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FUNDAOESCOLADESOCIOLOGIAEPOLTICADESOPAULO
CURSODEPSGRADUAOLATOSENSUEMGESTODEPOLTICAS
PREVENTIVASDAVIOLNCIA,DIREITOSHUMANOSESEGURANA
PBLICA.
MrcioSILVAGONALVES
AEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELOAEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELO
ATENDIMENTOPOLICIALEDUCAOCOMOFORMADEATENDIMENTOPOLICIALEDUCAOCOMOFORMADE
HARMONIZAO.HARMONIZAO.
Livros Grtis
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Introduo
SoPaulo
2008
2
MrcioSILVAGONALVES
AEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELOAEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELO
ATENDIMENTOPOLICIALEDUCAOCOMOFORMADEATENDIMENTOPOLICIALEDUCAOCOMOFORMADE
HARMONIZAO.HARMONIZAO.
Monografia de concluso de Curso de Ps
Graduao, sob orientao do Coronel PM
LuizdeCastroJunior.
SoPaulo
2008
FolhadeAprovaoFolhadeAprovao
MrcioSILVAGONALVESMrcioSILVAGONALVES
AEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELOATENDIMENTOAEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELOATENDIMENTO
POLICIALEDUCAOCOMOFORMADEHARMONIZAO.POLICIALEDUCAOCOMOFORMADEHARMONIZAO.
Conceito:Conceito:
BancaExaminadoraBancaExaminadora
Professor(a)_____________________________________Professor(a)_____________________________________
Assinatura:__________________________________Assinatura:__________________________________
Professor(a)_____________________________________Professor(a)_____________________________________
Assinatura:__________________________________Assinatura:__________________________________
Professor(a)_____________________________________Professor(a)_____________________________________
Assinatura:__________________________________Assinatura:__________________________________
DatadaAprovao:DatadaAprovao:
Dedicatria
A minha Famlia, pelo apoio, pacincia,
dedicao, esperana, compartilhamento e
estmuloparaseguiradiante,mesmocomas
vicissitudesdavida.
ATodosquedealgumaformacontriburam
com incentivo e fora, sem qual se tornaria
maisdifciltransposiodosobstculosnos
momentosdifceis.
Agradecimentos
Ao Deus, fora criadora de todos os
homens, que nos concedeu o dom do livre
arbtrio para as escolhas que fazemos
diariamenteemnossasvidas.
HISTRIAESOCIEDADE
A histria vital para a formao da
cidadania porque nos mostra que para
compreender o que est acontecendo no
presente preciso entender, quais foramos
caminhos percorridos pela sociedade
brasileira; seno parece que tudo comeou
quando tomamos conscincia das nossas
vidas.
HistoriadoBrasilporBorisFausto2002.
9
PREFCIOPREFCIO
OpresentetemadesenvolvidopeloalunoMrcioSilvaGonalves,A
efetividadedosDireitosHumanospeloatendimentopolicialEducaocomoforma
de harmonizao atende plenamente os princpios tratados no Curso de Ps
GraduaoLatoSensuemGestodePolticasPreventivasdaViolncia,Direitos
Humanos e Segurana Pblica, pois a pesquisas realizadas forampautadas na
verificao dos aspectos positivos e negativos que envolvem os atendimentos
voltadosaopblicoemgeral,realizadospelasDelegaciasdePolcia.OAutortraa
umparaleloentreosfundamentosqueregemosDireitosHumanoseacondutados
agentesdareadeseguranapblica,baseadasnospreceitosdaboaeducao,
poisnaverdadeapreservaodaintegridadefsicaedignidadedaspessoas,so
conceitosquedevemsersedimentadosduranteainfnciaeadolescncia,assim,se
acreditaqueopapeldafamliadesumaimportnciaparaaconstruodeuma
sociedadepromissora.Oatendimentodosanseiosdoscidados,noestsomente
focadoemnormas legaiseregrasestabelecidaspelas instituiespoliciais, mas
tambmdeveexistir sensibilidadeporpartedeseusprofissionais, nosentidode
entender que as pessoas que buscam os servios na rea de segurana, no
momento emque figuramcomovtimasdeumdelito, seencontram fragilizadas
pelostraumasdecorrentesdaviolnciaaqualforamexpostas,momentoemque
alimentamexpectativadequeoEstado, representadopelospoliciais, recepcione
suassolicitaeseadotemasprovidnciasquepermitamemumprimeiroinstante,
satisfazer os interesses da vtima e seus familiares. Diante dessa premissa,
parabenizo o Autor, pela dedicao ao desenvolver uma Obra que contemple
aspectosquedevemserestudadoseaplicadospelasinstituiespoliciais.
LUIZDECASTROJUNIOR
Orientador
11
RESUMORESUMO
AEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELOATENDIMENTOPOLICIALatualmenteumadasmaioresnecessidadesparaosagentespoliciaisnoexercciodosDireitosHumanos todifundidosnosculoXX. Partindo dapremissaqueoagentedeseguranapblica tempapel fundamentalnagarantiadessesdireitos,principalmenteparaaSociedade,ondesepercebeumsensocomumdequeaspolciaseseusagentessoaquelesquemaisferemosdireitosfundamentais,umadasvriasrazespelaqualapopulaoadquirepreconceitos,gerareclamaes,dennciaseatmesmoantipatiaportonobreprofisso.OobjetivodestetrabalhoverificarsenaprticadiriadospoliciaisquetrabalhamnasDelegaciasdePolciasoutilizadasasteoriasministradasnoscursosdeformaoeadquiridasaolongoda sua vida acadmica. A EDUCAO COMO FORMA DE HARMONIZAOpoder ser um instrumento efetivo para o exerccio e gozo pleno dos DireitosHumanospor parte dosagentesdeseguranapblica. Nossomtodoser pelaanlisehistricadaformaodopovobrasileiro,dainstituiodaPolciaJudicirianoBrasil, complementandocomestudosqueenvolvemaquestodaseguranapblica, mdia, violncia e criminalidade. O resultado esperado ser verificar seexistecorrelaorealdaaplicaodosconceitosedoutrinasdeDireitosHumanosno exerccio do trabalho policial, mediante o servio prestado nos plantes dasDelegacias de Polcia na capital do Estadode So Paulo. Tendoemvista queanualmente as reclamaes sobre mauatendimento e desrespeito aos DireitosHumanosgeramaltosndicesnegativos,querefletemnaaltaestimaenotrabalhopolicial.Paraissoserutilizadodadosempricos,entrevistas,pesquisasdecampo,materiaisimpressosdediversosautores,organizaescivisepblicasalmdeumavisodosprpriospoliciaissobreDireitosHumanoseatendimentopolicial.
Palavraschave:DireitosHumanos,atendimentopolicial,educao.
ABSTRACTABSTRACT
TheeffectivenessofthehumanrightsthroughpoliceattendanceisintheactualityoneofthemostneedsforthepoliceofficersinHumanRightsexercisesodefundedin20thCentury.Onfromtheideathattheagentofpublicsafetyhasfundamentalrolein order to guarantee these rights, mainly for thesociety where canbenotedacommon sense that police forces and officers are those who ignore more thefundamentalrights, which isoneofseveralreasonsthat leadstopreconceptions,generatecomplains, accusationsandevenantipathy tosonobleprofession. Theobjectiveofthepresentresearchworkistoverifyifthetheorylearnedinformationcoursesandthoseacquiredduringtheacademiclifeareusedinthedailypracticebythe officers that work in Police Stations. That EDUCATION AS ANHARMONIZATIONFORMcouldbeaneffectiveinstrumenttothefullexercitationandjoy of theHumanRights by theagents of Public Safety. Our methodwill bebyhistorical analysis of the formation of the Brazilian people, the establishment ofJudicialPoliceinBrasil,complementingwithresearchesthatinvolvethematterofpublicsafety,media,violenceandcriminality.ExpectedresultwillbeifthereisrealcorrelationbetweentheapplicationoftheHumanRightsconceptsanddoctrinesinlawenforcement, trough the service offered in Police Stations work shifts in thecapital of So Paulo State. Considering that annually complains about badattendance and disrespect of Human Rights generate high negative levels, thatreflectinselfesteemandpolicework.Inordertoachievethatitwillbeusedempiricdata,interviews,fieldresearch,publishedmaterialsfromseveralauthors,civilianandpublicorganizationsbesidesthepointofviewof thepoliceofficersaboutHumanRightsandsocialattendance.
Keywords:HumanRights;policeattendance;education
LISTADELISTADEILUSTRAESILUSTRAES
FIGURA1VOTODECABRESTO.......................................................32
FIGURA2ERNESTBURGESS...........................................................41
FIGURA3TEORIADASZONASCONCNTRICAS...........................41
FIGURA4OCORRNCIASNOMUNICPIODESOPAULO...........44
FIGURA5ORGANOGRAMADAPOLCIACIVILDESOPAULO...69
FIGURA6VISTAFRONTALDOPLANTOPOLICIALDO9DP.....91
FIGURA7ORGANOGRAMADASEGURANAPBLICA..............145
FIGURA8CURSOESPECIALDEATENDIMENTOAOCIDADO
GAP......................................................................................................146
FIGURA9CARTILHASPRODUZIDASPELOSEDHPR................147
GRFICO1CARREIRASPOLICIAIS...............................................195
GRFICO2TEMPONACARREIRA................................................195
GRFICO3LOCALQUETRABALHA.............................................195
GRFICO4EXERCEAATIVIDADE................................................195
GRFICO5FAIXASALARIAL.........................................................195
GRFICO6FORMAO..................................................................195
GRFICO7SALRIOJUSTO?....................................................196
GRFICO8COMPLEMENTODOSALRIO...................................196
GRFICO9SALUBRIDADE.............................................................196
GRFICO10DEIXARIAAPOLCIA?..............................................196
GRFICO11MOTIVOSDAQUESTO10......................................196
GRFICO12SABED.HUMANOS?.................................................196
GRFICO13D.HPARAASPOLCIAS?.........................................197
GRFICO14ATENDIMENTO...........................................................197
GRFICO15SUGESTES...............................................................197
GRFICO16SUGESTESSOOUVIDAS?..................................197
GRFICO17REALIZAOPROFISSIONAL..................................197
GRFICO18TREINAMENTO...........................................................197
GRFICO19RELACIONAMENTOC/SUP......................................198
GRFICO20RAZESPARAFICARNAPC...................................198
TABELA1RELATRIODOANODE2007DAOUVIDORIADESO
PAULO...................................................................................................87
15
LISTADEABREVIATURASESIGLASLISTADEABREVIATURASESIGLAS
SIGLA SIGNIFICADO
ACADEPOL AcademiadaPolciaCivildeSoPaulo
CDHU CompanhiaHabitacionaldeDesenvolvimentoUrbano
CEP CaixaEletrnicoPolicial
CF ConstituioFederal
CIC CentroIntegradodaCidadania
CMDH ComissoMunicipaldeDireitosHumanos
CONDEPE ConselhoEstadualdeDefesadosDireitosdaPessoaHumana
CONSEG ConselhodeSeguranadaComunidade
CP CdigoPenal
CPP CdigodeProcessoPenal
DECAP DepartamentodaCapital
DOP DivisodeOperaesEspeciais
DP DistritoPolicialouDelegaciadePolcia
FESPSP FundaoEscoladeSociologiaePoltica
FUNDAP FundaodoDesenvolvimentoAdministrativo
GAP GestodeAtendimentoaoPblico
GCM GuardaCivilMetropolitanadeSoPaulo
ILB InstitutoLegislativoBrasileiro
IPP InstitutoPrPolcia
LICC LeideIntroduodoCdigoCivil
LOPC LeiOrgnicadaPolciaCivil
MJ MinistriodaJustia
NAQP NcleodeAvaliaodeQualidadedeAtendimento
OAB OrdemdosAdvogadosdoBrasil
OEA OrganizaodosEstadosAmericanos
ONG OrganizaoNoGovernamental
ONU OrganizaodasNaesUnidas
PAT ProgramadeAtendimentoaoTrabalhador
PMESP PolciaMilitardoEstadodeSoPaulo
PMSP PrefeituraMunicipaldeSoPaulo
PROCON FundaodeDefesadoConsumidor
PRONASCI ProgramaNacionaldeSeguranaPblicacomCidadania
PSIU ProgramadeSilncioUrbano
RCI RegistroCivildeIdentidade
SAFI ServiodeAvaliaoFuncionaleInstitucional
SAP SecretariadeAdministraoPenitenciria
SAR ServiodeAtendimentoaoReclamante
SEDHPR SecretariaEspecialdeDireitosHumanosdaPresidnciadaRepblica.
SENASP SecretariaNacionaldeSeguranaPblica
SSP SecretariadaSeguranaPblica
SUSP SistemanicodeSeguranaPblica
SUMRIOSUMRIO
FOLHADEAPROVAO......................................................................5
MRCIOSILVAGONALVES...............................................................5
AEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELOATENDIMENTO
POLICIALEDUCAOCOMOFORMADEHARMONIZAO..........5
CONCEITO:.............................................................................................5
BANCAEXAMINADORA........................................................................5
PROFESSOR(A)_____________________________________.........5
ASSINATURA:__________________________________...................5
PROFESSOR(A)_____________________________________.........5
ASSINATURA:__________________________________...................5
PROFESSOR(A)_____________________________________.........5
ASSINATURA:__________________________________...................5
DATADAAPROVAO:.......................................................................5
PREFCIO............................................................................................10
RESUMO...............................................................................................12
ABSTRACT...........................................................................................13
LISTADEILUSTRAES....................................................................14
LISTADEABREVIATURASESIGLAS...............................................16
SUMRIO..............................................................................................20
INTRODUO......................................................................................23
INTRODUO......................................................................................23
1HISTRIADAFORMAODOBRASILEDASOCIEDADE ........... 31
2ASPOLCIAS ..................................................................................... 61
3EDUCAOEFORMAOPOLICIAL ............................................. 75
4CIFRASNEGRASEOATENDIMENTOPOLICIAL ........................... 84
5COMOFUNCIONAUMADELEGACIADEPOLICIAEMSP ............. 90
6APOLCIAEASLEIS ...................................................................... 100
7DIREITOSHUMANOSPARAASPOLCIAS ................................... 117
8SOLUESPOSSVEISEMCURTOPRAZO ................................. 126
CONCLUSO......................................................................................148
CONCLUSO......................................................................................148
REFERNCIAS...................................................................................164
REFERNCIAS...................................................................................164
APNDICEAENTREVISTACOMCOORDENADORDOCENTRO
DEANLISESEPLANEJAMENTODASECRETARIADE
SEGURANAPBLICADOESTADODESOPAULOTLIO
KHAN...................................................................................................173
APNDICEAENTREVISTACOMCOORDENADORDOCENTRO
DEANLISESEPLANEJAMENTODASECRETARIADE
21
SEGURANAPBLICADOESTADODESOPAULOTLIO
KHAN...................................................................................................173
APNDICEBENTREVISTACOMOOUVIDORDASPOLCIASDA
SECRETARIADESEGURANAPBLICADOESTADODESO
PAULOANTNIOFUNARIFILHO.................................................184
APNDICEBENTREVISTACOMOOUVIDORDASPOLCIASDA
SECRETARIADESEGURANAPBLICADOESTADODESO
PAULOANTNIOFUNARIFILHO.................................................184
APNDICECQUESTIONRIOAPLICADOSOBREATENDIMENTO
POLICIALEGRFICO........................................................................193
APNDICECQUESTIONRIOAPLICADOSOBREATENDIMENTO
POLICIALEGRFICO........................................................................193
22
Sumrio
INTRODUOINTRODUO
No sculo XX, aps duas grandes Guerras Mundiais, a civilizao
Ocidental percebeu que havia a necessidade de controlar o instinto natural do
homemdepossuiredesesobreporsobreosdemaisseresdoplaneta,inclusiveaos
seussemelhantes.
No perodo antecessor dessas Guerras, monarcas e governantes
impunhasuavontadenicasobreosdemais,sujeitandoosaosmartriosdeuma
vidasemqualquertipodedireito.
Documentos antigos prmedievais como a Carta ao Rei Joo Sem
Terra1,jtentavamlimitarospoderesdosoberano,queporsuavontadeditavaos
conceitosdojustoedoinjusto.
NaevoluodedireitosautorescomoBeccariaeFoucault2entreoutros,
denunciavamosabusosdessesgovernantescontraumapopulaoindefesaesem
instruo,ansiosaspormudanasemsuasvidasresumidasapenasnotrabalhoe
naservido.
ComadecadnciadoAbsolutismoeaexpansodoMercantilismoedo
mundoconhecido,novosconceitosedoutrinasretiraramdasmosdosimperadores
esoberanosadefiniodosensodejustia,surgianovasigualdadesedireitos.
1MagnaCarta(MagnaChartaLibertatum)Redigidaemlatimbrbaro,aMagdaCartaLibertatumseuConcordiaminterregemJohannenatbaronesproconcessionelibertatumecclesiaeetregniangliae(Cartamagnadasliberdades,ouConcrdiaentreoRetiJooeosBaresparaaoutorgadasliberdadesdaIgrejaedorei ingls)foiadeclaraosolenequeoreiJoodaInglaterra,ditoJooSemTerra,assinou,em15dejunhode1215,peranteoaltocleroeosbaresdoreino.2CesareBonesana,marqusdeBeccaria(Juristaeeconomistaitaliano),(17381794).JuristaeeconomistaitalianonascidoemMilo,cujasidiasinfluenciaramodireitopenalmoderno.PaulMichelFoucault,(Filsofo).(19261984).AutordaobraSurveilleretpunir(1975;VigiarePunir)amploestudosobreadisciplinanasociedademoderna,paraele,"umatcnicadeproduodecorposdceis".Oinstintodaprisoteriaporobjetivoomarginaldoproletariadoeassimreduzirasolidariedadeeoprocessodaclasseinferior;confinandoasilegalidadesdaclassedominada,sobreviveriammaisfacilmentesilegalidadesdaclassedominante.
Introduo
ORenascimentofoifenmenotransformadordepensamentosementes,
seexpandindopor todoomundoOcidental, inclusivenoNovoMundode terras
recmdescobertaspeloNovoHomem3.
AascensodoSistemaMercantilista criouummundonovoondeno
somente o sangue azul predominava, havia influncias de indivduos que
sobrepujavamosinteressesdasNaes,grandesCompanhiasdeComrcio4foram
criadas, a nova burguesia fomentava o comrcio mundial trazendo uma nova
reflexosobredireitossclassesdiferentesdosnobresereligiosos.
Paraatendersexpectativasdessenovopoderqueevoluarapidamente,
o Capitalismo foi a soluo que mais se amoldou aos interesses dos novos
poderosos,umsistemavoltadoaoacmuloderiquezas,valorizandoohomempela
suafortunaenopeloseutrabalho,umambienteondeoindividualismoeraaregra
eacoletividadeesolidariedadeexcees.
Novamente o simples homemse viu frente no mais ao Absolutismo
Monrquico, mas sim de um Individualismo Capitalista representados pelos
senhoresdo comrcio, ondeas nicassemelhanasentre os sistemaseramas
negaesdosdireitosbsicos,descartavamsevidaseliberdadesparaseconseguir
maislucroseprestgio.
Nesseesteio,apssculosdelutasparaseconseguirosexercciosdos
direitos bsicos, como vida e liberdade e, aps a deflagrao de duas guerras
mundiais, representantes das naes de diversos pases reuniramseem24de
outubrode1945,paraformularregrasmnimasdecondutahumana.
Essas regras serviriamnomais para umacoletividade localizadaem
determinadanao,massimparatodososhabitantesdoglobo,ondeasgarantias
3ONovoHomemeramoldadonafilosofiadarazosobreaf,profundamenteimpregnadopelaidiadequearazohumanadeveiluminar,darvidaaosindivduosesociedadessobreafacedaTerra.4SocompanhiasdecapitalprivadosurgiramnaInglaterra,nosculoXVI,entreelasadosComerciantesAventureiros,quefoitransformadanaCia.daMoscviaouCia.Russa,em1555.OutrafoiaCia.deVeneza,em1583,eaCia.dasndiasOrientais,constitudapelosinglesesem1600.Essacompanhiapossuaomonoplio,noReinoUnido,docomrciocomasndiasOrientaisesetornoumaispoderosaem1763(TratadodeParis),quandoasvitriasdeClivefizeramosfrancesesabandonaremandia.NaHolanda,destacouseaCia.HolandesasdasndiasOrientais,formadaem1602pelauniodeseisgruposquevinham,isoladamente,realizandoocomrciocomoOriente.Passouateromonopliodenavegao,comercioeadministraodasregiesdoOriente, cabendoaoEstadosupervisionla. PossuatodosospodereseprivilgiosdeumEstadoSoberano,masemnomedaRepblicadasSeteProvnciasUnidas.Em1621foifundadaaCia.HolandesasdasndiasOcidentais,comomonopliodocomrciodaAmrica,costaocidentaldafricaeOceanoPacficoalestedasMolucas.
24
Introduo
mnimasvaleriamemqualquerlugareemqualquertempo,portanto,nascemnesse
momentoosprincpiosmodernosdosDireitosHumanosformuladopelaOrganizao
dasNaesUnidas5.
NosculoXXI,apsmaisdecincodcadasdapromulgaodaCartados
DireitosdoHomempelasNaesUnidas,asmaioriasdosseusprincpiosesto
explcitosemquasetodasasConstituiesdomundoocidental.
Paraefeitodeestudo,essesdireitossedesdobramesoclassificados
por geraes6, evoluindo conforme as necessidades da Sociedade Universal e
garantemomnimodedireitosnecessrios,paraqueohomemnopercaasua
naturezahumana.
Piovesan(2007:4142)destacaquesteshistricassobreaaplicaoe
exercciorealdessesdireitosentreuniversalistaserelativistas,osprimeirosdiziam
queummesmodireitodeveriavalercommesmopesoemqualquerpartedomundo,
j ossegundosdefinemqueasquestesculturaisdaformaodeumpovoso
influenciadorasdepercepesdiferentessobreoqueseconsideradireito.
Paraqueumdireitosejarealmenteexercitadoemsuaplenitude,devese
definir quais deles realmente tm importncia para esta ou aquela sociedade,
garantindosequecadaculturaeseupovopossuamseuprprio discursosobre
quaisdireitosfundamentaismaisseamoldamaosseusanseiosedesejos.
Essas discusses trouxeram divergncias sobre o reconhecimento da
existnciadevriostiposdeDireitosHumanosequaisdelesserviriamemtodasas
partesdoglobo.
5Fundadaem24deoutubrode1945,nacidadedeSoFrancisco(CalifrniaEstadosUnidos),aONU(OrganizaodasNaes Unidas) uma organizao constituda por governos damaioria dos pases domundo. a maior organizaointernacional, cujoobjetivo principal criar ecolocar emprtica mecanismos quepossibilitemasegurana internacional,desenvolvimentoeconmico,definiodeleisinternacionais,respeitoaosdireitoshumanoseoprogressosocial.6DireitosHumanosdePrimeiragerao:direitoscivisepolticoscompreendemasliberdadesclssicas,realamoprincpiodaliberdade.DireitosHumanosdeSegundaGerao:direitoseconmicos,sociaiseculturais,identificamsecomasliberdadespositivas, reais ou concretas e acentuam o princpio da igualdade. Direitos Humanos de Terceira Gerao: titularidadescoletivasconsagramoprincpiodafraternidade,englobaodireitoaomeioambienteequilibrado,umasaudvelqualidadedevida,progresso,paz,autodeterminaodospovoseoutrosdireitosdifusos.DireitosHumanosdeQuartagerao:referesebiogentica,etc.(Fonte:http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/tertuliano/dhnaidademoderna.html)
25
Introduo
Superadaestafase,entendeseatualmentequeosprincpiosuniversais
soaquelesvoltadosparaumanecessidademnimadevida,liberdade,cidadania
entreoutros,quepossamtrazerpazaohomem.
Uma anlise da abrangncia universal, decorrente de um ambiente
multiculturalaplicadoemcadapastornasenecessriaparaexplicitarquestesde
como efetivlos e garantir o exerccio de todos os direitos nas diversas e
heterogneaspopulaesemqualquerpartedoglobo.
ComoadventonosculoXXda1e2GuerrasMundiais,omundofoi
dividido em potncias militares e, aps o trmino dos conflitos os vencedores
tornaramsefinanceiramenteemilitarmentehegemnicos.
NasceuumperodoconhecidocomoGuerraFria,poisasnovaspotncias
tinham capacidade de destruir o mundo com suas armas, mas agia de forma
dissimuladaeclandestina.
Noerainteressante,economicamente,exterminararaahumanacom
bombas atmicas, sobrepujavam outros pases fomentando golpes, derrubando
governos,criandoembargoseconmicos,dividiramomundoporseus interesses
individualistasefinanceiros,atrocidadescometidastornaramsebanais,ohomemfoi
reduzidocoisa,aanimaldeproduo.
Diversos governos, militarmente e economicamente poderosos
imaginavamquetinhamopodereinflunciadeDeuses,sentiramselivres,bbados
depodereseusinstintosdedominaoeimperialismoafloraram.
Acoisamaisterrvelqueocoraodohomempodeagentarumavida
semliberdadeoudireitoseapsamortedemilhesdepessoaspelaxenofobiadas
GuerrasMundiaisedasguerrasregionaisfomentadasporpotncias,osfatosea
histria humanademonstraramquecertos desejos de onipresenadeveriamser
barrados.
UmadasrespostaspsCartadasNaesfoiregionalizarasaesde
proteoedefesadosDireitosHumanos,fomentarorganizaescomalcancelocais
26
Introduo
comoaOEA(OrganizaodosEstadosAmericanos)agindoemumauniversalidade
dedireitosatuandoespecificamenteeefetivamenteempasesondelaosculturaise
histricossemelhantesfacilitariamarealizaodosobjetivosdasNaesUnidas.
EmdiversospasesademocratizaopolticaemodernizaodoEstado
administrao so fatores que, somados aos objetivos das Naes Unidas,
verificamseessenciaisparagarantirqueosdireitosmnimossejamefetivadosna
prtica.
Princpios advindos da Carta das Naes integram as Constituies
Ocidentais, inclusive na brasileira observamos o princpio da Legalidade onde
ningumdever fazerouabstersedeaoouomissosenoemvirtudedalei,
comovabaixo:
Art.5 Todossoiguaisperantealei, semdistinodequalquernatureza,garantindoseaosbrasileiroseaosestrangeirosresidentesnoPasainviolabilidadedodireitovida,liberdade,igualdade,seguranaepropriedade,nostermosseguintes:II ningumserobrigadoafazeroudeixardefazeralgumacoisasenoemvirtudedelei;(ConstituioFederal(1988),grifosnossos).
Mas,nobastaestardescritaexplicitamenteemConstituiesouLeis,tem
queserrealizadasnaprticaouseroletrasmortas,semsentido.
Naatualidadebrasileira quempode realizar a efetividadedosdireitosque
estas leis prevem? A sociedade? Com certeza, mas no s ela, os prprios
Estados por intermdio de seus rgos estatais tmo dever de garantir esses
direitos,ecomofazerisso,modernizandosuaestruturaeseusrepresentantes,ou
seja, seus agentes que os representam nas mais diversas reas de atuao
governamental.
Nesse contexto, com a promulgao da Constituio Brasileira de 1988,
vriasInstituiesgovernamentaisforammodernizadaseelevadasarepresentantes
dademocracia,algumasparaagarantiaconstitucionalcomooMinistrioPblico,
outrascomoasDefensoriasPblicas,foramcriadasparaseremacessojustiados
hiposuficientes,etc.
27
Introduo
Pormalgumasinstituiescomsculosdeexistnciaforamapenascitadas
nobojoconstitucional,comodefensorasdeumEstadoDemocrticoefunode
garantiraordempblica,ouseja,fazerobviofundamental,garantiraexistnciado
EstadoparaseuPovo.
Oartigo 144, danossaatual ConstituioFederal, define as funesdas
Polciaseemseupargrafo4definetambmafunodaPolciaJudiciriaem
mbitoestadual,ouseja,aPolciaCivilrgosubordinadoaoestadodafederaoe
aorepresentantedoexecutivoestadual,oGovernador.
Comopodemosperceber,diferentedeinstituiescomooMinistrioPblico,
no foi definido uma estrutura uniforme e como deveriam pautarse, apenas
deveriam obedecer aos princpios legais e no ser contrria aos ditames
constitucionais. No houve sequer previso de uma Lei Orgnica Nacional que
padronizasseosprocedimentos, investigaese ingressonascarreirasdosseus
quadros,nomximoamenodedirigentes,delegadosdecarreira.
LembrandoosensinamentosdeNestorSampaioPenteadoFilho(2008:710),
anossaConstituioformal,poisnotrataapenasdeassuntostpicosdoestado,
tambmanaltica,ouseja,descreveminciasepormenoresqueosconstituintes
originriosconsideraramfundamentais,mesmoassim,detalhescomoosexplanados
acimaforamesquecidos.
Outro exemplo, dessa mincia esta no artigo 242, pargrafo 2 da
ConstituioFederal,adefiniodequeoColgioDomPedroIIsersubordinadoa
Unio,deverasserimportanteparaahistoricidadedopas,masqualosentidode
inserilootextoconstitucional,poderiabemserreguladoporleiordinria.
JsobreaSeguranaPblica,algoimportanteemumpasquepormaisde
duas dcadas viveu sob o regime autoritrio foi relevada, os rgos policiais
mereceram lembranaapenasno artigo 144, caput, para uma: preservao da
ordempblicaedaincolumidadedaspessoasedopatrimnio.
Paraumaefetivagarantiadoexercciodosdireitosfundamentaisnobastam
Leis,temoEstadodeefetivlosmedianteseusrgoseagentes,devendo
28
Introduo
modernizareaparelhartodasasInstituiesquegarantamademocraciaeo
exercciodosDireitosHumanos.
Nosoapenascomtecnologia,armas,coletesaprovadebalas,queas
polciaspodemefetivaralutacontraaopressoeinjustiacotidiana,masincluindo
filosofias,doutrinaserespeitoaosDireitosHumanostantoaocidadocomum,como
paraoagentedeseguranapblicaquenaexecuodeseusatosdeverespeitar
essesdireitoseterconscinciadesuautilidadeebeneficio.
Naspolciasestaduaisapercepogeralqueissonoacontece,podese
tecerdiversassuposies,comoporexemplo, ofatodenossopasserdeuma
extenso continental, ou talvez os constituintes originrios preferissem atingir a
pacificao social e efetivar os Direitos Humanos, pela especificidade e
peculiaridadeterritorialpermitindoquecadaentepolticodafederaoorganizasse
suaseguranapblica.
Mas,passados20anosdapromulgaodaConstituioBrasileira,equase
setedcadasdapromulgaodaCartadasNaes,osdesejosdeumapolciaque
respeiteosDireitosHumanosaindanoserealizaramtotalmente.Encontrasenos
noticiriosnacionaiseinternacionaisdennciasdesuaviolnciaequemaisferem
direitosfundamentais.
Ser queaquelescongressistasrepresentantesdopovode1988estavam
errados em regionalizar as polcias? Ser que fenmenos mundiais como a
globalizao,novosvaloresfamiliaresouculturasestrangeirasinterferiramparaque
noseefetivasseessesdireitos,ouasInstituiesPoliciaiseseusagentesnotm
educaoeformaoadequadanemmesmoparaatenderosusuriosbsicosdo
serviopolicialquediariamenteprocuramosplantespoliciais.
Soasquestesdiscutidasnestetrabalho,nocomapretensodeesgotaro
tema,masdelevarasmentesecoraesreflexesdequaltipodepolciaede
agentesdeseguranapublicasedesejaparaopas.
Homens e mulheres agentes de segurana esto desejosos de serem
reconhecidos como cidados e efetivar com seu trabalho e esforo os Direitos
29
Introduo
Humanos constantes na Constituio Brasileira, no como meros instrumentos
polticosedepoder, queseguemosditamesdeumouvriosgovernantessem
discutiresemtercapacidadededizer:algoestaerrado,devemosmudarens
policiais,podemosfazerisso.
30
11 HISTRIADAFORMAODOBRASILEDAHISTRIADAFORMAODOBRASILEDA
SOCIEDADESOCIEDADE
A cultura colonial, senhor versus escravo a vigente na Sociedade
Brasileira,encontraseessasensaoerealidadeemdiversasobrasqueexploram
o binmio opressor e oprimido, como exemplo, a de Gilberto Freyre (CASA
GRANDE&Senzala7).
Aviolnciarealdodiaadiaatualmenteestainstitucionalizadacomomodelo
deumEstadoocidentalqueprobeaautotutela.
NapocaColonial e Imperial8 eraaviolnciaescravocrataquevigoravae
ainda hoje vemos resqucios desse perodo, razes culturais dessas pocas se
refletemna memria da coletividade como o preconceito enrustido contra afros
descendentes,pobreseapolcia.
Comoexemploinicialpodemoscitarasprpriasinstituiespoliciaisestatais
nos primrdios da Repblica brasileira, formadas e escolhidas por coronis9,
personalidadesqueperduraramoficialmenteat1930,masqueaindahoje,pode
ser encontradasno interior do Brasil onde os lavradores tratamseus patres e
donosdeterrasdesenhoresoucoronis.
Asprincipaiscaractersticaseram:
Voto de Cabresto: na Repblica Velha, o sistema eleitoral era
consideradomuitofrgil efcil desermanipulado,oscoroniscompravamvotos
paraseuscandidatosouostrocavamporbensmateriais(paresdesapatos,culos,
alimentos,etc.).Comoovotoeraaberto,oscoronismandavamcapangasparaos
7CASAGRANDE&senzala:formaodafamliabrasileirasoboregimedeeconomiapatriarcal.51ed.EditoraGlobal:SoPauloSP:2006.8ConsideradooperodododescobrimentoataProclamaodaRepblica(15001889).9NoiniciodoperodorepublicanonoBrasil(finaldosculoXIXecomeodoXX),vigorouumsistemaconhecidopopularmentecomocoronelismo.Estenomefoidado,poisapolticaeracontroladaecomandadapeloscoronis(ricosfazendeiros).
Captulo
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
locais de votaocomoobjetivoera
intimidar os eleitores e ganhar votos,
assim, aquelasregiescontroladas
poltica e militarmente pelos coronis
eramconhecidascomocurraiseleitorais, conformepodemosobservarnafigura
abaixo10.
Figura1VotodeCabrestoFonte:RevistaCaretaRiodeJaneiro,1927
Fraude eleitoral: Outra caracterstica do poder dos coronis que eles
alteravamvotos,sumiamcomurnaseatmesmopatrocinavamaprticadovoto
fantasma,esteltimoconsistia na falsificaodedocumentosparaquepessoas
pudessemvotarvriasvezesouatmesmoutilizaronomedeparentesfalecidos
nasvotaes.
Poltica dos Governadores: Os primeiros governadores dos estados e os
presidentesdaRepblicafaziamacordospolticos,nabasedatrocadefavorespara
governaremdeformatranqilaesemanteremnopoder.
Osgovernadoresapoiadospeloscoronis,nofaziamoposioaogoverno
central e ganhavamem troca do apoio, liberao de verbas federais que eram
desviadaseusadasparafortaleceraindamaisospoderesdoschefeslocais,esta
10Dennciaaovotodecabresto(chargedeStorni,revistaCaretaRiodeJaneiro,1927).
32
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
prtica foi criada pelo presidente da Repblica Campos Sales (18981902) e
fortaleceuopoderdoscoronisemseusestados.
Polticadocafcomleite:NofimdosculoXIXecomeodosculoXX,os
estadosdeSoPauloeMinasGeraiseramosmaisricosdanao,enquantoo
primeirolucravacomaproduoeexportaodecaf,osegundogeravariqueza
comaproduodeleiteederivados,porissoeraconhecidapolticadealternncia
nopodercentraldaRepblicadessesdoisestadoscomo,caf(SoPaulo)eleite
(MinasGerais).
Os polticos destes Estados faziam acordos para perpetuaremse na
presidnciadaRepblicae,entre1890at1930,muitospresidentesforampaulistas
oumineiros.
OfimoficialdessefenmenoocorreucomaRevoluode1930eachegada
de Getlio Vargas ao poder, o coronelismo perdeu fora e deixou de existir
oficialmenteemvriasregiesdoBrasil,apesardeprticascomocompradevotose
fraudeseleitoraiscontinuarexistindoaindaporumlongoperodo.
Nahistriadaformaodeumestadoconsideradobrasileiro,percebemos
que as noes de legalidade e garantia dos direitos, inclusive humanos, foram
adaptadosdemodelosexternos.
Os exemplos que inspiraram as Cartas Polticas nacionais desde 182411,
tiveramcunhotipicamenteeuropeuouamericano,parmetrossobreclasse,raa,
direitos fundamentais utilizados no Brasil colonizado para definir aquilo que era
consideradocertoouerradopocadaspromulgaesououtorgasconstitucionais,
no refletia verdadeiramente a realidade da sociedade brasileira,
predominantementenegra,miscigenadaepobre.
NoBrasil algunssetoresdasociedadeColonial, Imperial eprrepublicana
ligadasIgrejaCatlicainfluenciarameaindainfluenciamnosdiasdeamoralda
famlia e reflexosdoqueseconsideramdireitoshumanosesua importnciana
111ConstituioBrasileiraConstituioImperial.
33
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
Sociedade,inclusivenaformaodaculturadeoutrospovosamericanosdeorigem
Ibrica12.
A Igreja, pocadodescobrimento do nossopas, j contavacommais
quinzesculosdeexistnciae,naEuropa,porquatrocentosanosdominoucommo
de ferro o desenvolvimento cultural dos pases daquele continente e dos
colonizados;estevefrentedeumperodoquehistoriadoreseestudiososchamam
deaIdadedasTrevas13.
Contraposto a essa filosofia de cerceamento de conscincia, os novos
homenseuropeus impulsionadospelo Renascimento, lanaramsea descobertas
nasterrasalmmares,acobertadosaindadediversostabusreligiososenraizados
naculturacatlicasecular.
SobreacolonizaonoBrasil,nofomoscolonizadosporsantosesimpor
homens comuns, que presos durante anos por tabus e dogmas religiosos,
encontraramnoNovoMundoumaliberdadeplenaparaosseusvciosedesejos
carnais,misturandoseusgenescomosnativosecomosescravos.
Aformaodopovoedaculturabrasileiradeveseaessefatorpredominante
demisturaderaas,formandooquehistoriadorescomoDarcyRibeiro14chamadeo
PovoBrasileiro.
Ao se analisar etimologicamente, o sufixo eiro na definio do povo
brasileiroencontrar umofcioouprofisso,isso,poisenquantooutrospasesse
determinamasi ouaseuscidadoscomsufixoano,ouseja, nascidodaquela
terra, comoColombiano,Americano, etc. NoBrasil, tornouseeiro oubrasileiro
quelesdesignadosenascidosnesseterritriodoBrasil.
Ora,sepoderiapensarqualaimportnciadesermosanooueiro,masao
refletirsobreosentimentocultural,verificaseumaquestodecidadania.
12PasesdesdeoMxicoataArgentinaforamcolonizadosporpasesibricos,PortugaleEspanha,entreosXVIeXVII.13 Perodocompreendido entreosanos de1200e1600, ondeasforaspolticaseespirituais daIgrejadesenhavamoscaminhosdahumanidadeOcidental.14DarcyRibeiro,etnlogo,antroplogo,professor,educador,ensastaeromancista,nasceuemMontesClaros(MG),em26deoutubrode1922,efaleceuemBraslia,DF,em17defevereirode1997.EntreoutrasobrasescreveuOPovoBrasileiroondeexplicaaformaodopovobrasileiroesuaculturadesdeodescobrimento.
34
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
Poisosufixoeirosignificacomojfalamos,deofciosouprofissescomo
marceneiro que trabalha com madeiras, pedreiro que tem como seu ofcio o
manuseiodeconstruo,padeiroeoutrosquetmomesmosignificadoetimolgico,
aquelesquetrabalhamparaalgum.
Assim, no eram considerados cidados aqueles que trabalhavam para
algum,quesepodeverificarserumaspectonahistriadamaioriadapopulao
brasileiranos322anosdoperodocolonial(15001822)quevivemossobodomnio
dePortugaleat mesmonoperodoImperial ondeaSociedadeerapatriarcale
escravocrata.
SomenteosdescendentesdosBragana,dascasasnobresportuguesas,dos
Condes,Marqueseseoutrosttuloscomprados,almdoscoronisbarganhados,
tinhamprivilgiossobopontodevistadosdireitoshumanos,liberdade,igualdade,
processolegaleoutros.
NoBrasil Colnia,seumescravocometiacrime,umhomemlivreepobre
assumia,poisosenhorfeudalquemaistardesetornariacoronel,nopoderiaperder
o seu lucro, sua propriedade pois para ele comopara Portugal, o Brasil servia
apenascomoempresaecomotal,quandoconseguissemuitodinheiroiriaviverna
Europacivilizada.
Ohomembrancoelivrequeassumiaocrime,seriaumfugitivoeprotegido
poralgumsenhordeterrasouescravospelofavorqueassumira,tornavasejaguno
oucapangaparaservirdetestadeferrooujusticeirocontraoutroscoronis,essas
nuancessolembradasemqualquerliteraturaounoveladepocarepresentativa
dessesperodos.
Em1889,proclamouseaRepblicahouveintensointeressenamanuteno
dopoderporpartedoexrcitoeseusMarechaisfortalecidosporterematuadoem
diversasbatalhas15dentroeforadoBrasil.Paraaefetividadedessamanutenode
poder deveriameliminar os monarquistas e aqueles que os apoiavamcomo os
15GuerradoParaguaiediversasbatalhasinternascomoadosFarrapos,CabanagementreoutrasnosestadosparamanteraunidadedoBrasil,fortaleceramoexrcitoeseuscomandantes.
35
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
bares,marqueses,osantigossenhoresdeescravoseterras,assim,criminalizaram
quaisqueraesvoltadasrestituiodoantigoregime.
ComainstituiodoCdigoPenaldaRepblicaem189016,surgiuafigurada
vadiagem,tipificadaatualmentecomoContraveno,comovemosabaixoemtexto
antigocolonial:
Art.399.Deixardeexercitarprofisso,officio,ouqualquermisteremqueganheavida,nopossuindomeiosdesubsistenciaedomiciliocertoemquehabite;proverasubsistenciapormeiodeoccupaoprohibidaporlei,oumanifestamenteoffensivadamoraledosbonscostumes:Penadeprisocellularporquinzeatrintadias.1Pelamesmasentenaquecondemnaroinfractorcomovadio,ou vagabundo, ser elle obrigado a assignar termo de tomaroccupaodentrode15dias, contadosdocumprimentodapena.(CdigoPenal(1890).
Naspesquisasparaacomposiodestetrabalho,destacaseumtrechoda
entrevista queo dignssimoOuvidor dasPolcias de SoPaulo, senhor Antnio
FunariFilhonosconcedeu,ondenodecorrerdodilogo,relataumfatohistricopor
qualpassounasuavida,querefleteperfeitamenteopreconceitoediscriminao
daspessoaspobresemplenosculoXX.Aomesmotempoumpoucodarazoda
antipatiadapopulaoparacomosrgospoliciais,vejamos:
M H umaquestosociolgica, nosei seosenhorpoderia ajudar aesclarecer...Poisnomeiopolicialumjargo,eumesmocomopolicialjfizisso,naabordagemdeumcidado,pedirosseusdocumentos,maspensando o porqu de pedir os documentos para ele...? Ser que odocumentocomprovaalgumacoisaquemeleouno,fiqueiimaginandoqueo vciopolicial mefez fazerestapergunta, depoisde formadoemdireito percebi, que aquilo que fazia no deveria ser daquele jeito, aabordagempolicialnoscentrosurbanosmodificou,masnaperiferiaaindaassim,estacomodocumento?, ondeestaasuacarteiraprofissional,coisasdessetipoquedevemterorigememalgumlugar,atcoloqueinasquestesecomasuaexperincia devidaeprofissional, j percebeuarazodisso?OIssoaveio...Issohistrico,etemcomofundamentoaquestodavadiagem.MAvadiagemdaLeideContravenoPenal?OSim,daContravenoPenal, vadiagemcomo infraopenal, eafunodapolciahistoricamenteeratambmdisso,recolhiaseaspessoas
16Decreton.847de11deoutubrode1890.
36
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
presasporvadiagemeeramtransferidasparaoPresdioTiradentes,nemexistemais,stemumportall.
MFicavaemquelocal?OPrximoaoJardimdaLuz,estaoTiradentes(metr),justamentefoifeital,ondeeraum...Praticamenteumdepsito,eraumaantigacasadosculo19,meparecequefoiummercadodeescravosedepoisadaptadaparacadeia,eraumdepsito...Tinhaachamadaprisocorrecional.MEraparaestaspessoas?OSim...Chegaval,enarealidadepodiaseprenderquemquisesseedepositava l, issoai euchegueiaconhecer, poisopresdioTiradentestinhaumaaladepresospolticos,criadanapocadaditaduradeGetlioedepoiscontinuoul,mas...estoufugindodoassunto....MNo,no,issoimportanteparaahistria.OOqueinteressaisso,quehojenoseprendemaisporvadiagem,seprendeapenaspormandadoouflagrante,massecriouessanorma,tanto queaspessoasnessaocasio... Acarteiradetrabalhoeraumacoisamuitoimportante,principalmenteparaopovoapresentarissoparasairdopreconceito, eraumadascoisas importanteseainda, maseraamaisimportante, pois significava que voc era empregadoou foi empregado,tinhabonsantecedentesedadecorreessestiposdeabordagens,queuma coisa que j vem do comportamento em relao vadiagem.(Entrevistapessoal.2008).
ComamiscigenaodopovobrasileiroeopreconceitonoBrasilcolonial,da
igualdadesomenteformalanteriormenteexplicitadaaplicadaaossenhoresdeterras,
escravosouaquelesdesanguenobre.Comooseminstruo,ofcio,cultura,bero
e sendo vadio branco, negro ou pobre, poderia ter direito a ter direitos, se a
simplesaodenadafazer,eracrime?
A IgrejaCatlica tambmtemumaparcela deculpanessadiscriminao,
naturalmente pela predominncia da miscigenao nativa e africana surgiram
diversoscultosereligiosidadescomoformadosescravosendiosmanteremsuas
origens.
Essaliberdadedeexpressotambmforaproibidaetodasasformasdeculto
diferentes do catolicismo, poca do1 Reinado ramos umpas com religio
oficial, a Catlica17 e isso, por fora da Igreja permaneceu por muito tempo,
atualmente somosumadas naes que mais temcatlicos no mundo, herana
familiareculturaldeumpasformalmentemonotestadentrodeoutromaterialmente
multireligiosoporformao.
17NaConstituioImperial,outorgadaem1824porDomPedroI,determinavasequeareligiooficialdoBrasileraaCatlica.
37
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
NestaConstituioImperial,editadanosmoldesdaConstituiodosEstados
UnidosdaAmricaeEuropa,odireitoapropriedadeeraprivilegiadoecomotal,
amoldouseperfeitamenteaosinteressesdossenhoresdeterras,antigossesmeiros
coloniais.
Tanto que o requisito para ser cidado e ter direitos polticos era ser
proprietriodeterras,sendoassim,aquelesnopossuampropriedadeestavama
margensdaSociedadecolonial, sempreosprimeiros(senhores) impondoseaos
segundos(brancosounegros)pobressuasvontades.
Essaimposioforadaentreaquelequepodeeaquelequenopode,criou
ofenmenovistoaindanosdiasatuaisdopessoalismooudofavoritismo,poiso
direitodemocracia,liberdadetolouvadoseanunciados,sovaloresqueno
eramenosovivenciadosnaprticadeumapessoamulata,pobreelivre,ouseja,
amaioriadopovobrasileiro.
Atualmenteasquestesrelativasexistnciadedireitosinerenteatodosos
homens, os direitos humanos, esto voltadas na sua efetividade, dever haver
igualdademnimadedireitosemqualquerpartedoglobo,comotambmoseupleno
exerccioquetambmdeveseranalisadosobumprismasociolgico.
Existem diversos povos no planeta vivendo momentos sociolgicos no
uniformes,cadahumanoemdeterminadolocalnafacedaTerraviveaficodo
tempoemumaigualdade.
Para determinadas naes, como as ocidentais que tem o calendrio
gregoriano como referncia de sua Sociedade se encontra no sculo 21, mas
mesmoentrepasesqueadotamessesistematemporalasuamatrizculturalpode
noseequiparar.
Podem vrias naes viver no sculo 21, mas com dificuldades e
pensamentosculturaisdosculo11oumenos.
Comoexemplo,pasesafricanosdeorigemcolonizadoraibrica,seguemo
citado calendrio, tem Constituies nos moldes ocidentais, de fraternidade,
38
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
liberdade,massobrevivemcomoseestivessemacentenasdeanosatrasadosse
comparadosapasesdesenvolvidosquesegueamesmalinhatemporal,assimo
direito preconizado emumpas no pode literalmente servir de referncia para
outros.
Considerandoumavisocapitalistadedesenvolvimentocomoparmetrona
sociedadeocidental,severificaaexistnciadepasesconsideradosdesenvolvidos,
emdesenvolvimentoousubdesenvolvidoseaquelesnodesenvolvidos.
Pases como frica, Estados Unidos, Brasil vivem e temvalores sociais,
culturais e caractersticas territoriais diferentes, que afetam e influenciam na
formao das gentes e no sentido daquilo que poderamos considerar certo ou
errado,justoouinjusto.
Pessoas dentro de um territrio formamas gentes, que ligadas por uma
identidadecomumcaracterizamsecomonacionais,formandoculturasdestinadasa
seremmecanismossociaisdesanopsicolgica,criandoaficodoenteEstado
comgarantidordeumaharmoniaparaaexistnciadeumavida,nomnimoempaz.
Manifestaes culturais da nossa psmodernidade criaram indivduos
diferentesdentrodeumamesmasociedade,compartilhamsentimentosfamiliares,
universos e culturas heterogneas e segundo Cunha (2007: 295) a percepo
geogrficaesocial quetemosmoradoresdosguetosounoBrasil periferias,
refletemaquiloqueconsideramcertoouerradoeinfluenciamsuasaes.
Analisandooperfil,desejoeasaspiraesconfrontadasdessapopulao
marginalizada que moram nas periferias, favelas, ou como dizem atualmente
comunidades,queapesardonomenotemnadadisso,comarealidadedeuma
vidadesigual,visualizaseumdesejodestatussocialqueamacroSociedadeimpe
comopadroeosrotulacomodesiguais,sobreissoexplicaCunha:
Fenmenomundial,essesbairrosantesconsideradospopulares,vopaulatinamentesendodesignadoscomoespaoderejeiosocialouaindadedegradaosocial.Anteshabitadosporoperriosdegrandesindstrias,cedemlugaraodesemprego,aotrabalhoinformal
39
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
e, sobretudo, aotrfico de drogas.Umdosmaissriosproblemascomque
soconfrontadosessesmoradoresparece perdadeumethos18
profissionaleidentitrioqueantesosuniapositivamentecomo,porexemplo,operrios,trabalhadoresetc.(Cunha,2007:298).
SegundoCalhau(2007:59)osfenmenosdeexpansodametrpoleparaas
periferiassomundiais,nasdcadasde20e30nosEstadosUnidossoboprisma
dacriminologiamodernanasceupelasmosdaEscoladeChicago,umateoriade
consensodenominadaTeoriaEcolgica.
Essateoriavisavaprovarqueofenmenocriminalestavaligadoaumarea
natural,advindadasgrandesmigraesdentrodeumpas,algomuitosemelhante
aos xodos migratrios das dcadas de 60 a 80 no Brasil incentivado pela
industrializao e planos de metas da era JK19, dos governos militares
principalmentedeMdice20.
Caracterizouseessateoriaporpragmatismo,dadosempricos,eestudosdas
relaesentreaorganizaodoespaourbanoeacriminalidadenessasreasao
analisar se a prpria metrpole e seus sistemas de incluso e excluso social
produziriamacriminalidadedasperiferiasporumadesorganizaofamiliarefaltade
controleestatalnesseslocais.
18 Ethosumtermogenricoquedesignaocarterculturalesocialdeumgrupoousociedade,designamumaespciedesntesedoscostumesdeumpovo,ostraoscaractersticospelosqualumgruposeindividualizaesediferenciadosoutros.
19GovernoJuscelinoKubitschek(19561961).
20EmlioGarrastazuMdici,governouoBrasilentre19691974.
40
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
Figura2ErnestBurgessFonte:AmericanSociologicalAssociation.
Comaanlisedosdadoscoletados,ErnestBurgess21umdosexpoentesda
EscoladeCriminologiadeChicago,criouaTeoriadasZonasConcntricas,onde
tentavaexplicarcomoaviolnciaecriminalidadesealastravamdametrpolepara
asperiferias,dividiuporzonas,comoocorrenosatuaisguiasderuas.
Simplificando o conceito e observando a figura
abaixo, podemos observar que na teoria desse
pesquisador h trs zonas: principal, de transio e
perifrica22, se observaria que onde ocorreria maior
numero de violncia e crimes eram nas zonas de
transio, pois nesses locais existiam moradias de
trabalhadores queascenderamdaszonasmenosabastadaspara as perifricas,
pequenoscomrcioslocais,ealgumaestruturagovernamental.
Figura3TeoriadasZonasConcntricasFonte:AmericanSociologicalAssociation.
21ErnestWatsonBurgess,nasceuem16deMaio1886nacidadedeTilbury,Ontario,Canada,filhodeEdmundJ.BurgesseMaryAnnJaneWilsonBurgess.Seupai foi MinistroreligiosodaCongregational Church. BurgessestudounoKingfisherCollegeemOklahomaseformandoem1908,entrounaUniversidadedeChicagoesegraduounoDepartamentodeSociologiaerecebendootitulodePh.D.em1913,faleceuem27dedezembrode1966.
22CalhaulembraqueanoodeperiferianosEstadosUnidos,diferentedospasesdaAmricaLatina,loconceitodeumlugardepadrosocioeconmicoalto.
41
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
NoBrasil,utilizandoosistemadeZonasConcntricasidealizadoporBurgess,
podeserverificadoqueasmaioresincidnciasdecriminalidadeeviolnciaesto
localizadasnasperiferiasenaszonasintermediriasdecomrcioemoradiacomo
osbairrosMoema,BrooklineSantoAmaroalmdeoutrosdomesmonvel,algo
muitosimilarteoriadesseestudiosodosculoXX.
Atualmente, a Imprensa no Brasil registra fatos dirios de violncia e
criminalidadequereforamateoriadeBurgess.
NareportagemdeAndrCaramanteeEvandroSpinelli,sobreaviolnciana
cidadedeSoPaulointituladaInformaesinditasdapolciadeSPmostramque
periferia tem mais crimes contra a vida e reas ricas mais crimes contra o
patrimnio,aoseanalisarasexplicaesdeCunhaeateoriadeBurgess,cabem
muitobemparaasituaodopas,abaixoumasntesedareportagemeummapa
daviolncianomunicpiodeSoPaulo:
[...].Osnmeros,dosegundotrimestredesteano,mostramqueaviolnciaseespalhapelacidade,masseguelgicaprpria.Os crimes contra vida (homicdios e estupro) atingem,principalmente,asregiesmaispobres.Oscrimescontraopatrimnio (roubos, furtoselatrocnio)seconcentramnaregiocentraleembairrosmaisricos.Noprimeiro caso, destacaseo chamado "tringulo damorte", formadopelas regiesdosdistritospoliciais deJardim Herculano, Capo Redondo e Parque SantoAntnio,onde31,5%dosdomicliostmrendadeattrssalriosmnimos.Narea formadapor essas trs delegacias, que incluibairros como Jardim ngela e Jardim So Luis,ocorreram 44 homicdios nos meses de abril, maio ejunho 14,7 por ms em mdia, ou seja, 14,5% doscasosdacidadenoperodo(303).CrimespatrimoniaisDos chamados crimes contra o patrimnio, o furto deveculosumadasprincipaisrefernciasparaalgicadaviolncianacidade.Aanlisedosnmerosdapolciapermitedizerqueessetipo de crime mais freqente na rea formada porbairroscomoPerdizes,LapaePinheiros,todosnazona
42
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
oeste,onde52,3%dasresidnciastmrendasuperiora20salriosmnimos.Essamesmareadazonaoeste,aliadaaocentroeaosJardins,responsveisaindapelosmaisaltosndicesdeoutros furtos (celulares, carteiras, arrombamentos emresidnciasetc.)eroubos(praticadossobgraveameaa,comautilizaodearma,porexemplo).Naclassificaodapolcia,osJardinsestonareacentral.OsnmerosdoMapadaViolnciafazempartedabasede dados da CAP (Coordenadoria de Anlise ePlanejamento), rgo da Secretaria da SeguranaPblicaqueestudaacriminalidadeafimdeadequarautilizao das forasde segurana nopoliciamento dacidade.[...]OutroscrimesOs nmeros apontam ainda as regies com maiorincidnciaderouboabanco,roubodecarga,estuproetrficodedrogas. Roubosabancoestoconcentradosemumareadazonasul(SantoAmaro,Ibirapuera,VilaClementino,CampoLimpoeCidadeAdemar)eemumtrechodazonaoeste(Perdizes,PinheiroseItaimBibi).Juntos, osbairros tm50%dos roubosabancoentreabrilejunho.Osdecargaacontecempredominantemente nas reasprximassrodoviasRgisBittencourt,PresidenteDutraeFernoDias,almdareacentral,queincluiasregiesdecomrciopopulardoBrseruas25deMaroeSantaIfignia.Os estupros ocorrem principalmente nos extremos dacidade.Otrfico,nazonanorte.(Grifosnossos).
43
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
Figura4OcorrnciasnomunicpiodeSoPauloFonte:http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/959
Podemosnotarquepolticaspblicasvoltadasemaespoliciaisousociais
deveriamserdirecionadasondeosfenmenoscriminaisacontecemmais.
Nosguetosamericanosh apredominnciadaviolnciadasgangues,no
casodoBrasil as periferias e os entornosdasMetrpoles estonumaanomia
legislativaesocial,ouseja,universossociaisdiferentes,desagregaofamiliare
leis em excesso ou ambguas dentro de um mesmo territrio, possibilitam o
descontroleearevoltasocialpornoatenderemaosanseiosbsicosdapopulao.
44
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
No se aventurando na seara da Psicologia, mas quando h falta ou
ineficciadassanespsicolgicasdedeterminadogruposocial,aqueleindivduo
nomeiocomunitrioquevivesevmoralmentelibertoparafazeraquiloqueacha
correto, inclusiveusarviolnciaparaatingirasuasatisfaopessoal,oucomo
conhecidopsicologicamenteoseugozoemummundoondeseprivilegiaocapital.
No mundoocidental, o Capitalismoe seu fenmeno, a Globalizao, que
segundooprofessoreDoutoremCinciaPolticaAldoFornazieriumaordem
econmica global com interdependncia entre Estados Nacionais afetando cada
Estadoapsumatomadadedecisocomreflexosemoutros.
Explicaaindaque:
A Globalizao trs um paradigmatismo uma substituio daformadeproduocapitalista,desenvolvidanaatualeramodernaetambmproduzsubparadigmatismo,ondeparaunsaSalvao:globalizao cria empregos, liberdades, sade, etc. (enormesbenefcios)eparaoutrosApocalptica:Arrastaomundoparaumpenhasco(produzpobrezas,crisesedanosnaproduoeeconomiairrecuperveis).(Informaoverbal,2008)
EssaGlobalizaotransformouoCapitalismoemreferenciamundial,secriou
novosvaloresenovosparadigmas,ohomemidealnessesistemaaquelequevisa
lucro e acumulao de capital, pases como os Estados Unidos por sua
ancestralidade de colonizao, amoldaramse perfeitamente nesse modelo de
sociedadeindividualista.
Os Estados Unidos, filhos da Europa como todos os pases americanos,
diferenciampelocomportamentoreligiosodeseuscolonizadores(FiisCalvinistas
Puritanos);devotosdateologiacalvinista,nessareligioafdofielseconsagra
diretamente,nonecessitandodeintermediriose interpretaseaBbliadiferente
dosCatlicos.
45
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
Richard Baxter23 interpretou a Bblia com a finalidade diferente dos
intermediriosdoDeuscatlicoemisericordioso,quesalvaatodosindistintamente
semprecisarfazerquasenenhumsacrifcio,bastandoarrependerse.
SegundoBaxter,oseuDeusafirmavaquesalvariapoucosindivduosepor
issodistribuiriasinaisdesalvaoparaaquelesqueacreditassememsuaspalavras,
eparaosfiisseguidoresaoviverumavidapuritanaeregrada,essessinaisseriam
facilmentevisualizveis.
MaxWeber24emseulivroAticaprotestanteeoEspritodoCapitalismo,
comentaqueparadoutrinacalvinista,seragradvelaDeustervocao,ohomem
devepadecerpeloseutrabalho,assimobterossinaisdeeleio.
O que ser agradvel a Deus? a prosperidade, pois se trabalhar e
prosperarsosinaisdeDeus,estafazendoacoisacertaporissoosucessoocorreu,
pelassuasgraasnuncadever deixar de trabalhar e dever ter umavidareta
senoosfiisincorreroempecadoeossinaisdivinossumiro.
Oexcedentedotrabalhodeverserdistribudoparaaquelesquenecessitam,
poisapreguiaconsideradatentaosedescansareviversomentedoslucros,
deveoverdadeirofielmortificarasuavontade,seucomportamentoficandoimune
aospecadosetentaes.
Nesse pensamento o modelo Capitalista encontrou terreno frtil para se
desenvolver, pois eram necessrias pessoas com capacidade quase infinita de
trabalhoeaomesmotempoincentivaroutrosatrabalhar,poisseoutrosofazemou
soinfluenciadoseefetivamentetrabalham,esteserumdossinaisdeDeus,quem
influencioutermaischancedesersalvo,poisagradouoTodoPoderoso.
Oexcessodelucrosparanosetornartentaooupecado,transformarse
emmigraodevocao,ouseja, umadivisosocial do trabalhoexistiromais
trabalhadoresincansveisvisandoagregartrabalhosparatodos.
23 ORev.RichardBaxterfoi umconhecidopastorreformadorCalvinista,viveunaInglaterraduranteosculoXVII (16151691).24MaxWeber,socilogoalemofalecidoem1918,paraeleomodernosistemaeconmicoteriasidoimpulsionadoporumamudana comportamental provocada pela Reforma Luterana do sculo 16. Ocasio quando dela emergiu a seita doscalvinistascomseufortesensodepredestinaoevocaoparaotrabalho.
46
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
AssimfloresceuoCapitalismonaAmrica,lembramosexpressocunhadade
queTempodinheirotoexplanadopeloscapitalistas.
Oscomportamentosreligiososdosfiisprotestantesproliferaramnascolnias
inglesasnaAmricaesentindoseunoscomonao,lutarampelaindependncia
formandoosEstadosUnidosdaAmrica.
Esse comportamento americano do capitalismo individualista virou
predominnciacomopassardahistria,antesapenasreligiosoracional,agorase
tornousocial racional,aSociedadevoltouseparaumadivisoracionaldosseus
interesses, isto , a racionalidade econmica do trabalho, um dos pilares do
Capitalismo.
Pelahistriadecolonizaoibrica,influnciacatlicaecrescendosemuma
identidadeculturaldefinida,aorientaocoletivadaSociedadebrasileirasolidificou
se na submisso, onde autoridades na figura de poucas pessoas privilegiadas
dominaramosinteressesdanaodurantesculos,soexemplosjcomentados
anteriormenteaescravaturaeocoronelismo.
Aviolnciasurgequandoexisteconflitodosconjuntosresiduaisdassanes
psicolgicas,comoafamliaecultura,poisohomemrazo+sentimento,seo
segundosesobrepe,ocorrerrevolta,poisarazonaspioresadversidadesno
perdeocontrole,aumentaseaviolnciaexponencialmentediminuiodarazo.
SegundoHegel25,ohomemnasuaevoluo,buscaaverdadedascoisase
somenteaalcanaquandopassapor experinciasdeerroseacertos, assim, a
verdadespoderaserconhecidasomenteseumerroforexperimentado,sendo
necessriooerroparaexistiraverdade.
Quandoexistemcontradies,queoembateentreocertoeoerrado,as
pessoastambmpodemseridentificadasemsuasaescomocertasouerradas,a
25GeorgWilhelmFriedrichHegel,filsofo,autordeumesquemadialticonoqualoqueexistedelgico,natural,humano,edivino,oscilaperpetuamentedeumateseparaumaanttese,edevoltaparaumasntesemaisrica.
47
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
histriadohomembaseiasenoseuinteressedesaberemdadomomentohistrico
seaquiloquefezreconhecidocomosimplesoucomplexoserroseacertos.
Quando indivduos de uma sociedade reciprocamente reconhecem uma
verdadepredominante,queaindanofoiprovadosererradaououtraverdademaior
asobreps,inexisteviolnciaoueladiminudapelaunanimidade.
Devesenessaanlisedocertooudoerradoconsideraromedocomofator
desobrevivncia,aquelequeosenhor(quemanda)estarsemprecertoeooutro
queoescravo(medo),estaerrado,mesmoquenoesteja.
Estemedoexistentedosenhorversusescravoumdostraosdacultura
brasileiraesuaevoluonesses509anos,ondequempodemaiscerto,equem
podemenosounadapodeestar errado, lembremseda frasevoc sabecom
quem esta falando? muito utilizado ainda hoje quando agentes de segurana
pblicaabordampessoaspseudoinfluentes.
Nos dias atuais, reconhecese predominncia das democracias e da
autotutelaestatalsobreaviolncia,inclusivenoBrasilondeaConstituiode1988
quesubmeteosindivduosaumacategoriajurdica,impessoal,classificandotodos
comosujeitosdedireitosiguaisperantealei,asntesedoEstadoDemocrticode
Direito.
nessasociedadedomedoedademocraciaemtransformaodesdea
Constituio de 1988 que vivemos, vigora uma inrcia social contrapondose
diretamenteaosdireitosegarantiasdaCarta Magnaquenosoefetivadosna
prtica.
O indivduo nesse tipo de sociedade no tem perspectivas de ascenso
social,dizemqueopovomanso,pacfico,queaquelequenascepobremorrer
pobreesegundoasuaf(catlica)senoserevoltarecumprircordialmenteos
mandosdossuperiores,serrecompensadoemnovavida,poderrenascerricoou
emmelhorescondies.
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HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
A Constituio Imperial de 1824, com fortes tendncias democrticas e
liberaisoriundadaCartaFrancesadosdireitosdohomem,foiadaptada,outorgadae
aplicada em uma sociedade brasileira eminentemente escravocrata, onde se
privilegiavaossenhoresdeterras,nobreza,burguesiaeaquelesquepodiammais.
Podese imaginar que a violncia existente nos dias atuais fruto de
concepes democrticas deturpadas ou que suas razes na cultura brasileira
advmdomodelocapitalistaquesesustentanaescravidodotrabalhadorurbano.
CitadoporGalvoJunior(2005:3637)temseasidiasde RobertoLyra26,
estudiosodeMarx e Engels quecunharama Criminologia Socialista (conhecida
tambmcomoRadical)ondeafirmaqueaslutasdasclassesoperriaspoderiam
servircomoreformadoresdaigualdadededireitosepacificaosocial,masno
absolutatalafirmativa.
Aslutasdasclassesnosohomogneas,poismesmoondepredominamos
pensamentos marxistas como nos pases socialistas, no conseguiram efetivar
garantiasedireitosouexpurgaraviolncia,hvciosemsuasposiespolticas,
poisconsiderandoqueaigualdadeseriaapacificaodasclassestrabalhadoras,
decorreria naturalmenteondeoEstadoadotouessa teoria, nohouveautpica
igualdadedeclasses.
NacriaodoEstadobrasileiro,vemosoresquciodoEstadoabsolutistade
Avis27, se criou umaestrutura social do topopara baixo, demonstrandoo ntido
interesseapenascomoempreendimentocomercialdopasmeemsuascolnias.
OconceitodeEstadosegundoDallari(1987:4951)seriaumaordemjurdica
soberana com a finalidade do bem comum ao povo que se encontra em seu
territrio, sendoassim, teramoscomoseuselementos: o povo, o territrio, e o
governo.
26RobertoTavaresdeLyra(nasceuemRecife,19demaiode1902faleceunoRiodeJaneiro,28deoutubrode1982)foijornalista, jurista, expoente da Criminologia brasileira, pertenceu ao Ministrio Pblico do Rio de Janeiro. Fez parte dacomissorevisoradoProjetodeCdigoPenaldeautoriadoprofessorAlcntaraMachadojuntamentecomNelsonHungria,NarcliodeQueirozeoutros,resultandooCdigoPenalBrasileiroem1940,entrandoemvigorem1942.27ADinastiadeAvis(JoaninaouSegundadinastia)foiumadinastiadeReisdePortugal,quereinounopasentre1385e 1580.
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HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
Comoexplanadoanteriormente,oestadoportugustinhainteresseapenas
emfixarnassuasnovas terrasamericanas,empreendimentoscomerciaisepara
designar e diferenciar aquele que trabalharia para a sua empresa definiuos
brasileirosdeprofissocomopedreiro,marceneiro,carpinteiro,etc.
OBrasil Colnia tinhaosseguinteselementosdoconceitoestatal, Estado
(governoportugus),tinhaoTerritrio(reageogrfica),masnotinhaPovo,aquele
conjunto de pessoas que mantmumvnculo, umpacto jurdicopoltico como
Estado,peloqualsetornamparteintegrantedeste.
No havia uma identidade entre aqueles indivduos, inclusive a lngua
adotadafoiportuguesa,aoinvsdobrasiliano.
NoBrasilcolonial,segundoRibeiro(1995:122)haviaumalnguaformadapor
diversasetnias,eraonheengatu28,lnguaabolidaeextirpadadaculturabrasileira,
qualquerpessoaqueausassepoderiaserexecutadapelasautoridadescoloniais.
Nesta falta de identidadenacional, somente poderamosser considerados
cidados por um Estado que define a cidadania pelo exerccio dos direitos e
garantiasesculpidasnaConstituio.
Viver no atual mundo globalizado trs dificuldades para o exerccio da
cidadania.Naprtica,oEstadobrasileironoconsegueatenderasexpectativasda
populao em criar uma identidade nacional, ocorrem fenmenos como o
estrangeirismoenovosvaloressoimportadosdiariamente.
Essavalorizaodepossesesegregaodoshiposuficientesoriundasde
uma cultura de modelo capitalista cria marginais nacionais e internacionais que
inspiramprincipalmenteos jovenseascrianas, desdeasclassesmaispobres,
filhosdetrabalhadores,atosfilhosdasclassesmaisricas,muitosdelesingressam
em gangues que se denominam famlia, ficando a margem da sociedade
tradicional.
Adorno(1999)citaKleinnadefiniodoqueseriamasgangues:28Comefeito, alnguageral,onheengatu,quesurgenosculoXVIdoesforodefalarotupicombocadeportugus,sedifunderapidamentecomoafalaprincipaltantodosncleosneobrasileiroscomodosncleosmissionrios.(OPovoBrasileiroDarcyRibeiropag.122)
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HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
Podese considerar gangue qualquer grupo de jovens que rena as seguintescaractersticas: seja percebido comoumagregadobemdistinto pelos habitantes deumbairroouregio; seautoidentifiquecomotaldevidoaoempregodeumnomeprprioepeculiar;tenhacometidoumaprecivelnumerodeinfraespenaisapontodoshabitanteslocais e das autoridades encarregadas de preservao da ordem pblica teremdesenvolvidoatitudesnegativasedereprovaocontraogrupo.(ADORNO,1999:41,grifosnossos).
Nesta sociedade multifacetria, trocase o nome de Favela por
Comunidade apenas para amenizar o impacto do estigma daqueles oriundos
desses locais. Naessncia o queexiste de similar nas duasdesignaes a
desagregao familiar tradicional e a falta de assistncia estatal em mundos
culturais diversos, dois plos da sociedade: pobres e ricos almejando mesmo
objetivoemummundocapitalista,ascensosocialesuamanuteno.
Essa ascenso para aquele que nasceu rico facilitada quando tem
condiesdeexigir egarantir osexercciosdosdireitosgarantidosnasdiversas
Leis.
Paraaquelepobre, brancoounegro, o trabalhoeorespeito sLeis no
dignificam,almdesersuperexplorado,recebervaloresinsuficientesparacomprar
alimentosenousufruirosbenefciosqueasociedadedeconsumooferececomo
seusalriodiariamentesegregadopornoseinserirnopadroquesociedadede
consumodeseja.
Nessaconjunturasocialaoporevoltarse,poisnoseidentificanessa
sociedade como igual, nas palavras ministradas emaula pelo mestre Braghini29
sobre a realidade juvenil naperiferia e perdade refernciasimblica, h noo
dessarevolta: Noh dinheiro sujo, a sociedadeensinouquenoexiste outro
poderqueodinheiro,venhadeondevier.Hojeamoedacaucionadaemnada,
simbolizanada.
29 BRAGHINI,Srgio. AulasExpositivassobrePsicologiaeDinmicasdeGruposSociais. FESPSPFundaoEscoladeSociologiadeSoPaulo:SoPaulo,2008.
51
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
Essaafirmaoreforadapelaspalavrasdeoutroestudiosodasociedade
brasileira,oMestreemeducaoeSocilogoXavier30,segueseusensinamentos:
ParaosmembrosdaSociedade,fazcomqueaperspectivadeumfuturomelhorinexista,sendooindivduoimediatista,oqueimportaopresente,usufruirtudoagoraqueconseguir,poisnohprevisodepoderuslos(bensmateriais,morais,etc.)emumfuturoprximo,resultado da Globalizao e a mudana de comportamento.(Informaesverbais,2008).
Paraaproledefamliaricameiodeascensoculturalmanternopodereser
reconhecida como diferente e como na atual sociedade capitalista brasileira os
meiosjustificamosfins,seuspaisfizeramaculturasenhorversusescravovigorar
eessecomportamentoserepeteparaosfilhosdestesquenotemespritosolidrio
queuneaverdadeiracomunidade.
OBrasilumaexpansoeuropia,dassuasvisessobreomundoevalores,
somoscriaodaEuropa,masno idnticos,as idiasepensamentosqueso
consideradosnacionaisparecemseencontrar forado lugarquandoconfrontados
comarealidade.
Essafalsanoodecidadaniaadvmdeexperinciasestrangeirasaplicadas
emsolonacional,pensasecomacabeadomundoditocivilizado,masaplicase
asregrasdecondutadoperodocolonialeimperialnodiaadia..
Leal31,emseulivro (1949:29) Coronelismo,enxadaevoto,explanasobre
os70%daquelesquepodiamvotarnaRepublicaVelha,votavamnaquelesmesmos
7%,quenasuamaioriaeramosdonosdasterras,considerandoqueoshomens
estavamemumadependnciasocialecultural,corrompendoseosistemapoltico
parabeneficiarumaminoria.
30XAVIER,CesarAugustoCndido.AulasExpositivassobreSeguranaPblicaeosGruposSociaisEspecficos:ViolnciadeGnero, HomofobiaeRacismo,TrficodeSeresHumanos. FESPSPFundaoEscoladeSociologiaePolticadeSoPaulo:SoPaulo,2008.31VitorNunesLeal,Jurista,Jornalista,ProfessordeCinciaPolticaeEscritor,foitambmMinistrodoSTF.
52
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
Nessecontextopodeseconsiderarocoronelismocomoumamutaoentreo
regimedeEstadoEuropeuLiberalimplantadoapartirdaConstituioImperialde
1824 e repetido nas posteriores, somada a uma estrutura social baseada em
economiaagrriaefeudalaindacomfortestraosescravocratasdesenvolvidapara
osucessodasoligarquiasagrriasedepoucosindivduos.
Iniciousenesseperodoainstitucionalizaodocurraleleitoral,orientandoa
vontadedaqueleindivduonomaisescravo,masaindadependentedosenhorde
terrasquesomadoaosoutrosiguaisqueles,formavamamassasemidentidade.
A esse sistema de continuidade de poder e imposio do medo que
subjugavaosmais fracossubmetendoosaos interessesdospoderosos,dseo
nomedeCoronelismo,ouseja,trocadefavoresentreoindivduoquevivedefavor
(brancos ou negros, pobres e livres), o poder pblico (Estado) e a influncia
daquelesconsideradoschefeslocais(coronis).
Percebesequenessesistemadecontrole,aestruturaagrriaabasede
sustentao,conseguindoforasparaqueopoderprivadofosseautenticadopelo
poderpblicopormeiodesufrgioserepresentaesviciados,sepodevivenciar
nosdiasatuaisalgumascaractersticasdesseperodoaindalatentesnointeriordo
Brasil.
Dentre as caractersticas polticasdesseperodoqueaindaperduramnas
razessociaisdenossopasest omandonismoeofilhotismo,oprimeiroeraa
perseguiopolticaparaacessoaopoder,ondeparaosadversriosaforadaleie
aosamigos,privilgiosondetudopodiaserfeito.
O filhotismo, outro fenmeno do coronelismo, semelhante ao atual
despotismopoltico,beneficiavaosfilhosdoschefeslocaiseseusasseclas.
AtaascensodoregimedeVargas32oscargospblicoseramdeindicao
dos chefes locais, que para manteremse no poder, colocavam seus filhos e
parentes,criandoumpoderpblicoparalelo,umarededeproteoentreiguais.
32GetlioVargasgovernouentreosanosde1930a1945,adotandoreformaspolticasquealteraramasforaseospoderesdoscoronis.
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HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
Ficavamaquelesqueindicaramaoscargospblicos,impunessepraticassem
delitosouimprobidades,poisoSistemadeJustiainclusivecriminalestavaemsuas
mos.
NahistriadoBrasil,ainstituiodaRepblicapelosMarechaisdoexrcito
fortaleceuoPoderPblico,comadecadnciadopoderprivadodomonarcaque
anteserarepresentadopelanobrezaesenhoresdeterras,aquedadamonarquia
fezcomosltimosparamanteremsenopodersejuntassemaosrepublicanos.
Opoder pblico central quenascapitais por foradosquartis generais,
aindatinhamcertaautonomianecessitavadessaspessoas(coronis)paratambm
mantersenogovernoeevitarasrevoltasdosmonarquistas.
Faziasevistasgrossasaosdesmandosdessespolticosnosseuscurrais
eleitorais,dasconseqnciasdessedescontroleinstitucionalizouseaviolncianos
municpiosmaisafastados.
NoBrasil, a aboliodo regimeservil deescravidoeaproclamaoda
RepblicanofinalsculoXIX,deramumaimportnciafundamentalparaosvotos
ruraiseinflunciaspolticas,poisadependnciadoeleitoradoaoscoronis(donos
deterras)mostravaseemcompletasimbiosecomointeresseestatal.
Adeturpaodoregimerepresentativopelasituaodependentistadopovo
rural,possibilitouaexistnciadovotodecabresto,outracaractersticasecundriado
coronelismo.
Os compromissos entre o poder pblico e os donos de terras criarama
mquinaeleitoral quemantinhaaforadogovernocentral republicanocontraos
monarquistaseafunoeleitoralgovernistamantinhaosprivilgiosdocoronelismo,
eramforasquealimentavamosistemadetrocadefavores.
O coronelismoconsiderase fenmeno da Repblica, mas ainda nos dias
atuaisnosdepararmoscomtraosdessascaractersticasdemanutenodepoder
emregiesondeodesenvolvimento,urbanizaoecontroleestatalaindanoesto
acentuados.
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HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
Interessantecomentarsucintamentesobrealgunseventoshistricosqueso
referncias para o entendimento da atual estrutura do sistema social brasileiro,
AboliodaEscravatura,ProclamaodaRepblica,xodorural, industrializao
doBrasilnasdcadasde60e70eaDitaduraMilitar.
Abolio transformou os negros (mercadorias) em indivduos com alguns
direitos, diferentes daqueles senhores proprietrios de terras, que pelo sistema
censitrio podiamescolher os lderes, essesescravosno tinham funosocial,
eramlivres,maspobresesemterras.
Com proclamao da Repblica, os senhores de terras, aumentaram a
influncianapolticanacional,osvotosruraistornaramsefontesdepodercoma
dependnciadohomemantesescravo,agorasesubmetendoaviverdefavornas
terras, criouse o pessoalismo e como o sistema poltico representativo estava
corrompido,possibilitouafiguradovotodecabresto.
AselitesdaRepblicasecompromissaramcomosistemadocoronelismo,
trocavamseapoiosemantinhaseopoderdosdonosdeterradecadentesdoantigo
patriarcalismo33 sendo uma estrutura governista que vigorou e se fortaleceu no
perododoRegimeRepublicano.
OxodoRuralmotivadopela industrializaofoi outrofatorquecontribuiu
paraaofortalecimentodopessoalismodoscoronisexistentesatosdiasdehoje,
poisseantesparapermanecernasterrasdossenhoresdeveriaopobre,brancoou
negrotrocarfavoresagoraossistemadetrocaseraoutro.
Comapassagemdosculo XIXparaoXX, secriaramnovosambientes
urbanos industrializados, possibilitando liberdade de expresso e trabalho para
aqueles antigos vassalos na aquisio e fabricao de manufaturas e bens de
consumo,necessidadesdessanovapocaqueagoraestavamconcentradasnas
cidades.
As modernizao dos centros culturais com a implantao de colgios,
faculdadesehospitaisfizeramcomqueosantigossenhoresdeterraspatriarcais
33Concentraodopodereconmico,socialepolticonogrupoparental.
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HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
transformadospela Repblica emcoronis, percebessemque nohavia mais a
necessidadedemandarseusfilhosestudarnoexterioreaomesmotempo,podiam
ternasmetrpoles,umavidacommaisconfortodasociedadecivilizada.
Houveamudanapaulatinadaeliteagrriaparaascidadesecomissoseus
dependentes,antesescravosagoracabrestos,tambmsemudavamalojandoseos
ltimosnasperiferiasdascidades,masaindacomfortesvnculoscomosantigos
patres.
EnquantooantigossenhoresdeterraselevadosaBareseagoracoronis
seconcentravamnomelhoremaissegurolocal,comexemploemSoPaulotemos
aAvenidaPaulista,lugaralto,longedasinundaesquesofriaacidadepeloseu
relevogeogrfico,ondeosmaisabastadosconstruamsuasmansesenquantoos
pobresconcentravamsenasperiferias.
OsBaresforamgrandesconcentradoresdepoder,principalmentenaqueles
estadosondeaeconomiaagrriapelaproduodeleiteedecafmovimentavao
pas.
Comtantopoderdebarganhaelegitimadosoficialmentepeloscabrestose
poderfinanceiro,comandaramosrumosdopaspormuitosanos,elegendodiversos
presidentes republicanos, uma alternncia no poder que ficou conhecida como
PolticadoCafcomLeite34.
Segundo Mendes (2005) Vargas ao assumir, quebrou o ciclo vicioso do
coronelismo, tentou acabar com a corrupo civil que se alternava no poder
republicanoimpedindoopasdecrescereevoluirdemocraticamentevejatrechode
umartigodesseautor:
Depois de novembro de 1930 configurase um novo cenrio naevoluodasociedadebrasileira: novasclassessociais burguesiaindustrial e proletariado urbano requerem ateno na tomada dedecisespolticas,marcandoodesenvolvimentoulteriordopas.Asantigas oligarquias ligadas ao setor exportador progressivamente
34A"PolticadoCafcomLeite"consistianumaalianaentreosdoisEstadosmaispoderososdafederao:SoPaulo(centrodaeconomiacafeeira)eMinasGeraisprodutordeleite(detinhaomaiorcontingenteeleitoraldopas).EssaalianapreviaumrodzionaindicaodocandidatoaserapoiadopelosdoisEstadosnaseleiesperidicasparaaPresidnciadaRepblica.
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HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
decaem em prestgio e influncia. O Estado passa a ser umimportante indutor do desenvolvimento, coordenando esforos,planejando,intervindodiretamentenaproduo,controlandoaordemsocial.(Mendes,2005:9)
Nessapocaosprincpiosdosdireitoshumanosondeprevaleciaideologiade
igualdadeentreospovoseprosperidade,eramlargamentedivulgadoscomomeio
deimpedirasatrocidadesda1GuerraMundial.
Aindustrializaodopasearetiradadohomemdocampoparaasgrandes
cidadesforamosmeiosencontradosparaminoraropoderpolticodoscoronis,
fomentando tais atitudes buscavase modernizar o pas e coloclo em p de
igualdadecomoutrosdetrajetriacolonialparecida,masdesenvolvidos.
Mesmofomentandoidiasondeseprivilegiavaumpasemdetrimentodas
elites agrrias, houveoutra vez a corrupodas idias humanistas europias e
americanas,pelovrussociolgicodocoronelismoqueseadaptouaonovosistema
parapermanecernopoder.
Acidadaniacivilepoltica,toalardeadasnospaseseuropeuseamericanos
no se apresentam em sua plenitude em nosso pas, o patriarcalismo e o
coronelismo consistentes na hipertrofia do poder privado, assumindo todas as
funespblicassogenesmutantesnarvoregenealgicabrasileiraqueperduram
atosdiasatuais.
Cronologicamente,aoassumiremaautotutelaparapunircomaproclamao
da Repblica, os militares institucionalizam o exrcito, com estrutura e fora
necessriaparamanteraordemeamanutenodopoderrecmassumido.
Como os coronis representavam grande poder de influncia poltica e
pessoalemseuscurraiseleitoraiseocontingentedoexrcitoaindaeramincipientes
parasefixarememtodasaspartesdoterritrio,osacordosantescomentadosde
trocadefavoresentreopblicoeoprivadoaindaprevaleciam.
AJustiaCriminal,antesnasmosdoscoronisnoospunia,nasmosdo
exrcitopoderiafazersejustiadeverdademasnofoioqueaconteceu.
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HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
Comoa tradiodenoprender oscoronis estavaenraizadanoseio a
sociedade, houve conluio para manter este status, e assim os coronis no
ficavampresos,comoosistemapatriarcal aindavigoravaculturalmente, tinhaos
coronisdeprotegerasuaproleparaagarantiaemanutenodopoder.
Namanutenodopoderaquelescomrelevnciasocialeimportnciaparao
Estado Republicanonodeveriam ter priso comose fossempessoascomuns,
nascefiguradanoprisodaqueleschamadosdoutores,ouseja,queportassem
ttulo de bacharel, podese ter uma noo desse perodo ao assistir o vdeo
educacional Republica dos Bacharis, produzido pelo ILB (Instituto Legislativo
Brasileiro)doSenadoFederal.
Arealidadeeducacionaldopasdemonstrouquesomenteosfilhosdosdonos
de terras, naquela sociedade agrria psimperial tinham condies de cursar
faculdadeeobtertalgraduao.
Mantinhamsetudocomoantes,quempodiamaismandavaenoiapreso,
aquelequenopodiaobedeciaeaindapoderiaserpresoeparanoslodependia
dosfavoresdosantigoscoronisedeseusfilhosbacharis.
O governo de Vargas instalado no Brasil em 1930 foi uma tentativa de
diminuir ospoderesdoscoronis quevigoravamnoBrasil Imperial enoperodo
Republicano,aoindustrializaremodernizarascidadespensavaseemdiminuiro
poderenraizadonaestruturasocialbrasileiradossenhoresdeterras.
Osgovernosposteriores,principalmenteodeJKcomolema50anosem5,
incentivaramaindustrializaodoBrasil,eapsgolpede1964oRegimefomentou
grandes obras, que em conseqncia reforaram o fluxo migratrio no pas,
incentivandoumadesordemsocialeurbana.
Considerando as relaes entre indivduos e sua sociedade como uma
cinciasocial,sepodeobservarocorrnciasdefenmenosnasrelaescotidianas
quando idiase teoriasmuitasvezesboastmdificuldadedeseconcretizarem,
transformandoarealidadediriaemdesarmoniaeinjustiasocial,assimpodemos
dizerque
58
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
seguranae injustiasoconceitoshistricos,RizzatoNunes(2002:278),
sintetizadaseguinteforma:
Dadaanaturezasocialdoserhumano,suavivnciaemgrupos fez com que certos conflitos nascessem danaturalrelaosurgidanoagrupamentosocial.....Em funo da complexidade das relaes nascentes,tornouse necessrio, ento, que se estabelecessemnormas para que, atendendoas, os indivduos, e aprpriasociedadepudessemcaminharrumoquiloaquese haviam proposto: busca de harmonia e paz social(Grifosnossos).
Desdeosprimrdioshumanosohomemsejuntaaoutrosparatersegurana,
formarumasociedadeeestabilizarasrelaesquenaturalmentedivergementreos
sereshumanosprximosunsdosoutros.
Hemsociedadesbemconstitudasnormalizaodecomportamentos,cria
seregrasabstratasqueregulamasvontadesdosindivduos,podemsernormas,
rotinas,idiomas,palavras,ritos,entreoutros,todassocarregadasdesentidodo
justoeinjusto,quepodemvariardependendodograudeinclusoculturalefamiliar
ondeoindivduoseencontra.
Acultura lateralizaos instintoshumanoseaagnciasocializadora famlia
fomentaacultura,ouseja, minimizaosdesejos individuaisemprol deumtodo,
necessrioparamanterosentidodesociedadeouuniodeumgrupo,criaseuma
unidadevalorativa lingsticaoudeaes,ondesereconhecemporpalavrasou
gestosquetemseusignificadoevalor.
Oarbtriodoindivduoaculturadoseregepelasuamoral,ouaquiloquepara
elejustoouinjusto,confrontasecomotodoculturaldasociedadeemquevivee
separaeleaquiloquefazcomparandocomotodo aceitvel, entoparaeste
indivduojusto,seinaceitvelinjusto.
59
HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade
APolcia, podeser consideradaoutra agnciasocializadorada Instituio
chamadasociedaderepresentadapeloEstado,temaresponsabilidadedemantera
segurana,prevenirerepeliranomaliasquedesfiguramavontadedotodo.
Comparandoaaodaspolciasparamanter a segurananosentidodo
pensamentofilosficoqueconsideraqueaverdadeestaemcadahomem,elano
necessria,poistodosnstemosmecanismosprpriosparareconheceraverdadee
noseportardemododanosoasociedade.
Sabendoqueosdesejosnaturaisdohomemsoindissociveisdoseuser,
querendogozaravidaemsuaplenitude, impor regrasseriaumaameaaasua
liberdadedemanifestao.
Mas quando o indivduo livremente agregase a qualquer Sociedade, doa
parceladesualiberdadeerecebecomogarantiaolivreexercciodetodasasoutras,
desdequeobedecidacertasregrasdeconvivncia.
Quandorompeasregrasquesecomprometeuarespeitar,eoncleofamiliar
jnorefernciaparalateralizarinstintos,deveexistirmecanismoseinstituies
decontroleemanutenodaordemeseguranaparaorestodasociedade,dentre
elesestaaPolcia,queserabordadanoprximotpico.
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22 ASPOLCIASASPOLCIAS
Partindodapremissaquenoexiste ummodelopolicial queseadaptea
todasas condiesdeviolncia e criminalidadeem todasas partes do mundo,
sendonecessrioconheceraestruturasocialdopasondeestsituadoapessoado
sujeitoofensoreofendido,devemseparticularizaroscomportamentosculturaisde
umasociedadeparadiagnosticarascausasdofenmenocriminal.
Os sistemas policiais mais conhecidos para a manuteno da ordem e
seguranasoaquelesdepasesondeacriminalidadechegouapontoderefletirse
mundialmente,sendonecessrioadotarmedidascomgrandesimpactosacurtoe
longoprazo.
OBrasillocalizadonoocidentesofreufortesinflunciasdemodelosreativos
americanos e preventivos europeus, tentouse uma sntese dos sistemas nas
polticascriminaisaplicadasemnossoterritrio, mas raroqualquersistemade
seguranasermundialmenteuniversal,podendoteraplicabilidadetotalemumpas
eemoutronosurtirosefeitosdesejados.
Aspeculiaridades dacultura brasileira soaspectos importantssimosque
influenciam nesses resultados, estruturas sociais e relaes criadas pela
colonizaodurantesculostmaspectosrelevantes.
A gnese do povo brasileiro a somatria de vrias descendncias
europias,principalmentedePortugalesuacultura,umpasquesituadoemponto
estratgicoparaasnavegaesdeucapacidadedecolonizaremvriosterritriosem
diversaspartesdomundo.
Com predominncia de uma cultura imposta ao pas de rito
racionalista/comercial, advindo dos interesses econmicos e polticos da Europa
explicitados no captulo anterior, auferemsignificativa importncia na anlise da
violnciaecriminalidadenosdiasatuais.
Captulo
AsPolcias
NaprimeiraConstituiodoBrasil, a Imperial de1824,as idiasdeJohn
Locke35,deliberdadespolticasecivisestavamrepresentadas,aparentementeessa
Carta de Direitos poderia revolucionar os sistemas e estruturas impostas na
colonizaodopovobrasileiro,masissonoocorreu.
AplicousenoBrasilapsaindependnciaumaMonarquiaAbsolutista,com
parlamentoscopiadosdemodelosingleses,comdireitoseliberdadesapenasaos
nobres,clrigoseproprietriosdeterras,comvotocensitrioeparticipaopoltica
limitada.
As estruturas sociais, polticas e territoriais do Estado refletemse na
heteroge
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