View
215
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
O livro Drogas: Vida Roubada é uma publicação do deputado Darci de Matos com o
objetivo de conscientizar os jovens sobre os males causados pelas drogas.
Autor:
Darci de Matos
Pesquisa:
Domingos de Abreu Miranda (MTb/SP 18.888)
Revisão:
Mara Rúbia Marques Rodrigues
Título do livro:
Hugo Gomes
Projeto gráfico e diagramação:
Avenida Propaganda
Capa:
Avenida Propaganda
Todos os direitos reservados. Qualquer parte deste livro pode
ser utilizada ou reproduzida deste que citada a fonte.
Escritório do deputado Darci de Matos
Rua General Valgas Neves, 354 - Anita Garibaldi
89202-138 - Joinville - SC
Fone: (47) 3025-2535
darci@darcidematos.com.br
O mal do século
“O uso de drogas ilícitas pode ser considerado o pior mal deste século. Esta guerra
ainda não está perdida. Precisamos fazer uma cruzada com todas as forças vivas da
comunidade para salvar esta geração.”
Darci de Matos
Deputado estadual
Prefácio
O mundo vive um grande desafio: como vencer a guerra contra as drogas. A
preocupação de pais e mães de jovens hoje em dia é como tentar manter os filhos longe
desse pesadelo, que muitas vezes não tem fim.
Em todas as vezes que fui e sou convidado a conversar com os jovens em
universidades de todo o Estado, reitero que alguns fatores são imprescindíveis para que
se mantenha essa ameaça longe das nossas vidas. Entre esses fatores, estão a
conscientização e a ampla divulgação de informações sobre o assunto, a prática de
esportes, por dar noções de disciplina e incentivar a vida em comunidade e,
principalmente, a valorização dos princípios e da família e é nela que deve haver o
diálogo franco sobre o tema.
É fundamental que em todo o País, sejam tomadas iniciativas públicas ou privadas,
com uma política forte de combate à violência e às drogas, bem como ao desemprego
—que hoje atinge praticamente a metade dos jovens de 18 a 29 anos. O primeiro passo
foi dado em julho de 2010, quando foi aprovada a PEC da Juventude, que estende aos
jovens a proteção e os direitos já consagrados às crianças e aos adolescentes, além de
prescrever a elaboração do estatuto e do plano nacional da juventude.
Dados mostram que 60% dos presos têm entre 18 e 29 anos e que 11% das mortes
por armas de fogo no mundo são de jovens. Das mais de 103 mil mortes violentas no
Brasil, 41% foram de pessoas entre 15 e 29 anos. O jovem, ao mesmo tempo em que é a
maior vítima, é também o que mais comete crimes.
Na tela do computador, no papel ou no congresso, isso são apenas números, mas,
na realidade, esses dados representam famílias que convivem diariamente com dramas
como a falta de renda, a violência, as drogas e o descaso do poder público. Os jovens
precisam ter garantidas na Constituição ações efetivas de desenvolvimento psicológico,
econômico e social.
Garantir os direitos à juventude é essencial para que o Brasil torne-se um país mais
justo e competitivo no futuro.
Raimundo Colombo
Governador de Santa Catarina
ApresentaçãoAs drogas existem desde o início da humanidade; porém, o seu consumo nunca
assumiu um caráter tão disseminado como agora, trazendo sérios riscos à saúde pública.
Em busca de dinheiro para comprar mais uma dose de entorpecente, milhões de
usuários praticam os mais diversos crimes. Famílias inteiras passam por verdadeiras
torturas psicológicas por causa de um membro envolvido com este vício. A sociedade
trabalha em cima do tripé —repressão, prevenção e tratamento —para enfrentar esta
chaga responsável por tantos males.
Queremos, com este livro, reforçar o movimento, que vem crescendo no Brasil, de
esclarecimento sobre a armadilha que é a droga. Inicialmente ela pode até trazer algum
prazer, mas depois leva a pessoa a um caminho de destruição, que geralmente não tem
volta e acaba na morte. Esta publicação é voltada especialmente para os adolescentes
que, com sua natural curiosidade, muitas vezes buscam o “diferente” e caem nas garras
dos traficantes. Este trabalho também serve aos pais, irmãos, parentes e amigos que
lutam para tirar alguém deste atoleiro. Sempre digo que a família vive uma luta
constante com o traficante pela posse do jovem. Qualquer brecha pode fazer com que o
inimigo penetre no seu lar através da droga.
Felizmente, para combater o exército do mal, há uma legião de abnegados que
lutam de todas as maneiras para salvar uma vida e barrar a ação dos traficantes. Vamos
cerrar fileiras neste grupo. Os judeus dizem que salvar uma vida significa salvar a
humanidade. E nós acrescentamos: tirar um jovem das garras do traficante indica que
podemos vencer esta guerra. É com esta visão que trabalhamos: nunca dar trégua ao
inimigo. Creio que assim estaremos cumprindo o nosso dever de homem público, que é,
principalmente, o de lutar por uma sociedade mais justa, mais humana e mais feliz.
Darci de Matos
Deputado estadual
Sumário
Pesadelo 17
Ilusão 21
Armadilha 25
Tragédia 29
Prevenção 33
Ajuda 37
Família 41
Angústia de pai 45
Clamor de mãe 51
Depoimentos 55
Apoio 85
PesadeloA humanidade passa por um pesadelo chamado drogas. É um dos comércios mais
lucrativos do mundo e que geralmente tem como resultado final famílias destruídas e
muita violência. Isto em qualquer País. Para esclarecer melhor, daremos alguns
exemplos:
No dia 2 de junho de 2002, o jornalista Tim Lopes, 51 anos, conhecido por suas
denúncias contra o tráfico, saiu da sede da TV Globo para fazer reportagem em um baile
funk na favela da Vila Cruzeiro, no Rio. Foi sua última pauta, pois traficantes do
Comando Vermelho o sequestraram naquela noite. Uma semana mais tarde foi
anunciada a sua morte. Segundo depoimento de dois integrantes da quadrilha de Elias
Pereira da Silva, o “Elias Maluco”, o repórter foi “julgado” pelos bandidos e
barbaramente torturado. Seu corpo foi esquartejado e queimado com pneus numa
gruta.
Em abril de 2009, a consultora aposentada Flávia Costa Hahn, de 60 anos,
moradora de Porto Alegre, matou o único filho, Tobias Hahn, de 24 anos, com um tiro
no pescoço. O jovem era viciado em crack havia cinco anos. Depois de ficar três dias
fumando crack, voltou para casa e pediu dinheiro para a mãe. Houve discussão, Flávia
foi agredida e para se defender pegou um revólver da coleção do marido e fez um
disparo fatal contra Tobias, que morreu na hora.
Em agosto de 2010, 72 imigrantes ilegais, entre eles quatro brasileiros, foram
executados por traficantes numa fazenda do Estado de Taumalipas, no Nordeste do
México. Segundo o sobrevivente equatoriano Luis Fredy Lala Pomavilla, o grupo foi
sequestrado quando tentavam cruzar a fronteira dos Estados Unidos. Ele informou que
seus algozes, que disseram pertencer ao grupo Los Zetas, teriam decidido matar os
imigrantes porque estes se recusaram a trabalhar para sua organização.
Estes casos exemplificam como as garras do tráfico se estendem por todos os
setores da sociedade em vários países. O Brasil é uma rota da cocaína para a América do
Norte e Europa e também um importante centro de consumo de drogas. Os Estados
Unidos têm 38 milhões de consumidores de drogas ilícitas e representam 41% do
mercado internacional de drogas. A Europa está em segundo lugar, com 29%. Em todo o
mundo, a polícia consegue apreender apenas de 8 a 10% das drogas ilícitas em
circulação.
O tráfico oferece uma alta lucratividade, o que faz com que as quadrilhas tenham
muito poder de fogo. Para se ter uma idéia, 90% da cocaína, maconha e anfetaminas
consumidas nos EUA ingressam pelo México. Os cartéis colombianos movimentam de
20 a 25 bilhões de dólares por ano com drogas proibidas na fronteira EUA/México. A
cocaína é proveniente da América do Sul, onde são cultivados cerca de 160 mil hectares
com coca.
Diante da proliferação desenfreada do consumo de entorpecentes ilícitos, o papa
Bento XVI disse em entrevista que “as drogas destroem os jovens, as famílias e levam à
violência. As drogas ameaçam o futuro de nações inteiras”.
IlusãoPor quê as pessoas buscam a droga mesmo sabendo de todos os riscos que os
usuários correm? Uma das explicações é que vivemos em uma época de grandes
transformações na sociedade, na qual se tenta passar uma mensagem de que tudo é
permitido. Porém, para os jovens, que estão entrando na idade adulta, isto pode deixá-
lo sem um Norte seguro e muitas vezes acabam buscando caminhos equivocados. Nesta
fase da vida é que surgem os grandes problemas sexuais, de delinquência e de falta de
comunicação. Aproveitando-se deste ambiente propício, os traficantes usam de todas as
suas estratégias para atrair novas vítimas.
Estudos recentes mostram que 3,4% dos adolescentes de nosso País são
dependentes de álcool. Segundo a médica pediatra Sigrid Terezinha Calazans, de
Ipatinga (MG), “o consumo de álcool pode provocar a escalada para outras drogas. O
prazer pelo uso da droga incentiva o jovem a experimentá-la novamente”. No Brasil, o
número de usuários de drogas cresce, em média, 10% ao ano.
O filme “Tropa de Elite”, que retrata o combate ao crime organizado na cidade do
Rio de Janeiro, mostrou de maneira didática como o simples uso de maconha por alunos
da faculdade contribui para o fortalecimento do tráfico. Como neste mundo nada
acontece impunemente, a insensatez destes jovens terminou de forma trágica, como
não podia deixar de ser, nas mãos dos traficantes.
O psicólogo José Carlos Camargo, de Joinville, que trabalha com drogados há 20
anos, explica que a falta de valores morais e espirituais na sociedade é o que mais
contribui para levar os jovens às drogas. “E isso começa em casa. Não é culpa da família,
ela foi levada a isso pela sociedade consumista. Os pais não sabem educar, o jovem
cresce sem parâmetros e o único objetivo dele é possuir mais. É a cultura do ter em vez
do ser. A droga é uma consequência deste mundo maluco que aí está”, frisa ele.
Camargo avalia que ter um projeto de vida é o grande diferencial para tirar o jovem do
caminho da droga. Outro fator importante é não permitir a impunidade. “Cada um tem
que responder pelos seus atos. Não concordo com a política de passar a mão na cabeça
do drogado”, afirma. O jovem de baixa renda geralmente busca a droga por não
encontrar perspectivas de vida (sem emprego, escola ruim e por sentir-se marginalizado
numa sociedade consumista) e o rico vai experimentar novas “sensações”. Para ambos,
o vício pode levar a um mesmo destino: a morte.
Pesquisa feita na Espanha entre 15.071 jovens de 16 a 24 anos, a “Encuesta 2007-
2008”, mostrou que o consumo de drogas entre os desempregados é muito maior do
que entre aqueles que têm uma atividade laboral regular. Uma outra pesquisa, desta
vez no Brasil, revelou que um em cada quatro estudantes de ensino fundamental e
médio da rede pública já experimentou algum tipo de droga além do cigarro e das
bebidas alcoólicas. Isso acontece, principalmente por causa da curiosidade, mas
também pelo desejo de se integrar a algum grupo de amigos. Neste momento eles não
veem os malefícios que as drogas podem provocar.
A maioria das drogas causa dependência depois de algum tempo de uso. Quando já
está dependente fica muito mais difícil abandonar o vício. A solidão, a falta de
formação, as más companhias, as decepções, os desentendimentos com os pais podem
levar o adolescente a procurar as drogas. É a busca de uma saída fácil, mas perigosa.
Antes de se suicidar, o estudante americano Percy Patrick Pilon, dependente de
droga, faz um alerta na carta de despedida. Em um dos trechos diz: “A droga pode
oferecer momentos de felicidade, mas a cada um destes momentos corresponde um
século de desespero que jamais poderá ser apagado. A droga destruiu todos os meus
sonhos de amor, as minhas ambições e a minha vida no seio da família”.
Os traficantes agem como caçadores que buscam capturar os animais que
pretendem abater. Primeiramente ficam à espreita de suas prováveis vítimas. Isto pode
ocorrer em festas, na escola, no local de trabalho ou mesmo na rua ou praça.
Então preparam a armadilha para que o usuário fique preso em sua teia, também
chamado vício. Quem usa a droga uma vez geralmente tentará repetir a experiência. O
traficante é um indivíduo frio, calculista, inteligente, ardiloso e insinuante, capaz de
avaliar com precisão o melhor momento de agir.
Muitas vezes ele pode oferecer a droga de forma camuflada, como tratamento de um
mal-estar qualquer, provocando em seguida a dependência física ou psíquica.
ArmadilhaA sociedade precisa ser rigorosa com o traficante, aplicando penas pesadas contra
ele e evitando tratá-lo como um empresário bem sucedido; afinal, é um criminoso que
espalha muita dor entre as famílias. Já o viciado precisa de apoio e tratamento. O
apresentador de TV José Luiz Datena, que teve um filho viciado em crack durante seis
anos, aprendeu esta lição. Em entrevista à revista Isto É disse: “Jamais se deve
abandonar um filho que tem problemas com drogas, jamais devemos considerar isso um
crime. Criminoso é quem vende, o canalha que tira a pessoa de sua casa. Desse eu
tenho ódio mortal. Ele se disfarça de boa gente e arrebenta a sua família”.
Como os traficantes auferem lucros muito altos conseguem montar uma grande
estrutura para transportar a droga, revendê-la e defender a sua área de atuação contra
os concorrentes. Formam verdadeiros exércitos melhor armados que a polícia, capazes
de colocar em xeque o poder do Estado, tal como aconteceu em São Paulo, em maio de
2006, quando o PCC parou a capital e executou 48 agentes da repressão; e no Rio, no
Morro dos Macacos, em 2009, quando os traficantes conseguiram derrubar a tiros um
helicóptero da polícia. A cocaína é a droga que gera maior lucro e ela entra no Brasil
pelas nossas fronteiras terrestres e pelos portos. Parte desta droga segue para a Europa
e Estados Unidos por via marítima e aérea.
O Departamento de Estado dos EUA aponta os aeroportos de Guarulhos (SP),
Galeão (RJ) e Porto Alegre (RS) como os mais usados para a saída de cocaína. Os
traficantes recrutam uma grande quantidade de “mulas” —pessoas que levam consigo a
droga escondida - para transportar o entorpecente, usando todo tipo de artifício para
escondê-lo. Alguns até arriscam a vida nesta atividade. Ingerem a droga em pequenas
cápsulas, que, se forem rompidas no intestino, passam a ser fatais.
Das folhas de coca, uma planta do altiplano dos Andes, se produz a pasta básica de
cocaína. Refinada com ácido clorídrico, produz o pó branco chamado de cloridrato de
cocaína ou, simplesmente, cocaína. Esta droga pode ser cheirada, comida, injetada.
Dois outros derivados da cocaína são a merla, o crack e o óxi, muito mais destrutivos do
organismo e mais perigosos porque são muito mais baratos que a cocaína. O vício
(fissura) é tão violento que a pessoa é capaz de fazer qualquer coisa (assaltar, matar,
prostituir) para adquirir estes quatro tipos de droga.
TragédiaAs “cracolândias” —espaços ocupados por viciados em drogas nas grandes cidades —
nos dão uma visão do inferno aqui na terra. Em plena luz do dia, muitas vezes diante de
viaturas policiais, os viciados, agindo como zumbis, adquirem o crack e fumam nos
cachimbos improvisados, para espanto dos que passam pela via pública. O crescimento
do uso do crack é espantoso. Pesquisa feita em 2009 pela Secretaria de Saúde do Estado
de São Paulo mostrou um crescimento anual de quase 140% no consumo entre as
pessoas com renda superior a 20 salários mínimos. Levantamento da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul constatou que 72,5% da população de rua de Porto Alegre
usava a droga. De acordo com um estudo do psiquiatra Pablo Roig, especialista em
tratamento de viciados em crack, existem 1,2 milhão de usuários desta droga no Brasil.
Um outro lado trágico deste vício é que milhares de pessoas perdem a vida, através
de seu consumo desenfreado, por causa das guerras entre gangues rivais ou mesmo
pelo suicídio. E, geralmente, a maior vítima desta violência é o jovem. Levantamento
elaborado pelo Instituto Sangari, e divulgado em 2011 pelo Ministério da Justiça,
mostrou que 39,7% dos óbitos, na população de 15 a 24 anos, foram provocados por
assassinatos. Segundo órgãos policiais, 80% destas mortes têm alguma ligação com
drogas ilícitas. Em Santa Catarina o número de homicídios dos jovens cresceu 157,9%
entre 1998 e 2008, de acordo com o Mapa da Violência 2011 — Os Jovens do Brasil.
A droga, que até pouco tempo atrás era consumida majoritariamente nas grandes
capitais, se espalhou pelo interior. Levantamento da Confederação Nacional dos
Municípios, em dezembro de 2010, revelou que o crack está presente em 98% das 3.950
cidades pesquisadas. Em função deste alastramento do número de viciados o governo
federal lançou a campanha “O PAC do Crack” prevendo a criação de novos centros de
tratamento de drogados e o endurecimento no combate ao tráfico. Na Câmara dos
Deputados existem cerca de 80 projetos relacionados às drogas à espera de votação.
Prevenção
Prevenir é melhor que remediar, diz o velho ditado popular o qual também serve
para os jovens diante do mundo das drogas. A curiosidade é uma característica dos
adolescentes e, por isso, é necessário que eles saibam a verdade sobre os
entorpecentes para que não entrem num caminho perigoso, com armadilhas colocadas
pelos traficantes. Os conselhos dos pais, as aulas dos professores e religiosos e as
orientações de médicos e da polícia são fundamentais para que o jovem fuja das
tentações dos “prazeres” oferecidos por traficantes ou usuários de drogas.
O psiquiatra Içami Tiba, em seu livro “Juventude & Drogas: Anjos Caídos”, diz: “A
prevenção tem de mostrar a diferença entre o que é gostoso e o que é bom. Nem
sempre o gostoso é bom, como no uso das drogas. O gostoso pode ser ruim, como no
caso do diabético que come um doce bastante açucarado. Nem sempre o desagradável
é ruim. Ninguém gosta de tomar injeção de antibiótico, mas se não houver outra saída,
a pessoa sofre a desagradável sensação de ser espetada por uma agulha, pois sabe que
o antibiótico é para o seu bem. Todo usuário e principalmente sua família tem arcado
com as conseqüências decorrentes desse tipo de busca de prazer. Pela disposição de
querer ajudar outras pessoas, parte da sociedade procura caminhos para prevenir o
maior mal evitável deste início de milênio”.
Um dos mais importantes trabalhos de prevenção contra drogas nas escolas
catarinenses é o Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas), desenvolvido
pela Polícia Militar em todos os municípios do Estado. Atualmente conta com três
cursos: para os alunos da 5ª e 7ª séries; além do Proerd para os pais. São 12 encontros
semanais onde os instrutores alertam sobre o perigo das drogas.
Cerca de 600 mil alunos já passaram pelas aulas do Proerd, 60 mil só em Joinville. No
final do curso há solenidade de formatura na qual os alunos participantes prestam
compromisso público de resistirem às drogas e à violência.
O incentivo à prática do esporte pode ser uma importante ferramenta no combate
às drogas. O esportista, além de conseguir uma maior socialização entre seus colegas,
aumenta a autoestima e não precisa buscar subterfúgios para compensar as angústias
do dia a dia. Para isso é necessário que os professores de educação física, junto com as
práticas esportivas, ofereçam aos alunos palavras de orientação, conforto e esperança.
A religião também é um forte antídoto às tentações da droga. Em uma sociedade
baseada no consumismo e no hedonismo, onde as barreiras morais vão sendo
derrubadas, o jovem procura todo tipo de prazer, e neste caminho equivocado pode
chegar às drogas. Uma importante maneira de freiar estes abusos é através da fé. Quase
todas as religiões preconizam um comportamento digno diante da sociedade e, se a
pessoa segue seus preceitos, geralmente tem uma conduta equilibrada, longe dos vícios
perigosos à saúde.
AjudaUma cena chocante do mundo dos drogados foi mostrada em um dos noticiários de
maior audiência da TV. Uma mãe desesperada encontra seu filho de 40 anos na
cracolândia e tenta convencê-lo a voltar para a família e para o emprego. Tarefa
infrutífera porque o usuário não estava disposto a deixar o vício. O primeiro passo para
o tratamento é o dependente químico se conscientizar de que está causando um
prejuízo a ele próprio, às pessoas que ama e à sociedade.
Edson Rodrigues, o “Peixinho”, 32 anos, foi viciado em crack e agora faz parte do
Programa Porto Seguro, um centro de referência especializado em assistência social
para a população de rua ligado à Secretaria Municipal de Assistência Social de Joinville.
Aparecida do Carmo Xavier de Matos, pedagoga da Secretaria Municipal de Assistência
Social, explica que o Programa Porto Seguro atende o morador de rua e encaminha
os usuários de droga para os serviços de orientação e assistenciais, às comunidades
terapêuticas e para o CAPS-AD (Centro de Atendimento Psicológico e Social
Dependente de Álcool e Droga), da Secretaria de Saúde. “Peixinho” conta que ele, um
irmão e uma irmã foram moradores de rua e usuários de drogas durante um ano e
meio. “De dia fico no Programa, almoço no Restaurante Popular e à noite vou para a
Casa de Passagem, antigo Albergue Marta e Maria”, fala.
Peixinho revela que “qualquer um pode sair da dependência química, basta ter
força de vontade. Nós temos que dar o primeiro passo. Cada dia longe da droga é uma
vitória. Hoje eu não quero, amanhã eu não sei. Muitos têm vontade de sair do vício, mas
não conseguem. Nove meses é o tempo para a desintoxicação do corpo”. O dependente
químico informa que o fim de semana é mais complicado para ele porque o Programa
Porto Seguro está fechado. Como não tem onde ficar, às vezes surge a vontade
de freqüentar o lugar onde estão os “amigos”. Muitos colegas seus já morreram em
conseqüência do vício.
A família desestruturada contribuiu para que três dos seis irmãos que nasceram em
Cascavel, no Paraná, se viciassem em droga. “Peixinho” era o filho mais velho. Quando
ele tinha seis anos o pai abandonou a família e a mãe foi trabalhar fora de casa para
sustentar os filhos. “Peixinho” conta que seu último emprego, antes de virar
dependente químico, foi na Skol. “Sustentava a casa, mas tinha dois irmãos
dependentes da droga. Comecei fumando cigarro, depois maconha e cheguei no crack.
Você fuma o crack e imediatamente fica fora de si, ele te deixa com alucinações. Depois
que passa o efeito, te dá vontade de fumar mais, é a fissura”, recorda.
Depois de passar por este calvário, “Peixinho” diz que pretende trabalhar e
“construir a família que nunca tive, ter um lugar para morar. Também quero passar
informações para que outros não entrem pelo caminho das drogas, que não dá futuro a
ninguém”.
Aparecida de Matos lembra que alguns que abandonam o vício depois voltam a ser
usuários. “Não existe remédio que evite recaída”. Ela acrescenta que “o crack é a droga
mais perigosa da atualidade. O efeito é destruidor e depois da segunda tragada já fica
incontrolável. Muitos familiares de drogados não sabem onde obter ajuda.
Os dependentes químicos precisam de acompanhamento constante de grupos de ajuda,
psiquiatras, psicólogos e, principalmente, da ajuda de familiares”.
Família
O melhor antídoto para os males provenientes das drogas continua sendo um lar bem
constituído. Em um lar onde haja respeito mútuo e comunicação entre pais e filhos a
probabilidade dos problemas saírem de controle é muito baixo. Paulo Hoff, no seu livro
“O Pastor como Conselheiro”, esclarece que “a vida do adolescente requer uma mão
hábil no timão a fim de que ele não bata nas pedras. É importantíssimo que os pais
desfrutem da confiança de seus filhos e os aconselhem bem”.
No entanto, os pais não devem ficar reféns da vontade dos filhos, principalmente
em questões delicadas. As crianças e os adolescentes têm que saber que há um limite
para tudo. Assim é na sociedade, assim deve ser dentro do lar. Com estes parâmetros é
possível evitar que os filhos sejam levados para um caminho tortuoso e se apeguem às
más companhias.
O problema da droga é sério e difícil de ser resolvido. Mas não há mal que não
tenha solução. E, neste caso específico, a religião é um dos mais eficazes meios para
retirar o drogado deste caminho de perdição e para evitar que as pessoas busquem este
caminho enganador dos prazeres mortais. Portanto, uma família bem estruturada e a
confiança no poder de Deus podem fazer milagres. Estes são os melhores remédios
contra as drogas, considerada a pior praga deste século.
No entanto, o mundo consumista em que vivemos está solapando os valores
básicos da família. Devido ao desejo de crescimento financeiro, sucesso, status, a pessoa
acredita que ela vale o que tem. A médica pediatra Sigrid Terezinha Calazans, voluntária
na comunidade terapêutica Associação Rios de Água Viva, em Ipatinga, Minas Gerais,
é contundente a este respeito: “A dignidade da pessoa humana é trocada pela falsa
dignidade do acúmulo de bens e capital”. E os filhos são vítimas desta visão. Seus pais
tentam compensar a ausência do lar dando coisas demais a eles. “Muitas vezes os pais
se preocupam em dar o melhor para os filhos, do ponto de vista material, que se
esquecem da relevante importância de transmitir valores morais, éticos e espirituais.
Esquecem de mostrar que o sofrimento é redentor e o amor exigente”.
A doutora Sigrid afirma que o jovem tem “maior possibilidade de usar drogas
quando perde a estabilidade do ambiente social e familiar; quando seus vínculos com os
pais são frágeis; quando falta disciplina e monitoramento por parte desses; quando não
possui vínculos com instituições sociais que possibilitam o desenvolvimento de seus
desejos de transcendência (como igreja, grupo de jovens etc.) e quando seus pais e
amigos abusam de drogas, ainda que lícitas, como o álcool”.
Os pais que realmente preocupam com seus filhos devem incentivá-los na
prática de esportes para ajudar a prevenir o uso de drogas. Também uma boa
alimentação e uma vida com mais contato com a natureza são bons antídotos ao mundo
das drogas.
Uma pessoa emocionalmente desequilibrada tem mais propensão a usar drogas.
Esta fuga momentânea da realidade pode trazer consequências muito sérias.
Geralmente o jovem se desencaminha porque tem uma família desestruturada. E a
família está desestruturada porque a sociedade também está, baseada em valores
mesquinhos e vazios, enfatizando somente o ter e acumular bens e prazeres físicos. Não
é só as drogas lícitas e ilícitas que destroem o ser humano, mas também os falsos
valores que dominam a sociedade. Para resolver um problema precisamos cuidar do
outro também. Há saída, mas é preciso que todos deem as mãos em busca de uma
solução conjunta.
Angústia de pai
Os pais de viciados em drogas carregam uma cruz muito pesada. Geralmente,
quando descobrem que o filho usa drogas, este já está algemado a ela através do vício.
Muitos deles se sentem impotentes quando tentam tirá-los das mãos dos traficantes.
Os que conseguem levar os filhos para centros de tratamento ainda têm chance de
recuperá-los para o convívio na família; porém, para a maioria, o destino é trágico.
Acabam assassinados ou morrem consumidos pelo vício.
O marceneiro João Alves, 56 anos, pai de seis filhos (quatro biológicos e dois
adotivos) carrega esta cruz há mais de 20 anos. O filho mais velho se envolveu com
cocaína por quase 18 anos, se livrou da droga e hoje é um próspero empresário. A
cunhada, irmã de sua esposa, aos 41 anos se viciou em crack e foi executada pelos
traficantes. O marido dela foi preso por causa do tráfico; e seu filho, usuário de crack,
morou na casa de João Alves durante sete meses. No início de 2011 o tio foi em
Balneário Camboriú reconhecer o corpo do sobrinho, assassinado na rua numa briga
entre drogados. O filho caçula do marceneiro, Moisés, de 17 anos, há dois anos entrou
no mundo da droga. Conseguiu interná-lo numa clínica para dependentes de drogas em
Pato Branco (PR), distante 750 quilômetros de Joinville, onde mora. “É longe, mas foi o
único local onde tinha condições de pagar a sua internação”, diz abatido. A seguir, o seu
relato:
“O Moisés começou a fumar cigarro com 12 anos e depois passou para a maconha.
Com 15 anos virou usuário de crack. Descobri porque ele passou a roubar tudo de valor
que existia dentro de casa. Passei a prendê-lo em casa e o internei duas vezes, mas ficou
no máximo 60 dias lá. Agora ele me prometeu que não iria fugir e há dois meses está na
clínica de Pato Branco. Eu e minha mulher o adotamos quando tinha sete dias. Ele tem
outros três irmãos biológicos e todos eles usam drogas.”
“Quando a gente descobre que tem um filho envolvido com droga é uma
decepção. É a impotência de não saber o que fazer ou o rumo a tomar. Cada dia que
passa você vê as coisas acontecendo de uma maneira pior. A cada minuto você vê seu
filho se destruindo sem ter como ajudá-lo. É muito difícil. Eu já tive problemas de saúde
na família, onde perdi entes queridos com doenças, mas não há nada pior que a droga.
A droga é pior que um câncer numa casa. A droga vai destruindo, não só o usuário, mas
também a família; vai destruindo o amor que o filho tem pelo pai; vai destruindo as
amizades que tem em volta dele. Ele chega ao ponto em que não suporta a si mesmo,
ele começa a se desprezar. O usuário percebe que não é mais bem vindo ao lado das
pessoas e isso leva, muitas vezes, a cometer suicídio. Quando via meus dois filhos nesta
situação, não os desprezava nunca, sempre buscamos alternativas. Saíamos de
madrugada pelas ruas procurando saber onde estavam. A minha mulher por um canto e
eu em outro. Mas sempre chegávamos atrasados. O traficante sempre chega primeiro
que o pai. Todo pai que ama o filho não vai tirar satisfação com o traficante e nem vai
dar queixa para a polícia porque ele sabe que depois vem represália em cima do filho.
Por isso que os traficantes se dão bem. Hoje as leis os beneficiam. Fica muito fácil para
eles venderem a droga para meninos de 15 e 16 anos, fazem fortunas e destroem as
famílias. E a sociedade parece que fecha os olhos para esta atitude. Enquanto isso vão
surgindo novos traficantes e os antigos vão se expandindo. Está igual cogumelos, que
crescem muito depois de cada chuva.”
“Precisamos fazer um trabalho em cima dos que estão usando drogas, mas
também devemos nos preocupar com aqueles que ainda não experimentaram as
drogas. O crack não pode ser usado nenhuma vez, porque desde o início vicia. Tenho
experiência nesta área porque sou voluntário em centro de recuperação. Procuro
meninos que estão nas ruas e ofereço ajuda e apoio nos centros de tratamento. O
primeiro passo que o usuário precisa dar é querer parar de usar a droga. Em seguida
precisa que ele tenha perseverança nesta decisão. A luta contra a droga é um grande
desafio. Sempre encontro jovens que saíram da droga e me abraçam, agradecidos pelo
fato da gente ter feito alguma coisa por eles. Mas, de cada dez drogados que a gente
coloca em centros de tratamento, só um volta para nos agradecer. Entre os viciados de
crack, a recuperação é menor ainda. Pelo que a gente vê, podemos perder uma geração
se não forem tomadas medidas eficazes contra o crack.”
Clamor de mãe
A maior dor de uma mãe é ver o seu filho definhando diariamente por causa do uso de
drogas ou a experiência ainda mais atroz: vê-lo assassinado pelos traficantes. Foi isso o
que aconteceu com a dona de casa Diva Domiciano Rosa, 54 anos, que, em 2010, no
espaço de oito meses, perdeu dois de seus quatro filhos. Um deles morreu de câncer e o
outro foi encontrado boiando nas águas do rio Cachoeira, em Joinville. Diva, que hoje
tem apenas a companhia do marido Juarez Ferreira Lima, 56 anos, metalúrgico
aposentado, mora numa casa simples onde seus filhos cresceram, no bairro Jardim
Iririú. Segurando nas mãos a foto dos quatro filhos e com lágrimas nos olhos, ela relata a
sua tragédia.
“O Cásper começou a mexer com drogas aos 15 anos, quando trabalhava como
cobrador de ônibus, e morreu quando tinha 30 anos de idade. Ele não fumava e nem
bebia, só era muito nervoso e agitado. No próprio trabalho conheceu as drogas:
primeiro a maconha, em seguida a cocaína e por fim o crack. Depois de um ano eu
comecei a perceber que ele usava droga porque a empresa ligava dizendo que ele não
estava no trabalho. Daí ficamos antenados que alguma coisa estava acontecendo. A
prova definitiva foi quando viajamos e encontrei maconha na roupa dele.”
“No início ele usava maconha e cheirava cola. Depois passou para droga pesada:
cocaína e crack. Cásper roubava o que tinha em casa para comprar droga: meus sapatos,
roupa dos irmãos, mesa, cadeira, ferro elétrico, ventilador, chuveiro, sabonete. Tudo
que rendia dinheiro ele levava. Nesse período ele não trabalhava mais. Meu filho usou
drogas durante 15 anos e o internamos em centros de tratamento inúmeras vezes.”
“Nós sempre cobrávamos dele a necessidade de trabalhar. Acho que por isso
decidiu morar debaixo da Ponte do Trabalhador. Pra se sustentar fazia alguns bicos,
como limpeza de quintal, pintura de casa, construía cercas. Dali ele tirava o seu
sustento. O Cásper só vinha para casa quando estava cansado de ficar na rua ou ficava
doente. Ele tomava banho, se ajeitava, ficava uma semana ou duas aqui e depois voltava
para a rua.”
“Para uma mãe, não existe coisa pior do que ver um filho nesta situação. Você vê
os outros filhos dentro de casa, limpinhos e cheirosos, e em seguida via o Cásper
chegando de madrugada, fedendo, muitas vezes todo ensanguentado porque apanhava
da polícia. É muito complicado.”
“Na véspera de sua morte, no dia 28 de setembro, uma quinta-feira, o Cásper veio
em casa, pois sabia que iriam matá-lo por causa das dívidas com o traficante, e resolveu
pedir perdão para o pai e para mim. Ele estava morando debaixo da ponte depois que
brigou com a gente. Quando nós falamos que iríamos ajudá-lo, ficou contente. Mas no
sábado ele não apareceu, como havia combinado. No domingo foi a eleição e aí minha
filha ficou sabendo da sua morte, mas não contou para nós. Quando a televisão noticiou
que havia sido encontrado um corpo boiando no rio Cachoeira, eu disse para o meu
marido que era o corpo do nosso filho. Quem o matou foi muito cruel. Eu sei que deram
três tiros nele, o esfaquearam, quebraram a cabeça, tiraram os braços e as pernas,
queimaram o tronco no sofá e jogaram no rio.”
“A pessoa que entra nesse caminho está matando, aos poucos, a si próprio e
também os pais. É muito difícil encontrar o caminho de volta. E olha que nós lutamos
para que o Cásper saísse do mundo das drogas. Usamos todo o tipo de arma: levamos
na igreja, pagamos centros de recuperação, o tratamos com amor. Da turma dele que
usava drogas, umas 15 pessoas, só um está vivo, o que está preso em Tubarão. É um
beco sem saída e a pessoa precisa ter muita força de vontade para escapar deste
destino trágico.”
DepoimentosAqui estão os depoimentos de pessoas que, de uma forma ou outra, dão sua
contribuição no combate às drogas.
Dom Irineu Roque Scherer é bispo diocesano de Joinville:
1) De que maneira a Diocese está enfrentando o problema das drogas em nossa
região?
Dom Irineu - Poderia dizer que ainda de modo muito tímido. Porém, já temos
algumas experiências positivas. Funciona muito a contento a Pastoral Antialcoólica (o
termo já diz um trabalho voltado para as vítimas do álcool e trabalham com tolerância
zero no uso do álcool) e a Pastoral da Sobriedade (trabalha com dependentes de álcool
e drogas e outras dependências, impulsão por compras, apegos excessivos...) na Diocese
de Joinville, com um atendimento em grande número. Além disso, temos as casas de
recuperação de drogados e alcoólatras.
2) A desestruturação familiar contribui para levar os jovens às drogas?
Dom Irineu - Uma família unida, permanece unida em tudo: na alegria e na saúde,
na dor e na saudade, na vida e na morte. Aos pais cabe dar o exemplo de vida aos filhos.
Infelizmente na nossa região temos os maiores índices de separação de casais. Isso afeta
diretamente os filhos. É um mau sinal regional. Só isso já significa que o índice
de consumo da droga e do álcool se torna um refúgio dos desencontros familiares.
Quando o jovem se sente próximo da família, incluído neste relacionamento, este tem
menos chances de se envolver com drogas, álcool, cigarros. Temos que trabalhar a
família como fonte de Vida e Vida em abundância.
3) O estilo de vida disseminado pela maioria das tevês pode contribuir para a
pessoa procurar a droga?
Dom Irineu - Com toda certeza! Normalmente dissiminam nas TVs o que não deve
ser uma família: separações fáceis de casais, brigas, desentendimentos entre os
cônjuges, pais e filhos, traições mútuas, casamentos feitos por causa do dinheiro, com
pompa, por interesses... e ridicularizam o que deveria ser o normal de uma família.
Numa palavra, difunde-se a ideia de uma família artificial e vazia, sem valores
consistentes, sem espiritualidade, sem Deus. A mídia quer fazer uma “catequese
familiar” que leve as pessoas a se rebaixarem de sua dignidade humana. A população
recebe uma série de informações sobre a violência relacionada ao tráfico e sobre os
perigos das drogas e por outro lado é alvo de sofisticadas propagandas para estímulo da
venda de bebidas alcoólicas. Como consequência dessa falta de base, a própria mídia se
questiona diante dos resultados: por que tanta desgraça? Por que tanta violência?
Por que tanta droga correndo solta e destruindo vidas, famílias e instituições? Esse é o
lado ingênuo, puritano e escravista produzido pela mídia moderna.
4) A Igreja Católica tem algum centro de tratamento de drogados na região?
Dom Irineu - A Igreja como um todo possui muitos centros de drogados. Na região,
Diocese de Joinville que compõe 18 municípios (Garuva-BarraVelha/Joinville-Itaiópolis),
podemos indicar sete casas de apoio, de cunho católico, que trabalham na recuperação
de drogados e alcoólatras: Fazenda da Esperança (Garuva), Essência de Vida (Araquari),
Opção de Vida (Joinville), Casa Pe. Aloísio Boeing (Nereu Ramos), Casa Divina
Misericórdia (São Francisco do Sul), ASFA (São Bento) e Casa Nossa Senhora do
Guadalupe (Joinville).
5) A religião é uma importante barreira contra o vício das drogas?
Dom Irineu - A religião faz a diferença na recuperação dos viciados em droga e
álcool. Temos muitas experiências de jovens que passaram por clínicas de recuperação e
não se recuperaram. Depois de ter passado pelas nossas casas, temos ouvido dizer:
“Passe pela clínica tal, recebi muitos químicos (remédios), fui tratado como o filho de
rei, minha família pagou caro, vivi na maior mordomia, mas depois que saí, voltei ao
vício. Hoje sei porque. Faltava-me o essencial: uma verdadeira experiência de Deus,
realizada pelo trabalho, pela convivência e por uma espiritualidade verdadeira”.
Inácio Lemke, Pastor Sinodal Sínodo Norte Catarinense da Igreja Evangélica de
Confissão Luterana no Brasil.
1) De que maneira a Igreja Luterana está enfrentando o problema das drogas em
nossa região?
Pastor Inácio - Através de palestras, folhetos, grupos de apoio às pessoas
dependentes químicas e familiares. Participando do COMEN - Conselho Municipal de
Entorpecentes.
2) Por que está crescendo tanto o envolvimento de jovens com drogas?
Pastor Inácio - A humanidade está passando por um processo de transição, onde
as famílias estão com dificuldade de entender e manter o diálogo franco e aberto com
os jovens.
3) O consumismo desenfreado e a busca por prazeres hedonistas podem
contribuir para a pessoa procurar a droga?
Pastor Inácio - Sim! É preciso estabelecer limites domésticos e democráticos para
todos. A oferta de opções de compra e a aquisição são cada vez maiores em detrimento
da manutenção dos valores humanos/familiares. Adultos e jovens precisam
urgentemente resgatar os princípios básicos de convivência: diálogo, afetividade,
confiança, liberdade de expressão e tolerância. Os membros de qualquer grupo social,
inclusive a família, precisam se conhecer e descobrir juntos os seus próprios quadrados,
isto é, onde inicia e onde acaba os direitos e os deveres de cada um.
4) A Igreja Luterana tem algum centro de tratamento de drogados na região?
Pastor Inácio - Sim. Centro de Recuperação Nova Esperança - CERENE
www.cerene.org.br - São Bento do Sul. Há também mais três centros, em Blumenau,
Palhoça e Lapa/PR.
5) A religião pode ajudar os jovens a ficar longe das drogas?
Pastor Inácio - A religião em si e isolada não pode ajudar os jovens a ficar longe das
drogas, ela tem êxito a medida que atua de forma concreta na vida dos mesmos e de
seus familiares, e tem relação comunitária. Esclarecendo as conseqüências que o uso
das drogas provocam em suas vidas, em seus relacionamentos comunitários e familiares
e apresentando as perdas em comparação com os ganhos da graça divina (família, amor,
saúde, resgate de sonhos e utopias, projetos...) faz com que tenham um parâmetro, pois
o uso da droga faz perder todo o caminhar da vida digna e o seu próprio sentido.
A fé alimentada e resgatada no âmbito da família, da comunhão dos santos, a Igreja, e
em grupos de apoio mútuo, faz com que o jovem resgate valores éticos e religiosos que
se tornam sua base para manter-se longe das drogas ou em abstinência, e, entender-se
como grupo de risco.
Pastor Leodoro Fernandes da Silva é o superintendente da Igreja do Evangelho
Quadrangular da Região Norte de Santa Catarina.
1) A proliferação desenfreada das drogas na sociedade tem ligação com a falta de
fé das pessoas?
Pastor Leodoro - Acredito que a fé pode ajudar as pessoas a se desviarem também,
mas está mais ligada à falta de caráter das pessoas. Este pode ser melhor forjado
quando a pessoa tem uma fé alicerçada na palavra de Deus.
2) Como fazer com que os jovens não se iludam com os prazeres momentâneos
oferecidos pelas drogas?
Pastor Leodoro - Preparando para eles um futuro melhor através do trabalho,
educação, religião e uma família estruturada; com uma política séria em todos os
sentidos por parte dos governantes em todos os segmentos da sociedade e dando a eles
uma oportunidade de trabalho já nos primeiros anos como era num passado bem
próximo onde o jovem trabalhava aos 14 anos de idade e ao ir para o quartel ele já era
um profissional em alguma área de sua vida.
3) É possível ter sucesso no tratamento de um viciado sem um aconselhamento
espiritual?
Pastor Leodoro - Pode até acontecer, mas o resultado é muito menor; já que com
tratamento espiritual ainda é pequeno, sem ele torna-se muito difícil.
4) A família bem estruturada é um bom remédio para enfrentar as drogas?
Pastor Leodoro - É um grande remédio, quem sabe o infalível.
5) A sociedade, como um todo, está doente; os bens materiais são mais
valorizados do que a ética e a retidão de valores. A religião é capaz de mudar este
caminho, que geralmente deságua nas drogas?
Pastor Leodoro - Creio que nem toda sociedade está doente; parte dela sim; agora
os valores materiais realmente estão sendo distorcidos pela mídia pois propaga-se o ter
e não o ser na ganância de se obter mais, mesmo às custas de uma grande parcela que
vai pagar um alto preço. Agora, falando-se em religião, se ela for tomada ao pé da letra,
no seu significado que é religar o homem ao seu criador, teria grande eficácia. Mas a
religiosidade nada resolve pois todos os envolvidos em drogas são religiosos, o que o
homem precisa é de Cristianismo verdadeiro. Cristo liberta e um Cristão não se envolve
nestas coisas banais. Diríamos Cristianismo e não religião.
José Carlos Camargo é psicólogo, foi ex-presidente do Conselho Municipal de Entorpecentes de Joinville e trabalhou durante mais de 20 anos no tratamento de usuários de drogas, principalmente no CAPS-AD (Centro de Atendimento Psicológico e Social Dependente de Álcool e Droga) de Joinville.
1) A falta de diálogo entre pais e filhos pode contribuir para levar o jovem ao mundo da droga?
José Carlos - A falta de diálogo entre pais e filhos aumenta as probabilidades desse jovem fazer uso de drogas. É um fator importante, porém não o decisivo.
2) Qual o melhor caminho para que o viciado abandone as drogas?
José Carlos - Não entrar!!! Ter perspectiva e projeto de vida.
3) A internação em clínicas de recuperação tem trazido resultados positivos?
José Carlos - A internação, por si só, não determina o processo de recuperação, mas sim mudanças internas do indivíduo, mudanças no meio sócio-familiar.
4) Você acha que as penas deveriam ser mais pesadas contra os traficantes?
José Carlos - Contra os traficantes sim. Mas como distinguir o traficante do usuário que vende para conseguir drogas para consumo próprio? As penalidades também atingirão as camadas altas de nossa sociedade?
5) A sociedade está preparada para enfrentar as novas drogas, tais como o crack?
José Carlos - Acredito que nossa sociedade tem uma capacidade muito grande de se ”adaptar” às novas realidades. Além do crack, amplamente difundido, existem já várias outras novas drogas, principalmente as da Europa e Ásia.
Tenente-coronel Edivar Bedin, comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar de
Joinville.
1) De que maneira o 8º Batalhão de Polícia Militar está enfrentando o problema
das drogas em nossa região?
Tenente coronel Edivar - A Policia Militar (8º. BPM) atua nos locais onde há tráfico
de drogas de forma ostensivo-preventiva, especialmente nas proximidades de
estabelecimentos de ensino. Atua de maneira repressiva quando em abordagens ou nos
locais de tráfico, apreendendo pessoas e drogas. Também, atuam de forma educativa,
através do Programa de Resistência as Drogas e a Violência - PROERD - educando e
ensinando as crianças a resistirem e a dizer “não” às drogas.
2) A Polícia Militar está preparada para combater os traficantes, já que eles têm
um poderio econômico forte e armamento moderno?
Tenente-coronel Edivar - O tráfico de drogas resulta de uma relação bilateral entre
usuário e traficante. Não foi detectado, na área do 8º. BPM, a presença de quadrilhas de
traficantes que estivessem em disputa por locais (território) de narcotráfico. Os conflitos
verificados até agora decorrem da relação usuário-traficante, principalmente, por meio
de brigas e outras formas de agressão, incluindo-se o homicídio. Os motivos incluem
principalmente dívidas.
3) O senhor acredita que seria necessário endurecer as penas contra os
traficantes para retirá-los de circulação?
Tenente-coronel Edivar - Os usuários são traficantes, em potencial. Um subsiste
em função do outro. A iniciação ao mundo das drogas é feita de forma voluntária, é
resultado de uma (má) escolha que trará consequências para o resto da vida.
As drogas estão cada vez mais adulteradas tornando-se assim, cada vez mais letais e
com efeitos mais danosos à saúde em menor espaço de tempo.
4) Qual é o trabalho que traz melhor resultado: a prevenção ou a repressão às
drogas?
Tenente-coronel Edivar - A repressão é a forma que tem maior visibilidade, porém,
é a forma mais ineficaz de lidar com a questão que envolve as drogas. A prevenção, no
entanto, há que ser tratada por todos os entes que compõem a sociedade. Destaca-se a
família, esta deve ser o foco principal nos trabalhos de prevenção. Uma família com
problemas certamente será um alvo fácil para a contaminação via drogas ilícitas. O
governo e sociedade devem estabelecer em conjunto as medidas a serem adotadas,
bem como os limites que devem ser bem esclarecidos, para que os resultados sejam
atingidos como metas, com prazos para tal.
5) Como fazer para impedir que as drogas cheguem até os usuários? Joinville é
uma rota dos traficantes?
Tenente coronel Edivar - Excluir, acabar com as fontes das drogas nas suas origens
seria o ideal, mas é impossível. O tráfico de drogas é como a mobilidade, não há como
impedir. Podemos dificultar, criar empecilhos através de fiscalização rigorosa nas
fronteiras; aumentar o controle e criminalizar a venda ilegal dos produtos químicos,
usados no fabrico das substâncias, com penas que incluam a perda do patrimônio e
outras restrições; é primordial a conscientização via campanhas massivas e de longa
duração, para que o uso de drogas seja evitado. O tráfico se faz em pequenas, médias e
grandes escalas, somente seria possível impedi-lo, se houvesse a participação de
TODOS.
Dirceu Augusto Silveira Júnior, delegado regional de Polícia Civil de Joinville.
1) Os tentáculos do tráfico de drogas estão espalhados por todo o mundo?
Delegado Dirceu - A problemática implantada pelo uso abusivo de drogas se
constitui nos atuais dias objeto ensejador de grande preocupação para os governos de
todos os países. Enfrentar o tráfico de drogas, crime globalizado, não tem sido tarefa
singela. É um fenômeno que assola todas as classes sociais. O mundo não identificou
mecanismos eficientes de prevenção e repressão ao tráfico e uso de drogas. Exerce
poder e desencadeia a prática de uma série de outros ilicitos penais, principalmente
o contrabando de armas, sequestro, lavagem de dinheiro e crimes contra a vida. Para
ilustrar o poder econômico do tráfico de drogas no mundo nos valemos da informação
do Programa das Nações Unidas para o Controle Internacional de Drogas (UNDCP) que
estima algo em torno de 400 a 500 bilhões de dólares ao ano são movimentados pelo
tráfico internacional de drogas. Esta cifra representa 08% do total das exportações
mundiais. Após passar pelo processo de lavagem de dinheiro, 200 bilhões integram o
sistema financeiro, o remanescente trilha o caminho da economia paralela, custeando
atividades criminosas como seqüestros, roubos de cargas, tráfico de armas, corrupção
de políticos, funcionários públicos e trabalhadores.
2) Quais são os maiores produtores de drogas do mundo?
Delegado Dirceu - Os maiores produtores de drogas são: na América Latina -
Colômbia, Bolívia, Peru, México e Jamaica; na Ásia - Quirguistão, Afeganistão e
Paquistão, e na África - África do Sul e Marrocos. O mercado de drogas no mundo é
gerenciado por diversas organizações criminosas: na América latina são chamados de
cartéis, na Ásia de tríades, nos Estados Unidos e na Federação Russa o controle do
tráfico é feito pelas máfias.
3) Quais as drogas mais consumidas no Brasil e como ela entra no País?
Delegado Dirceu - Aqui no Brasil as drogas ilícitas mais consumidas são, em
primeiro lugar, a maconha, seguida da cola de sapateiro, cocaína, inalantes diversos e
crack. Objetivamente falando, no Brasil a rota da cocaína, vinda principalmente da
Bolívia, se inicia pela cidade de Porto Velho/RO. Posteriormente a droga é enviada para
o porto de Santos/SP como também para Manaus/AM que segue para Miami/Estados
Unidos (uma das rotas internacionais). Uma outra rota se desenvolve entre as cidades
de Porto Velho/RO, Cuiabá/MT, Campo Grande/MS, para em seguida ser distribuída nas
cidades do Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP e o porto de Santos/SP. A maconha parte dos
estados de Pernambuco e Bahia, que abastece os vizinhos e os grandes centros (Rio de
Janeiro, São Paulo e Minas Gerais). Uma outra rota desta droga parte do Paraguai,
entrando pelos Estados de Mato Grosso do Sul e Paraná e, em seguida, é destinada para
São Paulo e Estados do Sul. Santa Catarina integra esta rota.
4) O que faz uma pessoa se interessar pela droga ilícita?
Delegado Dirceu - Podemos dizer que o envolvimento com as drogas são
motivados por alguns fatores causadores, tais como: a falta de diálogo com pais, falta
de bom ambiente familiar, modismo, fuga de problemas, auto-afirmação, curiosidade,
busca de prazer, fugir da inibição, prazer em violar ou desafiar convenções sociais e
familiares, desinformação, etc. Levam também as pessoas a ingressarem no mundo das
drogas as condições de vida nas favelas, o fácil acesso às drogas, desemprego, o crime
organizado, bem como o sentimento de impunidade. No entanto os que mais
contribuem para a iniciação ao vício são, com certeza, a curiosidade (as coisas
desconhecidas despertam o desejo de conhecê-las) e as pressões do grupo (uma das
caracterísiticas do homem é viver em sociedade, integra vários grupos, a começar pela
própria família). De conformidade com sua atuação no meio social estes grupos vão
aumentando, colegas de trabalho, do colégio, da academia, do bairro, etc., em certas
ocasiões, para o indivíduo compartilhar da amizade do grupo, este lhe impõe o
cumprimento de determinadas condutas como condição para ingresso, tais como ingerir
bebida alcoólica, fazer uso de drogas, etc.
5) Como é feito o combate à droga?
Delegado Dirceu - A Polícia Civil, na 2ª Região Policial Civil, através do seu aparato
policial civil vem reprimindo o tráfico de drogas na Região Norte do Estado Catarinense
com ações policiais e a desarticulação de organizações criminosas, levando os seus
”chefes” ao encarceramento, como a Operação Policial batizada de ”HADES”. Para os
êxitos alcançados investiu-se inicialmente na inteligência policial com a instalação do
NINT/Joinville/SC (Núcleo de Inteligência Policial) responsável pela coleta, análise e
disseminação de informações consideradas relevantes para o processo de tomada de
decisões operacionais. Incrementou-se o trabalho de participação na comunidade
através dos CONSEG’s e a ampla divulgação do ”Disque Denúncia da Policia Civil 181”. A
instalação na Comarca de Joinville/SC de um segmento Policial Civil denominado de
”DIC/JVILLE/SC” (Divisão de Investigação Policial) com abrangência e atuação policial em
toda a 2ª Região Policial Civil visando o enfrentamento na área investigativa dos eventos
criminosos de maior gravidade e repercussão na sociedade, priorizando a apuração dos
crimes de tráfico de drogas, contra a vida e patrimônio. Alem de ações sociais que
participamos com diferentes entidades de todos os segmentos da sociedade, levando
cidadania aos indivíduos mais necessitados com a confecção de carteiras de identidades
e orientações para a solução de conflitos ou dirimir duvidas nas questões de trânsito,
licença para funcionamento e comércios e outros.
Andrey Cunha Amorim é Promotor de Justiça e atualmente Presidente da
Associação Catarinense do Ministério Público.
1) De que maneira o Ministério Público ajuda a combater o consumo de
drogas entre os jovens?
Promotor Andrey - Os meus 15 anos como Promotor de Justiça, 10 dos quais à
frente da Promotoria do Júri de Joinville, fizeram-me testemunha de como o consumo
de drogas vem aumentando. As causas são as mais variadas possíveis e vão desde a
impunidade até a carência de políticas públicas de prevenção. E é justamente nestas
duas áreas que o Ministério Público assume papel preponderante no combate ao
consumo de drogas. Para diminuir a impunidade é preciso forte repressão. Impõe-se
melhorar as estruturas de investigação, principalmente dos grandes traficantes, hoje
chefes de organizações criminosas. O combate às drogas deve ser feito no atacado e
não no varejo. Não podemos ficar “enxugando gelo”, como se diz popularmente. É
preciso atacar a origem, ou seja, o tráfico em larga escala. Por outro lado, repressão
apenas não adianta. É necessária a difusão de políticas sociais de prevenção ao uso de
drogas. Há traficantes porque existem usuários. E o usuário tem que ser tratado
preventivamente. Educação, alimentação, moradia, emprego, esporte, lazer e saúde são
questões sociais de suma importância, cuja falta leva à violência, ao crime e às drogas.
O Ministério Público, por intermédio do manejo da ação civil pública e do combate à
corrupção, tem instrumentos para obrigar o Estado a melhorar suas políticas públicas.
2) O senhor acredita que o trabalho de prevenção nas escolas pode contribuir
para a redução no consumo de drogas?
Promotor Andrey - Sem dúvida alguma. É importante que o jovem esteja bem
informado. No ano passado, em Joinville, trabalhei num processo que me apresentou
uma cena triste. Um jovem estava numa passeata com outros estudantes, clamando
pela paz social, com palavras de ordem contra a violência urbana. Logo depois este
mesmo jovem, finda a passeata, deslocou-se até um ponto de drogas para comprar uma
bucha de maconha, a fim de consumi-la, oportunidade em que foi preso. Triste
ignorância. De um lado se pede pela paz e de outro se pratica ato que leva à violência.
Temos que ter em mente que cada cigarro de maconha adquirido contribui para a
existência do crime organizado, do tráfico de drogas, do comércio de armas. Repito: só
há traficantes porque existem usuários. Esta consciência precisa ser difundida nas
escolas.
3) A perda de valores entre as famílias estaria contribuindo para o aumento de
consumo de drogas?
Promotor Andrey - A escola e a família são os esteios dos jovens, principalmente.
Se estes dois pilares se rompem toda a construção da vida fica abalada. Faltará alguma
coisa ao adolescente. Esta carência gera um ambiente propício ao consumo de drogas.
Alerto que hoje há drogas tão potentes e acessíveis, como o crack, por exemplo, que na
maioria das vezes um único uso já é suficiente para levar ao vício. Um simples descuido
e pronto. A família tem que estar estruturada para impedir este descuido.
4) São necessárias leis mais duras para impedir a ação dos traficantes?
Promotor Andrey - As leis de combate às drogas, no Brasil, têm penas duras. O
problema não está na lei, mas na sua aplicação, fruto de um processo penal
incompatível com os nossos dias, com vários instrumentos protelatórios. Não é coerente
com a realidade que alguém, hoje, condenado em primeiro grau, possa recorrer até o
Supremo Tribunal Federal e só comece a cumprir sua pena depois da decisão transitada
em julgado, ou seja, depois de improvido o seu último recurso. Justiça tardia não é
justiça. É preciso melhorar a legislação processual, portanto, urgentemente.
5) Os poderes constituídos estão dando a devida atenção a este problema de
saúde pública e de segurança?
Promotor Andrey - Não. O uso de droga é um problema de saúde pública e como
tal deve ser tratado. Não vejo investimentos públicos neste sentido. Não conheço
clínicas públicas especializadas no tratamento do viciado. O combate ao tráfico deve ser
intensificado. Parcos também são os investimentos nesta seara. Não adianta a
nomeação de novos policiais apenas. É preciso dotá-los de estrutura, principalmente
estrutura de inteligência. E, do ponto de vista preventivo, então, nem se fala. O Estado
deixa muito a desejar. Só para dar um exemplo: na região de Florianópolis, há quantos
anos no Estado não se constrói um grande hospital ou uma grande escola? Quando
foram construídas as últimas? Edificar escolas é diminuir cadeias, alguém já disse isso
com propriedade.
Apoio
A seguir daremos uma lista dos principais centros de apoio e tratamento a dependentes químicos de Joinville e região. Torcemos para que você nunca precise procurar um local desses, mas se algum dia acontecer de ter alguém da família ou amigo acorrentado a este vício, uma destas entidades poderá ser de muita ajuda.
Joinville
Comunidade Terapêutica
Rosa de Saron
(Feminino, de 12 a 18 anos)
Rua Vale Wolmann, 191
Nova Brasília
Responsável:
Maria Marlene Ritzmann
Fones: (47) 3426-2721
e 3422-9854
Unidade 2
(Feminino, de 19 a 50 anos)
Rua Antônio Carlos, 95
Nova Brasília
Fone: (47) 3436-1780
Comunidade Terapêutica
Opção de Vida
(Masculino)
Escritório:
Rua Luiz Delfino, 618 - Glória
Responsável:
Christian Gevaerd Ocker
Fones: (47) 3025-2379
e 9147-0083
contato@opcaodevida.org
Comunidade Terapêutica
Desafio Jovem Shalon
(Masculino)
Estrada Arataca - Vila Nova
Responsável:
Zeloir Liberato
Fone: (47) 9983-3292
desafioj@bol.com.br
Comunidade Terapêutica
Essência de Vida
(Masculino)
Escritório:
Avenida Getúlio Vargas, 500
(Galeria Oscar, sala 8).
Responsável:
Roseli Nabozny
Fones: (47) 3028-3357 essencia@essenciadevida.org.br
Sasieq Vale da Luz
(Masculino)
Escritório: Rua Paraná, 419
Anita Garibaldi
Responsável:
Pastor Leodoro Fernandes da Silva
Fone: (47) 3433-0027
sasieq.valedaluz@brturbo.com.br
Programa Porto Seguro
(Atendimento à população de rua)
Rua Urussanga, 1.180 Bucarein
Coordenador:
Márcio Sell
Fone: (47) 3433-3341
CAPS-AD (Centro de Atendimento Psico Social Dependentes de Álcool e Droga)
(Masculino e Feminino)
Rua Dr. Plácido Olímpio de Oliveira, 1.489
Anita Garibaldi
Coordenador:
Nasser Haidar
Fone: (47) 3423-3367
86
Darci de Matos
Rio Negrinho
Acepred
(Associação Centro Especializado de Prevenção e Recuperação de Dependentes Químicos)
(Masculino)
Rua José Jacir Benke, 180
Industrial Norte
Responsável:
Mário Pereira
Fone: (47) 3626-6524
acepred@hotmail.com
Garuva
Fazenda da Esperança
Rua Barão do Rio Branco S/N Urubuquara
Responsável:
Tarquínio Nogueira
Fone: (47) 8811-6644
tarquinio.nogueira@gmail.com
São Bento do Sul
Associação Beneficente São Francisco de Assis (ASFA) (Masculino)
Rua José Roesler, 345
Serra Alta
Responsável:
Ivo Edval e Lima
Fone: (47) 3635-5651
asfa2009@uol.com.br
Centro de Recuperação Nova Esperança (Cerene)
(Masculino)
Rua Lídia Izolde Rosenstock, 211 Boehmerwald
Responsável:
Otto Müller
Fone: (47) 3635-3131
saobento@cerene.org.br
Recommended