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ACTUAL 15 26 Julho 2011 | O CORREIO DA LINHA l Texto e Fotos: CLÁUDIA SILVEIRA O Estoril constitui uma estância balnear de refe- rência no nosso País cuja afirmação a nível na- cional e internacional resulta da concretização de um conjunto de projectos de características visionárias. O percurso histórico que foi construído pela comunidade confere à localidade as característi- cas que ainda hoje lhe reconhecemos e que “O Correio da Linha” teve oportunidade de explorar ao longo de uma visita guiada, organizada pela Academia de Letras e Artes em parceria com a Junta de Freguesia do Estoril, sob orientação do investigador João Aníbal Henriques. Estoril, uma estância termal O povoamento humano do território corresponden- te à actual freguesia do Estoril remonta ao período pré-histórico. A existência de grutas artificiais em São Pedro do Estoril e em Alapraia, as quais foram esca- vadas na transição do 4º para o 3º milénio para serem utilizadas como local de enterramento, constitui um dos mais antigos testemu- nhos da presença humana neste espaço. Documentos datados de 1527 referem o casal do Estoril, aquando da fun- dação pelos Franciscanos do Convento de Santo António, construído no lo- cal actualmente ocupado pelo Colégio Salesiano. Já nessa época se referiam os “banhos do Estoril”, aludindo às águas termais existentes nas proximida- des do cenóbio franciscano e cuja utilização terapêuti- ca se recomenda desde há séculos para o tratamento de reumatismo e de doen- ças das vias respiratórias e da pele. As qualidades das suas águas terão motivado uma ampla procura, tendo sido visitadas no século XVIII pelo rei D. José para se restabelecer de problemas de saúde que o afectavam. Há notícia da construção de um edifício termal, em 1788, por iniciativa de José Aniceto Torreano de Faria, bem como da posterior construção de edifícios de apoio destinados a acolher os visitantes que procura- vam beneficiar dos tratamentos termais. Adquiridas posteriormente por José Viana da Silva Carvalho, fo- ram alvo de requalificação, tendo o novo proprietá- rio promovido a construção de um edifício de gosto neo-árabe, que possibilitou a reabertura das termas em 1880. Dois anos depois, o referido empresário pro- moveu a construção do primeiro hotel existente no Estoril, o Hotel Paris, que se localizou em frente ao local onde viria a erguer-se a estação de caminhos-de- ferro. Na proximidade destas termas, viria a instalar-se um outro estabelecimento destinado a explorar as águas termais que brotavam das rochas junto à Praia da Cadaveira ou da Poça, o qual ficaria conhecido como os “Banhos da Poça”. Já em 1835 se reconheciam as suas virtudes medicinais, sendo referenciadas pelo Jornal da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, que as recomendava para o tratamento da lepra. Eram então exploradas por Matias José de Oliveira Leite, que autorizava banhos gratuitos aos pobres do distri- to de Lisboa que obtivessem um despacho favorável da Misericórdia. Por alvará datado de 16 de Fevereiro de 1843, a rainha D. Maria II concedeu autorização à Santa Casa da Misericórdia de Cascais para proceder à respectiva exploração. O impulso do caminho-de-ferro O desenvolvimento registado no Estoril a partir da se- gunda metade do século XIX ficaria ainda a dever-se a outros factores, designadamente a instalação sazonal da Família Real na Cidadela de Cascais, a partir de Setembro de 1870, dinamizando a procura de Cascais e do Estoril como local de veraneio por parte das mais importantes famílias da sociedade portuguesa de então, e ainda a inauguração da linha férrea ligando Pedrouços a Cascais, em 30 de Setembro de 1889. A chegada do caminho-de-ferro e a consequente redu- Branca Pereira • TAROT DOS ORIXÁS (CONSULTAS, ORIENTAÇÃO ESPIRITUAL E TRATAMENTOS) • TERAPEUTA FLORAL • TÉCNICA DE TERAPIAS ALTERNATIVAS • MEDICINAS ORIENTAIS • TERAPIAS HOLÍSTICAS • MESTRE DE REIKI E PRISMOLOGIA Atendimento c/marcação: 917 228 218 /964 752 453 Gabinetes de atendimento: ZONAS: SINTRA, CASCAIS, LOURINHÃ, PORTO E ALENTEJO Deslocações por todo o País e Estrangeiro E-mail: [email protected] http://negileyemanja.blogspot.com O segredo da saúde, mental e corporal, está em não se lamentar pelo passado, não se preocupar com o futuro, nem se adiantar aos problemas, mas, viver sábia e seriamente o presente. João Anibal Henriques dando explicações do passado Uma iniciativa que reuniu diversos visitantes Viajando no tempo pelo Estoril Viajando no tempo pelo Estoril R. Joaquim Nunes Ereira, Lt. 33, Lj. A Torre - 2750-392 CASCAIS Tel.: 21 483 46 57 - 21 483 42 45 Fax: 21 483 42 46 - Tlm.: 91 873 64 35 Drogas Ferragens Ferramentas Utensílios Domésticos Hipoclorito p/ Piscinas Tintas e seus derivados E-mail: [email protected] ERRAGENS E DROGARIA DA TORRE, LDA.

Viajando no Tempo pelo Estoril

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Reportagem publicada na edição de Julho de 2011 no Jornal "O Correio da Linha" da autora da jornalista Claúdia Silveira, sobre os passeios pedestres organizados através dos Estoris pela ALA - Academia de Letras e Artes e pela Junta de Freguesia do Estoril, guiados por João Aníbal Henriques.

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ACTUAL 1526 Julho 2011 | O CORREIO DA LINHA

l Texto e Fotos: CLÁUDIA SILVEIRA

O Estoril constitui uma estância balnear de refe-rência no nosso País cuja afirmação a nível na-cional e internacional resulta da concretização de um conjunto de projectos de características

visionárias. O percurso histórico que foi construído pela comunidade confere à localidade as característi-cas que ainda hoje lhe reconhecemos e que “O Correio da Linha” teve oportunidade de explorar ao longo de uma visita guiada, organizada pela Academia de Letras e Artes em parceria com a Junta de Freguesia do Estoril, sob orientação do investigador João Aníbal Henriques.

Estoril, uma estância termalO povoamento humano do território corresponden-te à actual freguesia do Estoril remonta ao período pré-histórico. A existência de grutas artificiais em São Pedro do Estoril e em Alapraia, as quais foram esca-vadas na transição do 4º para o 3º milénio para serem utilizadas como local de enterramento, constitui um

dos mais antigos testemu-nhos da presença humana neste espaço.Documentos datados de 1527 referem o casal do Estoril, aquando da fun-dação pelos Franciscanos do Convento de Santo António, construído no lo-cal actualmente ocupado pelo Colégio Salesiano.Já nessa época se referiam os “banhos do Estoril”, aludindo às águas termais existentes nas proximida-des do cenóbio franciscano e cuja utilização terapêuti-ca se recomenda desde há séculos para o tratamento de reumatismo e de doen-

ças das vias respiratórias e da pele. As qualidades das suas águas terão motivado uma ampla procura, tendo sido visitadas no século XVIII pelo rei D. José para se restabelecer de problemas de saúde que o afectavam. Há notícia da construção de um edifício termal, em 1788, por iniciativa de José Aniceto Torreano de Faria, bem como da posterior construção de edifícios de apoio destinados a acolher os visitantes que procura-vam beneficiar dos tratamentos termais. Adquiridas posteriormente por José Viana da Silva Carvalho, fo-ram alvo de requalificação, tendo o novo proprietá-rio promovido a construção de um edifício de gosto neo-árabe, que possibilitou a reabertura das termas em 1880. Dois anos depois, o referido empresário pro-moveu a construção do primeiro hotel existente no Estoril, o Hotel Paris, que se localizou em frente ao local onde viria a erguer-se a estação de caminhos-de-ferro.Na proximidade destas termas, viria a instalar-se um outro estabelecimento destinado a explorar as águas termais que brotavam das rochas junto à Praia da Cadaveira ou da Poça, o qual ficaria conhecido como

os “Banhos da Poça”. Já em 1835 se reconheciam as suas virtudes medicinais, sendo referenciadas pelo Jornal da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, que as recomendava para o tratamento da lepra. Eram então exploradas por Matias José de Oliveira Leite, que autorizava banhos gratuitos aos pobres do distri-to de Lisboa que obtivessem um despacho favorável

da Misericórdia. Por alvará datado de 16 de Fevereiro de 1843, a rainha D. Maria II concedeu autorização à Santa Casa da Misericórdia de Cascais para proceder à respectiva exploração.

O impulso do caminho-de-ferroO desenvolvimento registado no Estoril a partir da se-gunda metade do século XIX ficaria ainda a dever-se a outros factores, designadamente a instalação sazonal da Família Real na Cidadela de Cascais, a partir de Setembro de 1870, dinamizando a procura de Cascais e do Estoril como local de veraneio por parte das mais importantes famílias da sociedade portuguesa de então, e ainda a inauguração da linha férrea ligando Pedrouços a Cascais, em 30 de Setembro de 1889.A chegada do caminho-de-ferro e a consequente redu-

Branca Pereira• TAROT DOS ORIXÁS (CONSULTAS,

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O segredo da saúde, mental e corporal, está em não se lamentar pelo passado, não se preocupar com o futuro, nem se adiantar aos problemas,

mas, viver sábia e seriamente o presente.

João Anibal Henriques dando explicações do passado

Uma iniciativa que reuniu diversos visitantes

Viajando no tempo pelo EstorilViajando no tempo pelo Estoril

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ção do tempo de viagem entre Cascais e Lisboa acaba-ria por atrair à região importantes investimentos, no-meadamente no domínio dos negócios imobiliários. É nesse contexto que se promovem os primeiros pro-jectos urbanísticos desenvolvidos no Monte Estoril, local anteriormente conhecido como “Costa de Santo António” ou “Pinhal da Andreza”. Aí se começariam a edificar moradias tipo chalet por iniciativa de José Jorge de Andrade Torrezão, um abastado capitalista de Lisboa. Seguir-lhe-ia o exemplo Carlos Anjos que, aliando-se ao Conde de Moser, então administrador da Companhia dos Caminhos-de-Ferro Portugueses, constituiu em 1888 a Companhia do Monte Estoril, as-sumindo o propósito de urbanizar toda a encosta do Monte Estoril de acordo com um projecto em que se pretendia recriar um ambiente romântico e bucólico aproveitando a beleza natural da paisagem envolven-te, atraindo diversas figuras de relevo da sociedade

de então, entre as quais a própria rainha Maria Pia que aqui se viria a instalar após a morte de seu mari-do, o rei D. Luís. Embora poucos anos depois se tives-se dado a falência da Companhia do Monte Estoril, a verdade é que a povoação ficaria marcada por uma identidade própria que ainda hoje um percurso pelo aglomerado urbano permite constatar e que se encon-tra patente nos arruamentos estreitos e sinuosos, na exuberância da vegetação e nos modelos arquitectó-nicos das moradias apalaçadas subsistentes.Entre as diversas construções que se ergueram neste período, algumas merecem destaque graças não só à sua beleza e ao cuidado colocado na respectiva pre-servação, mas também por constituírem marcos im-portantes na própria vivência quotidiana do espaço.É o caso da Villa Pomares, mandada edificar pela Marquesa de Pomares, uma das cortesãs que acom-panhou a rainha Maria Pia na sua opção de se instalar no Monte Estoril, e que anos mais tarde viria a acolher uma das mais prestigiadas instituições da localidade: o Colégio João de Deus, que foi fundado em Janeiro de 1936 e em actividade até ao início da década de 1970, deu continuidade a um projecto educativo da responsabilidade de João de Deus Ramos Júnior, que marcou a vivência do Monte Estoril a partir de 1928 e que ficaria conhecido como o Bairro Escolar. João de Deus Ramos Júnior, terceiro filho do poeta João de Deus e de sua mulher, D. Guilhermina de Battaglia Ramos, nascido em Lisboa em 1878, con-cluiu em 1902 o curso de Direito na Universidade de Coimbra. A partir de 1912 desenvolveu um percurso político, tendo sido Governador Civil da Guarda e Governador Civil de Coimbra e sendo ainda eleito como deputado à Assembleia Nacional. Em 1920, as-sumiu funções como Ministro da Instrução Pública e em 1925 integrou de novo o Governo como Ministro do Trabalho. Foi responsável, a partir de 1911, pela criação de Jardins-Escola João de Deus, nos quais foi divulgado o Método de Leitura criado por seu pai, o poeta João de Deus, autor da Cartilha Maternal ou Arte de Leitura. Defensor da adopção de uma nova pedago-gia, criou ainda, em parceria com João Lopes Soares, o Bairro Escolar no Monte Estoril, em 1928, contan-do com a colaboração de professores como Aníbal Ferreira Henriques, Américo Negrão Buísel, José Guerreiro Cristóvão e o capitão Henrique Perestrello de Alarcão e Silva, alguns dos quais viriam depois a integrar a equipa docente do Colégio João de Deus,

que marcou diversas gerações.Merecem igualmente referência os estabelecimentos hoteleiros e de diversão que marcariam a vivência do recém-criado aglomerado, de que constituem exemplo o Casino do Monte Estoril, fundado em 1891 e pos-teriormente convertido no Hotel Miramar, o Grand Hotel, inaugurado em 1898, ou o Casino Internacional e o Grand Hotel d’Italie, instalados em 1899.

O desenvolvimento do turismoA afirmação do Estoril como estância turística conhe-ceu um novo impulso a partir de 1913, graças ao em-preendedorismo de Fausto Cardoso de Figueiredo.Nascido em Celorico da Beira, Fausto Figueiredo vi-ria a casar com Clotilde Ferreira do Amaral, filha de José Ferreira do Amaral, abastado proprietário na ilha de São Tomé, vindo a fixar residência no Monte Estoril. Tendo assumido funções como administra-

dor dos Caminhos-de-Ferro Portugueses, em 1911 foi Presidente da Câmara Municipal de Cascais, cargo que viria novamente a assumir de Julho a Dezembro de 1913, sendo depois nomeado como Presidente da Comissão Executiva Municipal. Em parceria com o seu cunhado Augusto Carreira de Souza, consti-tuiu em 1913 a empresa Figueiredo & Sousa, Lda., a qual adquiriu a chamada Quinta do Viana, onde se localizavam as termas cuja exploração pertencera a José Viana da Silva Carvalho e que agora seria trans-

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O grupo junto das ruínas do Hotel Miramar

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literária que tinha no famoso agente 007, James Bond, a sua principal personagem. n

Vila Pomares, antiga sede do Colégio João de Deus

mitida à nova empresa, transformada em 1915 na Sociedade Estoril. Entretanto, havia sido contratado o arquitecto paisagista francês Henri Martinet no sentido de projectar para esse local uma nova estân-cia balnear capaz de ombrear com as suas congéne-res europeias. Nasce dessa forma o projecto Estoril, Estação Marítima, Climatérica, Thermal e Sportiva, que viria a ser concretizado nos anos seguintes através da construção de diversos equipamentos colectivos orientados para o lazer, nomeadamente hotéis, um novo estabelecimento termal, teatro, palácio de des-portos, edifício de apoio aos banhos de mar, espaços comerciais, galerias cobertas, um amplo jardim e um casino, cuja construção se iniciou em 1916. Mais uma vez, o caminho-de-ferro constituía um ele-mento estruturante no desenvolvimento do projecto impulsionado pela Sociedade Estoril, que viria a ob-ter, em 1918, a concessão da exploração da linha de Cascais, assim se mantendo até 1976, altura em que passou a ser explorada pela CP (Caminhos-de-Ferro Portugueses). A electrificação da linha de Cascais, em 1926, foi fundamental para o desenvolvimento turístico de que a região veio a beneficiar, possibi-litando a chegada do Sud Express a partir de 1 de Setembro de 1930, assegurando assim uma ligação ferroviária directa entre o Estoril e Paris. O crescimento que a região conheceu entre o final

do século XIX e os primeiros anos do século XX reflectiu-se ainda na constituição de uma nova pa-róquia: a paróquia do Estoril, criada pela Lei nº 444 de 18 de Setembro de 1915.

Estoril, destino de exílioA década de 1940 constitui uma nova etapa na afirmação internacional do Estoril, que soube capi-talizar o estatuto de neutralidade de que Portugal beneficiou durante a II Guerra Mundial. O facto de o nosso país se manter à margem do conflito que assolava a Europa, tornava-o um local apete-cido por todos aqueles que se sentiam ameaçados, tanto mais que a sua posição estratégica junto ao Atlântico proporcionava relativas facilidades de evasão a quantos pretendessem abandonar o “ve-lho continente”.Desta forma, Cascais e o Estoril foram um local de eleição por parte de diversos membros da re-aleza europeia, condenados ao exílio na sequên-cia da própria guerra ou das transformações por ela operadas no mapa político europeu. É esse o caso da Grã-Duquesa Carlota do Luxemburgo, que, obrigada a abandonar o seu País aquando da invasão alemã, conseguiu obter um visto assi-nado pelo cônsul Aristides de Sousa Mendes; dos Habsburgos, Arquiduques da Húngria, instala-dos no Casal da Serra em Carcavelos; da Princesa Helena Karageorgevitch, irmã do Rei Alexandre da Jugoslávia; da família real dinamarquesa; de Humberto II, último Rei de Itália, que se exilou em Portugal após a instauração da República no seu país; dos Condes de Paris, herdeiros do trono francês; ou ainda de Carol II da Roménia, que, em 1940, abdicou do trono em favor do filho, exilan-do-se em Portugal. Foi também neste contexto que D. Juan de Battenberg e Bourbon, Conde de Barcelona, herdeiro do trono espanhol, se instalou com a sua família no Estoril, a partir de Fevereiro de 1946, durante o período da Ditadura do General Franco. A estas figuras da realeza se juntariam ain-da diversos membros dos governos depostos nos países conquistados pelos nazis, bem como agen-tes secretos e espiões de diversas nacionalidades, entre os quais se destaca Ian Fleming, agente se-creto ao serviço dos Aliados, que deixou uma obra

Encontra-se patente ao público até ao próximo dia 30 de Setembro, no Espaço Memória dos Exílios, que funciona na antiga estação de Correios do Estoril, a exposição O Estoril e as Origens do Turismo em Por-tugal, na qual se apresentam diversos documentos inéditos conservados no Arquivo Histórico Municipal de Cascais, bem como outros documentos pertencen-tes a coleccionadores particulares que se associaram à iniciativa. Retrata-se assim o percurso do Estoril e a afirmação internacional da Costa do Sol, que torna-ram o concelho de Cascais num destino de referência do turismo de negócios e de lazer, ainda hoje estraté-gico para o desenvolvimento local.