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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
Versão para registro histórico
Não passível de alteração
COMISSÃO DE LEGISLAÇÃO PARTICIPATIVA
EVENTO: Audiência Pública. REUNIÃO Nº: 0410/17 DATA: 04/05/2017
LOCAL: Plenário 3 das Comissões.
INÍCIO: 09h32min TÉRMINO: 13h10min PÁGINAS: 76
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
MARCELO BARROSO LIMA BRITO DE CAMPOS - Conselheiro do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário — IBDP. FLORIANO MARTINS DE SÁ NETO - Conselheiro da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal — ANFIP. PAULO MARTINS - Presidente da união dos Auditores Fiscais. ELY MARANHÃO - Diretor Jurídico do Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União — SINDILEGIS. RUDINEI MARQUES - Presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado — FONACATE. MAURO SILVA - Diretor de Defesa Profissional e Assuntos Técnicos da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil — UNAFISCO. PETRUS ELESBÃO – Sindilegis.
SUMÁRIO
Debate sobre o Regime Próprio de Previdência Social dos servidores públicos no tocante à reforma da Previdência, constante da Proposta de Emenda à Constituição nº 287, de 2016.
OBSERVAÇÕES
Houve exibição de vídeo. Houve exibição de imagens.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão de Legislação Participativa Número: 0410/17 04/05/2017
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Lopes) - Declaro abertos os trabalhos
da reunião da Comissão de Legislação Participativa. Quero desejar um bom-dia às
mulheres e aos homens aqui presentes.
Esta reunião foi convocada para debater a Proposta de Emenda à Constituição
nº 287, de 2016, que trata da reforma da Previdência, no tocante ao Regime Próprio
de Previdência Social dos servidores públicos, em atendimento ao Requerimento nº
95, de 2016, de autoria da Deputada Erika Kokay, e à Sugestão nº 89, de 2015, do
SINDILEGIS, cuja relatoria é do Deputado Chico Lopes.
Informo que todo o conteúdo da audiência está sendo gravado e transmitido ao
vivo pela Internet. O material desta reunião será disponibilizado em áudio e vídeo na
página da Comissão promotora deste evento: www.camara.leg.br/clp.
Convido para compor a Mesa o Sr. Floriano Martins de Sá Neto,
Vice-Presidente de Política de Classe do Conselho Executivo da Associação Nacional
dos Auditores Fiscais da Receita Federal — ANFIP; o Sr. Marcelo Barroso Lima Brito
de Campos, Conselheiro do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário — IBDP; o
Sr. Ely Maranhão, Diretor Jurídico do SINDILEGIS; o Sr. Rudinei Marques, Presidente
do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado — FONACATE; e o
Sr. Mauro Silva, Diretor de Defesa Profissional e Assuntos Técnicos da Associação
Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil — UNAFISCO Nacional.
Informo que o Dr. Chico Couto de Noronha Pessoa, Presidente da Comissão de Direito
Previdenciário da OAB, confirmou sua presença neste evento. Porém, sua esposa se
sentiu mal durante a noite e, em consequência, ele não pôde viajar para Brasília.
Informo ainda que também foi convidado o Presidente do DIEESE, porém
nenhum representante foi designado para participar desta audiência pública.
Agradeço a presença dos expositores e comunico as regras de condução dos
trabalhos para a realização do debate.
Cada palestrante deverá limitar-se ao tema em debate e disporá do prazo de
15 minutos para sua exposição. Se for necessário, concederemos mais tempo. Após
as exposições, iniciaremos os debates, passando a palavra, primeiramente, para os
Parlamentares inscritos e, depois, para os demais participantes.
Tendo sido esclarecidas as regras, passamos às exposições.
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Passo a palavra ao Sr. Floriano Martins de Sá Neto, Vice-Presidente de Política
de Classe da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil
— ANFIP.
O SR. FLORIANO MARTINS DE SÁ NETO - Caro Presidente Chico Lopes,
peço para falar em seguida, se possível. Nós temos um vídeo que acabou de chegar
e gostaríamos de lançá-lo aqui na Comissão de Legislação Participativa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Lopes) - Nesse caso, quem vai falar
agora é o Sr. Marcelo Barroso Lima Brito de Campos, do Instituto Brasileiro de Direito
Previdenciário.
O SR. MARCELO BARROSO LIMA BRITO DE CAMPOS - Muito bom dia a
todos e a todas.
Em primeiro lugar, eu gostaria de, em meu nome e em nome do Instituto
Brasileiro de Direito Previdenciário, agradecer o convite e parabenizar a Comissão por
esta brilhante iniciativa de tratar do Regime Próprio de Previdência Social dos
servidores públicos, no que diz respeito à Proposta de Emenda à Constituição nº 287,
2016.
Eu gostaria, se me permitirem, de fazer uma breve apresentação, para que os
senhores possam aquilatar as palavras que aqui vou dizer. Eu leciono Direito
Constitucional e Direito Previdenciário há mais de 20 anos. Sou advogado
previdencialista e tenho livro escrito sobre o Regime Próprio de Previdência Social.
Sem nenhuma paixão, analisando apenas de forma técnica, quero trazer aqui
à baila, para a elucidação de todos, 15 pontos que consegui destacar de flagrantes
evidentes de inconstitucionalidades na PEC 287, considerado o texto da proposta —
já aprovada — do Relator. São 15 pontos sobre os quais certamente haverá um
embate judicial. Eles serão judicializados se vierem à tona ou se forem promulgados
nestes termos. Eu vou direto ao assunto, para que possamos verificar quais são esses
pontos.
O primeiro é com relação à readaptação. É a primeira vez que se
constitucionaliza a readaptação, que seria algo parecido com uma reabilitação
profissional: o servidor que não tenha condições de exercer as funções do seu cargo
pode ser readaptado se fizer um reajuste funcional em outro cargo.
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No art. 37, § 13, permite-se que seja feita a readaptação em cargos cuja
escolaridade exigida seja inferior ao de origem.
Bom, aqui há várias inconstitucionalidades. A principal delas é a chamada
discriminação negativa, expressamente vedada pelo art. 3º, inciso IV, da Constituição.
É uma discriminação que não pode acontecer.
Também existe uma flagrante ofensa ao princípio da valorização do trabalho.
Isso está no art. 1º da Constituição. Não estou desmerecendo nenhuma profissão,
mas não se pode querer, por exemplo, que uma professora — função para a qual se
exige uma titulação, como mestrado ou doutorado — que, por uma circunstância de
vida, perdeu a voz passe a exercer uma função de cantineira. São situações
incompatíveis. Do jeito que está aqui prevista a readaptação, isso será possível.
Repito: digo isso sem desmerecer nenhuma profissão.
O segundo ponto é com relação à aposentadoria por invalidez. Hoje a
aposentadoria por invalidez do servidor público já padece de um problema sério,
porque, dependendo da causa da invalidez, recebem-se proventos integrais ou não:
se a invalidez é decorrente de acidentes civis, moléstia grave, contagiosa, profissional,
incurável, a pessoa terá direito a proventos integrais; caso contrário, os proventos
serão proporcionais.
Isso já é um acinte ao próprio instituto da aposentadoria por invalidez, que
pressupõe que a pessoa não tem mais condições de trabalhar. Ela não escolhe ficar
inválida e muito menos a causa da invalidez. Isso não pode imputar a ela uma
diminuição de proventos.
Já existe uma PEC, a PEC 170/12, que iria evitar essa diferença de proventos
por conta da causa da invalidez, uma vez que, lá no Regime Geral, que é o paradigma
para o Regime Próprio, essa diferença só serve para fins de carência, não serve para
fins de cálculo de provento.
Mas aqui na PEC 287, além de não se eliminar essa diferença, o que já soa
como inconstitucionalidade por discriminação negativa, acontece a retirada no texto,
por exemplo, dos casos de doenças graves, contagiosas e incuráveis. Essa PEC retira
do texto essas doenças, de forma que, se as pessoas tiverem, por exemplo, um
câncer, uma neoplasia maligna, uma hanseníase, elas terão direito a proventos
proporcionais ou calculados de uma forma diferenciada que não com base na
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integralidade. É evidente a inconstitucionalidade, pois se criam situações diferentes
entre pessoas iguais.
O terceiro ponto é com relação ao professor e à professora. Aqui, a proposta
também cria uma discriminação — neste caso, por motivo de sexo. Se já se flexibilizou
uma regra para aposentadoria voluntária comum geral, diferenciando-se a idade para
o homem — 65 anos — da idade para a mulher — 62 anos —, há uma contradição
nos próprios termos da PEC, pois esta não faz essa diferença no caso do professor.
Deveria haver a diferença entre as idades do professor e da professora. Isso não
aconteceu.
Com relação à acumulação de pensão, se o total for inferior a dois salários
mínimos, pode haver acumulação; se for superior a dois salários mínimos, não pode
haver acumulação. Não há nenhuma norma que justifique esse discrimen, nenhum
estudo, nenhuma base, nenhum fundamento que diga o porquê de o limite ser de dois
salários mínimos. De onde tiraram esse valor? É simplesmente um marco
discriminatório, atentatório a qualquer princípio da igualdade.
Com relação ao valor da pensão por morte do servidor que esteja em atividade,
a proposta traz uma forma de cálculo da pensão cuja regra é igual à da aposentadoria
por incapacidade permanente. Voltamos àquela primeira questão: aposentado por
incapacidade permanente recebe 100% dos proventos ou uma média? A
aposentadoria é em decorrência de acidente em serviço ou não? Isso não está escrito,
não está especificado no texto. É uma falha grave. Há uma omissão inconstitucional
aqui, inclusive uma omissão inconstitucional do texto da PEC 287.
Com relação ao rol de dependentes, a proposta dispõe que ele deve ser o
mesmo do Regime Geral de Previdência Social. Isso retira a autonomia federativa de
União, Estado e Município, que é clausula pétrea da Constituição. Não pode ser
abolida a forma federativa. Quem define o rol de dependentes é a Unidade da
Federação a que o servidor pertence. Isso sempre foi assim: trata-se da autonomia
federativa.
Então, além de ferir princípios da dignidade da pessoa humana, consistir em
retrocesso social e agredir direitos fundamentais, a proposta fere outro princípio, que
é o princípio federativo e da autonomia. Ela retira dos Estados, dos Municípios e da
própria União a condição de estabelecer o seu rol de dependentes.
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Ele também fere normas de Direito Tributário quando, por exemplo, permite a
extinção da reversibilidade das cotas. Uma vez tendo falecido algum dos dependentes
ou tendo um destes perdido a condição de dependente, hoje aquele valor que era
atribuído a ele retorna ao total, que é redividido entre os outros dependentes. Com a
extinção da reversibilidade das cotas, esse valor será vertido para o próprio poder
público, sem que haja a redução da contribuição do servidor. Então, este paga por
uma coisa que é integral, não tem redução nesse valor e depois tem a extinção das
cotas. Isso fere o princípio da precedência da fonte de custeio, que está no art. 195, §
5º, da Constituição, norma de Direito Tributário.
Com correlação à vinculação do RGPS, há várias vinculações às normas do
Regime Geral de Previdência Social. Repito: isso fere de morte o pacto federativo —
arts. 1º, 18 e 19 da Constituição.
Seguem outras observações que eu pontuei aqui — já citei oito ou nove.
A proposta cria uma situação que foi extremamente debatida por ocasião da
edição da Emenda Constitucional nº 20 e da Emenda Constitucional nº 41, com
relação à previdência complementar. No caso da previdência complementar,
conforme o texto atual dos §§ 14, 15 e 16 do art. 40 da Constituição, tem que haver
uma entidade de natureza pública para gerir a previdência dos servidores.
No texto passado agora, no art. 15-A — uma redação bem interessante —, é
vedada a contratação direta sem licitação de entidade aberta de previdência privada,
ou seja, pode haver a contratação de entidade aberta de previdência privada para
gerir a previdência do servidor público. Esse é um dos pontos mais graves que vejo
nessa situação. Deve-se chamar atenção para isso, que é outra flagrante
inconstitucionalidade, por ofender normas de responsabilidade fiscal, de licitações, de
contratação, etc.
O art. 40, § 22, para mim é um dos melhores. Ele permite que essa idade seja
alterada conforme se altera a tábua de mortalidade feita pelo IBGE. Então, Deputado,
não é só V.Exa. que tem poder constituinte reformador, não. O recenseador
contratado do IBGE tem poder constituinte reformador, porque ele pode alterar a
Constituição, assim como um Parlamentar.
Vejam o art. 1º, parágrafo único, da Constituição: “Todo o poder emana do
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente (...)”. O povo
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não tem o poder de emendar a Constituição, mas o IBGE terá. Isso é uma
inconstitucionalidade evidente.
O art. 40, § 23, inciso I, fala de “fiscalização pela União”. Vejam, eles querem
constitucionalizar normas trazidas da Lei nº 9.717, de 1998, que trata do Regime
Próprio, que estão sendo questionadas em várias ações de controle concentrado e de
controle difuso, como, por exemplo, a parte que trata da fiscalização pela União.
Como trabalhamos com Regime Próprio, nós sabemos que a União criou o
Certificado de Regularidade Previdenciária — CRP, que empurra aos Municípios e
aos Estados a condição de serem entes fiscalizados por uma autarquia federal, por
vezes, até o INSS. Isso fere o pacto federativo mais uma vez.
Outro ponto — já estou caminhando para o final — é o art. 195, § 11, que cria
responsabilidade pessoal do prefeito, por questões de gestão previdenciária, e não há
a mesma responsabilidade para o governador nem para o Sr. Presidente da
República, Deputado. Então, isso fere mais uma vez a igualdade entre as Unidades
da Federação — o art. 19, inciso III, é ferido aí.
E essa questão já foi muito debatida no âmbito de tribunais, do TRF, desde o
Tribunal Federal de Recursos, estava na legislação, na Lei nº 8.212, e de lá foi
retirada. Agora, querem colocá-la na Constituição, o que é mais grave ainda.
O décimo terceiro ponto a se destacar diz respeito às regras de transição para
os servidores públicos. Essa regra de transição é seletiva e discriminatória. Regra de
transição não se faz assim, fixando marcos, segregando massas.
Por que fixaram essa regra de transição, com a possibilidade de aposentadoria
partindo de 55 anos para a mulher e de 60 anos para o homem, se o servidor só terá
proventos integrais quando a mulher chegar aos 62 anos e o homem aos 65 anos? É
dar com uma mão e tirar com a outra. Isso não pode acontecer. A regra de transição
não funciona assim. É uma “solapação” de direitos.
Eu sou doutor em Direito, a minha tese de doutorado é justamente sobre
direitos previdenciários expectados dos servidores públicos. Todas as regras de
transição são em nome da segurança que está insculpida no art. 5º, caput, e no art.
6º, caput, da Constituição, e não podem quebrar a confiança legítima, a boa-fé e as
relações de longo e sucessivo trato entre os servidores públicos e a administração
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pública. Essa regra é absolutamente inconstitucional. Eu estou nela e já digo: vou
judicializar essa questão se ela for promulgada.
O décimo quarto ponto diz respeito aos Estados, Municípios e Distrito Federal
terem que se ajustar em 2 anos. Essa norma é uma norma constitucional em branco.
Os Estados, Municípios e o Distrito Federal não têm condições financeiras para outra
alternativa e vão adotar o que está aqui. Então, vai acontecer para todo mundo, e a
Constituição já tem como poder constituinte a definição, de definir mesmo, para
servidores da União, Estados e Municípios, para que não haja diferenças entre eles.
E, por fim, com relação aos proventos da aposentadoria especial, a fixação de
acordo com a média e o reajuste por lei específica é retroceder e desconsiderar as
normas que já estão em vigor, que permitem, sim, a aposentadoria integral e o reajuste
pela paridade.
Eu não quero tomar muito tempo. Eu só queria, realmente, de uma forma rápida
— tenho pouco tempo para dizer —, de uma forma até superficial, analisar e concluir
as diversas inconstitucionalidades que vão ferir as cláusulas pétreas. E eu não digo
só com relação aos direitos fundamentais, mas, como demonstrei aqui, ao princípio
federativo, à separação de Poderes, a todas as cláusulas que estão no art. 60, § 4º.
Essa PEC, não faz sentido ela continuar, não faz sentido ela ser votada desta maneira,
porque, deixadas as paixões de lado, ela fere de morte a nossa lei fundamental, e isso
não pode acontecer.
Eu agradeço mais uma vez e fico à disposição para qualquer interlocução.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Lopes) - A Mesa agradece a
participação e o brilhantismo do Sr. Marcelo Barroso Lima, que acabou de fazer sua
exposição, e anuncia a presença da autora desta brilhante reunião, hoje pela manhã,
da CPL, a nossa Deputada Erika Kokay, que logo mais vai ter que assumir este posto,
porque eu vou ter que ir para o Ceará.
Mas eu gostaria de chamar a atenção de todos para o mote da nossa reunião:
Regime Próprio dos Servidores Públicos, com exceção da aposentadoria especial.
Esse é o tema que nós queremos discutir.
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Eu passo agora a palavra para o Sr. Floriano Martins de Sá Neto, Conselheiro
da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal, que terá também
15 minutos para fazer a sua exposição.
O SR. FLORIANO MARTINS DE SÁ NETO - Bom dia, Deputado Chico Lopes,
Vice-Presidente desta importante Comissão.
Cumprimento a Deputada Erika Kokay, cumprimento todos os companheiros
de luta da Mesa, os demais que aqui estão e aqueles que estão nos vendo pela TV
Câmara, nesta importante reunião de hoje.
Nós acabamos de aprontar um vídeo, Deputado Chico Lopes — gostaríamos
de lançá-lo em primeira mão aqui, agora —, que demonstra um pouquinho da nossa
indignação, não só como brasileiros, mas principalmente como servidores públicos, a
indignação por estarmos de novo sendo alçados a essa condição em que o Governo
nos colocou. Parece que nós somos inimigos do País. Então, o servidor público é
culpado de tudo de ruim que está acontecendo. Portanto, nós fizemos um vídeo, que
vai estar disponível nas redes sociais daqui a pouco. Mas nós gostaríamos de
aproveitar este momento para lançá-lo. É possível? (Pausa.)
(Exibição de vídeo.)
O SR. FLORIANO MARTINS DE SÁ NETO - Deputado Chico Lopes, o vídeo,
a imagem diz muito mais do que nossas palavras. Nós vamos divulgá-lo a partir de
hoje.
Deputados, público que nos acompanha, para que que serve o Parlamento?
Para que serve a Câmara dos Deputados, a representação do povo, a primeira
representação do povo, num processo, digamos, natural de aperfeiçoamento de
proposições que são encaminhadas pelo Governo Federal? Serve para aprimorar.
Então, como é que pode a PEC 287, que já ruim, malfeita, cheia de
inconstitucionalidades — assinamos embaixo de tudo que o Marcelo colocou, e muito
bem —, tornar-se um absurdo jurídico completo? Vem esta Casa, o Relator e
consegue piorar aquilo que o Executivo encaminhou. Não temos, então, muito mais o
que falar.
Não é sério. Não pode ser sério. Este relatório não pode ser sério! Para mim é
inadmissível que os demais Parlamentares, na hora em que se reunirem no plenário,
o aceitem. Ele tem que ser rejeitado.
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Deputado, veja que, quando veio a PEC, nós, fiéis a esses compromissos
históricos da ANFIP, abordamos a proposição de cima a baixo, ou seja, desde as
questões que dizem respeito ao Benefício da Prestação Continuada, ao trabalhador
rural, à mulher até a questão dos servidores públicos. Tratamos isso no FONACATE
— Fórum das Carreiras de Estado.
Nós fizemos a discussão de propostas. Pensamos que, já que o jogo está
posto, há necessidade de se aperfeiçoar o sistema. Então apresentamos, com muita
dificuldade, com a assinatura, com certeza, dos dois Deputados que estão aqui,
propostas visando aperfeiçoar a nossa Constituição. O nosso ilustre Relator acatou,
parcialmente, mas muito parcialmente, cerca de 8 proposições, e, quanto às demais,
15 ou 16, ele inovou, ele piorou a redação encaminhada pelo Executivo.
Gostaríamos de dizer, voltando ao tema do servidor público, que viemos aqui,
de novo, denunciar, fazer esta denúncia. A reforma da Previdência do servidor público
já aconteceu, ela é a Emenda nº 41, de 2003, com as alterações, as adequações da
Emenda nº 47, de 2005. Desde 2013 nós não temos mais... Agora os servidores
públicos se aposentam com um teto igual ao do Regime Geral. Então não há como
colocar no servidor público essa alcunha de beneficiário. Não! Ele tem o mesmo teto,
a partir de 2013. E é assim que tem funcionado o sistema.
Todas as outras emendas que foram encaminhadas ao longo dos anos,
respeitaram minimamente as condições adquiridas ao longo de anos e anos de
trabalho.
Nós repudiamos a maneira como o Governo vem apresentando o déficit
previdenciário dos Regimes Próprios, que seria a diferença entre o que é aportado por
nós, a nossa contribuição... Aproveito para falar para a população que nos escuta que
nós pagamos 11% sobre a totalidade dos nossos vencimentos, uma regra muito
diferente da regra do Regime Geral. Então, são 11%, a União consigna no Orçamento
o dobro, 22%, e coloca falsamente essa questão do déficit como a diferença entre o
que se arrecadou e o que se pagou de aposentadorias dos Regimes Próprios.
Gostaríamos de citar outro número, não esses números secos de déficit, que,
inclusive, juntam os servidores civis e os servidores militares. E, diga-se de passagem,
os servidores militares não estão sendo objeto desta reforma e, talvez, provavelmente,
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dificilmente serão. Mas, nos próprios números oficiais do Governo, nós vemos que
44,8% é percentual referente aos militares.
Estivemos ontem aqui e repudiamos essa sistemática de algumas categorias
tentarem, por conta própria, resolver o problema. Eu acho que não é assim que o
debate deve acontecer. Nós vamos é para o embate democrático. Os Srs. Deputados
estão aí. A matéria deve sair da Comissão e ir para o plenário, e lá cada um será
devidamente procurado. E vamos aplaudir aqueles que a derrubarem, porque o caso
agora não é mais de aperfeiçoar; o caso agora é pura e simples mente de derrubar
essa PEC.
Eu lamento quando o Presidente da República impõe esta condição, num teatro
de guerra: “Ou aprovamos a PEC ou o Governo cai”. Eu lamento dizer ao Presidente
Temer, então, que o Governo dele vai cair, porque a PEC 287 vai cair.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Lopes) - Pois é, e ninguém descobriu
ainda que o Presidente é o Meirelles. Os senhores se lembram de Ana Maria Jul?
Esqueceram? Tinha braço magrinho. Ia diretamente conversar com ele e aí nos
lascava. Aliás, quem bate esquece, mas quem apanha não esquece.
Nós vamos passar a palavra — falou agora o Floriano — ao Diretor Jurídico do
SINDILEGIS, Ely Maranhão. E quero fazer um elogio ao SINDILEGIS, que foi a
primeira entidade que procurou a CLP. A partir daí, deu-se início a essa grande
discussão dos servidores públicos. Falam mal de nós, mas nós damos saúde,
segurança, ensinamos a plantar, ensinamos a ler, a escrever. Tudo é feito por nós os
servidores públicos. Não sei por que há essa raiva de nós. Para ganharmos qualquer
coisa, há essa confusão toda, como se não fôssemos concursados, como se não
tivéssemos capacidade, etc. e tal. Mas deixe estar que o inferno está lá! Eu vou me
encontrar com o Presidente da República e aí vou ter mais tempo para esculhambá-
lo, porque comunista não pode ir para o céu, não é? (Risos.) Não tem nem como,
embora eu seja católico e tudo mais. Vou fazer o quê? Então, com o Temer nós vamos
bater boca.
Fique à vontade, Ely. Quero parabenizar o SINDILEGIS por essa iniciativa que
os senhores tiveram aqui na CLP e que cresceu, graças a Deus!
Passo a palavra a Ely Maranhão.
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O SR. ELY MARANHÃO - Prezado Deputado Chico Lopes, prezada Deputada
Erika Kokay, demais membros da Mesa, senhoras e senhores, bom dia.
Os palestrantes que me antecederam já trataram da forma absurda como
direitos conquistados estão sendo simplesmente erradicados nessa reforma, como se
nós os servidores públicos fôssemos os culpados por todas as mazelas do País.
Então, eu vou tratar aqui de uma questão mais específica, a questão dessa abertura
para as entidades de previdência complementar aberta.
Primeiro, eu faço uma pergunta aos senhores: já ouviram falar da Instrução
CVM nº 555, de 2014, que trata da regulamentação de fundos de investimento? No
art. 15, há uma norma interessante, que diz que os cotistas respondem por eventual
patrimônio líquido negativo do fundo, sem prejuízo da responsabilização dos
administradores.
Mas, quando a pessoa chega ao banco, não é comum que o gerente avise não
só que o fundo pode zerar como ainda que a pessoa pode ter que aportar dinheiro se
ele for mal gerido. Eu vou dar o exemplo de um fundo lá nos Estados Unidos, o Long-
Term Capital Management, sobre o qual talvez alguns dos senhores já tenham ouvido
falar. Esse fundo foi criado por executivos que tinham 20 anos de experiência no
mercado. Entre os estrategistas, dois eram Prêmios Nobel de Economia e mais de
dez eram Ph.Ds. em Matemática, Física e Economia.
O fundo veio apresentando, durante 3 anos, rendimentos consistentes muito
acima do mercado, com variação relativamente baixa em relação ao risco. De repente,
no final do ano de 1997, o fundo simplesmente quebrou, perdeu praticamente todo o
patrimônio — tinha patrimônio líquido negativo —, causando uma implosão no
mercado americano, porque o Banco Central americano, o Federal Reserve, teve que
intervir para segurar o problema. Ele teve que fazer um pool de bancos para injetar
dinheiro, a fim de que o fundo não quebrasse e não levasse outros bancos com ele.
Eu estou frisando essa situação porque é interessante, quando se abre para
licitação, ver qual vai ser o critério. Que as pessoas tenham experiência? No exemplo
que citei, tinham. Que as pessoas tenham expertise na área? Também tinham. Que o
fundo apresente bons resultados? Aquele fundo também tinha bons resultados, e
quebrou.
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Então, essa questão de querer afastar uma entidade própria, pública, que faça
essa fiscalização, que tenha pessoas com experiência, como objetiva o FUNPRESP
— Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal, não é uma
coisa simples. Não é qualquer pessoa que está capacitada simplesmente para
escolher e, depois, fiscalizar, ver se o fundo está aderindo ao regulamento. Como a
própria norma específica diz, vai ter que se aportar dinheiro, se o fundo der problema.
Então, mesmo que o fundo tenha descumprido o regulamento dele, o cotista vai ser
responsável pelo que acontecer.
Eu citei um exemplo dramático, mas, em 10, 20, 30 anos da gestão da
previdência complementar, muitos problemas vão ocorrer. Quem vai ter expertise para
acompanhar, o tempo todo, como esses recursos vão ser empregados, se não for uma
pessoa que tenha experiência, que seja treinada e que esteja no dia a dia do mercado
para acompanhar isso? Parece simples fazer essa delegação, mas realmente não é.
Esse é um tópico que não parece importante, mas a previsão do Governo é a
de que em 20 anos esse seja o maior fundo de pensão do País, dada a quantidade
de servidores que o terão aderido, além da possibilidade também de outros entes da
Federação o aderirem. Tudo isso vai para a iniciativa privada.
Quem vai fiscalizar? Já vimos um monte de problemas com bancos.
Simplesmente, os órgãos hoje existentes não funcionam da forma que deveriam, pelo
menos não em todas as situações. Tirar essa linha de proteção dos servidores não
me parece uma boa ideia, por todos os problemas jurídicos já elencados e agora
também pelo fato de termos pessoas com experiência para fazer esse
acompanhamento no dia a dia.
Eu gostaria de passar a palavra para o meu colega, Dr. Paulo Martins, Vice-
Presidente do SINDILEGIS, que também tem algumas observações a fazer.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Lopes) - Agradeço a S.Sa. a
contribuição.
Imediatamente, seguindo a sua orientação, passo a palavra ao Sr. Floriano.
Aliás, ao Sr. Paulo Martins.
O SR. PAULO MARTINS - Não deixa de ser uma honra, Deputado Chico
Lopes, ter o mesmo sobrenome do Floriano.
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Cumprimento a Mesa, em nome do Deputado Chico Lopes e da Deputada Erika
Kokay, guerreiros de luta sindical.
Meu nome é Paulo Martins. Sou Vice-Presidente do SINDILEGIS e Presidente
da União dos Auditores Fiscais do TCU.
Os senhores podem perceber que, como eu sou um pouco jovem, quase desisti
de aposentar. Se em menos 20 anos já tivemos tantas reformas, até eu me aposentar
não sei por mais quantas reformas eu vou passar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Lopes) - O senhor é um homem de
pouca fé. (Risos.)
O SR. PAULO MARTINS - Temos que trazer os jovens para me ajudar na luta
sindical, Deputado. O bom é saber que nós não estamos sozinhos. Conforme foi
divulgado pelo Datafolha, no final de semana, 70% da população estão do nosso lado,
contra a reforma da Previdência. É fundamental estar do lado da maioria, ao lado da
população.
Nós estamos falando de mais de 10 milhões de vidas, mais de 10 milhões de
segurados no RGPS — Regime Geral de Previdência Social, o que não é pouco.
Como disse o Dr. Mauro, nós estamos transferindo a idade mínima para o IBGE. Ou
seja, vai-se aumentar a cada dia. Já começa com 65 anos. A expectativa de vida em
alguns Estados chega a 66 anos. Ninguém mais irá se aposentar.
Há que se considerar ainda que essas expectativas que constam do estudo do
Governo para fundamentar a PEC 287 não consideram, por exemplo, a expectativa
de vida com saúde. Com 65 anos de idade, sabe-se das despesas e do futuro que
vem por aí. Em alguns casos, a expectativa de vida com saúde, após a aposentadoria,
chega a 6 meses. Imaginem, contribuir uma vida toda para usufruir de uma
aposentadoria por apenas 6 meses, evidentemente, é uma injustiça. Nós temos que
combater veementemente essa proposta, que é ruim não só para os servidores
públicos, mas também para toda a população. Considerando os 25 anos de
contribuição mínima no RGPS, será gerada certamente uma perda de cobertura.
Haverá pessoas que não vão se aposentar, morrerão trabalhando. Imagine alguém
perder o emprego com 60 anos. Será difícil alguém com essa idade ser realocado no
mercado de trabalho. Essa é uma injustiça muito grande que não podemos permitir.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão de Legislação Participativa Número: 0410/17 04/05/2017
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O Governo vem com a falácia de retirar privilégios para igualar. Eu sou servidor
público desde os 18 anos de idade. Comecei no Banco do Brasil, fui para a Caixa
Econômica e hoje sou Auditor do TCU. Comecei a trabalhar com carteira assinada
aos 16 anos de idade. Em tese, com 49 anos de contribuição, eu iria me aposentar
aos 65 anos. Será que isso vai ser possível? Será que vou conseguir manter a minha
produtividade até os 65 anos de idade? É óbvio que nós vamos ter que juntar todos
os servidores públicos nessa luta. Essa reforma é ruim para os que ingressaram antes
de 2003, ela afeta direitos adquiridos, o que é um desrespeito frontal à população
brasileira, e, na minha opinião, é também uma inconstitucionalidade.
Após 2003 os aposentados também serão afetados com a mudança da média,
ainda mais os que ingressaram no Regime de Previdência Complementar, como
expôs aqui o Dr. Ely, que é o meu caso. Eu sou Conselheiro da FUNPRESP,
represento os eleitos pelos participantes do Legislativo e sei da realidade do regime
de lá atrás até hoje.
É óbvio que essa reforma tem um viés muito claro. Estive num congresso de
previdência complementar no ano passado. Um dos elaboradores da reforma da
Previdência, que estava lá presente, disse que o futuro da Previdência é a pessoa
saber que, quando se aposentar terá uma queda na remuneração, ou seja, ela tem
que aceitar isso e se acostumar com penduricalhos que não se carrega para a
aposentadoria, como hoje o Governo implementa muitos. Um dos exemplos citados
pelos auditores da Receita é a questão do bônus de eficiência e os honorários, que
não serão levados para a aposentadoria. Quando se aposentar, a pessoa terá que se
acostumar com a queda abrupta no salário que vai receber. Não dá para admitir isso.
Trago aqui alguns dados que acho importantes para este debate. O Governo
fala de um rombo de 74 bilhões de reais, que tem que ser corrigido com a reforma.
Mas, se formos analisar — lá no TCU fazemos esse papel de combater a corrupção
—, os valores são desviados pela corrupção no Brasil. Só o dinheiro desviado com
corrupção soma em torno de 120 bilhões de reais. Por que não reforçar o combate à
corrupção? Por que não reforçar o combate à sonegação, que desvia cerca de 300
bilhões de reais? Por que não reforçar o combate aos desvios da própria Seguridade
Social, que chegam a quase 100 bilhões de reais? Essa falácia de que a solução é
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão de Legislação Participativa Número: 0410/17 04/05/2017
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penalizar os trabalhadores não pode ser permitida por nós. Essa soma aqui dá quase
550 bilhões de reais.
Também como Conselheiro da FUNPRESP, eleito pelos participantes, eu sei
disso. Qual o maior interessado na reforma da Previdência? Para mim, está muito
claro: o sistema financeiro. Isso fica expressamente evidente com o § 15-A proposto
pelo substitutivo do Relator.
Acompanhem comigo. Nós não estamos falando que a FUNPRESP é o melhor
dos mundos. Obviamente não é. Nós lutamos contra, não é Floriano? Os Deputados
aqui sabem disso. Lutamos contra a instituição da FUNPRESP, porque entendíamos
que havia outras opções que não penalizavam tanto os servidores públicos. Mas ela
foi instituída como uma realidade, e nós acompanhamos, ou seja, os trabalhadores,
os servidores públicos, participam da gestão da FUNPRESP. Não é o melhor dos
mundos, mas é uma realidade que existe.
No ano passado, o próprio Governo Federal enviou o Projeto de Lei nº 6.088,
de 2016, que está parado até hoje lá na Comissão de Trabalho e Serviço Público —
CTASP, foi enviado antes da PEC 287/16, com o objetivo de abrir a FUNPRESP, que
está tendo um ganho de escala e está sendo bem administrada até hoje, para
administrar planos de previdência de Estados e Municípios, estimular que os demais
entes que não têm escala para instituir os seus regimes complementares possam
aderir à FUNPRESP e ali terem os seus planos.
O engraçado é que esse PL não tramitou em regime de urgência, está lá
paradinho até hoje. Depois que foi enviada a PEC 287 e que nós fizemos a denúncia
contra o secretário da Previdência, para mim ficou muito claro que o sistema financeiro
participou da elaboração dela.
Com a alteração do § 15-A do art. 40, como disseram aqui os colegas, agora
não é preciso mais haver fundo de previdência fechado, basta o Regime Próprio. Mais
de 5 mil Municípios irão ao banco. Imaginem como vai ser a negociata para contratar
isso. Tudo bem que o parágrafo fala que tem que haver licitação, mas nós sabemos
como é a realidade nos rincões do País.
Como vai ser essa negociata dos bancos para administrar esses regimes
próprios complementares dos Estados e Municípios? Isso coloca em risco até mesmo
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os servidores da União. Existe uma fundação criada, já consolidada, mas, ao bel-
prazer do Governo, os recursos podem ser enviados diretamente para um banco.
Nós não podemos admitir isso. Isso retira a natureza pública. O que essa
natureza pública do § 15 delimitava? Que a previdência dos servidores não deve ser
uma preocupação apenas dos servidores, mas de toda a sociedade brasileira.
Pensem comigo: qual a qualidade do serviço público que será prestado pelos
servidores daqui a alguns anos, quando souberem que não conseguirão se
aposentar? É óbvio que a sociedade tem interesse de que a previdência dos
servidores públicos seja bem gerida.
Essa mudança retira a gestão compartilhada, os servidores não terão mais
participação nesses órgãos, retira a fiscalização da PREVIC e abre para o mercado,
de forma grotesca, a administração dos benefícios dos servidores.
Isso ofende a confiança legítima, é um desrespeito, porque os servidores
planejam o futuro. Imaginem os que têm direito à integralidade, que iriam se
aposentar. Eu tenho colegas que iriam se aposentar agora em setembro. Diante desse
substitutivo, terão que trabalhar mais 7 anos. Isso é um absurdo!
Nós não podemos admitir isso. Vamos lutar no plenário, na Comissão, no que
for possível, contra essa reforma da Previdência.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Lopes) - Agradeço ao jovem Paulo
Martins o brilhantismo.
Vou pedir licença aos presentes e solicitar à autora do requerimento que o
próximo orador a falar seja o companheiro Rudinei Marques.
Mas antes eu queria dizer algumas palavras. Sou funcionário público desde os
14 anos. Entrei na Prefeitura Municipal de Fortaleza em um quadro chamado Para
Obra, que era muito mais seguro do que a terceirização, que foi aprovada nesta Casa.
De lá para cá, comecei a defender o servidor público. Fui indiciado em 1964
por ter fundado uma associação na Prefeitura. Só depois de 1988 nós tivemos direito
a sindicato.
Entrei no comunismo bravo, fui preso, torturado, anistiado e continuo firme na
transformação da nossa sociedade. Não é possível que qualquer zé-mané chegue à
Presidência da República, faça um estrago desse e nada acontece.
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Nós temos de ter mais autonomia, no sentido de nos indignar com essas coisas.
Os Deputados estão rindo da nossa cara. Parece que eles estão fazendo a melhor
coisa do mundo. Quando chegam aqui querem quebrar e bater, vem alguém e grita:
“Ai!” Meu filho, quem planta colhe. Não é preciso um bom inverno para que certas
coisas nasçam. É só plantar mandar mandacaru para ver como o bichinho vai longe
sem precisar de muita água.
Na minha avaliação, a iniciativa da Deputada Erika Kokay era a de chamar as
pessoas para discutir só o que se refere ao servidor público.
Nós servidores públicos somos responsáveis pelo desenvolvimento do País,
através da polícia, do serviço médico, através disso e daquilo. Quando a empresa
privada faz isso é para enricar os donos. Nós nos contentamos com um aumento e,
de vez em quando, fazemos greve aqui e acolá, para ter um aumento.
A Deputada Erika Kokay é uma das grandes Deputadas desta Casa. Tenho
muito prazer de saber que serei substituído por ela e de saber que irá continuar esse
trabalho. Com certeza, vamos tirar lições daqui.
O nosso compromisso é o de peitar esse negócio. Se for só para ouvir e ir para
casa, é melhor não fazermos nada. Nós temos que chegar para os Deputados e
discutir. Não precisa dar cascudo, não. É só dizer para ele: olha, eu votei no senhor,
mas o senhor não tem o direito de votar contra mim. Basta esta propagandazinha: eu
votei no senhor, mas o senhor não pode votar contra o meu direito.
Essa é a questão. Eu me aposentei com muita facilidade à época. Agora, para
se aposentar parece uma novela. É mais difícil do que casar com mulher rica. (Risos.)
Bom final de semana a todos. Nós não vamos baixar a cabeça e ficar com raiva.
Alegria, e vamos vencer a parada. Um abraço. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Erika Kokay) - Eu tenho grande alegria de
substituir o Deputado Chico Lopes. Foi sob a sua gestão, nesta Comissão de
Legislação Participativa, que surgiram as primeiras iniciativas na perspectiva de
buscar uma unidade dos servidores para que pudéssemos fazer o enfrentamento a
esta reforma da Previdência.
É uma reforma que aumenta sobremaneira todas as desigualdades. Mais uma
vez, o Governo busca colocar como inimigos da Nação os servidores e as servidoras;
como inimigos da Nação quem constrói as políticas públicas, que são fundamentais
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para assegurar os direitos. É uma alegria estar aqui fazendo esta discussão para que
possamos fazer esse recorte dos servidores e das servidoras porque a tendência é
que haja o agravamento desse discurso.
Com o discurso para justificar que essa é uma reforma que ajuda o povo
brasileiro, que ajuda a população pobre, eles elegem os adversários. Criam uma
lógica binária do bem contra o mal e elegem aqueles que fazem o bem todos os dias
como os inimigos da própria Nação.
Nós já vimos esse discurso emanado do Palácio do Planalto. Nós vimos o que
acontece com aquele que proferia esses discursos de tentar colocar o País contra os
servidores. Os servidores fazem essa lógica binária para justificar as suas próprias
ações que, por si só, não conseguem se justificar nem se fundamentar.
O movimento construído a partir desta Comissão, por servidores e servidoras,
ajudou para que houvesse um ganho na disputa de narrativa.
Como já foi dito, hoje a população brasileira é contra essa reforma da
Previdência. Ainda que eles tentem tirar ou ceder os anéis para não ceder os dedos,
os dedos garroteiam os direitos do povo brasileiro. Os dedos são extremamente
nocivos para a população brasileira. Ainda que se faça uma discussão de que as
mulheres ficam com 62 anos, a comparação não é do 62 com o 65. Nós temos
professores com 60 anos, a comparação não é com 65 para 60, é uma comparação
do tempo de contribuição, hoje de 15 anos, e, ao mesmo tempo, a inexistência de uma
idade mínima, mas apenas no tempo de contribuição.
Por fim, é muito importante que consigamos destacar a eternidade das regras
de transição. Nas últimas décadas, sofremos por volta de oito regras de transição. Há
pessoas que estão vivendo a transição da transição e vão entrar em uma nova
transição. Portanto, a transição acaba se perenizando, e não se consegue sair dessa
condição na medida em que grande parte das pessoas que entrarão na regra de
transição já estarão cumprindo outra regra de transição.
Seria importante que fossem excetuados das regras de transição os
trabalhadores e as trabalhadoras do serviço público ou da iniciativa privada que a
estão cumprindo, senão a regra deixa de ser de transição e passa a ser uma regra
permanente.
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Essas as discussões que queremos fazer aqui no dia de hoje para que nós não
apenas disputemos a narrativa, mas também para que digamos, primeiro, que não há
déficit. Os recursos para a seguridade social não são computados. Isso já está
bastante desenvolvido. O Governo faz um cálculo de retirada do Estado da
Previdência. Isso não acontece nos países ditos desenvolvidos, nos países ricos.
A média de atuação do Estado na política de previdência desses países —
política pública, política de proteção social, de proteção ao idoso, ao acidentado,
enfim, há uma série de situações na nossa sociedade — é de 36%. Estados dos
países mais ricos do mundo chegam a contribuir com 36% para as regras de
previdência social ou para as normas de previdência social. Em um país como a
Noruega essa contribuição chega a 76%.
Simplesmente o Estado se recusa a computar as receitas previstas na própria
Constituição, na Seguridade Social, para que se possa avaliar o que realmente existe
na Previdência.
É muito importante a CPI, primeiro, porque ela vai destrinchar os cálculos
atuariais que nós não conhecemos. São verdades colocadas como absolutas, mas
não sabemos como foram construídas. A CPI ajudará a destrinchar os cálculos
atuariais e também fará um debate a respeito da Desvinculação das Receitas da
União, que retira dinheiro da seguridade para outras funções. Essa DRU aumentou
nesse período. Bilhões foram desviados da previdência e da seguridade para a
construção da ponte Rio-Niterói. Nós precisamos entender que os recursos foram
desviados para outras finalidades. Quando se alarga a Desvinculação da Receita da
União isso é possibilitado de forma mais contundente.
Também não se conta com recursos de impostos, recursos que estão previstos
na Constituição para a Seguridade Social. Se nós os considerarmos, não haverá
déficit na Previdência.
Por fim, como aqui já foi dito, nós temos quase 500 bilhões de reais, por volta
de meio trilhão, de sonegação de impostos. O Governo não fala em combater a
sonegação.
O impacto da dívida no PIB atual chega praticamente à metade, por volta de
48%. Vejam, 45% do Orçamento vai para o pagamento de serviços e juros da dívida.
Isso está intocado! Isso é mercado! O Governo se agacha ao mercado, reverencia o
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mercado e vai entregando os direitos do corpo dos trabalhadores e trabalhadoras,
para tentar acalmar o dito mercado.
Essa tem sido a lógica de um governo sem votos que ocupa o Palácio do
Planalto há mais de 1 ano. Essa lógica tem nos mostrado que estamos aumentando
a dívida pública, ela está crescendo, e nós não temos atuação no mercado. A atuação
no mercado sempre se faz nas costas ou na sombra do próprio Estado. O mercado
no Brasil só atua com o beneplácito do Estado.
A medida provisória da renovação das concessões que foi aqui aprovada é uma
expressão disso. Está-se antecipando a prorrogação das concessões. Concessões
que ainda têm vigência de 20 anos estão sendo antecipadas, sem licitação, sem
cumprimento de metas. Contrata-se a concessionária, ela se compromete a fazer
investimentos, mas está abolindo isso, anistiando a concessionária pelo fato de ela
não ter cumprido as suas prerrogativas, as suas premissas, as contrapartidas que
fizeram com que ela assumisse a concessão. Está-se possibilitando que ela cumpra
os investimentos com aumento de tarifa. As concessionárias de rodovias, por
exemplo, podem aumentar o pedágio para atingir as metas de investimento que elas
teriam que cumprir quando assinaram o contrato. Tudo isso está acontecendo sem
licitação. Isso está acontecendo no Brasil! Eles aprovaram essa matéria na última
terça-feira.
Na quase madrugada da terça-feira, aprovou-se a prorrogação antecipada das
concessões, sem nenhum tipo de licitação, anistiando o débito com os investimentos,
transformando as multas em recursos para que a empresa possa investir. O que ela
tinha que ter feito no início não fez. Levou uma multa e pode revertê-la num
investimento que seria a premissa para ela assumir a concessão. Isso está
acontecendo neste País!
Portanto, não é apenas a retirada de direitos. A retirada de direitos faz parte de
uma construção de uma lógica que impede que o País possa ter um modelo de
desenvolvimento, impede que o País possa alargar os seus espaços de igualdade.
Isso faz com que nós tenhamos a cada dia empresas, capital internacional — isso já
foi dito aqui —, previdências privadas abertas, que vão ocupar esse espaço para quem
pode pagar por ele. Para quem não pode pagar por ele, vai sobrar absolutamente a
morte no trabalho. Digo isso porque a população de 53% dos Municípios tem
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expectativa de vida média abaixo de 65 anos e 70% dos Municípios têm como principal
receita a própria Previdência, as aposentadorias, os Benefícios de Prestação
Continuada — BPCs, as políticas de proteção.
Cabe a nós também fazer um grande movimento com os Prefeitos, uma vez
que os Municípios serão muito afetados com essa impossibilidade da própria
aposentadoria.
Trata-se de um modelo de negação do desenvolvimento nacional, um modelo
de País que perpetua o poder do rentismo, que não gera nenhum emprego, é uma
acumulação de capital sem nenhuma relação com o trabalho, que gera ou favorece o
sistema financeiro privado nacional e internacional.
É preciso lembrar que enquanto o Governo está fazendo essa reforma que
penaliza sobremaneira a população brasileira, o CARF anistia o banco Itaú em 25
bilhões. Nós estamos falando do banco Itaú, não estamos falando de uma empresa
que passa por dificuldades financeiras. Nós estamos falando de um banco que, ao
que tudo indica, paga três vezes a sua despesa com pessoas apenas com a prestação
de serviços, em que a maior receita advém da receita das tarifas. Com as tarifas pagas
pelo povo, esse banco paga três vezes o seu custo com pessoas. Vejam, o cliente
está pagando e está sendo penalizado inclusive porque bancos pagam
proporcionalmente menos impostos no Brasil do que o trabalhador e a trabalhadora.
É muito importante fazer essa discussão, fazer esse recorte, introduzir esse
recorte nas discussões no plenário e também na Comissão, porque os destaques
ainda serão analisados.
Agradeço aos servidores a participação, a construção particularmente do
sindicato desta Casa, o SINDILEGIS. Nunca havia visto uma manifestação dessas.
Não me refiro apenas à greve geral, que foi a maior greve que o País vivenciou na
sua história, mas também a esta manifestação realizada aqui internamente. Eu nunca
havia visto uma passeata, uma manifestação correr os corredores, os cantos, as
dobras deste Parlamento, desta Câmara Federal, organizada pelo sindicato e
organizada pelo conjunto de servidores aqui da Casa.
É absolutamente importante que façamos esses recortes e caminhemos nessa
disputa de narrativa, para que nós possamos impedir essa reforma. O Governo sabe
que ele tem dificuldades. Quando ele aprova a toque-de-caixa esse projeto da
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terceirização, que atinge o serviço público de forma muito profunda, resgatando uma
proposição de 1998, aprovada no Senado, é porque precisava dar respostas ao dito
mercado, que virou pessoa, porque fica angustiado, fica nervoso, fica irritado e,
segundo o Governo, tem sentimentos humanos.
Isso me lembra dos sacrifícios da mitologia grega, em que se oferecia sacrifício
aos deuses para que pudessem ser complacentes e piedosos com os seres humanos.
Nós estamos neste Governo oferecendo sacrifício para o mercado, que a cada dia
ainda que tenhamos esse volume de sacrifícios de direitos, continua exatamente
inquieto, buscando mais e mais sacrifício, sem deixar qualquer contrapartida para a
sociedade brasileira.
O Governo conseguiu aprovar a terceirização e votar a reforma trabalhista
dessa forma porque tem dificuldades de aprovar a reforma da Previdência. Se
depender de nós, que estamos hoje neste plenário, nesta quinta-feira, ele terá muito
mais dificuldades.
Quero dizer com isso que é possível derrotar a reforma da Previdência! Isso é
possível. Essa é a possibilidade mais concreta nesse último período. A população está
consciente disso, ela faz conta e vê como isso vai incidir na sua própria vida. Existe
um movimento organizado em que se incluem aqui os servidores, o FONACATE, o
SINDILEGIS, enfim, as entidades que estão participando desse processo de forma
muito intensa. É possível derrotar o Governo! Isso é algo muito concreto. E eu falo no
lugar de quem é minoria nesta Casa, o lugar de quem é oposição nesta Casa. Nunca
foi tão concreta a possibilidade de impor uma derrota ao Governo e uma vitória do
povo brasileiro.
Se quisermos discutir mudanças, devemos fazer um amplo processo de
discussão com dados, com cálculos atuariais. Vamos ver o que é possível construir,
mas o que não podem é retirar direitos e mais direitos e ainda achar que esse
processo é bom para o País. É um discurso que não foi absorvido, não foi entranhado
pela população brasileira, ao dizer que a reforma é boa para o Brasil.
Esse discurso da época da ditadura militar que dizia “ame-o ou deixe-o”, esse
discurso de que quem é contra a reforma é contra o Brasil, não foi entranhado na
população brasileira. O Governo sabe disso, sabe das suas dificuldades, e é preciso
que continuemos nessa discussão por amor a este País.
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Ontem, quando foi aprovado o texto principal, o riso, a comemoração dos
Parlamentares foi algo extremamente doloroso, porque se estava comemorando e
rindo contra o povo brasileiro. O povo brasileiro é contra essa reforma, que é contra a
população. Ele não teve como fazer a sua voz ser escutada nesta Casa. Estavam
comemorando como se fossem saprófagos de direitos, saprófagos de um país mais
justo, mais soberano e mais igualitário.
Encerrando, vamos continuar resistindo na luta para dizer que as coisas
precisam seguir o rito do Estado democrático, o rito dos direitos. Servidores públicos
não permitirão que tenhamos a alcunha de sermos inimigos da própria Nação, porque
somos servidores públicos, construtores de uma Nação mais justa, mais igualitária,
que faça definitivamente o luto das casas grandes e senzalas. É por isso que estamos
aqui.
Passamos agora a palavra para o Presidente do Fórum Nacional Permanente
de Carreiras Típicas de Estado — FONACATE, Rudinei Marques, que tem tido uma
posição exemplar, não apenas em relação ao FONACATE, mas em todas as
discussões relativas aos servidores públicos. (Pausa.)
Antes, porém, anuncio a presença do Presidente do SINDILEGIS, Petrus
Elesbão, a quem convido para compor a Mesa. (Palmas.)
Passo, então, a palavra ao Rudinei Marques.
O SR. RUDINEI MARQUES - Bom dia, Deputada Erika. Bom dia, membros da
Mesa, colegas de batalhas, senhoras e senhores. Eu tenho a grande responsabilidade
de falar aqui em nome do FONACATE, que agora, com a entrada da Associação
Nacional de Defensores Públicos — ANADEP, representa 27 entidades dessas
carreiras que compõem o núcleo estratégico do Estado, em torno de 180 mil
servidores. Meu colega Nilton Paixão me incumbiu também de representar aqui a
Pública Central do Servidor. É claro que não posso deixar nunca de me referir à minha
entidade de origem, o Sindicato Nacional dos Auditores e Técnicos Federais de
Finanças e Controle — UNACON Sindical, que representa os servidores da
Controladoria-Geral da União — CGU e da Secretaria do Tesouro Nacional — STN.
O FONACATE está muito presente inclusive nesta Mesa. Eu estava contando,
são cinco entidades na Mesa só do FONACATE: o SINDILEGIS, a Associação
Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil — ANFIP, a Associação
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Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil — UNAFISCO, a União
dos Auditores Federais de Controle Externo — AUDITAR e o UNACON.
Deputada, na qualidade de representante dos servidores da CGU e da STN,
amanhã, no mais tardar na segunda-feira, dar uma contribuição específica da nossa
carreira para o debate, atacando os pressupostos macroeconômicos da reforma da
Previdência, porque todo o projeto da reforma está alicerçado na premissa de que o
País está quebrado, de que é preciso que sejam feitas reformas urgentes. Nós vamos
mostrar como esse discurso é panfletário e não se sustenta sob uma análise técnica.
Eu começo justamente com um trecho desse documento, que cita um artigo
publicado pelo IPEA recentemente, agora em 2015. Esta audiência é sobre o RPPS,
mas esse comentário específico é sobre o RGPS, e vou dizer por quê. Cito, então, o
artigo do IPEA: “O resultado da dinâmica da receita e despesa em relação ao PIB —
ele está falando do RGPS — foi que a necessidade de financiamento mudou de
patamar, caiu da casa de 1,7% do PIB para algo próximo a 1% do PIB nos últimos
anos. Tal resultado permite concluir que a hipótese de crescimento explosivo das
despesas e insolvência do INSS não é corroborada, pelo menos no curto prazo”. Isso
foi recente, nós estamos ainda nesse curto prazo, porque o artigo foi escrito em 2015.
Então, nós ainda estamos nesse curto prazo. Os autores propõem algum ajuste, mas
sem fazer alarde, sem propagar que o País está quebrado e que as contas vão
implodir num horizonte curtíssimo.
Uma curiosidade: quem escreveu o artigo? Marcelo Caetano, hoje Secretário
de Previdência, que diz que o País está quebrado e que é preciso fazer a reforma para
ontem. Marcelo Caetano escreveu o artigo em 2015, dizendo que não era preciso todo
esse alarde. Não negava ajustes, mas dizia que podiam ser feitos paulatinamente.
Agora, pelo menos por tudo o que se lê, ouve e vê do Sr. Marcelo Caetano, há um
alarde, e a reforma tem que ser feita já. E há essa publicação do IPEA de 2015 dizendo
que o País não estava quebrado.
Agora vou passar para o nosso ponto específico, que é o RPPS. Meus caros,
vocês sabem como estão as contas, pelo menos as da União — que nós
acompanhamos, não é, Floriano? —, em relação ao gasto de pessoal, incluindo os
inativos? Em 2002, o percentual de gasto de pessoal em relação ao PIB era de 4,8%.
Vocês sabem qual é hoje? É de 10%, 15%, 20%? Não. Hoje representa 4,1% do PIB
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o gasto com pessoal, incluindo os inativos. Ou seja, esses gastos vêm caindo
vertiginosamente, ano a ano, em relação ao PIB. E, com a Emenda Constitucional nº
95, vão cair ainda mais, porque os reajustes estão inviabilizados.
Os servidores que ainda não se deram conta têm que fazer os cálculos. Com a
possibilidade de expansão dos gastos de pessoal limitada à inflação do ano anterior,
o reajuste será de no máximo 4,5%, descontado o crescimento vegetativo da folha,
que é algo em torno de 3%. Ou seja, na melhor das hipóteses, se nós conseguirmos
abrir o processo negocial, o reajuste será de 1%, de 1,5%.
Então, minha gente, a nossa primeira luta é derrubar a reforma da Previdência.
Mas depois nós vamos ter que derrubar a Emenda Constitucional nº 95, senão, haverá
a corrosão certíssima dos salários nos próximos anos. Não há alternativa.
Ontem eu assisti estarrecido àquela pantomima que foi o discurso governista
na Comissão Especial. Por quê? Porque todos os Deputados da base afirmavam, meu
amigo Petrus, que o Governo havia concedido o possível inclusive para os servidores
públicos, e que havia melhorado a vida deles. Ouvindo os governistas, parece até que
a reforma como está no substitutivo é melhor do que o que nós temos hoje. Nós que
conhecemos, lemos e estudamos o texto perguntamos: melhor para quem?
Como o assunto é RPPS, falarei dos três grandes segmentos interessados na
questão. Para o pessoal que entrou no serviço público antes de 2003, o que melhorou,
Floriano? Piorou muito! Antes, pelo menos quem estava próximo da idade de se
aposentar — e já era arbitrário o critério de transição — tinha uma perspectiva de sair
com paridade e integralidade. Agora, como o Paulo Martins falou, alguns colegas que
poderiam se aposentar neste ano terão que trabalhar mais 10 anos, por conta de
alguns meses.
Eu não tenho dúvida nenhuma de que para quem entrou antes de 2003 piorou
muito. Exigem-se 62, 65 anos como idade mínima para a aposentadoria. Não
precisamos nos alongar. Todo mundo leu o texto e está consciente disso.
O segundo dos três grandes segmentos é formado pelos que entraram no
serviço público de 2003 a 2013.
O Governo foi a público — o Sr. Marcelo Caetano deu entrevistas —, dizendo,
sobre o que estava na Exposição de Motivos: “Foi um erro. Nós vamos dar um jeito
de enviar um aviso ministerial. Vamos mudar essa redação para excluir 20% das
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menores contribuições”. Fizeram isso? Não fizeram absolutamente nada. Pioraram a
situação.
Sabem o que vai acontecer a esse contingente de servidores que entrou no
serviço público de 2003 a 2013? Vamos falar, vamos colocar as coisas às claras.
Quem não puder prescindir de 30%, 40% da sua remuneração final vai ter que
trabalhar até os 75 anos de idade e sair na compulsória. É isso que vai acontecer,
pessoal. Não há alternativa, se for aprovado o texto do substitutivo.
Agora vamos ver o terceiro segmento: os servidores que entraram no serviço
público depois de 2013, já sob a égide da previdência complementar. O Dr. Marcelo,
do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário, Doutor em Direito Previdenciário,
mostrou os problemas da abertura da previdência complementar para os bancos. O
Paulo Martins e o Ely também falaram um pouco sobre isso.
Minha gente, aquilo que no texto original era uma sutileza ficou escancarado,
explícito. O Governo piorou muito a situação com o remendo que fez no substitutivo
ontem. Escreveu de forma a não deixar nenhuma dúvida. Parece até que o que
aconteceu aqui foi o mesmo que aconteceu com a reforma trabalhista — todos viram
quem foi que escreveu grande parte dos artigos.
Olhem o que está escrito:
Art. 40.......................................................................
§ 15-A. Permissão para que a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios possam, mediante
licitação, patrocinar não só planos de previdência de
entidades abertas mas também planos de previdência de
entidades fechadas de previdência complementar que não
tenham sido criadas por esses mesmos entes.
O texto não deixa dúvidas: abre, escancara a previdência complementar para
os bancos. Para quem ainda não se deu conta do que isso significa, ressalto que as
entidades fechadas de previdência complementar, como é o caso da FUNPRESP, não
visam o lucro — o lucro é dos próprios participantes — e têm uma estrutura
administrativa pequena, enxuta, com participação dos servidores no Conselho de
Administração, no Conselho Fiscal e nos comitês que acompanham os investimentos.
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Acabou! Com esse texto aprovado, minha gente, abre-se para os bancos. O
lucro vai ser o objetivo dos recursos que os servidores vão acumular ao longo de suas
vidas para a aposentadoria. Depois acontecerá o que disse o Ely: o fundo quebra. Foi-
se a aposentadoria.
Então, isso é gravíssimo. E mais grave ainda é o fato de o remendo ao
substitutivo ter sido elaborado por quem foi patrocinado, na sua campanha eleitoral,
por bancos que operam na previdência privada. Vemos lá que os financiadores de
campanha do Relator Arthur Maia foram Bradesco, Santander, Itaú, Safra. Enfim, não
dá! Não dá para aceitar esse tipo de coisa. É muito grave.
A reforma do Regime Próprio, como o Floriano disse, já foi feita. Hoje nós temos
na FUNPRESP 40.500 servidores. Vão arrecadar, em 2017, em torno de 350 milhões
de reais. São valores que, se o Governo já não tivesse feito a reforma lá atrás,
estariam entrando no caixa do Tesouro para cobrir as aposentadorias. Mas, como ele
já fez a reforma, é claro que a relação entre receita e despesa vai cair um pouco até
o sistema se ajustar. Pelas contas dos técnicos do próprio Governo, isso se ajusta em
15 anos, 20 anos. Essa foi uma opção feita lá atrás, e agora o Governo vem com o
discurso de que precisa reformar de novo. De novo? Fez isso em 2013.
Então, minha gente, é muito explícito que piorou, e piorou mais ainda para os
servidores. E agora, Deputada Erika, eu pergunto: por que o Governo teria piorado no
substitutivo, de forma teleguiada, a situação dos servidores públicos? Disso não tenho
dúvida. Se nós compararmos todos os segmentos, veremos que os que mais perdas
tiveram no substitutivo foram os servidores públicos.
Eu vou dizer o porquê. É uma hipótese, mas é uma hipótese muito plausível.
Vejam quem ainda está fazendo o maior combate à reforma da Previdência. Vejam se
não é a ANFIP, o SINDIFISCO, a UNAFISCO, o SINDILEGIS, o UNACON, o
FONACATE, a Pública. Vejam a produção dessas entidades que compõem o fórum.
Em dezembro nós começamos a trabalhar. No dia 6, o Governo apresentou o texto;
no dia 13, nós fizemos a primeira reunião; começamos a produção de material técnico;
realizamos audiências públicas e reuniões nesta Casa e em todo o País, muitas delas
baseadas no material que nós produzimos. Ou seja, a maior frente de resistência que
o Governo tem tido em relação à reforma da Previdência vem dos servidores públicos.
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Aquilo que era uma hipótese é certeza absoluta para mim. O substitutivo foi
apresentado como uma forma de retaliar as entidades do serviço público que estão
combatendo duramente essa arbitrariedade chamada reforma da Previdência.
Agora, não vão nos intimidar. O que a Magda, que é também do SINDILEGIS,
estava fazendo ontem com o Petrus, Deputada, correndo pelos corredores, colocando
os Parlamentares contra a parede, exigindo posição, isso vai aumentar, e vai
aumentar até enterrarmos a reforma. Esse movimento tem que aumentar aqui, tem
que aumentar nas ruas.
Nós precisamos, minha gente, construir uma grande greve geral do serviço
público, para dizer, com todas as letras, que nós não vamos aceitar a retaliação que
o Governo está fazendo.
Há outras questões envolvendo a Previdência. Eu não citei aqui todas as
entidades que estão realizando um trabalho belíssimo, mas poderia citar a
FENAFISCO, a CONAMP, a ANFFA, que está aqui, o SINAL. São várias entidades
que estão produzindo. E temos que produzir ainda muito material técnico.
Eu acho que é o momento também de repaginarmos a nossa luta contra a
reforma. É por isso que esta audiência é muito importante. Aquilo que fizemos nos
últimos 4 meses foi importante, foi fundamental, mas, daqui para frente, temos que
estabelecer uma outra tônica. E me parece que essa tônica passa necessariamente
pela construção da greve geral do serviço público. Somos 12 milhões e meio de
servidores no País. Temos condições de parar a máquina pública em todos os entes
federados. Temos que construir essa greve geral. Já fizemos isso em 2012, fizemos
isso em várias oportunidades. Temos como fazer isso. Isso depende do esforço de
cada um de nós. E esse esforço existe, é firme, é forte, é consistente, é competente,
e nós vamos fazê-lo.
Eu não vou me ater muito a outras questões da reforma, mas queria dizer que
está evidente que essa construção da narrativa foi importante para tornarmos
cristalino que o que está pautando não só essa reforma, mas também a trabalhista,
além da terceirização e de vários outros projetos de lei que estão tramitando, é o
interesse do mercado. Por quê? Às vezes temos que mencionar as obviedades,
porque a coisa é tão óbvia que podemos não querer acreditar. Este Governo hoje só
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se mantém pela força do mercado. Ele está com uma popularidade que se aproxima
de zero.
Aqui dentro, enquanto ele estiver negociando com Parlamentar isso e aquilo,
pode ser que ainda tenha alguma força. Mas quem mantém este Governo hoje, eu
não tenho dúvida nenhuma, é o mercado. É por isso que ele, como disse a Deputada
Erika, está fazendo o sacrifício de direitos sociais, para aplacar a voracidade do
mercado. Essa é uma constatação importante. E temos que denunciar cada vez mais
que o Estado brasileiro foi capturado pelo interesse econômico. É esse interesse que
está pautando todas as reformas que estão em curso.
O contexto social em que se dá a reforma também pode agravar muito mais a
crise. Temos um estudo do IPEA que mostra que, de 2003 a 2012, 24% da melhoria
da distribuição de renda no País decorreu da previdência pública. Um quarto da
melhoria da renda no Brasil aconteceu em decorrência da previdência pública. É
justamente essa transferência para os mais pobres que o Governo quer implodir e
jogar o dinheiro para a especulação.
Outra questão é o contexto econômico-fiscal. Repito: nós devemos
disponibilizar nesta semana um documento que mostra que os pressupostos da
reforma estão equivocados. O Governo faz uma reforma num mau momento
econômico-fiscal, em que houve duas quedas sucessivas do PIB, um aumento da
dívida pública, entre 2014 e 2016, de 56% para 70%. Enfim, há vários indicadores que
não são muito bons, mas o Governo se utiliza deles, que são temporários, dizendo
que a crise é passageira — por definição, crise é algo passageiro, senão não seria
crise. Mas ele usa a crise, que é passageira, para subtrair direitos sociais de forma
permanente. Então, há uma assimetria gigantesca entre o sintoma e a medicação
usada para a cura. Isso nós temos que denunciar. Temos que denunciar.
Nós vamos deixar isto mais explícito, com a nossa publicação: o Brasil não está
tão mal como o Governo apregoou — o próprio Sr. Marcelo Caetano escreveu isso
em 2015, como vimos. Por quê? Porque há mais de 1 trilhão de reais aplicados na
conta única do Tesouro; temos 365 bilhões de dólares em reservas; temos um
endividamento, apesar de alto, em moeda nacional, o que facilita a rolagem, e isso
depende da política monetária do Governo. Em suma, existe saída! Existe saída.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão de Legislação Participativa Número: 0410/17 04/05/2017
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Agora, a saída não me parece que seja pela austeridade fiscal. Por quê? É
muito simples. Eu não sou economista. Eu gosto de dizer que sou filósofo. Mas
qualquer um vê isso. Quando se tira dinheiro da mão do cidadão, o que acontece? Ele
não gasta, e não movimenta a economia, e aprofunda a crise. Se a situação continuar
assim, nós nunca vamos sair do buraco; pelo contrário, vamos aprofundá-lo, vamos
cavar mais ainda, e é isso que o Governo está fazendo. Vem fazendo isso desde que
tomou o poder de assalto.
A respeito de Seguridade e Previdência, há essa confusão que o Governo faz,
que já foi mais do que denunciada pela ANFIP. Há algumas questões atinentes a isso.
O Regime Próprio. O pessoal pergunta: “Mas por que o servidor sai com 10 mil, com
20 mil, e o trabalhador da iniciativa privada sai só com o teto do RGPS?” Porque o
servidor — isto é óbvio — contribui sobre 10 mil, 20 mil. Se o trabalhador da iniciativa
privada contribuísse sobre 10 mil, 20 mil, ele não teria o teto do RGPS, ele teria um
teto correspondente à sua contribuição.
É algo claro, mas, eu repito, temos que falar o óbvio às vezes, para o pessoal
se dar conta do que está acontecendo, dessa manipulação de informações que o
Governo tem feito propositalmente para tentar empurrar goela abaixo dos
trabalhadores essa e as outras reformas.
Esse é um assunto complexo. Teríamos mais elementos para tratar. Mas eu
fico por aqui dizendo o seguinte, pessoal: nós vamos ter que sair daqui e começar,
nos próximos dias, a trabalhar em favor de uma grande greve geral do setor público.
Não há outra alternativa, não há meio-termo. Nós vamos ter que parar o País, e nós
conseguimos parar o País parando a máquina pública. Vamos ter que dizer algo mais
uma vez. Já dissemos no dia 15 de março, já dissemos no dia 28 de abril, mas agora
nós vamos ter que fazer algo mais forte, mais profundo, para realmente mostrar que
o Governo não pode simplesmente retaliar o serviço público da forma como está
fazendo, para que nos calemos. Nós não vamos nos calar. Vamos continuar
combatendo essa e as outras reformas enquanto tivermos força.
Muito obrigado.
À luta, companheiros! (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Erika Kokay) - Eu agradeço ao Rudinei
Marques.
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Anuncio e agradeço a presença de Victor Hugo de Azevedo, que é o 1º Vice-
Presidente da CONAMP, a Associação Nacional dos Membros do Ministério Público.
Nós vamos proceder da seguinte forma: vamos escutar ainda os outros
expositores; depois, vamos possibilitar que algumas pessoas falem pelo prazo de 3
minutos, e a prevalência será de Parlamentares, se aqui estiverem presentes, como
prevê o Regimento.
Mas quero antes pontuar algumas coisas. Essa fala, em 2015, é daquele que é
o grande mentor da reforma da Previdência e ao mesmo tempo faz parte do Conselho
de Administração de uma das maiores empresas de previdência privada aberta do
Brasil, a BRASILPREV.
A previdência fechada tem por volta de 750 bilhões de patrimônio e não tem
lucro, não tem a perspectiva do lucro. Ela é vinculada às próprias corporações ou
instituições e atua especificamente naquele universo de previdências fechadas.
Há um projeto que a todo o momento entra na pauta e volta, e tal, para romper
com a lógica de democratização da previdência privada, porque tiraram a paridade,
um projeto de lei complementar ainda da época do Governo Fernando Henrique
Cardoso, fruto de uma CPI dos fundos de pensão que aconteceu nesta Casa, no
Congresso, e que estabelecia a paridade nos conselhos fiscais e deliberativos. Nós
queríamos avançar no sentido da paridade no conselho diretivo, ou seja, na direção.
Em grande parte, os fundos que têm maior democracia são aqueles que têm
melhor performance. Os fundos que têm uma menor democracia, como a POSTALIS,
por exemplo, são fundos que apresentam um maior número de problemas, porque se
tira o poder de fiscalização de um patrimônio imenso, de uma captação imediata, para
uma aplicação em longo prazo, em 20, 30 anos, que é a complementação das
aposentadorias.
Nós estamos com um projeto, de autoria do Executivo, que rompe com a
paridade, ou seja, metade do Conselho é eleita pelos participantes, e metade é
indicada. Há também o voto de qualidade, que querem tirar, no Conselho Fiscal do
participante e no Conselho Deliberativo da patrocinadora, para que se possa, enfim,
fazer o contrapeso. O Governo quer mudar isso. Ele quer colocar dois eleitos da
patrocinadora e dois eleitos do mercado. O mercado significa ter experiência. Vai-se
colocar quem? Não os conselhos deliberativos e fiscais dos fundos de pensão
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fechados. Vai-se colocar o mercado, que irá abocanhar um espaço imenso com a
reforma da Previdência. Quem pode vai pagar pela complementação, vai para o
mercado pagar uma complementação. Com a PEC do Teto dos Gastos, quem pode
vai para a saúde privada, vai para a educação privada, porque vai haver um
congelamento.
Nisso Rudinei tem razão. A questão da PEC, que já é a Emenda Constitucional
nº 95, de 2016, tem que ser enfrentada. Nós estamos falando de 20 anos de
congelamento. E 88% das despesas primárias são obrigatórias. Estamos falando da
inevitabilidade, da contenção das despesas obrigatórias. Não estamos falando das
despesas discricionárias, que, já de pronto, estão vetadas; estamos falando das
despesas obrigatórias, como o custeio de máquinas, como o pagamento de
servidores, enfim. Essas despesas representam 88% das despesas primárias, que
estão congeladas e vão ter um reajustamento de mais ou menos 4,5%.
Em um processo recessivo, a inflação cai, porque há uma diminuição da
demanda. A inflação congela ou diminui, mas não há a diminuição das taxas de juros
na mesma proporção, nem se faz uma discussão, porque a lógica do Governo é
absolutista. Não se discute como empoderar, fortalecer a Previdência.
Quando o salário mínimo aumentou e também o nível de formalização no Brasil,
as receitas superavam as despesas na Previdência, no INSS. E não se discute outra
forma, como o fortalecimento do mercado interno, de modo que se ative a produção e
se gere emprego. Esse seria um modelo de desenvolvimento para o Brasil. Mas, ao
contrário, faz-se com que o Brasil seja entregue aos pedaços ao mercado, que não
tem qualquer tipo de compromisso.
Vou repetir o que foi essa medida provisória, Rudinei. Está-se dando uma
concessão, e, em troca, a empresa, que tem um plano de investimento, se
compromete a investir, ou na ferrovia ou no aeroporto ou na estrada. E eles aprovaram
que se pode renovar, prorrogar a concessão de forma antecipada, sem licitação e sem
o cumprimento do plano de investimento. Pode-se dizer: “Ah, apenas cumpriu o plano
de segurança, não cumpriu o plano de investimento”. Mesmo assim, estaremos
renovando, ou seja, prorrogando a concessão. “Não pode cumprir? Então vamos
aumentar a tarifa, para que possa cumprir”.
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Isso significa que nem a contrapartida para uma concessão, que, seguramente,
gera lucro, está sendo exigida. É absolutamente livre. O mercado assume o serviço
público, uma concessão pública, e não cumpre o que seria o contrato inicial. Mesmo
assim, vai haver a prorrogação da concessão de forma antecipada. Portanto, não
precisava ser medida provisória. Estamos falando de concessões com vigências de
10 anos, de 20 anos. Não precisava ser medida, não há urgência nisso para justificar
uma medida provisória. Mas fizeram concessões para o mercado, sem que se possa
ter como centralidade o próprio País e o povo trabalhador. É isso o que nós estamos
vivenciando no Brasil. É a isso que nós temos que resistir. E a reforma da Previdência
é indício disso. Não podemos esquecer nunca que é um indício deste processo que
se vai expressar na terceirização e na reforma trabalhista.
Nessa proposta que está aqui de reforma trabalhista rural, os trabalhadores
podem trabalhar por 18 dias sem repouso remunerado. Os trabalhadores podem
receber parte da sua remuneração não em salário, mas em habitação ou em
alimentação. É o que havia na escravidão. Em determinadas circunstâncias, os
trabalhadores não precisam ter banheiro, nem condições para alimentação. Isso está
aqui na Casa, numa reforma trabalhista! Por exemplo, se houver uma máquina
quebrada, e isso atrasar a empreitada, o trabalhador pode ter que trabalhar 12 horas
— isso no campo, o trabalhador rural. Isso está aqui! Portanto, todos os dias tira-se
uma lasca de direitos, uma lasca do Estado soberano e da proteção social.
Disse bem Rudinei que 98% dos idosos no País têm proteção social. E não
terão mais com essa reforma, se ela for aprovada.
Eu queria registrar a presença do Deputado Leonardo Monteiro, que em
instantes vai assumir a Presidência dos trabalhos desta audiência; do Sr. Celso
Malhani de Souza, Diretor de Aposentados e Pensionistas da Federação Nacional do
Fisco Estadual e Distrital — FENAFISCO; e do Sr. Jordan Alisson Pereira, Presidente
do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central — SINAL, que já está se
inscrevendo para fazer uso da palavra, tão logo a Mesa conclua suas exposições.
Passo a palavra ao Sr. Mauro Silva, que aqui representa a Associação Nacional
dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil — UNAFISCO. Em seguida, vamos
passar a palavra ao Presidente do Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo
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Federal e do Tribunal de Contas da União — SINDILEGIS. Depois, as pessoas que
se inscreveram falarão.
Tem a palavra o Sr. Mauro Silva.
O SR. MAURO SILVA - Bom dia a todos.
Quero cumprimentar, inicialmente, a Deputada Erika Kokay, que, como já foi
esclarecido anteriormente, teve a iniciativa de propor a realização desta audiência; os
demais Parlamentares presentes; colegas servidores aqui presentes; aqueles que nos
assistem; colegas de Mesa.
Vamos passar à nossa apresentação.
(Segue-se exibição de imagens.)
O objeto de estudo da nossa apresentação é o Regime Próprio de Previdência
Social — RPPS. Vamos tratar de algumas questões específicas, basicamente, em
dois pontos. Trataremos de desmontar a possibilidade que o Governo nos apresenta
de avaliar a sustentabilidade do Regime Próprio com base no déficit ou superávit.
A parte principal da nossa apresentação é discutir essa premissa do Governo
em relação à sustentabilidade do RPPS e como isso pode ser avaliado. Ao final,
vamos fazer um comentário sobre a questão da segurança jurídica.
O discurso oficial nos diz que é necessário fazer essa reforma para melhorar a
sustentabilidade do sistema previdenciário, e que essa sustentabilidade seria avaliada
pelos déficits ou superávits. Essas são as premissas do discurso oficial. É justamente
esse ponto que eu quero mostrar como falso, com dois exemplos e usando método
científico. Não é possível analisar a sustentabilidade do sistema previdenciário pelo
déficit ou mesmo pelo superávit.
Segundo o Governo, o Regime Próprio é deficitário, logo, direitos precisam ser
cortados, o servidor precisa se aposentar aos 65 anos, não é possível respeitar as
regras de transição já existentes e por aí vai. Esse é o discurso oficial. Então, vamos
mostrar como isso é falso, através de dois exemplos.
Testaremos esta hipótese com método científico: “Déficit ou superávit é uma
boa medida para avaliarmos a sustentabilidade de um sistema previdenciário?”
Vamos dar dois exemplos para testar essa hipótese.
No primeiro exemplo, temos um sistema previdenciário hipotético, em que todo
o mundo começa a contribuir aos 45 anos e pode se aposentar aos 50 anos e com 5
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão de Legislação Participativa Número: 0410/17 04/05/2017
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anos de contribuição. E vai se aposentar, nesse sistema, com o dobro do salário. Esse
exemplo eu tirei de um artigo publicado no Estadão de autoria de Bernardo Appy. Salta
aos olhos, numa avaliação prévia, a insustentabilidade desse sistema: contribui-se
durante 5 anos e se aposenta com o dobro do salário.
Mas, vejam, no primeiro ano de existência desse sistema, ele é superavitário,
pois só temos contribuições. No segundo ano, ele é superavitário, e também no
terceiro, no quarto, no quinto e até mesmo no sexto ano. Então, o sistema hipotético
do exemplo 1, que é notoriamente insustentável, estaria superavitário nos anos
primeiro, segundo, terceiro, até o ano sexto.
Trago outro exemplo, que é o extremo oposto do primeiro. No exemplo 2, temos
um sistema previdenciário onde os trabalhadores começam a trabalhar aos 18 anos e
se aposentam aos 73 anos, depois de contribuir durante 55 anos. Se for feita uma
análise de déficit ou superávit, no 56º ano desse sistema não haverá ninguém mais
contribuindo, e todos estarão com os seus benefícios. Nesse sistema previdenciário,
que é notoriamente sustentável, no qual todos ingressaram jovens e contribuíram por
55 anos, no 56º ano será um sistema deficitário.
Então, no exemplo 1, tenho um sistema previdenciário notoriamente
insustentável, mas do primeiro ao sexto anos ele é superavitário. E no exemplo 2,
tenho um sistema previdenciário notoriamente sustentável, mas, no 56º ano, ele é
deficitário.
Por esses dois exemplos extremos, chegamos a uma conclusão. Na medida
em que se pega uma proposta, uma hipótese, e já se encontra um resultado falso, ela
é cientificamente falsa. Não importa quantos pontos positivos ela tenha tido, se houve
apenas um negativo, ela é falsa. Então, é falsa a ideia de que — usou-se um método
científico para chegar a essa conclusão — se possa analisar a sustentabilidade de um
sistema previdenciário falando em déficit ou superávit. Tanto o superávit como o déficit
pode enganar, depende de quando se está analisando. E o exemplo 1 e o exemplo 2
mostram isso.
Disseram que, a certa altura, usaram contribuições para a Previdência para
construir a Ponte Rio-Niterói ou outras obras públicas. Trata-se do exemplo 2. Do 1º
ao 55º ano, para onde foi o recurso?
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Está claro, cientificamente provado, que eu não posso usar nem déficit nem
superávit como critério para analisar sustentabilidade.
Indo adiante, há outro motivo ainda, que se refere especificamente ao RPPS,
pelo qual eu não posso usar, principalmente desde 2013, déficit ou superávit como
medida de análise. O motivo é que, simplesmente, a partir do surgimento da Fundação
de Previdência Complementar do Servidor Público Federal — FUNPRESP, em 2013,
não ingressam mais servidores que contribuem com a totalidade da contribuição! Não
ingressam mais servidores!
Se antes eu poderia falar em déficit ou superávit — também defendo que não
poderia —, a partir daquele momento, como mostrei, não poderia. Eu mostrei que em
nenhum momento posso defender o sistema previdenciário falando em déficit ou
superávit. Mas ainda que pudesse, a partir de 2013, posso menos ainda! Como vou
discutir déficit ou superávit do RPPS, se eu não permito que ali entrem novos
contribuintes? É impossível!
Eu não sei como está. O Governo diz que o RPPS, juntando-se o civil e o militar,
está em 74 bilhões ou 76 bilhões de reais. Mas esta Casa, o Congresso Nacional e o
Governo, em 2013, “decretaram” que, se existiam déficits no RPPS, eles realmente
seriam crescentes, porque só haverá aposentados, não haverá contribuintes. A cada
dia, o número de aposentados aumenta, e o número de contribuintes não existe mais,
não aumenta no RPPS. Eu falo não do RPPS - FUNPRESP, mas do RPPS tradicional,
antigo. Não se pode, como já não se poderia antes, conforme mostramos com os
exemplos 1 e 2, analisar a sua sustentabilidade com base em déficit ou superávit;
depois de 2013, muito menos.
Se nós analisarmos a sustentabilidade desse RPPS, antes de 2013, com base
em déficit ou superávit, Deputada, eu já sei o teor da próxima reforma: “Art. 1º
Executem todos os servidores públicos deste País que estão nesse regime. Art. 2º
Revoguem-se as disposições em contrário”, ou seja, paredão para todo mundo. Só
haverá equilíbrio com a morte de todos, porque não há mais ingresso de novos
servidores no RPPS, por opção da FUNPRESP.
Portanto, os dois exemplos que eu dei mostram, com método científico, que é
impossível tratar de um sistema previdenciário qualquer, não só do RPPS, falando em
déficit ou superávit.
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A terceira situação envolve a criação da FUNPRESP. A partir daí não ingressa
mais ninguém. Como eu posso exigir superávit no RPPS, no qual eu não permito
ingresso de mais ninguém?
Mas vamos pensar essa relação para supor um superávit financeiro no RPPS:
nós teríamos que ter — lembrando que, no caso da União, o servidor contribui com
11% da sua remuneração total, e a União deve contribuir com 22%, que é a parte do
empregador, prevista na lei — três ativos para um aposentado. Mas eu disse que não
entrou mais ninguém. Então como vai ser respeitada essa conta de três ativos para
um aposentado? Quando será respeitada, para se falar de superávit financeiro? De
hoje para diante, nunca mais! Nunca mais nós vamos falar em RPPS tradicional
superavitário, primeiro porque esse critério não serve; segundo porque, com a criação
da FUNPRESP, não há ingresso de mais ninguém.
O que nós propomos, indo adiante, é que reflitamos e analisemos essa
sustentabilidade com base no que existe em alguns países: uma tal capitalização
referencial.
Basicamente existem três sistemas de previdência: o primeiro é o de repartição
simples, que é o que se usa em geral, o que está em vigor no Brasil, tirando a
FUNPRESP. Nesse sistema, as aposentadorias são pagas por aqueles ativos atuais.
Temos alguns exemplos: Áustria, Bélgica, Canadá e Brasil.
O segundo é o sistema de capitalização, em que cada trabalhador tem sua
conta, na qual são depositadas as contribuições, e estas são convertidas em ativos.
Esse é o modelo da FUNPRESP.
Existe também, em outros países, o modelo chamado nocional, o sistema de
capitalização nocional, que aqui estamos traduzindo para capitalização referencial.
Nele há contas individuais que são controladas sem separação de patrimônio. Apenas
são controladas as contribuições dos trabalhadores e dos empregadores, rendendo
juros. Com essa conta se forma o patrimônio, e com esse patrimônio, então, é que se
vai verificar como ele está financiando o benefício, a aposentadoria ou a pensão
decorrente dessa aposentadoria desse trabalhador, desse servidor. Isso é o que
acontece, por exemplo, na Suécia, na Itália, na China e na Rússia. Vejam que nós
temos pelo menos dois membros do BRICS que adotam esse sistema de capitalização
nocional, ou capitalização referencial.
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Não há separação de patrimônio, senão as contribuições atuais não
conseguiriam ajudar no financiamento dos atuais aposentados. Há uma conta
referencial que se faz desse patrimônio, pegando-se todas as contribuições de cada
indivíduo. No nosso levantamento, que devemos mostrar daqui a pouco em tabela
corrigida pela taxa SELIC, que é um investimento seguro, porque o Governo se
financia com a dívida, pegando a contribuição individual mais a contribuição da União.
Nós podemos ir diretamente à tabela 1. Eu fiz esse levantamento relativo a um
servidor de remuneração de 15 mil reais. Este é um exemplo que poderia ter sido feito
em relação a qualquer nível. Colocamos, então, as contribuições individuais e a
contribuição da União e uma remuneração pela taxa SELIC, considerando que, num
cálculo conservador, anualmente essa remuneração sobe pelo INPC, mais 1,5%, que
seria uma progressão na carreira. Pode ser um pouco mais ou um pouco menos, mas
consideramos 1,5% de progressão na carreira mais o INPC.
Como seria formado esse patrimônio ano a ano? Está nesta tabela, para quem
quiser ver — não vou mostrá-la exaustivamente —, ano a ano, até o 35º ano,
demonstrado financeiramente o que eu vou dizer. A partir do 36º ano, portanto, pois
depois de 35 anos de contribuição há a aposentadoria, o que acontece, então? Quanto
tempo de aposentadoria esse patrimônio consegue financiar? Ad aeternum. Eu peguei
o rendimento de uma taxa SELIC média dos últimos 20 anos pelo Banco Central. Eu
peguei os últimos 20 anos, Plano Real, hein? Não peguei Sarney, hiperinflação, nada
disso. Eu peguei uma taxa SELIC média de 1,12% e peguei um INPC médio dos
últimos 20 anos, de 0,54%, para fazer essa conta. Digo isso só para os senhores
saberem de onde veio isso.
O que acontece, então? Com esse patrimônio formado, no 36º ano, por que eu
passo a ter uma aposentadoria ou uma pensão ad aeternum? Porque o rendimento
do patrimônio é maior do que o valor da aposentadoria a ser paga. Na verdade, o
patrimônio de um servidor paga três aposentadorias.
O que eu quero mostrar é que, entre as opções a serem analisadas — não
quero dizer que esta é a única... Primeiro eu quero dizer, demonstrando
cientificamente, que déficit ou superávit não servem para analisar sistema
previdenciário. Quero mostrar também que uma das opções pode ser esta
capitalização referencial, de modo a atestar que as contribuições capitalizadas teriam
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão de Legislação Participativa Número: 0410/17 04/05/2017
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formado um patrimônio tal que pagariam a aposentadoria do servidor e ainda sobraria
muito.
Isso é o que mostramos nas tabelas 1 e 2, que vou deixar disponíveis, para
desmistificar a ideia de superávit e déficit e desmistificar a ideia de que o RPPS é o
vilão da Previdência. Parece que essa é a ideia que teria ficado. Se ele mirou todas
as suas energias em retirar direitos, parece que a ideia é que o RPPS é o vilão, porque
tem 72 bilhões de reais. Mas todas as contribuições que já foram feitas e toda a conta
dessa capitalização, que não é feita, não são divulgadas.
Eu quero lançar a semente desta ideia de se analisar a sustentabilidade do
RPPS com base em um índice de capitalização referencial, por exemplo. Do contrário
— é preciso dizer isso muito claramente, e eu não tenho medo de dizer —, se existe
um déficit do RPPS hoje, ele será maior no ano que vem. É claro! Não está entrando
ninguém!
Eu mostrei que déficit e superávit não servem para analisar sustentabilidade de
sistema previdenciário. Essa ideia de déficit ou superávit não serve. Por outros
elementos, eu mostro que, sim, o RPPS, antes de 2013, para os servidores
ingressados até 2013, é sustentável, sim. Não só é sustentável, como também o
patrimônio de um servidor paga a aposentadoria ad aeternum de três servidores.
Peço só mais 1 minuto, Deputada, para eu fazer um comentário sobre
segurança jurídica, pois todos nós ficamos espantados com a mudança das regras de
transição e como isso afeta a vida de todos nós, os planos que foram feitos desde o
início das nossas vidas.
Eu quero dizer que há proteção jurídica, sim, para a ideia de previsibilidade da
vida jurídica. O princípio da segurança jurídica foi e é defendido pela própria Ministra
Carmen Lúcia, hoje Presidente do Supremo Tribunal Federal, como o direito da
pessoa à estabilidade em suas relações jurídicas.
Eu trago também uma citação de Tércio Sampaio Ferraz, professor da
Universidade de São Paulo — USP. Para que serve a segurança jurídica? Serve para
evitar que um passado, aquele passado em que se fez um concurso e dedicou sua
vida ao serviço público, de repente se torne estranho e surja no futuro algo opaco e
incerto. É para evitar isso que serve a segurança jurídica.
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E a duração dos anos é uma coleção de surpresas. Parece que ele estava
profetizando a nossa situação diante disso. A cada 2 anos nós estamos vendo uma
reforma da Previdência com uma coleção de surpresas. É para isso que existe o
princípio da segurança jurídica, que, certamente, nós iremos utilizar.
Mas tenho fé que, com a queda do projeto, ainda em discussão na Câmara,
com a derrubada dessa reforma da Previdência, não vamos precisar nos socorrer do
STF para essa questão. Nós sabemos, sim, que essa expectativa, essa vida
construída, essa previsibilidade em relação aos nossos direitos, à construção da sua
vida, tem proteção, sim, no nosso ordenamento jurídico. Tenhamos consciência disso.
Nós iremos, tenho certeza, com o apoio de Parlamentares como a Deputada
Erika Kokay e outros aqui presentes e de muitos outros que estão apoiando esse
movimento contra a reforma da Previdência, derrubar esse projeto, essa PEC, ainda
nesta Casa, na Câmara.
Eu quis fazer o registro de como essas mudanças das regras de transição da
transição, da transição, têm afetado a segurança jurídica e a vida das pessoas. Quero
deixar o registro de que há, sim, proteção jurídica, mas, antes disso, há, sim, o trabalho
do Parlamento e o nosso trabalho, pressionando o Parlamento para que essa PEC
não seja aprovada.
Agradeço a oportunidade. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Erika Kokay) - Quero agradecer ao Dr. Mauro
Silva a contribuição.
Registro a presença e agradeço ao Sr. Romulo Luiz Mateus da Silva,
Coordenador-Geral da Associação Nacional dos Agentes de Segurança Institucional
do MPU e CNMP — AGEMPU; ao Sr. Edmilton Gomes, Coordenador-Geral em
exercício da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério
Público da União — FENAJUFE; à delegação de servidores do Judiciário Federal
Fluminense; ao Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no Estado do Rio de
Janeiro — SISEJUFE; à Sra. Adriana Barbosa Rocha de Farias, Coordenadora
Jurídico e Parlamentar da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário
Federal e Ministério Público da União; ao Sr. Wite Franco Villela, Presidente da
Associação dos Servidores do STJ e do CJF — ASSTJ; à Sra. Vera Jatobá, Diretora
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do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho — SINAIT; e ao Sr. Cristiano
Moreira, Coordenador da FENAJUFE e do SINTRAJUFE do Rio Grande do Sul.
Nós vamos, neste momento, passar a palavra ao proponente desta audiência,
que é o Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas
da União — SINDILEGIS, o qual fez a proposição para que nós pudéssemos realizar
esta discussão, na pessoa do Sr. Petrus Elesbão. Durante a fala dele, vamos colher
as inscrições das pessoas que queiram fazer uso da palavra. É só levantar a mão,
que recolhemos a inscrição. Alguns já estão inscritos, mas levantem as mãos.
Quando cessar a fala de Elesbão, nós vamos encerrar as inscrições. Então, é
só levantar a mão que colhemos a inscrição. Será dado o período de 3 minutos, com
a prevalência para os Parlamentares inscritos, de acordo com o Regimento.
Concedo a palavra a Petrus Elesbão, que é Presidente do SINDILEGIS,
proponente desta audiência. (Pausa.)
Antes, quero só dizer que estamos discutindo a fim de fazer um documento
desta audiência pública. Com esse recorte, com todas as contribuições valiosas,
riquíssimas contribuições, queremos fazer um documento o mais rápido possível,
porque a reforma está em curso. Queremos disponibilizar o conteúdo desta audiência
tanto através dos meios virtuais como também dos meios impressos.
Por isso, é importante que as pessoas que fizerem o uso da palavra, de forma
clara, digam seus nomes e também a entidade que representam, se porventura
estiverem representando alguma entidade.
Com a palavra Petrus Elesbão, que é Presidente do SINDILEGIS, proponente
desta audiência pública.
O SR. PETRUS ELESBÃO - Bom dia a todos.
Sra. Deputada, Sras. e Srs. Deputados, o intuito desta convocação é
continuarmos em luta, porque, a partir de agora, temos duas opções. Quais são essas
opções? Ou vamos à luta para reverter esse quadro ou aceitamos e trabalhamos até
a morte.
O que vai acontecer? Passam os 65 anos, e, daqui a 5 anos, uma nova emenda
constitucional vai vir, porque o problema, o âmago da questão, não está sendo
resolvido. Eles vão tirar mais direitos. A expectativa de vida passa para 75 anos.
Então, o servidor público vai trabalhar até os 75 anos. E, aí, um ou outro de nós vai
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estar lá com 75 anos trabalhando e, quando estiver com 74 anos e 10 meses: “Não, a
expectativa de vida agora é de 80 anos.” O servidor público vai trabalhar até os 80
anos. E assim vai. Como já se falou, vão matar todo mundo, porque vai ser a solução,
e não vamos aposentar. Mas nós temos uma opção: vamos à luta, vamos ao
enfrentamento. Isso é que é importante.
Então, esta é a finalidade maior: não vamos esmorecer; vamos aumentar a
pressão nos Estados. Aqueles que tiverem condições — e nós contribuímos para isso
— pressionem os Parlamentares nos Estados. Eles também estão incomodados.
Vamos denunciar esse troca-troca de cargos que o Governo está fazendo nas
votações. O Parlamentar não está votando com sua consciência.
Não se pode trocar a vida de milhões de brasileiros por um cargo. O que vale
um cargo numa autarquia, o que vale um cargo numa estatal, em função de milhões
de brasileiros que estão tendo seus direitos subtraídos? Então, a finalidade maior é
essa.
Eu gostaria de agradecer aos oradores que me antecederam, que falaram
brilhantemente, e deixar uma semente, porque a luta continua. E nós só fizemos o
aquecimento. Essa fase da PEC na Comissão foi só aquecimento.
Quem jogou bolinha de gude há muito tempo lembra que nós tínhamos: o “na
brinca” e o “na vera”. Agora é “na vera”, é plenário. E, lá, uma vez aprovado, Inês é
morta. Então, todos os nossos esforços de convencimento junto aos nossos colegas,
junto aos nossos familiares, junto à juventude são superimportantes. É pressão total
agora! Não tem descanso!
E eu queria falar também que o SINDILEGIS apoia todos os movimentos.
Vamos juntos, vamos para o Brasil todo. Se for o caso, vamos até a greve! Vamos,
sim, até a greve, porque isso é importante.
A história é feita pelos vencedores, e temos a oportunidade única de escrever
a nossa história, de falar para os nossos filhos e para os nossos netos: “Eu fiz parte
dessa história, eu combati um gigante!” Sabemos que estamos combatendo um
gigante, porque o Governo tem mecanismos de sobra, tem emenda de Orçamento,
tem cargos, tem a comunicação, tem a televisão toda na mão dele.
Reparem nos programas de televisão, principalmente nos jornais. Eu nem
assisto mais ao jornal, porque só vejo notícia de um lado, falando que a reforma tem
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de ser feita, que os dados apontam para não sei quantos bilhões de déficit. Nós
sabemos que isso não é verdade. Eles estão praticamente querendo fazer uma
lavagem cerebral no povo brasileiro. E cabe a nós que temos a verdade na mão lutar,
com convicção, pois nós não podemos deixar passar essa reforma. Vamos fazer a
opção de entrar para história como vencedores, cada um fazendo a sua parte. É de
extrema importância, repito, a nossa união e que cada um saia daqui convencido e
convicto de que está numa luta certa, numa luta que é importante para todo o Brasil,
não só para nossos familiares.
Por que pegar o servidor para bode expiatório? Há alguma questão que ainda
não está bem explicada. O que o Governo está querendo esconder de nós? É como
se dissesse: “Vamos colocar o foco no servidor público, porque, enquanto tiver este o
foco aqui, poderemos trabalhar outras questões”.
E vou dizer, é bom que isso aconteça, há males que vêm para bem. Por que?
Porque, a partir de agora, nós temos que botar na nossa cabeça o seguinte: nós temos
sim que participar da reforma da Previdência; nós temos sim que participar da reforma
trabalhista; nós temos sim que participar da reforma política. Então, nós temos que
começar a concentrar a discussão em fóruns e emitir nossa opinião, porque a reforma
política também nos atinge, a reforma trabalhista também nos atinge, a terceirização
também nos atinge. Ou seja, tudo aquilo que atinge a sociedade também vai nos
atingir a partir de agora. Nós não podemos mais ficar de fora, nenhuma luta deixa de
ser importante para sociedade.
Esse é o chamamento que eu queria fazer aos senhores e lhes agradecer.
Quero agradecer especialmente à Deputada, porque, quando nós ligamos para ela
pedindo apoio para a apresentação do destaque, ela prontamente nos apoiou — isso
é importante que seja ressaltado —, assim como o Deputado Nemer sempre tem nos
apoiado nessa luta do servidor público.
“Quem não luta pelos seus direitos não é digno deles” — Rui Barbosa.
(Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Erika Kokay) - Obrigada.
Antes de anunciar as pessoas que se inscreveram, quero registrar a presença
do Deputado Rôney Nemer e do Deputado Lincoln Portela, que já presidiu esta
Comissão, e o fez de forma muito democrática, honrando o Parlamento brasileiro, que,
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muitas vezes, não exerce a pluralidade e não ecoa a voz da própria população. Mas,
durante a gestão do Deputado Lincoln Portela, a voz do povo brasileiro ecoou nesta
Comissão de Legislação Participativa.
Eu queria agradecer a presença do Sérgio Ronaldo, que também está inscrito
para falar; do Valter Cezar Figueiredo, do SINDSEP do Maranhão; do Carlos Alberto
de Almeida, do SINDSEP de Mato Grosso; do José de Assis, do SINDSEP do Ceará.
Esclareço aos Parlamentares que eles têm prevalência para falar, se assim o
quiserem.
Estão inscritos para fazer uso da palavra o Jordan Alisson Pereira, Presidente
do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central — SINAL; a Daniela Gomes,
Professora de Direito Tributário e Direito Constitucional do Instituto Federal de Brasília
— IFB; a Adriana Faria, Coordenadora Jurídico-Parlamentar da Federação Nacional
dos Trabalhadores do Judiciário Federal, do Ministério Público da União —
FENAJUFE; o Cristiano Bernardino Moreira, Coordenador da FENAJUFE e Diretor do
Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal — SINTRAJUFE do Rio Grande do
Sul; o Ogib Teixeira de Carvalho Filho, Presidente da Federação Nacional dos
Servidores dos Órgãos Públicos Federais de Fiscalização, Investigação, Regulação e
Controle — FENAFIRC; o Edmilton Gomes, Coordenador-Geral em exercício da
FENAJUFE; o Sérgio Ronaldo da Silva, Secretário-Geral da Confederação dos
Trabalhadores do Serviço Público Federal —CONDSEF/FENADSEF; a Rosana Sacco
dos Anjos, servidora aposentada do Judiciário Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul;
e o Paulo Rosa, do SINTRAJUFE do Rio Grande do Sul.
São nove inscritos. Nós vamos utilizar o tempo de forma muito peremptória,
serão, no máximo, 3 minutos para cada um dos inscritos.
Solicito ao Deputado Lincoln Portela, em seguida, que ocupe por algum período
esta Presidência.
Após as nove falas, passaremos a palavra para cada um dos componentes da
Mesa, por 2 minutos, para que possam fazer suas considerações.
Então, de imediato, eu passo a palavra ao Sr. Jordan Alisson Pereira, que é
Presidente do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central — SINAL.
O SR. JORDAN ALISSON PEREIRA - Bom dia, Deputada Erika Kokay, que
está presidindo esta sessão, bom dia a todos os presentes.
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Primeiramente, saúdo a iniciativa do SINDILEGIS, de sugerir a realização desta
audiência pública para discutirmos especificamente o Regime Próprio de Previdência
dos Servidores Públicos.
Nós tivemos aqui nesta manhã várias falas técnicas da Associação Nacional
dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil — UNAFISCO, da Associação
Nacional de Auditores Fiscais da Receita Federal — ANFIP. Nós pudemos perceber
que o discurso do Governo acaba caindo em contradição.
Mas, independentemente da fala técnica, que é boa para dar subsídios e para
mostrar que nós sabemos do que estamos falando, temos que perceber que estamos
no momento de pressão.
Representando FONACATE, o Rudinei Marques falou bem, ao trazer as
mudanças que o Governo tem feito. O Governo tem feito algumas mudanças de
acordo com a pressão popular. A cada momento, o Relator vinha com uma ideia: “Vou
modificar isso, vou modificar aquilo”, sentindo aquilo que seria mais palatável. Então,
ele vai fazendo essas adaptações.
Ele colocou o foco agora no servidor público, depois da nossa reação. E nós
precisamos agora, como disse o Rudinei, intensificar essa pressão. Os servidores
públicos precisam estar unidos neste momento para tentar reverter essa retirada de
direitos que estão colocando sobre nós.
Houve aqui uma apresentação que lembrou a instituição da Fundação de
Previdência Complementar do Servidor Público da União — FUNPRESP. Quando a
FUNPRESP foi instituída, já estava precificado, de certa forma, aquele passivo. Se
formos pegar a análise da UNAFISCO, vamos verificar que nem seria
verdadeiramente um passivo. Mas isso já estava precificado. Com aquelas regras de
transição, naquele momento, já se tinha consciência de que, por um período, se teria
de bancar essas aposentadorias, e o problema da previdência do servidor público
estaria resolvido para com a instituição da FUNPRESP.
Agora, o que acontece? O Governo, na hora que vem com discurso da reforma
da Previdência, traz todo um problema orçamentário e uma discussão de que
devemos respeitar contratos para algumas situações. Na hora em que vê a lógica do
mercado, é preciso respeitar contrato. Na hora em que ele faz a mudança no regime
de concessões... Quer dizer, a outra parte não respeitou nenhum contrato. Na hora
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em que ele vem mudar novamente as regras de transição para as pessoas que
entraram no serviço público há mais de 20 anos, ele não está respeitando nada
daquilo que foi acertado.
Então, nós precisamos neste momento de uma reação mais firme. Se não for
agora, como Petrus disse, Inês é morta. Este é o momento. Reforço as palavras do
Rudinei, os servidores têm que se unir para fazer uma greve de servidores públicos
para combater essa reforma.
Obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Erika Kokay) - Vou passar agora a palavra
ao Ogib Teixeira de Carvalho Filho, Presidente da FENAFIRC, porque ele está com
um problema e terá de se retirar.
O SR. OGIB TEIXEIRA DE CARVALHO FILHO - Eu agradeço a atenção da
Deputada Erika Kokay, que tem sempre nos apoiado, assim como o Deputado Rôney
Nemer e o Deputado Lincoln Portela, por esta oportunidade e pela firme determinação
na defesa dos servidores, dos trabalhadores e da Previdência. É muito importante que
nós tenhamos sempre essa sintonia, porque hoje nós estamos precisando disso
mesmo.
Como eu disse desde as nossas primeiras reuniões, é muito importante que os
servidores públicos entendam a necessidade que nós temos de superar alguns
entraves de foro íntimo, como sindicatos, porque nós olhamos muito para os nossos
sindicalizados, para o nosso umbigo. Mas este é o momento em que nós devemos
olhar para o horizonte. Nós precisamos ver que todos estão sendo atropelados, nós
precisamos olhar para o todo. Nós temos que entender que, ao defender o todo,
estaremos defendendo muito mais o nosso próprio sindicalizado.
Então, apelo para que todos entendam que devemos fazer as próximas ações
em conjunto. Devemos discutir, na próxima reunião, as ações que devem ser
delegadas a cada entidade de cada Estado, de cada Município, para que nós
possamos ter uma efetiva penetração na consciência dos Parlamentares que estão
aqui representando o povo brasileiro.
Nós queremos dizer também que o servidor público é o último bastião em
defesa do Estado, e que, se ele não se levantar, quem se levantará em defesa desse
Estado? É preciso que nós, como indivíduos, empregados, trabalhadores e servidores
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do povo brasileiro, lembremo-nos de que nós somos mais permanentes, nós somos o
Estado, nós não somos Governo. Então, em nome desse servidor público, nós
precisamos chamar a União.
Mencionando o que foi dito aqui pelo colega Mauro Silva, eu queria falar sobre
um trabalho de Bernard Appy que trata exatamente do que nós estamos defendendo:
previdência não é caixa; previdência é competência. Vieram com uma história de
repartição simples, e ela foi engolida, dizendo que é caixa. Se não tem caixa hoje, nós
não podemos pagar o servidor, e que 1, 10 ou 20 ativos trabalham para sustentar um
vagabundo.
Essa ideia tem que ser derrubada. Nós precisamos mudar esse conceito, assim
como nós temos que mudar o conceito da necessidade de superávit primário. Por que
tem de haver superávit primário só para pagar juros, pagar banco, e não tem que
haver superávit primário para pagar qualquer fornecedor, por mais simples que seja?
Nós não precisamos fazer superávit primário para pagar o servidor. Só precisamos ter
superávit primário para pagar o banqueiro, o rentista? Essa é a ideia que foi
introduzida.
Meus colegas economistas, que parece ficam à parte da inteligência econômica
se não aceitarem aquilo que é empurrado de fora, aceitaram essa teoria. E assumimos
que o superávit primário e essa necessidade é a coisa mais importante do mundo. E
o resto? Por que não temos que pagar um fornecedor de lápis, de caneta, de alimento,
não temos que pagar os funcionários? Superávit primário para eles também. Então,
são conceitos básicos que foram introduzidos e foram aceitos pacificamente, por
medo de eles serem taxados como mal preparados.
Esse assalto que nós recebemos de fora é oriundo exatamente de toda essa
preparação. Vem aí a DRU e todos os superávits que têm de ser usados para pagar
a mesma coisa.
Já foi muito falado sobre a importância dos gastos da Previdência na
distribuição de renda. Isso é um fato, desde Keynes, desde o grande crack de 1929.
O Estado, quando tem crise, tem que gastar um pouco mais. Nós temos um programa
em execução que está sendo desativado aos poucos, para que espalhemos a miséria
no País, a maior transferência de renda que eu já vi na história econômica do mundo
está sendo feita agora com a reforma trabalhista, a terceirização, com a privatização
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gigantesca do Estado, que já não tem mais necessidade de fazer nada, mas tem que
arrecadar. É a mais pesada carga tributária, que faz com que o cidadão investidor
tenha que ser chamado de sonegador. Se ele não sonegar, ele não consegue fazer
nada. Como o colega falou, tudo é superávit, que é secular, desde a criação da
Previdência. Sempre falamos em banco da Previdência e nunca criamos um banco
da Previdência. Nós precisamos trabalhar essa ideia.
Para que nós pudéssemos tomar as primeiras providências, conforme foi dito
aqui, sugiro que já marcássemos uma reunião, acobertados, ajudados pela Deputada
Erika Kokay, que tem sempre nos apoiado, se possível, para amanhã, dia 5, às 10
horas. Sexta-feira é um dia tranquilo. Sugiro ainda que nós pudéssemos convidar os
colegas dos sindicatos, federações e confederações que estão aqui participando.
Precisamos saber dessa conveniência, para que amanhã tivéssemos uma primeira
reunião para decidir o que fazer nas próximas ações e juntos procurássemos as
associações municipais, para que os Prefeitos sejam alertados. Devemos trazer as
informações do quanto é importante a Previdência para os Municípios.
Deputada, eu queria dizer que a expectativa de vida na periferia da própria
cidade de São Paulo é de 56 anos, tirando os Jardins, que é de 82 anos. Portanto,
muitos não vão aposentar-se.
Era isso o que eu queria dizer. Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Erika Kokay) - Eu vou passar a Presidência
ao Deputado Lincoln Portela, mas antes eu queria fazer alguns comentários. O
primeiro é que eu penso que há muita desfaçatez neste Parlamento, porque está muita
explícita a barganha, o comércio de cargos, de emendas, enfim, para ganhar o voto
do Parlamentar. Está muito explícito isso. Eu nunca vi tanta desfaçatez. O Presidente
da FUNAI diz que não quer ficar porque está sendo obrigado a disponibilizar os cargos
no loteamento, numa capitania hereditária pós-moderna que estamos vivenciando. O
Governo, explicitamente, diz: “Vou pressionar, vou tirar cargos porque preciso aprovar
a reforma da Previdência”.
O mandato parlamentar não pode ser uma mercadoria, é uma representação
do próprio povo, da população, que nitidamente é contra essa reforma. Portanto, nós
precisamos fazer esse recorte do serviço público. Essa foi a proposição feita e acatada
por esta Comissão e pelo SINDILEGIS, até porque nós temos um número imenso de
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trabalhadores que eram de entidades fundacionais. Depois da Constituição de 1988,
talvez 500 mil ou 600 mil trabalhadores vieram para o regime do servidor público, mas
o aporte de recurso despendido ficou no Regime Geral. Então, eles vieram sem
nenhum tipo de aporte de recursos, eles são do regime de Previdência, que tem
diminuído o seu impacto. Isso já foi dito aqui pelo Rudinei, ou seja, o impacto tem
diminuído historicamente. E também historicamente o impacto da Previdência do
servidor público no PIB ou nas finanças nacionais tem diminuído. Com a FUNPRESP,
que tem 58% de adesão, há uma relação diferenciada, outro processo. Há uma
complementação da própria aposentadoria. Portanto, é preciso que nós
desmitifiquemos, porque é fácil encontrar vilões e estabelecer que eles são os
servidores. Isso é uma profunda injustiça. Isso já aconteceu neste País, quando se
disse que os servidores públicos tinham que ser destituídos de todos os seus direitos
porque representavam o verdadeiro mal do País. É o mesmo discurso! Marx disse que
a história se repete como farsa ou tragédia. Penso que estamos vivenciando a
repetição da história como farsa e tragédia.
Nós vamos passar a Presidência ao Deputado Lincoln Portela, anunciando que
o próximo orador é o Deputado Rôney Nemer, pois os Parlamentares têm prevalência
sobre os outros oradores. Aqui está a lista dos demais inscritos para fazer uso da
palavra.
Agradeço muito a todos pela presença. Nós vamos fazer um documento desta
audiência pública que será disponibilizado o mais rapidamente possível, para tirarmos
mitos e construirmos uma Previdência que valorize este País e sirva como proteção
para o conjunto dos trabalhadores brasileiros. O que se quer, na verdade, é que os
servidores públicos se aposentem só com 75 anos, quando haverá a aposentadoria
compulsória.
Digo isso, Deputado Lincoln, porque se falou muito, por exemplo, que a idade
mínima para aposentadoria dos policiais ia ser reduzida para 55 anos, só que eles
precisarão de 40 anos de contribuição. Ninguém entra com 15 anos nas polícias.
Como se exige nível superior, a pessoa entrará com 22 anos ou 25 anos. Esses
trabalhadores vão ter que contribuir por 40 anos e se aposentar depois dos 65 anos.
Quando se fala da média, para quem tem inclusive plano de carreira, ela vai começar
com salários mais baixos. A média não é o que você realmente ganha. As pessoas
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não vão poder se aposentar com 65 anos. Vão ter de trabalhar além dos 65 anos,
porque precisam se aposentar com renda. É preciso desmitificar isso e dizer como
estão sendo penalizados os servidores e as servidoras. (Palmas.)
Passo agora a Presidência ao Deputado Lincoln Portela. (Pausa.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Tem a palavra o Deputado
Rôney Nemer, por 3 minutos.
É bom vê-lo aqui e à paisana, sem gravata, Deputado. (Risos.)
O SR. DEPUTADO RÔNEY NEMER - Sim. Hoje não houve sessão.
Bom dia a todas e todos, em primeiro lugar, eu queria parabenizar a Deputada
Erika Kokay e o SINDILEGIS, que fez o pedido de realização desta audiência pública.
Cumprimento o Deputado Lincoln Portela, todos os presentes, os representantes dos
sindicatos e os servidores que estão aqui. Quero deixar bem claro que sou servidor,
estou Deputado, mas sou servidor público com muito orgulho.
Recordo que participei da primeira reunião no auditório sobre a reforma da
Previdência. À época, eu disse o seguinte: “Eu tenho o sentimento de que vai passar”.
Precisamos trabalhar um texto que seja o melhor possível para o conjunto da
sociedade. E, naquela época, o texto apresentado não era tão focado no servidor. No
texto, havia uma regra de transição, com a qual não concordávamos.
Depois, muita coisa foi mudando. Para muita gente melhorou. Com a mudança
de posicionamento, muita gente hoje está favorável à reforma. Mas sobraram os
servidores públicos, sobrou o Estado, porque nós somos o Estado. Os políticos estão
no Estado; nós servidores somos o Estado. E, para nós, a coisa piorou. Perdoem-me,
mas o texto anterior era melhor do que o atual. Manifestamos preocupação
com essa criminalização dos servidores públicos, como se fossem vagabundos, como
se recebessem supersalários. Há supersalários no serviço público em outros Poderes,
mas não no Poder Executivo. Espero que tenham coragem de enfrentar essa questão.
E, para isso, é preciso abrir um canal de diálogo. Dizem que o servidor público se
aposenta muito novo com alto salário. Mas durante quanto tempo ele prestou serviço
à população? Eu não encaro o salário do servidor como gasto, mas como
investimento, porque é devolvido para a população em forma de prestação de serviços
de qualidade.
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Muitas vezes os serviços prestados pelos servidores públicos não são de
qualidade, porque os gestores, os políticos que estão no comando do Estado, do
Município, não dão condições de trabalho ao servidor. Essa é a grande realidade.
Eu fico muito triste — e me perdoem, mas vou dizer aqui o que falei no
SINDILEGIS — com o fato de que há sindicatos e sindicatos. Há sindicatos que são
meramente defensores de partidos políticos; há sindicatos que estão a defender não
o servidor público, mas a defender mandatos. Há sindicatos que estão divulgando,
levianamente, fotos de Deputados, como fizeram comigo, sugerindo, com
desonestidade intelectual, que vamos votar a favor da reforma da Previdência. Eles
colocam fotos de uns Deputados e não de outros, dizendo que uns garantiram a
palavra e que ela tem valor. Mas a palavra que eu garanti não tem valor.
Eu, na minha vida pública, nunca mudei de posição. Não tenho cargo no
Governo, para que seja cortado. Eu não tenho cargo. E, se esse fosse o preço, eu
também não aceitaria. Só que eu penso um pouquinho diferente de algumas pessoas.
Estou no meu primeiro mandato, ainda estou aprendendo. Eu nem sabia que havia
esta Comissão de Legislação Participativa. Vejam que eu tenho muito a aprender aqui.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - É a melhor da Casa.
O SR. DEPUTADO RÔNEY NEMER - Pois é, eu não sabia, Deputado Lincoln
Portela. Hoje, quando ouvi a Deputada falando, eu disse: “Ah, que massa!”
Mas ainda tenho muito que aprender. No entanto, aprendi, na minha vida, que
o ótimo, às vezes, é inimigo do bom. E, como disse aqui o Petrus Elesbão, passou na
Comissão; agora, é “na vera”. Agora não dá para vacilar, ou vai ou racha. Então,
precisamos ter muito cuidado.
Eu participei de algumas conversas sobre a reforma da Previdência. Agora
mesmo conversei com um Deputado no meu gabinete, que me disse o seguinte: “Eu
estou tentado a votar contra”. Eu disse a ele: “Amigo, pelo amor de Deus!” Eu fiz essa
ponderação. No entanto, o melhor dos mundos seria a nossa participação efetiva
nessa construção.
Eu penso que a melhor estratégia não é aqui no Congresso Nacional, não é
invadindo o Congresso Nacional. Nós estávamos na construção de um acordo com
os agentes penitenciários e os guardas municipais, mas com a invasão que ocorreu
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ontem, em algumas das coisas que tínhamos conseguido, houve recuo e voltaram
atrás. Eu gosto mais do diálogo, do trabalho.
Está presente nesta Comissão a maioria dos sindicatos nacionais. Todo mundo
tem representante no Estado. A meu ver, a pressão tem que ser feita lá no Estado.
Perdoem-me, mas eu penso dessa forma. Se você é daqui do Distrito Federal e vota
aqui no Distrito Federal, o Deputado que é de outro Estado não se importa. A leitura
é voto, é eleição no ano que vem. Eu acho que é esse o trabalho que tem que ser
feito. É esse o trabalho que os presidentes de sindicatos devem fazer com os
representantes nos Estados.
Por exemplo, vocês devem sensibilizar os Deputados quando chegam ao
aeroporto, quando saem do aeroporto, nas redes sociais. Mas não da forma como foi
feita aqui em Brasília por alguns sindicatos, expondo a pessoa de maneira
equivocada. Eu ouvi de um Deputado o seguinte: “Ah, já me queimaram mesmo, agora
eu vou votar a favor da reforma da Previdência, porque eu já tive prejuízo mesmo”.
Não é assim, é no convencimento. Deve-se dizer ao Deputado, à Deputada, ao
Senador ou à Senadora o seguinte: “A senhora é desse Estado aqui, não é? A senhora
conhece o trabalho do servidor público e sabe da nossa importância. A senhora acha
justo sermos considerados os vilões da bancarrota do País, dos Estados e dos
Municípios? Não somos. São os maus políticos que desviaram os recursos. Esses são
os culpados. Não somos nós”.
E, dessa forma, devemos sensibilizá-los, para que não sejamos considerados
os vilões e sejamos prejudicados.
Essa é a minha participação.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - A palavra “sabedoria” vem
do grego sophia, ou seja, a excelência mental que o Governo não tem. Em
administração, há uma máxima primária: conscientização, organização e mobilização.
Lamentavelmente, o Governo trocou as mãos pelas pernas. Não se conscientizou
devidamente, não fez o que deveria ter feito internamente, para depois se organizar
com aqueles que são afetos à área e se mobilizar. Esse tipo de coisa é muito difícil.
Em relação aos acontecimentos no dia de ontem, os agentes penitenciários
invadiram o Ministério da Justiça — é preciso que se diga isso. Eles invadiram o
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Ministério da Justiça. Eu estive lá e os acalmei. Era uma tropa, havia de 450 a 500
pessoas. Mais tarde, o Deputado Major Olimpio esteve lá comigo. Fui lá, conversei
com o ex-Deputado Edinho Bez, que atualmente é Secretário de Assuntos Legislativos
no Ministério da Justiça, e mais tarde conversei com o Ministro e com o seu staff.
Havia ali o Exército, havia ali o Diretor do DEPEN, coronéis. Disseram que o
Governo havia feito uma promessa, desde o tempo de Alexandre de Moraes, em mais
de 7 reuniões que tiveram com ele, de que todas as polícias estariam fora da reforma
e de que as guardas municipais e os agentes penitenciários também seriam inseridos
na Constituição, no art. 144.
Na parte da manhã, com o acordo feito, conversei com o Ministro, à tarde,
retiramos pacificamente aqueles homens e mulheres de lá e, logo após, a resposta foi
retirá-los do texto.
Se esse pessoal resolver parar o Brasil, se esse pessoal fizer uma operação
padrão — prestem atenção a isso —, proibindo visitas nos fins de semana, saibam os
senhores que poderá haver muitas e muitas decapitações.
Eu conheço o sistema, eu sou Presidente da Frente Parlamentar em Defesa
das Guardas Municipais, defendo os agentes penitenciários. Preveni o Governo.
Ontem, estive com o Presidente, estive com o Relator, agachei-me à mesa com eles
e falei com eles, mas eles se mantiveram irredutíveis e disseram o seguinte:
“Votaremos, sim, se vocês que são afetos ao trabalho deles votarem conosco”.
Chantagem não. Estou aqui há 5 mandatos. Na base da chantagem, não! Na base da
negociação, na base do acordo político, decente e honesto, sim. Na base da
chantagem, não. E estou falando abertamente aqui, ao vivo, transmitido pela Internet,
na presença de pessoas representando vários lugares. Digam o que quiserem, mas
dessa maneira, não.
Continuo na mesma posição e na mesma trincheira. Essa reforma, como está,
nunca deveria ter saído de lá. Ela deve voltar para lá, para que haja um recomeço,
porque, se continuar dessa maneira, o Governo vai perder aqui, e é o que nós
desejamos. (Palmas.)
Agora, com a neutralidade de Presidente, passo a palavra à Sra. Daniela
Gomes, Professora de Direito Tributário e de Direito Constitucional do Instituto Federal
de Brasília.
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V.Sa. dispõe de 3 minutos.
A SRA. DANIELA GOMES - Sr. Presidente, quero cumprimentar os membros
da Mesa, todos que estão aqui, os sindicatos e quero incluir os que não estão aqui
hoje, o IEPREV e o SITRAEMG, que têm travado uma luta muito forte e constante em
defesa do servidor público.
Quero puxar a brasa para a minha sardinha aqui e vou discutir a questão
tributária. É um argumento para os servidores, como é um argumento para os demais
trabalhadores do Regime Geral.
Eu acredito que esta luta contra a reforma da Previdência não é uma luta de
categoria, é uma luta de classe. Se os trabalhadores não se unirem, como classe,
essa reforma vai passar, como um trator, como vêm passando diversas outras
reformas.
Atravessando a rua, nós temos um plenário que virou para mim um lugar
nefasto, já chorei e já me esvaí em lágrimas, quando votaram a PEC dos Gastos.
Procurei a Deputada Erika Kokay, dei um abraço nela, porque eu não estava
aguentando o que estava se passando ali. A reforma trabalhista e a terceirização
passaram ali. O Governo tem muito sucesso, quando convence a população de que a
culpa é dela e de que é ela que tem que pagar o pato de um “déficit” — entre aspas.
Eu sou estudiosa do Direito Tributário, sou tributarista há muitos anos e sou
professora de Direito Constitucional e Tributário. Há aqui vários especialistas, gostaria
de chegar, pelo menos, próximo deles, porque eu sei da competência de cada um. A
ANFIP está sempre aqui.
Nós temos economistas da USP, da UFMG, da UnB, do Instituto João Pinheiro
e da UNICAMP que são contra o conceito de déficit, porque eles, o Governo, não
consideram o PIS/COFINS. Consideram a Previdência isolada da assistência social,
mas elas são um conjunto. Uma hora consideram o conjunto, quando os favorece,
outra hora separam para justificar um déficit na Previdência que não existe.
A Economia não é uma ciência exata, é uma ciência social, existem vieses ali
dentro. Você pode defender o seu ponto, desde que abra espaço para outros. Eu vi
aqui pessoas que citaram a mídia. Hoje na nossa mídia não existe notícia, existe
coluna. Quando assiste a um jornal, você só vê opinião. Você vê a cara do repórter.
Ele faz uma expressão quando não concorda ou, então, ele diz, por exemplo: “A tão
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necessária reforma da Previdência foi votada hoje na Comissão”. Quem quer saber o
que ele pensa? Você não quer saber a notícia? É a morte da mídia brasileira!
Eu quero dizer aqui outra coisa — vou tentar me ater ao tempo, mas acredito
que não vou conseguir. Eu vim a um seminário aqui em que um membro do Governo
disse: “É a última solução para o Brasil”. Qual é o conceito de último? Último é o que
vem depois de algo. Isso quer dizer que houve uma primeira, uma segunda e uma
terceira opção e que elas foram, por algum motivo, descartadas.
A minha primeira pergunta para este especialista foi: qual foi a primeira solução,
por que ela foi descartada e cadê o estudo que a descartou? A minha segunda
pergunta foi: qual foi a segunda solução, por que ela foi descartada e cadê o estudo
que justificou o seu descarte? Ele gaguejou, gaguejou, e não conseguiu me
responder, sabem por quê? Porque esta não é a única ou a última solução, porque
existem diversas outras soluções para resolver o problema do déficit fabricado. E eu
digo a primeira.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Concedo mais 1 minuto a
V.Sa.
A SRA. DANIELA GOMES - Eu já ouvi Parlamentares aqui dizerem que a carga
tributária é regressiva e que quem sustenta este País são os empresários. Esta frase,
do ponto de vista lógico, não é nenhuma frase, porque ela não faz sentido, é
completamente contraditória. “Carga tributária regressiva” significa que quem tem
mais paga menos e quem tem menos paga mais. Se quem tem menos paga mais,
quem sustenta este País? São os trabalhadores.
Aqui, os empresários tiveram uma reforma tributária em 1998 que os isentou
do Imposto de Renda sobre a distribuição de lucros, recebem pró-labores ridículos de
mil reais, como um grande escritório de advocacia, enquanto a distribuição de lucro é
isenta de Imposto de Renda — e você pagando, e você pagando.
Quando você compra um pneu, gasolina, um produto qualquer, vem embutido
o ICMS; o empresário só recolheu, quem paga é você. A contribuição previdenciária
sai do seu salário, porque ele podia lhe pagar três, mas paga dois, porque ele tirou
dali a contribuição previdenciária, como custo por contratar o trabalhador. E, com a
reforma trabalhista e com a terceirização, ele pode fazer isso agora sem ligar para a
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lei. Ele pode negociar com você dois e tirar a cota patronal do seu salário, e é isso que
eles fazem.
O que eu quero dizer é que o Governo fez uma opção entre o povo e a grande
classe empresarial lucrativa e o mercado financeiro. Ele escolheu a classe lucrativa
deste País. Eu não estou falando dos empresários médio e pequeno que empregam
menos de cem pessoas, não; esses são povo. Eu estou falando daqueles grandes,
que empregam muito pouco, comparado com o que faturam, porque empreendem
atividades extremamente automatizadas e tecnológicas. Então estes empregam
pouco.
O Governo, então, fez uma opção. Se não nos unirmos, como classe, realmente
nós não vamos merecer, como disse o Deputado que fez a citação de Rui Barbosa, o
direito que está sendo retirado de nós.
Eu agradeço imensamente. Eu gostaria de poder dizer mais algumas coisas.
Se sobrar tempo ao final, eu falarei.
Agradeço imensamente. Obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - E, por certo, todos nós
gostaríamos de ouvi-la.
A próxima oradora é Adriana Faria, Coordenadora Jurídica e Parlamentar da
Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da
União — FENAJUFE. S.Sa. dispõe de 3 minutos.
A SRA. ADRIANA FARIA - Eu cumprimento a Mesa, na pessoa do Deputado
Lincoln Portela, e todos os presentes.
Rudinei, você disse que há algo de estranho nessa reforma e citou que a
resistência dos servidores públicos seria um problema para o Governo.
Eu vou dizer que existe uma deliberada intenção desse Governo de acabar com
o serviço público, e ela vem sendo sistematizada desde a elaboração da PEC que
restringe os gastos públicos. Essa PEC, que já foi aprovada, atinge sobremaneira o
serviço público. Ela diminui o tamanho do serviço público e viabiliza a demissão de
servidores, aliada à Lei de Responsabilidade Fiscal.
A terceirização também abre caminho para a terceirização do serviço público.
A reforma trabalhista também abre caminho para que toda a precarização que está
sendo levada para o setor privado seja replicada para o serviço público.
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E, para finalizar, a reforma da Previdência é a cereja do bolo, que vem
realmente jogar toda a responsabilidade da crise no colo do servidor público. Há uma
campanha sistematizada de desprestígio e até de criminalização do serviço público,
do servidor público. (Palmas.) Isso tem uma intenção clara! A intenção é diminuir o
Estado, é trazer o Estado mínimo, que não é uma opção da nossa sociedade, mas,
sim, uma opção que está sendo feita pelo Governo. Deveria ter sido feita pela
população, pelas vias corretas.
O Governo ontem não venceu. Sua suposta vitória na Comissão Especial foi
uma vitória de cartas marcadas, e quem vence com cartas marcadas não tem vitória.
Os Deputados foram substituídos até a última hora para que votassem a favor do
Governo. Não houve vitória ontem na Comissão Especial do Governo! Aquela foi uma
vitória maquiada! O verdadeiro jogo começa agora, no plenário.
A minha aposta é que 308 Deputados não vão entrar nesse jogo. Eu ainda
tenho a esperança de que, entre esses 308 Deputados, há verdadeiros senhores com
compromisso com a população, que enxergam que realmente houve uma grande
greve no dia 28, que enxergam que a população é contra, sim, a reforma da
Previdência e que percebem que o que a mídia diz é mentira, é maquiagem, é venda
de informação distorcida. (Palmas.)
A população é contra a reforma da Previdência, sim! Talvez os servidores
públicos ainda não tenham noção do tamanho deste problema que está sendo criado.
Talvez a população não tenha noção do que vai acontecer daqui a 20 anos: seremos
uma nação de miseráveis, explorados durante 20 anos por banqueiros e grandes
empresários. É para isso que está acontecendo essa reforma! Não é para garantir a
aposentadoria de ninguém! É para garantir o lucro de bancos e de grandes
empresários! (Palmas.)
O final dessa história da reforma da Previdência — a reforma política está
andando por aí também — vai se dar por uma equação. Até onde vai a ousadia da
classe política? Até onde vai a apatia do povo brasileiro? É essa equação que vai dar
resposta à reforma da Previdência. E 2018 está aí. Vamos ver até onde esses
senhores vão levar a sua ousadia, porque essa ousadia terá a resposta em 2018, não
tenham dúvida disso! (Palmas.)
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Aposentadoria não é privilégio para ninguém! Aposentadoria é direito! E nós
vamos lutar até o fim! (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Quero lembrar também que
a Adriana é da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e
Ministério Público da União.
Nós passaremos a palavra agora ao Sr. Cristiano Bernardino Moreira,
Coordenador da FENAJUFE e Diretor do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário
Federal no Rio Grande do Sul — SINTRAJUFE/RS.
V.Sa. dispõe de 3 minutos.
O SR. CRISTIANO BERNARDINO MOREIRA - Bom dia a todos e todas.
Na pessoa do Deputado Lincoln Portela, cumprimento a Deputada Erika Kokay
e o Petrus, do SINDILEGIS, pela iniciativa desta audiência pública para discutir um
tema tão importante neste grave momento da política nacional, em que os nossos
direitos têm sidos arrancados um a um.
Eu falo aqui em nome da FENAJUFE, como a Adriana, que me antecedeu, e
também em nome do SINTRAJUFE do Rio Grande do Sul, sindicato local dos
trabalhadores do Judiciário Federal, que está presente aqui com uma caravana de
alguns colegas que vieram ao Congresso com o objetivo de pressionar contra esse
projeto de reforma da Previdência — que não é reforma, é confisco da aposentadoria
de boa parte da classe trabalhadora deste País.
Essa reforma é a menina dos olhos de um grande projeto de contrarreforma do
Estado e também de desmonte do serviço público, que teve início no ano passado,
com o congelamento dos gastos sociais por 20 anos. Esse projeto rompe e rasga o
pacto civilizatório estabelecido na Constituição de 1988 e praticamente inviabiliza o
serviço público, com o congelamento dos gastos por 20 anos, passando pela
terceirização irrestrita, que vai estabelecer uma barbárie nas relações de trabalho em
todo o País.
A própria reforma trabalhista, que há pouco foi aprovada na Câmara e que hoje
já está em tramitação no Senado, é um projeto de desmonte e completo esvaziamento
da CLT.
A reforma da Previdência foi aprovada ontem na Comissão Especial, com 23
votos favoráveis e 14 votos contrários. De fato, esse era um resultado previsível,
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porque na Comissão basta o apoio da maioria simples — mas, ainda assim, o Governo
faz uso de mecanismos como a troca dos Parlamentares para praticamente escolher
o resultado.
Essa reforma não tem qualquer embasamento, como os painelistas acabaram
de sustentar nas falas que antecederam as intervenções no plenário. Não existe
cálculo atuarial que a justifique, e ela ignora dados que desmentem a farsa do déficit
previdenciário. A ANFIP tem sido importante ao subsidiar, instrumentalizar o
movimento sindical e social com esses dados, corroborados por diversos economistas
e que só o Governo parece não compreender.
O Governo não está sequer preocupado com a realidade ou com informações
a respeito da reforma, está, sim, preocupado em atender o mercado financeiro. E, por
acaso, boa parte daqueles que vão lucrar com os fundos de previdência privada são
os maiores devedores da previdência pública e são também os que lucram com aquela
que é a raiz dos problemas econômicos e sociais deste País: a dívida pública, que
consome metade do Orçamento da União. Essa dívida pública permanece intocável
governo após governo, que nem sequer cumprem a Constituição Federal, que manda
auditar a dívida pública. Se houvesse isso, certamente nós estaríamos debatendo em
outro patamar. Este é um ponto.
Em que pese toda a mentira, a compra de votos, a chantagem que tem ocorrido
no Congresso e a compra da imprensa para defender a reforma, a população não
engoliu essa proposta. Conforme pesquisa realizada antes da greve geral que parou
este País — uma greve geral que foi apenas a maior já realizada na história do Brasil
—, 71% da população rejeitavam a reforma da Previdência. Tenho a impressão de
que esse dado deve ter crescido nos últimos dias.
O embate decisivo vai se dar de fato no plenário. Há a leitura de que o Governo
não tem os votos necessários para ver aprovada a reforma, os 308 votos do quórum
qualificado. Inclusive, nós sabemos que o Governo não tem muitos pudores para
aprovar urgências e encaminhar votações da forma como bem entende, nem que para
isso sejam necessárias manobras, como fez com a reforma trabalhista. Por isso, se
ele tivesse os votos necessários, essa reforma já estaria no plenário ou, talvez, já
estaria no Senado. Mas ele não tem os votos.
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É fundamental que nós tenhamos em mente que esta luta ainda está em
andamento e que os próximos capítulos dependem muito da mobilização que vamos
construir. Há reuniões já planejadas entre as centrais e entidades sindicais para
construírem uma nova jornada de mobilização e de luta, que vai e precisa repercutir
aqui no Congresso.
Evidentemente, deve-se combinar essa mobilização em cada Estado, em cada
local de trabalho, com a pressão aqui em Brasília e no Parlamento, cobrando dos
Parlamentares que votem a favor da população, que não aceitem chantagem do
Governo ou qualquer outro tipo de pressão que não aquela exercida pela maioria do
povo brasileiro, que está sendo violentada com a retirada de direitos por esse projeto
levado a cabo pelo Governo Temer, que não tem sequer credibilidade para
encaminhar aquilo que vem encaminhando.
Um governo com 4% de popularidade, com nove ministros investigados por
corrupção, não tem credibilidade alguma para seguir roubando os direitos da classe
trabalhadora deste País. (Palmas.)
Para concluir — sei que o tempo é curto para falar a esse respeito —,
compreendo que haja algumas manifestações mais críticas sobre a mobilização dos
agentes penitenciários que ocorreu ontem aqui. Mas há uma frase de Bertolt Brecht
que diz: “Do rio que tudo arrasta se diz violento, mas ninguém diz violentas as margens
que o oprimem”.
Atualmente, a maior violência está sendo cometida pelo Governo Temer e pela
sua base aliada (palmas), que está simplesmente cassando o direito à aposentadoria
de boa parte da classe trabalhadora. Há diversos Estados do País onde a população
não tem como expectativa de vida os 65 anos estabelecidos como idade mínima para
aposentadoria na proposta de reforma ontem aprovada na Comissão Especial.
Para concluir de fato, nós trabalhadores do serviço público precisamos
entender que somos parte da classe trabalhadora. Nisto eu concordo com a Profa.
Daniela: a mobilização precisa ser unitária, comum e a mais ampla possível, para
derrotarmos essa proposta.
Quero deixar muito claro que nós somos plenamente favoráveis ao fim dos
privilégios neste País. Mas não são os trabalhadores do serviço público ou da iniciativa
privada que detêm privilégios. Por sermos favoráveis ao fim dos privilégios,
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defendemos que seja auditada a dívida pública, que enriquece poucas famílias com
metade do Orçamento da União, e que sejam taxadas as grandes fortunas também,
uma proposta que o Governo nem sequer considera naquilo que está sendo o
desmonte do Estado brasileiro por ele encaminhado.
A mobilização está apenas começando. Eu não tenho dúvida de que nós temos
todas as condições de derrotar a reforma da Previdência e o conjunto de medidas que
estão atacando os nossos direitos, em tramitação aqui no Congresso e levadas a cabo
pelo Governo impopular de Michel Temer. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Muito bem.
Concedo a palavra à Sra. Magda Helena, Diretora do Sindicato dos Servidores
do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União — SINDILEGIS e da
Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da
União — FENAJUFE, por 30 segundos.
A SRA. MAGDA HELENA CHAVES - Como a Dra. Daniela e outras pessoas
capacitadas disseram, é nosso dever moral e até de sobrevivência fazer essa
movimentação. Então, pessoas capacitadíssimas falaram que nós precisamos nos
movimentar.
Nesse sentido, estou passando uma lista, porque o Ogib, Presidente da
FENAFIRC, pediu que nos reuníssemos para o movimento “A Previdência é Nossa”,
em plenário a se definir, às 15 horas. Ele pediu que isso fosse na terça-feira, dia em
que eu acho difícil encontrar um espaço aqui na Câmara. Por isso, vai ser na segunda-
feira o encontro sobre esse movimento, que nasceu no SINDILEGIS.
A lista que está passando não é para registrar quem está presente aqui, mas
para quem irá participar. Então, peço àqueles que a assinaram pensando que se
tratava de uma lista de presença que retirem seu nome, porque nós queremos ter ideia
da quantidade de pessoas que estão dispostas a participar desse encontro na
segunda-feira.
Obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Obrigado, Magda.
O próximo orador é o Sr. Sérgio Ronaldo da Silva, Secretário-Geral da
Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal —
CONDSEF/FENADSEF.
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O SR. SÉRGIO RONALDO DA SILVA - Boa tarde a todas e todos. Quero
saudar a Mesa na pessoa do Presidente, o Deputado Lincoln Portela. Ao fazer isso,
quero cumprimentar todos e todas que estão na Mesa.
A CONDSEF é uma confederação que representa, Deputado Lincoln, em torno
de 80% dos servidores do Executivo. E é esse conjunto de trabalhadores que está no
forno para ser fritado por esta reforma da Previdência, juntamente com os demais.
A votação de ontem já era previsível porque o Relator, mesmo antes da
votação, já tinha anunciado os 23 votos. Obviamente, não vou ser aqui muito rígido,
mas é muito estranho que o número de votos tenha batido com o quantitativo que ele
tinha anunciado antes.
Mas o estranho é que eles nos atacam e querem que nós lhes mandemos
flores. Não terão flores. Nós estivemos aqui no dia 23 de fevereiro, na primeira
audiência pública da Comissão Especial — o Rudinei estava conosco —, e não
queremos mais discutir a questão teórica, porque já está mais do que clara a farsa, a
mentira do déficit da Previdência. Isso é uma farsa!
Nós estamos discutindo as questões práticas. Deixamos bem claro naquele dia,
e a nossa rotina não tem sido diferente: não vamos dar trégua a quem está vendendo
os nossos direitos! Não vamos!
O Maia, o Marun ficaram irritados. Mas que se irritem! Vamos colocar as
imagens deles nos postes, sim, em todos os Estados e seus Municípios! Até outubro
de 2018, não daremos trégua aos traidores dos trabalhadores deste País. Não terão
trégua! Faremos acampamento na porta do Marun lá em Campo Grande (palmas),
faremos acampamento na porta do Maia lá na Bahia, em Salvador, faremos
acampamento na porta de todos. Se eles não nos dão trégua, por que vamos dar
trégua para eles? É fogo cruzado! É chumbo cruzado! Não tem moleza!
Agora está chegando a hora de a onça beber água. Eu quero ver, no plenário,
a posição deles, porque já era previsível o que aconteceu na Comissão. O que eles
queriam votar na Comissão, no mês passado, só conseguiram agora. No plenário, a
história é outra.
Para finalizar, porque o tempo está terminando, pasmem: em 24 anos, esta é a
sexta reforma da Previdência que nos retira direitos! É a sexta reforma que nos retira
direitos!
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Portanto, a nossa pisada vai ser da seguinte forma — e aí concordo em parte
com a ideia que o Rudinei apresentou: eu acho que a greve geral não tem que ser só
dos servidores públicos, ela tem que ser na mesma tonalidade do dia 28 do mês de
abril. Não somos só nós que estamos usurpados, mas o conjunto de trabalhadores
deste País. (Palmas.) Então, essa não é só uma questão de foro íntimo do servidor —
este, sim, está sendo o bode expiatório. Mas temos que convencer toda a classe
trabalhadora.
Se as 24 horas do dia 28 não foram suficientes, ficaremos 48 horas, teremos
100 mil pessoas aqui em Brasília, seja o que for. Mas não daremos trégua a quem
quer usurpar os nossos direitos!
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Muito bem, Sérgio.
Passamos a palavra agora à Rosana Sacco dos Anjos, servidora aposentada
do Judiciário Federal, de Pelotas. (Pausa.) Ela saiu. Vamos ver se ela volta ainda na
fala do Paulo Rosa.
Tem a palavra o Paulo Rosa, do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário
Federal no Rio Grande do Sul — SINTRAJUFE/RS.
O SR. PAULO ROSA - Bom dia à Mesa.
É muito bom termos oportunidade de falar, porque somos a voz dos
trabalhadores, todos aqui somos trabalhadores. E os relatos apresentados, os
exercícios e as simulações sobre a Previdência deixam claro que o lado de lá está
mentindo, o lado de lá está enganando o povo, enganando os trabalhadores.
Quando falamos em reformas e governo, temos que prestar atenção para o fato
de que as coisas não estão soltas, que tudo está amarrado. Isso é um processo de
desmonte do Estado, é um processo para esvaziar a estrutura do trabalho brasileiro,
para o Governo virar um mero gerente, e nada mais.
Esse processo não começou agora, começou no junho vermelho, com a
derrubada do Governo legítimo, eleito pelo povo. E o resultado é esse.
Hoje, quando falamos na reforma da Previdência e fazemos este debate com
relação aos servidores públicos, registro que eu estou indo para a terceira alteração
do meu contrato de trabalho. Eu fiz um concurso no qual me ofereceram um salário e
uma forma de aposentadoria. Todos fizeram o mesmo. E esse contrato foi alterado.
Inclusive, até conversando com uns colegas, eles me disseram: “Pô, mas não pode!
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Vou entrar na Justiça, porque eu não discuti!” Discutiu, sim. A alteração do meu
contrato de trabalho foi discutida pelos meus representantes, pelos Deputados eleitos
pelo povo.
Esta é a nova estrutura de democracia: eles nos representam. Com relação a
esses Deputados que votam contra os trabalhadores, isso é uma questão ideológica,
sim. Alguns realmente defendem o povo, defendem os trabalhadores, outros não
estão aqui para isso, estão para outra coisa.
E a forma de solucionar isso no momento em que nos encontramos, depois da
festa daqueles que votaram contra os trabalhadores ontem, é com o povo indo às
ruas. Não tem outro jeito.
É ilusão alguém achar que tapinha nas costas de Deputado que votou contra o
trabalhador vai mudar o voto dele. Não vai mudar, não. O que vai mudar o voto dele
é botar os trabalhadores na frente do Congresso, é ocupar o Congresso. É isso que
vai mudar o voto dele. Não tem outro jeito, pessoal.
Além do mais, a mídia ajuda a construir a opinião dos cidadãos, a mídia joga o
grosso da população e dos trabalhadores contra os servidores públicos. Essa é uma
grande verdade. Há muito tempo acontece isso.
Toda reforma tem que ser feita para tirar privilégios. Mas privilégios de quem?
Não são privilégios, são direitos também garantidos, como para todo trabalhador. Eu
quero que todo o mundo ganhe bem, não só o setor público. Eu defendo isso.
Mas é preciso ter muito claro— e aí eu discordo em parte de alguns — que não
bastam 24 horas, não! Não acredito que o fato de ficarmos 24 horas parados no frente
do Congresso vai mudar a conjuntura. Temos que colocar uma greve geral com todos
os trabalhadores, porque existe uma coisa muito perigosa aqui dentro: categorias
procurando tirar o seu da reta. É isto o que acontece: “Eu quero o meu quinhão!” “Eu
quero o meu!” “Assim não fica tão ruim!”
Ou a reforma serve ou a reforma não serve. Para mim, essa reforma não serve
para ninguém. E eu não quero tirar só o meu da reta, eu quero tirar o de todos os
trabalhadores brasileiros.
Eu acho que esse é o nosso papel, esse é o papel do Parlamento, esse é o
papel dos sindicatos. Não basta cada um aliviar a sua categoria, a sua classe, e dizer:
“Pois é! Não deu”. Tem que dar. Do contrário, é outra coisa, é cada um por si e Deus
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por todos. E eu não acredito nisso. Acredito que os trabalhadores unidos podem
derrotar este Governo, derrotar as reformas.
Espero que, quando marcarem a votação, nós ocupemos Brasília com 100 mil,
200 mil trabalhadores de todos os ramos, não só do setor público.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - O próximo orador não será
a Rosana, será o Edmilton. Seu nome estava na lista, e foi pulado.
Tem a palavra Edmilton Gomes, Coordenador-Geral em exercício da
FENAJUFE — Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e
Ministério Público da União.
V.Sa. dispõe de 3 minutos.
O SR. EDMILTON GOMES DE OLIVEIRA - Obrigado, Deputado.
Quero cumprimentar os meus colegas do Judiciário Federal, todos os
servidores que estão aqui e dizer da minha admiração pelo Parlamento.
Desejo que o exemplo da Deputada Erika Kokay e do Deputado Rôney Nemer,
dois Parlamentares do Distrito Federal, onde sou eleitor, possa influenciar os demais
Deputados para estarem conosco votando e barrando a reforma da Previdência.
Eu sou também Presidente da Associação Nacional dos Agentes de Segurança
do Poder Judiciário Federal. Eles não estão no texto. Ontem recebi cobrança durante
todo o tempo aqui.
Deputado Lincoln Portela, que é catedrático nesse assunto, os agentes de
segurança do Judiciário pedem igualdade em relação aos do Poder Legislativo e aos
agentes penitenciários.
Eu dizia a eles: “Vamos juntos, com toda a categoria, barrar a reforma da
Previdência”. Isso é o que nós precisamos neste momento, para que não venhamos
a nos esfacelar. Precisamos juntar forças sim.
Ontem, na votação, houve a troca de seis Parlamentares. Eles conseguiram
trocar aqui, mas lá no plenário eles não vão poder fazer a troca.
Nós precisamos, todos juntos, fazer esse enfrentamento, para que possamos
barrar essa reforma da Previdência e, aí sim, discutir uma reforma da Previdência.
Se o problema é recurso, por que foi aprovado aqui um projeto sobre
terceirização? Nós sabemos como funciona a terceirização. Nos tribunais, as
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empresas quebram, e quem tem que pagar tudo novamente é o Judiciário, é o serviço
público. Nós sabemos como isso tem sido feito nacionalmente.
Vamos discutir a DRU, vamos discutir a desvinculação de receitas da
Previdência, vamos discutir o pagamento de juros, vamos discutir tudo nesse âmbito.
Assim nós conseguiremos realmente dar um recado, fazer uma reforma. Agora não
está sendo feita uma reforma, estão sendo retirados direitos dos servidores públicos,
estão sendo assaltados direitos dos servidores públicos. Há 1 mês, já era difícil, e, a
cada dia que passa, está ficando pior.
Por isso, nós precisamos do apoio de todos os servidores públicos federais
para fazer essa pressão sobre os Parlamentares, e dizendo que nós precisamos muito
do apoio dos Srs. Parlamentares.
Era isso.
Um abraço!
Bom dia a todos. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Obrigado, Edmilton.
A próxima oradora é a Dra. Rosana dos Anjos, do Judiciário Federal, servidora
aposentada de Pelotas, Rio Grande do Sul.
V.Sa. dispõe de 3 minutos.
A SRA. ROSANA DOS ANJOS - Boa tarde. Desculpem-me por não estar
presente naquele momento. Eu sou simplesmente uma pessoa da base, eu não sou
de nenhuma entidade, não estou representando nenhuma entidade. Sou aposentada
com direito a paridade e integralidade, sou técnica judiciária. Estou aqui como esposa,
como mãe. Eu estou muito emocionada por estar aqui.
Eu morei em Brasília entre 1979 e 1981, durante o regime militar. Nós fizemos
a primeira greve da UnB. Ontem presenciei uma coisa que me deixou bastante
sensibilizada, que foi ver alunos da Fundação Getulio Vargas, da Faculdade de
Direito, que vieram do Rio de Janeiro e conseguiram entrar e assistir a uma parte da
reunião da Comissão. Estamos aqui desde terça-feira. Eu vim da minha cidade, sou
do interior. Segunda-feira à noite, eu não dormi, para pegar o avião. Então, temos toda
uma dificuldade para chegar aqui.
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Mas eu quero falar realmente é da importância de estarmos aqui. Eu resolvi
quebrar a inibição e falar porque acho importante que se ouça a base. E me preocupa
não estar vendo pessoas da base aqui. Eu vejo os dirigentes aqui. Cadê os colegas?
Eu fiquei muito emocionada de ver os agentes ontem. Fiz questão de
permanecer até o final, eu e um outro colega. Vi a coragem, a entrega. Se não
fizermos isso, vai passar tudo. Se a base não for mobilizada, vai passar tudo. Eu acho
que a base é mobilizada pelo discurso objetivo, pelo discurso sincero.
Vocês já falaram toda a parte que era necessária em termos de dados. Eu fui
contadora da Justiça Federal e trabalhei com Direito Previdenciário. A minha
especialização é em Direito Previdenciário. O que eu vi? Em 1988, com a Constituição,
tivemos vários progressos. Por exemplo, a pensão de 60% passou a ser de 100%,
independentemente do número de dependentes que a pessoa, o de cujus tivesse.
Mas eu vejo hoje todo um retrocesso. Nós voltamos à pensão de 60%.
Eu contribuí a minha vida inteira para a Previdência. Meu marido já tem 40 anos
de contribuição. Nós começamos a trabalhar cedo. Ele já tem 40 anos de contribuição
e 55 de idade, mas tem o risco de perder a paridade e a integralidade se ele não for
até os 65.
São muitas as agressões através dessa reforma e das outras, a trabalhista, a
da terceirização. Eu acho que nós precisamos de uma linguagem mais objetiva, mais
simples, para que o povo realmente tome conhecimento.
Eu participei daquela manifestação no dia 28, e vi os mesmos que lutavam na
minha época. Eu agora voltei para a universidade — é o quinto curso em que eu entro
—, e eu fui trabalhar os jovens, porque temos que conscientizar essa nova geração,
que pouco está na rua.
Também queria lembrar que eu, aposentada, continuo contribuindo com a
Previdência, enquanto os da iniciativa privada não mais contribuem. Pelo menos,
quando eu trabalhava e fazia os cálculos, eles não contribuíam. Nós não temos Fundo
de Garantia, e a nossa estabilidade está por um fio. Então, quantas perdas o servidor
público tem tido ao longo de alguns poucos anos?
Eu queria agradecer a oportunidade de falar como uma pessoa do povo. Fiquei
muito triste ao ver a Casa do Povo fechada para o povo ontem. Nem no regime militar
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acontecia isso. Agradeço a oportunidade de estar aqui. Desculpem-me por tomar o
tempo de vocês. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Muito bem.
A SRA. ROSANA DOS ANJOS - E mais, eu acredito que nós somos agentes
transformadores de verdade, desde que queiramos, e temos que querer.
Obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - É verdade.
O próximo orador é Paulo Pereira, do SINTRAJUFE do Rio Grande do Sul.
Já falou? (Pausa.)
Já falou.
Vou conceder a palavra aos expositores. Alguns questionamentos
aconteceram. Eles farão considerações finais.
Passo a palavra ao Vice-Presidente de Política de Classe do Conselho
Executivo da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal —
ANFIP, o Sr. Floriano Martins de Sá Neto.
O SR. FLORIANO MARTINS DE SÁ NETO - Quero agradecer o convite desta
importante Comissão de Legislação Participativa, onde o povo se faz bastante
presente. Eu acredito que deve ter havido também, pela Internet, várias colaborações
e participações.
Em linhas gerais, eu acho que todos as vozes aqui foram uníssonas quanto aos
vários vieses que trouxeram a esta importante Comissão. Sairemos daqui hoje com
esta certeza: apesar de estarmos aqui discutindo a nossa questão, de servidores
públicos federais e de servidores públicos estaduais, temos consciência de que esta
reforma da Previdência Social é danosa para toda a sociedade brasileira. Dessa
forma, para enfrentá-la, não é caminho, não é saída procurar excluir essa ou aquela
categoria. Nós temos que entendê-la como um projeto.
A reforma da Previdência Social tem uma finalidade, uma dita finalidade, dita
não no sentido de que vai melhorar a Previdência, o que é uma mentira, mas sim no
de que vai diminuir os benefícios para possibilitar que se gaste menos, que se
economize. É uma reforma de cunho fiscalista. E a outra não dita é maldita, objetiva
abrir o mercado, o nosso mercado de servidor público, para a iniciativa privada.
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Quem está na FUNPRESP vai ter que dizer: adeus, FUNPRESP! Se essa
reforma passar, com certeza será incentivado a procurar, melhor dizendo, será
procurado pelo Bradesco, pelo Banco do Brasil, pelo Itaú, por qualquer banco privado,
que haverá de administrar a sua previdência.
Então, vamos todos ficar unidos, todos os trabalhadores do serviço público, os
da iniciativa privada, os aposentados.
Eu cumprimento o Edson do MOSAP, servidor público aposentado que luta há
mais de 10 anos contra injusta contribuição. Nós somos a única categoria que continua
a pagar, depois da aposentadoria, à Previdência Social. Se isso é privilégio, eu não
sei mais o significado real das palavras.
A ANFIP vem aqui expor o seu ponto de vista e dizer que continuamos trazendo
todos os argumentos técnicos, mas só isso não é suficiente. Há que se sair dessa
zona de conforto, há que se sair da frente desse computador, da frente dessa televisão
e ir para as ruas. Precisamos estar unidos, unificados, porque o que está em jogo é
muito maior do que a Previdência Social, é muito maior do que a Seguridade Social,
é o futuro do nosso País, dos nossos filhos, dos nossos netos.
Vamos juntos que nós vamos derrotar essa PEC 287!
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Passo a palavra ao Dr.
Marcelo Barroso Lima Brito de Campos, Conselheiro do Instituto Brasileiro de Direito
Previdenciário.
O SR. MARCELO BARROSO LIMA BRITO DE CAMPOS - Muito obrigado.
Eu gostaria de dizer, com estas palavras finais, que o Instituto Brasileiro de
Direito Previdenciário é uma instituição que congrega intelectuais, professores,
advogados, juízes, procuradores e defensores que pensam a Previdência, estudam a
Previdência, lidam com a Previdência no seu cotidiano. O IBDP já vem com essa
cruzada há muito, porque não é a primeira vez — aqui já foi dito — que se tenta alterar
a Previdência brasileira, sob o mesmo argumento de um suposto, de um falacioso
déficit previdenciário.
De 1988 para cá, em vez de se aplicar o que determina a Constituição, criando-
se um sistema de seguridade social para distribuição de renda, o que seria o melhor
sistema do mundo, preferiu-se extinguir o Ministério da Previdência, subordinando a
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política previdenciária ao Ministério da Fazenda, quando o correto seria, por exemplo,
criar o Ministério da Seguridade Social.
Eu quero dizer que as reformas que vêm sendo feitas não são e nunca foram
adequadas para o planejamento que o Brasil merece. Então, Presidente, pode contar
conosco. O Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário sempre esteve nessa cruzada.
Não é a primeira vez que nós somos contra uma reforma da Previdência. E, meu
conterrâneo, nós somos de Belo Horizonte, forjados a ferro, forjados com ferro do
minério de Minas Gerais, forjados a fogo, com o calor do mineiro, com a cachacinha
que sempre gostamos de tomar, forjados a revoluções. Nós somos acostumados com
isso, desde a Inconfidência mineira. E eu fico muito satisfeito quando ouço sobre a
necessidade de nós termos a nossa inconfidência previdenciária.
Eu quero terminar com as palavras de ninguém mais, ninguém menos que
Albert Einstein. Para ele, insanidade é fazer a mesma coisa sempre esperando
resultados diferentes.
Chega dessa reforma previdenciária que vem sendo empreendida e não vem
oferecendo resultados. Nós temos outras propostas. Retire-se a PEC 287, seja qual
for o texto. Vamos nos sentar, conversar e fazer a verdadeira reforma que o Brasil
precisa, porque não é o servidor que perde com essa reforma, é o Brasil, é o Estado
brasileiro, é a sociedade brasileira, é o povo brasileiro, que não merece o que está
acontecendo agora.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Passo a palavra a Ely
Maranhão, Diretor Jurídico do SINDILEGIS.
O SR. ELY MARANHÃO - Agradeço à Comissão a oportunidade de me
manifestar.
Quero fazer um resumo de tudo o que foi falado aqui. Está havendo um
desmanche sistemático do Estado, com a PEC da limitação de gastos, a
Desvinculação de Receitas da União, a proposta de reforma da Previdência, com um
conjunto de retirada de direitos, tudo com foco na maior rubrica do Orçamento, o
pagamento de juros da dívida. Num país que não tem o maior endividamento do
mundo, num país que não tem crise na balança de pagamentos, não se explica por
que sistematicamente se paga mais, e mais, e mais. Se isso não for mudado, vai-se
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fazer essa reforma, vai-se fazer tudo, vai-se acabar com o Estado e vai-se continuar
pagando juros para os rentistas. Isso não pode acontecer.
Não adianta querer culpar o servidor, não adianta querer culpar a Previdência.
A discussão tem que ser bem mais ampla. Nós não podemos perder a visão sobre
isso.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Concedo a palavra ao Sr.
Rudinei Marques, Presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de
Estado — FONACATE.
O SR. RUDINEI MARQUES - Para encerrar, quero dizer que podemos acusar
o PMDB de tudo, menos de não ter sido coerente. Se lermos A Travessia Social, que
era uma reformulação de Uma Ponte para o Futuro, veremos que está escrito lá com
todas as letras que é necessário um novo começo nas relações do Estado com as
empresas privadas. É justamente o que estão fazendo. Estão entregando o Estado. A
nova relação é essa. Entrega o Estado, e o mercado administra.
Então, o Fórum e as entidades que o compõem — aqui na Mesa nós temos
cinco delas representadas, e algumas outras, como a ANFFA e a SINAL, também
estão aqui entre nós — têm denunciado não só o ataque ao serviço público, como
também o ataque aos trabalhadores rurais, aos trabalhadores da iniciativa privada;
têm denunciado o empobrecimento dos Municípios. Enfim, a nossa luta não é só
visando ao interesse do servidor, é muito maior do que isso. Justamente por isso
temos produzido muito material para subsidiar a resistência no País todo.
Fomos duramente atacados, mas é importante deixar dito aqui com todas as
letras para o Governo que nós não vamos nos intimidar. Não vamos nos intimidar de
forma alguma. Daqui para frente, a unidade é força, é luta até enterrar este projeto
nefasto.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Passo a palavra ao Sr.
Mauro Silva, Diretor de Defesa Profissional e Assuntos Técnicos, da UNAFISCO
Nacional.
O SR. MAURO SILVA - Eu quero agradecer ao Deputado Lincoln Portela por
ter, junto com a Deputada Erika Kokay e outros Parlamentares, patrocinado este
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evento, em que buscamos fortalecer a luta contra a reforma da Previdência, em uma
das trincheiras, a do Regime Próprio.
Numa batalha como essa, nós não podemos nos enfraquecer em nenhuma das
trincheiras, nem no Regime Próprio, nem no Regime Geral, nem na aposentaria
especial. Exatamente por isso não poderíamos deixar de lado o Regime Próprio. E
acho que essa iniciativa dá um grande reforço à luta do Regime Próprio e à luta do
conjunto dos trabalhadores também.
Eu creio que tudo o que foi discutido aqui contribuiu para que novas ideias
sejam trazidas e também para a ideia principal de que precisamos agora ir para um
novo momento de mobilização com os estudos e tudo o mais, debatendo com a
sociedade e com a mídia, mas também realizando mobilizações, fortalecendo essa
trincheira do RPPS, que é importante, junto com todas as demais.
Eu agradeço e parabenizo a Comissão por este evento. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Passo a palavra ao Paulo
Martins, Presidente da União dos Auditores Federais de Controle Externo —
AUDITAR.
O SR. PAULO MARTINS - Mais uma vez, quero agradecer por esta iniciativa à
Comissão e ao SINDILEGIS, do qual eu também faço parte.
Acho que, de fato, precisamos ter consciência de que está montado um levante
contra os trabalhadores, com o objetivo de desmontar o serviço público, obviamente.
Fazendo uma pequena correção na fala do meu xará Paulo Rosa, quero dizer
que quem vai virar gerente não é o Governo; quem está virando gerente é o mercado.
Infelizmente, ele tem ditado as regras no Brasil. Nas costas de quem? De todo o resto
da população brasileira.
O TCU tem feito um trabalho importante também para a sociedade, através das
auditorias. Está auditando, agora, as contas da Previdência e também as dívidas,
incluindo as dos Estados. E eu acho que o que sai daqui é a conclusão de que
precisamos ter uma estratégia, como em tudo na vida. Não adianta só reclamarmos
nas redes sociais. Precisamos ter uma estratégia real de combate à reforma da
Previdência. E isso passa, necessariamente, pela mobilização de toda a sociedade.
O que nós vimos no dia 28 de abril foi um importante ato histórico. Isso vai ficar
marcado. Embora a imprensa vendida não tenha divulgado, nós sabemos o que
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aconteceu, e os Parlamentares e o Governo também sabem. Por isso o Governo está
com medo. E, mais uma vez, em nome da AUDITAR, do SINDILEGIS, do FONACATE,
quero dizer que temos que deixar a nossa marca, no sentido de que a Previdência é
nossa, e nos somarmos aos trabalhadores brasileiros para derrubar esta reforma no
Plenário da Câmara dos Deputados, se Deus quiser!
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Passo a palavra agora a
Petrus Elesbão, Presidente do SINDILEGIS.
O SR. PETRUS ELESBÃO - Quero agradecer a presença a todos e dizer que
este é mais um movimento e que muitos outros virão. Precisamos, realmente, encher
todos os plenários, não só de dirigentes, mas também de outros colegas, cada um
trazendo um. Vamos nos incorporar porque a luta é boa. Eles têm um poder muito
grande, mas nós temos a base.
Nós temos que ter a inteligência de saber movimentar a base. E aqui há
cabeças brilhantes. Vamos explorar esse potencial e fazer uma estratégia convincente
para que possamos chegar ao final e sair vencedores dessa briga. Estamos brigando
com a Rede Globo, com o mercado financeiro.
O Governo não vai fazer economia. Isso está claro para nós. Então, teremos
que usar a inteligência. Davi venceu Golias. Ele usou estratégia, inteligência, agilidade
e mira. Então, esses eu acredito que sejam os requisitos que vamos ter que usar
também.
É muito importante que todas as entidades estejam unidas, mas unidas mesmo,
porque é uma causa comum a todos. Nós temos que nos despir da vaidade e partir
para cima. Não há entidade maior, não há entidade menor e não há entidade do meio.
Há a causa. E essa causa nós temos que ter convicção de que temos que vencer.
Eu convoco todos para que escrevamos o nosso nome na história dos
vencedores, porque daqui a 15, 20 anos, se nós não tivermos vencido agora, nós não
vamos ser ninguém. Eu quero ter orgulho de olhar para o meu filho e dizer: “Nós
vencemos uma batalha que não foi fácil. Então você faça o favor de continuar
batalhando pelos seus direitos. Faça o favor de preservar o Brasil”. É isso que temos
que fazer. É isso e muito mais.
Vamos continuar a fazer estratégias. As estratégias nos Estados são de
extrema importância. Temos que começar, a partir de segunda-feira, terça-feira, a
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postar já os prováveis votos, porque 2018 está muito longe para nós. Nosso caso é
para o mês que vem. Então, vamos ter que começar agora. Vamos usar a Internet,
arranjar estratégias para a televisão, o que vai ser difícil, porque eles não querem
permitir. Vamos ter que usar a cabeça. Não é possível que com tanto cabeção que há
aqui não pensemos uma estratégia! Vamos à luta, gente. Vamos nos organizar
mesmo.
Por favor, vamos dar continuidade a este trabalho na segunda-feira, na terça-
feira, na quarta-feira, na quinta-feira. Vamos envolver os Estados.
Os Deputados têm medo, sim. Quando eles virem os próprios nomes
estampados em outdoors como traidores da Pátria, vão ter que dar explicações para
as famílias no Estado: “Ué, você está traindo a Pátria? O que é isso?” Essa é a nossa
guerra agora. Os dados estão a nosso favor. Então vamos usá-los.
Muito obrigado, de coração, a todos. E a luta continua! (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lincoln Portela) - Muito obrigado.
Eu quero fazer o registro de que esta Comissão já aprovou requerimentos para
debates sobre a PEC da Reforma da Previdência. Ontem tivemos na pauta as
propostas de mudanças no Benefício de Prestação Continuada — BPC; hoje, as
propostas de alteração na aposentadoria do servidor; ainda faremos debates sobre as
mudanças nas aposentadorias do Regime Geral e também sobre as aposentadorias
especiais.
Em nome desta Comissão, quero agradecer a todos os expositores e
participantes, que muito nos honraram com a presença e as exposições.
Várias entidades pediram que fizéssemos uma foto juntos aqui. O Marco me
relatou isso agora. Terminada a reunião, os senhores estão convidados para essa
foto, se assim o quiserem.
Está encerrada a reunião. (Palmas.)
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