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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Síndrome de Asperger ou transtorno do Espectro do Autismo
(TEA) causas e sintomas que afetam a comunicação social e
interação social
Por: GHISLAINE FRANK DA SILVA
Orientador
Prof. Mary Sue Pereira
Rio de Janeiro
2015
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Síndrome de Asperger ou transtorno do Espectro do Autismo
(TEA) causas e sintomas que afetam a comunicação social e
interação social
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Educação Especial e
Inclusiva
Por: Ghislaine Frank da Silva
3
AGRADECIMENTOS
• A minha gratidão ao meu Deus, rei dos reis Senhor dos céus e da terra.
Obrigada pelo ar que respiro, pela minha família, pelo meu esposo
Sidney e nosso bebê que vem a caminho, os quais são minhas
inspirações para a conclusão deste trabalho.
• Ao menino Miguel (co-autor desta pesquisa) e sua mamãe Josefa por
compartilhar comigo seu dia a dia na luta pela inclusão de seu filho.
Obrigada pelo carinho, seu filho será um grande homem.
• Aos meus tios Esther e Ezequias, pois, há 11 anos me deram a
oportunidade de continuar meus estudos nesta cidade, e também aos
meus primos Felipe e Priscila por me ajudarem financeiramente em um
momento tão difícil para mim e meu esposo. A vitória também é de
vocês.
• A minha Mestra Mary Sue, pela paciência e dedicação na conclusão
deste trabalho, mais uma vez fui sua aluna e só tenho admiração e
respeito pela profissional que és. Um super beijo.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao menino Miguel
da Silva Ferreira aprendi muito com você
e seu “mundo azul”, que Deus te abençoe
grandemente.
5
RESUMO
O Transtorno do Espectro Autista tornou-se um dos desvios de
comportamentos mais estudados e discutidos nos últimos anos e Kanner ficou
reconhecido pela originalidade de sua pesquisa, pois reconheceu e identificou
a diferença de comportamento esquizofrênico do autismo. Este trabalho
monográfico analisa as causas e sintomas do autismo e suas características
bem como os possíveis tratamentos.
A influência da escola e da família neste processo, tendo como base a
Lei nº 12.764/2012 que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com transtorno do Espectro Autista. Tem-se também, o
acompanhamento do aluno Miguel de 5 anos, nos tratamentos e o depoimento
de sua mãe Josefa neste processo de inclusão. Neste acompanhamento
houve entrevistas com as especialistas do CAPS onde o mesmo é atendido e
as possíveis ações pedagógicas utilizadas por elas nas salas de recursos para
atender à necessidade da criança.
6
METODOLOGIA
A Síndrome de Asperger ou Transtorno do Espectro do Autismo
apresenta causas e sintomas diferenciados, dependendo do grau de autismo
que vai do leve ao grau mais elevado, que afetam a comunicação social e
interação social. O Estudo foi feito com base em pesquisas bibliográficas, em
livros e artigos de revistas especializadas, buscando-se fundamentos técnicos
para uma proposta pedagógica que incluísse os autistas de forma
individualizada, para que a escola possa ser o lugar acolhedor e conhecedor
de um novo olhar sobre o Espectro.
Foi feita uma pesquisa de campo com o aluno Miguel e sua rotina diária
na escola e sala de recurso, bem como o acompanhamento em sua Terapia
Ocupacional no CAPS – Unidade de Saúde Mental para tratamento e
reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e persistente.
A influência da escola e da família no processo de inclusão de Miguel foi
de suma importância e a pratica docente utilizada pela Fonoaudióloga e
Professora de Educação Especial no CAPS foram diferenciadoras e
determinantes no desenvolvimento do trabalho.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Síndrome de Asperger – Causas e Sintomas 10
CAPÍTULO II - A Influência da Escola e da Família na Inclusão Infantil 19
CAPÍTULO III - Ações Pedagógicas diferenciadoras na Inclusão Autista 27
CONCLUSÃO 36
ANEXOS 39
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 48
ÍNDICE 50
8
INTRODUÇÃO
Muito se tem falado sobre a inclusão dos autistas na rede regular de
ensino, entretanto ainda há muitas barreiras nesse processo. O fato é que a
Síndrome de Asperger, ou Autismo, leva o indivíduo a ter um comportamento
diferenciado no tocante à reciprocidade social e comunicação, necessitando de
mediações específicas articuladas com as características singulares da
criança, onde o docente precisa procurar valorizar a inter-regulação da
participação do sujeito nas trocas sociais, ou seja, na relação obtida com o
ambiente inserido ao verificar a melhora do convívio social e também a
aceitação das crianças ao acolherem o “diferente” de forma natural, abrindo os
horizontes no processo de ensino-aprendizagem.
No capítulo I deste trabalho monográfico, abordaremos as causas e
sintomas da Síndrome de Asperger, que dificultam no desenvolvimento social e
comunicativo da criança. Tendo como base estudos da história do autismo e
suas características, como é feito o diagnóstico e, possíveis tratamentos tais
como: psicoterapia, psicólogos, psicanalistas, atendimento médico com
fonoaudiólogo, e atendimento pedagógico com especialista em Educação
Especial.
No Capítulo II, verifica-se a influência da Escola e da família no
processo de inclusão na Educação Infantil, tendo como direcionamento a Lei
nº 12.764/2012 – que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e o depoimento de uma mãe de
autista e sua perseverança na inclusão de seu filho.
Por fim, o Capítulo III vislumbrará as possíveis ações pedagógicas no
processo de inclusão dos autistas, sob o ponto de vista de se considerar as
necessidades das crianças, principalmente na Educação Infantil, que deve
oferecer a todas elas condições para aprender e brincar, organizando
9
situações pedagógicas intencionais que auxiliem no desenvolvimento de
capacidades de apropriação e conhecimento da criança em relação a si e ao
mundo.
Neste contexto, esta pesquisa bibliográfica tem referência teórica em
Assunção Jr (2007), Williams (2008), entre outros, para refletirmos sobre a
temática da inclusão, em especial, os autistas.
Tem-se ainda, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Especial na Educação Básica (2001), Declaração de Salamanca (1994) e a
Declaração Mundial de Educação para todos.
Assim, a Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica,
juntamente com os pais (responsáveis) exercem papel fundamental no
processo de inclusão de crianças autistas, tendo em vista que nesse período a
criança desenvolve suas habilidades e autonomias, que perpetuarão ao longo
de sua vida. Deve-se levar em conta não apenas em relação ao acesso, mas
sim, as necessidades e limitações, tendo a interação entre pares diferentes
como fator diferenciador no tocante ao desenvolvimento social e comunicativo
de forma adequada.
10
CAPÍTULO I
SÍNDROME DE ASPERGER – CAUSAS E SINTOMAS
O autismo é um fenômeno patológico cerebral caracterizado pela
limitação do desenvolvimento afetivo/social, ou seja, desligamento do mundo
que na maior parte dos casos, acompanha déficit mental com limitação e
atraso no desenvolvimento intelectual. A palavra autismo resulta da junção de
duas palavras gregas: “autos” que significa “em si mesmo” e “ismo” que
significa “voltado para”. Portanto, o termo autismo originalmente significa
“voltado para si mesmo” (KWEE, 2006).
A incapacidade qualitativa na interação social recíproca é uma das
principais características do autismo, pois nota-se uma incapacidade nítida
para fazer amizades com as pessoas ao seu redor; a busca pela ausência é
muito grande e dependendo do grau de autismo, percebe-se que muitos não
conseguem se expressar com palavras, mas apenas com balbucios
comunicativos, e muitos nem isso.
A comunicação não verbal é acentuada e com isso, a interação social
é prejudicada porque a incapacidade de iniciar ou sustentar uma conversa é
pequena e limitada.
Uma característica principal nos autistas encontra-se nos movimentos
corporais estereotipados, tais como: pancadinhas com as mãos ou rotação,
movimentos de fiação, batimentos da cabeça e movimentos complexos de todo
o corpo.
Algumas características do autismo foram feitas por Leo Kanner, foi ele
que, há cerca de meio século, publicou um artigo, que descreve crianças com
comportamentos diferentes de todos os outros.
11
“ (Leo Kanner – 1943):
- Um profundo afastamento autista;
- Um desejo autista pela conservação da semelhança;
- Uma boa capacidade de memorização mecânica;
- Expressão inteligente e ausente;
- Mutismo ou linguagem sem intenção comunicativa
efectiva;
- Hipersensibilidade aos estímulos; - Relação estranha e
obsessiva com objectos.”
A ecolália – fala de papagaio, ou seja, linguagem literal, inversão
pronominal, uso estranho da negativa, e outras perturbações da linguagem
(Kanner,J.,1946).
Após um ano da publicação do artigo de Kanner, em 1944, um pediatra
austríaco Hans Asperger, publicava um artigo, em alemão, "Die Autistischen
Psychopathen im Kindesalter", que descrevia um grupo de crianças com
características muito semelhantes às de Kanner, chamando igualmente
autismo de síndrome.
Asperger percebeu que as crianças tinham traços essenciais com as
crianças autistas, pois apresentavam incapacidade de total de comunicação e
interação social e de modo geral apresentavam um alto grau de deficiência
mental que se associava muitas vezes, com a agressividade e apesar de essas
características serem parecidas, existia outro grupo, estudado por Asperger,
com inteligências e linguagens acentuadas – que hoje, são as crianças com
Síndrome de Asperger.
Em muitos casos são comparados a gênios devidos a sua inteligência
e habilidade em muitos aspectos. Crianças com Síndrome de Asperger são
verbais e a falta de proximidade com o meio social está presente.
12
Seus estudos foram ignorados até aos anos 90 até que Lorna Wing,
uma psiquiatra americana, atentou para o trabalho de Asperger e ressaltou a
importância de forma que o estudo teve um crescimento e algumas
características Lorna Wing (1981) definiu o síndrome de Asperger com seis
critérios de diagnóstico:
• A linguagem é correta mas, pedante e estereotipada;
• Ao nível da comunicação não verbal apresentam: voz
monótona, pouca expressão facial, gestos inadequados;
• No que diz respeito à interação social, esta não
recíproca e revelam falta de empatia;
• Resistem à mudança e preferem atividades repetitivas;
• Ao nível da coordenação motora apresentam uma
postura incorreta, movimentos desastrados e por vezes
estereotipias;
• Possuem uma boa memória mecânica e os seus
interesses são especiais e circunscritos.
A cartilha – Autismo ( Eu conheço. Eu respeito) da Casa de David diz que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresenta características em graus diferentes, partindo da total incapacidade à genialidade.
Alguns sinais são apresentados na primeira infância, aparecem antes
dos 3 anos de idade e, em cada 10.000 crianças, de quatro a cinco
apresentam a doença, com predomínio em indivíduos do sexo masculino (3:1
ou 4:1), nota-se que as meninas com autismo podem apresentar diferentes
características e sintomas comportamentais e, portanto, podem ser
negligenciadas e sub-diagnosticadas, uma consideração importante na
avaliação e na intervenção.
13
O Autismo não conhece raça, etnia e condição social, alguns traços da
Síndrome conforme a Cartilha – Autismo ( Eu conheço. Eu respeito) da Casa
de David cita:
• Seu contato visual é ausente ou pouco freqüente; • Sua fala é prejudicada; • Não responde ao chamado pelo próprio nome, agindo como se não escutasse; • Não tem interesse em se relacionar com outras pessoas; • Tem dificuldade na mudança de rotinas; • Evita o contato físico; • Não apresenta interesse pelo que acontece à sua volta; • Prefere o isolamento; • Usa o outro como ferramenta; • Expressa-se através de gestos e não da fala; • Anda na ponta dos pés; • Não tem noção de perigo; • Apresenta crises de agressividade ou auto-agressividade • Apresentam dificuldades em se fazer compreender os outros; • Apega-se a determinados objetos ou alimentos; • Fala palavras w frases repetidas (ecolalia); • Seus movimentos são repetitivos (estereotipias)
Para diagnosticar o autismo, são usados hoje os critérios definidos
pelo DSM-IV e pelo CID-10. O tratamento é feito cuidadosamente por exames
físicos, psicopedagógicos e neurológicos.
Para tanto, as primeiras características podem surgir entre os 4 e os 8
meses de idade devido ao atraso da motricidade e da fala. Afinal, não existem
exames para se chegar ao diagnóstico de autismo, porém alguns são
realizados para que sejam descartados outros problemas.
14
A melhor forma de conseguir um tratamento é buscar orientações nos
serviços públicos de saúde para os encaminhamentos futuros, assim como nas
associações privadas que já são referência nesse atendimento, normalmente
conveniadas com o Estado.
As crianças com transtorno do espectro autista podem desenvolver os
sintomas citados anteriormente, antes de dois anos de idade e normalmente
podem ser detectadas e diagnosticadas aos três anos de idade. Esta
identificação precoce do transtorno tem sido associada a melhores resultados
de desenvolvimento no longo prazo.
Alguns autistas podem precisar de cuidados por toda a vida e cada
habilidade deve ser treinada de maneira minuciosa, como nas áreas de higiene
pessoal e auto-cuidados. O Autismo Clássico é um problema de saúde grave
que requer intervenção muito precoce e, possivelmente, por toda a vida da
pessoa.
Nesse caso, necessitam de treinamento especializado com terapeutas
e psicólogos para a realização de tarefas simplórias tais como comer, vestir-se,
e atividades básicas do dia a dia, a inclusão escolar é mais difícil e muitos
podem precisar de escolas especiais com salas de recurso adequadas ao
caso. Por isso, quanto mais cedo identificado a Síndrome melhor será o
desenvolvimento do indivíduo de se socializar e desenvolver as habilidades de
comunicação e interação que para eles (autistas) são muito difíceis e até
mesmo impossíveis.
Em relação aos pais e profissionais envolvidos, é preciso manter a
tranqüilidade necessária para que juntos possam avançar no tratamento da
criança, os educadores são os que mais mantêm contato com a criança e
poderão orientar os pais o médico ou terapeuta que avaliará o caso concreto o
qual com sensibilidade e racionalidade compreenderá os relatos recebidos da
Instituição de Ensino e de maneira objetiva, fará uma investigação
aprofundada, para se chegar a um diagnóstico correto, pois cabe esclarecer
15
que o docente não é o responsável pelo diagnóstico, ele auxilia neste processo
pois são sensíveis à percepção das pequenas dificuldades observadas no dia
a dia, para que as crianças sejam “investigadas” e tratadas pelos profissionais
especializados.
A vida escolar é muito importante para qualquer pessoa, por isso é
preciso um cuidado e um olhar especial a cada criança que chega e verificar
suas características desde cedo é essencial para o progresso do mesmo.
Na Revista Veja a reportagem “Olhos nos Olhos” em 21/03/2012
mostra a importância do diagnóstico precoce para o auxílio familiar e inclusão
na sociedade pois a mãe de Rafael 9 anos( na época da reportagem),
Alessandra, relata a dificuldade do filho em se comunicar, que só consegue
fazer tarefas mais prosaicas do cotidiano se seguir um passo a passo ilustrado
com figuras e frases curtas.
Diz que o diagnóstico precoce a ajudou no desenvolvimento do filho
quando Rafael tinha apenas 10 meses.
“Ele não dava tchau, e não mandava beijos em uma fase
da vida em que as crianças adoram fazer isso” lembra ela.
Sua primeira reação foi procurar um pediatra que imediatamente
suspeitou da Síndrome e o encaminhou a um neurologista, logo o tratamento
foi iniciado e graças à intervenção terapêutica precoce, o garoto já consegue
se relacionar com a família.
Segundo Williams, Chris (2008) em Convivendo com Autismo e
Síndrome de Asperger, a linguagem das crianças que nascem com a Síndrome
é variada, pois, cada qual adquire à sua forma e seu tempo, com suas
dificuldades individuais algumas têm aptidões de linguagens expressivas,
outras não.
16
O desenvolvimento da linguagem, segundo o autor, é aparentemente
normal até 1 ano de idade, as dificuldades surgem nos anos seguintes quando
a mesma se desenvolve com o uso social.
Por isso, a importância de se verificar algumas características da
Síndrome de Asperger logo nos primeiros meses de vida, pois a maioria dos
bebês nasce com a capacidade necessária para desenvolver aptidões de
comunicação, o que não ocorre 100% nos autistas.
A criança até 12 meses de idade interage com murmúrios e balbucios,
fazem movimentos faciais e sorriem para os pais de brincadeiras feitas,
crianças autistas reagem diferentes, o vínculo emocional estabelecido é
isolado, olhar distante, não murmuram, nem balbuciam o que faz os pais se
sentirem tristes por ainda não saberem que isto se deve a características da
Síndrome.
Até os 36 meses, a criança demonstra através de gestos a sua forma
de se comunicar, não apontam, nem acenam e muitas vezes demonstram uma
regressão aparente, pois se por exemplo falava “ Miguel quer bolo”, regridem
e param de falar e mostra outra forma de se comunicar, pegando – o pela mão
e levando – o até aonde desejam.
Também, utiliza-se de linguagem ou ruídos repetitivos sendo que o
objetivo não é de comunicação, apenas não tem conhecimentos de linguagem,
então se utilizam dos sons de maneiras vocais, resmungos ou gritos quando
estão nervosas.
A entonação e produção de som são diferentes porque não há a
preocupação de se falar baixo e as frases são básicas e os que têm autismo
considerado alto é quase inexistente.
Conforme Willians, Chris (2008) – A mistura de pronomes “eu” e você”
é freqüente.
17
“Você quer beber alguma coisa” significa “eu quero beber
alguma coisa”.
Continua dizendo o autor, que podem se referir a si mesmos pelo
próprio nome, por exemplo:
“Lucas quer um biscoito”
Isso acontece com crianças sem a síndrome também, entretanto
com os autistas se perdura por bastante tempo.
Apesar de não ser um consenso entre os pesquisadores, além da
manifestação clássica do autismo, é comum observarmos na literatura
psiquiátrica a diferenciação entre o autismo de alto funcionamento e a
Síndrome de Asperger.
Bem diferente do autismo clássico, o autista de alto funcionamento
apresenta enorme capacidade intelectual, principalmente na área de ciências
exatas. Entretanto, a dificuldade na linguagem, na comunicação e a repetição
exaustiva, são características comuns tanto na forma de autismo de alto
funcionamento quanto de autismo clássico.
Eles participam da vida social, mesmo apresentando essas
peculiaridades, sendo considerados de comportamento “ estranho” ou
“esquisito”, porém conseguindo interagir com as demais pessoas.
A Síndrome de Asperger foi identificada em 1944, mas só foi
reconhecida em 1994, suas características estão centradas nos seguintes
aspectos: interação social, uso da linguagem e longas repetições de diferentes
situações.
18
Apesar das características semelhantes com o autismo, os
portadores da síndrome apresentam habilidade cognitiva elevada, mesmo
assim, sua capacidade de interação é reduzida.
Acrescentando – se as principais características já citadas, as
crianças com o espectro autista frequentemente exibem graves distúrbios
comportamentais, como automutilação e agressividade em respostas ao
ambiente que o cerca, além da extrema sensibilidade a estímulos sensoriais.
Apesar de décadas de estudos e investigações, a etiologia do
autismo continua indefinida, pois se trata de um complexo transtorno, diverso,
com intensidade variada.
Segundo a definição do DSM – IV (2002), o Transtorno do Espectro
autista consiste na presença de um desenvolvimento comprometido ou
acentuadamente anormal da interação social e da comunicação e um
repertorio muito restrito de atividades e interesses. As manifestações do
transtorno variam imensamente, dependendo do nível de desenvolvimento e
da idade cronológica da pessoa.
Ainda de acordo com o DSM – IV, estão inseridos neste grupo: O
Transtorno autista, Transtorno de Rett, Transtorno desintegrado da infância,
Transtorno de Asperger e Transtorno invasivo de desenvolvimento sem outras
especificações.
19
CAPÍTULO II
A INFLUÊNCIA DA ESCOLA E DA FAMÍLIA NA
INCLUSÃO INFANTIL
Não compete apenas à escola a função de educar, naturalmente
que, depois da família, a mesma ocupa um lugar especial na vida da criança,
pois é aonde elas permanecem por mais tempo, e as expectativas quanto ao
seu desempenho escolar aumentam, assumindo maior importância na vida em
família.
A maneira como se estabelece as relações entre escola x família é
de suma importância para uma melhora na aprendizagem, principalmente
quando nos referimos às crianças especiais e seu processo de inclusão.
Uma boa comunicação entre pais e filhos se transforma em atitudes
de amor, respeito, confiança, atenção aos pequenos gestos e necessidades
básicas. Essa interação dos pais ajuda no processo de ensino aprendizagem
dos pequenos que terão uma possibilidade maior de se desenvolverem em sua
plenitude, conhecendo-os na primeira infância as ajudarão a descobrirem a
Síndrome de Asperger logo no início, ajudando em seu desenvolvimento
psicológico, emocional e afetivo.
Muitas vezes, o que vem impedindo o bom desempenho das
funções da escola é a falta de diálogo sobre o que acontece na família, o
educador precisa ter a consciência do que acontece no íntimo da família a fim
de auxiliá-los e tomar as providências cabíveis para uma melhora no processo
de inclusão. Conhecer a criança e seus fatores existenciais, pois cada uma
delas têm suas características próprias e no caso de nosso estudo “autismo”
existem graus diferenciados de comunicação e interação social.
20
A Lei nº 12.764/2012 institui a Política Nacional de Proteção dos
direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e estabelece diretrizes
para sua consecução. Nos diz em seu § 2 que o transtorno do espectro autista
é considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais.
O artigo 2º da referida lei nos mostram as diretrizes a serem
seguidas, para assegurar os direitos do autista:
“Art. 2o São diretrizes da Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista:
I - a intersetorialidade no desenvolvimento das ações e das políticas e no atendimento à pessoa com transtorno do espectro autista;
II - a participação da comunidade na formulação de políticas públicas voltadas para as pessoas com transtorno do espectro autista e o controle social da sua implantação, acompanhamento e avaliação;
III - a atenção integral às necessidades de saúde da pessoa com transtorno do espectro autista, objetivando o diagnóstico precoce, o atendimento multiprofissional e o acesso a medicamentos e nutrientes;
IV - (VETADO);
V - o estímulo à inserção da pessoa com transtorno do espectro autista no mercado de trabalho, observadas as peculiaridades da deficiência e as disposições da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente);
VI - a responsabilidade do poder público quanto à informação pública relativa ao transtorno e suas implicações;
VII - o incentivo à formação e à capacitação de profissionais especializados no atendimento à pessoa com transtorno do espectro autista, bem como a pais e responsáveis;
21
VIII - o estímulo à pesquisa científica, com prioridade para estudos epidemiológicos tendentes a dimensionar a magnitude e as características do problema relativo ao transtorno do espectro autista no País.”
Como se vê, o atendimento à pessoa com transtorno do espectro
autista é de suma importância para seu desenvolvimento, inclusive a
participação da comunidade em formular as políticas públicas, acompanhando
e avaliando.
Com o diagnóstico precoce, e com o atendimento multiprofissional
necessário, as respostas serão favoráveis às necessidades que são diversas.
O professor terá como se ater às características individuais e poderá se
comunicar de forma diferente e interagir com mais afinidade, pois quando uma
criança ou um jovem apresenta dificuldades significativas nestas áreas de
comunicação e interação, é essencial uma provisão educacional adequada
para assegurar que o aluno faça o maior progresso possível.
Muitas são as barreiras a se enfrentar no que diz respeito à inserção
no mercado de trabalho, há relatos de pessoas que se sobressaíram e são
brilhantes profissionais, que tiveram acompanhamento desde cedo e puderam
vencer as barreiras do autismo, pois a tríade de comprometimentos associada
à Síndrome – isolamento social, dificuldades de comunicação e insistência na
repetição comprometem a interação e afetam a aprendizagem, essas são
consideradas as causas, prevalência, identificação e avaliação do transtorno
do espectro autista.
Por isso, é muito importante o incentivo a formação e capacitação
dos profissionais especializados em atendimento às pessoas com
necessidades especiais para que possam ser sensíveis a estas características
e vislumbrem um novo olhar para seus pequenos alunos que se tornarão
grandes e serão homens e mulheres que contribuirão com a sociedade, com
seus talentos.
22
Como é o caso de Adriano relatado por Silva, Ana Beatriz B. em seu
livro Mundo Singular páginas 66 e 67 abaixo descrito:
“Adriano, desde pequeno, tinha dificuldade em olhar nos
olhos e parecia ser fascinado por algumas coisas. Teve
desenvolvimento normal da fala e era tagarela, mas
falava sempre dos mesmos assuntos, geralmente
relacionados a animais. Era identificado como “tímido”,
pois preferia brincar sozinho e evitava as pessoas,
detestava quando tocavam nele.
(...)
Com o passar do tempo Adriano fez acompanhamento
pedagógico e fonoaudiólogico e aprendeu a ler por
método silábico e fônico.
(...)
Começou a fazer terapia e escolheu uma área da
medicina na qual não precisasse ter muito contato com as
pessoas. Até hoje é lembrado pelos amigos com o apelido
de “Asperger”, pois nos estágios da psiquiatria que fez
durante a faculdade, todos o identificavam com a
síndrome. Lida muito bem com o apelido e, quando quer
se identificar com alguém pelo telefone, diz “Aqui é o
Adriano, Asperger!”, e todos se lembram dele. É
especialista em exames de imagens e bastante
conceituado.”
Tive o prazer imensurável de acompanhar uma mamãe de autista
com seu filho no tratamento. Fiquei admirada da espontaneidade em
compartilhar o processo de inclusão do seu filho.
23
A mamãe se chama Josefa Maria da Silva, divorciada,balconista,
mãe de Miguel da Silva Ferreira, nascido em 20 de abril de 2010, atualmente
com 5 anos de idade (autista) e também mãe de duas meninas que auxiliam a
mãe no convívio com o pequeno, as quais se chamam: Adriana – 17 anos e
Vitória 13 anos.
O Pai Adriano Lourenço Ferreira constituiu outra família, entretanto,
tem acompanhado o filho às consultas a Psicóloga.
Em entrevista Feita por mim, Josefa se mostrou a vontade em me
explicar como descobriu que seu filho Miguel era autista. Conta que ele sempre
foi muito calado e se expressava quando era contrariado, ou seja, quando
chamado à atenção, essas atitudes a deixava preocupada e apreensiva pois o
mesmo ficava puxando seus próprios cabelos e batendo às mãos na cabeça.
Aos 03 anos, Miguel foi para a escola pela primeira vez – Creche
Casa Viva situada à Avenida Amaro Cavalcanti, nº 2171 – Engenho de Dentro.
Seu ingresso deu-se dia 08/04/2013 na turma de maternal I.
Inicialmente houve um período de adaptação permanecendo na
escola no período de 08h as 11horas e gradativamente o período se estendeu
para integral, ou seja, das 8h às 17h: 20 min. O período de adaptação que
costuma ser de 10 dias, se estendeu até 08/05/2013, ou seja, um mês depois,
porque segundo o relatório da Creche Casa Viva (anexo 1), Miguel tinha
dificuldades em aceitar a alimentação da Creche e também de interagir com
os adultos e crianças de sua classe do Maternal I.
Miguel não interagia com seus pares e andava na ponta dos pés, ao
dormir chorava muito e acordava, algumas vezes, aos gritos. Ainda conforme o
relatório, em anexo 1 desta monografia, vê-se que a parte motora de Miguel
melhorou sensivelmente, conseguindo manusear adequadamente o material
escolar tais como, lápis, pincel e canetinhas.
24
A parte pedagógica precisa ser dirigida pela Professora e com
bastante incentivo, pois, na maioria das vezes, prefere ficar andando pela sala
ou permanece em pé e quieto, apenas observando.
Apresenta Linguagem oral não desenvolvida e a parte social mostra-
se “tímido”, quer dizer, aspectos de isolamento. A rotina diária escolar era bem
difícil porque não se alimentava direito e recusava os alimentos e água
oferecidos. Sua atitude comportamental é na maior parte do dia, de alegria,
mas se contrariado, fica agressivo consigo mesmo se debatendo no chão e
gritando.
Miguel ficou o ano de 2013 na Creche Casa Viva, seu relatório
consta da data de 22 de maio de 2013 ( anexo 1 ). Entretanto, a solicitação de
encaminhamento ao psicólogo consta da data de 09 de maio de 2013 ( anexo
2) e foi neste momento que a mãe Josefa constatou o que já pressentia em
seu coração, ondas de sentimentos e preocupações a assolaram, não sabia
por onde começar, mas sabia que seu filho era e é, o bem mais precioso e
precisava de sua ajuda e apoio.
A Creche Casa Viva a orientou como proceder e juntamente com o
encaminhamento lhe deu uma lista de locais com atendimento psicológico,
fonoaudiológico e psiquiátrico.
A Creche Casa Viva, agiu corretamente, através de um diagnóstico
precoce, ainda que não definitivo, encaminhou o aluno, ajudando a família no
processo de inclusão conforme orienta o artigo 3 da Lei 12.764/2012 abaixo:
“Art. 3 o São direitos da pessoa com transtorno do
espectro autista:
I - a vida digna, a integridade física e moral, o livre
desenvolvimento da personalidade, a segurança e o lazer;
25
II - a proteção contra qualquer forma de abuso e
exploração;
III - o acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à
atenção integral às suas necessidades de saúde,
incluindo:
a) o diagnóstico precoce, ainda que não definitivo;
b) o atendimento multiprofissional;
c) a nutrição adequada e a terapia nutricional;
d) os medicamentos;
e) informações que auxiliem no diagnóstico e no
tratamento;
IV - o acesso:
a) à educação e ao ensino profissionalizante;
b) à moradia, inclusive à residência protegida;
c) ao mercado de trabalho;
d) à previdência social e à assistência social.
A partir do diagnóstico dado pela Creche, Josefa começou a
procurar por especialistas adequados no intuito de se confirmar o diagnóstico
Clínico do Transtorno Evasivo do desenvolvimento – Autismo. Conforme
consta nos anexos, 3,4,5,6,7 e 8.
Entretanto, o processo é lento e gradativo. No ano seguinte, 2014,
Miguel completou 4 anos e teve que mudar de escola e conseguiu matricular-
se na Escola Municipal Maurício Cardoso, situado à rua Adolfo Bergamini nº
203 – Engenho de Dentro, que foi informada através da mãe de Miguel, do
diagnóstico da Creche Casa Viva.
Imediatamente houve encaminhamento ao Instituto da Família
situado à rua Goiás, 132 – Engenho de Dentro o qual o menor Miguel da Silva
Ferreira vai acompanhado do Pai Adriano, todas as 6ª feiras de 13:40 às
14:20h.
26
A mamãe Josefa o acompanha às quintas-feiras às 14horas no
CAPS ( Centro de Atenção Psicossocial) – Unidade especializada em saúde
mental para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental
grave e persistente. Conforme orientação pedagógica da Diretora da Escola
Municipal Maurício Cardoso.
O atendimento é feito pela Psicóloga Joana. Tive o prazer de
acompanhá-los em um dos atendimentos na CAPS, situada à rua Gomes
Serpa nº 49 – Piedade.
Miguel mostrou-se a vontade ao ambiente e afeição ao local, dava
pulos de alegria quando se aproximava do local e ficou na sala de recursos
somente com a Psicóloga interagindo com os jogos pedagógicos em
tratamento individualizado. O CAPS é a sua segunda casa como disse sua
mãe Josefa, mostrando-se satisfeita.
Os CAPS funcionam de segunda a sexta, com atendimento das 8h
às 17h. Algumas unidades possuem também acolhimento noturno, durante os
sete dias da semana. Um avanço para o atendimento a vários tipos de
necessidades especiais, não apenas ao autismo, mas a tratamentos como
TDH, TDAH, Síndrome de Down, dentre outros.
Miguel, atualmente, está mais calmo, reconhece as pessoas do seu
convívio, mas a inclusão ao ambiente escolar ainda é uma entrave. A mãe
Josefa segue confiante no processo de inclusão, visto que, vislumbra melhoras
a cada dia e ver seu filho progredir é seu bem maior.
Escola e família neste processo, muito beneficiarão a criança e no
amanhã próximo onde Miguel terá uma vida social exercendo seus talentos e
conquistando sua autonomia.
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CAPÍTULO III
AÇÕES PEDAGÓGICAS DIFERENCIADORAS NA
INCLUSÃO AUTISTA
As taxas de diagnóstico de autismo aumentam a cada ano nas
escolas públicas e particulares, os alunos com autismo apresentam desafios
adicionais no ambiente escolar, por isso, é importante a capacitação dos
profissionais da educação ( coordenadores, professores) e também da área
administrativa e de apoio ( secretárias, auxiliares de turma) para que haja um
avanço neste processo de inclusão. Ferramentas e novas estratégias são
essenciais para promover as interações positivas para todos os membros da
comunidade escolar.
O objetivo é oferecer um apoio na integração dos alunos com
autismo em várias situações cotidianas. Recursos que possam ser
empregados através da equipe especializada em Educação Especial e
apreendida também pelo apoio administrativo escolar e no desenvolvimento da
comunidade escolar como um todo.
Professores especialistas e experientes, os terapeutas e familiares
juntos neste processo, sendo importante considerar o aluno na sua
individualidade, (Wade, 1999), diz que se deve assegurar oportunidades
adequadas de aprendizagem, avaliação e qualificação para permitir a total e
efetiva participação de todos os alunos no processo de aprendizagem. A
Família precisa ser orientada pelos profissionais que atendem a criança e
motivadas a buscarem conhecimentos sobre o autismo por meio de livros,
filmes e também, grupos de apoio. As condutas adequadas propiciarão melhor
desenvolvimento dos comportamentos das crianças.
28
A Declaração de Salamanca 1994, parágrafo 56 certifica que:
“As Escolas devem ajudar os jovem com necessidades
especiais a se tornarem ativos e oferecendo treinamentos
em habilidades que respondam as expectativas de vida
adulta, com subseqüente treinamento profissional que os
preparam para atuarem como membros”.
Para um avanço no tratamento, é necessário trabalho em equipe e
que cada um dos envolvidos tenha em mente de fazer a sua parte com
compromisso pois isso potencializa o trabalho do outro.
A Orientação (Dfes, 2003, p. 5) afirma que:
“ os alunos com o transtorno têm dificuldade de
compreender e utilizar comunicação não-verbal e verbal,
de pensar e se comportar flexivelmente.”
Por isso, as atividades são restritivas, obsessivas ou repetitivas, o
comportamento social afeta sua capacidade de interagir com crianças e
adultos. Muitos estão atrasados na aprendizagem da fala e alguns jamais
desenvolvem uma fala significativa.
Como trabalhar tais dificuldades no âmbito escolar?
O Código das Necessidades Educacionais Específicas (Dfes, 2001,
capítulo 7, pg. 56) orienta uma descrição básica de procedimentos dos quais
os alunos com dificuldades na comunicação e na interação podem beneficiar-
se. Os quais necessitarão de ajuda em:
ü Adquirir, compreender e utilizar a linguagem;
ü Articular;
ü Adquirir habilidades de letramento;
29
ü Utilizar meios de comunicação com confiança e
competência, para variados propósitos, incluindo
situações formais.
ü Organizar e coordenar linguagem oral e escrita.
ü Compensar o impacto de uma dificuldade de
comunicação na aprendizagem dos inglês como uma
língua adicional;
ü Expressar, compreender e utilizar a própria língua,
quando o Português não é a primeira língua.
Uma das formas de estimular o desenvolvimento social e
comunicativo dos autistas é a terapia da fala com uma fonoaudióloga, que
desenvolverá a fala da criança e com isso, o ajudará na interação social, o
acompanhamento juntamente com a escola é o ideal pois assim, o processo se
torna transparente para os envolvidos no processo de desenvolvimento.
Outro aspecto importante é a sala de aula que deve ser atrativa para
uma abordagem ampla e imaginativa pois os autistas apresentam dificuldades
de compreensão de linguagem abstrata ou dificuldades para lidar com
seqüência complexas de instruções as quais necessitam ser decomposta em
unidades menores.
Por exemplo, no acompanhamento feito com o aluno Miguel ( 5
anos) na “hora da história” a professora ao narrar, mostrava as imagens do
livro, e de repente, a atenção de Miguel fixou-se na tartaruga e somente isto
lhe ateve sua atenção, ignorando todo o restante da história.
Ao perceber que não houve atenção à história, a professora mudou
a forma de contá-la utilizando fantoches e pediu que cada um fosse um
personagem, e dessa forma a interação foi total e claro, que ele quis ser a
tartaruga.
30
Envolver o aluno é essencial para a inclusão visto que a forma de
trabalho é que diferencia o processo de ensino-aprendizagem.
Para que haja essa interação professor-aluno e aluno-professor é
muito importante o planejamento do docente com atividades que sejam
favoráveis às características de seu aluno portador do transtorno de
desenvolvimento global, pois, como já vimos, cada um tem suas características
próprias. Para tanto, o Coordenador Pedagógico precisa reservar horário
específico para atender a estes docentes, auxiliando-os neste processo.
Algumas escolas públicas municipais do Rio de Janeiro dispõem de
Professor Agente de Ensino Especial e está previsto na Lei que todas as
escolas devem ter um Professor Especializado em Educação Especial para
justamente ter um olhar diferenciado nas crianças especiais; estabelecer
contato contínuo na Sala de Recursos para, juntos, elencarem e elaborarem
atividades pedagógicas que atenda, às necessidades do educando e da escola
em um todo, através de pesquisas sobre o assunto que o motivem a melhorar
a cada dia.
A educadora da Creche Casa Viva, Nathália, utiliza em sua prática
educativa os jogos de encaixe ou de rosca, pois assim, o autista desenvolve a
coordenação motora e organização mental das técnicas do jogo.
Na área psicomotora, houve um avanço com o aluno Miguel pois
juntamente com a professora de Educação Física o contato com as outras
crianças se intensificaram, apesar de algumas vezes ter a dispersão do aluno
nos comandos da professora, houve um momento em que colocou-se música
no ambiente e ele entrou no ritmo musical, desde então, a docente mudou seu
planejamento e adaptou-o para que a participação de Miguel fosse mais
intensa e notou-se uma melhora sensível com seus pares.
31
Descobrir o que agrada o autista e o que lhe prende a atenção é
uma das formas utilizadas nas escolas municipais que tem surtido muito seus
efeitos.
A expressão corporal foi muito utilizada no 2º semestre o que
beneficiou o aluno Miguel que interagia com alegria.
Durante o acompanhamento do aluno Miguel, percebi a disposição
dos docentes em aprenderem coisas novas e melhorar sua didática, porque a
forma de falar, de olhar, é o que atrai o autista, ele precisa se sentir amado e
acolhido naquele grupo, mas precisa principalmente, ser conhecido em suas
emoções e forma de ver o seu “mundo azul” como algo natural, pois para eles,
o nosso mundo não é de todo normal, fazendo-o ter medos e receios internos.
Na Sala de Recursos da Terapia Ocupacional no CAPS, havia
muitas atividades, o aluno Miguel conhecia o ambiente e se sentia
familiarizado, o que deixava-o a vontade. Em conversa com a mãe Josefá,
senti o quanto ela se agrada em levá-lo para o CAPS, sente confiança nos
profissionais o que é importante para a interação dos pais com a instituição.
A Educação Especial conduzia-o sem pressões, algumas vezes ele
retrucava, chamava a mãe puxando-a pela mão e outras ia normalmente sem
que o chamassem, ela explicou que ele gosta de se sentir livre, uma
característica inerente ao autista.
Havia na sala uma caixa de papelão reciclada com os números de 1
a 9 presos em um prendedor de roupa, todos bem coloridos ( o que logo o
chamou a atenção) e flores coloridas coladas na caixa com a quantidade em
ordem crescente dos números. Lentamente ele foi se aproximando e contava
as flores e pegava o prendedor e colocava no lugar da quantidade, a
Professora explicou-me que com essa atividade, ela estava trabalhando além
do aspecto cognitivo, a preensão e associação. E os olhinhos do Miguel
brilhavam.
32
As atividades com pintura são bastante estimuladas também, o
contato com as cores, a sensação em misturá-las com as mãos; com esponjas
molhadas na tinta e repassadas para o papel, tudo é estímulo sensorial, feito
na sala de recurso e que é incluído no planejamento do professor de turno
regular, que recebe um relatório com as informações do desenvolvimento do
aluno enquanto na sala de recurso.
As formas geométricas feitas com palitinhos de churrasco, foi outra
atividade que encantou o aluno que ao colocá-los em ordem, mostrava as
imagens da figura e mesmo sem se comunicar verbalmente, colocava ao lado
da forma de palitinho corretamente e escolhia a mesma cor da figura para
colorir o fundo da figura de palitinho.
Miguel interage muito bem nessas atividades e corresponde aos
estímulos – disse a professora.
Reconhecer que o autismo não é inabilidade. É uma habilidade
diferente que faz toda a diferença, conforme Schwartzman, José Salomão (
2011, pg. 34), em Transtornos do Espectro do Autismo:
“Sabemos que a expressão funcional da síndrome
autística cobre um Espectro tão grande que quase
podemos dizer que autismo não existe, existem crianças
autistas, cada uma com sua personalidade, seus déficits
e potencialidades.”
Aprender a se comunicar com um autista é crucial para o
desenvolvimento da linguagem da criança, eis que em termos de habilidades
sociais e comunicativas são bem diferentes em comparação a outras crianças.
No CAPS, observei as constantes conversas da fonoaudióloga com
Miguel procurando, assim, verificar o interesse dele em algo e quando lhe
33
mostrou um carro azul, ele se sentou e ficou ali com ela um período razoável o
que fez ele se abrir e interagir.
Ela Falava em frases curtas como: Miguel quer o carro ? Vem
comigo?
O qual correspondia com o contato visual aproximando-se; Explicou-
me que o fato de Miguel não falar dificultava um pouco a comunicação, mas
que o contato visual e também a aproximação verbal, fazia a relação de
estímulo acontecer, sendo que com outros casos diferentes, poderia ser
utilizada a escrita como ferramenta.
Esse estímulo visual pode ser feito também por desenhos,
diagramas, instruções ou imagens simples, ajudam a comunicar suas idéias de
forma clara, aquilo que está tentando expressar verbalmente, a mãe foi
orientada a fazer o mesmo em casa.
Através do desenho pode-se por exemplo, fazer a rotina do
cotidiano, o café da manhã, a ida para a escola, a volta para casa, a criança
brincando, a hora de dormir, etc. Isso estrutura o dia-a-dia da criança que se
identificará com os personagens dos desenhos.
O processamento das informações recebidas são bem mais lentas e
por isso, a atenção é redobrada para que a criança não fique irritada e comece
a se agredir, porque se sente incapaz. Dê tempo para que assimile as
informações.
Conversar é muito importante, escolha um momento no qual a
criança esteja mais tranqüila, e interaja com ela. Se a criança estiver calma
será mais receptiva e o local deve ser tranqüilo e que não estejam
acontecendo muitas coisas ao mesmo tempo, pois estímulos excessivos
podem deixar a criança desconfortável.
34
Uma das atividades que me chamou a atenção foi a interação com
outros autistas da mesma idade que Miguel, através das brincadeiras, as
crianças aprendem através do brincar e isso inclui a aprendizagem de línguas.
Jogos interativos oferecem oportunidades agradáveis para as crianças se
comunicarem entre si e também com os adultos envolvidos.
A variedade de brinquedos no CAPS é variada pois assim, as
crianças procuram o que mais lhe agradavam. Então, vimos quanto a atividade
lúdica envolvia as crianças e promoviam a interação social.
Eles cantavam, e ao mesmo tempo, acompanhavam a Professora
nos pequenos gestos, a qual se posiciona em frente da criança perto do nível
dos olhos, assim ficava mais fácil da criança ver e ouvir o que ela dizia.
A Professora, algumas vezes, imitava as crianças e perguntei o
motivo e ela me respondeu que dessa forma ela encorajava mais as
socializações e interações, desde que seja um comportamento positivo.
As crianças precisam “encontrar a sua voz”, disse a fonoaudióloga,
com isso pude entender as estratégias utilizadas por elas no CAPS e fiquei
admirada pelo carinho com as crianças e o tratamento individualizado de cada
uma delas. Seguir o interesse da criança, ao invés de interrompê-la, conhecer
a necessidade de cada um é um avanço para o desenvolvimento dos aspectos
cognitivos do autista e também da linguagem verbal e não-verbal.
O Controle dos impulsos foi outro fator imprescindível, pois os níveis
do autistas são variados, alguns davam pequenas batidas na sua própria
cabeça, enquanto outros agrediam outra pessoa que o incomodava pelo
simples fato de estarem ali, observando-o.
A Professora sabia distrair à atenção, pedia para a pessoa se retirar
e logo a criança se acalmava e depois o envolvia com uma atividade, e de
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repente, aquela pessoa voltava e entrava na brincadeira e ele o aceitou sem
restrições.
Essas estratégias parecem básicas, mas foram essenciais para o
desenvolvimento de muitas crianças, o trabalho é árduo, mas tem nutrido bons
resultados, fazendo com que a adaptação da criança com Transtorno do
Espectro Autista na Escola Regular fique mais facilitadora e o processo de
adaptação seja mais tranqüilo para o educando.
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CONCLUSÃO
Como disse Paulo Freire: “Ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.
Sabemos que o processo de inclusão não é uma tarefa fácil, muitas
barreiras existem no meio do caminho, e eliminar estas barreiras é uma tarefa
árdua e ao mesmo tempo apaixonante.
Criar estas possibilidades para o crescimento do aluno é o que nos
motiva, nessa caminhada docente.
O Transtorno do Espectro Autista precisa ser conhecido, estudado,
pois a criança que a detém possui características tão diferentes entre si,
nenhum é igual ao outro e o “mundo azul” de cada um deles deve ser
respeitado e aceito por nós educadores, pais e sociedade como um todo.
Ainda há muitas barreiras a vencer, mas estamos no caminho certo.
O trabalho individualizado feito em sala de recursos com ações pedagógicas
diferenciadoras e com o acompanhamento adequado demonstra o quanto
evoluímos na inclusão destes pequenos.
Ver o desenvolvimento de Miguel e ter acompanhado de perto a
estrutura do CAPS vinculado a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro,
demonstra a preocupação da inserção social dos futuros cidadãos que farão a
diferença neste mundo.
Acreditar na Educação, procurar meios para o crescimento
pedagógico, se especializar, são funções imprescindíveis para um professor
que não desiste do futuro.
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Termino este trabalho monográfico satisfeita com os resultados da
pesquisa em campo, o amor recebido por cada um dos profissionais
envolvidos neste processo, fez toda a diferença.
A conduta do educador na Prática Inclusiva muda o destino de uma
criança.
Segundo Vygotsky (1994) “ Todas as crianças podem aprender e se
desenvolver através da interação com o meio.
Educação Inclusiva consiste nisto, uma ação política, cultural, social
e pedagógica em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos,
aprendendo e participando sem nenhum tipo de discriminação.
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ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Relatório – Creche Casa Viva
Anexo 2 >> Solicitação de Encaminhamento para Psicóloga Anexo 3 >> Encaminhamento para Neuropsicológico Anexo 4 >> Encaminhamento para avaliação Psicológica Anexo 5 >> Ressonância magnética do Encefálo Anexo 6 >> Guia de Referência do Sus Anexo 7 >> Encaminhamento para o Posto de Saúde Milton Fontes Magarão Anexo 8 >> Declaração de atendimento no INFA – Instituto da Família
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ANEXO 1
40
41
ANEXO 2
42
ANEXO 3
43
ANEXO 4
44
ANEXO 5
45
ANEXO 6
46
ANEXO 7
47
ANEXO 8
48
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Schwartzman, J. S.; Assumpção Jr. F.B. - Autismo Infantil. Mennon Eds.; São
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SILVA, A. B. B. Mundo singular: entenda o autismo. Rio de Janeiro: Objetiva,
2012.
50
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
SÍNDROME DE ASPERGER – CAUSAS E SINTOMAS 10
CAPÍTULO I I
A INFLUÊNCIA DA ESCOLA E DA FAMÍLIA NA INCLUSÃO INFANTIL 19
CAPITULO I I I
AÇÕES PEDAGÓGICAS DIFERENCIADORAS NA INCLUSÃO AUTISTA 27
CONCLUSÃO 36
ANEXOS 38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 48
ÍNDICE 50
Recommended