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A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO
DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO COMO PATRIMÔNIO CULTURAL
DA HUMANIDADE
Jéssica Neves Mendes ¹, Igor Breno Barbosa de Sousa², Ana Rosa Marques³
¹UEMA,jessimendes10@outlook.com ²UEMA, iggor_breno@hotmail.com
³Departamento de História e Geografia, UEMA, anclaros@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO
Ao se tratar do patrimônio histórico e cultural de São Luís torna-se
necessário compreender estes conceitos importantes e sua relevância para preservação
destes lugares que guardam toda uma história e, como destaca Tomaz (2010), “a
memória de um passado comum e de uma identidade social que faz com que o grupo se
sinta parte daquele lugar, do espaço que traz a lume a história de todos”.
Com isto, para Castriota (2004), patrimônio é uma palavra que apresenta
uma longa trajetória, e no direito romano Patrimonium significava o conjunto de bens
de uma pessoa, o que incluía desde a sua casa, terras e utensílios e até escravos. No
entanto, ao falarmos de “patrimônio cultural”, estamos nos referindo para um conjunto
mais amplo, ou seja, nossa cultura e herança coletiva.
De acordo com o Art. 216 da Constituição Federal constituem como
patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se
incluem: as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações
científicas, artísticas e tecnológicas; além das obras, objetos, documentos, edificações e
demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; por fim, os conjuntos
urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,
ecológico e científico. Desta forma, por se tratar de uma cidade histórica viva, pela sua
própria natureza, como capital do Estado do Maranhão, a cidade de São Luís se
expandiu preservando a malha urbana do século XVII e seu conjunto arquitetônico
original, sendo assim a capital foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico
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Artístico Nacional (IPHAN) em 1974 e inscrita como Patrimônio Mundial em 6
dezembro de 1997.
O Centro Histórico de São Luís está localizado na ilha do Maranhão, na baía
de São Marcos. Seu núcleo original, fundado pelos franceses em 1612, foi implantado
na cabeça de uma península formada na confluência dos rios Bacanga e Anil e
caracteriza-se pela arquitetura civil de influência portuguesa, bastante homogênea. De
acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o Centro
Histórico de São Luís reúne cerca de quatro mil imóveis que, remanescentes dos séculos
XVIII e XIX, possuem proteção estadual e federal.
Segundo Carvalho e Simões (2012), como resultado do processo de
valorização turística, o espaço urbano do Centro Histórico de São Luís vem sofrendo
um processo de enobrecimento de determinadas áreas. Atualmente, os casarões
coloniais tornaram-se sedes de órgãos das administrações públicas estaduais e
municipais ou foram refuncionalizados, passando a abrigar equipamentos relacionados
ao turismo, tais como agências de viagens, casas de cultura e museus, bares,
restaurantes, lojas de artesanato e souvernirs.
Este projeto é fruto de um trabalho de campo realizado no Centro Histórico
de São Luís, sendo este desenvolvido com os alunos do curso de Geografia do 5º
período da Universidade Estadual do Maranhão, organizado pela professora Dra, Ana
Rosa Marques, ministradora da disciplina Estudos Socioeconômicos do Brasil. Com o
intuito de socializar as análises realizadas no decorrer do trabalho de campo, nós
discentes relatamos a importância da preservação do patrimônio cultural do Centro
Histórico de São Luís.
METODOLOGIA
Com uma abordagem de um estudo descritivo a respeito de um relato de
experiência realizado no Centro Histórico de São Luís, onde pontuamos o caminho por
nós percorrido, desta forma, fora possível analisarmos os pontos turísticos acerca do
território abordado.
Na estruturação do trabalho foi necessário realizar um levantamento
bibliográfico baseado em autores que retratam a concepção de Patrimônio, além da
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importância da preservação do mesmo que exerce função histórica, social e econômica
manifestada no Centro Histórico.
A visita ao campo de estudo foi realizada para reconhecimento do local,
com o objetivo de realizar a delimitação da área a ser trabalhada, assim como a observar
a importância da preservação do Patrimônio Histórico. Sendo assim, o registro
fotográfico também foi sistematizado para auxiliar na identificação dos monumentos e
exposição da real situação do local.
HISTÓRICO
A localização do Centro Histórico de São Luís compreende a uma área de
220 ha de extensão estendendo-se pelos bairros da Praia Grande, Desterro, Apicum,
Belira, Macaúba, Coreia, Centro e Madre Deus, conforme o mapa 1 abaixo:
Mapa 1: Localização do Centro Histórico.
Autores: DE SOUSA, I. B. B.; MENDES, J. N.
Mediante isto, o Centro Histórico teve como seu núcleo original, fundado
pelos franceses em 1612 que posteriormente foram expulsos pelo português Jerônimo
de Albuquerque 1615, após a batalha de Guaxenduba e para consolidar a colonização
portuguesa, o engenheiro Francisco Frias de Mesquita, visitou São Luís para desenhar
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planos para as novas defesas do núcleo libertado. Com isto, ele preparou um plano
urbanístico, sendo utilizado como guia para a sua expansão e desenvolvimento dos
colonizadores portugueses, tendo como característica principal o revestimento das
fachadas dos casarões com azulejos, tendo como justificativa funcionar como um
isolante térmico e serem resistentes, uma vez que as condições climáticas da ilha
remetem-se a períodos intensos de chuvas e de calor, logo, o ambiente interno das
construções ficaria mais fresco e agradável.
Por conseguinte, o plano urbano teve como base a regularidade geométrica
em contraste com o traçado medieval de ruas estreitas e sinuosas aplicadas pelos
portugueses no Rio de Janeiro, Recife e Olinda. Entretanto, a cidade fora novamente
atacada pelo poder colonial europeu, desta vez, os holandeses liderados pelo Maurício
de Nassau, desta forma, tomaram a posse da cidade em 1641 estando até 1643, entrando
em conflito com o movimento de resistência organizado pelo líder local Teixeira de
Melo, sendo assim, manteve a cidade até o retorno dos portugueses.
Sendo assim, o Centro Histórico de São Luís retrata os conjuntos
homogêneos remanescentes dos séculos XVIII e XIX representados pelos sobrados de
fachadas revestidas em azulejos portugueses criando-se uma arquitetura única com
soluções ambientais adotadas, além de ser caracterizada pela generosidade dos materiais
construtivos utilizados, quando o Estado do Maranhão teve a participação decisiva na
produção econômica do Brasil como um dos grandes exportadores de arroz, algodão e
matérias-primas regionais, com isto, a cidade de São Luís passou a ser considerada a
quarta cidade mais próspera do Brasil, depois de Salvador, Recife e Rio de Janeiro.
A partir destas peculiaridades, a conservação integral do ambiente do Centro
Histórico teve como resultado o tombamento estadual da área urbana com 160 ha no
ano de 1968 e posteriormente, houve o tombamento de nível federal pelo Instituto do
Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) em 1974 delimitando uma área
beneficiada com cerca de 60 ha sendo composta por imóveis de grande valor histórico e
arquitetônico, a maioria civil, construídos no período colonial e imperial.
Conforme este reconhecimento, o Centro Histórico recebeu o tombamento
como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 6 de dezembro de 1997, por tratar-se
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de uma cidade histórica viva, pela sua própria natureza de capital que apesar de sua
expansão, São Luís, continuou preservando a malha urbana do século XVII e seu
conjunto arquitetônico original. Em toda a cidade, são cerca de quatro mil imóveis
tombados: solares, sobrados, casas térreas e edificações com até quatro pavimentos.
IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL
A preservação do Centro Histórico de São Luís como Patrimônio Cultural
da Humanidade nos remete ao ato de, conforme Tomaz (2010), contemplar um espaço
de relevância histórica, esse espaço evoca lembranças de um passado que, mesmo
remoto, é capaz de produzir sentimentos e sensações que parecem fazer reviver
momentos e fatos ali vividos que fundamentam e explicam a realidade presente. A partir
disto, conforme Cunha (1992), o patrimônio histórico deveria evocar as dimensões
múltiplas da cultura como imagens de um passado vivo: acontecimentos e coisas que
merecem ser mantidos na memória e preservados, assim, estas representações
evidenciadas são despertadas através de edificações e/ou monumentos que nos fazem
reviver os significados e as experiências de vidas que ali existiram. Desta forma, o
Centro Antigo de São Luís acomoda uma gama de concentração de atividades e de
personagens na sua área que podem ser evidenciados desde a comercialização de
produtos despertando o interesse dos turistas a partir dos pratos típicos e sucos
regionais, além do artesanato retratando a história da capital maranhense.
Mediante isto, a preservação do patrimônio cultural comporta os requisitos
para que se possa recordar a memória coletiva caracterizando-se pela mescla de seus
valores arquitetônicos, simbólicos, históricos e espirituais na forma de ser integrada ao
cotidiano. Destarte, concordamos em Choay (2001) e Castriota (2009) que, uma cidade
constitui-se em um monumento, mas paralelamente se torna um organismo vivo e
dinâmico, aspecto que vem sendo postulado no âmbito da revitalização do patrimônio
cultural na atualidade. Sendo assim, podemos observar na Figura 1, os casarões
revestidos de azulejos portugueses que representam a manifestação das formas que
caracterizam a arquitetura colonial, do período neoclássico conservada, a partir do
tempo que passara.
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Figura 1: Casarões do Período Colonial.
Fonte: Acervo Próprio, 2015.
Com isto, seguindo a lógica da herança arquitetônica preservada no Centro
Histórico de São Luís, evidenciamos ainda o Palácio dos Leões, destacado na Figura 2 e
onde atualmente trata-se da sede política e institucional do Governo do Estado do
Maranhão, uma vez que fora construído em 1612 pelos franceses e com o passar do
tempo, transformou-se em um majestoso palácio, no ano de 1766.
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Figura 2: Palácio dos Leões.
Fonte: Acervo Próprio, 2015.
Este Palácio dos Leões é uma obra de arte que representa um dos maiores
símbolos da cultura maranhense, além de possuir a função de guardar as relíquias da
história política do estado do Maranhão. Ainda assim, destacamos as presenças dos
objetos valiosos como: os castiçais, candelabros, as porcelanas finas, os tapetes
franceses, lustres de cristais, trazidos de países como China, França e Áustria,
outrossim, as pratarias portuguesas. Desta forma, as relíquias, que remontam a mais de
duzentos anos, são exibidas através dos salões nobres e luxuosos sendo constituídos de
um mobiliário eclético, ainda sendo preciso ressaltar que as obras de arte não podem
ser tocadas, fotografadas ou filmadas.
Posteriormente, podemos observar a Igreja da Sé, considerada o tesouro da
arte barroca brasileira, fora construída a partir de 1690 em homenagem à proteção de
Nossa Senhora na batalha de Guaxenduba, onde os portugueses derrotaram os franceses.
Desta forma, o projeto da Igreja foi feito pelo padre Luxemburguês Felipe Bertendorf e
a construção deu-se com a mão de obra indígena e foi inaugurada em 1699. Em 1751
durante uma reforma urbanística a antiga igreja foi demolida com a finalidade de arejar
o largo à frente do Palácio dos Governantes e o colégio jesuíta próximo passou a ser o
palácio dos bispos e o local tornou-se a Catedral da cidade. Atualmente, a fachada
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deriva de uma reforma no século XIX, porém foi alterada no início do século XX,
ganhando duas torres, conforme podemos verificar na Figura 3:
Figura 3: Igreja da Sé.
Fonte: Acervo Próprio, 2015.
Mediante isto, compõem o Centro histórico os lugares que possuem como
principais características as atividades do comércio e do artesanato, com isto, podemos
notar a Casa das Tulhas, tratando-se de um conjunto arquitetônico monumental de valor
histórico, exibindo características do período colonial possuindo apenas um pavimento
de formato quadrilátero com quatro entradas em arco pleno, compostas de bandeiras de
ferro e totalmente abastado em pedras de cantaria. Perante isto, ressaltamos que este
espaço é datado desde o século XVIII sendo reconhecido naquela época como Terreiro
Público com a finalidade para compra e venda de produtos que abasteciam a cidade e
chegavam por via marítima. Assim, é possível citar alguns gêneros que eram
comercializados e ainda são comercializados a exemplo de aves vivas, fumo de corda,
aguardente de cana-de-açúcar e de mandioca; conhecidos respectivamente por cachaça e
tiquira, podendo ser notados na figura 4:
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Figura 4: Bebidas comercializadas na Casa das Tulhas.
Fonte: Acervo Próprio, 2015.
Além disso, comercializa-se também a farinha d’água, óleos vegetais
extraídos artesanalmente, frutas, peixe seco, camarão, coco da praia ou manso, comidas
típicas, lanches, sucos regionais, produtos artesanais, entre diversos produtos desde o
atacado ao varejo, como observado na figura 5:
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Figura 5: Produtos alimentícios comercializados na Casa das Tulhas.
Fonte: Acervo Próprio, 2015.
Assim sendo, destacamos o Centro Histórico de São Luís como podendo ser
entendido através de construções materiais e/ou simbólicas, além de mutáveis e/ou
dinâmicas que nos trazem a sensação de nostalgia ao período colonial da cidade, diante
disto, impulsiona as estratégias para a preservação do patrimônio cultural afim da
manutenção das atividades culturais ali realizadas que se mostram presentes na
sociedade maranhense, tendo como consequência o consumo turístico e a valorização da
identidade local.
REFERÊNCIAS
CASTRIOTA, Leonardo Barci. Patrimônio Cultural: conceitos, políticas, instrumentos.
São Paulo; Annablume; Belo Horizonte: IEDS, 2009.
CARVALHO, K. D. Análise do Modelo de Preservação do Centro Histórico de São
Luís do Maranhão: Uso social e uso turístico. Revista Turismo Visão e Ação –
Eletrônica, Vol. 14 - nº 2 - p. 196–213- / mai-ago 2012.
CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/34>. Acesso em 24 de março de 2016.
11
CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Disponível em:
<http://www.brasil.gov.br/cultura/2014/11/centro-historico-de-sao-luis-tem-traco-do-
colonialismo-portugues>. Acesso em: 25 de março de 2016.
CHOAY, Françoise. A alegoria do Patrimônio. São Paulo: UNESP, 2001.
CUNHA. H. W. A. P. Lugar de cadeirante é em casa? Mobilidade, acessibilidade no
transporte coletivo e o espaço da diferença em São Luís. Tese de Doutorado em
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TOMAZ, Paulo Cesar. A preservação do patrimônio cultural e sua trajetória no Brasil.
Fênix (UFU. Online), v. 07, p. 02, 2010.
TOMBAMENTOS. Disponível em:
<http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=4
>. Acesso em 24 de março de 2016.
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