View
219
Download
2
Category
Preview:
Citation preview
1 Compreensão Leitora
A leitura é um meio necessário à aprendizagem na escola, visto que o
processo de escolarização, especialmente o da aquisição da escrita, se dá por
uma interação entre o autor e o leitor. A partir dessa premissa, percebemos a
complexidade da questão, visto que o aluno encontra no texto escrito uma
ferramenta essencial para o processo de aprendizagem, e para tanto deve buscar
a compreensão do texto para que de fato a aprendizagem aconteça. "A leitura do
mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior desta não possa
prescindir da continuidade da leitura daquele." Paulo Freire, A importância do
ato de ler em três artigos que se completam. (1986)
A relação ler e compreender tem sido uma constante no dia a dia da
escola. Relatos e pesquisas realizadas nesse campo apontam deficiências na
aprendizagem decorrentes das dificuldades de interpretação nas mais diversas
formas que os textos se apresentam.
Ao receber um texto, o leitor aplica seus próprios códigos ou
esquemas cognoscitivos e o seu patrimônio de conhecimento, às circunstâncias
da leitura (contexto), que segundo Orlandi (l996) em Interpretação; Autoria,
Leitura e efeitos do trabalho simbólico.
Nesse sentido o texto "original" é uma ficção, ou melhor é uma função de historicidade, num processo retroativo.(...)o texto em sua materialidade, como uma "peça" com suas articulações, todas elas relevantes para a construção do ou dos sentidos. (ORLANDI, 1996, p.14).
O processo de compreensão em leitura implica assim em construção do
sentido do texto. Para tanto o leitor necessita ativar a memória, ativação essa que
está diretamente relacionada ao seu conhecimento prévio, que Ferrero (1987, p.
15) assim descreve: “ toda leitura é interpretação, e o que o leitor é capaz de
compreender e de aprender através da leitura depende fortemente daquilo que o
leitor conhece e acredita a priori, ou seja antes da leitura".
A dificuldade com a leitura não está somente na aquisição e
domínio de um sistema de notação e de transformação do oral, mas no modo
como a escrita, competência cultural ligada ao mundo sócio-econômico-político,
tem sido retratada pela escola e conseqüentemente o devido papel da leitura e as
atividades mentais que devem ser elaboradas nas atividades de ler. Assim, a
leitura será vista como habilidade lingüística, percebendo a relação existente
entre fala, leitura e a escrita, e suas multiciplicidades de fatores que intervém no
processo destas aprendizagens (aquisição do conhecimento, desenvolvimento
emocional da criança, evolução de seu processo de interação social).
Segundo Rosenblatt (1980), Apud Ferrero (1987) em Os processos de
leitura e escrita. (p.15):
Para compreender o processo de leitura, devemos compreender de que maneira o leitor, o escritor e o texto contribuem para ele. Uma vez que (...) "a leitura implica uma transação entre o leitor e o texto, as características do leitor são tão importantes para a leitura como as características do texto. (ROSENBLATT (1980), Apud Ferrero, 1987, p.15).
A competência do leitor é fundamental para o seu êxito no processo de
ler e compreender. Mas também há que se considerar o propósito, a cultura
social, o conhecimento prévio, o controle lingüístico, as atitudes e os esquemas
conceituais. O que o leitor é capaz de compreender e de aprender depende
fortemente do que conhece e acredita, a priori antes da leitura.
Segundo Giasson (1998), apud Braga e Silvestre (2002) Construindo
o leitor competente:
A compreensão na leitura não pode dar-se se não houver nada com que o leitor possa relacionar a nova informação fornecida pelo texto. Para compreender, o leitor deve estabelecer relações entre o novo (o texto) e o conhecido (os seus conhecimentos anteriores). (BRAGA E SILVESTRE, 2002, p. 22).
Na realidade, o autor utiliza na leitura o que ele já sabe o
conhecimento adquirido ao longo de sua vida. Que Freire (1986, p.11) assim
descreve: "(...) a leitura do mundo precede a leitura da palavra e que a posterior
leitura desta não pode prescindir a leitura daquela". É mediante a interação de
diversos níveis de conhecimento como o conhecimento lingüístico, o textual, o
conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto.
O conhecimento lingüístico, segundo Kleiman (1989, p.13) em Texto
e Leitor "desempenha um papel central no processamento do texto", em que as
palavras se agrupam em unidades ou frases maiores, significativas. À medida que
as palavras são percebidas a mente é ativada para construir significados. Nessa
atividade o primeiro passo é o agrupamento em frases, processo pelo qual é
chamado de 1texto. Como o conhecimento que se tem sobre nossas ações. Por
exemplo: ir ao dentista, assistir a uma aula, porque já se pode descrevê-los como
conhecimentos estruturados, (porque já estão ordenados) e parcial (inclui o que é
mais genérico e previsível das situações) sobre um assunto, evento ou situações
típicas. O conhecimento parcial estruturado em nossa memória é chamado de
esquema, podendo determinar em grande parte expectativas sobre a ordem
natural das coisas, permite economia, na comunicação, visto que deixa implícito
aquilo que é típico de uma situação, e seletividade na codificação ao se usar
palavras com as quais se tenta descrever para outro experiências, utilizando o
léxico necessário para que o interlocutor compreenda a mensagem transmitida.
A leitura é assim uma atividade de busca pelo leitor, no seu passado de
lembranças e conhecimentos, daqueles que são relevantes à compreensão do
texto, fornecendo pistas e sugerindo caminhos, mas que certamente não esclarece
tudo o que seria possível de esclarecer.
A produção escrita que se encontra disponível não é um produto
isolado, não ocorre no vazio, mas é resultante da integração de um complexo
mundo sócio-econômico, que, segundo Josette Jolibert (1997), apud Braga
(2002) Construindo o leitor competente.
Escritos complexos, padronizados, característicos de uma sociedade e de uma época determinadas e em geral constituídos por muitos textos diferentes: jornais, revistas, livros, catálogos, dicionários, disquetes de informática, etc. (...) indícios do contexto textual e contexto de situação, são indispensáveis à compreensão dos escritos.
(... ) A observação e a análise desses índices devem ser incorporadas à leitura para que o aluno-leitor "enxergue" que a produção escrita é uma atividade comunicativa, dotada de uma função social, realizada em uma determinada situação, que abrange tanto o conjunto de enunciados que lhe deu origem quanto as condições em que foi produzido. (BRAGA, 2002, p.25).
O grande desafio das escolas, hoje, é explorar a leitura em todas as
áreas do conhecimento, delineando objetivos específicos para sua exploração,
que segundo Kleiman (1989, p.30) as atividades de leitura ora desenvolvidas,
são, muitas vezes, "difusas e confusas, (...) se constituindo apenas em pretexto
para cópias, resumos, análise sintática, e outras tarefas de ensino de língua".
Nesse sentido, reforça a necessidade de que seja fornecido um
objetivo, propósitos claros para a leitura, pois a capacidade de compreender e
lembrar de forma seletiva de uma informação está diretamente relacionada ao
propósito da leitura. A citada autora considera uma "estratégia metacognitiva" a
capacidade de estabelecer objetivos na leitura, "(...) é uma estratégia de controle
e regulamento do próprio conhecimento" (1989, p.34).
Afirma ainda que
A leitura que não surge de uma necessidade para chegar a um propósito não é propriamente leitura; quando lemos porque outra pessoa nos manda ler, como acontece freqüentemente na escola, estamos apenas exercendo atividades mecânicas que pouco tem a ver com o significado e sentido. Aliás, essa leitura desmotivada não conduz à aprendizagem. (KLEIMAN, l989, p.35).
O que se defende é que a pré-determinação de objetivos não é
maléfica, e que deve ser trabalhada de forma artificial, ou seja, realizar tarefas
interessantes e significativas para o desenvolvimento do aluno, sem que ela
perceba que está decidindo por si mesmo, sobre aquilo que lê. Indiretamente
estará desenvolvendo estratégias metacognitivas necessárias e adequadas ao ato
de ler.
Ao se explorar os objetivos da leitura, outro aspecto vem contribuir à
compreensão: a formulação de hipóteses, pois favorece:
O reconhecimento global e instantâneo de palavras e frases relacionadas ao tópico, bem como inferências sobre palavras não percebidas durante a "sacada" (...) material que os nossos olhos, muito rapidamente, continuam a trazer para o cérebro processar. (KLEIMAN, 1989, p. 37).
As hipóteses também predizem conteúdos, estruturas textuais, ao
confrontar informações o leitor estará exercendo reflexão e controle consciente
sobre o próprio processo de compreensão. As predições são baseadas no seu
conhecimento de mundo. Quanto mais tiver conhecimento sobre o assunto, mais
acertos terá de sua predição. As hipóteses levantadas pelo leitor devem ser
testadas através das marcas textuais deixadas no texto pelo autor. A tarefa do
leitor proficiente é refutar ou confirmar as suas hipóteses. À medida que o leitor
tem a confirmação das hipóteses, vai adquirindo mais confiança nas suas
estratégias para resolver os problemas na leitura.
Segundo Solé, (1998), em Estratégias de leitura:
(...) quando levantamos hipóteses e vamos lendo, vamos compreendendo e, se não compreendemos, nos damos conta e podemos empreender as ações necessárias para resolver a situação. Por isso a leitura pode ser considerada um processo constante de elaboração e verificação de previsões que levam à construção de uma interpretação. (SOLÉ, 1998, p. 27).
Esse mecanismo de natureza metacognitiva, se opõe a práticas
automativas e mecânicas de leitura, muitas vezes vivenciadas na escola. Favorece
pois, a proposição de atividades nas quais a definição de objetivos, a predição, a
auto-indagação sejam priorizados, criando espaços para desenvolver e aprimorar
estratégias metacognitivas na leitura.
Desta forma se pretende formar um leitor proficiente, ou seja, aquele
que é capaz de identificar os vários tipos de leitura, seus objetivos e as estratégias
utilizadas para o estabelecimento do significado do texto. Para tanto é necessário
motivá-lo à leitura prazerosa, que lhe desperte significação e interesse.
Geralmente, é significante para o leitor aquilo que se relaciona com a sua vida,
que desperta a curiosidade, que o faz compreender o mundo ou ir além da
imaginação, descobrindo novas possibilidades de agir sobre ele e melhor viver e
conviver.
Outro aspecto que tende a contribuir a leitura compreensiva é
favorecer ao aluno o contato com tipologias diversas de textos.
Segundo Pinheiro e Almeida, em Práticas e representações (1997, p. 19).
Quanto mais conhecimento textual o leitor tiver, quanto maior a sua exposição a todo tipo de texto, mais fácil será sua compreensão. É o conhecimento de estruturas textuais e de vários tipos de discurso que determina em grande medida, suas expectativas em relação aos textos, expectativas que exercem um papel considerável na compreensão. (PINHEIRO E ALMEIDA, 1997, p. 19).
1.1 Níveis de Compreensão Leitora
Como já foi enfocada anteriormente a compreensão leitora depende de
um grande número de fatores complexos e que se relacionam entre si. Com certo
conhecimento teórico sobre estes fatores, é possível detectar o foco das
dificuldades de compreensão e alternativas de facilitá-la.
Segundo Alliend e Coldemarín (1987, p. 141): “(...) o problema da
avaliação da compreensão leitora deverá colocar-se como função do nível da
habilidade leitora da pessoa e sua relação com o grau de complexidade do
material impresso”. Esses autores sugerem a taxonomia de Barret, que abrange as
dimensões cognoscitivas e objetivas da compreensão leitora, para se efetivar esta
avaliação, apesar de se utilizar este mecanismo mais precisamente para textos
narrativos. São descritos três níveis, quais sejam:
O nível de compreensão literal que envolve as informações explícitas,
ou seja, considera-se tudo que está expresso literalmente. Este tipo de
compreensão dá margem para os subseqüentes. É dividido em reconhecimento e
lembrança.
O reconhecimento consiste em localizar e identificar elementos do
texto, como detalhes (localizar e identificar fatos como nome de personagens,
incidentes, tempo e lugar da história), idéias principais (localizar e identificar
uma oração do texto que seja a idéia principal de um parágrafo ou de um trecho
mais extenso do texto), seqüência (localiza e identifica a ordem de incidentes ou
ações explicitamente colocadas no texto), relações de causa e efeito (localizar ou
identificar as razões que, estabelecidas com clareza, determinam um efeito), e
traços de personagens (localizar ou identificar colocações explícitas sobre um
personagem que ajudem a destacar o tipo de pessoa em questão).
Nesse momento devem emergir lembranças como: fatos, épocas,
lugares da história, fatos minuciosos, idéias ou informações colocadas claramente
no texto.
A compreensão literal consiste na reorganização das idéias,
informações ou outros elementos do texto, mediante processo de classificação,
esboço, resumo e síntese. A classificação consiste em localizar em categorias:
pessoas, lugares e ações mencionadas no texto. O esboço nada mais é que a
reprodução do texto de forma esquemática, fazendo uso de frases ou mediante
representações ou disposições gráficas. O resumo consiste na condensação do
texto, através de frases que reproduzem os fatos ou elementos principais. Por
último, a síntese, que vem converter diversas idéias, fatos ou alguns elementos do
texto através de formulações mais amplas.
Na compreensão interpretativa ou inferencial, o aluno usa as idéias e
informações explícitas dispostas no texto, utiliza sua intuição e experiência
pessoal como base para conjunturas e hipóteses. Esse tipo de compreensão se dá
pela inferência de detalhes, de idéias principais, de seqüências, de causa e efeito,
dos personagens.
Na compreensão crítica, o aluno formula um juízo de valor, compara
as idéias apresentadas no texto com critérios externos, provenientes de outros
meios escritos, ou então com um critério interno, dado pela experiência do aluno,
seus conhecimentos e valores. Os juízos formulados são de realidade ou fantasia
(o aluno faz a distinção do que é real no texto e o que pertence a fantasia do
autor) e de valores (o aluno emite julgamentos frente a atitude do personagem ou
dos personagens).
O importante é trabalhar os três níveis de compreensão leitora,
conforme esclarece Pinheiro e Almeida, em práticas e representações:
Trabalhar apenas o nível literal ou não explorá-lo da forma conveniente não contribui para a formação de leitores capacitados. Como sabemos, o autor não inclui todas as informações no texto, mas conta com o leitor para isso, a partir do conhecimento previamente adquirido por este. Daí a importância da compreensão interpretativa. Trabalhá-la é apreender informações que estão implícitas, mediante pistas, fornecidas pelo texto. Isto quer dizer que as inferências criadas pelo leitor estão naturalmente baseadas naquilo que foi dito pelo autor. (PINHEIRO E ALMEIDA, 1997, p. 35).
2 A INFERÊNCIA E SUA SIGNIFICAÇÃO
Um leitor proficiente é aquele que, além de decodificar a escrita, consegue
ler inúmeras informações implícitas nas entrelinhas, que exigem do leitor a partir
dos seus objetivos, um amplo conhecimento do assunto, do sistema da escrita e
das convenções da linguagem escrita, de seu conhecimento da língua, das
estruturas textuais e do conhecimento de mundo. Dessa forma, o uso dessas
informações que o leitor traz consigo para a interpretação chamamos de
inferência. Como afirma Koch em, Texto e coerência (1997):
Basicamente se entende por inferência aquilo que se usa para estabelecer uma relação não explicita no texto, entre dois elementos desse texto. As inferências surgem de uma necessidade e do conhecimento de mundo do leitor (ouvinte). ( KOCH, 1997, p.70).
Concordando com a autora, Brown e Yule em Texto e coerência
(1983) apud Koch (1997, p. 70) afirmam que:
Inferências são conexões que as pessoas fazem quando tentam alcançar uma interpretação do que lêem ou ouvem, isto é, o processo através do qual o leitor (ou ouvinte) consegue captar a partir do significado literal do que é escrito ou dito, o que o escritor falante pretendia veicular. A inferência estabelece uma relação entre idéias do discurso. (BROWN E YULE, 1997, p. 70).
Entendemos que o leitor é capaz de fazer ricas inferências e
dependendo de seu conhecimento prévio, estabelecer uma relação entre duas
idéias do discurso. Pois é através dessa relação que ele percebe as informações no
texto, e também, a ordem em que acontecem os fatos. Esclarece Begraund e
Dressler apud Koch:
Inferências é a operação que consiste em suprir conceitos e relações razoáveis para preencher lacunas (vazios) e descontinuidades em um mundo textual. O inferenciamento busca sempre resolver um problema de continuidade de sentido. (KOCH, 1997, p.70).
O leitor só pode dizer que leu um texto a partir do momento que se constrói
o seu significado tornando-se capaz de inferir nele suas experiências, seus
sentimentos e suas opiniões.
Como afirma Isola em: Leitura: inferência e contexto-social (1991)
A inferência revela-se como conclusão de um raciocínio, como elaboração de pensamento, como uma expectativa. Sua manifestação envolve estados afetivos individuais e reações socialmente marcadas, que sob forma de confiança ou inquietação, constituem diferentes graus de crença. (ISOLA, 1991, p.39).
Percebemos dessa forma, que os leitores trazem consigo um universo
de informações e opiniões formadas sobre vários tipos de assunto.
É importante salientar, que o contexto é decisivo para o uso das
inferências. A relação entre as idéias depende exclusivamente do contexto. A
mesma autora (1991, p.46) descreve esta citação esclarecendo a respeito da
descoberta de novas informações, partindo de uma anterior afirma que a
Inferência é um processo cognitivo que gera uma informação semântica nova, a
partir de uma informação semântica anterior, em um determinado contexto.
Entretanto, não basta que o leitor faça tal relação para que a influencia
aconteça, segundo Isola (1991, p.46) “A inferência ocorre também quando o
leitor busca extratexto informações e conhecimento adquiridos pela experiência
de vida com as quais preenchem os “vazios” lexicais.”
Partindo de citação, observamos que o leitor é capaz de descobrir e que
o interior de um texto pode nos trazer através de seus conhecimentos
armazenados na sua memória. Isso não acontece por acaso. O uso das inferências
depende de processos que tornam a compreensão textual possível. Segundo Isola
(1991, p. 48) “Todo o processo de inferência conduz a traços de memórias. A
memória é um fenômeno que atua tanto na compreensão de um texto quanto nos
processos inferências”.
Todavia, é através dos indícios textuais que a inferência se conclui.
Como afirma Garcia (1997, p. 293): “inferir é concluir, é deduzir pelo raciocínio
apoiando apenas em indícios”.
Comparando a citação acima com as anteriores, concluímos que a
inferência é realmente um processo cognitivo que leva o leitor a descobrir no
texto a verdadeira intenção do escritor ou do narrador.
2.1 Tipos de Inferências
Para Carpentier e Just, em Leitura: inferência e contexto-social,
(1977) (apud Isola, 1991, p. 54) há duas possibilidades de inferências: As que são
extraídas a cada momento, durante a compreensão, e as que são geradas somente
se houver necessidade de se estabelecer uma ponte de conexão com o fim de
preencher um vazio textual.
Ambos denominam o primeiro tipo de inferência catafórica e o
segundo anafórica distinguindo-os entre si:
O primeiro tipo é denominado inferência catafórica, porque refere-se a partes do texto que provavelmente, seguem aquela que gerou a inferência. Por exemplo: O turista tirou uma foto da igreja - A cena foi a mais bela de que se lembrava. O segundo tipo é chamado de inferência anafórica porque refere-se apartes do texto que precedem o que gerou a inferência: por exemplo: O turista tirou uma foto da igreja. - A câmera era a melhor que ele havia possuído. (ISOLA, 1991, p. 54).
Observamos que no primeiro caso a inferência é feita a partir da leitura
e no segundo caso refere-se a partes textuais precedentes, pois pelo elemento
anafórico (ele) constata-se que o turista tinha uma câmera.
Já Frederiksen, c; Frederiksen J; Humphrey e Ottesen, (1979) apud
Isola, (1991, p.56) distinguem quatro tipos principais de inferências:
I Inferência de Primeiro Estágio asseguram a interpretação da sentença lida, tais inferências podem ser consideradas a garantia da compreensão, uma vez que asseguram a interpretação. 2 - Inferências Conecutivas atuam como ligação entre preposições presentes no texto e proposições que as precedem, preenchendo “fendas” ou “brecha” textuais. 3. Inferências Estruturais compõe uma organização temática para o texto. São responsáveis pela montagem, organização e reorganização da estrutura do assunto que esta sendo tratado nele. 4. Através das Inferências Extensivas, liga-se o que foi lido ao conhecimento prévio do leitor, e também as idéias espontâneas e associações. Essas inferências são chamadas de elaborações (ou elaborativas) .( ISOLA, 1991, p. 56).
Charroles em Texto e coerência, (1987) apud Koch, (1997, p.71)
apresenta-se uma classificação das inferências em diferentes tipos, considerando-
as obrigatórias que podem ser verificadas através dos tipos e exemplos
apresentados pelo mesmo autor. a) – substanciais, inalienáveis ou necessárias:
que seriam aquelas que não podemos fugir, que são obrigatoriamente feitas. Por
exemplo: João tem um scort XR3 – João tem um carro.”.
Sabemos que a palavra scort refere-se ao nome de um carro. Portanto,
se João tem um scort é óbvio que ele possui um carro. b) –“convidadas” ou
“possíveis”: que podem ou não ser feitas. Por exemplo: João tem um scort. –
João tem carteira de motorista.
Nem sempre todo dono de carro tem carteira de motorista. Por isso, o
fato de João ter um carro não é suficiente para provar que ele tenha uma carteira
de motorista, embora isso seja mais provável. c) – contextuais que variam com o
contexto. Por exemplo: Você sabia que o João parou de fumar? Esta pergunta dá
margem a várias inferências. Podemos simplesmente informar que João fumava e
agora não fuma mais ou sugeriu ao ouvinte parar de fumar ou ainda leva-lo a
uma reflexão sobre o mal causado pelo cigarro. d) – retroativas ou para trás: são
as que se fazem sobre o sentido de um termo ou expressão a partir de algo dito
posteriormente. Por exemplo: Pedro tem um grilo. a) alimenta-o todos os dias
(animal). b) não sabe se a namorada gosta dele (preocupado).”
Reder, em Leitura: inferência e contexto-social, (1980) apud Isola
(1991 p. 57) concordando com os autores citados acima, também distingue
inferências obrigatórias e não obrigatórias.
As inferências ‘obrigatórias’ são pretendidas pelo autor do texto a preencher os espaços em branco existentes neste e, assim contribuem para a coerência da representação mental. As facultativas não são pretendidas pelo autor; são elaboradas adicionais que enriquecem o conteúdo textual sem, contudo, contribuir para a sua coerência. (ISOLA, 1991 p. 57).
Marcuschi, em Leitura: inferência e contexto-social , (1985) apud
Isola, (1991, p. 71 - 76) denomina três grandes grupos de inferências divididos
em tipos e subtipos bem definidos, porem relacionados entre si. O primeiro grupo
refere-se a situações do cotidiano, o segundo grupo à especificação de
antecedentes, a relação entre determinados fatos, coincidências, suposições, fatos
verídicos e outros, o terceiro grupo refere-se a crenças, ideologias, manifestações
por parte do leitor, suas experiência, seu conhecimento cultural. “O primeiro
grupo de inferências, as inferências Lógicas ocorrem freqüentemente em
situações do cotidiano. As inferências Lógicas compreendem o pensamento
dedutivo, o indutivo e o condicional.”
Marcuschi em Comunicação em prosa moderna: escrever aprendendo
a pensar explica cada pensamento:
O pensamento dedutivo, quando a partir de enunciados mais gerais dispostos ordenadamente como premissas de um raciocínio chega-se a uma conclusão particular ou menos geral. Por exemplo: a lei assegura a toda criança na faixa etária de 7 a 14 anos o direito freqüentar a escola. Maria tem 10 anos. Portanto, Maria tem direito de freqüentar a escola.
O pensamento quando indutivo parte do registro de fatos singulares ou menos gerais para chegar a conclusão desdobrada ou ampliada em enunciados mais geral. Por exemplo: Muitos prefeitos são ladrões. Fulano é prefeito. As premissas não sustentam a conclusão de que fulano é ladrão. As inferências condicionais são geradas de enunciados hipotéticos ou condicionais, o fogo se acenderá. Caso contrario, ou o fósforo não foi riscado ou ele não estava em perfeitas condições. (MARCUSCHI, 1997, p. 279 ).
Ao concordar com a citação supracitada, Garcia em Comunicação em
prosa moderna: escrever aprendendo a pensar (1997, p.300), define os
pensamentos indutivo e dedutivo de forma mais objetiva: “Pela indução,
partimos da observação e análise dos fatos, concretos, específicos e para
chegarmos à conclusão; pelo dedutivo caminhamos do geral para o particular do
desconhecido para o conhecido”.
A partir das citações acima concluímos que é através da utilização de
ambos os métodos que a descoberta da verdade acontece.
A questão dos grupos anteriores da inferência apresentados por
Marcushi, (1985) apud Isola, (1991, p. 73 a 75) observa-se no segundo grupo a
distinção entre os seguintes tipos e subtipos de inferências: “1 – As inferências
analógicas ocorrem por identificação referencial, são as que especificam os
antecedentes de por exemplo: pronomes, ações ou eventos. Carlos resolveu bater
no cachorro. Ele fez isso a noite.”
O uso do pronome (ele) refere-se a Carlos que bateu (ação) no
cachorro. A inferência ocorre justamente quando o leitor é capaz de ver tais
características. Ainda no segundo grupo: 2 – As inferências por associações
ocorrem quando, em uma série de acontecimentos, o indivíduo relaciona um fato
a outro. Coincidências fortuitas costumam induzir os indivíduos a gerar – falsas
associações por exemplo: Aumentou a meningite no Brasil, após a Revolução de
março de 64 'Revolução aumenta meningite.
Essa última afirmação: “Revolução aumenta meningite” não deve ser
considerada, pois os indícios não provam que toda revolução aumenta a
meningite. Sendo assim tal associação demasiadamente falsa. 3. associações
prováveis: João tomou aspirina e curou-se da gripe persistente. Aspirinas cortam
gripes persistentes.
Entre outras indicações, a aspirina serve para combater a gripe de
acordo com o sistema imunológico e a intensidade da virose de cada pessoa
podendo ou não curar gripes e resfriados em determinados pacientes. 4 –
associações verdadeiras: O gato do vizinho não comeu mais e morreu. Animal
que não come mais morre.
Sendo a alimentação um elemento essencial para todos os seres vivos é
obvio que qualquer ser vivo que ficar sem alimento morrerá. 5 – A inferência por
analogia ocorre sempre que há um pressuposto de caráter hipotético que torna a
conclusão apenas provável. Por exemplo: Um médico realiza alguns
experimentos com babuínos para determinar os efeitos de uma nova substância
sobre organismo humano. Conclui que a substancia ministrada aos babuínos
provoca o aparecimento de alguns efeitos secundários indesejáveis.
A conclusão é que o remédio ainda não está aprovado para os seres
humanos, mas, posteriormente, através de pesquisas mais aprofundadas esse
mesmo remédio poderá ser aprovado para o homem ou mesmo totalmente
descartado. 6 – As inferências por composição e decomposição são geradas das
partes do discurso para a sua totalidade. Ex. A mãe vestiu o bebê. As roupas
eram feitas de lã macia..
Quando o leitor descobre que as roupas eram tão macias que a mãe
decidiu vesti-las no bebê a inferência ocorre.
O mesmo autor determina para o terceiro grupo três tipos de
inferências: As inferências pragmático-culturais – relacionam-se com os
conhecimentos pessoais, crenças e ideologias dos indivíduos. Subdividem-se em:
inferências conversacionais, experiências avaliativas e cognitivo-culturais. As
inferências conversacionais ocorrem nas manifestações que colaboram com a
produção de várias inferências. As inferências experiências - ocorrem a partir da
experiência do indivíduo. Por exemplo: A policia está ali! Esquema: Policia por
perto há alguma coisa além de uma simples festa”.
Basta a pronuncia do nome “policia” para se pensar alguma situação
de perigo. No momento que o leitor faz essa associação a inferência acontece.
Segundo Isola (1991, p. 77) “as inferências cognitivo-culturais ocorrem
marcadas pela inferência do indivíduo.”
Conforme Warren et alli em Leitura: inferência e contexto-social
(1979) apud isola, (1991, p. 76) 3- “as inferências avaliativas são próprias do
julgamento do leitor (ou do ouvinte). Envolvem crenças, valores e conhecimento
de mundo do receptor do texto.”
Segundo Koch, em Texto e coerência (1997 p. 72) "as inferências
podem ser limitáveis, apesar de que limitá-las não é uma tarefa fácil.
E apresenta alguns meios que limitariam as inferências:
a) contexto, que pode ser o contexto lingüístico (ou co-texto e o contexto de situação (contexto social, cultural, circunstancial), b) a cooperação retórica, em termos de aceitação de argumentos, c) a força locucionária do enunciado e a tarefa do ouvinte (ou leitor), d) a focalização. (KOCH, 1997 p. 72).
Apesar das possibilidades de limitações das inferências apresentadas, a
mesma autora (1997, p. 73) faz um alerta:
E preciso lembrar que freqüentemente o produtor do texto deseja que as inferências não sejam limitáveis, que o texto abra mintas linhas de possíveis inferências. É o caso do texto dúbio (com muitas falas políticas), textos de humor e propaganda ou polissêmico (como na literatura). (KOCH, 1997 p. 72).
Rickheit, Schotz e Stranher, (1985) apud Isola, (1991, p. 58)
determinam três aspectos fundamentais para a classificação da inferência: “O
input do processo de inferência, isto é, a informação nova que se está adquirindo;
ou ‘output’ do processo inferêncial, ou seja, o resultado da representação mental
do texto e a direção do processo entre input e o “output” em que ocorre a geração
da inferência”.
Observa-se que a relação input, output e a direção do processo entre
eles facilitam a geração de inferências, pois tanto a informação nova quanto os
indícios do texto são capazes de levar o leitor a fazer inferências.
Clark, em Leitura: inferência e contexto-social, (1977) apud Isola,
(1991, p. 58 - 59) classifica as inferências como processos de referências por
caracterização.
l – Referência direta é o processo inferêncial simples e comum em que há uma relação direta entre o referente e o referido. Por exemplo: Havia barulho na casa, apesar de estar vazia. Na copa, o rumor de torneiras abertas. Na sala, vidros se quebrando. Correria e pânico na vizinhança. (CLARK, 1991, p. 58 - 59).
Partido do exemplo apresentado para esse tipo de inferência,
verificamos que há uma relação direta entre o referente e o referido. Uma vez que
mencionados na frase referem-se diretamente a um objeto (casa) desta mesma
frase mencionado anteriormente.
O mesmo autor subdivide o processo inferêncial nos seguintes subtipos:
2 – O processo inferêncial de referencia direta subdividi-se em: identidade – ocorre a partir de uma conexão direta, por Exemplo: Eu vi um pivete ontem. O pivete me assaltou. Pronominalização ocorre quando se recorre a um pronome para substituir um sujeito, um objeto, um evento, uma ação, com um estado. Por exemplo: eu vi um pivete ontem. – Ele me assaltou 3 – epíteto – pode ser considerado apelido ou alcunha em geral depreciativa. O epíteto é identificado por inferência direta. Por exemplo: Encontrei um pivete ontem. O idiota roubou o meu dinheiro. Membro de um conjunto é o processo em que o leitor extrai inferências ao identificador, em um determinado grupo, algumas características de seus componentes. Por exemplo: Encontrei dois pivetes ontem. O mais alto roubou o meu dinheiro. (CLARK, 1991, p. 58 - 59).
Partindo dos exemplos observamos no primeiro caso – identificação –
a existência de uma conexão direta, a palavra pivete é pronunciada sem nenhuma
hesitação e refere-se diretamente ao menino que praticou o assalto. No segundo
caso – pronominalização – pronome, ele, refere-se ao pivete. Dessa forma evita-
se a repetição e não há prejuízo na compreensão. No terceiro caso – epíteto – a
palavra idiota refere-se diretamente ao pivete. A mesma expressa sentimento de
mágoa e raiva por parte de quem a pronuncia. No terceiro caso, membro de um
conjunto – a especificação da característica de um dos pivetes é uma forma
inteligente de se evitar que, um possível investigador, ou interessado no caso,
venha a confundir o culpado com o inocente.
Clark, (1977) apud Isola, (1991 p.60 - 61) define Referência Indireta
por Associação ilustrando-a com exemplos.
3 – Referência Indireta por Associação o que é referido é algo indiretamente associado a um determinado objeto, evento ou estado, as partes de informações associadas podem ser algumas vezes predizíveis, extraídas daquilo que foi mencionado, mas nem sempre isso ocorre. Por exemplo: 1 – Magda visitou a casa de campo – o teto era muito alto. 2 – Magda entrou em um dos quartos da casa de campo. Era habito estarem as portas trancadas. 3 – Magda foi até a sala de jantar. Os quadros eram valiosíssimos. (CLARK, 1991 p.60 - 61).
A partir dos exemplos, as inferências acontecem quando o leitor
entende que: no primeiro caso – o teto é uma parte essencial da casa. No segundo
caso – é provável que a porta de um dos quartos esteja aberta ou então Magda
tenha a chave de um deles No terceiro caso – o leitor é induzido a imaginar que
havia quadros na sala.
Inferências por caracterização – Quase sempre o que é referido é um
objeto que desempenha papel em um evento ou circunstâncias previamente
mencionadas. Por exemplo. Um assassínio é um evento que requer um ou mais
agentes (assassinos), uma arma e uma vítima.
Ainda Clark, (1977) apud Isola, (1991, p. 62 - 63) expõe através de
exemplos, cinco relações temporais que o leitor (ou ouvinte) pode inferir.
1 – Razão: João caiu. O que ele quis foi assustar Maria. 2 – Causa: João Caiu. O que ele quis foi assustar Maria. 2 – causa: João caiu. Ele tropeçou em uma pedra. 3. Conseqüência: João caiu. Ele quebrou o seu braço. 4-concorrência: João mora em New York. Maria é tola também. 5. subseqüência: João chegou à festa. Ele pegou uma bebida. (CLARK, 1991, p. 62 -63).
Observamos que ocorre influência quando o leitor entende que: l –
João caiu de propósito, por brincadeira. 2 – João caiu realmente e o que o levou a
cair foi uma pedra provavelmente exposta no seu caminho. 3 – João quebrou o
braço logo após a queda, isto é, o braço quebrado foi uma conseqüência da
queda. 4 – Quem mora em New York é tolo. João e Maria são tolos, pois ambos
moram em New York. 5 – Logo que João chega à festa vai logo procurar bebida
e embriaga-se, isto é, um evento após o outro.
O mesmo autor diferencia inferências autorizadas ou não autorizadas:
“As inferências autorizadas ocorrem quando o leitor infere algo pretendido pelo autor. Por exemplo: José pergunta a Adriano:
– Lacon é um psicanalista?Adriano responde:
O papa é católico?
As não autorizadas ocorrem quando o leitor infere algo não pretendido pelo autor.” (CLARK, 1991, p. 62 - 63).
Quanto ao exemplo apresentado para as inferências autorizadas
percebe-se a inferência quando o interlocutor entende que: Essa resposta
interrogativa “o papa é católico?” é o mesmo que dizer: claro que sim.
Warren, Nicholas e Trabasso (1979) apud Isola, (1991, pp. 65 - 69)
apresentam três tipos de inferências, cada tipo com subtipos:
1 – As inferências Lógicas respondem a questões por que? – As inferências Motivadoras envolvem a extração das causas, dos pensamentos, ações, objetivos voluntários de um personagem, ou reciprocamente predizem os pensamentos, ações, objetivos do personagem sob a base de causas estabelecidas. Por exemplo: Paulo sentiu muita raiva (impulso) Ele decidiu-se vingar-se do sócio (objetivo). As inferências Capacitacionais determinam condições que são necessárias, mas não suficientes, para um dado evento ocorrer. Por exemplo: Um vento bom estava soprando. Chico pode soltar seu papagaio. (ISOLA, 1991, p. 65 - 69).
Pelo exemplo, percebe-se que as inferências Capacitacionais não são
fáceis de serem feita pois os indícios não levam o leitor a fazer inferências
imediatas. O vento bom é, na verdade, um bom motivo para se soltar um animal,
mas não é o único e nem o principal. Chico poderia ou não soltá-lo.
O mesmo estudioso especifica, na citação seguinte, o segundo tipo de
inferências e conseqüentemente os seus subtipos:
2 – Inferências informativas indicam a causa ou conseqüência: A exceção das Elaborativas determinam as pessoas, causas, lugares, tempo, e o contexto geral de um dado evento. As pronominais são as inferências que especificam o antecedente de pronomes: Eu vi um pivete ontem. Ele me assaltou. (ISOLA, 1991, p. 66).
A inferência se dá quando o leitor consegue descobrir que o pronome
(ele) refere-se diretamente ao pivete.
As inferências Referenciais especificam antecedentes relacionados a ações ou eventos dados quando a referência não é pronominalmente marcada: Guilherme encontrou o carro de Ana no estacionamento, e esvaziou iodos os pneus. ( ISOLA, 1991 p.67).
A inferência acontece, nesse caso, quando o leitor descobre que os
pneus pertencem ao carro de Ana.
As inferências Espaço Temporais estabelecem, como o próprio nome diz, uma proposição ou uma série de proposições de lugar e de tempo e determina sua duração. As inferências Esquema de Mundo partilham algumas características da inferências partilham algumas características da inferências e Espaço Temporais. Essas inferências restringem-se possíveis interpretações de preposições ambíguas ou confusas, alimentando algumas possibilidades e especificando outras. (ISOLA, 1991 p.68).
Segundo Van Dijh e Kintsch (1983) apud Isola (1991, p. 69):
As Inferências Elaborativas ou Elaboração ocorrem quando o leitor usa o seu conhecimento sobre o tópico em discussão, para preencher um detalhe adicional não mencionado no texto; ou para estabelecer conexões entre o que está sendo lido e itens de conhecimentos relacionados. (ISOLA, 1991 pp. 67-68).
Em relação ao terceiro tipo os mesmos autores afirmam que:
3 – As Inferências Avaliativas são próprias do julgamento do entendedor, baseado em situações relatadas pelo autor (ou falante).
Envolvem ‘mora’ e convenções, anormalidades em pensamentos ou ações de personagens e no estilo. Ex: O personagem faz bem ou mal? Você condenaria ou não fulano por tal assunto? (VAN DIJH E KINTSCH, 1983, apud Isola, 1991, p. 69)
As inferências Avaliativas conduzem o leitor a uma reflexão antecipada
antes de responder determinadas questões. O leitor é induzido a fazer uma
retrospectiva no seu subconsciente tentando resgatar tudo aquilo que sabe sobre o
assunto em questão.
Do exposto, infere-se que a compreensão da linguagem é então um
verdadeiro jogo entre aquilo que está explícito no texto e aquilo que o leitor
insere por conta própria, a partir de inferências que faz, baseado no seu
conhecimento de mundo e da língua. Assim, no capítulo que segue, é preciso
deter a atenção sobre as condições de produção das inferências, o que significa
avaliar a leitura como um processo de interação entre o leitor e o texto.
2.2 o Ato de Inferir
Entendemos que de acordo com o conhecimento do mundo do leitor, ele é
capaz de compreender os vários tipos de leituras oferecidas por um texto.
Como afirma Isola, (1991, p. 36). “Compreender um texto é ter acesso a
uma das leituras que ele permite, é buscar um dos sentidos possíveis oferecidos
por ele, determinado pela bagagem sócio-cultural que o leitor traz consigo.”
Ao ler um determinado texto, o leitor associa de forma lógica o conteúdo
textual à sua bagagem intelectual, social e cultural desvendando assim as
informações implícitas nas entrelinhas do texto. Na verdade, a leitura é um ato de
atribuição de significado a um texto escrito. É uma relação que se estabelece
entre o leitor e o texto codificado, relação na qual o leitor reconstrói seu próprio
significado, a partir dos seus objetivos, do conhecimento do assunto, sobre o
autor, a língua, o sistema da escrita e de seus conhecimento prévios e de mundo.
Contudo, o leitor só pode inferir no texto seus conhecimentos e suas
experiências mediante uma metodologia favorável à interpretação. É através das
condições apresentadas por essa metodologia que a inferência torna-se possível
de ser avaliada. A metodologia aqui utilizada é aplicação de um teste cloze
baseado em Alliende e Condemarim ( 1987, p. 141 a 144) . Os quais nos
orientam para sua realização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo procuramos investigar a inferência na compreensão
textual, elemento indispensável na análise do discurso escrito, embora não seja
muito questionado. Na tentativa de comprovar a verdadeira importância do uso
da inferência buscamos respostas nas teorias lingüísticas de estudiosos do
assunto: Isola, Koch, Garcia e outros, os quais não determinam regras para a sua
aplicação e sim tipos de inferências que um leitor sendo ou não iniciante, é capaz
de fazer dependendo apenas de uma cuidadosa reflexão sobre as informações
existentes na estrutura interna do texto.
Recommended