View
216
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
A LOGÍSTICA REVERSA COMO
ESTRATÉGIA SUSTENTÁVEL E
INOVATIVA A PARTIR DA
HOMOLOGAÇÃO DE UMA NOVA
PROPOSTA PARA INTERMEDIÁRIAS
DE PET
Ricardo Mantelatto Goncalves (FADISC )
ricardo.mantelatto@gmail.com
Mariana Rodrigues de Almeida (PEP/UFRN )
almeidamariana@yahoo.com
Fernanda Barreto de Almeida Rocha (PEP/UFRN )
fernanda_cei@hotmail.com
Marianna Cruz Campos (PEP/UFRN )
naninacampos@hotmail.com
Kleidson Daniel Medeiros Leopoldino (UNP )
leopoldinodaniel@gmail.com
A incessante procura das empresas pela redução de custos,
competitividade nos mercados globais e novas fontes de matéria-prima
estimulam a busca de alternativas a serem implementadas nos
produtos e processos como importantes estratégias inoovativas. O
presente artigo apresenta um estudo de caso sobre a proposta de
substituição da matéria-prima na confecção de acondicionadores para
transporte de compressores herméticos, denominados
“intermediárias”. Com aporte teórico da logística e do
desenvolvimento de produtos, o estudo expõe esta proposta e a possível
aplicação da logística reversa com essas intermediárias, realizada com
clientes da empresa fabricante de compressores. A pesquisa apresenta
um caráter descritivo e configura-se enquanto estudo de caso único. O
estudo abre margem para pesquisas futuras ao sinalizar a
possibilidade de substituição da madeira na construção de
acondicionadores para transporte de compressores herméticos, visto
que na situação analisada, os custos da nova embalagem foram
reduzidos em 13,5%, o que representa um ganho aproximado de R$
250.000,00 nas receitas da organização. Além de possibilitar a
teorização de metodologias de homologação de acondicionadores de
compressores herméticos.
Palavras-chaves: Logística Reversa, PET, Intermediárias,
Sustentabilidade, Inovação
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
2
1 Introdução
As embalagens têm um impacto significativo nos processos logísticos. O custo da embalagem
inclui não só o impacto na produtividade logística, mas também o custo da compra e o custo
de eliminação (DOWLATSHASHI, 2000). Portanto, quanto menor a quantidade de produtos
a serem descartados, maiores os benefícios para as empresas e o meio-ambiente.
Nesse contexto, se insere a logística reversa que pode promover formas alternativas de
utilização dos recursos na empresa ambientalmente e financeiramente eficientes, otimizando o
ciclo de vida normal dos produtos (MELBIN, 1995). A logística reversa é uma ferramenta de
gerenciamento estratégica para a competitividade empresarial, que pode contribuir para
reduzir o problema da obtenção de matérias-primas para a produção, mitigar a degradação
ambiental causada por resíduos e ainda trazer outras vantagens no contexto econômico, social
e ambiental (GARCÍA-RODRÍGUEZ et al., 2013) .
Desse modo, desde o projeto, a fabricação até a entrega ao cliente, as empresas devem
explorar e integrar a logística reversa com o ciclo de vida do produto. Uma vez que, por
intermédio da logística reversa, as organizações podem alcançar os objetivos do
desenvolvimento sustentável, obter oportunidades de redução de custos, além de satisfazerem
as exigências dos consumidores (DOWLATSHASHI, 2000).
Frente ao exposto, surge um problema de pesquisa: “A logística pode colaborar com
a redução dos custos na cadeia de distribuição de compressores herméticos, através de
alterações nas embalagens e na aplicação da logística reversa?”. Para responder esta pergunta,
o presente trabalho apresenta um estudo de caso que trata do acompanhamento da mudança de
matéria-prima na confecção de acondicionadores para transporte, denominados
“intermediárias”. O estudo expõe a proposta de utilização de um novo material e aplicação da
logística reversa com essas intermediárias, realizada com clientes da empresa fabricante de
compressores.
2 Referencial teórico
O referencial teórico dessa pesquisa irá tratar de dois grandes temas: logística e
desenvolvimento de produtos (Ver Figura 1). A logística, primeiramente, é uma importante
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
3
área nas organizações que permite que o produto certo chegue ao lugar certo, na hora certa e
na quantidade certa. O processo de desenvolvimento de produtos também possui fundamental
importância para o atendimento das necessidades dos clientes e a conquista de nichos de
mercado. Logo, ambas as funções devem estar alinhadas a estratégia e orientadas para as
demandas do mercado.
Assim, é essencial a percepção de que tais atividades não trabalham isoladamente, mas se
complementam e geram ganhos quando consideradas nas ações de melhoria na empresa. Em
especial, considerando uma visão global do sistema em que se insere, o atual cenário de
demandas de ambientais legais e dos consumidores, torna-se importante a observação desse
contexto pelas funções aqui destacadas.
Figura 1 - Contextualização do referencial teórico da pesquisa
2.1 Caracterização da logística e as suas implicações
De acordo com Ballou (2006), a logística trata do gerenciamento de atividades como
transporte, estoques, armazenagem e ordem de processamento. A função logística pode ser
vista como integrante da cadeia de suprimentos, que se responsabiliza pela gestão das
atividades do fluxo de produtos dentro da empresa.
A logística integra a estratégia corporativa e contribui para as principais atividades da cadeia
de valor (ZHANG e KANG, 2010). Essa permite conceber e implantar ações estratégicas que
melhorem a eficiência e eficácia da empresa (BARNEY, 1991). Segundo Cho et al. (2008), as
atividades logísticas afetam o desempenho com relação ao aumento de receitas e a redução de
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
4
custos. Consequentemente, a integração logística tem sido intensamente pesquisada e buscada
pelas empresas com o objetivo de otimização da cadeia envolvida (ZHANG e KANG, 2010).
Tradicionalmente, o gerenciamento da logística era impulsionado pela necessidade de reduzir
os custos totais e melhorar os níveis de serviço ao cliente. Contudo, recentemente, as
preocupações ambientais têm sido discutidas. Nesse contexto, é que o conceito de logística
reversa (LR) está situado. A LR busca atingir dois objetivos simultaneamente, que é a redução
de custos por meio de melhorias na eficiência e a percepção positiva por parte dos
consumidores através de melhoria em aspectos ambientais e de qualidade de produtos
(GARCÍA-RODRÍGUEZ et al., 2013). Além disso, as legislações, a conscientização do
consumidor e responsabilidade social para com o ambiente tem favorecido o seu
desenvolvimento (FERRER e WHYBARK, 2000; RAVI e SHANKAR, 2005; CASTELL et
al., 2004; POKHAREL e MUTHA, 2009).
De acordo com García-Rodríguez et al (2013), existem processos inerentes a logística reversa,
são esses: remanufatura, reciclagem, reutilização, renovação, reparação e canibalização. No
contexto da reutilização, Adlmaier e Sellitto (2007) afirmam que, o descarte de embalagens
industriais é um processo problemático em fluxos reversos. Logo, embalagens industriais
retornáveis mitigam o descarte e os danos ambientais e, ainda, colaboram com o
aproveitamento de espaço no transporte quando bem planejadas. Isto tem especial importância
na exportação de bens manufaturados, pois há custos elevados e legislações específicas
envolvidas.
Em se tratando do processo de desenvolvimento de embalagens, Azzi et al. (2012) expõem
que há a necessidade de coordenação e ajustes ao longo das linhas de produção e distribuição,
quando as atividades logísticas estão orientando o desenvolvimento de produto. Uma vez que,
embalagens logisticamente eficientes implicarão no desempenho de operações como:
manuseio, movimentação de materiais, armazenagem, montagem de kits, transporte,
rastreabilidade de informações, reutilização, reciclagem e etc.
Quanto a abordagem ambiental, apesar de Azzi et al. (2012) ressaltarem que não é
normalmente o foco principal dado no desenvolvimento de embalagens. Para os autores,
novos materiais, soluções e configurações estão sempre sendo investigados. A perspectiva da
sustentabilidade nas embalagens envolve um processo de melhoria continua, em que pequenas
mudanças podem trazer grandes oportunidades em termos ambientais, econômicos e sociais.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
5
2.2 Inovação e desenvolvimento de produtos
A pesquisa e desenvolvimento é o diferencial para um processo inovador de desenvolvimento
do produto. Dentre outros aspectos, o acesso ao conhecimento é uma condição necessária para
a inovação de produtos. A colaboração das empresas com fornecedores e universidades gera
resultados positivos em longo prazo, em razão da facilidade no acesso a novos
conhecimentos. O contato com clientes é considerado um fator limitante à inovação, visto que
atém a exploração de novas possibilidades (UM et al. 2010)
A integração entre clientes e fornecedores, no processo de desenvolvimento de novos
produtos é retratada por Petersen et al. (2003), como de fundamental importância. Em
segundo lugar, as informações sobre os custos das novas tecnologias devem ser
compartilhadas, a fim de obter mais contribuições e participação dos fornecedores no
desenvolvimento de novos produtos. Em terceiro lugar, o foco do projeto deve ser partilhado
para todas as partes envolvidas.
Na visão de Danneels (2002), o desenvolvimento de novos produtos pode ser uma ferramenta
eficaz para a reestruturação organizacional. As atividades que envolvem a inovação de
produtos contribuem para a organização, visto que no ambiente dinâmico, há a necessidade de
construção de novas competências para adequação a novos mercados. A inovação de produtos
relacionada à sustentabilidade, geralmente é incremental, como visto em produtos
remanufaturados e reciclados. Aqueles com enfoque mais ecológico, ainda são pouco
absorvidos pelo mercado. Na literatura foram expostos alguns fatores determinantes para esse
sucesso: coordenação funcional entre os setores da empresa (Pesquisa e Desenvolvimento e
demais setores), envolvimento dos fornecedores, foco de mercado e análise do ciclo de vida
(ACV) (PUJARI, 2006)
As pesquisas de Hallstedt et al. (2013) diagnosticaram oito elementos fundamentais para
implementação de uma perspectiva sustentável, no processo de desenvolvimento de produto.
Estes elementos estão divididos em 4 categorias: organização (pontos relevantes para toda
organização), processos, funções (papéis desenvolvidos pelas pessoas) e ferramentas. Este
estudo expõe como o processo de desenvolvimento de produto pode apresentar a
sustentabilidade estratégica em seu processo de inovação.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
6
De forma geral, as perspectivas expõem a importância do alinhamento da visão sustentável na
tomada de decisão da alta gestão, ao processo de inovação de produtos, a inserção dos
fornecedores neste contexto, além da importância do compartilhamento do conhecimento
para a construção de competências, com o foco a longo prazo voltado para plataformas de
produtos mais sustentáveis (HALLSTEDT et al., 2013).
3 Método de Pesquisa
O método adotado tem objetivo descritivo, pois permite a exposição, classificação e
explicação dos fatos. A presente pesquisa descritiva assume a classificação de estudo de caso
único (YIN, 2004), visto que é um processo de investigação com o objetivo de estudar um
fato em sua própria conjuntura. O enfoque qualitativo deu-se em apenas uma organização que
facilitou a avaliação dos resultados e testes desenvolvidos. Os instrumentos utilizados na
coleta de dados estão expostos na Figura 2.
Figura 2 - Instrumentos para a coleta de dados
A organização durante a pesquisa desenvolveu um protótipo de nova embalagem
intermediária, para transporte de compressores herméticos em paletes. Os testes para
homologação do novo material, bem como a implantação da logística reversa para as novas
embalagens foram acompanhados durante a pesquisa. As fases da investigação estão
detalhadas na Figura 3:
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
7
Figura 3 - Fases da pesquisa
4 Estudo de Caso
4.1 Caracterização da empresa e do setor de realização da pesquisa
A empresa pesquisada pertence ao setor de refrigeração, mais especificamente, ao ramo de
fabricação de compressores herméticos para aplicação em refrigeradores, freezers e ares-
condicionados. A empresa atua neste mercado a cerca de 30 anos, tendo produção diária de
aproximadamente 145 compressores, dos quais exporta cerca 65%. Trata-se de uma empresa
de grande porte, com mais de 4.000 funcionários, localizada no interior do estado de São
Paulo.
O departamento de Materiais e Logística conduziu essa pesquisa, em conjunto com a empresa
fabricante das embalagens. Este departamento possui a característica de buscar reduções de
custo com alterações em produtos comprados, novos materiais (matérias-primas, componentes
e subconjuntos), melhorar a cadeia de fornecimento e distribuição.
4.2 Homologação do novo projeto de embalagem
A sistemática de homologação do novo projeto de embalagem, de acordo com as normas
internas da empresa, ocorre em 3 fases: testes internos, ensaios no Centro de Tecnologia da
Embalagem (CETEA) e os testes externos. O detalhamento destas etapas está descrita na
Figura 4.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
8
Figura 4 - Etapas da Homologação de novos produtos
4.2.1 Etapa 1: Testes Internos
Foi apresentado pela empresa fornecedora das intermediárias em madeira, um protótipo da
nova embalagem, e o seu respectivo custo. O valor apresentado pela empresa, com material
em PET, foi inferior ao custo da embalagem em madeira atualmente utilizada. Este protótipo
foi montado com compressores herméticos e as embalagens foram arqueadas por fita de
poliéster, conforme processo utilizado na linha de embalagem do fabricante. Na Figura 5
observa-se o conjunto de paletes montado.
Figura 5 - Conjunto montado de compressores com intermediárias em PET
Em cada embalagem, foram acondicionados 145 compressores, sendo cada embalagem
composta de um palete de madeira pinus, quatro intermediárias em PET termo-moldado e
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
9
uma tampa em madeira pinus. Os três conjuntos de embalagens com a carga de compressores
foram empilhados verticalmente e mantidos em observação pela empresa fabricante e cliente
Os três conjuntos foram movimentados por empilhadeira, nos sentidos horizontal e vertical,
simulando a movimentação interna realizada no fabricante dos compressores e nos clientes.
Durante os testes iniciais, foi analisado um checklist, quanto ao desempenho esperado do
novo produto. Observou-se o acondicionamento dos compressores na nova embalagem; a
evidência de deslocamento das camadas de compressores; a possibilidade de quebra da
embalagem, evidência de rompimento ou fragilização das fitas de arqueamento; e as possíveis
avarias na carga ou embalagem.
Nos testes foi evidenciado que o acondicionamento não foi satisfatório, pois os suportes ou
“pés” dos compressores excederam os limites espaciais do conjunto. Para a solução desta
falha, foi revisado o layout dos compressores na intermediária, conforme Figura 6.
Figura 6 - Detalhe do suporte do compressor fora dos limites da embalagem e a mudança de layout dos
compressores nas intermediárias
Constatou-se, também, que as peças em PET ofereceram grande facilidade na montagem, pois
são mais leves e mais ergonômicas que as de madeira. Apesar disso, o primeiro lote de
protótipos apresentou instabilidade quando empilhadas as três cargas. Detectou-se ainda o
deslizamento das intermediárias durante a movimentação por empilhadeira. Melhorias foram
feitas aumentando-se pontos de apoio do compressor, com inclusão de nervuras, conforme
ilustra a Figura 7.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
10
Figura 7 - Detalhe das nervuras de apoio do compressor
Não foi observada nenhuma outra avaria, quebra de componentes da embalagem ou
evidências de rompimento ou fragilização das fitas de arquear após os testes realizados com
os três conjuntos de embalagem. Após efetuadas as melhorias descritas, foram montados
novamente três conjuntos de compressores os quais foram submetidos novamente aos testes
de empilhamento e movimentação com empilhadeira. No teste de movimentação, não houve
repetição de problemas, porém não foi proposta nenhuma melhoria focada na instabilidade do
empilhamento, mas acredita-se que o reposicionamento dos compressores e inclusão das
nervuras contribuíram para maior resistência da carga.
4.2.2 Etapa 2: Ensaios no CETEA (Centro de Tecnologia de Embalagem)
Para início dos testes externos e validação do protótipo da intermediária em PET, um conjunto
de compressores foi encaminhado para realizar os seguintes ensaios:
Vibração: de acordo com as normas da empresa fabricante de compressores;
Queda rotacional: de acordo com a norma 1E da International Safe Transit
Association (ISTA); e,
Compressão dinâmica: com base na norma NBR6739.
Esses ensaios foram realizados no órgão CETEA, credenciado pelo fabricante de
compressores para validar novos projetos de embalagens durante sua fase de prototipagem.
Quanto à vibração, não foram encontrados danos. Após o segundo impacto, observou-se uma
pequena quebra do separador entre as camadas 1 (base) e 2, vista na Figura 8 e
desalinhamento das unidades em um dos cantos da unidade paletizada, porém, nenhuma das
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
11
ocorrências implicou perda da estabilidade da unidade, o que pôde ser confirmado no ensaio
de compressão.
Figura 8 - Quebra do separador de PET após segunda queda rotacional e desalinhamento das unidades em um
dos cantos da unidade paletizada
Apesar de alguns pontos insatisfatórios, o fornecedor aprovou o laudo dos ensaios do CETEA
e direcionou o processo de homologação da nova intermediária para os testes de rodagem
terrestre e transporte marítimo, de forma que fossem avaliados os conjuntos nos clientes após
a simulação logística em condições reais. Pelo foco específico do trabalho no mercado
nacional para utilização da logística reversa, não será explorado a etapa de testes realizada
com clientes de exportação, cujo transporte ocorre por via aérea ou marítima.
4.2.3 Etapa 3: Testes externos
O fornecedor de embalagens encaminhou para a empresa fabricante de compressores dois
novos conjuntos de acondicionadores com intermediárias em PET a serem enviados à
Fortaleza-CE por um caminhão. O percurso foi escolhido visualizando as possíveis condições
adversas e o tempo de trajeto. Este percurso foi escolhido em virtude de ser um dos mais
longos e apresentar, estradas em condições adversas.
Foi evidenciado pela a equipe que acompanhou a chegada do lote, que o material estava com
o eixo deslocado com grande inclinação lateral. Em uma das embalagens verificou-se
deslocamento interno do conjunto ocasionando o tombamento de um dos compressores.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
12
Ainda que tenham ocorrido os problemas citados nos tópicos anteriores, o teste de rodagem
por rodovia foi considerado bem sucedido, por ambas as empresas, uma vez que não houve
nenhuma avaria na carga, no produto ou nos acondicionadores de PET.
4.3 Homologação da logística reversa aplicada às novas intermediárias em PET
A empresa estudada realiza atualmente o fluxo reverso dos acondicionadores de madeira com
seus três maiores clientes no mercado interno. Toda a carteira de clientes não está incluída,
pois são considerados viáveis apenas os clientes que possuem representação acentuada no
volume de vendas, justificando a manutenção de uma rota para o retorno dos
acondicionadores para a reutilização.
Na situação atual, após recebidos os acondicionadores, o fornecedor é responsável pela
separação daqueles passíveis de reutilização e pelo reparo de pequenas avarias. Não é feito
um controle de vida útil sobre as embalagens reutilizadas ou remanufaturas, de modo que não
há registros sobre quantas viagens cada acondicionador pode suportar em média antes de ser
considerado impróprio para a reutilização.
Neste sentido, no intuito de obter dados para a comparação da vida útil dos acondicionadores
fabricados em madeira com a dos novos fabricados em PET, foi levantado à média de
compras de embalagens novas e embalagens remanufaturadas. Verificando-se,
aproximadamente, 70% das embalagens compradas todo mês eram de procedência de
remanufatura versus 30% de embalagens novas. Com relação aos principais motivos do
descarte das embalagens retornadas dos clientes, verificou-se: avarias graves sem
possibilidade de recuperação; bolor em mais de 50% da superfície do acondicionador; e,
aspectos de envelhecimento da madeira que comprometem a boa aparência do conjunto de
compressores e colocam em dúvida a sua resistência mecânica.
No momento da conclusão deste trabalho, ainda não haviam dados sobre o desempenho das
intermediárias em PET na aplicação para acondicionamento de compressores em lotes, bem
como dados sobre a resistência das novas intermediárias durante o fluxo de logística reversa e
reutilização. Também não foi possível analisar o percentual de compras de novas
intermediárias em PET para a reposição das intermediárias que viessem a ser inutilizadas .
Ainda, assim, as empresas acreditam que a implementação desta nova solução trará benefícios
econômicos tanto na aquisição das novas intermediárias, quanto no desempenho da logística
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
13
reversa e da vida útil do material, por motivos, como: resistência à umidade e ao bolor;
flexibilidade do material e baixo índice de quebra durante todos os testes realizados;
degradação do material PET mais lenta que para a madeira; e, perfeito estado do produto em
teste externo.
4.4 Discussão dos resultados
A organização apesar de ser focada na produção de compressores herméticos realiza as
atividades voltadas para a logística: transporte, estoques, armazenagem e ordem de
processamento, conforme Ballou (2006). Tais atividades quando bem gerenciadas podem
gerar ganhos para a empresa, em sua estratégia e processos. As mudanças planejadas na
embalagem intermediária focam a melhoria da eficiência, eficácia, por meio do aumento de
receitas e redução de custos (BARNEY, 1991; ZHANG e KANG, 2010).
No que tange a redução de custos, o custo da embalagem de PET apresentou uma diminuição
de 13,5% nos dispêndios . Isso representa uma redução de custo de dez centavos (R$ 0,10)
por compressor e o montante de desembolso anual da empresa com embalagens foi reduzido
em duzentos e cinquenta mil reais (R$ 250.000,00).
Em razão do bom relacionamento entre a empresa fabricante e o fornecedor de embalagens, o
processo de desenvolvimento do novo produto gerou benefícios às duas organizações, em
termos de conhecimento e aumento de receitas, como foi exposto por Un et al (2010). A
colaboração e envolvimento dos fornecedores possibilitaram o sucesso na implantação de
produtos mais ecológicos e sustentáveis no mercado, segundo Pujari (2006).
Os novos procedimentos visavam implantar processos inerentes à logística reversa, na visão
de García-Rodriguez (2013), como remanufatura, reciclagem, reutilização e reparação. Esta
atitude sustentável focava em um método problemático nas empresas modernas: o descarte de
embalagens, conforme pesquisas de Adlmaier e Sellito (2007).
O resultado econômico da possível mudança está exclusivamente relacionado com o
desembolso a ser incorrido na compra de novas intermediárias, ou seja, não está considerado
neste cálculo possíveis ganhos com o melhor desempenho das intermediárias em PET no que
tange a reutilização. Como a implementação da logística reversa ainda não foi efetuada pela
empresa fabricante de compressores, não foi possível dimensionar os possíveis ganhos totais.
Entretanto, o desempenho do protótipo gera boas expectativas quanto a esses resultados.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
14
Os ganhos observados na logística de movimentação envolveram as características elencadas
por Azziet al. (2012): melhor desempenho em atividades de manuseio, carregamento e
descarregamento; movimentação de materiais, facilidades para estocagem e empilhamento,
assim como potencialidade para reutilização e reciclagem.
Apesar disso, algumas características consideradas por Hallstedt et al (2013), como
fundamentais para implementação de uma perspectiva sustentável, no processo de
desenvolvimento de produto, não eram fortes competências da organização. Observou-se que
a alta gestão não se orienta para a sustentabilidade em sua missão e visão, assim como este
ponto não está alinhado ao processo de inovação de produtos.
5 Considerações Finais
O desenvolvimento da pesquisa propiciou o acompanhamento da homologação de uma nova
proposta para intermediárias com alteração de matéria-prima, elaboração do novo projeto e a
realização de todos os testes práticos exigidos. Diante dos resultados apresentados, pode-se
concluir que o novo acondicionador desenvolvido, com a matéria-prima PET, apresentou-se
tecnicamente eficiente como intermediária, indicando durabilidade superior à da madeira,
resistência mecânica suficiente para o transporte rodoviário de longa distância, e ainda lança
de maneira esperançosa a possibilidade do reuso com a aplicação da logística reversa, tendo
como atributos favoráveis a maior durabilidade e a alta resistência à água e bolor.
Ainda, a nova proposta de intermediária apresentou-se mais ergonômica, e em comparação
com a madeira, obteve um menor custo final do produto por ser mais barata, além de estar
ecologicamente adequada. Considera-se, também, que nos casos em que não for viável o
fluxo reverso, as intermediárias em PET poderão ser vendidas como material para reciclagem,
gerando receita para o cliente e facilitando o descarte correto do material, diferentemente do
que ocorre atualmente com a madeira.
Para proposta de pesquisas futuras, esse trabalho lançou luzes sobre a possibilidade da troca
da madeira na construção de acondicionadores para transporte de compressores herméticos,
tradicionalmente utilizada na fabricação deste tipo de embalagem. Abre ainda campo para a
teorização de metodologias de homologação de acondicionadores de compressores
herméticos.
Como continuidade deste trabalho, propõem-se a verificação dos possíveis resultados
econômicos a serem obtidos com a implementação da logística reversa para os
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
15
acondicionadores em PET, e a sistematização das etapas necessárias para a mudança da
logística reversa atualmente utilizada pelo fabricante de compressores herméticos estudado
nesta pesquisa.
Referências ADLMAIER, D.; SELLITTO, M. A. Embalagens retornáveis para transporte de bens manufaturados: um estudo
de caso em logística reversa. Produção Online, 17, n. 2, 2007. 395-406.
AZZI, B. A. et al. Packaging Design: General Framework and Research Agenda. Packaging Technology and
Science, 25, 2012. 435-456.
BALLOU, R. H. The evolution and future of logistics and supply chain management. Produção Online, 16, n.
3, 2006. 375-386.
BARNEY, J. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management, 17, n. 1, 1991. 90-
120.
BOKS, C. et al. An international comparison of product end-of-life scenarios and legislation for consumer
electronics. Proceedings from the IEEE symposium on electronics and the environment. [S.l.]: [s.n.]. 1998. p.
19-24.
CASTELL, A.; CLIFT, R.; FRANCE, C. Extended producer responsibility policy in the European Union—a
horse or a camel? Journal of Industrial Ecology, 8, n. 1-2, 2004. 4-7.
CHO, J. J.-K.; OZMENT, J.; H., S. Logistics capability, logistics outsourcing and firm performance in an e-
commerce market. International Journal of Physical Distribution and Logistics Management, 38, n. 5, 2008.
336-359.
DANNEELS, E. The dynamics of product innovaton and firm competences. Strategic Management Journal,
23, n. 12, 2002. 1095-1121.
DOWLATSHASHI, S. Developing a theory of reverse logistics. Interfaces, 30, n. 3, 2000. 143-155.
FERRER, G.; WHYBARK, C. From garbage to goods: successful remanufacturing systems and skills. Business
Horizons, 43, n. 6, 2000. 55-64.
GARCÍA-RODRÍGUEZ, F. J.; CASTILLA-GUTIÉRREZ, C.; BUSTOS-FLORES, C. Implementation of
reverse logistics as a sustainable tool for raw material purchasing in developing countries: The case of
Venezuela. International Journal of Production Economics, 141, 2013. 582-592.
HALLSTEDT, S. I.; THOMPSON, A. W.; LINDAHL, P. Key elements for implementing a strategic
sustainability perspective in the product innovation process. Journal of Cleaner Production, 2013. 1-12.
MELBIN, J. E. The never-ending cycle. Distribution, 94, n. 11, 1995. 36-38.
PETERSEN, K. J.; HANDFIELD, R. B.; RAGATZ, G. L. A Model of Supplier Integration into New Product
Development. The Journal of Product Innovation Management, 20, n. 4, 2003. 284-299.
POKHAREL, S.; MUTHA, A. Perspectives in reverse logistics: a review. Resources, conservation and
recycling, 53, 2009. 175-182.
PUJARI, D. Eco-innovation and new product development: understanding the influences on market
performance. Technovation, 26, n. 1, 2006. 76-85.
RAVI, V.; SHANKAR, R. Analysis of interactions among the barriers of reverse logistics. Technological
Forecasting and Social Change, 72, n. 8, 2005. 1011-1029.
UN, C. A. U.; CUERVO-CAZURRA, A.; ASAKAWA, K. R&D collaborations and product innovation. Journal
of Product Innovation Management, 27, n. 5, Setembro 2010. 673-689.
YIN, R. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. 3ª. ed. São Paulo: Bookman, 2004.
ZHANG, J.; KANG, K. Coordination Mechanisms in Logistics Integration and their Impact on Green
Logistics Performance. IEEE International Conference on Advanced Management Science (ICAMS). [S.l.]:
[s.n.]. 2010. p. 666-670.
Recommended