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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CARLOS AUGUSTO COSTA - 2012046864
ANALISE DO FILME:
“UM DIA DE FÚRIA”
Belo Horizonte
2013
O contexto do filme
O filme “Um Dia de Fúria” gira em torno do personagem William Foster, conhecido
como Bill. Na trama Bill um homem separado da mulher, desempregado d com traços
de instabilidade emocional tem um surto psicótico no transito.
O filme data de 1993 e mostra vários pontos marginalizados da cidade de Los
Angeles, CA. Chama a atenção que o diretor, Joel Schumacher, procura mostrar
algumas nuances do comportamento da população como a criminalidade, o trabalho
da polícia, conflitos familiares e a desigualdade social.
Interessante lembrar que em 1992 houve um caso de abordagem policial em que
alguns policiais são acusados de espancamento e abuso de autoridade. Após o
julgamento assim que os policiais foram absolvidos instaurou-se uma onda de
violência pela cidade em protesto contra a decisão do júri. A situação tomou
proporções alarmantes.
As filmagens de “Um Dia de Fúria” datam de 1992, época do incidente em questão, o
que pode ter influenciado o diretor Joel Schumacher.
Sinopse
Bill Foster é um homem com sintomas de instabilidade emocional que encontra-se
preso em um engarrafamento. Soma-se sensação desagradável de estar preso no
transito sem sair do lugar ao calor de um dia de verão e juntamente com isso o som
das buzinas, xingamentos, e pressões emocionais internas e talvez possamos
entender os mecanismos que o levaram a um surto de fúria.
Bill deixa o seu carro em via publica e sai andando dizendo: “Vou pra casa”. No seu
caminho de volta pra casa surgem vários fatores que fazem com que ele fique cada
vez mais perturbado e violento. Um comerciante que segundo ele pratica preços
abusivos, jovens que tentam assaltá-lo, um homem que tenta lhe enganar, pessoas
que se interpõe entre ele e sua jornada de volta pra casa. Interessante ressaltar que a
tal casa de que ele fala é a casa de sua ex-esposa. Bill tem dificuldades para aceitar o
fim do relacionamento.
Ele deixa atrás de si um rastro de violência e morte. Para ele nada pode intervir em
sua trajetória de volta pra casa. Ele parece disposto a fazer o que for preciso para
conseguir o que quer, e chega a matar e ferir pessoas.
De um outro lado temos um policial, Martin Prendergast, que esta em seu último de
trabalho e também passa por conflitos emocionais. Ele esta se aposentando para fazer
a vontade da esposa, e pelo que o filme deixa entender, parece ser o que ele tem feito
durante muito tempo. Prendergast e sua esposa perderam uma filha de 2 anos de
idade, fato que causou grande abalo psíquico em sua mulher.
A ideia de Prendergast é se aposentar para cuidar da mulher. Ele se mostra dividido
entre ser policial e se aposentar conforme a vontade de sua esposa.
Análise Psicológica
Personagens relevantes: uso aqui o termo personagens relevantes para me referir aos
personagens do filme nos quais observei características que podem servir como base
para uma análise psicológica.
Abordagem Utilizada: Karen Horney
Michael Douglas (William Foster)
William Foster apresenta uma personalidade neurótica e mostra dificuldade em
relacionamentos interpessoais. Ele demonstra isso através do insucesso no
casamento. Na afirmação de sua mãe de que ele tinha um temperamento difícil e na
afirmação de que ele não aceitava que ela entrasse em seu quarto. Esta atitude
combina com as características de hostilidade básica descrita por Horney em sua
teoria. Durante a visita na casa de William, Prendergast observa fotos do que nos
levam a crer que o pai de William era militar, o que sugere que foi criado de maneira
rigorosa e exigente o que pode ter contribuído ou até mesmo sido o desencadeador da
hostilidade.
Segundo Horney, os conflitos mais importantes estão baseados em questões
interpessoais não resolvidas. Tomando esta proposição podemos ter uma ideia sobre
o que acontece com William. Ele expressa um comportamento do tipo “voltar-se
contra”. Durante o surto, este comportamento parece dominá-lo e ele demonstra
agressividade e se volta contra em diversas situações em que ele se sente injustiçado
ou percebe que alguém age de forma errada segundo o seu padrão de justiça.
Robert Duvall (Martin Prendergast)
O policial Prendergast apresenta traços de uma personalidade voltada para a auto-
anulação. A base para esta afirmação vem do fato de ele decidir se aposentar e se
mudar para um lugar distante apenas para fazer a vontade da esposa em detrimento
da sua. Fica fácil perceber isso pois até os seus colegas policiais não entendem a
atitude que parece não combinar com o tipo de pessoa q eles vêm em Prendergast.
Este perfil, segundo a teoria de personalidade apresentada por Karen Horney, é o
perfil de uma pessoa que adotou a solução de auto-anulação, onde ele busca
aproximar das pessoas como resposta ao conflito neurótico. Parece ser esta a atitude
dele ao fazer de tudo para que o seu casamento de certo mesmo que para isso tenha
que sacrificar sua individualidade.
Um fato interessante é que os acontecimentos do dia do filme parecem ter um efeito
em Prendergast. Ele começa, a partir das criticas e deboches que recebe dos colegas
e também da sua percepção dos acontecimentos à sua volta, a elaborar a sua
trajetória de vida e em um dado momento do filme, ele que sempre se portou de forma
submissa e compreensiva com sua esposa, ousa enfrentá-la e confronta suas ideias e
como resultado desta ação ele expressa em seu rosto uma sensação de bem estar,
como se um peso tivesse saído dos seus ombros. Posteriormente ele decide que não
irá mais se aposentar.
Tuesday Weld (Amanda Prendergast)
A esposa do policial Prendergast parece também apresentar um perfil de auto-
anulação, porém com características diferentes das apresentadas pelo marido.
Amanda busca manipular a atenção do marido se fazendo de vítima, esboçando um
sentimento de fraca e desamparada. Expressa necessidade de amor. Com isso ela
consegue fazer com que seu marido lhe satisfaça os caprichos. Interessante o fato de
como ela percebe que esta atitude traz o resultado esperado. Ela age baseada na
ideia de “se você me ama...”
Quando o marido muda o tom da conversa e começa a se impor e não dá espaço para
que ela se faça de vítima ela parece esboçar uma expressão de surpresa diante da
situação. Parece perceber que esta prestes a perder o controle da situação.
Abordagem Utilizada: Carl Rogers
Um dos conceitos apresentados por Roger é o campo da experiência que se torna
único a cada individuo “tudo o que esta acontecendo dentro do envoltório do
organismo em qualquer momento e está potencialmente disponível à consciência”
(Rogers, 1959). É um mundo pessoal, privado que pode corresponder ou não à
realidade objetiva observada.
Michael Douglas (William Foster)
William apresenta um comportamento que mostra que há uma diferença entre a
realidade objetiva e a realidade percebida por ele. Isso fica evidenciado em alguns
momentos do filme. O fato de ele decidir “voltar pra casa” e a casa em questão ser a
casa de sua ex-esposa mostra que para ele, naquele momento, sua casa ainda é com
sua esposa e filha. Outro fato importante que embasa esta afirmação é o conceito
distorcido de justiça que ele adota no decorrer do filme.
Ele demonstra um comportamento incongruente quando ao tentar expressar amor pela
esposa e filha, em situações alegres ele age de maneira agressiva. Fato interessante
é que ele mesmo ao ver um vídeo familiar percebe seu comportamento agressivo em
uma situação em que ele pensava estar demonstrando o contrário.
Os conflitos vividos por William podem ser analisados sob o conceito de self ideal. Ele
gostaria de possuir certas características e habilidades, como o relacionamento
interpessoal, por exemplo, parece não conseguir e isso o torna muito insatisfeito. Ele
não conseguiu manter seu casamento e agora acaba de perder seu emprego. Estes
acontecimentos ferem seu senso de auto-realização que, segundo Rogers é uma
tendência natural do ser humano.
Robert Duvall (Martin Prendergast) e Tuesday Weld (Amanda Prendergast)
O comportamento do policial Prendergast apresenta traços de incongruência que
podem ser evidenciados nos momentos em que ele tenta demonstrar que está ansioso
por se aposentar e na realidade o sentimento é exatamente o contrário.
Alguns aspectos do seu relacionamento conjugal demonstram que para ele casamento
não estava produzindo o crescimento proposto por Rogers segundo o qual o
casamento traz consigo a possibilidade de crescimento e desenvolvimento contínuo.
Isso faz com que o self ideal de Prendergast seja diferente do seu self real a ponto de
trazer transtornos.
Conclusão
Ao fazer esta análise do filme “Um Dia de Fúria” pude perceber como elementos que
fazem parte do nosso cotidiano podem passar despercebidos ao nosso olhar. Eu já
tinha visto o filme antes 2 vezes sem sequer pensar que poderia empreender uma
analise psicológica sobre os personagens. Para mim foi uma experiência muito
enriquecedora.
Pela visão que tive do filme vários personagens apresentam algum tipo de transtorno.
Como alternativa ao avaliar apenas o perfil do personagem principal, decidi listar
apenas alguns que julguei mais relevantes.
Ao meu ver o diretor do filme quis chamar a atenção para a maneira como os fatores
ambientais, sociológicos e familiares podem influenciar nas ações humanas.
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