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As idéias de Gareth Morgan, publicadas no livro "Imagens da Organização".
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IMAGENS DA ORGANIZAÇÃO Imagens da
Organização, de Gareth Morgan
− Editora Atlas− São Paulo, 1996− Primeira Edição:
Editora Sage, 1986
Comunicação OrganizacionalArmando Levy
As metáforas organizacionais Morgan propõe uma
metodologia de análise das organizações a partir do uso de metáforas
Diferentes metáforas conseguem ressaltar diferentes aspectos da organização, permitindo uma compreensão mais eficaz de sua estrutura, processos, normas, metas e até usos da comunicação
Morgan aponta 8 metáforas Segundo Gareth Morgan, as organizações
podem ser vistas como:− Máquinas− Organismos− Cérebros− Cultura− Sistemas políticos− Prisões psíquicas− Fluxo e transformação− Instrumentos de dominação
O nascimento da Ford Este filme mostra o
nascimento da Ford e o perfil controverso de seu fundador, Henry Ford
Vamos usar a Ford para compreender melhor as metáforas de Morgan
Henry Ford em capa da Time Magazinede janeiro de 1935. Foto publicada pelosite Wikipédia
Máquinas Uso de máquinas transformou
radicalmente a natureza da atividade produtiva, deixando sua marca na imaginação, pensamento e sentimento dos homens
Vida organizacional é rotinizada com a precisão de um relógio
Espera-se que tudo aconteça do modo esperado, no tempo esperado, com a precisão esperada
Homens-máquinas Chegada das máquinas na
Revolução Industrial mecaniza as organizações
Uso de máquinas obrigou organizações a se adaptarem às exigências das máquinas
Entra em cena a burocratização e a militarização do trabalho apontadas por Max Weber
Processos de mecanização passam a ditar as relações e o modo como as pessoas se comunicam Cenas do filme “Tempos
Modernos”, de Charles Chaplin
A Ford e a metáfora da máquina Uma rápida análise do
filme sobre a Ford revela o quanto esta metáfora é útil para compreender a empresa:
− Adaptação do trabalhador ao processo
− Falta de criatividade (Ford considerava o Modelo “T” ideal para o americano, mesmo perdendo mercado)
− Visão autoritária do fundador da empresa
Ford e seu Modelo TEle se recusou a mudar o carro, que considerava ideal para o norte-americano
Organismos Entre os anos 20 e 30, estudos
promovidos por Elton Mayo evidenciam que a natureza das pessoas influencia o trabalho tão ou mais que o planejamento
Ele defende que as organizações prestem mais atenção ao fator humano
Elton Mayo estuda a apatia, alienação e alcoolismo nas fábricas
Organismos biológicos Uma nova teoria
organizacional surge apoiada em conceitos biológicos que defendem que indivíduos e grupos – assim como organismos biológicos – atuam mais eficazmente quando suas necessidades são satisfeitas
Novo enfoque teórico Esta nova proposição gerou
muitos novos conceitos para se pensar a organização
Teoria dá bastante atenção à compreensão da atividade ambiental, definida pelas interações organizacionais diretas com clientes, concorrentes, fornecedores, sindicatos e governo Em organizações orgânicas, a
comunicação tem importância central nas atividades da empresa
A Ford e a metáfora orgânica Em um aspecto podemos dizer que a
Ford aproximou-se da metáfora da organização enquanto organismo
Quando a empresa, em seus primórdios, dobrou os salários dos trabalhadores para estimular seu compromisso com a organização
Ford compreende que era preciso satisfazer necessidades dos trabalhadores para que eles intergissem melhor com a empresa
Mas os acontecimentos seguintes vão mostrar que esta visão teve vida curta
A visão da organização enquanto organismo não se sustenta com a Ford,
pois a empresa buscava, a todo momento, impor
sua visão de mundo inclusive para os clientes
Cérebros Cérebros são diferentes de
máquinas Funcionam de modo
holográfico, distribuindo a informação
Esta metáfora permite compreender a empresa como:
− Sistema de processamento de informações
− Sistema onde o todo se encontra nas partes e as partes no todo
Processamento de informação Cérebro funciona através de
processos como o “feed back” negativo, que corrige erros até que a ação seja executada com sucesso
Compreender a organização como sistema de processamento de informação implica em:
− Compreender a possibilidade de descentralização da organização
− Fluxos de comunicação racionalizados e econômicos
Princípios chaves Cibernética conduz à teoria da
comunicação e aprendizagem. Os sistemas devem:
− Sentir, monitorar e explorar aspectos importantes de seu ambiente
− Relacionar essa informação com as normas operacionais que guiam o sistema comportamental
− Detectar desvios
− Corrigir as discrepâncias, mudando o que for necessário
Wiener, o pai da Cibernética, acreditava que um mecanismo
robótico podia, algum dia, fazer o mesmo que um ser
humano, abrindo espaço para a Inteligência Artificial
A Ford e a metáfora cibernética Não conseguimos ver a Ford
por meio desta metáfora A empresa é dominada por sua
visão mecanicista do mundo, negando-se a novas aberturas
Há uma clara preponderância da área operacional da empresa sobre as demais
O autoritarismo do líder nega a descentralização
Em seu livro “Today & Tomorrow”, Ford vai dizer que o segredo do
“sucesso” da Ford é a normatização dos processos, algo
que a organização enquanto cérebro não admite
Cultura Este tema emerge com o
surgimento do Japão como potência industrial
Estuda-se a vinculação entre a cultura japonesa e os princípios que norteiam as organizações do país
A cultura japonesa teve papel central na criação do império econômico japonês
Uso de livros orientais com foco em gestão de empresas como “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, da China, se tornou moda
Princípios da Matsushita Diferentemente da maioria
das empresas, a empresa que se pode ver pela metáfora da cultura é fiel ao seu país de origem, aos seus valores, crenças e hábitos
Valores da Matsushita– A serviço da nação através da empresa
– Honestidade
– Harmonia e cooperação
– Luta pela melhoria
– Cortesia e humildade
– Adaptação e assimilação
– Gratidão
Forjando a cultura Cultura é algo que se forja a
partir de crenças, valores, rituais e heróis
Mas também através da exclusão do diferente
A cultura não é algo imposto, mas se desenvolve durante o curso da interação social
Logo, a cultura é forjada em processos de comunicação social
As organizações são fenômenos culturais, realidades socialmente construídas
Trabalhadores da Toyota, no Japão: eles acreditam que o
sucesso da empresa contribui, afinal, para o sucesso de seu
próprio país
A Ford e a metáfora cultural Assim como a cultura japonesa
influencia as empresas do país, a cultura norte-americana influencia a Ford
Mas como o filme vai mostrar, é um tipo de cultura específico, a do Meio-Oeste norte-americano
Uma cultura provinciana e limitada, especialmente uma cultura fechada em si mesma e avessa ao que é de fora
Henry Ford edita um jornal criticando uma suposta
conspiração judia contra a América
Sistemas políticos Política e jogo político
fazem parte da vida da organização
Uma organização que pratica a política não será, necessariamente, disfuncional
É útil lembrar que a atividade política permite encontrar os meios de negociação quando os interesses são distintos
Formas de governos As seguintes formas de governar
politicamente são variações mais comuns das regras políticas encontradas nas organizações:
− Autocracia: poder de um indivíduo ou pequeno grupo
− Burocrcia: poder exercido pela palavra escrita
− Tecnocracia: poder exercido pelo conhecimento técnico
− Co-gestão: opostos se entendem em função de interesses mútuos
− Democracia representativa: eleição de conselho com mandato para agir em nome dos outros
− Democracia direta: decisões são tomadas após consultas a todos
Funcionário da Varig protesta contr ao fim da empresa. A Varig tinha gestão fundacional, ou seja, era uma das poucas no país a usar o modelo de democracia representativa
Diferenças conceituais
Modelo− Autocrático
− Burocrático
− Tecnocrático
− Democrático
Solução− Eu quero assim
− As normas determinam que seja assim
− Tecnicamente é melhor fazer assim
− Como vamos fazer isto?
Cada modelo político tem uma forma de resolver divergências:
Rede de pessoas Esta metáfora encoraja a
ver as organizações como redes de pessoas independentes, com interesses divergentes, que se juntam em função de oportunidades como:
− Ganhar a vida− Desenvolver uma carreira− Perseguir um objetivo
Fontes de poder Autoridade formal Controle de recursos
escassos Uso da estrutura, regras e
regulamentos Controle do processo de
tomada de decisão Controle do conhecimento e
da informação Controle dos limites Habilidade de lidar com
incertezas
Controle da tecnologia Alianças interpessoais Controle da contra-
organização (sindicato) Simbolismo e administração
de significado Sexo e administração das
relações entre sexo Fatores estruturais que
definem a ação Poder já acumulado
A Ford e a metáfora política Analisar a Ford por meio desta
metáfora nos permite ver que o jogo político na empresa girava em torno de uma só pessoa: Henry Ford
Ele concorreu a senador e perdeu justamente em meio a uma enorme comunidade onde moravam seus empregados
Compreendeu mal a crise de 1929 Achou que bastava fretar um navio para
acabar com a guerra Recusou-se a negociar com os
sindicatos, deixando a empresa ser destruída
Resistiu a mudar o tipo de carro que fazia contra todas as evidência de que devia fazer isso
A metáfora política pode ser aplicada à Ford, mas somente
por meio do modelo autocrático de
gestão, onde uns poucos mandam e os
outros obedecem
Prisão psíquica Freud assinala que o
inconsciente é criado à medida em que seres humanos reprimem desejos
É possível compreender a cultura organizacional como as inquietações e interesses inconscientes daqueles que a criam e a mantêm
Organizações e alma Considerando a mente
humana, as organizações podem tomar diversas formas:
− Sexualidade reprimida− Família patriarcal− Morte e imortalidade− Ansiedade− Bonecas e ursinhos− Sombra e arquétipos
Família patricarcal Modelo usual no Brasil, país
com tradição autoritária o No Brasil, as empresas têm
forte viés paternalista As pessoas esperam que as
respostas venham sempre do pai, do líder, do chefe, do “presidente”
O “pai” pune, premia, reconhece, conforta, castiga e alimenta
A Ford e a prisão psíquica Observar a Ford através
desta metáfora evidencia o quanto a visão de mundo de Henry Ford permeava as relações de poder na empresa
Antipático, racista, elitista, ele manda contratar capangas para bater nos trabalhadores que se recusavam a voltar ao tabalho Ford recusa-se a mudar o carro que
achava ideal para o público, revelando seu apego inconsciente a situações
confortáveis, estáticas, de pouco risco
Fluxo e transformação Nada no universo é estático Tudo muda Nesse sentido, é possível ver a
organização como fluxo e transformação:
− Evolução via auto-reprodução− Evolução via feed back positivo e
negativo− Evolução através de crises e
contradições
Sistemas vivos Os sistemas podem ser
caracterizados como tendo “ambientes” dentro de si
As relações com qualquer ambiente são internamente determinadas
O ambiente é parte da organização do sistema
Transações de um sistema com seu ambiente são, na verdade, transações do sistema consigo próprio
Mudanças internas Esta metáfora encoraja
o entendimento da transformação ou evolução dos sistemas organizacionais como o resultado de mudanças geradas internamente
A Ford e o fluxo e transformação O filme revela as mudanças
promovidas pela empresa no mercado de automóveis
Deixa claro que a empresa foi revolucionária em muitos sentidos
E que muitas das mudanças implementadas pela empresa surgiram a partir da visão de mundo de seu fundador
Embora tenha sido inovadora, a empresa repentinamente pára de criar
Esta metáfora nos permite perceber que a Ford é uma
empresa que reage a crises, nunca se antecipando a elas
Instrumentos de dominação Nesta metáfora, as
organizações são vistas como reflexo das divisões de classe
Max Weber identifica 3 tipos de dominação:
− Carisma: influência em virtude de qualidades pessoais
− Tradição: influência com base no respeito a uma tradição
− Razão ou lei: influência legitimada por leis
Divisão Há uma clara divisão na
organização entre os “de cima” e os “de baixo”
Esta divisão se manifesta em vários sentidos:
− Remuneração muito diferente
− Restaurantes diferentes− Acomodações diferentes
A Ford e a dominação O filme evidencia que a Ford
pode também ser vista através desta metáfora
Enquanto o patrão desdenhava o dinheiro que recebia, recusava-se a sentar para negociar com os trabalhadores
O dinheiro “não era importante”, mas as greves evidenciavam conflitos que resultavam até em atos violentos
Metáforas são visões de mundo Além de possibilitarem uma
compreensão mais aprofundada das organizações, as metáforas permitem perceber como cada segmento da companhia vê a organização
A oportunidade de compreender estas visões distintas permite perceber se a organização tem uma visão articulada sobre si mesma ou se as visões sobre a empresa são fragmentadas e diversas
A Ford e as metáforas A análise da Ford por meio das
metáforas de Morgan revela uma empresa que se vê como máquina, mas tem traços de prisão psíquica e sistema de dominação
Estas marcas a tornam uma empresa inflexível, que tentará impor sua visão de mundo a funcionários, primeiramente, mas também a clientes e à sociedade
Esta análise permite antever uma empresqa que tem
dificuldades em mudar e pode enfrentar problemas em meio a uma época onde concorrentes
ancoradas em outras essencias podem se tornar
mais flexíveis e passar a dominar o mercado
Armando Levy Formado em Comunicação Social pela FAAP –
Jornalismo Especialização em Gestão da Comunicação – ECA-USP Especialização em TI Aplicadas à Nova Economia –
FGV Mestrado em Teoria e Pesquisa em Comunicação –
ECA-USP Repórter de O Globo, Folha e Revista 4 Rodas Gerente de Comunicação da Credicard, Vesper e
Banco 1 (Unibanco) Diretor da e-Press Comunicação Consultor do Núcleo de Formação Profissional da
Câmara Brasil Alemanha Autor do livro: “Propaganda, a arte de gerar
descrédito”, Editora da FGV armando@epress.com.br
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