colega brasileiro chegou a pegar a mão

de um argentino e de um chileno e juntar as duas enquanto dizia:

“Amigos! Trabalhamos na mesma equipe. Amigos! Amigos!”. E a poeira

baixou.

Este é um exemplo bem acabado do estilo brasileiro de mediar conflitos,

pacificar situações, apelando ao contato pessoal e ao bom humos para

apagar fogueiras.

Os choques culturais

Deste meu aprendizado, com uma nova cultura organizacional

assimilada, surgiram várias indagações.

Nos modernos modelos gerenciais, o trabalho se torna

interdepartamental. Esse modelo de gestão horizontal cria uma série de

problemas. Pessoas de um departamento necessitam interagir com

pessoas de outro departamento, sem relações de hierarquia, e mudando o

foco da busca de resultados do departamento para a busca de benefícios

para os resultados da empresa como um todo.

É um enorme desafio que tem gerado estudos dos mais relevantes sobre

os modelos a serem adotados para minimização dos choques.

No caso do Projeto Globe na Argentina, a complexidade era muito maior.

Havia pessoas de vários países, ligadas a diversos departamentos,

respondendo a diferentes chefias (à de seus países e à do projeto), na

Page 54: Luiza Nassif Tcc (V.F)

52

Argentina, sem uniformidade salarial, com as funções no projeto não

respeitando necessariamente o tempo de experiência na companhia. E,

por trás disso tudo, as características culturais de cada país estimulando a

formação de grupos e acirrando conflitos.

Para tentar entender estes conflitos e tirar conclusões sobre como tratá-

los, montei um questionário que foi passado a colegas brasileiros,

argentinos e chilenos que participaram do projeto.

Segundo a pesquisa realizada, perguntei aos brasileiros, chilenos e

argentinos quais características pessoais eles acreditam que os colegas de

trabalho usariam para descrevê-los.

A primeira parte da pesquisa consistiu em cada grupo nacional se auto-

definir. Os resultados estão na tabela abaixo:

BRASILEIRO ARGENTINO CHILENO Ágil Comprometido Alegre Comprometido Comunicativo Comunicativo Comunicativo Criativo Conciliador Confiável Detalhista Confiável Dinâmico Expressivo Extrovertido Expansivo Integrado Focado Flexível Perfeccionista Humorado Multicultural Prestativo Normativo Prestativo Proativo Orientado Rápido Questionador Responsável

Quadro I – Características gerais de auto-definição de cada grupo:

Elaborada pelo autor (2008).

Como se observa, nenhum grupo identificou em si próprio características

negativas. Todos selecionaram somente traços positivos.

Ficou evidente a dificuldade do indivíduo se auto-criticar e expor esta

opinião. Quando tratamos de uma organização, o auto-conhecimento é

fundamental para saber trabalhar com as próprias limitações e fortalecer

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53

os pontos positivos. Somente quando o indivíduo se conhece ele agrega

real valor dentro de uma equipe.

O passo seguinte foi entender como cada grupo nacional era visto pelos

grupos dos demais países. A comparação ajudaria a levantar dois pontos

essenciais:

1- identificar em quais pontos há convergência ou divergência entre o

que o grupo pensa de só e o que os demais grupos pensam sobre ele;

2- identificar, a partir da análise de um grupo pelos demais, possíveis

idiossincrasias culturais na avaliação.

Desta segunda etapa, obtive o seguinte quadro, o qual analiso de maneia

mais completa nos tópicos abaixo:

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54

Quadro II – Características descritivas de cada grupo nacional referentes aos demais e ao próprio grupo: Elaborada pelo autor (2008).

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55

Argentinos e Chilenos X Brasileiros

A visão que o argentino e o chileno possuem do brasileiro coincide com a

visão que o próprio grupo descreve como seus traços culturais: flexíveis,

o que reforça o poder de integrar e mediar culturas, até mesmo as quais

onde há fortes choques culturais, como no caso de Argentina e Chile;

comunicativos, alegres, relaxados, positivos entre outras, já mencionadas

no quadro.

A sociedade brasileira possui o traço forte e presente da miscigenação,

evidenciada no período da colonização do País, quando homens

portugueses passam a se envolver com mulheres da índia e constituírem

as primeiras famílias brasileiras ou no período da escravidão, com a

mistura de tons de pele, das mais claras às mais escuras, gerando a real

raça brasileira. Formatou-se, no Brasil, uma sociedade caracterizada pela

mistura, um regime de influências que se alternam, se equilibram ou se

hostilizam.

Segundo estudos do grande escritor Sergio Buarque de Holanda, em

Raízes do Brasil, e um estudo realizado pelo Prof. Alexandre Freitas, da

FGV, selecionei cinco principais características encontradas na descrição

do nosso grupo em pesquisa:

• Hierarquia – em Portugal houve ordens religiosas com formas militares,

unindo o guerreiro e o eclesiástico. Essas ordens aproveitaram-se das

Cruzadas para conquistas de terras e formação de grandes latifundiários

da Europa, onde houve invasão de terras, escravidão e conquista de

poder. Assim, caracterizando o inicio das relações sociais de forma

oprimida e ordenada, separada gerando estratificação social e rígida

hierarquização, estabelecendo uma distancia entre escravos e senhores de

engenho. Por outro lado, a forte figura do patriarca (origem a nossos

elementos machistas), esteve presente e forneceu o grande modelo moral,

quase inflexível.

• Personalismo – o capitalismo fundou-se na proposição que todos eram

iguais perante a lei, uma concepção originada na Inglaterra e inaugurada

Page 58: Luiza Nassif Tcc (V.F)

56

pela Revolução Industrial, apoiada em ideologias e no protestantismo

calvinista e puritano. Atualmente o Brasil tem um moderno parque

industrial e a maioria da população está concentrada em cidades, não em

fazendas. No entanto, o desenvolvimento econômico capitalista ou a

“revolução burguesa” brasileira bebeu das mais puras fontes de nosso

passado colonial. No Brasil, a relação senhor - escravo e a dominação

patriarcal minaram ao próprios fundamentos psico e sociodinamicos da

vida moral, política e institucional da sociedade. A noção de

individualismo nasce à partir da vontade do senhor ou do chefe,

impondo-se de cima para baixo. O núcleo familiar centrado na figura do

patriarca é dirigido por princípios de laços de sangue e de coração, ou

seja, nossa unidade básica esta centrada na relação estabelecida por

pessoas, famílias e amigos. O brasileiro sabe, por exemplo, que ao

ingressar em uma organização, deve logo arrumar um bom “padrinho” –

figura que representa a trilha rumo à rápida ascensão até o topo da

organização. Ser amigo ou parente de fulano pode ser mais importante

que a própria lei. É muito comum escutarmos: “Você sabe com quem

esta falando?” - apesar desta pergunta conter forte teor de hierarquia e

autoritarismo, acaba refletindo uma sociedade relacional. Por ser uma

sociedade baseada em relações, desenvolvem-se necessidades de tornar

os relacionamentos mais próximos e afetuosos. Os brasileiros são

conhecidos por seu calor humano no tratamento pessoal: preferimos a

conciliação, a amizade, do que soluções mais violentas ou pontuais. Os

estrangeiros que visitam o País se sentem parte da grande família

nacional, quase como em sua própria pátria, por ser o povo brasileiro

acolhedor e, hospitaleiro e generosos no afeto. Os brasileiros são avessos

a qualquer tipo de ritualismo, formalidades e isto se reflete em quase

todas as relações, das menos relevantes às mais formais. Este caráter

impera até na maneira de falar, onde emprega-se muitas vezes no final de

cada palavra a terminação “inho”, que serve para familiarizar e

aproximar pessoas, demonstrando intimidade mesmo que esta esteja há

milhas de ser alcançada.

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57

• Malandragem - como uma sociedade hierarquizada, o brasileiro é marcado

por desigualdades e múltiplas gradações sociais. Nesta sociedade, o

individuo é valorizado em função de sua rede de relações interpessoais.

Assim, quando tratamos de leis e normas que equiparam a todos, o

brasileiro tende a apelar para uma saída intermediaria existente entre o

impessoal e o pessoal. Vale quase tudo para conseguir o que se quer: este

caminho intermediário é conhecido como o famoso “jeitinho”. O

malandro, portanto, seria um mestre na arte do “jeitinho”, sujeito esperto

que dificilmente é enganado. Sendo flexível, adaptável a diversas

situações, saindo-se sempre bem em ocasiões difíceis, um malandro é

aquele que, por ser dinâmico e ativo, busca soluções criativas e

inovadoras. Tem sensibilidade para se relacionar, capta com boa precisão

o perfil psicológico das pessoas e as características da situação, e as

utiliza para converter o jogo em benefício próprio. Fora do Brasil, o povo

é conhecido pela capacidade de adaptação, por buscar soluções originais

e por ser dinâmicos e flexíveis. Algo que se assemelha, dadas as

proporções, ao “ser malandro”.

• Sensualismo - o brasileiro coloca boa dose de sensualismo em suas

relações como modo de navegação social para obter o que deseja mais

facilmente. É chegado ao contato mais próximo, de pele, das falas

carinhosas e dos olhares atravessados. O bate papo e conversas cotidianas

conservam em suas entrelinhas certo teor de malícia, de intimidade:

ingredientes que dão mais graça e sabor à vida. Diz-se que o brasileiro se

contenta com certa restrição e esta tendência sensualista durante todo o

ano, atingindo o ápice durante a semana do Carnaval, quando então pode

se expressar mais livremente. Há controvérsias.

• Aventureiro - Sergio Buarque de Holanda (1984) estabeleceu dois

conceitos que nos ajudaram a situar e ordenar os conjuntos sociais

diversos. Nas formas de sociedades rudimentares, a distinção

fundamental existente está entre os povos caçadores e coletores e os

povos lavradores. Para os povos caçadores e coletores, a figura do

aventureiro é colher o fruto sem plantar a arvore, dirigindo seus esforços

a recompensas imediatas e fáceis. Vivem dos espaços ilimitados,

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58

estabelecem projetos grandiosos e ambiciosos sem se preocupar no

planejamento de ações para conquistá-los. Já o povo lavrador, aqui

encarnado na figura do trabalhador, é aquele que enxerga a dificuldade a

vencer, se preocupa com os processos, com o meio - seus horizontes são

mais limitados. Por serem persistentes, seus esforços são contínuos.

Ambas as figuras descritas acima só existem no plano ideal. Participam,

em maior ou menor grau e em múltiplas combinações, da personalidade

de cada indivíduo ou da cultura de um povo. O brasileiro se apega a

ociosidade. Prefere deixar o metódico e o trabalhoso para depois.

Macunaíma, o filho da terra, repetia: ai, que preguiça...”. Desta maneira,

conclui-se que o sistema escravocrata no Brasil deixou suas raízes.

Destas explanações, atesta-se que, por possuir uma cultura miscigenada,

misturada, repleta de antagonismos, o brasileiro aprendeu a ser flexíveis,

adaptando-se com muita facilidade a ambientes diferentes aos já vividos

em sua terra natal. Acredito, por esta razão, que as grandes empresas

multinacionais instalam suas principais sedes da América Latina neste

território, e é por esta razão que somos vistos no exterior como pessoas

competentes, dedicadas inclusive a aprender com louvor diferentes

línguas, artes e absorver cultura.

Argentinos e Brasileiros X Chilenos

Segundo as pesquisas, os brasileiros consideram os chilenos muito

formais, por trabalharem de maneira mais individual, com certa

dificuldade de integração até que reconheçam o ambiente em que estão

inseridos. Em Projetos de Integração, este ponto foi levantado como

limitante. Por esta razão, os chilenos podem passar a imagem de pouca

confiança. São vistos como muito disciplinados e organizados com

relação ao trabalho, bastante exigentes, objetivos, focados na busca de

resultados, normalmente com grande carga de conhecimento.

Foram caracterizados pelos demais como hierarquizados, pessoas que

aceitam ordem dos chefes sem questionar - o “bom soldado”, conforme

mencionado na tabela.

Page 61: Luiza Nassif Tcc (V.F)

59

Os próprios chilenos se definem mesmo como organizados, tal e qual

brasileiros e argentinos os classificaram, e acham que este é um ponto

forte nas relações do trabalho, além da disciplina e conhecimento.

Porém, de seu ponto de vista, consideram que saber trabalhar em equipe,

se integrar. Entretanto, 70% das pesquisas com brasileiros e argentinos

defendem o contrario. Esta questão é o grande ponto de discórdia e

essencial para a realização deste trabalho.

Brasileiros e Chilenos X Argentinos

Os argentinos foram definidos como reclamadores: no geral, se queixam

de tudo e a todos, são questionadores e teimosos. Sempre possuem uma

opinião de tudo e sobre todos. Foram considerados indisciplinados, ao

contrario dos chilenos, não hierarquizados, não sabem receber comando,

ao contrário: gostam sempre de comandar.

Traço oposto aos apresentados pelos colegas brasileiros está presente nas

terminações de suas palavras: utilizam “no”, ao invés de “inho”, para se

postar como autoridade.

Muitas vezes parecem arrogantes, em especial nas histórias que contam

sobre si e seu país, pela maneira de se portar, de falar- isso inclui o alto

tom de voz e os palavrões já incorporados na língua.

Os chilenos e argentinos deixam evidenciado no questionário que existe

uma falta de confiança entre eles: não acreditam de imediato no que o

outro diz, alegando que o estrangeiro não é convincente. A confiança,

então, passa a ser um ponto delicado entre eles chegando a se transformar

em fator limitante para qualquer integração.

Em contrapartida, foram definidos como muito cultos e educados.

Embora tenham certa resistência inicial, num segundo momento se

tornam muito próximos. Possuem algumas características similares às

brasileiras, valorizam muito as relação interpessoais e admiram o jeito

brasileiro caloroso de ser.

Page 62: Luiza Nassif Tcc (V.F)

60

Os próprios argentinos se definem como arrogantes, discutidores,

questionadores – defendem seus pontos de vista, independente do que há

pela frente. Sabem que nem sempre canalizam esta capacidade de discutir

na direção correta, o que pode gerar conflitos não desejados com a

equipe. São proativos, o que os torna de fato ansiosos, pessoas que vez

por outra não medem conseqüências em seus atos ou palavras.

Acreditam que são flexíveis para se adaptar em diferentes ambientes.

Possuem uma auto confiança fortíssima, um sentimento de que são os

melhores: por esta razão, são vistos como arrogantes.

Vantagens e limitações de uma Organização Multicultural

Depois de mapear os traços culturais, perguntei ao mesmo grupo quais

são as vantagens e limitações desta integração de culturas quando

tratamos de uma organização multicultural.

A diferença de nacionalidades foi classificada por todos como fator

vantajoso, se bem explorado. Esta diferença enriquece o grupo, traz

experiências, pontos de vista diversos e formações diferentes e que

complementam o sistema de trabalho, quando bem estruturadas. As

barreiras de fronteiras se quebram e já não somos mais vistos como

brasileiros, argentinos ou chilenos, mas como uma única equipe na qual a

soma das diferentes vivências resulta em uma cultura própria, peculiar.

Esta integração traz um leque de visões distintas para resoluções de

problemas que contribui e enriquece as discussões, por proporcionar

alternativas diferentes para resoluções. O trabalho se torna mais

motivador porquê se pode conhecer pessoas com outras culturas,

sotaques, costumes, numa troca de experiências enriquecedora.

A escolha do grupos de lideres é muito importante. Se bem gerenciada, a

integração será benéfica: fará da troca de culturas e conhecimento,

inevitavelmente existentes, engrenagens motivadoras a cumprir objetivo

estabelecido. Este gerenciamento é mais complexo onde há mistura de

culturas antagônicas e geradoras de conflitos.

Page 63: Luiza Nassif Tcc (V.F)

61

A peça chave para o pleno funcionamento das integrações é a

comunicação. Embora este trabalho aborde somente países da América

Latina onde a língua é a mesma (fora o Brasil), a má comunicação pode

dificultar o entrosamento da equipe, fundamental para o bom andamento

de qualquer projeto. Segundo a idiossincrasia de cada lugar, existe

impacto real e imediato no uso do tom, das ênfases, e de todo e qualquer

ruído que possa causar distorção da comunicação. O conhecimento e a

preparação prévia sobre o novo ambiente a ser explorado são necessários

a todo momento para quebrar barreiras pré-estabelecidas.

Impacto da Integração Multicultural

Após entendermos os tipos de vantagens e desvantagens desta integração,

devemos analisar de que maneira as mesmas afetam aos grupos

supranacionais, observando se esta convivência diminui ou aumenta as

resistências culturais. À princípio, o indivíduo se resguarda, protegido

pelos costumes e conhecimento do que lhe é comum, o que aumenta a

resistência frente ao novo grupo. Um facilitador, neste caso, é o fato de a

empresa ser transnacional, possuindo, assim, determinadas regras de

conduta comuns aplicadas no ambiente profissional, independente da

localização global da sede.

Concluo que se entendermos as diferenças culturais, e as assimilarmos

como conhecimento, os passos necessários para a implementação de

projetos, formação de novos grupos e integração completa se dá de

maneira natural e direcionada exclusivamente ao resultado comum, às

necessidades da organização.

Os mitos culturais desaparecem quando nos abrimos para as

particularidades do outro. O povo brasileiro, visto pelos argentinos como

menos individualistas do que eles mesmos, é catalisador do envolvimento

do grupo no processo rotineiro de trabalho, enquanto os chilenos são

mais modestos que as outras duas nações – já os argentinos possuem

maior voz de comando. Estas três características isoladas, se combinadas

de maneira estruturada, formam uma equipe capaz de planejar, realizar e

Page 64: Luiza Nassif Tcc (V.F)

62

finalizar qualquer tarefa que lhe for determinada. É essencial, no entanto,

que os indivíduos estejam preparados, sem escudos e sejam flexíveis para

tais adaptações. A liderança independente de cultura, focada em

resultados satisfatórios e que caminha bem entre os diversos adjetivos

aplicados a cada grupo é decisiva no que diz respeito ao novo modelo de

gestão organizacional.

Flexibilidade

Perguntei então como ampliar este conceito de flexibilidade nas

modernas organizações nas quais existe a convivência de grupos

nacionais.

A globalização, internet e outras tecnologias, como conferências virtuais

ou telefônicas trouxeram um estreitamento de fronteiras e barreiras

culturais. A disponibilização destes equipamentos aproximam pessoas,

apresentam soluções globais e diferentes. O gestor que aplica ao

ambiente organizacional conceitos de flexibilidade e auto-conhecimento

estimula a formação de profissionais preparados para o mercado externo.

Atualmente, as pessoas valorizam a rotatividade dentro da empresas,

conhecida como job rotation – neste processo é possível conhecer e

entender o processo como um todo, o que amplia a capacidade

profissional de otimizar processos. Conhecendo o passo seguinte e o

anterior, o profissional gerencia seu trabalho de maneira efetiva, agindo

em prol do resultado esperado pela companhia.

A redução de hierarquias é outro ponto fundamental para o bom

funcionamento das organizações. A mudança da coluna dorsal das

grandes empresas estaria diretamente relacionada à mudança de

estruturas verticais para horizontais, num trabalho colaborativo pertinente

e com força de ação.

Para viver, e não apenas sobreviver, neste novo modelo organizacional, é

preciso estimular e freqüentar eventos interculturais, ser flexível, possuir

conhecimento e vontade de obter-los e, sem dúvida nenhuma, possuir um

líder capaz de gerenciar e estimular estes acontecimentos. Este líder deve

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reconhecer em seus profissionais os traços positivos e estimulá-los, e

quando confrontar-se com pontos negativos, há de trabalhar sem

preconceitos a correção por meio do conhecimento e flexibilidade. O

conhecimento técnico e funcional dos processos, bem como falar outros

idiomas continua sendo importante para as grandes corporações. Mas

diferencial de uma empresa para outra está cada vez mais próximo da

integração acerca de questões culturais e estruturais, onde as principais

fronteiras são justamente o trabalho individual perante o grupo e a

disseminação de conhecimento para que todos sejam, e se sintam,

inseridos nos processos.

CONCLUSÃO

Com a globalização e o avanço tecnológico entramos em um novo

panorama mundial, onde organizações sofreram mudanças significativas.

Para acompanhar esta onda de mudanças, as estruturas organizacionais

das multinacionais passaram de organizações verticais centralizadas,

onde o poder de decisão estava concentrado em uma só pessoa, para

organizações horizontalizadas, onde existe a divisão entre as partes

intermediarias e até mesmo operacional do poder decisório. Isso gera

mais autonomia e liberdade na condução das tarefas diárias.

Quando tratamos das organizações multinacionais, podemos dizer que

são diversas empresas diferentes rodeadas por um mesmo objetivo,

missão e valor. Porém cada uma opera em um território geográfico

diferente, com suas peculiaridades, sejam elas culturais, de idiomas e

maneira de trabalhar. Num modelo territorial onde há uma administração

geral (no caso estudado, a Suíça), existe o controle do desempenho de

cada unidade regional e no conjunto (por exemplo, Argentina, Chile,

Brasil) A verificação dos resultados pode ser tanto individual como

integral.

Cada região contida da sua própria gestão dos processos integrados, que

podem ser divididos pelas áreas de logística, financeiro, marketing,

recursos humanos, P&D etc.. As organizações operam efizcamente em

territórios totalmente distintos uns dos outros, com características

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culturais diversificadas, que por sua vez geram culturas organizacionais

específicas.

Cada organização possui sua própria Cultura Organizacional que a

caracteriza. Para que essas diferenças não se tornem problemas, é

necessário compreender a cultura do outro, seus costumes e, além disso,

manter uma comunicação aberta tentando se adaptar às diferenças.

O papel da gerencia é fundamental para a condução e motivação da

equipe. Além de entender os traços culturais e estruturar sua equipe, o

que inclui também a seleção de pessoas, de maneira sinérgica, o gerente

precisa manter a integração fazendo com que as diferenças culturais

sejam enriquecedor como trocas de experiências, e não um fator

limitante.

A comunicação é um processo de extrema importância dentro da

organização, pois une todos os departamentos da empresa e, desta

maneira, define a missão que a corporação deve seguir. Além disso, é um

dos instrumentos mais importantes no gerenciamento de mudanças no

ambiente organizacional, auxilia na assimilação efetiva e eficaz das

alterações tanto pelo publico interno quanto externo. A comunicação é o

fator mediador de conflitos e crises causados pelas novas posições e

ações adotadas pela organização.

Já vimos que a comunicação pode ser ponto limitante no processo de

integração, segundo a idiossincrasia de cada lugar, a diferença do idioma,

o uso do tom da voz, maneira de se expressar, ênfases durante a

comunicação, peculiaridades que podem gerar distorção da comunicação.

Por esta razão é essencial entender os diferentes costumes e hábitos.

Para uma comunicação eficaz, sugiro sistematizar os diferentes traços

culturais. Esta sistematização poderia ser através de um treinamento

básico realizado pelo Recursos humanos, como por exemplo: cursos de

antropologia, de sociologia sobre as diferenças culturais entre os grupos

nacionais, que permitiria aos funcionários uma visão geral das

particularidades de cada cultura, especialmente as que podem afetar

diretamente no relacionamento pessoal.

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O Estudo de Caso confirmou minhas hipóteses levantadas no inicio do

trabalho, quando acreditava que a palavra-chave de todo estudo era

flexibilidade. Por exemplo, como relatei em minha experiência

profissional no exterior, no começo do Estudo de Caso, mesmo me

considerando flexível e apta a me adaptar a mudanças, somente quando

entendi que teria de deixar a cultura organizacional que conhecia e me

integrar a uma nova foi possível assimilar as mudanças.

Ser flexível é ser adaptável às circunstâncias diferentes das que estamos

acostumados, é estar aberto a mudanças e saber gerenciá-las.

Segundo o Professor José Ângelo Lopes, “ser flexível é aceitar a

realidade sem criar barreiras. É acolher as mudanças e responsabilidades

que o seu papel venha a solicitar para que se mantenha sempre

competitivo e atualizado. É estar disposto até mesmo a mudar suas

próprias idéias muitas vezes ou seu enfoque perante uma nova situação

e/ou informação ou uma evidência oposta, compreendendo as

perspectivas e idéias provenientes de outras pessoas É também saber

gerenciar as situações e colaboradores de forma que, em muitas ocasiões,

você consiga refletir com discernimento e agir com profissionalismo e

competência, aplicando procedimentos que se adaptem a uma

determinada realidade para alcançar objetivos e metas globais da

Organização”.

O novo panorama mundial faz com que as mudanças ocorram com uma

velocidade impiedosa, e temos que nos adaptar às novas inovações que

são impostas. Neste novo modelo, a flexibilidade é considerada

imprescindível.

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