Arrojadas Porque Seriam Falsas

Preview:

DESCRIPTION

poema

Citation preview

arrojadas porque seriam falsas. 

Repara: — a imóvel crisálida

Já se agitou inquieta,

Cedo, rasgando a mortalha,

Ressurgirá borboleta.

Que misteriosa influência

A metamorfose opera!

Um raio de Sol, um sopro

Ao passar, a vida gera.

Assim minha alma, ainda ontem

Crisálida entorpecida,

Já hoje treme, e amanhã

Voará cheia de vida.

Onde vai o teu pensamento

Quando, os olhos elevando,

Segues das aves ligeiras

Esse harmonioso bando?

Que te dizem os gorjeios

Dessas pobres foragidas,

Que vão procurar ao longe

Outras selvas mais floridas?

Acaso temes, como elas,

As nuvens negras, pesadas,

E os ventos que descem rápidos

Das altas serras nevadas? 

Acaso invejas as asas

Desses plumosos viajantes?

Acaso aspiras à vida

Noutros climas mais distantes?

Não, querida, não receies

Do Inverno os duros rigores;

Quando do Sol falta a chama

Brilha a chama dos amores.

Não são para nós mais lúcidas

As noites que o próprio dia?

Que onde a luz do céu falece,

A paixão é que alumia.

E o gelo, que as pobres aves

Na relva prostra sem vida,

Da nossa paixão, querida.

18 de Outubro de 1862.

Andava a pobre cabreira

O seu rebanho a guardar

Desde que rompia o dia

Até a noite fechar.

De pequenina nos montes

Não tivera outro brincar.

Nas canseiras do trabalho

Os seus dias vira passar.

Sentada no alto da serra

Pôs-se a cabreira a chorar.

Porque chorava a cabreira

Ides agora escutar:

«Ai! que triste a sina minha,

Ai! que triste o meu penar,

Que não sei de pai nem mãe

Nem de irmãos a quem amar,

«De pequenina nos montes

Nunca tive outro brincar.

Nas canseiras do trabalho

Os meus dias vejo passar.»

Mas, ao desviar seus olhos

Viu coisa que a fez pasmar:

Uma cabra toda branca

Se lhe fora aos pés deitar!

Branca toda, como a neve,

Que nem se deixa fitar,

Coberta de finas sedas

Que era coisa singular!

Nunca a tinha visto antes

No seu rebanho a pastar,

E foi a fazer-lhe festa...

E foi para a afagar...

Eis vai a cabra fugindo

Pelos vales sem parar;

Ia a cabreira atrás dela

Mas não a pôde alcançar.

Recommended