View
221
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
DA DISSOLUÇÃO AFETIVA À ALIENAÇÃO PARENTAL WINDING UP THE DISPOSAL OF PARENTAL AFFECTIVE
Patricia Cruz da Silva
Graduanda do Curso de Direito da Faculdade Icesp de Brasília, concluinte do Curso de Extensão em Direito
Fundamentais e Políticas Públicas, estudante de PNL (Programação Neurolinguística e Eneagrama- EQSM-
Treinamentos Comportamentais.
Resumo: O presente estudo aborda os aspectos jurídicos, sociológicos e psicológicos da Lei
de Alienação Parental. Relaciona, portanto, o gatilho que norteia esse comportamento, hoje,
tão evidente nas famílias que passam por deslace afetivo. A dissolução conjugal, demais
banalizada na sociedade contemporânea, nos remete a relações cada vez mais curtas, sem
mensuração das consequências à prole que, injustificadamente, torna-se centro das brigas
judiciais. Para tanto, será realizada correlação entre as mudanças sofridas no âmbito familiar e
o distúrbio decorrente da dissolução afetiva. Na busca por esclarecimentos sobre a Síndrome
da Alienação Parental, será abordada sua origem, conceitos, legislação, o comportamento
alienador, e as consequências dessa Síndrome, bem como a aplicabilidade da lei e de todos os
seus recursos, como tratamento inibidor da conduta alienadora.
Palavras Chave: Família, Dissolução afetiva, Alienação Parental, Síndrome, Tratamento.
Abstract: This study addresses the legal, sociological and psychological aspects of Parental
Alienation Act. Relates therefore the trigger that drives this behavior today, so evident in
families who go through emotional deslace. The marital dissolution, too trivialized in modern
society leads us to increasingly shorter relationships, without measuring the consequences to
the offspring who without justification, becomes center of legal fights. To this end, correlation
will be held between the changes undergone in the family and affective disorder resulting
from dissolution. In the search for clarification of the syndrome of parental alienation, will be
addressed its origin, concepts, legislation, alienating behavior, and the consequences of this
syndrome, as well as the applicability of the law and all its resources, as a treatment inhibitor
of alienating behavior.
Keywords: Family, affective Dissolution, Parental Alienation, Syndrome, Treatment.
Sumário: Introdução. 1. Registros históricos acerca da família. 2. Dissolução Afetiva,
precursor da Alienação Parental. 3. Primeiros Registros sobre Alienação Parental. 4.
Conceitos: diferença entre a Alienação Parental e a Síndrome da Alienação Parental. 5.
Princípios inerentes à proteção da criança e do adolescente: dignidade humana e do melhor
interesse do menor. 6. Legislação: Alienação Parental. 7. Prejuízos da Alienação Parental: a
Síndrome. 8. A aplicação da Lei como prevenção às mazelas da dissolução afetiva: Síndrome
da Alienação Parental.
2
Introdução
É comum, na dissolução afetiva, a sociedade dirigir seus olhares apenas à condição
do casal, sem preocupar-se efetivamente com a prole envolvida na questão.
Comportamento repetido pelo Judiciário que trata tão somente das questões levadas a seu
âmbito, que, precipuamente, é o divórcio, atentando-se apenas aos cônjuges e àquele que
detém as melhores condições de guarda sem o devido questionamento sobre como essa
prole está sendo educada sem a presença de ambos os genitores.
Assunto que deve ser de máxima relevância para a dinâmica da cidadania, ora por
tratar-se do futuro da sociedade e sua formação psicossocial ora por tratar do envolto
necessário à efetividade na aplicação da lei. Crianças e adolescentes que deveriam ser
cuidadas, protegidas por seus entes queridos encontram-se, nesses casos, especificamente,
violentadas mentalmente por adultos intolerantes à negativa de uma relação que não
perdurou quanto se propusera, restando-se dissolvida.
Temos, então, a caracterização de conduta, hoje, tipificada civilmente e com sanções
defesas em lei, alienação parental, problemática relevante na contemporaneidade jurídica,
por isso, o presente estudo visa demonstrar a importância do conhecimento dessa conduta,
os prejuízos para os envolvidos, como identificar, prevenir, a aplicação compulsória de
tratamento. É importante entender que não trata somete de questão familiar, trata-se de
ordem pública, de saúde, de cidadania. Pois, como formar um cidadão saudável,
psicologicamente, se foi uma criança alienada?
A literatura a respeito é vasta, vai do conceito à prática, com uma riqueza luminosa
aos estudiosos, portanto uma delimitação fez-se necessária à questão, com intuito de
chegar a uma estrutura concisa que vai da história, passando por conceitos, legislações,
aplicabilidade, consequências decorrentes da Síndrome de Alienação Parental e os meios
de prevenção. Identificação dos efeitos jurídicos e sociais, com a busca incessante de
mostrar que alienação parental e sua Síndrome destroem todos os envolvidos e, com
crueldade, as crianças e adolescentes que são usados como arma numa guerra familiar.
A conscientização da conduta, da existência de Lei que a define como ilícito civil,
passível de sanções, poderá inibi-la do seio familiar. O problema não é novo, mas somente
há pouco, ganha notoriedade na sociedade e nos tribunais.
3
1. Registros históricos acerca da família
É preciso entender e compreender a evolução da família, para conseguir relacionar
a dissolução afetiva à prática da Alienação Parental, pois esta é uma das consequências
dessa evolução, sendo inserida no contexto familiar, a partir do deslace amoroso
acompanhado de traumas que não eram visíveis em épocas passadas, uma vez que a
submissão feminina tendia a comportamentos de complacência, mesmo que imposta.
Conforme Elpídio Donizetti (2012), a instituição do casamento é uma das mais
antigas de que se tem notícia, presente em quase todos os modelos de sociedade. É a
formalização da união conjugal, realizada pela religião, que a sacralizava, e,
posteriormente, assumida por alguns Estados. 1
Para melhor percepção é necessário entender sobre Roma, pois para estes a
família, além de outros sentidos, significava como afirma Cretella Júnior (1998, p.109):
“conjunto de pessoas colocadas sob o poder de um chefe – pater familias, que nesta
expressão, não quer dizer pai, mas chefe efetivo ou em potencial”.2
Para os germânicos, o pai era o chefe de Estado dentro do seu lar, a ele cabia todo
o respeito e honra. Em contrapartida este tinha a obrigação de zelar por sua família, desde
seu sustento alimentar até seu sustento espiritual, era seu dever protegê-los. Esse poder
não era somente doméstico, tratava-se de um poder com direcionamento político, religioso
e econômico.
Karen Ribeiro Pacheco Nioac de Salles (2001, p.3) afirma que “o pater familiae
exercia, exclusivamente, para si em seu proveito, as funções de sacerdote, de juiz, de
chefe e administrador absoluto do seu lar”.3
Maria Berenice Dias (2004) nos ensina que o pai detinha poderes absolutos sobre
todos, em seu âmbito familiar, uma vez que dependiam dele para sobreviver. A mulher era
a procriadora, educadora, bem como a zeladora de sua casa. Não tinha permissão para
1 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Civil. Ed. Atlas. São Paulo. 2012. p. 883.
2 CRETELLA JÚNIOR, J., Curso de Direito Romano: O direito romano e o direito civil brasileiro. 21. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1998. p.109.
3Salles, Karen Ribeiro Pacheco Nioac. Guarda Compartilhada. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2001. p. 3.
4
qualquer questionamento, principalmente no que diz respeito ao seu marido. Somente em
falta ou impedimento do pai, a mãe assumia a função.4
Houve mudanças no comportamento da sociedade, conseguinte da família. Vários
foram os fatores para essa alteração, pode se afirmar como principais o Feminismo e a
Revolução Industrial, quando a mulher se insere no mercado de trabalho. Esses fatos
colaboraram para dirimir as desigualdades existentes ao longo dos tempos na relação entre
o homem e a mulher.
Com advento do Código Civil de 1916, Clóvis Beviláqua (1952), preocupou-se com
essas evoluções, afirmando que o pátrio poder é um complexo de direitos conferidos ao
pai, mas apenas a tutela, com visão de proteger o filho, uma vez que este é menor e
precisa de um protetor, mas o poder social está sob vigilância.5
Outro fato que ganha notoriedade na busca da igualdade entre homens e mulheres,
aparece com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, que estabelece que
todos os seres humanos, são livres e iguais em dignidade e direitos, e que toda pessoa
possui todos os direitos e liberdades.
Com o Estatuto da Mulher Casada6 (1962) surgem as primeiras modificações no
ordenamento jurídico sobre o exercício do pátrio poder feminino. Instituindo a igualdade
jurídica da mulher. A despeito de ter mantido o marido na chefia da sociedade conjugal,
ampliou o exercício do poder familiar à mulher e, se esta contrair novo casamento não
mais perderia os direitos sobre os filhos, conforme Denise Dalmo Comel (2003).7
Alguns anos, mais tarde, tivemos a promulgação da Lei 6.515/1977 que proclama
regulamentos sobre o divórcio. Não trouxe significativas modificações sobre o poder
familiar, muito embora polêmica e inovadora por introduzir o divórcio no país. O que
ensejaria uma nova modalidade de família, decorrente de tantas mudanças prol mulher,
esposa e genitora, demonstrar-se-ia, de forma clara e precisa para a sociedade, que tanto a
mãe quanto o pai, são igualmente importantes e essenciais à formação da autoridade a ser
respeitada pelos filhos.
4 DIAS, Maria Berenice, Manual de direito de famílias. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 379.
5 BEVILAQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do brasil Comentado. Rio de Janeiro: Paulo de
Azevedo, 1952. p. 357. 6 BRASIL. Lei nº: 4.121, de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre a situação jurídica da mulher casada. DOU de
03.09.1962. 7 COMEL, Denise Damo. Do Poder Familiar. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 33-35.
5
Nesse contexto, cabe citar Maria Helena Diniz (2003, p.447):
O Poder familiar consiste num conjunto de direitos e obrigações, quanto à
pessoa e bens do filho menor não emancipado, exercido, em igualdade de
condições, por ambos os pais, para que possam desempenhar os encargos
que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o interesse e proteção dos
filhos.8
Por sua vez, Waldyr Grisard Filho (2002, p.29), conceitua: “o conjunto de
faculdades encomendadas aos pais, como instituição protetora da menoridade, com o fim
de lograr o pleno desenvolvimento e a formação integral dos filhos, física, mental, moral,
espiritual e social”.9
Várias evoluções ocorreram, mas somente a Constituição de 1988, exatamente no
artigo 226 § 5º, que a isonomia ganhava força, compilada de princípios essenciais à
sociedade [...] “os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos
igualmente pelo homem e pela mulher [...].” A limitação do poder familiar é escopo da lei
8.069/1990 e do Código Civil de 2002 que determina a gestão do poder familiar por
ambos os pais e não somente pelo homem.
Para Ana Maria Milano (2008, p.33), o “poder familiar é muito mais uma
obrigação dos pais para com os filhos e seus bens, do que um direito. O direito é da prole,
de receber, de quem a gerou ou adotou, os cuidados de que necessita”.10
Como destacado por Ataíde Júnior (2009), faz concluso que o poder familiar
consiste em um poder-dever imposto pelo Estado aos pais, de modo igualitário,
direcionado à pessoa e aos bens do filho menor e não emancipado, visando protegê-lo e
educá-lo, em observação à Doutrina da Proteção Integral pelo Princípio do Melhor
Interesse.11
A preocupação em cuidar e formar um cidadão de princípios, um cidadão que
exercerá sua cidadania em plenitude é direito e dever daqueles que se propõe na
8 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. São Paulo: Saraiva, 2003. v. 5. p.
447.
9 GRISARD FILHO, Waldyr. Guarda Compartilhada: um novo modelo de responsabilidade parental. 2ª Ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais. 2002, p. 29.
10 SILVA, Ana Maria Milano. A Lei sobre Guarda Compartilhada, 2ª ed. São Paulo: JH Mizuno, 2008, p. 33.
11 ATAÍDE JÚNIOR, Vicente de Paula. Destituição do poder familiar. Curitiba: Juruá, 2009, p. 29.
6
constituição de uma família, pois o poder familiar é irrenunciável, imprescritível,
inalienável e indisponível.
2. Dissolução Afetiva, precursor da Alienação Parental.
Tradicionalmente, a família é constituída através do casamento, independente dos
gêneros em questão. Seu papel transcende os aspectos religiosos e jurídicos, é uma
formalidade social, um ideal quase sempre religioso, no qual se deposita esperanças. No
entanto, mesmo unindo-se com o propósito de felicidade, no dia a dia, o casal pode
destoar desses sonhos e perceber diferenças antes não visíveis e inconscientemente se
afastam. Casais que antes conviviam, mesmo estando infelizes para não se justificar a
sociedade, hoje não vive mais.
Hoje, a dissolução conjugal é vista como a oportunidade de ter uma segunda
chance, ou seja, casar-se sem resquícios do receio, de serem julgados se este enlace não
perdurar. É livrar-se de um problema criado por ambos, no assente da intolerância, sem
delongas. A banalidade nas relações, a inconsistência entre as pessoas, a individualidade
conjugal, podem ser as possíveis justificativas que acarretam dissoluções tão rápidas, que
não significa menos dolorosas no contexto familiar-social, o que se agrava quando chega
às extremidades jurídicas.
No Brasil, o vínculo conjugal só se extinguia com a morte, conforme a
Constituição de 1916. Logo, com a Lei 6.515 de 1977, institui-se a separação judicial e o
divórcio. Algumas evoluções fizeram parte dessa nova possibilidade de não mais conviver
com o cônjuge e se relacionar com outra pessoa sem cometer adultério. Admitia-se o
rompimento da relação conjugal, mas com a manutenção do vínculo, que só poderia ser
finalizado depois do desquite.
Promulgada a Constituição Federal em 1988, o divórcio passou a depender da
separação judicial de um ano e de fato por dois anos. Em 2010, após vigência da Emenda
Constitucional nº: 66, que determinou a dissolução do casamento civil através do divórcio,
esse lapso temporal tornou-se preterido.
Sem deixar de mencionar a aplicabilidade que nos aduz o Código Civil de 2002 ao
descrever que a sociedade conjugal finda com a morte de um dos cônjuges, com a
nulidade ou anulação do casamento e, com a separação judicial ou através do divórcio.
7
Portanto, ainda que haja em nossa sociedade resquícios de moralidade religiosa
que possa impor à manutenção da relação conjugal, o que prevalece é a mudança do
paradigma do ser feliz, estar feliz, independente da opinião da sociedade. Por conseguinte
a dissolução afetiva pode acarretar consequências a toda família. Aceitar o imperfeito traz
sentimentos de irracionalidade ou racionalidade calculada, arraigada de sentimentos
vingativos, usada em âmbitos extremos.
A obra de Trindade faz referência à Maria Berenice Dias que explica bem o
desencadeamento da Alienação Parental após a separação:
Muitas vezes, quando da ruptura da vida conjugal, um dos cônjuges não
consegue elaborar adequadamente o luto da separação e o sentimento de
rejeição, de traição, o que faz surgir um desejo de vingança: desencadeia um
processo de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-parceiro. O
filho é utilizado como instrumento da agressividade – é induzido a afastar-se
de quem ama e de quem também a ama. Isso gera contradição de
sentimentos e destruição do vínculo entre ambos.12 (Jorge Trindade, 2010,
p.178).
Da esquivança à separação, há possibilidade e facilidade de surgirem
comportamentos inerentes à conduta alienatória e, esta é facilitada, pela condição humana
de pretensão. Axiomático aos olhos do futuro alienador que a única chance de manter
atenção com quem já não o enxerga mais como companheiro ou mesmo o repelir
abruptamente é utilizar das armas que tem e, quase sempre, essa arma é o próprio filho, a
fim de alcançar seus objetivos não é óbice de consciência tal atitude, ao contrário, é meio
de alcance.
3. Primeiros registros sobre a Alienação Parental
Mencionada pela primeira vez em 1985, pelo professor Richard Gardner, perito
judicial e especialista do Departamento de Psiquiatria Infantil da Universidade de
Columbia nos Estados Unidos da América, estudos sobre alienação parental, ressaltou:
Os profissionais de saúde mental, os advogados do direito de família e os
juízes geralmente concordam em que temos visto, nos últimos anos, um
12 TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica Para Operadores do Direito. 4ª ed. verificada, atualizada
e ampliada. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010, p. 178.
8
transtorno no qual um genitor aliena a criança contra o outro genitor. Esse
problema é especialmente comum no contexto de disputas de custódia de
crianças, onde tal programação permite ao genitor alienante ganhar força no
tribunal para alavancar seu pleito.13 (Richard Gardner, 1985, p.1).
Gardner descreve, depois de constatações minuciosas, situação em que pais que
disputam a guarda da criança, a mãe manipula, ao ponto de vir a romper os laços afetivos
com o outro genitor, criando sentimentos de ansiedade e temor em relação ao antigo
companheiro14. É a extensão dos seus sentimentos de mãe da relação que não existe mais,
repassada para o filho. Comportamento também conhecido com a Síndrome de Medeia.
Depois de suas pesquisas, várias outras surgiram com as mesmas constatações,
alguns, nomeando a conduta com outros nomes, como SAID (Alegações Sexuais no
Divórcio) quando o genitor implanta falsas memórias de abuso, acusando o outro
progenitor, descrevem Blush e Ross, profissionais especialistas em tribunais de família.
Outra nomenclatura é a Síndrome da Mãe Maliciosa e a Síndrome da Interferência Grave,
como preceitua José Manuel Aguilar Cuenca (2008).15
Várias foram as nomenclaturas, mas as constatações dos sintomas em crianças, que
sofreram intolerância de seus pais foram as mesmas em todas as pesquisas realizadas por
profissionais habilitados. Então, a nomenclatura que se fixou foi Síndrome da Alienação
Parental, SAP.
No mundo a fora, depois de inúmeras pesquisas a respeito da alienação parental, a
síndrome decorrente dela e suas consequências devastadoras, formou-se consciência sobre
sua existência que culminou a atenção dos tribunais. Várias são as sanções aplicadas, que
vão desde advertências até prisão de um ano e multa, além de outras sanções restritivas de
direito, como ocorre nos estados da Califórnia e Pensilvânia. O México assim como o
Brasil, dispôs em sua última reforma do Código Civil, dispositivos sobre a Síndrome da
Alienação Parental.16 (Douglas Freitas, 2015, p.25).
13 GARDNER, Richard. Departamento de psiquiatria infantil da Faculdade de Medicina e Cirurgia da
Universidade de Columbia. Disponível em: http://sites.google.com/site/alienação parental/textos-sobre-sap-
1/0dsm-iv-tem-equivalente. Acesso em 05 de outubro de 2015. 14 Ibidem.
15 CUENCA, José Manuel Aguilar. Síndrome de alienação parental. Portugal: Almuzara, 2008. p. 35.
16 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental: Comentários à Lei 12.318/2010. 4ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2015. p. 25.
9
Mas, no Brasil, só tivemos uma maior atenção do Poder Judiciário em 2003,
quando surgiram as primeiras decisões reconhecendo esse fenômeno como um propulsor
de problemas no âmbito familiar. Ademais, essa percepção só foi possível depois que
equipes multidisciplinares passaram a participar desses processos, como imprescindíveis
peças em busca da veracidade dos fatos. Sem deixar de mencionar a grande participação
de institutos como APASE (Associação de Pais e Mães separados) e o IBDFAM (Instituto
Brasileiro de Direito de Família), que passaram a divulgar sobre o problema, levando ao
conhecimento de todos, estudos, pesquisas sobre a alienação parental.
Lustre destacar, que o anteprojeto da Lei de Alienação Parental foi apresentado
pela APASE – Associação dos Pais e Mães Separados- que constou em 27 versões17, ou
seja, muito bem estudado, para que englobasse todas as possíveis formas de alienação,
enquadrando as condutas às pessoas e às situações cabíveis de acontecimento. (Fonte:
APASE)
Tal estudo foi de suma relevância, pois essa conduta tem raízes nos sentimentos de
vingança, usando de armas que, inevitavelmente atingirá quem deveria ser protegido, o
próprio filho. Nesta patologia, a doença do agente alienador volta-se contra qualquer das
pessoas que possam contestar sua autoridade, mantendo-os num estado de horror e
submissão, por meio de crescente animosidade.
A questão deve ser detalhada, uma vez que a identificação de ofício é dificultada,
pois ainda não temos juízos e juízes prioritários na questão e, para tanto especializados no
problema, muito menos em quantitativo-pessoal, que ensejaria uma possibilidade de
alcançar a anulabilidade de ações advindas de genitores que podem, meticulosamente,
camuflar, distorcer sentimentos perante a “máxima” do poder Judiciário, dificultando,
assim, que este aplique a justiça efetiva.
Logo, é necessário um juízo especializado em Alienação Parental, acompanhado
por uma equipe multidisciplinar, uma junção de ciências essenciais: o próprio magistrado,
psicólogos especializados em família, psicopedagogos, perícias sociais, médicas, entre
outras perícias que se fizerem necessárias para o subsídio e certeza da decisão judicial.
Douglas Phillips Freitas menciona no seu livro, “Alienação Parental” que:
17 Anteprojeto a cerca da Alienação Parental. Disponível:
<http://www.apase.org.br/62002preprojetoleisap.htm.>. Acesso: 10/11/2015 às 22:00.
10
A Lei da Alienação Parental segue a linha adotada pela recente produção
jurídica familista, que é a do reconhecimento da inabilidade dos operadores
jurídicos em tratar todas as questões correlatas ao direito de família. Logo, a
presença e atuação de equipe multidisciplinar tornam-se cada vez mais
salutar e imprescindível para a formação do convencimento do juiz e a
resolução do litígio.18(Douglas Freitas, 2015, p.31).
É importante o entendimento que, a ação ou omissão de qualquer dos genitores, ou
familiar que cause dano à psique do infante, que possa influenciá-lo contra o outro
progenitor, é ilícito com tipificação e sanções. A criação dos filhos, o convívio com estes,
não é a extensão de um casamento feliz ou terminado, é direito e dever dos ambos os pais,
avós e toda a comunidade familiar.
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 227 caput, define que é dever de toda
família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito [...] à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. (CF 1988).
Embora seja essa a conduta que se espera da família, não é o que acontece em total
integralidade, quando essa família passa por uma dissolução afetiva, o que pode acarretar
na exacerbação do poder familiar de um dos pais ou de ambos. E, apesar de todas as
mudanças na sociedade, ou mesmo por causa destas, algumas síndromes surgiram no seio
familiar, como a Síndrome da Alienação Parental, conhecida pela sigla SAP.
Portanto, é importante nortear o entendimento que é possível e importante evitar a
Síndrome de Alienação Parental tão mais que tratar, pois a prevenção trará ao infante a
real possibilidade de passar pelos estágios psíquicos de sua formação de maneira
adequada com conformidade constitucional e infraconstitucional. Crianças e adolescentes
têm o direito de tornar-se cidadão completo, sem traumas, uma vez que as consequências
da alienação parental são devastadoras e poderão causar danos irreversíveis.
4. Conceitos: diferença entre a Alienação Parental e a Síndrome de
Alienação Parental
18 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental: Comentários à Lei 12.318/2010. 4ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2015. p. 31.
11
Alienação Parental é ação realizada por um dos pais, avós ou parente que convive
com a criança ou adolescente, denegrindo, imputando neste, falsas memórias sobre seu
genitor, interferindo negativamente em sua educação psicológica. Esse alienador é incapaz
de distinguir e enxergar essa criança como um ser humano distinto de si, com sentimentos
próprios, mas frágil à influência de um adulto.
É a usurpação da identidade sentimental do filho para com genitor que não mais
convive com a criança em tempo integral. Atitude cruel que um dos pais usa para
manipular seus sentimentos, para que a figura heroica do genitor afastado seja destruída.
Trata-se de um transtorno psicológico do genitor alienador que deixa claro a necessidade
de tratamento psicológico, pois ao invés de zelar, busca destruir os laços afetivos entre
pai/mãe e filho, conjunturalmente merece apreciação jurídica sancionatória culminada
com tratamento psicossocial.
Dr. Gardner (1987) afirmou que a alienação parental segue um único propósito:
“uma perturbação na qual a criança intervém na desaprovação e crítica em relação a um
dos progenitores, atitudes essas que são injustificadas e/ou exageradas”. Conceito é
similar em significado à “lavagem cerebral”.19
O pai/mãe alienador tem por objetivo, independente da subjetividade de
dolo/culpa, a intenção de afastar o outro progenitor do convívio familiar, destruindo assim
vínculos paternais, que a depender da continuidade, poderão ser definitivos.
Podevyn (2001-apud APASE) conceitua alienação de forma objetiva dizendo que:
“programar uma criança para que odeie um de seus genitores, enfatizando que, depois de
instalada, poderá contar com a colaboração desta na desmoralização do genitor (ou de
qualquer outro parente ou interessado em seu desenvolvimento) alienado”.20
Por conseguinte, a Síndrome da Alienação Parental é a consequência advinda do
turbilhão de sentimentos, moral e psicológicos, que surgem no menor alienado depois do
comportamento irresponsável do alienador. É a doença o transtorno psicológico que o
infante passa a nutrir contra seu genitor. Transtorno este alimentado por mentiras.
Segundo o senador Magno Malta, presidente da CPI da Pedofilia no Senado:
19 DARNALL, Douglas. Ph.D. Disponível em: <http://www.apase.org.br/94003-umaanalise.htm.>. Acesso:
20/11/2015 às 23:59.
20 PODEVYN, François. Síndrome de alienação parental. Disponível em: http://www.apase.org.br/94001-
sindrome.htm.>. Acesso em 01/11/2015 às 18:00.
12
De cada 10 denúncias de pedofilia envolvendo pais separados que
chegaram à comissão, seis ou sete são crimes de alienação parental. A
pessoa quer se vingar e faz a denúncia. Essa é a estatística de casos
que chegaram a minha mão. É uma grande irresponsabilidade.21
(Mariana Oliveira, 2010).
Assim sendo, essa desestruturação se transforma em ingrediente da batalha
judiciária, inevitavelmente. E até que o menor tenha uma resposta judicial que possa
restabelecer o vínculo com o genitor alienado, anos de convivência foram perdidos, é
tempo que não se recupera. Logo, um adulto permeado de traumas.
Além de afrontar questões éticas, morais, religiosas e humanitárias, e mesmo
bloquear valores, distorcer o instinto de proteção e preservação dos filhos, o processo de
Alienação Parental também agride, exponencialmente, dispositivo constitucional previsto
no artigo 227 que aduz claramente sobre o dever da família em zelar por seus menores,
assim como também previsto no artigo 3º do Estatuto da criança e do adolescente.
Infelizmente, “os filhos são cruelmente penalizados pela imaturidade dos pais
quando estes não sabem separar a morte conjugal da vida parental, atrelando o modo de
viver dos filhos ao tipo de relação que eles, pais, conseguirão estabelecer entre si, pós-
ruptura”.22 (Raquel Pacheco, 2007, p.07).
Destarte, a Alienação parental é a conduta realizada por um dos genitores, avós ou
qualquer outro familiar que convive com a criança ou adolescente, em desfavor do outro
cônjuge com a intenção de prejudicar e até mesmo destruir as relações afetivas entre
ambos, e a Síndrome da Alienação Parental é o resultado desse comportamento contínuo,
dessa agressão psicológica, perpetrando na criança ou no adolescente, confusões mentais e
repúdio contra o genitor alienado.
21 OLIVEIRA, Mariana. Do G1. Crianças são usadas pelos pais no divórcio, dizem juristas. 2010. Disponível:
http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/08/criancas-sao-usadas-pelos-pais-no-divorcio-dizem-juristas.html.>.
Acesso:18/11/2015 às 00:52.
22 SOUZA, Raquel Pacheco Ribeiro de. A tirania do guardião. In: Apase - Associação de Pais e Mães
Separados (Org). Síndrome da alienação parental e a tirania do guardião: aspectos psicológicos, sociais e
jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007. p. 7.
13
5. Princípios inerentes à proteção da criança e do adolescente:
dignidade da pessoa humana e do melhor interesse do menor
Não podemos falar de proteção sem mencionar os princípios enraizados nos
direitos humanos, pois são fontes importantes que norteiam a formação e aplicação das
leis. O princípio da dignidade humana é um princípio constitucional fundamental que deve
inspirar todo o ordenamento jurídico. Integra a definição de dignidade da pessoa humana a
livre existência, o acesso aos bens necessários à vida, à liberdade, entre outros. Trata-se de
princípio basilar que deve ser respeitado tanto na propositura de normas e leis quanto na
sua aplicabilidade dentro da sociedade.
No ordenamento jurídico brasileiro este princípio está previsto na Constituição
Federal de 1988 no seu art. 1º, III, estando intimamente ligado a outro princípio
constitucional atingido pela Síndrome Alienação Parental, o do melhor interesse da
criança e do adolescente.
Como nos ensina Jacqueline Bittencourt (2011), os menores são considerados
seres em desenvolvimento, porém têm a mesma condição de pessoa como qualquer outro
ser humano, estando em uma situação peculiar, pois ainda não têm a capacidade
necessária para responder por seus atos, precisando, assim, dos cuidados dos seus pais.
Por tal motivo, os mesmos devem ter sua dignidade e seus interesses respeitados,
garantindo seu pleno desenvolvimento físico e mental.23
O princípio do melhor interesse do menor foi consolidado com a aprovação da
Convenção Internacional dos Direitos da Criança em 20 de novembro de 1989, a qual
representa “o mínimo que toda sociedade deve garantir às suas crianças”.24 (Tânia da
Silva, 2008).
23 MARQUES, Jacqueline Bittencourt. A absoluta prioridade da criança e do adolescente sob a ótica do princípio
da dignidade da pessoa humana. Jus Navegandi. 03/2011. Disponível: <http://jus.com.br/revista/texto/18861/a-
absoluta-prioridade-da-crianca-e-do-adolescente-sob-a-otica-do-principio-da-dignidade-da-pessoa-humana>
Acesso: 12/11/2015 às 17:55.
24 PEREIRA, Tânia da Silva. O princípio do “melhor interesse da criança”: da teoria à prática. Disponível em:
<http://www.gontijofamilia.adv.br/2008/artigos_pdf/Tania_da_Silva_Pereira/MelhorInteresse.pdf>.Acesso
em 13/11/2015 as 17:07.
14
Depois de aprovada a Convenção da Criança e do Adolescente e para melhor
atender o interesse dos infantes, em 13/07/1990, foi promulgada a Lei 8.069 (ECA) que
versa sobre seus direitos e deveres, dentre esses direitos.
6. Legislação: Alienação Parental
Embora tenhamos um texto normativo considerado documento exemplar de
direitos humanos, pois foi concebido a partir do debate de ideias e da participação de
vários segmentos sociais envolvidos com a causa da infância no Brasil, culminando na
publicação do Estatuto da Criança do Adolescente, as mudanças são constantes e as
condutas maliciosas também ganham novas características ardis.
Dessarte, é preciso um avanço do Direito para que, as diretrizes bases da
Constituição Federal não percam sua eficácia e a justiça não deixe de ser aplicada como se
espera do Judiciário. Não obstante, é necessária uma resolução para as mazelas da
sociedade. E, para uma resposta mais próxima da justiça, é imprescindível o estudo
aplicável aos casos, a fim de que seja possível chegar às respostas para brecar a insanidade
social.
Orlando Secco (2009) nos ensina que o direito não é uma ciência jurídica absoluta
e exata, pelo contrário, é dinâmica e busca adaptar as mudanças ocorridas na sociedade.
Em virtude dessas novas situações, surge a necessidade do nascimento de novas leis com
intuito de regrar estas condutas.25
Então, fez-se necessário uma Lei que, orientasse a sociedade sobre o mal que pode
permear as famílias que passam por uma dissolução afetiva, sancionando assim a conduta
alienatória como ilícita.
Na busca de sanar esse problema, foi apresentado pelo deputado federal, que foi
juiz e desembargador, Regis de Oliveira (PSC/SP) em 2008, o Projeto de Lei – PL nº:
4.053, que relatava com veemência a importância para a sociedade brasileira sua
aprovação. Esta Lei tem como fim reforçar o direito da criança protegido
constitucionalmente, bem como assegurar os direitos previstos no Estatuto da criança e do
adolescente.
A contextualização da Lei 12.318, aprovada em 26 de agosto de 2010 tem como
condão respaldar juridicamente os genitores que se sentem ofendidos ou acuados pela
25 SECCO, Orlando de Almeida. Introdução ao estudo do direito. 11. Ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2009.
15
intolerância parental. Sua razão é garantir ao menor impúbere a dignidade da pessoa
humana, resguardar seu direito de conviver em harmonia com ambos os pais, mesmo que
estes não convivam na mesma harmonia. É a chance de qualquer criança de conseguir
chegar à fase adulta salutarmente.
É utópico acreditar que a lei poderá promover milagres comportamentais nas
pessoas, mas pode sim fazer com estas reflitam sobre suas condutas e as consequências
destas. Uma vez que o assunto torna-se popular e é oficialmente legal, espera-se uma
conduta diferenciada no anseio de represália judicial, pois trouxe em seu texto a
aplicabilidade sancionatória sobre aqueles que não respeitam a boa convivência familiar
como preceito de uma sanidade salutar pueril, ademais não deixou de conceituar os
agentes e condutas que envolvem essa trama maliciosa.
O artigo primeiro versa sobre a tratativa da Lei: “Art. 1º. Esta Lei dispõe sobre a
alienação parental”. Mesmo que haja outros dispositivos, como no Estatuto da Criança e
do Adolescente, na Convenção da Criança, que buscam minorar, coibir a conduta
alienadora, uma lei específica sobre a questão é essencialmente importante, ademais esta
foi obra de vários estudos acerca da questão, sem repetições nos temas abordados, como
exemplo o veto do artigo 10º que acrescentaria ao artigo 236 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, fato que incorreria em crime, o que já está predisposto.
O veto do Ministério da Justiça foi justificado com a afirmativa da não
necessidade, de acrescentar sanção de natureza penal, uma vez que já existe no Estatuto
mecanismos de punição suficiente para inibir a alienação parental.
O conceito Síndrome da Alienação Parental vem logo em seguida, sob a letra da
Lei, no parágrafo 2º, que diz:
Art. 2º. Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação
psicológica da criança e do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou o adolescente sob sua
autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
A Lei dispõe, no parágrafo único, de maneira exemplificativa as condutas que
caracterizam alienação parental:
Realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da
paternidade ou maternidade; dificultar o exercício da autoridade parental;
16
dificultar contato da ou adolescente com o genitor; dificultar o exercício do
direito regulamentado de convivência familiar; omitir deliberadamente a
genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente,
inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; apresentar falsa
denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar
ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; mudar o
domicílio para local distante, sem justificativa, visando dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares
deste ou com avós.
O texto deixa claro que o rol é exemplificativo, podendo existir outras maneiras de
alienar parentalmente, que poderão ser identificadas pelo juiz, operador do direito e
equipe multidisciplinar. Maria Pisano Motta apresenta outros exemplos de Alienação
Parental:
É a recusa de passar chamadas telefônicas; a passar a programação de
atividades com o filho para que o outro genitor não exerça o seu direito de
visita; apresentação do novo cônjuge ao filho como seu novo pai ou mãe;
denigrir a imagem do outro genitor; não prestar informações a cerca do
desenvolvimento social do filho; envolver pessoas próximas na lavagem
cerebral dos filhos; tomar decisões importantes a respeito dos filhos sem
consultar o outro genitor; sair de férias sem os filhos e deixa-los com outras
pessoas que não o outro genitor, ainda que este esteja disponível e queira
cuidar dos filhos; ameaçar o filho para que não se comunique com o outro
genitor.26 (Maria Pisano, 2007, p.44).
O artigo 3º trata da conduta ilícita do alienante, é a tipificação do comportamento
abusivo, pois fere direito fundamental da criança ou adolescente, o que enseja inclusive
em “fato gerador do dever de indenizar”.27 (Douglas Freitas, 2015, p.118).
A prática de conduta alienadora é ilícita, culpável e gera dano à criança ou
adolescente e dano ao ente familiar alienado. O artigo 3º da lei 12.318, nos clareia que:
Art. 3º. A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da
criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a
26 A Síndrome da Alienação parental. In: APASE-Associação de Pais e Mães Separados (Org.). Síndrome da
Alienação parental e a tirania do guardião: aspectos psicológicos, sociais e jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio,
2007. p. 44.
27 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental: Comentários à Lei 12.318/2010. 4ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2015. p. 118.
17
realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar,
constitui abuso moral contra a criança ou adolescente e descumprimento dos
deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda.
Por sua vez, o artigo 4º prevê que as partes, ao identificarem a prática da alienação
parental, devem a requerimento ou de ofício, conferir tramitação prioritária e promover
medidas que assegurem os direitos do menor envolvido, inclusive o direito de visitação do
genitor alienado. A grande questão está na identificação do problema, uma vez que não há
preparação do corpo Judiciário sobre o assunto. Muitas vezes os indícios da alienação
parental são apresentados somente após a descoberta de que denúncias graves, como
abuso sexual, agressões, por exemplo, eram falsas.
E como consequência de toda a morosidade judiciária, anos de distância entre
pai/mãe e filho, anos que não mais voltarão. Portanto é incrível o texto do parágrafo único
que determina “a mantença do convívio com o genitor acusado, baseado na possibilidade
deste está sendo vítima de alienação parental, até que seja comprovada a veracidade das
acusações, mesmo que seja uma convivência assistida”.28 (Douglas Freitas, 2015, p.45).
Assim, é importante que o Judiciário puna imediatamente, logo que perceba a
conduta alienatória.
Art. 4º. Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de
ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou
incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará,
com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias
necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do
adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou
viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso”. “§ único.
Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao genitor garantia mínima de
visitação assistida, ressalvados os casos em que há iminente risco de prejuízo
à integridade física ou psicológica da criança ou do adolescente, atestado por
profissional eventualmente designado pelo juiz para acompanhamento das
visitas.
O artigo 5º e seus parágrafos versam sobre a perícia psicológica ou biopsicossocial
e seus procedimentos. A perícia multidisciplinar, como é nominada pela Lei 12.318,
28 Ibidem. p. 45.
18
consiste na designação das perícias que poderão ser realizadas na ação judicial, com o
intuito de buscar a verdade, protegendo, assim, os direitos da criança ou o adolescente.
Art. 5º. Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação
autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia
psicológica ou biopsicossocial. § 1o O laudo pericial terá base em ampla
avaliação psicológica ou biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo,
inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos,
histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de
incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma
como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação
contra genitor. § 2o A perícia será realizada por profissional ou equipe
multidisciplinar habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada
por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação
parental. § 3o O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a
ocorrência de alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para
apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização judicial
baseada em justificativa circunstanciada.
O artigo 6º traz a figura do abuso moral. É a interpretação das condutas
alienatórias que ocorre no dia a dia, ou seja, o desrespeito à prole. O Estatuto da Criança e
do Adolescente, em seu artigo 73, já mencionava sobre responsabilização da pessoa
quanto à inobservância do cuidado e a Lei 12.318 veio reafirmar o conceito desse abuso
afetivo já trazido, também, pelo Código Civil de 2002 em seu artigo 927.29
Os incisos que acompanham esse artigo deixa o Juizado livre para aplicar outras
medidas que permitam a diminuição ou até mesmo o fim da prática da alienação parental.
A inibição sancionatória é meio de aprendizado. No parágrafo único, a determinação,
inclusive de retirada da criança do lar do agente alienador ou mesmo a alternância do
convívio familiar.
Art. 6º. Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer
conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor,
em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não,
29 Art.927 CC/2002. Aquele que, por ato ilícito (art.186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo. §único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por natureza, risco para os
direitos de outrem.
19
sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla
utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos,
segundo a gravidade do caso: I- declarar a ocorrência de alienação parental e
advertir o alienador; II- ampliar o regime de convivência familiar em favor
do genitor alienado; III- estipular multa ao alienador; IV- determinar
acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V- determinar a
alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI-
determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII-
declarar a suspensão da autoridade parental. Parágrafo único. Caracterizado
mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência
familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a
criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias
dos períodos de convivência familiar.
A Lei de Alienação Parental antecede a Lei 13.058/2014 que trata da guarda
compartilhada, já trazia em seu escopo a possível obrigatoriedade da guarda
compartilhada. Texto que coaduna com a regra vigente sobre a compulsoriedade da
guarda compartilhada, sempre respeitando o princípio do melhor interesse do menor.30
Conforme Douglas Phillips Freitas (2015), este artigo deve ser interpretado
conjunto com a Lei da Guarda Compartilhada e o art. 1.584 do CC/2002, que o período de
convivência deve ser igualitário, sempre que possível, levando sempre em consideração o
melhor interesse da criança e do adolescente.31 Se não for possível compartilhar, será dada
ao genitor que melhor viabilize a convivência da criança com o outro genitor. “Art. 7º. A
atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que viabiliza a
efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que
seja inviável a guarda compartilhada”.
O artigo 8º trata sobre o domicílio, que permite ao juiz, se verificadas condutas que
tipifique a alienação parental, Douglas Freitas (2015) “determinar a fixação cautelar do
domicílio da criança ou do adolescente”.32 “Art. 8o A alteração de domicílio da criança ou
adolescente é irrelevante para a determinação da competência relacionada às ações
30 Art.1.584 CC/2002. (...) § 2º. Quando não houver acordo entre mãe e o pai quanto à guarda do filho,
encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada,
salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor.
31 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental: Comentários à Lei 12.318/2010. 4ª.rev., atual. e ampl.–
Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 57.
32 Ibidem. p. 58.
20
fundadas em direito de convivência familiar, salvo se decorrente de consenso entre os
genitores ou de decisão judicial”.
É significativo anotar que a Lei 12.318/2010 completou cinco anos de
materialidade judiciária e, durante esse período contribuiu para mais de sete mil acórdãos,
o que consubstancia a importância desta, para dirimir os litígios familiares, onde,
geralmente, as imputações criminais contra o genitor são falsas, configurando a prática da
alienação parental.
No entanto, os atos típicos da conduta são meros ilícitos civis sem tipificação penal
própria e autônoma, embora seus efeitos sejam devastadores. Já foi admitido inclusive por
Caetano Lagrasta Neto (2015) que a conduta pode ser reconhecida como crime de tortura,
uma vez que o filho é submetido a permanente pressão psicológica em detrimento do
prazer do alienador.33
7. Prejuízos da Alienação Parental: a Síndrome
Conforme a APASE, temos, no Brasil, 60 milhões de crianças e adolescentes e 20
milhões são filhos de pais separados, sendo que 16 milhões sofrem da Alienação Parental
em algum grau. Apenas quatro milhões de crianças e adolescentes passam ilesos pelas
separações litigiosas.34 (Fonte APASE)
A prática da alienação parental consiste na dissolução afetiva familiar. Todos os
envolvidos sofrem de alguma maneira, o alienador que não aceita a separação, o alienado
a conviver com a indiferença dos filhos, todavia a criança é a mais prejudicada nessa
situação, e severamente, sofre com os dissabores do fim do relacionamento dos seus pais e
ainda lidar com a situação de ser objeto de disputa entre eles. Como se a adaptação à nova
realidade familiar não fosse o suficiente para uma mente em constantes transformações,
ainda são inseridos nesse conflito. Logo, os danos ao menor, são imensuráveis, que vão
desde prejuízos físicos aos danos psicológicos.
A criança ou adolescente, quando submetidos à tamanha perversidade, fica exposto
à violência que não deixa marcas visíveis, inicialmente, por se tratar de crime difícil de ser
33 LAGRASTA, Caetano. Lavagem cerebral: o que é a Síndrome da alienação parental. Disponível:
www.conjur.com.br/2011-guardar -ou- alienar.
34 APASE- Associação de Pais e Mães Separados. Disponível em: <http://www.apase.org.br/11000-
alienacaoparental.htm.>. Acesso: 15/11/2015.
21
detectado, quando não se tem o auxílio de profissional adequado. Trata-se de uma
violência emocional que compromete o desenvolvimento da criança, tanto quanto ou até
maior que outro tipo de violência, deixando marcas por toda vida afetiva.
Na constância da alienação parental, a criança ou adolescente poderá desenvolver a
Síndrome da Alienação Parental. Doença que trás consigo traumas irreversíveis.
A síndrome resulta de uma campanha para denegrir, sem justificativa, uma
figura parental boa e amorosa. Consiste na combinação de uma lavagem
cerebral para doutrinar uma criança contra essa figura parental e da
consequente contribuição da criança, para atingir o alvo da campanha
difamatória.35
Conforme descreve Michael Walsh (2001), o filho pode mostrar uma reação de
medo de desagradar, de contrariar o genitor alienador, pois clara são suas mensagens de
que o filho deve escolhê-lo, o que se opõe a harmonia psicológica. É normal que o genitor
alienador use de ameaças contra o filho, dizendo que irá abandoná-lo ou mandá-lo viver
com o outro genitor, que para o filho gere temor, pois jaz em sua mente a implantação das
falsas memórias. O filho torna-se dependente e fica submetido a provas de lealdade.
A alienação parental atua sobre a emoção, o medo de ser abandonado. Para
sobreviver, estes filhos aprendem a manipular. Tornam-se prematuramente espertos para
decifrar o ambiente emocional; para falar apenas uma parte da verdade; e por fim,
enredar-se nas mentiras e exprimir emoções falsas.36 (Michael ande Walsh, 1999)
Gardner, em seus respeitados estudos, demonstrou que a Síndrome da Alienação
Parental passa por graus de estágios, que vão desde o menor grau, passando pelo
moderado e assim chegando ao grau de maior complexidade. No estágio menos gravoso,
temos que:
Normalmente as visitas se apresentam calmas, com um pouco de
dificuldades na hora da troca de genitor. Enquanto o filho está com o genitor
alienado, as manifestações da campanha de desmoralização desaparecem ou
35 VALENTE, Maria Luiz Campos da Silva. Síndrome da alienação parenta: A perspectiva do serviço social.
In APASE – Associação dos Pais e Mães Separados (Org.). Síndrome da alienação parental e tirania do
guardião: aspectos psicológicos, sociais e jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007. p. 85.
36 J. Michael Bone and Michael R. Walsh. "Parental Alienation Syndrome: How to Detect It and What to Do
About It", 1999. Disponível: <http://www.apase.org.br/94001-sindrome.htm>. Acesso: 16/11/2015.
22
são discretas e raras. A motivação principal do filho é conservar um laço
sólido com o genitor alienador.37 (Podevyn apud Gardner, 2001)
Na fase moderada, a criança já passou por diversas situações de degradação contra
o genitor alienado. É possível nessa fase que o agente alienador já tenha feito da criança
seu psicólogo, confessando à criança todas as suas frustações com o genitor alienado.
Implantando no próprio filho a sua vitimização.
O genitor alienador utiliza uma grande variedade de táticas para excluir o
outro genitor. No momento de troca de genitor, os filhos, que sabem o que
genitor alienador quer escutar, intensificam sua campanha de
desmoralização. Os argumentos utilizados são os mais numerosos, os mais
frívolos e os mais absurdos. O genitor alienado é completamente mau e o
outro completamente bom. Apesar disto, aceitam ir com o genitor alienado e
uma vez afastados do outro genitor tornam a ser mais cooperativos.38
(Podevyn apud Gardner, 2001)
Nos casos mais severos o comportamento da criança ou do adolescente é o espelho
da conduta alienadora, porquanto foi implantado neste as falsas memórias:
Os filhos em geral estão perturbados e frequentemente fanáticos.
Compartilham os mesmos fantasmas paranoicos que o genitor alienador tem
em relação ao outro genitor. Podem ficar em pânico apenas com a ideia de
ter que visitar o outro genitor. Seus gritos, seu estado de pânico e suas
explosões de violência podem ser tais que ir visitar o outro genitor é
impossível. Se, apesar disto vão com o genitor alienado, podem fugir,
paralisar-se por um medo mórbido, ou manter-se continuamente tão
provocadores e destruidores, que devem necessariamente retornar ao outro
genitor. Mesmo afastados do ambiente do genitor alienador durante um
período significativo, é impossível reduzir seus medos e suas cóleras. Todos
estes sintomas ainda reforçam o laço patológico que têm com o genitor
alienador.39 (Podevyn apud Gardner, 2001)
37 PODEVYN, François. Síndrome da Alienação Parental. 2001. Disponível em: <http://www.apase.org.br/94001-
sindrome.htm.>. Acesso: 17/11/2015.
38 Ibidem. Acesso: 17/11/2015.
39 PODEVYN, François. (2001). Disponível em:< http://www.apase.org.br/94001-sindrome.htm> Acesso:
17/11/2015.
23
Em todas as fases da Síndrome, as consequências são prejudiciais à formação
psicológica das crianças.
Segundo a psicanálise, o genitor que pratica a alienação parental pode ter sérios
riscos de instaurar em seu filho um grau elevado do complexo de Édipo, fazendo uma
transferência do objeto fálico, de seu marido para o seu filho, ou seja, designa o conjunto
de desejos amorosos e hostis que a criança experimenta com relação aos seus pais. É um
complexo de sentimentos em uma mente em formação.40 (Fonte: PORTAL SAÚDE)
As consequências podem variar conforme a idade, personalidade e maturidade da
criança que poderá desenvolver depressão, ansiedade, crises de pânico, desorganização,
irritabilidade, rejeição, isolamento, melancolia, angustia, baixo rendimento escolar,
hostilidade, autoestima prejudicada, regressão, culpa. Geralmente na adolescência, passam
a consumir bebidas alcoólicas e/ou drogas para tentar fugir da realidade tão confusa.
Disfunções com relação ao seu gênero, decorrentes da ausência de um dos pais; e em
casos extremos suicídio. Traumas que poderão ser irreversíveis.41 (Fonte: IBDFAM apud
PINHO, 2009)
Essa criança que foi alienada quando adulto terá dificuldades de se relacionar, de
estabelecer vínculos afetivos, terá dificuldade de respeitar o outrem como um ser
independente, será possivelmente uma pessoa intolerante, mentirosa, manipuladora, alheio
à sensibilidade, pois foi essa sua base.
Caetano Lagrasta Neto (2011), em sugestivo artigo, “Parentes: guardar e alienar”,
leciona:
A criança submetida a abuso emocional não escapará durante a vida às
sequelas ou à instalação de moléstia crônica (...) estão propensas a
atitudes antissociais, violentas ou criminosas e, na maturidade revela-
se o remorso de ter alienado e desprezado um genitor ou parente,
40 SAÚDE, Portal. Complexo de Édipo. Disponível em:
leduhttp://www.portacacao.com.br/psicologia/artigos/53912/o-complexo-de-edipo>Acesso: 18/11/2015.
41PINHO, Marco Antônio Garcia de. Alienação parental. Jus Navigandi. Disponível:
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13252. Acesso: 19/11/2015.
24
assim padecendo de forma crônica de desvio comportamental ou
moléstia mental, por ambivalência de afetos.42
É importante avaliar não somente o comportamento da criança ou adolescente
alienado, mas também o comportamento do alienador, pois algumas atitudes poderão
ajudar a identificar a prática da alienação. Conforme Dr. Evandro Luiz da Silva (2015)43
mestre em psicologia, a falta de autocrítica e percepção do sofrimento alheio, conduta
sinuosa, são características de uma sociopatia presente na Alienação Parental. O genitor
alienador demonstra sentimentos de alegria sobre o derrotado genitor alienado, sem
nenhum sentimento de culpa, muito menos de ter exposto o filho, prejudicando-o
psicologicamente, para alcançar seus propósitos. (Fonte: FormaPSI)
Aguilar Cuenca44 (2008) ao estudar o perfil do alienador, conclui que geralmente
este apresenta grande impulsividade e baixa autoestima, medo do abandono repetitivo,
esperando sempre que os filhos estejam dispostos a satisfazer as suas necessidades,
variando as expressões em exaltação e cruel ataque. Esta é a fase mais grave.
A família é o início na formação do futuro cidadão que, espera-se, praticar sua
cidadania sadiamente. De modo contrário, para esse feito é preciso que as crianças sejam
cuidadas como preceitua a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e
todas as diretrizes que informam e legalizam seus direitos como pessoa. Felizmente, o
advento da Lei de Alienação Parental trás vivacidade aos direitos dos menores,
penalidades a quem não os respeita, como advertência, aplicação de multa ao genitor
alienador, tratamento compulsório e até a suspensão da autoridade parental.
Assim sendo, é salubre e impreterível o tratamento para reverter os sintomas e até
mesmo, evitar que a Síndrome se instale por definitivo.
42 LAGRASTA, Caetano Neto. Lavagem Cerebral: O que é alienação parental. Disponível em:
<www.conjur.com.br/2011-set-17/guardar-ou-alienar-sindrome-alienacao-parental> Acesso: 19/11/2015.
43 Mestre em psicologia pela UFSC. Perícias Psicológicas nas Varas de Família. Disponível:
www.formapsi.com./2015. Acesso: 20/11/2015
44 CUENCA, José Manoel Aguilar. Síndrome da alienação parental. Portugal: Almuzara, 2008. p. 93. apud.
FREITAS. Douglas Phillips. Alienação Parental. 4ªed. ver. atual. ampl. – Rio de Janeiro: forense, 2015. p. 29.
25
8. A aplicação da Lei como prevenção às mazelas da dissolução afetiva:
Síndrome da Alienação Parental
Houve da parte do legislador a veemente preocupação em seguir, além da proteção
à criança e ao adolescente, a imposição de tratamento para os problemas advindos da
alienação parental; uma doença que precisa ser sanada.
Muito embora saibamos ser a criança a mais prejudicada nesse desenlace conjugal
e que precisa de acompanhamento profissional para que tenha a chance de passar pelos
ciclos de desenvolvimento pueril, essencialmente, como merece toda criança; também
fazem os pais parte essencial e inicial desse engendramento e logo, necessariamente,
precisam de acompanhamento psicológico oferecido por uma equipe multidisciplinar.
Ensina Douglas Phillips Freitas (2015): “para melhor solucionar a situação
vivenciada nestes casos, há a necessidade de um auxílio “externo” ao judiciário, pois,
infelizmente, esta conduta é praticada por ambos os pais”.45
Ademais, não seria possível, é evidente, tratar a criança e não tratar àquele(s) que
convivem com ela e que articula a alienação. É preciso entender que a criança é vítima e
precisa ser acompanhada profissionalmente sim, mas não somente esta; o seu insensato
genitor, também, pois tratando o problema pela raiz é possível salvar as flores.
A Lei de Alienação parental aduz em seus artigos, medidas provisórias necessárias
para a preservação psicológica da criança e do adolescente, preservação do direito desta e
do genitor de convivência. Mesmo, tratando de denúncia incestuosa, manter a relação
entre genitor e filho, restaurando-a e até ampliá-la, se for o caso, é medida prevista na Lei.
Essas medidas provisórias são alternativas de prevenção e inibição à conduta perversa do
alienador. Diminuir a distância entre a criança e genitor alienado, mesmo que seja uma
convivência assistida ou/e somente em lugares públicos, a alienação parental poderá ser
reduzida a termo.
A convivência deve ser preservada, até que se tenha resposta da veracidade das
acusações sofridas, porquanto este pode não ser um genitor negligente ou incestuoso e sim
um genitor alienado. Por conseguinte, se a convivência for mantida, mesmo que
cautelarmente, danos podem ser evitados.
45 Ibidem, p. 125.
26
Assinalo ainda a previsão no Estatuto da Criança e do Adolescente que afirma o
dever de todos, inclusive do Estado de prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos
direitos da criança e do adolescente.46
Ademais, a Lei de Alienação Parental ampliou o escopo dessa proteção, pois ainda
que, privados da liberdade aos genitores, lhes é garantido o direito de conviver com os
filhos, prevenindo-se a instalação de alguma conduta de alienação parental e em seguida a
Síndrome referente a esta conduta. Em remate inovação, a Lei da Guarda 13.058 aprovada
no ano de 2014, é forma de buscar a redução da prática de alienação parental.
A saber, a guarda compartilhada é a divisão das responsabilidades em relação ao
menor, é fazer parte das decisões, é fazer parte do desenvolvimento sem limitadores e não
necessariamente a divisão domiciliar. Por isso, se o magistrado usitar do princípio do
melhor interesse do menor culminado ao direito deste de conviver com ambos os pais,
como propulsor de uma juventude saudável, lograr-se-á o judiciário à efetiva justiça e
assim a prática da alienação parental jaz inócua. Excisando, assim, que as consequências
da dissolução afetiva não alce ao menor, em forma de alienação parental.
Nesse entendimento, Pelegrini (2014) em artigo escreve: “Esta norma benéfica os
pais que gostam de compartilhar mais a companhia do filho, que muitas vezes era
impedido, prejudicando, limitado por aquele que detinha a guarda unilateral, esquecendo
que a prioridade deve ser sempre o bem estar do menor”.47 Nessa esteira, outra medida
preventiva à prática alienatória e ceifador desta, foi especificado na Lei 12.318/2010, em
seu artigo 5º, o que já decretava o Código de Processo Civil em seu artigo 461.48
Porque, significa que o tratamento, através de profissionais aptos a identificar a
conduta alienadora, já era possível antes da Lei de Alienação Parental. Ainda assim, é
inegável que o advento desta Lei, trouxe aos operadores do direito, a real possibilidade de
acesso à equipe multidisciplinar, estes, indispensáveis à devida solução do litígio. Por
iguais razões, vale destacar o § 2º do artigo 5º da referida Lei, que traz em seu texto a
preocupação que o legislador teve na composição da equipe multidisciplinar, uma vez que
46 MECUM, Vade. Estatuto da criança e do adolescente: art. 73 . 20ª ed. São Paulo: Saraiva. 2015. p.1058.
47 PELEGRINI, Débora May. Direito net. Guarda compartilhada com introdução a Lei 13.058/2014.
Disponível: <http//:www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8967/Guarda-compartilhada-com-a-introdução-da-
Lei-no-13058-2014>. Acesso em: 20/11/2015.
48 CURIA, Luiz Roberto; Lívia Céspedes e Fabiana dias da Rocha. Código de Processo Civil Comparados .
2015-1973. Obra Coletiva. São Paulo: Saraiva, 2015.
27
determina a qualificação destes peritos, a comprovada aptidão, por histórico profissional
ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.
Em consonância com o acatado, a Síndrome de Alienação Parental é disfunção
psicológica, infelizmente, presente em mais lares do que se possa imaginar. É questão de
saúde pública, é questão social e merece atenção ao tratamento e aplicação da Lei como
prevenção às mazelas que decorrem da dissolução afetiva, ou seja, a alienação parental e
como inibidor dessa conduta, pois somente com a devida preocupação será possível
proteger as famílias. Se diagnosticada precocemente, pode ser interrompida sem grandes
danos aos envolvidos.
Disposições Finais
Em face do exposto, não se pode deixar de reconhecer que a alienação parental
está intimamente ligada aos devaneios que acometem um dos genitores ou ambos, após
uma dissolução afetiva, pois não consegue entender que seus filhos não são a extensão de
sua relação conjugal e sim frutos dela, que devem ter seu direito de ser feliz preservado.
Destarte, é dizer que a origem da alienação parental é historicamente moldada nos
conflitos sociais ligados às mudanças ocorridas na sociedade.
Não basta evoluir, buscar a igualdade entre os gêneros requer estrutura psicológica
para dirimir as possíveis consequências que advém desta evolução. O conviver
maritalmente não mudou apenas para as mulheres que ganharam sua liberdade de
expressão, mas também para os homens que, hoje, não se veem mais obrigados a dividir o
mesmo espaço com aquela que não ama mais, puramente por obrigações de sustentação.
Podendo fazê-lo em lares separados, inclusive a mantença afetiva com os filhos, que deve
ser mantida, para que esses cresçam conforme prediz seus direitos.
Não pode o Estado, a sociedade, como anteriormente, obrigar que as pessoas
continuem a partilhar da mesma residência, mas têm o dever de resguardar seus direitos e
principalmente proteger os direitos das crianças e adolescente.
Em síntese é, necessário visualizar o menor como ser humano diverso de seus pais,
pois assim será possível evitar qualquer abuso que viole seus direitos. A família deve ser
cuidada, tratada, para que medidas sancionatórias, sejam cíveis ou criminais, seja
obsoleto. Responsabilidade para dirimir as vantagens e “desvantagens” da evolução.
28
Referência Bibliográfica
APASE- Associação dos Pais e Mães Separados (Org.). Alienação Parental. Anteprojeto
de Lei acerca. Disponível: <http://www.apase.org.br/62002-preprojetoleisap.htm>.
Acesso: 10/11/2015.
________________________________________________________________________
APASE – Associação dos Pais e Mães Separados (Org.). Síndrome da alienação
parental e tirania do guardião: aspectos psicológicos, sociais e jurídicos. Porto Alegre:
Equilíbrio, 2007.
________________________________________________________________________
ATAÍDE JÚNIOR, Vicente de Paula. Destituição do poder familiar. Curitiba: Juruá,
2009.
________________________________________________________________________
BEVILAQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado. Rio de
Janeiro: Paulo de Azevedo, 1952.
________________________________________________________________________
BRASIL. Lei nº: 4.121, de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre a situação jurídica da
mulher casada. DOU de 03.09.1962.
________________________________________________________________________
CIVIL. Novo Código. Exposição de Motivos e Texto Sancionado. Brasília: SF,
Subsecretaria de Edições Técnicas, 2002.
________________________________________________________________________
COMEL, Denise Damo. Do Poder Familiar. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
________________________________________________________________________
COULANGES, Fustel. A Cidade antiga. São Paulo: Martin Claret, 2004.
________________________________________________________________________
CRETELLA JÚNIOR, J. Curso de Direito Romano: O direito romano e o direito civil
brasileiro. 21. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.
29
________________________________________________________________________
CUENCA, José Manuel Aguilar. Síndrome de alienação parental. Portugal: Almuzara,
2008.
________________________________________________________________________
DARNALL, Douglas. Disponível em:<http://www.apase.org.br.>. Acesso:20/11/2015.
________________________________________________________________________
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito de famílias. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2005.
________________________________________________________________________
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. São Paulo:
Saraiva, v. 5. 2003.
________________________________________________________________________
DONIZETTI, Elpídio; Felipe Quintella. Curso Didático de Direito Civil. São Paulo:
Atlas, 2012.
________________________________________________________________________
FORMAPSI. Psicologia. Perícias Psicológicas nas Varas de Família. Disponível:
<www.formapsi.com>. Acesso 20/11/2015.
________________________________________________________________________
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental: Comentários à Lei 12.318/2010. 4ª.
rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense,2015.
________________________________________________________________________
GARDNER, Richard. Departamento de psiquiatria infantil da Faculdade de Medicina e
Cirurgia da Universidade de Columbia.
________________________________________________________________________
Disponível: http://sites.google.com/site/alienaçãoparental/textos-sobre-sap-1/0dsm-iv-tem-
equivalente. Acesso em 05/10/2015.
________________________________________________________________________
30
GRISARD FILHO, Waldyr. Guarda Compartilhada: um novo modelo de
responsabilidade parental. 2ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2002.
________________________________________________________________________
LAGRASTA, Caetano Neto. Lavagem Cerebral: O que é a síndrome de alienação
parental. Disponível em:<www.conjur.com.br/2011-set-17/guardar-ou-alienar-sindrome-
alienacao-parental>. Acesso: 19/11/2015.
________________________________________________________________________
MARQUES, Jacqueline Bittencourt. A absoluta prioridade da criança e do adolescente
sob a ótica do princípio da dignidade da pessoa humana. Jus Navegandi. 03/2011.
Disponível: http://jus.com.br/revista/texto/18861/a-absoluta-prioridade-da-crianca-e-do-
adolescente-sob-a-otica-do-principio-da-dignidade-da-pessoa-humana>Acesso:
12/11/2015.
________________________________________________________________________
OLIVEIRA, Mariana. Do G1. Crianças são usadas pelos pais no divórcio, dizem
juristas. 2010. Disponível em: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/08/criancas-sao-
usadas-pelos-pais-no-divorcio-dizem-juristas.html.>Acesso:18/11/2015.
________________________________________________________________________
PELEGRINI, Débora May. Direito net. Guarda compartilhada com introdução a Lei
13.058/2014. Disponível em:<http//:www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8967/Guarda-
compartilhada-com-a-introdução-da-Lei-no-13058-2014>. Acesso: 20/11/2015.
_______________________________________________________________________
PEREIRA, Tânia da Silva. O princípio do melhor interesse da criança: da teoria à
prática.Disponível:<http://www.gontijofamilia.adv.br/2008/artigos_pdf/Tania_da_Silva_P
ereira/MelhorInteresse.pdf>. Acesso em 13/11/2015.
________________________________________________________________________
PINHO, Marco Antônio Garcia de. Alienação parental. Jus Navigandi. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13252>. Acesso: 19/11/2015
________________________________________________________________________
PODEVYN, François. Síndrome da Alienação Parental. 2001. Disponível em:
<http://www.apase.org.br/94001-sindrome.htm.>. Acesso: 17/11/2015.
31
_______________________________________________________________________
SALLES, Karen Ribeiro Pacheco Nioac de. Guarda Compartilhada. Ed.2. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2002.
________________________________________________________________________
PORTAL, Saúde. Complexo de Édipo.
Disponível:<http://ww.portaldaeducacao.com.br/psicologia/artigos/53912/0-complexo-de-
edipo>. Acesso: 18/11/2015.
________________________________________________________________________
SECCO, Orlando de Almeida. Introdução ao estudo do direito. 11. Ed. Rio de Janeiro:
Lúmen Júris, 2009.
________________________________________________________________________
SILVA, Ana Maria Milano. A Lei sobre Guarda Compartilhada. 2ª ed. São Paulo: JH
Mizuno, 2008.
________________________________________________________________________
SOUZA, Raquel Pacheco Ribeiro de. A tirania do guardião. In: Apase - Associação de
Pais e Mães Separados (Org). Síndrome da alienação parental e a tirania do guardião:
aspectos psicológicos, sociais e jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007.
________________________________________________________________________
VADE, Mecum. Obra coletiva. 20ª. ed. atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva. 2015.
________________________________________________________________________
VALENTE, Maria Luiz Campos da Silva. Síndrome da alienação parental: A
perspectiva do serviço social. Disponível em: <http://www.apase.org.br/94001-
sindrome.htm>. Acesso: 16/11/2015.
________________________________________________________________________
Recommended