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Vera Lúcia do Amaral Psicologia da Educação DISCIPLINA A vida afetiva: emoções e sentimentos Autora aula 03

A Vida Afetiva Emoções e Sentimentos

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Vera Lúcia do Amaral

Psicologia da EducaçãoD I S C I P L I N A

A vida afetiva: emoções e sentimentos

Autora

aula

03

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Aula 03  Psicologia da EducaçãoCopyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da

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Apresentação

Como vimos na aula anterior, as concepções mais atuais de inteligência recomendam que se leve em conta as emoções ao avaliar essa função classicamente compreendida como sendo unicamente racional. Nesta aula, vamos aprofundar a investigação sobre o que são

as emoções e como elas se diferenciam de outro conceito bastante próximo: os sentimentos.

Objetivos

Entender a vida afetiva como uma parte importante para conhecer o homem e sua subjetividade.

Distinguir as várias formas de manifestação da vida psíquica.

Conhecer as relações entre vida afetiva e organismo.

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O que são os afetos?

O estudo da vida afetiva vem tomando cada dia mais vulto na área da Educação. Não só pelas novas concepções de inteligência, mas também quando se observa que esse é um aspecto da mente humana definidor de vários comportamentos e atitudes. São

nossos afetos, por exemplo, que vão, em muito, determinar uma maior ou menor motivação para estudar esse ou aquele tema.

Em primeiro lugar, vamos ver o que é isso que chamamos “vida afetiva”, ou afetividade. E vamos começar pedindo que nos diga a sua opinião sobre o tema.

Para você, neste instante, como se manifestaria a afetividade?

É muito provável que você tenha descrito como manifestações afetivas coisas como: comportamento amoroso, atitudes delicadas, bom humor. Ou seja, quando pensamos na palavra afetividade, o que nos ocorre são atitudes e comportamentos que chamaremos de “positivos”. Nunca podemos imaginar como afetividade sentimentos como ódio, raiva, medo. No entanto, a Psicologia nos informa que nossa vida afetiva ou nossa afetividade é o conjunto de todos os nossos sentimentos, emoções, humores, paixões, sejam eles “positivos” ou “negativos”.

Ao estudar as funções da mente, a Psicologia tradicionalmente as separa em: funções cognitivas, funções afetivas e funções volitivas.

As funções cognitivas são aquelas que nos possibilitam conhecer o mundo, tanto o mundo externo quanto o próprio mundo do sujeito ou mundo interior. Como exemplo dessas funções, temos: a memória, o pensamento, o raciocínio, as percepções.

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Atividade 2

As funções afetivas são aquelas que expressam a suscetibilidade experimentada pelo ser humano perante determinadas alterações que acontecem no mundo exterior ou em si próprio. Veja que nos afetos há um caráter subjetivo, definido quando dizemos ser uma suscetibilidade o que o ser humano experimenta. Assim, na maioria das vezes, só podemos saber da existência de um afeto se a pessoa nos contar, porque é ela quem está experimentando.

Finalmente, as funções volitivas são aquelas que dizem respeito aos comportamentos exteriorizáveis, objetivos, que resultam em movimentos corporais, gestos, mímica, expressões faciais. Claro que essa “partição” da mente é um recurso meramente didático; cada um dos componentes das funções interage e se liga uns com os outros. Assim, por exemplo, se me ocorre uma lembrança triste (função cognitiva), passa a surgir dentro de mim um sentimento de tristeza (função afetiva), que pode vir a se traduzir por expressões faciais como o choro (função volitiva). Nunca é demais lembrar que corpo e mente são partes indivisíveis.

Nesta aula, voltaremos a nos dedicar somente às funções afetivas.

Durante toda nossa vida, os fatos ou acontecimentos vividos por nós serão nossas experiências de vida e passarão a fazer parte de nossa consciência. Mas, quando vivemos algum fato de nossa vida, ele raramente ocorre desprovido de uma condição muito especial que dá um certo “colorido”, um certo “tempero” a esse fato. Eles são acompanhados de uma susceptibilidade que muitas vezes é sentida no próprio organismo.

Nesta atividade, descrevemos algumas situações que você provavelmente viveu; se não as viveu, imagine como teria sido. Para cada uma anote como você experimentou (experimentaria) essa susceptibilidade da qual falamos anteriormente, ou seja, o que se passou (passaria) dentro de você, como você se sentiu (se sentiria).

a) O Brasil vence a copa do mundo de futebol em 2002. O capitão da equipe, Cafu, ergue a taça e a beija sob chuva de papel prateado.

b) Depois de muito esforço, de muito estudo, de noites mal dormidas, enfim você vai saber o resultado do vestibular ao qual se submeteu. Seu nome não aparece na lista. Você foi reprovado.

c) Você tem um filho de 10 anos. Ele integra a equipe de basquete da escola e hoje é o dia da partida final do campeonato. Você vai assistir a essa partida, o time do seu filho é campeão e ele é carregado pela equipe por ter sido o cestinha do jogo.

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Provavelmente, todos esses fatos foram vividos acompanhados de uma qualidade especial, não foram momentos que simplesmente aconteceram, mas, de alguma forma, lhe marcaram. Mesmo que muitos anos tenham se passado desde que ocorreram, além da lembrança dos fatos em si, você deve recordar também o que sentiu quando os viveu. Essa qualidade especial que acompanha fatos de nossas vidas são os nossos afetos, a afetividade. Se as funções cognitivas nos permitem conhecer o mundo, os afetos dão uma qualidade a esse conhecimento. Essa qualidade especial pode se apresentar sob a forma de emoções e sentimentos, como veremos a seguir.

Por outro lado, embora diferentes pessoas possam viver os mesmos fatos e acontecimentos, elas os sentirão de maneira diferente e pessoal. Perder um mesmo objeto, sofrer a perda de um mesmo familiar, passar por um mesmo assalto, ouvir uma mesma música, comer uma mesma comida poderão causar diferentes sentimentos em diferentes pessoas. Daí a importância do estudo dos afetos para compreender a subjetividade do outro. Toda a nossa subjetividade está em consonância com a nossa vida afetiva.

d) Você vem sentindo umas “coisas estranhas” no estômago, dores, sensação de “empachamento” e desconforto. Um amigo seu tinha sintomas parecidos e foi diagnosticada uma doença maligna. O médico lhe pediu muitos exames e hoje você vai mostrar-lhe os resultados.

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Emoções e sentimentosVamos começar essa discussão com uma atividade simples.

Observe a fi gura a seguir. Tente descrever que tipo de afeto cada uma das faces expressa.

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Algumas vezes, diante de determinados fatos, nossa susceptibilidade explode. Temos uma reação afetiva intensa, súbita e relativamente breve. Nesse momento, nosso organismo reage com um desequilíbrio de sua homeostase e temos diversas reações, como aumento dos batimentos cardíacos, rubor das faces, aceleração do pulso. Assim são as emoções. Como define Nobre de Melo (1979), emoções são “complexos psicofisiológicos que se caracterizam por súbitas e insólitas rupturas do equilíbrio afetivo, com repercussões leves ou intensas, mas sempre de curta duração, sobre a integridade da consciência e sobre a atividade funcional dos diversos órgãos e aparelhos” (NOBRE DE MELO, 1979, p. 503-504).

A canção de Pixinguinha e João de Barros, “Carinhoso”, um clássico da música popular brasileira, diz:

“Meu coração

Não sei por quê

Bate feliz quando te vê”

Veja como esse verso traduz exatamente a emoção. É o fato de ver o(a) outro(a) que desperta na pessoa a emoção da alegria e a reação orgânica do aumento dos batimentos cardíacos. E perceba também como na nossa cultura ligamos as emoções ao coração.

Outras reações orgânicas que podem acompanhar as emoções são: riso, choro, lágrimas, tremor, expressões faciais. As reações emocionais geralmente fogem ao nosso controle. Muitas vezes, podemos “segurar” um pouco, mas alguma alteração orgânica vai ocorrer conosco internamente. Quando “seguramos o choro”, sentimos a garganta apertada, por exemplo. O importante é entender que as emoções são descargas de tensão do organismo que precisam ser liberadas, uma vez que significam a necessidade de adaptação, do retorno ao equilíbrio e a homeostase. Infelizmente, nossa cultura estimula a repressão delas. É mais do que comum aprendermos, por exemplo, que “homem que é homem não chora”.

Os estudiosos dessa área concordam que existe um conjunto de emoções que são primárias, ou seja, são observáveis praticamente desde o nascimento, e que parecem estar ligadas às necessidades instintivas de sobrevivência. São elas: o medo, a cólera e a alegria. Por outro lado, algumas outras emoções são aprendidas ao longo da vida: o amor, a tristeza, a paixão, o desprezo, a vergonha, a surpresa.

A expressão das emoções também é aprendida, ou seja, respondemos às emoções da maneira que nossa cultura nos “ensinou”, dependendo do tipo de situação em que nos encontramos, da idade ou do sexo. Como vimos anteriormente, de um homem é esperado que não chore, mas de uma mulher, ao contrário, o esperado é que ela “se desmanche em lágrimas”. Um exemplo interessante dessa “permissão” cultural da expressão emocional podemos ver nas atitudes diante da perda de uma pessoa querida. Enquanto as culturas anglo-saxônicas manifestam a tristeza de forma contida, os latinos são mais expressivos e abertos para essa manifestação.

Homeostase

(homeo = igual; stasis = ficar parado)

é a propriedade de um sistema aberto,

presente em seres vivos especialmente, de regular

o seu ambiente interno de modo a manter

uma condição estável, mediante múltiplos

ajustes de equilíbrio dinâmico controlados por mecanismos de regulação

interrelacionados.

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As emoções, assim, são afetos fortes, passageiros, mas não são imutáveis. Fatos que nos emocionam hoje podem não nos emocionar amanhã. De todas as maneiras, não devíamos ter que esconder nossas emoções, uma vez que elas são uma espécie de linguagem através da qual expressamos nossas percepções internas.

Os sentimentos diferem das emoções por serem menos intensos, mais duradouros e não serem acompanhados de manifestações orgânicas intensas. Mas, os mesmos nomes que usamos para designar as emoções podemos usar também para os sentimentos. Por exemplo, o amor pode começar como uma forte emoção e ao longo do tempo ir se transformando em sentimento mais estável e duradouro. Um exemplo interessante de sentimento é a amizade, uma vez que é um estado que vai se construindo ao longo do tempo, numa intensidade que não é refletida fortemente no organismo.

Vamos retomar agora aquelas reações de susceptibilidade que você anotou na atividade 2, frente às situações que colocamos. Tente identificar qual delas seria emoção e qual seria sentimento.

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A importância do estudo das emoções

A lém de serem uma função homeostática, como já descrevemos, as emoções também são importantes como adaptação a nossa vida social. Dessa forma, elas ajudam a avaliar as situações, servem de critério de valoração positiva ou negativa para as

situações de nossa vida, preparam nossas ações e nos motivam.

Observar a maneira como uma pessoa reage afetivamente é fundamental para compreendê-la e saber como lidar com ela, uma vez que isso faz parte da sua subjetividade. As atitudes e condutas não podem ser entendidas se não levarmos em conta os afetos que as acompanham. Algumas vezes, não entendemos por que nossos alunos reagem de forma agressiva a observações “inocentes” que fazemos a eles. Assim, procurarmos entender por que aquelas palavras foram desencadeadoras de tal emoção, podemos definir melhor a nossa futura maneira de agir com as pessoas.

Curiosidades

Circula na Internet um texto com definições interessantes. O autor é desconhecido, mas vale a pena observar a criatividade com que elas foram elaboradas.

Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.

Emoção é um tango que ainda não foi feito.

Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta para os outros.

Vergonha é um pano preto que você quer para se cobrir naquela hora.

Lágrima é um sumo que sai dos olhos, quando se espreme o coração.

Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.

Alegria é um bloco de carnaval que não liga se não é fevereiro.

Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.

Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.

Extraído de: <http://www.ucrh-fundap.legislacao.sp.gov.br/SnitzLegislacao/topic.asp?TOPIC_ID=22&whichpage=102&ARCHIVE=>.

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Atividade 5

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Os afetos, sejam emoções ou sentimentos, também têm uma função importante na motivação da conduta e para a aprendizagem. Todos nós temos experiência de nos dedicarmos com mais empenho aos assuntos de que gostamos e que nos são agradáveis. Outras vezes, pelos mais variados motivos, tomamos tamanha aversão a certas matérias, as quais se tornam impossíveis de aprender. São situações em que observamos como o afeto pode interferir na nossa capacidade racional de agir.

Pense em quantas vezes você se planejou para atuar de uma maneira diante de uma determinada situação, e, chegado o momento, você apresenta um comportamento completamente diferente. Descreva uma dessas situações.

Uma das grandes discussões teóricas atuais é a relação entre razão e emoção, cognição e afetos. Um dos primeiros estudiosos a se preocupar com esse tema foi o biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980). Para ele, a afetividade e a cognição são aspectos inseparáveis. Apesar de serem de naturezas diferentes, toda ação e pensamento comportam um aspecto cognitivo, representado pelas estruturas mentais, e um aspecto afetivo, representado por uma “energia”, que é a afetividade. De acordo com Piaget, não existem estados afetivos sem elementos cognitivos, assim como não existem comportamentos puramente cognitivos. E ele constrói uma metáfora interessante quando diz que a afetividade é a gasolina que impulsiona o motor da cognição; um não funciona sem o outro. Isso confirma que sem afetos não há motivação, não há interesse e, portanto, não há aprendizagem.

O médico e psicólogo francês Henri Wallon (1879-1962) foi outro teórico que se dedicou ao estudo da dimensão afetiva dos sujeitos. Ele criticava as teorias clássicas que concebiam as emoções como reações incoerentes, com efeito perturbador no raciocínio, ou aquelas que as

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entendiam como tendo uma ação ativadora e energética. Wallon busca compreendê-las como um fenômeno psíquico e social, atribuindo-lhes um papel central na evolução da consciência.

Figura 1 – Henry Wallon (1879-1962)

Como Piaget, Wallon defende que a inteligência e a afetividade estão integradas. A evolução da afetividade depende do que se realiza no plano da inteligência, da mesma maneira que a evolução da inteligência depende do que acontece com a construção dos afetos. Mas, admite que no processo de desenvolvimento humano existem fases com predomínio do afetivo e fases com predomínio do racional. Nos primeiros meses de vida, a criança tem apenas necessidades orgânicas, mas, por volta do sexto mês, começa a se configurar a sensibilidade social. Nesse período, há um pleno predomínio dos afetos. À medida que vai entrando no processo de diferenciação entre si e os outros, a criança começa a fazer subordinar suas emoções aos aspectos cognitivos de sua mente, isso significa dizer que com o desenvolvimento há um refluxo da afetividade para dar lugar às atividades cognitivas.

Na ótica da Psicanálise, o ser humano nasce como um sujeito psíquico pronto, mas irá constituí-lo a partir de si mesmo, das relações familiares e sociais. Os pais que investem seu afeto na criança servem de ligação entre seu psiquismo e o meio social que o rodeia, proporcionando a ela auto-estima e desenvolvendo seu prazer de ouvir e pensar. O ego se estrutura, então, pelo discurso social, pela fala dos pais sobre a criança e pelos seus próprios desejos. Assim, prazer, amor e reconhecimento pessoal e profissional são indispensáveis para a construção da identidade, para investir em si mesmo e no outro.

No campo das Neurociências, o neurocientista português, António Damásio, vem desenvolvendo pesquisas procurando entender essa relação entre razão e emoção. No seu livro, “O Erro de Descartes: emoção, razão e cérebro humano”, ele estuda o caso de um paciente que, devido a um séria lesão no cérebro, passa a apresentar modificações no seu comportamento afetivo, apesar de manter íntegras as funções motoras e, de uma maneira geral, as cognitivas. O que observa é que essas modificações afetivas vão interferir enormemente na forma como o paciente usa seu raciocínio para as tomadas de decisão. É aí que Damásio constata o erro de Descartes, que propunha a idéia do “penso, logo existo”, sugerindo substitui-la por “existo e sinto, logo penso”. Para ele, as emoções bem direcionadas e bem situadas parecem constituir um sistema de apoio sem o qual o edifício da razão não pode operar a contento.

Psicanálise

A Psicanálise é uma ciência criada por

Freud, que propõe o inconsciente como

aspecto determinante de funcionamento da mente

humana.

Ego

O Ego é uma das três instâncias que compõem

a personalidade, na proposição de Freud.

As outras são: o Id e o Superego.

Descartes

René Descartes (1569-1650) filósofo francês, fundador da

filosofia moderna e tido como o pai da

Matemática, é o criador do Método Cartesiano. Sua

importância na Psicologia vem do fato de dividir a

realidade em res cogitans (consciência, mente) e res

extensa (matéria).

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Resumo

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Todos esses trabalhos, idéias e teorias nos remetem ao que estudamos na aula 2, que trata da inteligência, ressaltando as propostas de Gardner sobre as inteligências múltiplas e de Goleman sobre a inteligência emocional. Sugerimos que você retome a referida aula e a releia para estabelecer ligações entre esses dois temas.

Nesta aula, discutimos aspectos da vida afetiva dos seres humanos, ressaltando o estudo das emoções e dos sentimentos. Vimos as principais conceituações, a compreensão desses conceitos por parte de alguns teóricos e a importância desse estudo para a formação de professores.

Auto-avaliaçãoFaça uma síntese dos aspectos que você considera fundamentais, relacionando esta aula com a aula 2.

Faça a distinção conceitual entre emoções e sentimentos.

Construa seus argumentos sobre a relação entre emoção e razão.

ReferênciasBRENELLI, R. P. Piaget e a Afetividade. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

DAMÁSIO, António R. O erro de Descartes: emoção, razão e cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

______. O mistério da consciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

NOBRE DE MELO, A. L. Psiquiatria. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. v. 1.

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Anotações

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