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o CULTIVO DA RAZAtildeO DIVERSA
Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena PINTO I
Aql(les ali eram COIII iacutefeacuteilO os amigos hOJd ISO se ajlldalldo 1I11 (lO olllro COll sinceridade lOS
ohslCfIlIacuteol e arriscada garanlias mesIIo nio
reuacutegulldo ( s(lcnidos para 1 ocorrolas lIofalo
jlor 1I1gll11( ordem 7oiacutefica de Ie dar tilg() LOl1lru ()
delulIlparo dL 1111 urraiul dL oltra gelle gelre L)I(
lfiacutes com madrinhCll e lIIae1 eles lIcW(1I11 (II(srl(l
lIulllrul lIII podiwl ir salienteIlente CIIIIprr por ohediecircnlia sallduacutel(le regra dc se (spegll~(r hCII
() horror iI 111 lIIe deli () sefhor IIIC elllendc) Eu fillha
medo do hOllcl11 hllmalo Il1UlIIUruacutees Rosa Gralde
5erllto riacutereda
Resumo O texto discute o problema da diversidade cultural e da intoleracircncia
como resultado da tagravelsa antinomia entre identidade e diferenccedila Propotildee ainda
um diaacutelogo entre o pensamento cientiacutetico e outras t(rmas de cogniccedilatildeo como um
exerciacutecio de reJigaccedilatildeo dos saberes
Palauas-chae diCrsidade cultural intoleruacutencia ciecircncia mito
A mudanccedila nos paradigmas que sustentavam a COSl1loisatildeo do
chamado mundo ocidental que teve iniacutecio por olta do s0nllo XVI e cuja
ressonacircncia ainda podemos sentir em pleno seacuteculo XXI criou noos campos de
I Graduada em FilosofIa pela Universidade Federal do Amazonas Mestrado em Filosofia do Conhecimento pela Universidade do Porto middotPortugal Doutoranda em Antropologia Social
pela PUCSP
IUIl 005 7
inteligibilidade em funccedilatildeo das descobertas que na eacutepoca marcaram sobretudo
a civilizaccedilatildeo europeacuteia Dentre os fatos que provocaram mudanccedilas profundas
podemos citar o movimento das grandes navegaccedilotildees cuja consequumlecircncia imediata
foi colocar o problema da alteridade
Desta forma a modernidade histoacuterica t(uacute inaugurada trazendo em
si questotildees paradoxais Se por um lado a descoberta de novos continentes
eshoccedilava o projeto de um futuro promissor com a exploraccedilatildeo da natureza
ahundante que ora se apresentava por outro lado a cultura do outro descoherta
a pm1ir do contato com outras formas de coletividade foi igualmente um tato
impactante e perturhador A dicotomia construiacuteda a partir dos conceitos de
natureza e cultura e que vecircm sendo trahalhada pela ciecircncia foi colocada na
pauta das discussotildees que nortearam as mudanccedilas ocorridas na dinacircmica da
nova ordem mundial
O mundo sofreu uma alteraccedilatildeo profunda depois de ter constatado
que novas formas de pensar e interagir com o amhiente foram anunciadas no
horizonte da histoacuteria A teleologia que marcava os passos dos homens dentro de
um uninrso ordenado por princiacutepios eternos e metafiacutesicos uumllIacute substituiacuteda pela
instahilidade e a incel1eza que imadiram o imaginaacuterio da civilizaccedilatildeo europeacuteia
sem no entanto ahalar a sua auto - imagem construiacuteda soh os alicerces de uma
pretensa superioridade
A discussatildeo acerca do prohlema da diversidade cultural encontrashy
se na ordem das prioridades mundiais pelo tato de ser uma questatildeo sohretudo
poliacutetica e as relaccedilotildees poliacuteticas satildeo relaccedilotildees que pressupotildeem uma identificaccedilatildeo
com a alteridade Essa eacute a primeira condiccedilatildeo para o estahelecimento de um
pacto Pacto que eacute conveniente ateacute o momento que atende aos interesses das
partes ellolvidas A explicaccedilatildeo para o fato que leva os homens a estabelecerem
relaccedilotildees amistosas entre si pode estar situada no desejo de posse daquilo que
carecemos A incompletude eacute ainda uma das marcas do humano
8 A(st) iacute1middotSSt1 raccedilmuha ) n ~_ p 7 - 1J Jun 2005
(omccedilamos o seacuteculo XXI com um acontecimento qu ahalou ajuacute
hagilizada ordem mundial Todos os lugares interligados pela midia planetaacuteria
nln passaram inc(llumes uacutequelas imagens do acontecimento moITiclo 110 dia II
de sLtemhro de 001 110S Estados lnidos da Ameacuterica () desabamento do
complexo arquitltocircnico do Yorld Tracle Ce11tlr inaugurou lima nOa etapa nas
rdaccedilotildees poliacuteticas e de alguma t(mmt redesenhou c0I11111aior nitidez a geografia
do poder beacutelico mundial ()s Estaclos l iniclos aleacutem de toda sua forccedila econoacutemica
dom inanh I1H lStroU o lxcrc iacutecio da hegemonia guclTeira no ataque ao AtCganistlo
cinicamente chamado de ofensha armada contra o tlrrorismo A llgica que
domina a lol iacutetica llorte-allllrieana se tornou ostll1siamlnte lima klgiea III i I itar
dispt1sta a destruir plla rurccedila tudo o que lhe resist(o
Ista luacutegica dI guerra natildeo huacute lugar para os I1lutros I para os
111Idiadrls 1 gr~lL crisl eC(ll1lll11ica I a fragilidade das posiccedilotildels poliacutelicoshy
illloltlgicas ruacuteluiram os outros puiacuteslS a um silecircncio Lll forma consentida ()
assustador neste eSlltuacuteculo lk horrnrls eacute pensarmos I1eacute1Ljui lu quI SI InClll1tra
pur tr~is dlsse silecircncio lo SI trata aqui da ddiniccedilagraveo de uma postura eacutetica
illgtnua quI semprL polarizou a luta do nem contra o mal e lamel1tallmellle
ainda dUl11ina () paradigll1lt1 do plnsamento ocidental las se eacute que ainda nos
resta algum Il1HIacutell para nos inquietarmos com aquilo LjUI l1 hOI11lm eacute capaz de
t~ler purqul licarm()s clgos lm relaccedilatildeo ao s)ti-imenlo do tlutro1 consentirmos
Cllm a iolcncia produzida pelo desvario IJ p(Hkrnsos) A brutalidade d(l 11 lil
sltlmnro fUllcionou como um akl1a maacuteximo contra a intolcraacutencia Istrateacutegiashy
surprlsa plllsada pllos autorlS do atentado luacutei (1 tllto 11 tllTI11 englndrado algo
puomso que Il1olcu o sacri fiacutecil de milhares de Iacutetimlt1s ct~ia ftmtl de inspiraccedilagraven
parl a eeewagraveu da trama nlO eacute difiacuteci I imaginarmos de ondl surgiu
hUI11~Ulidade Istuacute cltlmIacutenhand() na conquista de Istiacutemulos conlt111os
salxlls e LpliacuteCeacutelCcediltcS quI nos separam dI algumas cplricncias rudimentares
0 cntanto a perpkiacutedadl e a iacutenquictaccedil1o plrmaneeem todos ISSIS
9
acomecimtntos nos remettm ao questionamento de temas que insistem em
acompanhar () homem nesta caminhada Perguntamos o que detona tamanha
yiolencia Como explicar essa predisposiccedilatildeo para a crueldade
A crueldade de uma foacuterma mais complexa natildeo enyolve apenas o
iacutekrramamento de sangue Ela eacute sinocircnimo de impiedade intransigecircncia
insensibilidade O inexoraacutevel que compocirce um dos sentidos do ocaacutebulo fuacutez palie
da praacutetica humana O haacutebito eacute a marca da maldade Fazemns da vida um haacutehito
que nos impele uacute compulsatildeo e agrave repeticcedilatildeo Fomos programados para dar respostas
sempre ao mesmo n emharaccedilo criado diante do din~rso eacute sempre um ohstaacuteculo
que fere de mortc () ciacuterculo icioso criado pelo haacutehito e que acaha por tagravezer do
mal uma hanaliacutedade O haacutehito j()ssiliza aquilo que cresceu c se multiplicou ou seja
estamos I~llando aqui daquilo que ycm sendo chamado de cultura enquanto
categoria produzida pclas ciecircncias humanas
Retomando ao seacuteculo XVI e ao cenaacuterio das transtixmaccedilotildees ocolTidas
na (middoturopa foi a partir daiacute que comeccedilou a esboccedilar-sc um Jl1Oimcntll huacutesico de
encontro com o outro Momento marcante a exigir que se comeccedilasse a pensar a
dilaacuteenccedila e as formas pdas quais a alteridade passou a ser formulada No seacuteculo
XX quando a Antropologia supera os csquemas simplificadores do holucionismo
e amplia scu campo de cstudos sobre essa questagraveo da dirsidade cultural atraiS
dtl Relatiisll1o a sociedade nesse processo comeccedila a pensar-se
() Relativismo cultural complexi ficou ainda mais 1 estudo das culturas
humanas ao perceher a impol1agravencia da ohscnaccedilagraveo de cel10s aspectos pal1Iacuteculares
de cada coktiidade enlagravetizando os processos de mudanccedila de troca e empreacutestimo
cultural
2 Cultura c Estranhamento
flas atinaI em que consiste esse Icnocircmeno denominado de cultura)
- ~--~_-----------------
10
Ela se impotildee de fato como condiccedilatildeo exclusiva do humano Se pensamlos a
cultura metaforicamente como uma teia de ramificaccedilotildees que englobam todo o
tagravezer humano a existecircncia os saberes a arte a religiatildeo moral etc poderemos
nos desviar de um erro que vem sendo cometido propositadamente pelas
instituiccedilotildees reprodutoras do conhecimento e da infomlaccedilatildeo que eacute a praacutetica da
exclusatildeo do outro As elites pensantes sempre enfagravetizaram a ideacuteia de que a cultura
seria produzida especialmente num niacutevel mais elUdito O erro cometido impediu
que a cultura tosse vista como um sistema totalizante O homem nagraveo se dissocia
da cultura qualquer coacutedigo sistecircmico empobrece o objeto de qualquer estudo
que tenha a pretensatildeo de desvendar o que eacute o homem nas suas manifestaccedilotildees
criativas O problema da diversidade eacute tambeacutem um problema tilosoacutefico
O questionamento claacutessico feito pela tilosofia e que foi depois
legitimado pela antropologia eacute o seguinte por que as culturas variam tanto e
quais satildeo os sentidos de todas essas variaccedilotildees A resposta a essas perguntas
contribui no combate a preconceitos oferecendo uma base para () respeito e a
dignidade nas relaccedilotildees humanas A histoacuteria sempre tt)i marcada pelos contatos e
conflitos entre os diferentes modos de organizar a vida social O aceleramento
desses contatos eacute recente e os grupos isolados vatildeo desaparecendo com a
tendecircncia agrave tt)Jll1accedilagraveo de uma civilizaccedilatildeo cada vez mais globalizada
Haacute vaacuterios marcadores que pautam o estudo da diversidade das
culturas Cm deles diz respeito agrave dinacircmica desse processo As sociedades nagraveo
devem ser concebidas de maneira estaacutetica porque nenhuma delas viC lima
situaccedilagraveo de isolamento completo as culturas comunicam entre siA diversidade
eacute um fenocircmeno natural resultante das relaccedilotildees entre as sociedades e no entanto
essas diferenccedilas sempre causaram um cel10 estranhamento do qual haacute por parte
dos meios produtores do conhecimento uma preocupaccedilatildeo displicente em refutaacuteshy
lo
Esse estranhamento eacute o ponto de pat1ida para a intoleracircncia e esta
por mais que seja lima postura ingeacutenua e que tenha sido superada pelas teorias
AcsiO a~stilt ra~atuha_ 3 n 3 p jlllJ 21111 II
modernas da cultura encontra-se profundamente enraizada nos homens atitude
que tende a rejeitar o outro para fora da noccedilatildeo de humanidade A proacutepria noccedilatildeo
de humanidade sem distinccedilatildeo de raccedilas eacute uma noccedilatildeo nova e estaacute longe de ser
aceita pela maioria do senso comum A humanidade acaba sempre nos J im ites
estreitos da toleracircncia de cada um O fato pode ser ilustrado nas
autodenomiacutenaccedilotildees utilizadas em vaacuterias coletividades que satildeo os homens os
bons os excelentes os perfeitos implicando assim que os outros grupos natildeo
participem das virtudes ou mesmo da natureza humana
Uma grande ilusagraveo inventada no mundo moderno toi a necessidade
de se proclamar uma igualdade natural entre todos os homens que deveriam
unir-se em laccedilos tratemos a religiatildeo e a tilosofia tlacassaram nessa tarefa Essa
perspectiva humanista serviu para consolidar a oposiccedilatildeo entre natureza e cultura
O conceito de humanidade passou a ser um operador eticaz que se por um lado
t()i instrumento de combate contra o etnocentrismo por outro diluiu as variaccedilotildees
que constituem a diversidade cultural O tracasso deveu-se ao negligenciamento
das diferenccedilas A declaraccedilatildeo dos direitos do homem esqueceu que o homem
nagraveo realiza sua natureza numa humanidade abstrata mas nas coJetividades que
satildeo o local de produccedilatildeo das culturas
C ada coletiviacutedade produz a sua cultura em pm1ieular o que relerenda
o humano eacute a proacutepria variaccedilatildeo cultural A variaccedilatildeo pertence ao mundo da natureza
e ao Inundo da cultura sua compreensatildeo tem sido um uesalio inquietante A
coletividaue eacute arbitraacuteria porque cria haacutebitos que podem ser estendiuos ateacute o
sentido mais lato do ternlO como por exemplo os haacutebitos bioloacutegicos daiacute ser
tambeacutem o corpo o loacutecus da cultura A cultura compreende assim o conjunto
dos haacutebitos e dos costumes de um deternlinado grupo social o pertencimento a
uma comuniuade eacute o sentimento que preserva a autonomia do grupo e instaura
uma dimensatildeo de sentido que eacute o seu ser-no-mundo
12 Avesso lt1(1 Araccedilatuha n 3 r i 2J JlIIl 2005
Toleracircncia versus intoleracircncia espaccedilos linguumliacutesticos distintos o
prohlema religioso os poderes hegemocircnicos e constituiacutedos Todos esses t~1tores
nos Ieam a pensar na qucstatildeo dos valores uniersais Seriam eles de t~lt() os
nOl1eadores da possihilidade de uma comivecircncia mesmo aacuterida entre os 10 os
Operadores universais satildeo operadores estruturantcs o fenoacutemeno da cultura 0
sempre unin~rsaL p0l1anto a antinomia entre o peculiar e o unimiddotcrsaI0 Jalsa natildeo
huacute essecircncia alguma a serdescohel1a esse foi durante muito tempo o corolaacuterio
da pruumltiea ctnograacutelica Os criacuteticos da etnologia atinmll11 que sua prltica cOITohora
com o discurso colonial porque trahalha comum princiacutepio epistecircmico de que
existiria um etno-pensamento A cultura ao mesmo tempo em que eacute um fenoacutemeno
universal eacute tamh0m a expressatildeo de um si-proacuteprio qualquer Os traccedilos mais
autecircnticos de uma cultura satildeo os que se prestam a serem mais 1111 itrsaIiluacuteeis
quilo que tem roacuterccedila pode ser uniersalizaLlo
Na anuacutelise dos proCessos culturais deem ser kados elll conta
alguns rdercllciais ontnluacutegicos ()UCIl1 somos Cultura e idiacutentidadiacute satildeo a tniacuteSl11lt1
coisa () sentimcnto de pcrtcncimento natildeo eacute uma identidadc cle 011111 iacutenculo que
cada coletiidade cstabelece e que perdura os iacutenculos de pertencimento satildeo
construiacutedos Quais sagraveo os limites dc uma coletiidadc ( necessuacuterio proceder
na dirc~atildeo da desconstruccedilatildeo do conceito de identidade ou seja a UIll processo
de transculturaccedilagraveo A aculturaccedilagraveo implica em adquirir uma nOl cultura e pncedc
a transcllltura~atildeo O proacuteprio eacute o que nos singulariza fiente agraves outras culturas sagraveo
traccedilos que satildeo compartilhados nu natildeo com lima outra cultura a pccul iaridade 0
algo contesluacuteeL ()lIal seria o ethos de um POo 1agraveo eacute possiacute(~l encontraacute-lo
porque ele natildeo eXiste () conceito de identidade nagraveo eacute operativo eacute precisa ser
prohlematizado por isso cada cz mais cresce LI Cigtllcia da construccedilatildeo de uma
eacutetica
- lun ~()n~
~-~-----------------------
3 O Mito da Razatildeo
A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o
Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado
seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees
eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser
uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a
desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo
conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial
expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos
O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()
de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela
eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre
estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de
pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces
de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com
todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos
( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais
iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua
pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um
desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS
ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos
relacionamentos inteq1essoais
Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no
progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute
discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da
diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de
uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano
I~
da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma
coletividade
A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo
de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e
maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas
o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as
categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas
e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do
mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute
DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo
entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute
um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque
li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a
dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar
com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os
indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0
a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A
autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a
oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto
entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()
papel de autoridade
O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a
construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras
j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos
caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro
de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de
sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano
do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se
15
enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro
aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia
Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da
psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias
equivocadas e preconceituosas
Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como
um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de
tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que
gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()
mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento
das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee
uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma
Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma
bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens
Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam
muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo
dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento
somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido
pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo
lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do
sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia
de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute
Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia
prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva
Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia
exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade
tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos
e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso
16
tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de
enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No
entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles
que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute
possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a
niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos
inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob
pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica
que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna
Construindo uma Nova Epistemologia
Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de
al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos
desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a
afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de
preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e
compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a
humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel
a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada
coleliidade possui a sua 101111a proacutepria
A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para
garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o
homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou
dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt
ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar
que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento
de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as
17
mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento
comeccedila a se delinear
Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel
eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave
psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees
conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas
da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente
inexploradas
lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo
inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento
mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da
estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade
Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar
da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para
poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees
da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional
na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos
Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas
sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental
para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos
Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos
que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a
matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado
dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy
nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um
estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas
das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo
psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa
IH
capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e
nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em
que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste
mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um
ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano
Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um
conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo
humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais
di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como
transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo
mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o
mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias
do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram
perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado
masviido
As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi
levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a
refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam
estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos
har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala
dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para
a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a
manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo
A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura
considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime
o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml
que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo
e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado
19
------------- -shy
equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens
que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os
procedimentos do pensamento humano
O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios
existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta
porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial
simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de
identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao
pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das
partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo
eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do
conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma
postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus
domiacutenios
a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de
internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo
podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar
sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo
tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem
encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear
()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas
estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida
A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine
uma ciilizaccedilatildeo
Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e
mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente
que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias
20 1l1ll WiI
~----_-----------------------
leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
IlIn 2005 21
-----------------------_ --~_ shy
satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
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ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
inteligibilidade em funccedilatildeo das descobertas que na eacutepoca marcaram sobretudo
a civilizaccedilatildeo europeacuteia Dentre os fatos que provocaram mudanccedilas profundas
podemos citar o movimento das grandes navegaccedilotildees cuja consequumlecircncia imediata
foi colocar o problema da alteridade
Desta forma a modernidade histoacuterica t(uacute inaugurada trazendo em
si questotildees paradoxais Se por um lado a descoberta de novos continentes
eshoccedilava o projeto de um futuro promissor com a exploraccedilatildeo da natureza
ahundante que ora se apresentava por outro lado a cultura do outro descoherta
a pm1ir do contato com outras formas de coletividade foi igualmente um tato
impactante e perturhador A dicotomia construiacuteda a partir dos conceitos de
natureza e cultura e que vecircm sendo trahalhada pela ciecircncia foi colocada na
pauta das discussotildees que nortearam as mudanccedilas ocorridas na dinacircmica da
nova ordem mundial
O mundo sofreu uma alteraccedilatildeo profunda depois de ter constatado
que novas formas de pensar e interagir com o amhiente foram anunciadas no
horizonte da histoacuteria A teleologia que marcava os passos dos homens dentro de
um uninrso ordenado por princiacutepios eternos e metafiacutesicos uumllIacute substituiacuteda pela
instahilidade e a incel1eza que imadiram o imaginaacuterio da civilizaccedilatildeo europeacuteia
sem no entanto ahalar a sua auto - imagem construiacuteda soh os alicerces de uma
pretensa superioridade
A discussatildeo acerca do prohlema da diversidade cultural encontrashy
se na ordem das prioridades mundiais pelo tato de ser uma questatildeo sohretudo
poliacutetica e as relaccedilotildees poliacuteticas satildeo relaccedilotildees que pressupotildeem uma identificaccedilatildeo
com a alteridade Essa eacute a primeira condiccedilatildeo para o estahelecimento de um
pacto Pacto que eacute conveniente ateacute o momento que atende aos interesses das
partes ellolvidas A explicaccedilatildeo para o fato que leva os homens a estabelecerem
relaccedilotildees amistosas entre si pode estar situada no desejo de posse daquilo que
carecemos A incompletude eacute ainda uma das marcas do humano
8 A(st) iacute1middotSSt1 raccedilmuha ) n ~_ p 7 - 1J Jun 2005
(omccedilamos o seacuteculo XXI com um acontecimento qu ahalou ajuacute
hagilizada ordem mundial Todos os lugares interligados pela midia planetaacuteria
nln passaram inc(llumes uacutequelas imagens do acontecimento moITiclo 110 dia II
de sLtemhro de 001 110S Estados lnidos da Ameacuterica () desabamento do
complexo arquitltocircnico do Yorld Tracle Ce11tlr inaugurou lima nOa etapa nas
rdaccedilotildees poliacuteticas e de alguma t(mmt redesenhou c0I11111aior nitidez a geografia
do poder beacutelico mundial ()s Estaclos l iniclos aleacutem de toda sua forccedila econoacutemica
dom inanh I1H lStroU o lxcrc iacutecio da hegemonia guclTeira no ataque ao AtCganistlo
cinicamente chamado de ofensha armada contra o tlrrorismo A llgica que
domina a lol iacutetica llorte-allllrieana se tornou ostll1siamlnte lima klgiea III i I itar
dispt1sta a destruir plla rurccedila tudo o que lhe resist(o
Ista luacutegica dI guerra natildeo huacute lugar para os I1lutros I para os
111Idiadrls 1 gr~lL crisl eC(ll1lll11ica I a fragilidade das posiccedilotildels poliacutelicoshy
illloltlgicas ruacuteluiram os outros puiacuteslS a um silecircncio Lll forma consentida ()
assustador neste eSlltuacuteculo lk horrnrls eacute pensarmos I1eacute1Ljui lu quI SI InClll1tra
pur tr~is dlsse silecircncio lo SI trata aqui da ddiniccedilagraveo de uma postura eacutetica
illgtnua quI semprL polarizou a luta do nem contra o mal e lamel1tallmellle
ainda dUl11ina () paradigll1lt1 do plnsamento ocidental las se eacute que ainda nos
resta algum Il1HIacutell para nos inquietarmos com aquilo LjUI l1 hOI11lm eacute capaz de
t~ler purqul licarm()s clgos lm relaccedilatildeo ao s)ti-imenlo do tlutro1 consentirmos
Cllm a iolcncia produzida pelo desvario IJ p(Hkrnsos) A brutalidade d(l 11 lil
sltlmnro fUllcionou como um akl1a maacuteximo contra a intolcraacutencia Istrateacutegiashy
surprlsa plllsada pllos autorlS do atentado luacutei (1 tllto 11 tllTI11 englndrado algo
puomso que Il1olcu o sacri fiacutecil de milhares de Iacutetimlt1s ct~ia ftmtl de inspiraccedilagraven
parl a eeewagraveu da trama nlO eacute difiacuteci I imaginarmos de ondl surgiu
hUI11~Ulidade Istuacute cltlmIacutenhand() na conquista de Istiacutemulos conlt111os
salxlls e LpliacuteCeacutelCcediltcS quI nos separam dI algumas cplricncias rudimentares
0 cntanto a perpkiacutedadl e a iacutenquictaccedil1o plrmaneeem todos ISSIS
9
acomecimtntos nos remettm ao questionamento de temas que insistem em
acompanhar () homem nesta caminhada Perguntamos o que detona tamanha
yiolencia Como explicar essa predisposiccedilatildeo para a crueldade
A crueldade de uma foacuterma mais complexa natildeo enyolve apenas o
iacutekrramamento de sangue Ela eacute sinocircnimo de impiedade intransigecircncia
insensibilidade O inexoraacutevel que compocirce um dos sentidos do ocaacutebulo fuacutez palie
da praacutetica humana O haacutebito eacute a marca da maldade Fazemns da vida um haacutehito
que nos impele uacute compulsatildeo e agrave repeticcedilatildeo Fomos programados para dar respostas
sempre ao mesmo n emharaccedilo criado diante do din~rso eacute sempre um ohstaacuteculo
que fere de mortc () ciacuterculo icioso criado pelo haacutehito e que acaha por tagravezer do
mal uma hanaliacutedade O haacutehito j()ssiliza aquilo que cresceu c se multiplicou ou seja
estamos I~llando aqui daquilo que ycm sendo chamado de cultura enquanto
categoria produzida pclas ciecircncias humanas
Retomando ao seacuteculo XVI e ao cenaacuterio das transtixmaccedilotildees ocolTidas
na (middoturopa foi a partir daiacute que comeccedilou a esboccedilar-sc um Jl1Oimcntll huacutesico de
encontro com o outro Momento marcante a exigir que se comeccedilasse a pensar a
dilaacuteenccedila e as formas pdas quais a alteridade passou a ser formulada No seacuteculo
XX quando a Antropologia supera os csquemas simplificadores do holucionismo
e amplia scu campo de cstudos sobre essa questagraveo da dirsidade cultural atraiS
dtl Relatiisll1o a sociedade nesse processo comeccedila a pensar-se
() Relativismo cultural complexi ficou ainda mais 1 estudo das culturas
humanas ao perceher a impol1agravencia da ohscnaccedilagraveo de cel10s aspectos pal1Iacuteculares
de cada coktiidade enlagravetizando os processos de mudanccedila de troca e empreacutestimo
cultural
2 Cultura c Estranhamento
flas atinaI em que consiste esse Icnocircmeno denominado de cultura)
- ~--~_-----------------
10
Ela se impotildee de fato como condiccedilatildeo exclusiva do humano Se pensamlos a
cultura metaforicamente como uma teia de ramificaccedilotildees que englobam todo o
tagravezer humano a existecircncia os saberes a arte a religiatildeo moral etc poderemos
nos desviar de um erro que vem sendo cometido propositadamente pelas
instituiccedilotildees reprodutoras do conhecimento e da infomlaccedilatildeo que eacute a praacutetica da
exclusatildeo do outro As elites pensantes sempre enfagravetizaram a ideacuteia de que a cultura
seria produzida especialmente num niacutevel mais elUdito O erro cometido impediu
que a cultura tosse vista como um sistema totalizante O homem nagraveo se dissocia
da cultura qualquer coacutedigo sistecircmico empobrece o objeto de qualquer estudo
que tenha a pretensatildeo de desvendar o que eacute o homem nas suas manifestaccedilotildees
criativas O problema da diversidade eacute tambeacutem um problema tilosoacutefico
O questionamento claacutessico feito pela tilosofia e que foi depois
legitimado pela antropologia eacute o seguinte por que as culturas variam tanto e
quais satildeo os sentidos de todas essas variaccedilotildees A resposta a essas perguntas
contribui no combate a preconceitos oferecendo uma base para () respeito e a
dignidade nas relaccedilotildees humanas A histoacuteria sempre tt)i marcada pelos contatos e
conflitos entre os diferentes modos de organizar a vida social O aceleramento
desses contatos eacute recente e os grupos isolados vatildeo desaparecendo com a
tendecircncia agrave tt)Jll1accedilagraveo de uma civilizaccedilatildeo cada vez mais globalizada
Haacute vaacuterios marcadores que pautam o estudo da diversidade das
culturas Cm deles diz respeito agrave dinacircmica desse processo As sociedades nagraveo
devem ser concebidas de maneira estaacutetica porque nenhuma delas viC lima
situaccedilagraveo de isolamento completo as culturas comunicam entre siA diversidade
eacute um fenocircmeno natural resultante das relaccedilotildees entre as sociedades e no entanto
essas diferenccedilas sempre causaram um cel10 estranhamento do qual haacute por parte
dos meios produtores do conhecimento uma preocupaccedilatildeo displicente em refutaacuteshy
lo
Esse estranhamento eacute o ponto de pat1ida para a intoleracircncia e esta
por mais que seja lima postura ingeacutenua e que tenha sido superada pelas teorias
AcsiO a~stilt ra~atuha_ 3 n 3 p jlllJ 21111 II
modernas da cultura encontra-se profundamente enraizada nos homens atitude
que tende a rejeitar o outro para fora da noccedilatildeo de humanidade A proacutepria noccedilatildeo
de humanidade sem distinccedilatildeo de raccedilas eacute uma noccedilatildeo nova e estaacute longe de ser
aceita pela maioria do senso comum A humanidade acaba sempre nos J im ites
estreitos da toleracircncia de cada um O fato pode ser ilustrado nas
autodenomiacutenaccedilotildees utilizadas em vaacuterias coletividades que satildeo os homens os
bons os excelentes os perfeitos implicando assim que os outros grupos natildeo
participem das virtudes ou mesmo da natureza humana
Uma grande ilusagraveo inventada no mundo moderno toi a necessidade
de se proclamar uma igualdade natural entre todos os homens que deveriam
unir-se em laccedilos tratemos a religiatildeo e a tilosofia tlacassaram nessa tarefa Essa
perspectiva humanista serviu para consolidar a oposiccedilatildeo entre natureza e cultura
O conceito de humanidade passou a ser um operador eticaz que se por um lado
t()i instrumento de combate contra o etnocentrismo por outro diluiu as variaccedilotildees
que constituem a diversidade cultural O tracasso deveu-se ao negligenciamento
das diferenccedilas A declaraccedilatildeo dos direitos do homem esqueceu que o homem
nagraveo realiza sua natureza numa humanidade abstrata mas nas coJetividades que
satildeo o local de produccedilatildeo das culturas
C ada coletiviacutedade produz a sua cultura em pm1ieular o que relerenda
o humano eacute a proacutepria variaccedilatildeo cultural A variaccedilatildeo pertence ao mundo da natureza
e ao Inundo da cultura sua compreensatildeo tem sido um uesalio inquietante A
coletividaue eacute arbitraacuteria porque cria haacutebitos que podem ser estendiuos ateacute o
sentido mais lato do ternlO como por exemplo os haacutebitos bioloacutegicos daiacute ser
tambeacutem o corpo o loacutecus da cultura A cultura compreende assim o conjunto
dos haacutebitos e dos costumes de um deternlinado grupo social o pertencimento a
uma comuniuade eacute o sentimento que preserva a autonomia do grupo e instaura
uma dimensatildeo de sentido que eacute o seu ser-no-mundo
12 Avesso lt1(1 Araccedilatuha n 3 r i 2J JlIIl 2005
Toleracircncia versus intoleracircncia espaccedilos linguumliacutesticos distintos o
prohlema religioso os poderes hegemocircnicos e constituiacutedos Todos esses t~1tores
nos Ieam a pensar na qucstatildeo dos valores uniersais Seriam eles de t~lt() os
nOl1eadores da possihilidade de uma comivecircncia mesmo aacuterida entre os 10 os
Operadores universais satildeo operadores estruturantcs o fenoacutemeno da cultura 0
sempre unin~rsaL p0l1anto a antinomia entre o peculiar e o unimiddotcrsaI0 Jalsa natildeo
huacute essecircncia alguma a serdescohel1a esse foi durante muito tempo o corolaacuterio
da pruumltiea ctnograacutelica Os criacuteticos da etnologia atinmll11 que sua prltica cOITohora
com o discurso colonial porque trahalha comum princiacutepio epistecircmico de que
existiria um etno-pensamento A cultura ao mesmo tempo em que eacute um fenoacutemeno
universal eacute tamh0m a expressatildeo de um si-proacuteprio qualquer Os traccedilos mais
autecircnticos de uma cultura satildeo os que se prestam a serem mais 1111 itrsaIiluacuteeis
quilo que tem roacuterccedila pode ser uniersalizaLlo
Na anuacutelise dos proCessos culturais deem ser kados elll conta
alguns rdercllciais ontnluacutegicos ()UCIl1 somos Cultura e idiacutentidadiacute satildeo a tniacuteSl11lt1
coisa () sentimcnto de pcrtcncimento natildeo eacute uma identidadc cle 011111 iacutenculo que
cada coletiidade cstabelece e que perdura os iacutenculos de pertencimento satildeo
construiacutedos Quais sagraveo os limites dc uma coletiidadc ( necessuacuterio proceder
na dirc~atildeo da desconstruccedilatildeo do conceito de identidade ou seja a UIll processo
de transculturaccedilagraveo A aculturaccedilagraveo implica em adquirir uma nOl cultura e pncedc
a transcllltura~atildeo O proacuteprio eacute o que nos singulariza fiente agraves outras culturas sagraveo
traccedilos que satildeo compartilhados nu natildeo com lima outra cultura a pccul iaridade 0
algo contesluacuteeL ()lIal seria o ethos de um POo 1agraveo eacute possiacute(~l encontraacute-lo
porque ele natildeo eXiste () conceito de identidade nagraveo eacute operativo eacute precisa ser
prohlematizado por isso cada cz mais cresce LI Cigtllcia da construccedilatildeo de uma
eacutetica
- lun ~()n~
~-~-----------------------
3 O Mito da Razatildeo
A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o
Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado
seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees
eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser
uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a
desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo
conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial
expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos
O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()
de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela
eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre
estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de
pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces
de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com
todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos
( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais
iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua
pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um
desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS
ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos
relacionamentos inteq1essoais
Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no
progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute
discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da
diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de
uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano
I~
da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma
coletividade
A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo
de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e
maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas
o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as
categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas
e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do
mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute
DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo
entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute
um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque
li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a
dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar
com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os
indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0
a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A
autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a
oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto
entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()
papel de autoridade
O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a
construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras
j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos
caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro
de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de
sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano
do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se
15
enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro
aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia
Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da
psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias
equivocadas e preconceituosas
Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como
um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de
tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que
gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()
mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento
das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee
uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma
Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma
bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens
Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam
muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo
dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento
somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido
pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo
lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do
sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia
de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute
Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia
prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva
Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia
exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade
tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos
e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso
16
tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de
enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No
entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles
que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute
possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a
niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos
inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob
pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica
que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna
Construindo uma Nova Epistemologia
Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de
al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos
desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a
afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de
preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e
compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a
humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel
a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada
coleliidade possui a sua 101111a proacutepria
A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para
garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o
homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou
dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt
ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar
que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento
de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as
17
mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento
comeccedila a se delinear
Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel
eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave
psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees
conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas
da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente
inexploradas
lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo
inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento
mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da
estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade
Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar
da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para
poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees
da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional
na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos
Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas
sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental
para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos
Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos
que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a
matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado
dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy
nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um
estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas
das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo
psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa
IH
capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e
nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em
que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste
mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um
ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano
Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um
conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo
humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais
di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como
transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo
mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o
mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias
do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram
perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado
masviido
As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi
levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a
refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam
estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos
har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala
dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para
a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a
manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo
A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura
considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime
o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml
que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo
e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado
19
------------- -shy
equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens
que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os
procedimentos do pensamento humano
O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios
existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta
porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial
simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de
identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao
pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das
partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo
eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do
conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma
postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus
domiacutenios
a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de
internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo
podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar
sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo
tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem
encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear
()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas
estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida
A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine
uma ciilizaccedilatildeo
Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e
mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente
que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias
20 1l1ll WiI
~----_-----------------------
leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
IlIn 2005 21
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satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
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autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
(omccedilamos o seacuteculo XXI com um acontecimento qu ahalou ajuacute
hagilizada ordem mundial Todos os lugares interligados pela midia planetaacuteria
nln passaram inc(llumes uacutequelas imagens do acontecimento moITiclo 110 dia II
de sLtemhro de 001 110S Estados lnidos da Ameacuterica () desabamento do
complexo arquitltocircnico do Yorld Tracle Ce11tlr inaugurou lima nOa etapa nas
rdaccedilotildees poliacuteticas e de alguma t(mmt redesenhou c0I11111aior nitidez a geografia
do poder beacutelico mundial ()s Estaclos l iniclos aleacutem de toda sua forccedila econoacutemica
dom inanh I1H lStroU o lxcrc iacutecio da hegemonia guclTeira no ataque ao AtCganistlo
cinicamente chamado de ofensha armada contra o tlrrorismo A llgica que
domina a lol iacutetica llorte-allllrieana se tornou ostll1siamlnte lima klgiea III i I itar
dispt1sta a destruir plla rurccedila tudo o que lhe resist(o
Ista luacutegica dI guerra natildeo huacute lugar para os I1lutros I para os
111Idiadrls 1 gr~lL crisl eC(ll1lll11ica I a fragilidade das posiccedilotildels poliacutelicoshy
illloltlgicas ruacuteluiram os outros puiacuteslS a um silecircncio Lll forma consentida ()
assustador neste eSlltuacuteculo lk horrnrls eacute pensarmos I1eacute1Ljui lu quI SI InClll1tra
pur tr~is dlsse silecircncio lo SI trata aqui da ddiniccedilagraveo de uma postura eacutetica
illgtnua quI semprL polarizou a luta do nem contra o mal e lamel1tallmellle
ainda dUl11ina () paradigll1lt1 do plnsamento ocidental las se eacute que ainda nos
resta algum Il1HIacutell para nos inquietarmos com aquilo LjUI l1 hOI11lm eacute capaz de
t~ler purqul licarm()s clgos lm relaccedilatildeo ao s)ti-imenlo do tlutro1 consentirmos
Cllm a iolcncia produzida pelo desvario IJ p(Hkrnsos) A brutalidade d(l 11 lil
sltlmnro fUllcionou como um akl1a maacuteximo contra a intolcraacutencia Istrateacutegiashy
surprlsa plllsada pllos autorlS do atentado luacutei (1 tllto 11 tllTI11 englndrado algo
puomso que Il1olcu o sacri fiacutecil de milhares de Iacutetimlt1s ct~ia ftmtl de inspiraccedilagraven
parl a eeewagraveu da trama nlO eacute difiacuteci I imaginarmos de ondl surgiu
hUI11~Ulidade Istuacute cltlmIacutenhand() na conquista de Istiacutemulos conlt111os
salxlls e LpliacuteCeacutelCcediltcS quI nos separam dI algumas cplricncias rudimentares
0 cntanto a perpkiacutedadl e a iacutenquictaccedil1o plrmaneeem todos ISSIS
9
acomecimtntos nos remettm ao questionamento de temas que insistem em
acompanhar () homem nesta caminhada Perguntamos o que detona tamanha
yiolencia Como explicar essa predisposiccedilatildeo para a crueldade
A crueldade de uma foacuterma mais complexa natildeo enyolve apenas o
iacutekrramamento de sangue Ela eacute sinocircnimo de impiedade intransigecircncia
insensibilidade O inexoraacutevel que compocirce um dos sentidos do ocaacutebulo fuacutez palie
da praacutetica humana O haacutebito eacute a marca da maldade Fazemns da vida um haacutehito
que nos impele uacute compulsatildeo e agrave repeticcedilatildeo Fomos programados para dar respostas
sempre ao mesmo n emharaccedilo criado diante do din~rso eacute sempre um ohstaacuteculo
que fere de mortc () ciacuterculo icioso criado pelo haacutehito e que acaha por tagravezer do
mal uma hanaliacutedade O haacutehito j()ssiliza aquilo que cresceu c se multiplicou ou seja
estamos I~llando aqui daquilo que ycm sendo chamado de cultura enquanto
categoria produzida pclas ciecircncias humanas
Retomando ao seacuteculo XVI e ao cenaacuterio das transtixmaccedilotildees ocolTidas
na (middoturopa foi a partir daiacute que comeccedilou a esboccedilar-sc um Jl1Oimcntll huacutesico de
encontro com o outro Momento marcante a exigir que se comeccedilasse a pensar a
dilaacuteenccedila e as formas pdas quais a alteridade passou a ser formulada No seacuteculo
XX quando a Antropologia supera os csquemas simplificadores do holucionismo
e amplia scu campo de cstudos sobre essa questagraveo da dirsidade cultural atraiS
dtl Relatiisll1o a sociedade nesse processo comeccedila a pensar-se
() Relativismo cultural complexi ficou ainda mais 1 estudo das culturas
humanas ao perceher a impol1agravencia da ohscnaccedilagraveo de cel10s aspectos pal1Iacuteculares
de cada coktiidade enlagravetizando os processos de mudanccedila de troca e empreacutestimo
cultural
2 Cultura c Estranhamento
flas atinaI em que consiste esse Icnocircmeno denominado de cultura)
- ~--~_-----------------
10
Ela se impotildee de fato como condiccedilatildeo exclusiva do humano Se pensamlos a
cultura metaforicamente como uma teia de ramificaccedilotildees que englobam todo o
tagravezer humano a existecircncia os saberes a arte a religiatildeo moral etc poderemos
nos desviar de um erro que vem sendo cometido propositadamente pelas
instituiccedilotildees reprodutoras do conhecimento e da infomlaccedilatildeo que eacute a praacutetica da
exclusatildeo do outro As elites pensantes sempre enfagravetizaram a ideacuteia de que a cultura
seria produzida especialmente num niacutevel mais elUdito O erro cometido impediu
que a cultura tosse vista como um sistema totalizante O homem nagraveo se dissocia
da cultura qualquer coacutedigo sistecircmico empobrece o objeto de qualquer estudo
que tenha a pretensatildeo de desvendar o que eacute o homem nas suas manifestaccedilotildees
criativas O problema da diversidade eacute tambeacutem um problema tilosoacutefico
O questionamento claacutessico feito pela tilosofia e que foi depois
legitimado pela antropologia eacute o seguinte por que as culturas variam tanto e
quais satildeo os sentidos de todas essas variaccedilotildees A resposta a essas perguntas
contribui no combate a preconceitos oferecendo uma base para () respeito e a
dignidade nas relaccedilotildees humanas A histoacuteria sempre tt)i marcada pelos contatos e
conflitos entre os diferentes modos de organizar a vida social O aceleramento
desses contatos eacute recente e os grupos isolados vatildeo desaparecendo com a
tendecircncia agrave tt)Jll1accedilagraveo de uma civilizaccedilatildeo cada vez mais globalizada
Haacute vaacuterios marcadores que pautam o estudo da diversidade das
culturas Cm deles diz respeito agrave dinacircmica desse processo As sociedades nagraveo
devem ser concebidas de maneira estaacutetica porque nenhuma delas viC lima
situaccedilagraveo de isolamento completo as culturas comunicam entre siA diversidade
eacute um fenocircmeno natural resultante das relaccedilotildees entre as sociedades e no entanto
essas diferenccedilas sempre causaram um cel10 estranhamento do qual haacute por parte
dos meios produtores do conhecimento uma preocupaccedilatildeo displicente em refutaacuteshy
lo
Esse estranhamento eacute o ponto de pat1ida para a intoleracircncia e esta
por mais que seja lima postura ingeacutenua e que tenha sido superada pelas teorias
AcsiO a~stilt ra~atuha_ 3 n 3 p jlllJ 21111 II
modernas da cultura encontra-se profundamente enraizada nos homens atitude
que tende a rejeitar o outro para fora da noccedilatildeo de humanidade A proacutepria noccedilatildeo
de humanidade sem distinccedilatildeo de raccedilas eacute uma noccedilatildeo nova e estaacute longe de ser
aceita pela maioria do senso comum A humanidade acaba sempre nos J im ites
estreitos da toleracircncia de cada um O fato pode ser ilustrado nas
autodenomiacutenaccedilotildees utilizadas em vaacuterias coletividades que satildeo os homens os
bons os excelentes os perfeitos implicando assim que os outros grupos natildeo
participem das virtudes ou mesmo da natureza humana
Uma grande ilusagraveo inventada no mundo moderno toi a necessidade
de se proclamar uma igualdade natural entre todos os homens que deveriam
unir-se em laccedilos tratemos a religiatildeo e a tilosofia tlacassaram nessa tarefa Essa
perspectiva humanista serviu para consolidar a oposiccedilatildeo entre natureza e cultura
O conceito de humanidade passou a ser um operador eticaz que se por um lado
t()i instrumento de combate contra o etnocentrismo por outro diluiu as variaccedilotildees
que constituem a diversidade cultural O tracasso deveu-se ao negligenciamento
das diferenccedilas A declaraccedilatildeo dos direitos do homem esqueceu que o homem
nagraveo realiza sua natureza numa humanidade abstrata mas nas coJetividades que
satildeo o local de produccedilatildeo das culturas
C ada coletiviacutedade produz a sua cultura em pm1ieular o que relerenda
o humano eacute a proacutepria variaccedilatildeo cultural A variaccedilatildeo pertence ao mundo da natureza
e ao Inundo da cultura sua compreensatildeo tem sido um uesalio inquietante A
coletividaue eacute arbitraacuteria porque cria haacutebitos que podem ser estendiuos ateacute o
sentido mais lato do ternlO como por exemplo os haacutebitos bioloacutegicos daiacute ser
tambeacutem o corpo o loacutecus da cultura A cultura compreende assim o conjunto
dos haacutebitos e dos costumes de um deternlinado grupo social o pertencimento a
uma comuniuade eacute o sentimento que preserva a autonomia do grupo e instaura
uma dimensatildeo de sentido que eacute o seu ser-no-mundo
12 Avesso lt1(1 Araccedilatuha n 3 r i 2J JlIIl 2005
Toleracircncia versus intoleracircncia espaccedilos linguumliacutesticos distintos o
prohlema religioso os poderes hegemocircnicos e constituiacutedos Todos esses t~1tores
nos Ieam a pensar na qucstatildeo dos valores uniersais Seriam eles de t~lt() os
nOl1eadores da possihilidade de uma comivecircncia mesmo aacuterida entre os 10 os
Operadores universais satildeo operadores estruturantcs o fenoacutemeno da cultura 0
sempre unin~rsaL p0l1anto a antinomia entre o peculiar e o unimiddotcrsaI0 Jalsa natildeo
huacute essecircncia alguma a serdescohel1a esse foi durante muito tempo o corolaacuterio
da pruumltiea ctnograacutelica Os criacuteticos da etnologia atinmll11 que sua prltica cOITohora
com o discurso colonial porque trahalha comum princiacutepio epistecircmico de que
existiria um etno-pensamento A cultura ao mesmo tempo em que eacute um fenoacutemeno
universal eacute tamh0m a expressatildeo de um si-proacuteprio qualquer Os traccedilos mais
autecircnticos de uma cultura satildeo os que se prestam a serem mais 1111 itrsaIiluacuteeis
quilo que tem roacuterccedila pode ser uniersalizaLlo
Na anuacutelise dos proCessos culturais deem ser kados elll conta
alguns rdercllciais ontnluacutegicos ()UCIl1 somos Cultura e idiacutentidadiacute satildeo a tniacuteSl11lt1
coisa () sentimcnto de pcrtcncimento natildeo eacute uma identidadc cle 011111 iacutenculo que
cada coletiidade cstabelece e que perdura os iacutenculos de pertencimento satildeo
construiacutedos Quais sagraveo os limites dc uma coletiidadc ( necessuacuterio proceder
na dirc~atildeo da desconstruccedilatildeo do conceito de identidade ou seja a UIll processo
de transculturaccedilagraveo A aculturaccedilagraveo implica em adquirir uma nOl cultura e pncedc
a transcllltura~atildeo O proacuteprio eacute o que nos singulariza fiente agraves outras culturas sagraveo
traccedilos que satildeo compartilhados nu natildeo com lima outra cultura a pccul iaridade 0
algo contesluacuteeL ()lIal seria o ethos de um POo 1agraveo eacute possiacute(~l encontraacute-lo
porque ele natildeo eXiste () conceito de identidade nagraveo eacute operativo eacute precisa ser
prohlematizado por isso cada cz mais cresce LI Cigtllcia da construccedilatildeo de uma
eacutetica
- lun ~()n~
~-~-----------------------
3 O Mito da Razatildeo
A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o
Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado
seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees
eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser
uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a
desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo
conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial
expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos
O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()
de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela
eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre
estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de
pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces
de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com
todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos
( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais
iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua
pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um
desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS
ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos
relacionamentos inteq1essoais
Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no
progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute
discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da
diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de
uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano
I~
da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma
coletividade
A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo
de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e
maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas
o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as
categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas
e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do
mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute
DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo
entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute
um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque
li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a
dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar
com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os
indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0
a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A
autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a
oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto
entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()
papel de autoridade
O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a
construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras
j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos
caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro
de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de
sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano
do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se
15
enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro
aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia
Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da
psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias
equivocadas e preconceituosas
Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como
um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de
tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que
gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()
mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento
das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee
uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma
Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma
bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens
Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam
muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo
dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento
somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido
pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo
lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do
sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia
de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute
Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia
prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva
Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia
exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade
tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos
e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso
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tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de
enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No
entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles
que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute
possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a
niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos
inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob
pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica
que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna
Construindo uma Nova Epistemologia
Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de
al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos
desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a
afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de
preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e
compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a
humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel
a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada
coleliidade possui a sua 101111a proacutepria
A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para
garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o
homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou
dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt
ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar
que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento
de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as
17
mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento
comeccedila a se delinear
Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel
eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave
psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees
conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas
da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente
inexploradas
lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo
inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento
mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da
estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade
Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar
da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para
poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees
da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional
na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos
Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas
sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental
para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos
Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos
que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a
matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado
dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy
nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um
estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas
das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo
psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa
IH
capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e
nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em
que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste
mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um
ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano
Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um
conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo
humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais
di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como
transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo
mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o
mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias
do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram
perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado
masviido
As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi
levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a
refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam
estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos
har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala
dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para
a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a
manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo
A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura
considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime
o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml
que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo
e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado
19
------------- -shy
equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens
que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os
procedimentos do pensamento humano
O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios
existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta
porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial
simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de
identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao
pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das
partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo
eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do
conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma
postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus
domiacutenios
a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de
internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo
podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar
sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo
tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem
encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear
()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas
estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida
A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine
uma ciilizaccedilatildeo
Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e
mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente
que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias
20 1l1ll WiI
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leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
IlIn 2005 21
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satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
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Presenccedila 1996
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de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
acomecimtntos nos remettm ao questionamento de temas que insistem em
acompanhar () homem nesta caminhada Perguntamos o que detona tamanha
yiolencia Como explicar essa predisposiccedilatildeo para a crueldade
A crueldade de uma foacuterma mais complexa natildeo enyolve apenas o
iacutekrramamento de sangue Ela eacute sinocircnimo de impiedade intransigecircncia
insensibilidade O inexoraacutevel que compocirce um dos sentidos do ocaacutebulo fuacutez palie
da praacutetica humana O haacutebito eacute a marca da maldade Fazemns da vida um haacutehito
que nos impele uacute compulsatildeo e agrave repeticcedilatildeo Fomos programados para dar respostas
sempre ao mesmo n emharaccedilo criado diante do din~rso eacute sempre um ohstaacuteculo
que fere de mortc () ciacuterculo icioso criado pelo haacutehito e que acaha por tagravezer do
mal uma hanaliacutedade O haacutehito j()ssiliza aquilo que cresceu c se multiplicou ou seja
estamos I~llando aqui daquilo que ycm sendo chamado de cultura enquanto
categoria produzida pclas ciecircncias humanas
Retomando ao seacuteculo XVI e ao cenaacuterio das transtixmaccedilotildees ocolTidas
na (middoturopa foi a partir daiacute que comeccedilou a esboccedilar-sc um Jl1Oimcntll huacutesico de
encontro com o outro Momento marcante a exigir que se comeccedilasse a pensar a
dilaacuteenccedila e as formas pdas quais a alteridade passou a ser formulada No seacuteculo
XX quando a Antropologia supera os csquemas simplificadores do holucionismo
e amplia scu campo de cstudos sobre essa questagraveo da dirsidade cultural atraiS
dtl Relatiisll1o a sociedade nesse processo comeccedila a pensar-se
() Relativismo cultural complexi ficou ainda mais 1 estudo das culturas
humanas ao perceher a impol1agravencia da ohscnaccedilagraveo de cel10s aspectos pal1Iacuteculares
de cada coktiidade enlagravetizando os processos de mudanccedila de troca e empreacutestimo
cultural
2 Cultura c Estranhamento
flas atinaI em que consiste esse Icnocircmeno denominado de cultura)
- ~--~_-----------------
10
Ela se impotildee de fato como condiccedilatildeo exclusiva do humano Se pensamlos a
cultura metaforicamente como uma teia de ramificaccedilotildees que englobam todo o
tagravezer humano a existecircncia os saberes a arte a religiatildeo moral etc poderemos
nos desviar de um erro que vem sendo cometido propositadamente pelas
instituiccedilotildees reprodutoras do conhecimento e da infomlaccedilatildeo que eacute a praacutetica da
exclusatildeo do outro As elites pensantes sempre enfagravetizaram a ideacuteia de que a cultura
seria produzida especialmente num niacutevel mais elUdito O erro cometido impediu
que a cultura tosse vista como um sistema totalizante O homem nagraveo se dissocia
da cultura qualquer coacutedigo sistecircmico empobrece o objeto de qualquer estudo
que tenha a pretensatildeo de desvendar o que eacute o homem nas suas manifestaccedilotildees
criativas O problema da diversidade eacute tambeacutem um problema tilosoacutefico
O questionamento claacutessico feito pela tilosofia e que foi depois
legitimado pela antropologia eacute o seguinte por que as culturas variam tanto e
quais satildeo os sentidos de todas essas variaccedilotildees A resposta a essas perguntas
contribui no combate a preconceitos oferecendo uma base para () respeito e a
dignidade nas relaccedilotildees humanas A histoacuteria sempre tt)i marcada pelos contatos e
conflitos entre os diferentes modos de organizar a vida social O aceleramento
desses contatos eacute recente e os grupos isolados vatildeo desaparecendo com a
tendecircncia agrave tt)Jll1accedilagraveo de uma civilizaccedilatildeo cada vez mais globalizada
Haacute vaacuterios marcadores que pautam o estudo da diversidade das
culturas Cm deles diz respeito agrave dinacircmica desse processo As sociedades nagraveo
devem ser concebidas de maneira estaacutetica porque nenhuma delas viC lima
situaccedilagraveo de isolamento completo as culturas comunicam entre siA diversidade
eacute um fenocircmeno natural resultante das relaccedilotildees entre as sociedades e no entanto
essas diferenccedilas sempre causaram um cel10 estranhamento do qual haacute por parte
dos meios produtores do conhecimento uma preocupaccedilatildeo displicente em refutaacuteshy
lo
Esse estranhamento eacute o ponto de pat1ida para a intoleracircncia e esta
por mais que seja lima postura ingeacutenua e que tenha sido superada pelas teorias
AcsiO a~stilt ra~atuha_ 3 n 3 p jlllJ 21111 II
modernas da cultura encontra-se profundamente enraizada nos homens atitude
que tende a rejeitar o outro para fora da noccedilatildeo de humanidade A proacutepria noccedilatildeo
de humanidade sem distinccedilatildeo de raccedilas eacute uma noccedilatildeo nova e estaacute longe de ser
aceita pela maioria do senso comum A humanidade acaba sempre nos J im ites
estreitos da toleracircncia de cada um O fato pode ser ilustrado nas
autodenomiacutenaccedilotildees utilizadas em vaacuterias coletividades que satildeo os homens os
bons os excelentes os perfeitos implicando assim que os outros grupos natildeo
participem das virtudes ou mesmo da natureza humana
Uma grande ilusagraveo inventada no mundo moderno toi a necessidade
de se proclamar uma igualdade natural entre todos os homens que deveriam
unir-se em laccedilos tratemos a religiatildeo e a tilosofia tlacassaram nessa tarefa Essa
perspectiva humanista serviu para consolidar a oposiccedilatildeo entre natureza e cultura
O conceito de humanidade passou a ser um operador eticaz que se por um lado
t()i instrumento de combate contra o etnocentrismo por outro diluiu as variaccedilotildees
que constituem a diversidade cultural O tracasso deveu-se ao negligenciamento
das diferenccedilas A declaraccedilatildeo dos direitos do homem esqueceu que o homem
nagraveo realiza sua natureza numa humanidade abstrata mas nas coJetividades que
satildeo o local de produccedilatildeo das culturas
C ada coletiviacutedade produz a sua cultura em pm1ieular o que relerenda
o humano eacute a proacutepria variaccedilatildeo cultural A variaccedilatildeo pertence ao mundo da natureza
e ao Inundo da cultura sua compreensatildeo tem sido um uesalio inquietante A
coletividaue eacute arbitraacuteria porque cria haacutebitos que podem ser estendiuos ateacute o
sentido mais lato do ternlO como por exemplo os haacutebitos bioloacutegicos daiacute ser
tambeacutem o corpo o loacutecus da cultura A cultura compreende assim o conjunto
dos haacutebitos e dos costumes de um deternlinado grupo social o pertencimento a
uma comuniuade eacute o sentimento que preserva a autonomia do grupo e instaura
uma dimensatildeo de sentido que eacute o seu ser-no-mundo
12 Avesso lt1(1 Araccedilatuha n 3 r i 2J JlIIl 2005
Toleracircncia versus intoleracircncia espaccedilos linguumliacutesticos distintos o
prohlema religioso os poderes hegemocircnicos e constituiacutedos Todos esses t~1tores
nos Ieam a pensar na qucstatildeo dos valores uniersais Seriam eles de t~lt() os
nOl1eadores da possihilidade de uma comivecircncia mesmo aacuterida entre os 10 os
Operadores universais satildeo operadores estruturantcs o fenoacutemeno da cultura 0
sempre unin~rsaL p0l1anto a antinomia entre o peculiar e o unimiddotcrsaI0 Jalsa natildeo
huacute essecircncia alguma a serdescohel1a esse foi durante muito tempo o corolaacuterio
da pruumltiea ctnograacutelica Os criacuteticos da etnologia atinmll11 que sua prltica cOITohora
com o discurso colonial porque trahalha comum princiacutepio epistecircmico de que
existiria um etno-pensamento A cultura ao mesmo tempo em que eacute um fenoacutemeno
universal eacute tamh0m a expressatildeo de um si-proacuteprio qualquer Os traccedilos mais
autecircnticos de uma cultura satildeo os que se prestam a serem mais 1111 itrsaIiluacuteeis
quilo que tem roacuterccedila pode ser uniersalizaLlo
Na anuacutelise dos proCessos culturais deem ser kados elll conta
alguns rdercllciais ontnluacutegicos ()UCIl1 somos Cultura e idiacutentidadiacute satildeo a tniacuteSl11lt1
coisa () sentimcnto de pcrtcncimento natildeo eacute uma identidadc cle 011111 iacutenculo que
cada coletiidade cstabelece e que perdura os iacutenculos de pertencimento satildeo
construiacutedos Quais sagraveo os limites dc uma coletiidadc ( necessuacuterio proceder
na dirc~atildeo da desconstruccedilatildeo do conceito de identidade ou seja a UIll processo
de transculturaccedilagraveo A aculturaccedilagraveo implica em adquirir uma nOl cultura e pncedc
a transcllltura~atildeo O proacuteprio eacute o que nos singulariza fiente agraves outras culturas sagraveo
traccedilos que satildeo compartilhados nu natildeo com lima outra cultura a pccul iaridade 0
algo contesluacuteeL ()lIal seria o ethos de um POo 1agraveo eacute possiacute(~l encontraacute-lo
porque ele natildeo eXiste () conceito de identidade nagraveo eacute operativo eacute precisa ser
prohlematizado por isso cada cz mais cresce LI Cigtllcia da construccedilatildeo de uma
eacutetica
- lun ~()n~
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3 O Mito da Razatildeo
A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o
Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado
seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees
eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser
uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a
desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo
conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial
expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos
O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()
de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela
eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre
estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de
pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces
de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com
todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos
( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais
iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua
pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um
desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS
ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos
relacionamentos inteq1essoais
Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no
progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute
discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da
diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de
uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano
I~
da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma
coletividade
A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo
de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e
maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas
o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as
categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas
e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do
mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute
DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo
entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute
um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque
li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a
dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar
com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os
indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0
a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A
autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a
oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto
entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()
papel de autoridade
O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a
construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras
j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos
caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro
de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de
sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano
do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se
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enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro
aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia
Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da
psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias
equivocadas e preconceituosas
Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como
um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de
tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que
gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()
mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento
das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee
uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma
Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma
bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens
Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam
muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo
dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento
somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido
pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo
lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do
sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia
de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute
Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia
prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva
Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia
exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade
tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos
e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso
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tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de
enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No
entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles
que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute
possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a
niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos
inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob
pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica
que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna
Construindo uma Nova Epistemologia
Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de
al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos
desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a
afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de
preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e
compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a
humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel
a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada
coleliidade possui a sua 101111a proacutepria
A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para
garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o
homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou
dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt
ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar
que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento
de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as
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mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento
comeccedila a se delinear
Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel
eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave
psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees
conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas
da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente
inexploradas
lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo
inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento
mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da
estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade
Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar
da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para
poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees
da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional
na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos
Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas
sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental
para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos
Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos
que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a
matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado
dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy
nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um
estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas
das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo
psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa
IH
capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e
nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em
que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste
mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um
ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano
Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um
conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo
humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais
di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como
transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo
mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o
mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias
do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram
perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado
masviido
As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi
levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a
refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam
estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos
har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala
dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para
a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a
manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo
A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura
considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime
o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml
que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo
e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado
19
------------- -shy
equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens
que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os
procedimentos do pensamento humano
O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios
existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta
porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial
simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de
identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao
pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das
partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo
eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do
conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma
postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus
domiacutenios
a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de
internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo
podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar
sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo
tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem
encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear
()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas
estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida
A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine
uma ciilizaccedilatildeo
Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e
mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente
que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias
20 1l1ll WiI
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leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
IlIn 2005 21
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satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
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Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio
de Janeiro NOa Fronteira 1992
LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um
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Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001
IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa
Presenccedila 1996
TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
Ela se impotildee de fato como condiccedilatildeo exclusiva do humano Se pensamlos a
cultura metaforicamente como uma teia de ramificaccedilotildees que englobam todo o
tagravezer humano a existecircncia os saberes a arte a religiatildeo moral etc poderemos
nos desviar de um erro que vem sendo cometido propositadamente pelas
instituiccedilotildees reprodutoras do conhecimento e da infomlaccedilatildeo que eacute a praacutetica da
exclusatildeo do outro As elites pensantes sempre enfagravetizaram a ideacuteia de que a cultura
seria produzida especialmente num niacutevel mais elUdito O erro cometido impediu
que a cultura tosse vista como um sistema totalizante O homem nagraveo se dissocia
da cultura qualquer coacutedigo sistecircmico empobrece o objeto de qualquer estudo
que tenha a pretensatildeo de desvendar o que eacute o homem nas suas manifestaccedilotildees
criativas O problema da diversidade eacute tambeacutem um problema tilosoacutefico
O questionamento claacutessico feito pela tilosofia e que foi depois
legitimado pela antropologia eacute o seguinte por que as culturas variam tanto e
quais satildeo os sentidos de todas essas variaccedilotildees A resposta a essas perguntas
contribui no combate a preconceitos oferecendo uma base para () respeito e a
dignidade nas relaccedilotildees humanas A histoacuteria sempre tt)i marcada pelos contatos e
conflitos entre os diferentes modos de organizar a vida social O aceleramento
desses contatos eacute recente e os grupos isolados vatildeo desaparecendo com a
tendecircncia agrave tt)Jll1accedilagraveo de uma civilizaccedilatildeo cada vez mais globalizada
Haacute vaacuterios marcadores que pautam o estudo da diversidade das
culturas Cm deles diz respeito agrave dinacircmica desse processo As sociedades nagraveo
devem ser concebidas de maneira estaacutetica porque nenhuma delas viC lima
situaccedilagraveo de isolamento completo as culturas comunicam entre siA diversidade
eacute um fenocircmeno natural resultante das relaccedilotildees entre as sociedades e no entanto
essas diferenccedilas sempre causaram um cel10 estranhamento do qual haacute por parte
dos meios produtores do conhecimento uma preocupaccedilatildeo displicente em refutaacuteshy
lo
Esse estranhamento eacute o ponto de pat1ida para a intoleracircncia e esta
por mais que seja lima postura ingeacutenua e que tenha sido superada pelas teorias
AcsiO a~stilt ra~atuha_ 3 n 3 p jlllJ 21111 II
modernas da cultura encontra-se profundamente enraizada nos homens atitude
que tende a rejeitar o outro para fora da noccedilatildeo de humanidade A proacutepria noccedilatildeo
de humanidade sem distinccedilatildeo de raccedilas eacute uma noccedilatildeo nova e estaacute longe de ser
aceita pela maioria do senso comum A humanidade acaba sempre nos J im ites
estreitos da toleracircncia de cada um O fato pode ser ilustrado nas
autodenomiacutenaccedilotildees utilizadas em vaacuterias coletividades que satildeo os homens os
bons os excelentes os perfeitos implicando assim que os outros grupos natildeo
participem das virtudes ou mesmo da natureza humana
Uma grande ilusagraveo inventada no mundo moderno toi a necessidade
de se proclamar uma igualdade natural entre todos os homens que deveriam
unir-se em laccedilos tratemos a religiatildeo e a tilosofia tlacassaram nessa tarefa Essa
perspectiva humanista serviu para consolidar a oposiccedilatildeo entre natureza e cultura
O conceito de humanidade passou a ser um operador eticaz que se por um lado
t()i instrumento de combate contra o etnocentrismo por outro diluiu as variaccedilotildees
que constituem a diversidade cultural O tracasso deveu-se ao negligenciamento
das diferenccedilas A declaraccedilatildeo dos direitos do homem esqueceu que o homem
nagraveo realiza sua natureza numa humanidade abstrata mas nas coJetividades que
satildeo o local de produccedilatildeo das culturas
C ada coletiviacutedade produz a sua cultura em pm1ieular o que relerenda
o humano eacute a proacutepria variaccedilatildeo cultural A variaccedilatildeo pertence ao mundo da natureza
e ao Inundo da cultura sua compreensatildeo tem sido um uesalio inquietante A
coletividaue eacute arbitraacuteria porque cria haacutebitos que podem ser estendiuos ateacute o
sentido mais lato do ternlO como por exemplo os haacutebitos bioloacutegicos daiacute ser
tambeacutem o corpo o loacutecus da cultura A cultura compreende assim o conjunto
dos haacutebitos e dos costumes de um deternlinado grupo social o pertencimento a
uma comuniuade eacute o sentimento que preserva a autonomia do grupo e instaura
uma dimensatildeo de sentido que eacute o seu ser-no-mundo
12 Avesso lt1(1 Araccedilatuha n 3 r i 2J JlIIl 2005
Toleracircncia versus intoleracircncia espaccedilos linguumliacutesticos distintos o
prohlema religioso os poderes hegemocircnicos e constituiacutedos Todos esses t~1tores
nos Ieam a pensar na qucstatildeo dos valores uniersais Seriam eles de t~lt() os
nOl1eadores da possihilidade de uma comivecircncia mesmo aacuterida entre os 10 os
Operadores universais satildeo operadores estruturantcs o fenoacutemeno da cultura 0
sempre unin~rsaL p0l1anto a antinomia entre o peculiar e o unimiddotcrsaI0 Jalsa natildeo
huacute essecircncia alguma a serdescohel1a esse foi durante muito tempo o corolaacuterio
da pruumltiea ctnograacutelica Os criacuteticos da etnologia atinmll11 que sua prltica cOITohora
com o discurso colonial porque trahalha comum princiacutepio epistecircmico de que
existiria um etno-pensamento A cultura ao mesmo tempo em que eacute um fenoacutemeno
universal eacute tamh0m a expressatildeo de um si-proacuteprio qualquer Os traccedilos mais
autecircnticos de uma cultura satildeo os que se prestam a serem mais 1111 itrsaIiluacuteeis
quilo que tem roacuterccedila pode ser uniersalizaLlo
Na anuacutelise dos proCessos culturais deem ser kados elll conta
alguns rdercllciais ontnluacutegicos ()UCIl1 somos Cultura e idiacutentidadiacute satildeo a tniacuteSl11lt1
coisa () sentimcnto de pcrtcncimento natildeo eacute uma identidadc cle 011111 iacutenculo que
cada coletiidade cstabelece e que perdura os iacutenculos de pertencimento satildeo
construiacutedos Quais sagraveo os limites dc uma coletiidadc ( necessuacuterio proceder
na dirc~atildeo da desconstruccedilatildeo do conceito de identidade ou seja a UIll processo
de transculturaccedilagraveo A aculturaccedilagraveo implica em adquirir uma nOl cultura e pncedc
a transcllltura~atildeo O proacuteprio eacute o que nos singulariza fiente agraves outras culturas sagraveo
traccedilos que satildeo compartilhados nu natildeo com lima outra cultura a pccul iaridade 0
algo contesluacuteeL ()lIal seria o ethos de um POo 1agraveo eacute possiacute(~l encontraacute-lo
porque ele natildeo eXiste () conceito de identidade nagraveo eacute operativo eacute precisa ser
prohlematizado por isso cada cz mais cresce LI Cigtllcia da construccedilatildeo de uma
eacutetica
- lun ~()n~
~-~-----------------------
3 O Mito da Razatildeo
A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o
Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado
seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees
eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser
uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a
desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo
conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial
expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos
O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()
de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela
eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre
estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de
pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces
de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com
todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos
( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais
iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua
pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um
desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS
ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos
relacionamentos inteq1essoais
Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no
progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute
discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da
diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de
uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano
I~
da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma
coletividade
A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo
de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e
maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas
o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as
categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas
e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do
mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute
DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo
entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute
um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque
li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a
dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar
com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os
indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0
a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A
autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a
oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto
entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()
papel de autoridade
O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a
construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras
j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos
caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro
de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de
sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano
do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se
15
enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro
aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia
Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da
psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias
equivocadas e preconceituosas
Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como
um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de
tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que
gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()
mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento
das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee
uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma
Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma
bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens
Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam
muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo
dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento
somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido
pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo
lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do
sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia
de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute
Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia
prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva
Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia
exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade
tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos
e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso
16
tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de
enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No
entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles
que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute
possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a
niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos
inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob
pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica
que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna
Construindo uma Nova Epistemologia
Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de
al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos
desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a
afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de
preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e
compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a
humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel
a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada
coleliidade possui a sua 101111a proacutepria
A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para
garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o
homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou
dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt
ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar
que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento
de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as
17
mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento
comeccedila a se delinear
Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel
eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave
psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees
conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas
da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente
inexploradas
lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo
inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento
mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da
estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade
Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar
da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para
poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees
da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional
na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos
Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas
sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental
para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos
Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos
que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a
matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado
dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy
nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um
estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas
das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo
psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa
IH
capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e
nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em
que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste
mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um
ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano
Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um
conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo
humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais
di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como
transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo
mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o
mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias
do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram
perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado
masviido
As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi
levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a
refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam
estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos
har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala
dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para
a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a
manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo
A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura
considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime
o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml
que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo
e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado
19
------------- -shy
equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens
que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os
procedimentos do pensamento humano
O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios
existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta
porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial
simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de
identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao
pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das
partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo
eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do
conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma
postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus
domiacutenios
a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de
internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo
podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar
sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo
tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem
encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear
()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas
estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida
A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine
uma ciilizaccedilatildeo
Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e
mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente
que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias
20 1l1ll WiI
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leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
IlIn 2005 21
-----------------------_ --~_ shy
satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
~~--~-_-------------------
Referecircncias Bibliograacuteficas
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Ediccedilotildees 701999
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CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade
de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992
COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28
de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03
ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional
sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo
de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq
traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000
GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e
do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema
Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio
de Janeiro NOa Fronteira 1992
LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um
noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org
Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001
IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa
Presenccedila 1996
TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
modernas da cultura encontra-se profundamente enraizada nos homens atitude
que tende a rejeitar o outro para fora da noccedilatildeo de humanidade A proacutepria noccedilatildeo
de humanidade sem distinccedilatildeo de raccedilas eacute uma noccedilatildeo nova e estaacute longe de ser
aceita pela maioria do senso comum A humanidade acaba sempre nos J im ites
estreitos da toleracircncia de cada um O fato pode ser ilustrado nas
autodenomiacutenaccedilotildees utilizadas em vaacuterias coletividades que satildeo os homens os
bons os excelentes os perfeitos implicando assim que os outros grupos natildeo
participem das virtudes ou mesmo da natureza humana
Uma grande ilusagraveo inventada no mundo moderno toi a necessidade
de se proclamar uma igualdade natural entre todos os homens que deveriam
unir-se em laccedilos tratemos a religiatildeo e a tilosofia tlacassaram nessa tarefa Essa
perspectiva humanista serviu para consolidar a oposiccedilatildeo entre natureza e cultura
O conceito de humanidade passou a ser um operador eticaz que se por um lado
t()i instrumento de combate contra o etnocentrismo por outro diluiu as variaccedilotildees
que constituem a diversidade cultural O tracasso deveu-se ao negligenciamento
das diferenccedilas A declaraccedilatildeo dos direitos do homem esqueceu que o homem
nagraveo realiza sua natureza numa humanidade abstrata mas nas coJetividades que
satildeo o local de produccedilatildeo das culturas
C ada coletiviacutedade produz a sua cultura em pm1ieular o que relerenda
o humano eacute a proacutepria variaccedilatildeo cultural A variaccedilatildeo pertence ao mundo da natureza
e ao Inundo da cultura sua compreensatildeo tem sido um uesalio inquietante A
coletividaue eacute arbitraacuteria porque cria haacutebitos que podem ser estendiuos ateacute o
sentido mais lato do ternlO como por exemplo os haacutebitos bioloacutegicos daiacute ser
tambeacutem o corpo o loacutecus da cultura A cultura compreende assim o conjunto
dos haacutebitos e dos costumes de um deternlinado grupo social o pertencimento a
uma comuniuade eacute o sentimento que preserva a autonomia do grupo e instaura
uma dimensatildeo de sentido que eacute o seu ser-no-mundo
12 Avesso lt1(1 Araccedilatuha n 3 r i 2J JlIIl 2005
Toleracircncia versus intoleracircncia espaccedilos linguumliacutesticos distintos o
prohlema religioso os poderes hegemocircnicos e constituiacutedos Todos esses t~1tores
nos Ieam a pensar na qucstatildeo dos valores uniersais Seriam eles de t~lt() os
nOl1eadores da possihilidade de uma comivecircncia mesmo aacuterida entre os 10 os
Operadores universais satildeo operadores estruturantcs o fenoacutemeno da cultura 0
sempre unin~rsaL p0l1anto a antinomia entre o peculiar e o unimiddotcrsaI0 Jalsa natildeo
huacute essecircncia alguma a serdescohel1a esse foi durante muito tempo o corolaacuterio
da pruumltiea ctnograacutelica Os criacuteticos da etnologia atinmll11 que sua prltica cOITohora
com o discurso colonial porque trahalha comum princiacutepio epistecircmico de que
existiria um etno-pensamento A cultura ao mesmo tempo em que eacute um fenoacutemeno
universal eacute tamh0m a expressatildeo de um si-proacuteprio qualquer Os traccedilos mais
autecircnticos de uma cultura satildeo os que se prestam a serem mais 1111 itrsaIiluacuteeis
quilo que tem roacuterccedila pode ser uniersalizaLlo
Na anuacutelise dos proCessos culturais deem ser kados elll conta
alguns rdercllciais ontnluacutegicos ()UCIl1 somos Cultura e idiacutentidadiacute satildeo a tniacuteSl11lt1
coisa () sentimcnto de pcrtcncimento natildeo eacute uma identidadc cle 011111 iacutenculo que
cada coletiidade cstabelece e que perdura os iacutenculos de pertencimento satildeo
construiacutedos Quais sagraveo os limites dc uma coletiidadc ( necessuacuterio proceder
na dirc~atildeo da desconstruccedilatildeo do conceito de identidade ou seja a UIll processo
de transculturaccedilagraveo A aculturaccedilagraveo implica em adquirir uma nOl cultura e pncedc
a transcllltura~atildeo O proacuteprio eacute o que nos singulariza fiente agraves outras culturas sagraveo
traccedilos que satildeo compartilhados nu natildeo com lima outra cultura a pccul iaridade 0
algo contesluacuteeL ()lIal seria o ethos de um POo 1agraveo eacute possiacute(~l encontraacute-lo
porque ele natildeo eXiste () conceito de identidade nagraveo eacute operativo eacute precisa ser
prohlematizado por isso cada cz mais cresce LI Cigtllcia da construccedilatildeo de uma
eacutetica
- lun ~()n~
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3 O Mito da Razatildeo
A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o
Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado
seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees
eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser
uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a
desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo
conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial
expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos
O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()
de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela
eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre
estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de
pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces
de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com
todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos
( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais
iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua
pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um
desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS
ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos
relacionamentos inteq1essoais
Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no
progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute
discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da
diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de
uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano
I~
da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma
coletividade
A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo
de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e
maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas
o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as
categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas
e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do
mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute
DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo
entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute
um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque
li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a
dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar
com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os
indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0
a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A
autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a
oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto
entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()
papel de autoridade
O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a
construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras
j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos
caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro
de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de
sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano
do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se
15
enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro
aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia
Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da
psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias
equivocadas e preconceituosas
Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como
um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de
tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que
gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()
mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento
das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee
uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma
Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma
bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens
Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam
muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo
dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento
somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido
pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo
lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do
sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia
de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute
Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia
prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva
Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia
exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade
tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos
e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso
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tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de
enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No
entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles
que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute
possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a
niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos
inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob
pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica
que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna
Construindo uma Nova Epistemologia
Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de
al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos
desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a
afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de
preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e
compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a
humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel
a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada
coleliidade possui a sua 101111a proacutepria
A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para
garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o
homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou
dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt
ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar
que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento
de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as
17
mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento
comeccedila a se delinear
Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel
eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave
psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees
conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas
da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente
inexploradas
lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo
inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento
mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da
estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade
Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar
da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para
poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees
da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional
na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos
Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas
sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental
para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos
Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos
que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a
matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado
dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy
nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um
estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas
das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo
psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa
IH
capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e
nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em
que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste
mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um
ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano
Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um
conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo
humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais
di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como
transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo
mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o
mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias
do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram
perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado
masviido
As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi
levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a
refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam
estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos
har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala
dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para
a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a
manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo
A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura
considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime
o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml
que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo
e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado
19
------------- -shy
equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens
que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os
procedimentos do pensamento humano
O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios
existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta
porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial
simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de
identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao
pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das
partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo
eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do
conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma
postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus
domiacutenios
a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de
internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo
podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar
sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo
tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem
encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear
()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas
estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida
A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine
uma ciilizaccedilatildeo
Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e
mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente
que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias
20 1l1ll WiI
~----_-----------------------
leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
IlIn 2005 21
-----------------------_ --~_ shy
satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
~~--~-_-------------------
Referecircncias Bibliograacuteficas
BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa
Ediccedilotildees 701999
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CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade
de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992
COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28
de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03
ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional
sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo
de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq
traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000
GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e
do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema
Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio
de Janeiro NOa Fronteira 1992
LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um
noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org
Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001
IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa
Presenccedila 1996
TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
Toleracircncia versus intoleracircncia espaccedilos linguumliacutesticos distintos o
prohlema religioso os poderes hegemocircnicos e constituiacutedos Todos esses t~1tores
nos Ieam a pensar na qucstatildeo dos valores uniersais Seriam eles de t~lt() os
nOl1eadores da possihilidade de uma comivecircncia mesmo aacuterida entre os 10 os
Operadores universais satildeo operadores estruturantcs o fenoacutemeno da cultura 0
sempre unin~rsaL p0l1anto a antinomia entre o peculiar e o unimiddotcrsaI0 Jalsa natildeo
huacute essecircncia alguma a serdescohel1a esse foi durante muito tempo o corolaacuterio
da pruumltiea ctnograacutelica Os criacuteticos da etnologia atinmll11 que sua prltica cOITohora
com o discurso colonial porque trahalha comum princiacutepio epistecircmico de que
existiria um etno-pensamento A cultura ao mesmo tempo em que eacute um fenoacutemeno
universal eacute tamh0m a expressatildeo de um si-proacuteprio qualquer Os traccedilos mais
autecircnticos de uma cultura satildeo os que se prestam a serem mais 1111 itrsaIiluacuteeis
quilo que tem roacuterccedila pode ser uniersalizaLlo
Na anuacutelise dos proCessos culturais deem ser kados elll conta
alguns rdercllciais ontnluacutegicos ()UCIl1 somos Cultura e idiacutentidadiacute satildeo a tniacuteSl11lt1
coisa () sentimcnto de pcrtcncimento natildeo eacute uma identidadc cle 011111 iacutenculo que
cada coletiidade cstabelece e que perdura os iacutenculos de pertencimento satildeo
construiacutedos Quais sagraveo os limites dc uma coletiidadc ( necessuacuterio proceder
na dirc~atildeo da desconstruccedilatildeo do conceito de identidade ou seja a UIll processo
de transculturaccedilagraveo A aculturaccedilagraveo implica em adquirir uma nOl cultura e pncedc
a transcllltura~atildeo O proacuteprio eacute o que nos singulariza fiente agraves outras culturas sagraveo
traccedilos que satildeo compartilhados nu natildeo com lima outra cultura a pccul iaridade 0
algo contesluacuteeL ()lIal seria o ethos de um POo 1agraveo eacute possiacute(~l encontraacute-lo
porque ele natildeo eXiste () conceito de identidade nagraveo eacute operativo eacute precisa ser
prohlematizado por isso cada cz mais cresce LI Cigtllcia da construccedilatildeo de uma
eacutetica
- lun ~()n~
~-~-----------------------
3 O Mito da Razatildeo
A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o
Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado
seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees
eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser
uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a
desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo
conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial
expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos
O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()
de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela
eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre
estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de
pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces
de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com
todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos
( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais
iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua
pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um
desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS
ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos
relacionamentos inteq1essoais
Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no
progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute
discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da
diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de
uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano
I~
da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma
coletividade
A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo
de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e
maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas
o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as
categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas
e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do
mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute
DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo
entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute
um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque
li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a
dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar
com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os
indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0
a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A
autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a
oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto
entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()
papel de autoridade
O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a
construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras
j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos
caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro
de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de
sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano
do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se
15
enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro
aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia
Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da
psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias
equivocadas e preconceituosas
Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como
um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de
tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que
gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()
mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento
das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee
uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma
Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma
bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens
Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam
muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo
dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento
somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido
pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo
lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do
sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia
de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute
Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia
prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva
Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia
exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade
tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos
e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso
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tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de
enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No
entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles
que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute
possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a
niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos
inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob
pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica
que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna
Construindo uma Nova Epistemologia
Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de
al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos
desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a
afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de
preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e
compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a
humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel
a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada
coleliidade possui a sua 101111a proacutepria
A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para
garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o
homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou
dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt
ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar
que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento
de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as
17
mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento
comeccedila a se delinear
Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel
eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave
psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees
conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas
da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente
inexploradas
lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo
inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento
mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da
estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade
Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar
da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para
poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees
da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional
na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos
Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas
sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental
para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos
Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos
que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a
matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado
dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy
nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um
estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas
das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo
psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa
IH
capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e
nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em
que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste
mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um
ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano
Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um
conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo
humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais
di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como
transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo
mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o
mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias
do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram
perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado
masviido
As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi
levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a
refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam
estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos
har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala
dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para
a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a
manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo
A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura
considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime
o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml
que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo
e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado
19
------------- -shy
equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens
que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os
procedimentos do pensamento humano
O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios
existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta
porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial
simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de
identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao
pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das
partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo
eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do
conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma
postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus
domiacutenios
a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de
internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo
podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar
sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo
tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem
encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear
()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas
estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida
A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine
uma ciilizaccedilatildeo
Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e
mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente
que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias
20 1l1ll WiI
~----_-----------------------
leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
IlIn 2005 21
-----------------------_ --~_ shy
satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
~~--~-_-------------------
Referecircncias Bibliograacuteficas
BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa
Ediccedilotildees 701999
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CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade
de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992
COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28
de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03
ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional
sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo
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traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000
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do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema
Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio
de Janeiro NOa Fronteira 1992
LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um
noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org
Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001
IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa
Presenccedila 1996
TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
3 O Mito da Razatildeo
A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o
Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado
seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees
eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser
uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a
desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo
conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial
expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos
O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()
de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela
eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre
estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de
pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces
de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com
todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos
( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais
iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua
pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um
desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS
ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos
relacionamentos inteq1essoais
Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no
progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute
discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da
diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de
uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano
I~
da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma
coletividade
A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo
de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e
maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas
o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as
categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas
e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do
mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute
DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo
entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute
um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque
li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a
dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar
com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os
indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0
a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A
autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a
oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto
entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()
papel de autoridade
O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a
construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras
j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos
caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro
de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de
sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano
do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se
15
enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro
aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia
Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da
psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias
equivocadas e preconceituosas
Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como
um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de
tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que
gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()
mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento
das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee
uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma
Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma
bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens
Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam
muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo
dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento
somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido
pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo
lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do
sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia
de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute
Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia
prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva
Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia
exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade
tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos
e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso
16
tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de
enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No
entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles
que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute
possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a
niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos
inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob
pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica
que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna
Construindo uma Nova Epistemologia
Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de
al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos
desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a
afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de
preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e
compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a
humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel
a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada
coleliidade possui a sua 101111a proacutepria
A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para
garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o
homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou
dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt
ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar
que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento
de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as
17
mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento
comeccedila a se delinear
Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel
eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave
psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees
conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas
da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente
inexploradas
lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo
inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento
mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da
estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade
Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar
da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para
poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees
da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional
na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos
Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas
sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental
para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos
Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos
que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a
matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado
dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy
nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um
estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas
das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo
psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa
IH
capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e
nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em
que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste
mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um
ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano
Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um
conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo
humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais
di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como
transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo
mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o
mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias
do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram
perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado
masviido
As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi
levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a
refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam
estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos
har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala
dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para
a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a
manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo
A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura
considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime
o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml
que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo
e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado
19
------------- -shy
equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens
que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os
procedimentos do pensamento humano
O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios
existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta
porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial
simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de
identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao
pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das
partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo
eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do
conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma
postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus
domiacutenios
a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de
internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo
podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar
sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo
tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem
encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear
()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas
estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida
A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine
uma ciilizaccedilatildeo
Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e
mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente
que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias
20 1l1ll WiI
~----_-----------------------
leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
IlIn 2005 21
-----------------------_ --~_ shy
satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
~~--~-_-------------------
Referecircncias Bibliograacuteficas
BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa
Ediccedilotildees 701999
CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural
Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993
CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade
de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992
COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28
de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03
ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional
sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo
de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq
traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000
GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e
do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema
Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio
de Janeiro NOa Fronteira 1992
LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um
noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org
Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001
IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa
Presenccedila 1996
TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma
coletividade
A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo
de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e
maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas
o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as
categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas
e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do
mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute
DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo
entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute
um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque
li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a
dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar
com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os
indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0
a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A
autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a
oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto
entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()
papel de autoridade
O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a
construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras
j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos
caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro
de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de
sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano
do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se
15
enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro
aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia
Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da
psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias
equivocadas e preconceituosas
Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como
um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de
tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que
gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()
mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento
das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee
uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma
Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma
bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens
Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam
muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo
dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento
somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido
pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo
lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do
sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia
de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute
Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia
prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva
Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia
exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade
tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos
e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso
16
tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de
enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No
entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles
que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute
possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a
niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos
inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob
pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica
que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna
Construindo uma Nova Epistemologia
Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de
al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos
desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a
afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de
preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e
compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a
humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel
a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada
coleliidade possui a sua 101111a proacutepria
A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para
garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o
homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou
dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt
ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar
que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento
de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as
17
mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento
comeccedila a se delinear
Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel
eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave
psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees
conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas
da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente
inexploradas
lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo
inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento
mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da
estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade
Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar
da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para
poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees
da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional
na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos
Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas
sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental
para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos
Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos
que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a
matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado
dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy
nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um
estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas
das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo
psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa
IH
capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e
nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em
que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste
mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um
ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano
Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um
conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo
humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais
di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como
transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo
mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o
mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias
do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram
perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado
masviido
As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi
levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a
refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam
estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos
har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala
dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para
a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a
manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo
A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura
considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime
o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml
que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo
e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado
19
------------- -shy
equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens
que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os
procedimentos do pensamento humano
O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios
existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta
porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial
simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de
identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao
pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das
partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo
eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do
conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma
postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus
domiacutenios
a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de
internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo
podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar
sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo
tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem
encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear
()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas
estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida
A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine
uma ciilizaccedilatildeo
Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e
mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente
que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias
20 1l1ll WiI
~----_-----------------------
leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
IlIn 2005 21
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satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
~~--~-_-------------------
Referecircncias Bibliograacuteficas
BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa
Ediccedilotildees 701999
CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural
Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993
CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade
de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992
COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28
de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03
ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional
sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo
de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq
traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000
GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e
do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema
Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio
de Janeiro NOa Fronteira 1992
LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um
noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org
Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001
IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa
Presenccedila 1996
TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro
aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia
Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da
psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias
equivocadas e preconceituosas
Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como
um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de
tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que
gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()
mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento
das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee
uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma
Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma
bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens
Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam
muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo
dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento
somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido
pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo
lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do
sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia
de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute
Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia
prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva
Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia
exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade
tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos
e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso
16
tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de
enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No
entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles
que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute
possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a
niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos
inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob
pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica
que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna
Construindo uma Nova Epistemologia
Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de
al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos
desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a
afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de
preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e
compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a
humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel
a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada
coleliidade possui a sua 101111a proacutepria
A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para
garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o
homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou
dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt
ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar
que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento
de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as
17
mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento
comeccedila a se delinear
Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel
eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave
psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees
conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas
da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente
inexploradas
lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo
inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento
mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da
estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade
Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar
da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para
poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees
da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional
na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos
Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas
sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental
para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos
Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos
que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a
matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado
dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy
nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um
estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas
das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo
psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa
IH
capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e
nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em
que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste
mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um
ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano
Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um
conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo
humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais
di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como
transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo
mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o
mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias
do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram
perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado
masviido
As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi
levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a
refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam
estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos
har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala
dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para
a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a
manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo
A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura
considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime
o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml
que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo
e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado
19
------------- -shy
equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens
que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os
procedimentos do pensamento humano
O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios
existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta
porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial
simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de
identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao
pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das
partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo
eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do
conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma
postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus
domiacutenios
a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de
internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo
podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar
sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo
tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem
encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear
()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas
estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida
A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine
uma ciilizaccedilatildeo
Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e
mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente
que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias
20 1l1ll WiI
~----_-----------------------
leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
IlIn 2005 21
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satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
~~--~-_-------------------
Referecircncias Bibliograacuteficas
BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa
Ediccedilotildees 701999
CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural
Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993
CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade
de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992
COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28
de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03
ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional
sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo
de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq
traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000
GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e
do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema
Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio
de Janeiro NOa Fronteira 1992
LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um
noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org
Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001
IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa
Presenccedila 1996
TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de
enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No
entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles
que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute
possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a
niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos
inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob
pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica
que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna
Construindo uma Nova Epistemologia
Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de
al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos
desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a
afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de
preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e
compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a
humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel
a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada
coleliidade possui a sua 101111a proacutepria
A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para
garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o
homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou
dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt
ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar
que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento
de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as
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mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento
comeccedila a se delinear
Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel
eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave
psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees
conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas
da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente
inexploradas
lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo
inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento
mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da
estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade
Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar
da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para
poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees
da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional
na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos
Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas
sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental
para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos
Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos
que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a
matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado
dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy
nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um
estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas
das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo
psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa
IH
capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e
nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em
que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste
mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um
ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano
Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um
conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo
humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais
di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como
transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo
mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o
mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias
do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram
perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado
masviido
As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi
levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a
refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam
estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos
har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala
dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para
a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a
manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo
A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura
considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime
o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml
que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo
e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado
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equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens
que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os
procedimentos do pensamento humano
O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios
existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta
porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial
simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de
identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao
pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das
partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo
eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do
conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma
postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus
domiacutenios
a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de
internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo
podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar
sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo
tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem
encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear
()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas
estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida
A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine
uma ciilizaccedilatildeo
Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e
mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente
que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias
20 1l1ll WiI
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leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
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satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
~~--~-_-------------------
Referecircncias Bibliograacuteficas
BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa
Ediccedilotildees 701999
CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural
Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993
CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade
de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992
COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28
de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03
ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional
sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo
de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq
traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000
GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e
do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema
Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio
de Janeiro NOa Fronteira 1992
LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um
noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org
Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001
IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa
Presenccedila 1996
TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento
comeccedila a se delinear
Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel
eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave
psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees
conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas
da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente
inexploradas
lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo
inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento
mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da
estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade
Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar
da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para
poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees
da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional
na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos
Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas
sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental
para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos
Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos
que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a
matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado
dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy
nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um
estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas
das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo
psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa
IH
capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e
nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em
que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste
mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um
ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano
Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um
conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo
humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais
di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como
transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo
mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o
mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias
do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram
perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado
masviido
As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi
levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a
refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam
estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos
har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala
dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para
a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a
manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo
A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura
considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime
o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml
que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo
e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado
19
------------- -shy
equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens
que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os
procedimentos do pensamento humano
O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios
existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta
porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial
simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de
identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao
pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das
partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo
eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do
conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma
postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus
domiacutenios
a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de
internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo
podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar
sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo
tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem
encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear
()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas
estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida
A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine
uma ciilizaccedilatildeo
Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e
mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente
que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias
20 1l1ll WiI
~----_-----------------------
leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
IlIn 2005 21
-----------------------_ --~_ shy
satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
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Referecircncias Bibliograacuteficas
BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa
Ediccedilotildees 701999
CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural
Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993
CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade
de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992
COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28
de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03
ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional
sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo
de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq
traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000
GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e
do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema
Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio
de Janeiro NOa Fronteira 1992
LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um
noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org
Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001
IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa
Presenccedila 1996
TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e
nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em
que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste
mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um
ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano
Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um
conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo
humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais
di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como
transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo
mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o
mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias
do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram
perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado
masviido
As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi
levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a
refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam
estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos
har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala
dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para
a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a
manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo
A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura
considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime
o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml
que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo
e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado
19
------------- -shy
equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens
que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os
procedimentos do pensamento humano
O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios
existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta
porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial
simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de
identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao
pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das
partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo
eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do
conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma
postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus
domiacutenios
a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de
internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo
podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar
sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo
tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem
encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear
()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas
estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida
A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine
uma ciilizaccedilatildeo
Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e
mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente
que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias
20 1l1ll WiI
~----_-----------------------
leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
IlIn 2005 21
-----------------------_ --~_ shy
satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
~~--~-_-------------------
Referecircncias Bibliograacuteficas
BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa
Ediccedilotildees 701999
CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural
Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993
CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade
de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992
COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28
de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03
ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional
sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo
de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq
traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000
GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e
do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema
Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio
de Janeiro NOa Fronteira 1992
LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um
noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org
Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001
IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa
Presenccedila 1996
TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens
que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os
procedimentos do pensamento humano
O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios
existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta
porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial
simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de
identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao
pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das
partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo
eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do
conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma
postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus
domiacutenios
a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de
internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo
podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar
sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo
tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem
encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear
()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas
estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida
A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine
uma ciilizaccedilatildeo
Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e
mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente
que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias
20 1l1ll WiI
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leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
IlIn 2005 21
-----------------------_ --~_ shy
satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
~~--~-_-------------------
Referecircncias Bibliograacuteficas
BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa
Ediccedilotildees 701999
CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural
Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993
CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade
de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992
COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28
de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03
ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional
sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo
de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq
traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000
GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e
do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema
Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio
de Janeiro NOa Fronteira 1992
LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um
noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org
Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001
IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa
Presenccedila 1996
TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de
entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma
perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos
de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL
pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o
racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O
que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos
em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem
Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo
corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem
ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto
Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo
A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e
inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as
sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii
intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger
um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco
Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o
esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio
corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos
O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do
ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado
de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do
discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento
(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o
empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo
das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos
Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo
IlIn 2005 21
-----------------------_ --~_ shy
satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
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Referecircncias Bibliograacuteficas
BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa
Ediccedilotildees 701999
CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural
Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993
CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade
de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992
COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28
de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03
ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional
sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo
de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq
traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000
GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e
do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema
Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio
de Janeiro NOa Fronteira 1992
LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um
noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org
Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001
IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa
Presenccedila 1996
TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
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satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida
principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga
utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a
construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a
homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um
dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia
aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a
sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo
A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho
Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de
referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica
que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de
planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local
onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes
estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas
a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos
trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo
PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason
Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3
jun 2005
Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as
a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a
dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise
ofrelinking knOmiddotledge
Key words cultural diersity intolerance science l11)th
~~--~-_-------------------
Referecircncias Bibliograacuteficas
BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa
Ediccedilotildees 701999
CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural
Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993
CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade
de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992
COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28
de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03
ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional
sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo
de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq
traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000
GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e
do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema
Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio
de Janeiro NOa Fronteira 1992
LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um
noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org
Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001
IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa
Presenccedila 1996
TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
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Referecircncias Bibliograacuteficas
BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa
Ediccedilotildees 701999
CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural
Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993
CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade
de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992
COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28
de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03
ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional
sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo
de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq
traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000
GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e
do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema
Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio
de Janeiro NOa Fronteira 1992
LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um
noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org
Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001
IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa
Presenccedila 1996
TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +
autores p 03
ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio
dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385
) _)
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