A Arte e Outros Inutensílios (Paulo Leminski)

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  • Faculdade JK Unidade I Gama

    A arte e outros inutenslios Paulo Leminski

    NOTA: A arte e outros inutenslios o texto de Paulo Leminski (1944-1989), publicado no jornal Folha de S. Paulo, caderno Ilustrada, p. 92, em 18/10/1986, e apresentado como primeira

    aula do curso POESIA 5 LIES, ministrado por Leminski na Fundao Armando lvares

    Penteado, em So Paulo, em 20/10/1986. Sob esse ttulo, ele reuniu dois ensaios que j haviam

    sido publicados no livro Anseios Crpticos (Ed. Criar, 1986, pp. 29-34 e 58-60) e que sofreram

    pequenas modificaes na verso para o jornal. A seguir, portanto, seguem os dois ensaios.

  • Arte in-til, arte livre?

    Paulo Leminski

    A curiosa idia de que a arte no est a servio de nada a no ser de si mesma

    relativamente recente. Data do Romantismo europeu do sculo XIX, apogeu da 1

    Revoluo Industrial e da hegemonia burguesa, momento em que o artista se toma um

    desempregado crnico.

    Arte e artesanato. A indstria veio para substitu-lo.

    Sem funo social, mas ainda cheia de sua prpria importncia, a arte entre

    horrorizada e fascinada, volta-se contra o mundo utilitrio que a cerca, negando-o,

    criticando-o, como um no-objeto feito de antimatria.

    O mundo burgus anti-artstico. A arte no precisa mais dele. J pode nascer a

    "arte pela arte".

    Delcia e lio

    Uma arte, uma literatura in-til: nenhuma idia poderia ser mais estranha Idade

    Mdia catlica, herdeira das concepes greco-latinas sobre o duplo papel da arte:

    "delectare", "agradar", e "docere", "instruir".

    Para um europeu, letrado da Idade Mdia (quase sempre um clrigo), parecia a

    coisa mais lgica do mundo que a atividade artstica e literria estivesse, como as demais

    atividades, subordinada a um fim educativo, edificante, a servio da salvao da alma dos

    fiis.

    A obra literria tem deveres morais. No h lugar para uma obra blasfema,

    sacrlega, iconoclasta, dissolvente, corruptora.

    A obra de arte a expresso de uma norma. No um gesto criminoso.

    Como os homens que a fazem, deve lutar contra o pecado.

    A desmesurada liberdade da literatura ocidental moderna pareceria aos medievais

    o triunfo de Satans na terra. O pecado da literatura moderna, alis, o mesmo de

    Lcifer, a soberba, o orgulho de se declarar autnoma, alm do bem e do mal.

    O Renascimento italiano, ctico, crtico, mundano, faz nascer uma nova concepo

    de arte e literatura, no mais subordinada a deveres morais ou pedaggicos. Uma arte

    voltada apenas para o "delectare": nasce o conceito de "Beleza", o especfico artstico,

    independente de metas didticas ou balizas ticas.

    A reao catlica da Contra-Reforma, em luta contra o protestantismo, restaurou a

    antiga doutrina da arte a servio de objetivos ideolgicos ou doutrinrios. A "beleza" s

    tem razo de existir porque deve fazer a Verdade se gravar mais fundo no corao dos

    homens. E essa Verdade vem de fora: preexiste obra de arte. A literatura volta a ser

    apenas o veculo de uma viso dada da vida e do mundo.

    No que o protestantismo fosse mais liberal em matria de arte e literatura. Ao

    contrrio. Lutero e Calvino eram duas mentes medievais tpicas. Certas correntes

  • protestantes chegaram mesmo a desvalorizar por completo qualquer atividade artstica

    como sendo coisa de Satans.

    A viso utilitria da arte e da literatura prevalecer at o sculo XVIII, incluindo

    os Enciclopedistas. A vasta obra literria de Voltaire est a servio das "Luzes", do

    trabalho de esclarecer as mentes, ridicularizar o preconceito, desmistificar a superstio.

    Voltaire no um poeta, tal como entendemos a palavra hoje, uma conscincia

    problemtica expressando em palavras seus conflitos. um educador, um pedagogo, que

    usa os recursos da literatura para ilustrar certos princpios "morais".

    Com a Revoluo Francesa e o fim do Antigo Regime, dissolve-se o difcil

    equilbrio entre o autor e seu pblico, entre o autor e seus mecenas ou protetores.

    De agora em diante, entregue aos acasos do mercado, o escritor est no mato sem

    cachorro.

    A via francesa

    A doutrina da "arte pela arte" foi formulada, pela primeira vez, com todas as letras,

    na Frana do sculo XIX, pelos poetas parnasianos e simbolistas (Gautier, Leconte de

    Lisle, Baudelaire, Mallarm). Era tambm o credo que inspirava o desesperado artesanato

    estilstico de Flaubert.

    Sua formulao foi sentida pelos artistas como uma verdadeira inovao, a

    libertao da arte de quaisquer compromissos com o no-artstico, a moral, a poltica, a

    exaltao patritica, a tradio nacional, o Bem, a Verdade.

    Na literatura romntica, ainda havia uma tenso moral interna que, na Frana, teve

    sua grande expresso na caudalosa produo potica de Victor Hugo, hoje pouco prezada

    (mal conseguimos compreender o verdadeiro endeusamento de que Victor Hugo foi

    objeto em vida).

    Significativamente, a evoluo da poesia moderna, em fins do sculo XIX e

    incios do XX, deriva diretamente desses cultores da "arte pela arte": a poesia moderna

    no existiria sem Baudelaire ou Mallarm.

    Isso se deve principalmente ao fato de que esses poetas, libertados dos lastros

    morais ou patriticos, puderam fazer a poesia avanar tecnicamente, em termos de

    linguagem, at os extremos limites, de que o "Lance de Dados" de Mallarm o

    paradigma ltimo.

    Descendendo deles, a poesia mais significativa do sculo XX nasce da "arte pela

    arte". Da arte como inutenslio. No como veculo de princpios "superiores" ou

    "maiores".

    Por essa razo, boa parte da melhor poesia deste sculo poesia sobre poesia,

    poesia crtica, poesia tendo o prprio poetar como objeto de inspirao. Metalinguagem,

    como se diz no jargo tcnico. Mesmo quando tem uma "motivao moral" por trs (o

    que inevitvel, j que o homem um ser poltico, logo moral).

    A doutrina da arte pela arte uma decorrncia natural da sobrevivncia da arte

    numa sociedade regida pelo mercado.

    No mundo burgus, a obra de arte s pode ser duas coisas: ornamento e

    mercadoria. Um afresco renascentista na parede de uma Igreja um complexo composto

    ideolgico, pulsando de tenses morais e intenes de envolvimento coletivo. Um quadro

    de Manabu Mabe na sala de um banqueiro apenas um complemento do tapete e do

  • padro dos sofs. A burguesia saudou a liberdade formal da arte moderna, comprando-a.

    Transformando-a em mero artesanato: Qualquer artista bem informado de hoje sabe que a

    arte j acabou. O que continua existindo artesanato (ou industrianato).

    Certas artes, pintura, escultura, se prestaram melhor a essa transformao em

    mercadoria eticamente neutra, buscadora apenas de qualidades plsticas e cromticas,

    tcnicas e sintticas.

    Ornamento e mercadoria, a linguagem da pintura moderna perdeu todo o impacto

    subversor das vanguardas do incio do sculo (expressionismo, fauvismo, futurismo,

    cubismo, surrealismo, abstracionismo geomtrico, tachismo). Ao ouvir falarem arte

    moderna, o burgus puxa o talo de cheques.

    Mas uma arte resistiu com particular vigor a essa comercializao.

    E essa foi a literatura, a arte que tem a palavra como matria-prima. Em especial, a

    poesia, lugar onde a palavra atinge vigncia plena, mxima, substantiva.

    Nem era de admirar. Signicamente, as artes so feitas com cones (cores, sons,

    melodias, ritmos, movimentos corporais). A literatura, a poesia, a nica arte feita com

    smbolos (palavras que o poeta, alquimista, tenta transformar em cones).

    Ora, um cone, uma cor pode ser a-moral e "a-poltica".

    Uma palavra no pode.

    Pra comeo de conversa, uma cor um valor universal, independente de raa,

    poca ou lugar. Uma palavra, toda palavra pertence a um idioma particular,

    historicamente determinado no espao e no tempo, o mais pesado lastro coletivo que o

    homem pode carregar. Falar basco na Espanha ou galico na Irlanda um gesto, em si,

    poltico (as naes deveriam coincidir com o espao de uma lngua ou dialeto).

    Cada palavra tem sua histria, sua biografia, sua etimologia.

    Seu uso deflagra uma constelao de sub-significados e sentidos que, em cada idioma

    particular, tem certo desenho prprio e intransfervel.

    A palavra , essencialmente, poltica. Portanto, tica.

    Da, talvez, a dificuldade de transformar a literatura, a poesia, em mercadoria.

    Na fico, o ramo comercialmente mais prspero da literatura, no a palavra a

    verdadeira mercadoria. E o enredo, a trama, o entrecho, vale dizer, desenhos, isto ,

    cones. Aquelas coisas que Brecht queria, em vo, vender, entrando na fila dos roteiristas

    de Hollywood...

    O puro valor da palavra est na poesia. Por isso, sempre considerada mercadoria

    difcil. "Poesia no vende" um dos mandamentos do Declogo mnimo de qualquer

    editor sensato. Pois no vende mesmo. O destino da poesia ser outra coisa, alm ou

    aqum da mercadoria e do mercado.

    Mal obram e mal pensam aqueles que reclamam da renitncia das casas editoras

    em publicar poesia. Deveriam mais ficar alegres. A poesia, afinal, a ltima trincheira

    onde a arte se defende das tentaes de virar ornamento e mercadoria, tentaes a que

    tantas artes sucumbiram prazeirosamente.

    E no deixa de intrigar o fato de a doutrina da "arte pela arte" ter sido formulada,

    exatamente, por poetas. No por pintores, nem por romancistas.

    Transformada em mercadoria, a obra de arte transformada em nada.

    Os tericos da "arte pela arte" apenas recolheram essa maldio. E lhe deram sinal

    positivo.

  • Desde ento, a arte est em conflito direto com o mundo. A melhor arte do sculo

    XX um gesto contra o mundo que a rodeia. Uma negatividade.

    A via russa

    "Acontece comumente que os autores de romances, mesmo tratando,

    aparentemente, de combater os vcios, apresentam-nos com tais cores que por esse

    mesmo fato fazem com que os jovens se sintam atrados por vcios dos quais conviria no

    falar. Qualquer que seja o mrito literrio dessas obras, elas s podem ser publicadas se

    tiverem em vista um fim verdadeiramente moral".

    "Mutatis mutandis", a frase poderia ser assinada por qualquer autoridade cultural

    sovitica (ou socialista) de hoje. Basta substituir "moral" por "coletivo", "socialista" ou

    "revolucionrio".

    Mas a frase do conde Razumovski, ministro da Instruo Pblica da Rssia, em

    1814, justificando a proibio de um romance que satirizava a sociedade aristocrtica da

    poca.

    Tanto da parte do governo quanto da parte dos escritores, a extraordinria

    literatura russa do sculo XIX (Gogol, Tolsti, Dostoivsky, Turguinev, Tchkov)

    uma literatura, sobretudo, moral. E a conscincia social do povo russo, uma literatura de

    acusao e denncia, de resistncia e responsabilidade coletiva.

    Carter moral: nisso, os poderes e a oposio estavam de acordo. S os sinais

    estavam trocados. Ao foroso e forado moralismo da censura czarista, os escritores

    russos reagiram com um moralismo oposto.

    O grande momento reflexivo dessa afirmao russa do carter moral da literatura

    "O que Arte", de Tolsti (de 1898).

    Nesse ensaio implacvel, o autor de "Guerra e Paz" denuncia a "degenerescncia"

    da arte moderna, em particular, a doutrina da "arte pela arte", luz de critrios ticos e

    "humanos". Para Tolsti, toda a arte e a literatura de sua poca lhe parecem

    manifestaes patolgicas de sensibilidades decadentes e "desumanas". Repugna-lhe seu

    "ocultismo", sua tendncia criana de seitas e "panelinhas" fechadas. No rigor das suas

    exigncias, expressa cabal repdio a Balzac, Flaubert, Zola e os Goncourt, enquanto

    exalta a fico de Dickens, Victor Hugo e Dumas pai... Sobre os poetas, Baudelaire,

    Mallarm, seus juzos so mais severos ainda.

    Esse carter tico da literatura russa vem do sculo XIX e continua, quase intacto,

    na literatura sovitica: a Revoluo apenas herda do czarismo o utilitarismo artstico e

    literrio. Nesse aspecto, a literatura do povo russo apresenta uma rara unidade de sentido.

    De Razumovski a Tolsti, chegamos a Plekhnov, o introdutor do marxismo na Rssia: a

    mesma postura "utilitarista", moral, anti-arte pela arte. Seu "A Arte e a Vida Social",

    conferncias de 1912, repete, em nota marxista e proletarizante, a argumentao de

    Tolsti.

    Nessas conferncias, cujo brilho no pode ser negado, Plekhnov conduz o

    julgamento da "arte pela arte", luz dos seus condicionantes de classe. O que em Tolsti

    era moral, em Plekhnov poltico.

    Descontados os detalhes, essa viso da arte e da literatura prosseguiria por toda a

    era sovitica, stalinismo adentro.

  • Importa muito observar ainda como essa viso russa da arte impregnou a esttica e

    a potica do socialismo em geral. Uma postura ideolgica marxista do mundo parece ser

    indissocivel de uma viso utilitria e utilitarista da arte, nas antpodas da "arte pela arte".

    Adorno: "Arte pela arte" de esquerda

    Felizmente, a viso marxista da arte no parou nos maniquesmos moralistas de

    Plekhnov, produzindo com Adorno (Theodor W. Adorno) uma espcie de sntese

    dialtica entre o inutenslio da "arte pela arte" e o compromisso tico e poltico de viver

    revolucionariamente uma dada circunstncia histrica.

    Expoente da chamada Escola de Frankfurt, Adorno j um contemporneo de

    Walter Benjamin e Brecht. Sua reflexo terica se volta para um capitalismo numa fase

    muito mais adiantada que a de Plekhnov. Comparado com Plekhnov, Adorno reflete a)

    num meio intelectualmente muito mais sofisticado e b) numa circunstncia no-

    revolucionria.

    Para Adorno, a grandeza da arte est em sua capacidade de resistir ao estatuto de

    mercadoria, em situar-se no mundo como um "objeto no identificado". Em sua recusa de

    assumir a forma universal da mercadoria, a arte, a obra de arte a manifestao, em seus

    momentos mais puros e radicais, de uma "negatividade". Ela "a anttese da sociedade".

    A anttese social da sociedade.

    Para Adorno, crtico eleitor agudssimo das contradies do capitalismo, a arte s

    tem uma razo de ser enquanto negao do mundo reificado da mercadoria. Vale dizer,

    enquanto inutenslio.

    A tenso tica da obra est nesta recusa em virar mercadoria.

    Misteriosamente, os defensores da "arte pela arte" tinham razo.

    Obs.: Texto disponvel em: http://www.elsonfroes.com.br/kamiquase/ensaioPL1.htm

  • Inutenslio

    Paulo Leminski

    A ditadura da utilidade

    A burguesia criou um universo onde todo gesto tem que ser til. Tudo tem que ter

    um para qu, desde que os mercadores, com a Revoluo Mercantil, Francesa e

    Industrial, substituram no poder aquela nobreza cultivadora de inteis herldicas,

    pompas no rentbeis e ostentosas cerimnias intransitivas. Parecia coisa de ndio. Ou de

    negro. O pragmatismo de empresrios, vendedores e compradores, mete preo em cima

    de tudo. Porque tudo tem que dar lucro. H trezentos anos, pelo menos, a ditadura da

    utilidade unha e carne com o lucrocentrismo de toda essa nossa civilizao. E o

    princpio da utilidade corrompe todos os setores da vida, nos fazendo crer que a prpria

    vida tem que dar lucro. Vida o dom dos deuses, para ser saboreada intensamente at

    que a Bomba de Nutrons ou o vazamento da usina nuclear nos separe deste pedao de

    carne pulsante, nico bem de que temos certeza.

    Alm da utilidade

    O amor. A amizade. O convvio. O jbilo do gol. A festa. A embriaguez. A poesia.

    A rebeldia. Os estados de graa. A possesso diablica. A plenitude da carne. O orgasmo.

    Estas coisas no precisam de justificao nem de justificativas.

    Todos sabemos que elas so a prpria finalidade da vida. As nicas coisas grandes

    e boas, que pode nos dar esta passagem pela crosta deste terceiro planeta depois do Sol

    (algum conhece coisa alm- Cartas redao). Fazemos as coisas teis para ter acesso a

    estes dons absolutos e finais. A luta do trabalhador por melhores condies de vida , no

    fundo, luta pelo acesso a estes bens, brilhando alm dos horizontes estreitos do til, do

    prtico e do lucro.

    Coisas inteis (ou "in-teis") so a prpria finalidade da vida.

    Vivemos num mundo contra a vida. A verdadeira vida. Que feita de jbilo,

    liberdade e fulgor animal.

    Cem mil anos-luz alm da utilidade, que a mstica imigrante do trabalho cultiva

    em ns, flores perversas no jardim do diabo, nome que damos a todas as foras que nos

    afastam da nossa felicidade, enquanto eu ou enquanto tribo.

    A poesia u principio do prazer no uso da linguagem. E os poderes deste mundo

    no suportam o prazer. A sociedade industrial, centrada no trabalho servo-mecnico, dos

    USA URSS, compra, por salrio, o potencial ertico das pessoas em troca de

    performances produtivas, numericamente calculveis.

    A funo da poesia a funo do prazer na vida humana.

  • Quem quer que a poesia sirva para alguma coisa no ama a poesia. Ama outra

    coisa. Afinal, a arte s tem alcance prtico em suas manifestaes inferiores, na diluio

    da informao original. Os que exigem contedos querem que a poesia produza

    um lucro ideolgico.

    O lucro da poesia, quando verdadeira, o surgimento de novos objetos no mundo.

    Objetos que signifiquem a capacidade da gente de produzir mundos novos. Uma

    capacidade in-til. Alm da utilidade.

    Existe uma poltica na poesia que no se confunde com a poltica que vai na

    cabea dos polticos. Uma poltica mais complexa, mais rarefeita, uma luz poltica ultra-

    violeta ou infra-vermelha. Uma poltica profunda, que crtica da prpria poltica,

    enquanto modo limitado de ver a vida.

    O indispensvel in-til

    As pessoas sem imaginao esto sempre querendo que a arte sirva para alguma

    coisa. Servir. Prestar. O servio militar. Dar lucro. No enxergam que a arte (a poesia

    arte) a nica chance que o homem tem de vivenciar a experincia de um mundo da

    liberdade, alm da necessidade. As utopias, afinal de contas, so, sobretudo, obras de

    arte. E obras de arte so rebeldias.

    A rebeldia um bem absoluto. Sua manifestao na linguagem chamamos poesia,

    inestimvel inutenslio.

    As vrias prosas do cotidiano e do(s) sistema(s) tentam domar a megera.

    Mas ela sempre volta a incomodar.

    Com o radical incmodo de urna coisa in-til num mundo onde tudo tem que dar

    um lucro e ter um por qu.

    Pra que por qu?

    Obs.: Texto disponvel em http://www.elsonfroes.com.br/kamiquase/ensaioPL2.htm.

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