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A LEI DE EXECUÇÃO PENAL
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objeto a Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, e
se propõe a analisar os seus principais aspectos, tais como o funcionamento de sua
aplicabilidade, os princípios básicos assegurados aos condenados por sentença
definitiva ou submetidos à medida de segurança, as garantias e deveres atribuídos
aos presos, os regimes existentes etc.
Envolvendo temas tão importantes, observa-se nítida a relevância de tal Lei
ser enfocada e estudada, a fim de ensejar uma melhor aplicabilidade do direito.
2. FINALIDADES
Conforme observado em seu artigo 1º, a Lei de Execuções Penais (LEP) tem
por objetivo geral a efetivação das disposições da sentença ou decisão criminal e
também a propiciação de condições para a harmônica integração social do
condenado e do internado.
3. PRINCÍPIOS GERAIS
3.1. Legalidade
O princípio da legalidade constitui garantia constitucional, conforme art. 5°, II
da CF/88 que estabelece que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei”.
No que concerne à LEP, esse princípio aparece insculpido em seu art. 3º, o
qual estabelece que "ao condenado e ao internado serão assegurados todos os
direitos não atingidos pela sentença ou pela lei".
Do princípio da legalidade decorre ainda o princípio da irretroatividade da lei,
intentando garantir efetividade à garantia da legalidade dos meios executivos, com
vistas à segurança jurídica, firmando então a impossibilidade de pena sem lei
anterior que o defina.
3.2. Igualdade
Outro princípio importante da execução penal é o da igualdade, o qual dispõe
que não haverá qualquer distinção entre os presos de cunho racial, social ou político
(art. 3º, parágrafo único, LEP, e item 23 da Exposição de Motivos).
Assim, do mesmo modo que se interpreta o princípio constitucional da
igualdade (art. 5º, caput, da Carta Magna), tal isonomia deve ser compreendida
como aquela que presta tratamento igual àqueles em situações iguais e desigual aos
juridicamente desiguais. Nesse sentido, deve-se utilizar de razoabilidade para
diferenciar cada caso, buscando atender sobretudo ao sistema constitucional e aos
preceitos da LEP.
3.3. Personalização da pena
Refere-se à imposição da pena ao acusado em função de sua culpabilidade,
de modo que ela seja executada segundo sua personalidade e seus antecedentes
(art. 5º, da LEP). Ou seja, deverá o preso ser submetido a uma classificação, a ser
feita pela Comissão Técnica de Classificação (CTC), para que seja avaliada sua
personalidade e adequar o cumprimento da sanção às suas características,
permitindo, por consequência, uma melhor aplicação da pena.
3.4. Jurisdicionalidade
Os incidentes na LEP serão decididos pelo poder judiciário, conforme
observado nos artigos 2 e 194, ambos da LEP, os quais estabelecem que o
procedimento adotado perante o Juízo da Execução é o judicial, e a jurisdição penal
será exercida de acordo com o disposto na LEP e no CPP. Ressalte-se que a
autoridade administrativa pode decidir pontos secundários da execução, mas
mesmo nesses casos é possível o acesso ao judiciário.
3.5. Devido processo legal
Constitui direito da pessoa que está sendo processada ter um processo que
obedeça aos tramites legais, no qual esteja presente os princípios pertinentes e as
garantias cabíveis.
Nesta visão estabelece o artigo 5° inciso LIV da Constituição Federal de 1988
(CF/88) que ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal.
3.6. Princípio reeducativo
A ideologia da lei de execução penal é educativa. O processo de execução
penal é destinado à aplicação da pena concretizando os objetivos da execução
penal com o seu desenvolvimento.
A função reeducativa pode ser depreendida não só pela feição preventiva da
pena, mas também pela previsão de direito do preso e do que for submetido à
medida de segurança, à assistência educacional, social etc., conforme o texto legal
(art. 41, VII, LEP).
3.7. Humanidade das penas
O princípio da humanidade das penas é responsável por afastar da execução
destas qualquer punição que vai de encontro à dignidade humana, tais como as
penas de morte1, de caráter perpétuo e cruéis. Pela leitura do enunciado do art. 5º,
incisos III e XLVII, CF/88, já se obtém o sentido do princípio, a se relevar como
garantia intrínseca ao condenado contra atos desumanos e degradantes na
execução da pena que lhe é imposta. O valor da pessoa humana, reforça Luigi Ferrajoli
(2002, p. 318), deve se impor como limitação fundamental à qualidade e à quantidade da
pena, e, por isso mesmo, não se coaduna com a aplicação da pena de morte, das penas
corporais, da prisão perpétua e das penas privativas de liberdade de longa duração.
3.8. Ressocialização do condenado
É por meio deste postulado que se embasa qualquer interpretação que se
possa ter das normas contidas na lei aqui em relevo. Já menciona o primeiro
dispositivo da LEP que a execução tem por objetivo proporcionar condições para a
harmônica integração social do condenado, além do item 14 da Exposição de
Motivos estabelecer que a tendência é de que a pena deva realizar a reincorporação
do autor à comunidade.
4. ÓRGÃOS DA EXECUÇÃO PENAL
1 Exceto nos casos de guerra declarada, consoante o disposto no art. 5º, inciso XLVII, alínea a, da Constituição Federal de 1988.
Os órgãos da execução penal estão enumerados no art. 61 da lei de
execução penal e são: O conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária; O
juízo da Execução; O ministério Público; O conselho Penitenciário; Os
departamentos Penitenciários; O patrono; O conselho da Comunidade e a
Defensoria Pública (esta incluída pela Lei nº 12.313/ 2010).
5. SUJEITOS PRINCIPAIS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO PENAL
Há no processo de execução penal uma relação jurídica com três sujeitos principais
ligados por vínculos diversos e, necessariamente, um procedimento que se desenvolve em
contraditório. Tais sujeitos são facilmente identificáveis: o juiz, o Ministério Público e o
condenado.
O Ministério Público e o condenado são partes, cada um velando por
determinado interesse. Quer o primeiro que se efetive o comando da sentença
condenatória e que a ressocialização do sentenciado seja feita sem prejuízo à
garantia social. O sentenciado deseja que a execução não ultrapasse os limites do
julgado penal e lhe sejam garantidos todos os direitos assegurados pela lei, como a
progressão da pena, a saída temporária, a frequência a escolas etc. O juiz, de
maneira imparcial, deve, durante o desenvolvimento da execução, de ofício, a
requerimento das partes ou de outras pessoas legitimadas, cuidar para que o
processo siga de forma regular, de modo a ser garantida efetiva participação das
partes, com observância do contraditório, do direito de defesa, do direito à prova,
tudo com o escopo de que, num processo justo, seja cumprida a sentença
condenatória e possam ser atingidos os fins objetivados pela Lei de Execução
Penal.
6. COMPETÊNCIA
Prevista no art. 65 da LEP, a competência do juiz da execução inicia-se com o
trânsito em julgado da sentença condenatória, a qual será exercida por um juízo
especializado, de acordo com a Lei de Organização Judiciária (em alguns casos,
será exercida, supletivamente, pelo próprio juiz da sentença, nas hipóteses de
existência de vara única na comarca). Observe-se também que, no caso de
execução provisória, a competência do juiz da execução precede o trânsito em
julgado.
A definição da competência, quando se trata de pena privativa, leva em conta
o local em que o preso se encontre cumprindo a pena. Em regra, é da Justiça
Estadual comum, pois os estabelecimentos estão, normalmente, sujeitos à sua
jurisdição. Assim, se alguém for condenado pela Justiça Federal, mas estiver
recolhido em estabelecimento sujeito à jurisdição da Justiça Estadual, esta é
competente para a sua execução penal44. O mesmo sucede quando se trata de
condenado pela Justiça Militar.
Importa observar que não se pode confundir o início da competência com o
início da execução, o qual depende da prisão do sentenciado e expedição da guia
de recolhimento.
7. GUIA DE RECOLHIMENTO
É peça processual que formaliza o início da execução, tratando-se de
documento que orientará a execução da pena privativa de liberdade. Segundo o
disposto no caput do artigo 107 da LEP, “ninguém será recolhido, para cumprimento
da pena privativa de liberdade, sem a guia expedida pela autoridade judiciária”. É o
juiz do processo de conhecimento que determinará a elaboração e a expedição da
guia de recolhimento, desde que o condenado esteja preso ou assim que tal fato lhe
seja comunicado. O seu conteúdo da está disciplinado no artigo 106 da LEP, e ela
será alterada, quando necessário, pelo juiz da execução, especialmente quanto ao
início e ao término de cumprimento da pena.
8. DIREITOS E DEVERES DO PRESO
O condenado, durante a execução da pena, é um dos sujeitos da relação jurídica
processual e, por isso, titular de direitos. Preservam-se todos os direitos do preso que
não foram afetados pela sentença e pelo cumprimento da pena, não se justificando
qualquer limitação específica e implícita de direitos fundamentais, à exceção
daquele que seja indispensável sacrificar ou limitar (e só na medida em que o seja)
para realização das finalidades em nome das quais a ordem jurídico-constitucional
credenciou o estatuto específico respectivo do recluso. É o que também se encontra
na Lei de Execução Penal, em seu artigo 3º, que assegura ao condenado e ao
internado “todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela Lei”. Ainda, garante-
lhe outros direitos próprios da execução penal.
Nos termos do artigo 41 da LEP, são direitos do preso: I - alimentação suficiente e vestuário;
II - atribuição de trabalho e sua remuneração; III - previdência social; IV - constituição de
pecúlio; V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a
recreação; VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas
anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena; VII - assistência material, à
saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; VIII - proteção contra qualquer forma de
sensacionalismo; IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado; X - visita do cônjuge,
da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; XI - chamamento nominal; XII
- igualdade de tratamento, salvo quanto às exigências da individualização da pena; XIII -
audiência especial com o diretor do estabelecimento; XIV - representação e petição a
qualquer autoridade em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de
correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam
a moral e os bons costumes.
É bem verdade que o artigo 41 estabelece um vasto rol onde estão elencados o que
se convencionou denominar os direitos do preso. Entretanto, o referido rol é apenas
exemplificativo, pois não esgota, em absoluto, os direitos da pessoa humana, mesmo
daquela que se encontra presa, e assim submetida a um conjunto de restrições.
O condenado está também sujeito a deveres e, se não os cumpre, pode ser
punido disciplinarmente. Prevê a Lei de Execução Penal as infrações administrativas
e suas sanções.
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